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Ecologia política e democracia - uma aproximação teórica

ABCP - 2020
(work in progress – favor não citar!)

Klaus Frey
Universidade Federal do ABC

O surgimento da ecologia política a partir dos anos 60 e 70, paralelamente aos avanços
científicas assinalando os “limites do crescimento”, vem desde seus primórdios sendo
acompanhado por um debate conflitivo em torno do papel, das potencialidades e limites, da
política e da democracia em promover um modo mais sustentável do desenvolvimento. De uma
perspectiva “científica ou natural da relação triangular entre os indivíduos de uma espécie, a
atividade organizada desta espécie, e o ambiente desta atividade” (Lipietz, 1999, p.12)1, vem
se avançando no reconhecimento da centralidade da divisão do trabalho que ao mesmo tempo
em que visa satisfazer as demandas crescentes da espécie humana, não apenas impacta
negativamente o meio ambiente, mas, para além disso, reconhece-se o fato do ser humano fazer
parte integral da natureza e de forma cada vez mais decisiva, de maneira que a dimensão
política, a nossa capacidade e necessidade de deliberarmos sobre nossos comportamentos e
atividades, ganha centralidade na ecologia política e na prática da busca de estratégias de
desenvolvimento sustentável (Lipietz, 1999, 2003b). No atual contexto de uma crise planetária
que se abate sobre o sistema terra, em que os seres humanos se tornaram a força geológica
emergente primária do chamado Antropoceno (Crutzen & Stoermer, 2000), evidenciado
sobremaneira nos fenômenos das mudanças climáticas e do aquecimento global, também a
teoria política precisa “enfrentar o antropoceno” (Angus, 2016) como desafio primordial de
nossos sistemas políticos e de nossa democracia liberal, sofrendo atualmente uma forte crise de
legitimidade (Castells, 2018).

No passado, dois elementos eram considerados cruciais quanto à emergência do movimento


ambientalista como força política relevante: por um lado, impulsionada por uma incipiente
cultura pós-materialista, a crítica à modernidade, ao industrialismo e ao capitalismo e, por outro,
a crítica à democracia liberal representativa.

Segundo Giddens (1996, p. 274), estas críticas propulsionaram, como movimento reformista, o

1
Todas as traduções das citações de fontes estrangeiras foram realizadas pelo autor do artigo. Somente
citações do espanhol foram deixadas no original.
1
surgimento da proteção ambiental como nova política pública, a criação de estruturas
institucionais encarregadas, no âmbito da esfera do Estado, do enfrentamento dos “problemas”
ambientais, entendidos estes como efeitos colaterais inevitáveis do processo de
desenvolvimento, visando, portanto, limitar os danos causados ao mundo físico pelo homem,
incluindo todavia, “os efeitos colaterais sociais, econômicos e políticos desses efeitos
colaterais” (Beck, 2011, p. 28; grifos no original); e como movimentos mais radicais, a
abordagem filosófica da ecologia profunda de autores como Arne Naess (1995) ou Fritjof Capra
(Capra, 1995) ou a ecologia espiritual (Vaughan-Lee, 2013) que reivindicam uma nova ética
baseada numa espiritualidade ecológica, e enfim, a ecologia política que igualmente questiona
os valores predominantes da cultura ocidental e “passa a se interrogar acerca da modernidade e
a desenvolver uma análise crítica do funcionamento das sociedades industriais” (Lipietz, 2003b,
p. 18). A ecologia política tem suas bases conceituais ancorados no marxismo, buscando
integrar análise teórica, militância e luta política (Lipietz, 2003a, p.9), bem como em Gramsci
quem, para além da dimensão material da questão ecológica, incorpora a dimensão moral e
ético-política, sobretudo para entender como a “hegemonia opera na vida social da ideologia –
normas, moralidade, senso comum” e como “a exploração e a injustiça são discursivamente
normalizadas” nos tempos neoliberais, se tornando “aceitáveis para os envolvidos,
especialmente as vítimas” (Mann, 2009, p. 342-343).

Desde esta fase inicial do movimento ambientalista, observa-se esta oposição entre vertentes
reformadora e radical-contestadora da ordem existente: a primeira, acreditando na possibilidade
de conciliar os objetivos ambientais com o crescimento econômico e, além disso, entendendo
que o capitalismo pode ser transformado por meio da modernização ecológica (Jänicke, 2003)
ou do ambientalismo clássico (LEE, 2006), apostando em avanços tecnológicos para além das
abordagens end-of-pipe, mas ficando aquém de soluções estruturais mais amplas (ver também:
Escrihuela, 2013, p. 177); e a segunda parte da incompatibilidade entre sustentabilidade e
crescimento e considera tais abordagens que buscam conciliar crescimento e capitalismo com
uma transformação ecológica como meros “delírios liberais” (Boggs, 2012, p. 97ss). Em
contrapartida, lutam, com base na tradição marxista, neomarxista ou anarquista, pela superação
do capitalismo através de uma luta revolucionária, visando “refazer o mundo de maneira que
os seres humanos se tornam fins em si, e a vida humana uma experiência reverenciada e, de
fato, maravilhosa” (Bookchin, 1986, Kindle, location 178)2, ou no caso da ecologia profunda,

2
Um resumo da evolução da ecologia política, encontra-se por exemplo em Leff (Christoff &
Eckersley, 2013, location 218).
2
em que o foco está menos na libertação ou felicidade do homem, mas antes no fato da natureza
ganhar centralidade nas preocupações: “Ecological sustainability, in a more proper sense, will
be achieved only when policies on a global scale protect the full richness and diversity of life
forms on the planet” (Naess, 1995, p. 402) 3 . Operacionalmente, tais abordagens radicais
desenvolveram concepções como a do degrowth, do decrescimento (Demaria, Schneider,
Sekulova, & Martinez-Alier, 2013; Latouche, 2009, 2010) ou do biorregionalismo (Hathaway
& Boff, 2012; Kothari, 2014; Sale, 1985) que compartilham a convicção da necessidade de uma
ampla revisão do sistema econômico, dos valores predominantes e das práticas políticas de
deliberação.

Em vista de tais concepções abrangentes e contestadoras do industrialismo, do crescimento


econômico e do estilo de vida moderno, entende-se a amplitude dada por Alain Lipietz (1999,
p. 14) à ecologia política ao considera-la “a ciência desta espécie particular que é a espécie
humana”. Ela, portanto, não se restringe às questões ecológicas e políticas em si, mas, por seu
caráter transversal e interdisciplinar, incorpora um conjunto de preocupações referentes aos
sistemas econômico, social, administrativo e político na sua relação com as bases ecológicas da
existência humana. Neste artigo pretendemos dar ênfase na dimensão política e especificamente
nas implicações dos desafios da ação humana predatória sobre a natureza, o meio ambiente e
as relações socioambientais em nossas sociedades para as perspectivas da democracia. Esta
temática ganha ainda maior dramaticidade em vista dos debates em torno das mudanças
climáticas que, de acordo com publicações recentes, propulsionam “imaginários apocalípticos”
(Swyngedouw, 2010, p. 216), acarretam “o fim do mundo como nós o conhecemos” (Leggewie
& Welzer, 2010), ou nas palavras do best-seller de Naomi Klein (2015): “This changes
everything”.

Entretanto, o poder revolucionário que Klein atribui à mudança climática encontra graves
limites em sociedades modernas “neoliberais” caracterizadas, segundo alguns autores
(Blühdorn, 2013a, 2013b; Crouch, 2004; Swyngedouw, 2010), por constelações pós-
democráticas ou pós-políticas, supostamente passando por um processo generalizado de
despolitização, de um “retreat of the political” (Lacoue-Labarthe & Nancy, 1997) ou levando

3
Uma das limitações da Ecologia Profunda é sua ênfase nos países mais ricos, sendo portanto muitas
vezes vista, no hemisfério sul, como uma nova variação da dominação ocidental e neocolonial; críticas
que motivou por exemplo, Arne Naess (1995) de não apenas rejeitar o consumismo prevalecente nas
sociedades modernas, mas incluir os objetivos da satisfação das necessidades econômicas básicas e a
justiça social nos países em desenvolvimento como fundamental numa perspectiva global da ecologia
profunda.
3
até ao “fim da política” (ver também: Eraydin & Frey, 2019; Rancière, 2007; Randolph & Frey,
2019). Portanto, supondo que este diagnóstico bem pessimista sobre a condição da democracia
contemporânea seja correto, quais ainda as possibilidades da política tendo em vista a
intensificação da globalização econômica e a quase universalização das políticas econômicas
neoliberais? A democracia é, ou pode se tornar, “zukunftsfähig” (Höffe, 2009), sustentável no
tempo, capaz de assumir as responsabilidades relativas ao futuro, de ir além do imediatismo
costumeiro da política contemporânea, para passar a conceber, planejar e organizar as
sociedades em vista do futuro, sobretudo de suas incertezas e ameaças? Estas são algumas das
perguntas que norteiam as reflexões neste artigo.

O texto é estruturado da seguinte maneira: na próxima parte, abordamos algumas características


da insustentabilidade dos processos de desenvolvimento e as propostas contestadoras do
decrescimento e do biorregionalismo, bem como algumas implicações ou desafios postos para
a democracia e a política em si. Na sequência, discutimos criticamente as concepções da pós-
democracia e do populismo pós-político, bem como a tese do encolhimento do político, assim
com as propostas dominantes na ecologia política referentes à revitalização da democracia e do
ativismo político como estratégia principal de enfrentamento dos atuais modos insustentáveis
do desenvolvimento. Continuamos com críticas a esta concepção dominante do campo político
mais radical e progressista que, como sobretudo Ingolfur Blühdorn, consideram esta estratégia
pouco realista diante dos processos de modernização em curso nas sociedades desenvolvidas.
No final, queremos concluir com algumas reflexões sobre a pertinência destas discussões para
países pobres ou em desenvolvimento, considerando que a maior parte destas análises toma
como pano de fundo os países mais desenvolvidos.

A busca de novos caminhos políticos de sustentabilidade em tempos de crise e incertezas

É extremamente voluminosa a literatura crítica ao capitalismo, ao desenvolvimento e


crescimento econômico, ao próprio processo de modernização, sobretudo no que tange a
insustentabilidade de tais processos. Christoff e Eckersley (2013) apresentam diversos
relatórios recentes como a Avaliação Ecossistêmica do Milênio Millennium, o Global
Environmental Outlook – Perspectivas do Meio Ambiente, do Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente, os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
ou os relatórios State of the World do Worldwatch Institute que todos convergem em
diagnósticos bastantes preocupantes sobre as condições do meio ambiente e de toda civilização
4
humana geral atestando uma crise ecológica planetária e da própria humanidade: “La
gigantesca crisis planetaria es la crisis de la humanidad que no logra acceder a la
humanidade” (Morin, 2011, p. 29; grifos no original).

Vamos abordar algumas questões centrais desta crise ecológica planetária, não de forma
exaustiva, mas com o intuito de demonstrar os graves desafios políticos que a questão ecológica
impõe à democracia moderna, particularmente diante das ameaças de um autoritarismo
ecológico (Ophuls, 1977; Ophuls & Boyan, 1992) ou da “possível emergência de algo como
ecofascismo nos anos vindouros” (Zimmerman, 1995, p. 209), na medida em que a crise vem
se agravando, e os cenários mais catastróficos que estão sendo esboçados quanto às mudanças
climáticas se efetivam (Beck, 2007, pp. 159-160; Klein, 2015, pp. 11-15). A atual crise da
pandemia Covid-19 talvez evidencie muito bem o que nos espera com o esperado agravamento
do aquecimento: uma catástrofe humanitário e global em que convergem e interagem crises
ecológica, econômica, social e política com potencial de se tornar existencial para a humanidade
(Baldwin & Mauro, 2020; Cliffe, 2020; Herrero & Thornton, 2020).

Enquanto o fascismo, de acordo com Kovel (apud. Gonick, 2011, p. 34), é a solução do
capitalismo para a catástrofe ecológica, do lado do campo mais progressista, o enfrentamento
desta crise existencial da humanidade passa necessariamente pela politização e revitalização da
democracia, nas palavras de Ulrich Beck (1993, p. 65) - pela “invenção do político enquanto
condição básica universal de existência humana”. A maior parte do movimento ambientalista,
sobretudo o ambientalismo mais radical, compartilha esta avaliação, e parte da convicção de
que apenas por meio da politização e mobilização da sociedade, através de “uma política
democrática renovada, uma democracia ecológica” (Dryzek, 2005, p. 234) seja possível
enfrentar os interesses econômicos que hoje se beneficiam do capitalismo predatório.

Esta expectativa, no entanto, que ainda era incontestada na época do surgimento do


ambientalismo nos anos 1960 e 1970, quando houve, pelo menos nos países desenvolvidos,
sinais da emergência de uma cultura pós-materialista, já em seguido encontrou muitos céticos,
inclusive no campo do ambientalismo, por parte dos chamados “survivalists” como Ehrlich,
Heilbroner ou Ophuls, que entenderam que a democracia liberal seria incapaz de impor a
inevitável auto-restrição e autossuficiência que a nova era da escassez demandaria das
sociedades, propagando consequentemente soluções autoritárias e tecnocráticas de
enfrentamento da crise ecológica (Blühdorn, 2013b, pp. 235-236; Dryzek, 2005; Ophuls, 1977,
p. 35ss; Ophuls & Boyan, 1992), visando transferir o poder decisório a “um sacerdócio de
5
tecnologistas responsáveis” (Ophuls & Boyan, 1992, p. 210), pelo menos “enquanto o povo na
sua maioria não entende suficientemente de tecnologia e ecologia para poder tomar decisões
responsáveis” (ibid., p. 213).

Este conflito no âmbito da ecologia política corresponde à oposição nas teorias democráticas
entre as teorias normativas, preocupadas com o aprofundamento democrático e a superação da
dominação oligárquica, e as teorias denominadas de “realistas”, minimalistas, competitivas ou
elitistas que, em vista da suposta ignorância, da irresponsabilidade, impulsividade e pouca
inteligência do povo, que carece de “senso de realidade” (Schumpeter, 1950, p. 414), tendem a
favorecer o exercício do poder pelos melhores líderes, relativizando inclusive a democracia
enquanto método, na medida em que afirmam que se a democracia não produziria os ideais e
interesses desejados, o indivíduo deveria “se distanciar dela sem muito sentimento de culpa,
porque seria disparatado de defender um método político que coloca em xeque os interesses
dos indivíduos” (Bachrach, 1970, p. 31). Especialmente, em “tempos conturbados” a
democracia estaria em desvantagem em relação à liderança monopolista o que tornaria o
autoritarismo algo aceitável (Schumpeter, 1950, p. 469s). A atual e inegável crise que a
democracia liberal vem enfrentando (Castells, 2018) tem contribuído recentemente para
abordagens críticas nas teorizações sobre a democracia com o argumento fundamental de não
entregar a política aos irracionais e ignorantes, advogando, em vez disso, a epistocracia com
saída para a atual crise (Brennan, 2017)

Acontece que o processo contínuo de modernização e tecnologização da sociedade acarretou


uma situação em que não apenas o cidadão comum, mas até os políticos profissionais
frequentemente carecem de capacidades cognitivas e conhecimentos técnicos necessários para
poderem tomar decisões adequadamente fundamentadas. Todavia, mesmo em situações de
grave crise, como na atual pandemia, quando a dependência dos tomadores de decisão do
conhecimento científico eleva o papel dos cientistas nos processos políticos, isto não leva
necessariamente a decisões cientificamente sustentadas, além das próprias recomendações,
elaboradas na urgência da crise, com base em conhecimentos limitados, são muitas vezes
contestadas dentro da própria epistocracia, tornando o processo de decisões políticas
controverso, abrindo espaço para a emergência da própria ignorância (Frey, 2020).

Na sociedade de risco, logo, as decisões a serem tomadas pelos agentes políticos tendem a se
tornar cada vez mais complexas, aumentando a influência da burocracia tecnocrática, dos
experts e da ciência nos processos decisórios, impulsionando uma despolitização da questão

6
ecológica e, consequentemente, um distanciamento de suas bases sociais, dos movimentos
ambientais de base que inicialmente foram responsáveis para impulsioná-la (Blühdorn, 2013a,
2013b). A própria profissionalização do movimento ambientalista, a incorporação de
ambientalistas nos órgãos públicas, a criação de ONG’s de proteção ambiental e seu
envolvimento em processos institucionalizados de governança têm contribuído para “um
ambientalismo pós-política” inserido no contexto da “consolidação de uma política pós-politica
e pós-democrática” (Swyngedouw, 2009, p. 602). Vamos retornar a discussão sobre a
despolitização no contexto da pós-democracia mais adiante neste artigo.

Neste momento, é importante frisar que a grande maioria dos autores críticos ao atual modo de
desenvolvimento compartilha a expectativa da necessidade de radicais mudanças na economia,
de frear a “grande aceleração” inerente à lógica do capitalismo neoliberal (Boggs, 2012) e
entende que “a dinâmica do ‘crescimento’ infinito acarretado pela expansão capitalista ameaça
as alicerces naturais da vida humana no planeta” (Löwy, 2005, p. 15). Entre aqueles autores
que, entretanto, entendem que as necessárias mudanças possam ser levadas a cabo no âmbito
do próprio capitalismo e que essas mudanças sejam factíveis sem precisar abrir mão do
crescimento econômico, temos o atual mainstream do pensamento relacionada ao conceito de
desenvolvimento sustentável da ONU, da economia verde e da “atualmente dominante e
otimista perspectiva da crescentemente bem sucedida modernização ecológica” (Blühdorn,
2000, pos. 180), buscando uma mudança estrutural ecológica da economia e da sociedade,
apostando em novas tecnologias, em estímulos fiscais para favorecer uma produção menos
intensivo em recursos naturais e estimular comportamentos ambientalmente mais corretos
(Boggs, 2012; Jänicke, 2003; Prittwitz, 1991). O capitalismo, dentro desta perspectiva, teria
mais uma vez demonstrada sua capacidade em se adaptar de forma flexível a novas demandas
surgindo na sociedade, como no caso, pelo ambientalismo. Divergências, no entanto, existem
sobre se esta adaptação se deu antes pela valorização e incorporação efetiva destas novas
demandas, ou pela apropriação parcial e instrumental, no interesse do capital e fortalecendo o
próprio economicismo e, ao mesmo tempo, pela domesticação do próprio ambientalismo.

Alguns ambientalistas como os influentes norte-americanos Michael Shellenberger e Ted


Nordhaus vêm atestando “a morte do ambientalismo” (norte-americano) em função da sua
postura de se comportar como qualquer outro “grupo de interesse especial”; lamentam as falhas
de suas estratégias de caráter negativista, contestador do crescimento e de auto-restrição, a
adoção do que Lee (2006) chama de ambientalismo clássico, apostando em soluções
tecnológicas e, assim, revelando uma incapacidade de lidar com os problemas mais complexos
7
e graves como por exemplo as mudanças climáticas. Welzer (2015, p. 145) lamenta a falta de
uma efetiva utopia por parte do ambientalismo: “Deste modo, seus esforços se dirigem
primordialmente contra os excessos de produção e do descarte de resíduos, e não para os
padrões econômicos e as relações de produção, e menos ainda para contra-projetos de modelos
econômicos e societais sustentáveis”. O pouco apelo e a falta de “inspiração popular” inerentes
a tais estratégias fazem com que não se logre construir “as alianças políticas das quais a
comunidade precisa para lidar com o problema” (Shellenberger & Nordhaus, 2004, p. 7).
Cobram uma estratégia renovada e muito mais ofensiva do ambientalismo que deve perseguir
um novo projeto do tipo “Apollo”, “algo que lembraria o povo do sonho americano: que somos
um tudo-é-possível povo [can-do people], capaz de alcançar coisas grandes, quando
concentramos nossa mente nisso”, conciliando desta maneira, desenvolvimento econômico
com uma ação firme contra o aquecimento global (ibid., p. 26). Apostam na criação de “novas
instituições e propostas em torno de uma grande visão e um conjunto de valores” e na adaptação
das pesquisas de marketing corporativo ao uso por parte das comunidades progressivas para
tentar ganhar “a guerra referente aos nossos valores centrais enquanto Americanos e à nossa
visão do futuro”, que não será ganho pelo simples apelo “à consideração racional de nosso auto-
interesse coletivo” (ibid., p. 10). Segundo estes autores, esta guerra contra “a politicamente
dominante extrema direita, apocalipticamente fundamentalista, e comandada por indústrias
poluentes4, só poderia ser vencida politicamente se propostas forem concebidas que também
sejam vantajosas para as indústrias e o mundo do trabalho. Eles criticam os livros de alguns dos
mais importantes ambientalistas norte-americanas pela “maneira que os autores advogam
soluções políticas técnicas como se a política [politics] não fizesse uma diferença“ e
reivindicam propostas concebidas em volta dos valores americanos fundamentais, que engloba
a busca do crescimento e a criação de postos de trabalhos, porque somente tais propostas
amplas, contemplando os interesses da indústria, dos sindicatos e dos demais grupos sociais,
teriam chances de se efetivar no sistema político americano.

Este posicionamento é bastante interessante, por um lado, por deixar claro as limitações da
abordagem da modernização ecológica e do ambientalismo clássico. Ela se mostrou bastante
exitosa, nos países ricos, para enfrentar uma grande parte dos efeitos colaterais do processo
produtivo, porém muito menos nos países pobres, pela falta dos recursos necessários para a
aplicação de tecnologias caras para remediar os impactos ambientais ainda mais graves nestes

4
Cabe lembrando que o artigo foi escrito em 2004 quando o Presidente dos EUA foi o republicano
George W. Bush e o congresso estava nas mãos do partido republicano.
8
países. Mas também encontra seus limites nos países ricos, quando se trata de enfrentar
problemas globais e que exigem, de forma mais ampla, mudanças de comportamento e de
padrão de vida (LEE, 2006). Por outro lado, evidencia o dilema estratégico de um
ambientalismo num contexto social e cultural desfavorável a mudanças mais significativas
entre, primeiro, uma luta contínua, mas passiva, de combater os sintomas do desenvolvimento
insustentável (o que parece mais viável em tais contextos desfavoráveis), a adoção de um
radicalismo ecológico (o que de fato condena o ambientalismo a uma existência fora das
instituições), ou finalmente, a busca de projetos e visões integradores dos diferentes agentes
sociais que permitem por meio da exploração de situações ganha-ganha [win-win], reduzir
emissões e, ao mesmo tempo, acelerar o crescimento e o bem-estar geral (Lockwood, 2015, p.
148), como idealizado por Shellenberger e Nordhaus. Esta última estratégia parece o melhor
dos mundos, porque promete continuidade do economicismo – agora transformado em verde –
e ainda de forma sustentável. O relatório da Comissão Global sobre Economia e Clima que, por
ter sido presidido pelo economista Nicholas Stern, foi também intitulado de STERN Report 2.0
(ibid.), traz o mesmo otimismo quando se trata em enfrentar as mudanças climáticas. Estima
“que pelo menos 50% e – com uma ampla e ambiciosa implementação – potencialmente até
90% das ações necessárias para alcançar o caminho dos 2oC pode ser compatível com objetivos
de impulsionar o desenvolvimento nacional, crescimento equitativo e melhorias nos padrões de
vida amplamente compartilhados” (GCCCE, 2014, p. 24) e que “países de todos os níveis de
renda tem agora a oportunidade de construir um crescimento econômico duradouro e ao mesmo
tempo reduzir os riscos imensos de mudança climática (grifos nossos)”; a única coisa que é
preciso seria uma “forte liderança política e políticas consistentes e dignas de confiança” (ibid.,
p. 6).

Este discurso da suposta possibilidade de conciliar sustentabilidade com crescimento


econômico, viabilizada pela inovação contínua, o uso de novas tecnologias e o aumento da
eficiência, é o recurso reiteradamente utilizado para justificar a continuidade do atual modo de
desenvolvimento, ecologizado de alguma maneira, mas sem que se questione os aspectos
estruturais deste e, portanto, ficando incapaz de promover uma efetiva reviravolta nas práticas
econômicas. Em todas as propostas mainstream, desde o influente relatório da Comissão
Brundtland, o crescimento econômico é considerado fundamental para que os países ricos
possam dispor dos recursos necessários para ajudar os países pobres sair da miséria; seria a
única forma possível “de assegurar a difusão global de tecnologias ambientalmente amigáveis
e de capacidades de gestão ambiental, necessárias para reduzir o consumo de energia e de

9
recursos e de nos mover em direção a um futuro sustentável de baixo carbono” (Christoff &
Eckersley, 2013, pos. 240). A aposta continua no crescimento, na ideia de que “quando mais
riqueza está sendo produzida, mais deve percolar para enriquecer até os mais pobres” (Trainer,
1990, p. 78).

Portanto, o ambientalismo parece se encontrar preso à “suposição equivocada que argumentos


negativos poderiam motivar ações proativas” (Welzer, 2015, p. 47), ao mesmo tempo em que,
diante de uma avaliação – por sinal, bastante razoável – de que o que é preciso é “o abandono
do alvo do crescimento pelo crescimento, um objetivo tolo cuja motor é justamente a busca
desenfreada do lucro pelos detentores do capital, e cujas consequências são desastrosas para o
meio ambiente” (Latouche, 2010, p. 519), propostas como as de Shellenberger e Nordhaus e as
avaliações do STERN Report 2.0 parecem pouco convincentes visto que até agora todos os
avanços na redução de emissões e no aumento da eficiência energética, e indubitavelmente
foram muitos e significativos, toda vez foram mais do que compensados pela cultura do
“sempre-mais”, pelo produtivismo e o consumismo desenfreados que são a marca fundamental
do capitalismo globalizante5. Todos os esforços internacionais de buscar criar um regime global
para lidar com a questão ambiental planetária, esforço que se iniciou já no século 19,
impulsionando um regime ambiental global cada vez mais complexo, se transformando numa
“fábrica que cria e define problemas a uma taxa mais acelerada do que aquela à qual soluções
factíveis possam ser organizadas” (Meyer, 2010, p. 245), foram muito limitados quanto aos
seus resultados efetivos, tendo conforme este autor até contribuído para uma relativa
desmobilização do setor não-governamental e a despolitização, sendo uma das manifestações
do fenômeno da pós-democracia ou pós-política que abordaremos mais adiante.

Considerando ainda os esforços paralelos em curso de estabelecer regimes e acordos de livre


comércio internacional e global que, ao mesmo tempo em que contribuíram para uma inédita
acumulação e concentração de riquezas e concomitante aumento das desigualdades globais
(McKibben, 2007; Piketty, 2014), impulsionam cada vez mais o extrativismo e consumo
excessivo, a expansão da sobre-exploração de recursos não apenas espacialmente, mas também
relativo ao tempo (Welzer, 2015, pp. 23-24), colocando em xeque as possibilidades de

5
Este fenômeno pode ser explicado pelo paradoxo de Jevons, segundo o qual a própria eco-eficiência
pode contribuir para o aumento da produção e do consumo, na medida em que as próprias tecnologias
suprimem os limites produtivos e consumptivos; ou seja, quando a eficiência nós permite economizar
em energia e material, temos recursos adicionais à disposição para adquirir energia e materiais
adicionais para outras, isto é, novas finalidades, aumentando com isso o fluxo material e energético
(Demaria et al., 2013, p. 198)
10
desenvolvimento e da própria sobrevivência de futuras gerações, além de frequentemente
contrariar a emergência de iniciativas empresariais da economia verde (Klein, 2015, cap. 2),
parece muito ingenuidade ou irracionalidade coletiva de imaginar uma continuidade infinita
deste caminho predatório e esperar soluções tecnológicas mágicas capazes de colocar a
humanidade na trilha da sustentabilidade. A reivindicação de que “os limites de recursos
naturais podem ser infinitamente restituídos por substitutos tecnológicos não passa de uma
questão de crença profundamente abalada por bem fundamentadas críticas dessa posição”
(Yanarella & Levine, 1992, p. 763).

Alternativas de desenvolvimento – decrescimento e biorregionalismo

Se concordamos com as avaliações de grande parte das análises científicas, de ambientalistas,


agências internacionais reconhecidas, com seus diversos relatórios gerados nas últimas décadas,
apontando o crescimento econômico como um dos principais vilões responsáveis pelo
agravamento da crise ecológica – e dificilmente dispomos de argumentos muito sólidos para
desconfiar ou refutar tais constatações – e se admitimos ainda que este crescimento sobretudo
vem gerando extremas desigualdades, enriquecendo alguns em detrimento da maioria dos
países, grupos sociais e indivíduos6, e ainda nem tem conseguido, com outros diversos estudos
científicos indicam (McKibben, 2007, cap I), contribuir para aumentar a felicidade da
humanidade: “O foco exclusivamente direcionado para aumentar a riqueza tem conduzido o
sistema ecológico do planeta à beira do fracasso, e sem nos fazer mais felizes” (McKibben,
2007, pos. 701); como será que é possível que continuamos insistindo na manutenção deste
modelo de desenvolvimento predatório e injusto e não logramos fazer a mudança de rumo
necessária para sair da lógica paradoxal do crescimento a qualquer preço?

Para refletir criticamente sobre tais possibilidades vem surgindo e se consolidando,


particularmente na Europa, mas avançando paulatinamente na América Latina e outros regiões
do hemisfério sul, um movimento social, e ao mesmo tempo acadêmico, que se iniciou na
França nos primeiros anos deste século, chamado provocativamente de “décroissance”,
degrowth ou decrescimento, cujo principal alvo seria a superação da obsessão pelo crescimento
como ponto de partida para a sustentabilidade e a sobrevivência da humanidade, e “da crença

6
Ver a respeito o relatório sobre „An economy for the 1%“ apresentado pela OXFAM em Janeiro de
2016 no Fórum Econômico Global em Davos, na Suíça, onde entre outros resultados preocupantes, os
autores afirmaram que hoje 62 indivíduos disporiam da mesma riqueza que a metade da população
mundial do planeta e os 1% mais ricos do planeta teriam acumulado uma riqueza maior do que todo
resto da humanidade, com tendência fortemente ascendente (OXFAM, 2016).
11
na modernização ecológica que alega que novas tecnologias e melhorias de eficiência são
soluções-chave contra a crise ecológica” (Demaria et al., 2013, p. 198)

Todavia, “será que é factível um decrescimento numa sociedade capitalista do ‘cresce ou


morre’?” (Foster, 2011, p. 27), numa sociedade onde, como estamos atualmente vivenciando
no Brasil, acompanhamos diariamente na política e na mídia a obsessão pelos números do BIP,
e onde o decrescimento forçado atual nos demonstra os efeitos desastrosos deste numa
sociedade cuja viabilidade econômica e política parece dependente de um crescimento
contínuo. Antes de nós debruçar sobre a viabilidade política de tais propostas – aparentemente
utópicas em sociedades consumistas e produtivistas – já que parecem ir na contramão do
processo de modernização, representando, a partir desta perspectiva, um retrocesso, uma
reviravolta em direção a sociedades pré-modernas, visto que toda modernização era sempre
relacionada às ideias de crescente racionalização, diversificação social, progresso, crescimento
econômico e de avanço tecnológico sem fim, vamos apresentar os principais ideias promovidos
por este movimento e de alguns de seus principais autores (Cattaneo, D’Alisa, Kallis, &
Zografos, 2012; Demaria et al., 2013; Foster, 2011; Latouche, 2009, 2010; Martínez-Alier,
2012), enfatizando as implicações para a democracia contemporânea.

Inicialmente, cabe ressaltar que embora tenha se desenvolvido um debate acadêmico e uma
literatura científica significativa, sobretudo no campo da economia (ecológica), mas com
suporte de outras áreas das ciências sociais, preocupadas com a viabilidade social e política de
tais propostas, trata-se primordialmente de um movimento social e uma “activist-led science”
de caráter plural, mas convergente em algumas ideais e propostas econômicas e políticas
fundamentais (Demaria et al., 2013): uma crítica fundamental à sociedade do crescimento, ao
produtivismo e ao consumismo exacerbado e prejudicial ao meio ambiente e fomentador de
desigualdade social. Além da crítica ao modelo existente e sua ameaça que representa para a
humanidade – “!decrecimiento o barbarie!” (Latouche, 2009, p. 16) –, o movimento pretende
propor uma alternativa factível, que seria a utopia concreta do decrescimento, além de propor
medidas para sua realização (ibid., p. 12). No entanto, para contrariar as críticas do suposto
mero negativismo do ambientalismo, o objetivo não é simplesmente a substituição do
crescimento pelo crescimento, como fim único da economia capitalista, pela ideia antagônica
de um decrescimento pelo decrescimento, ou ainda de um crescimento negativo, mas antes de
desenvolver uma ideia positiva de um outro desenvolvimento possível, uma “política pós-
desenvolvimento”, o que se traduziria em “una sociedad en la que se viva mejor, trabajando y
consumiendo menos” (ibid., p. 17), ou, “em outras palavras, diminuir o ‘bem-ter’ [well-having]
12
para melhorar o ‘bem-estar’ [well-being]” (Latouche, 2010, p. 521).

No que diz respeito à crítica ao desenvolvimento desenfreado e à cultura do capitalismo, o


movimento se apoia em toda uma literatura neomarxista e da teoria crítica, como por exemplo
André Gorz, Ivan Illich ou Cornelius Castoriadis, que durante o século passado vêm
questionando “la sociedad de consumo y sus bases imaginarias: el progreso, la ciência y la
técnica” (Latouche, 2009, p. 22), agregando a estes debates a preocupação com a crise ecológica
e a (in)sustentabilidade. No campo da própria economia, a busca de referências se torna bem
mais difícil, já que a ciência econômica, na medida em que adotou o princípio de que
crescimento econômico em si – o Produto Interno Bruto – corresponde a um mundo melhor,
não precisava mais se debruçar sobre os fins em si da economia, mas a partir desta decisão
epistemológica podia se limitar a refletir sobre o aperfeiçoamento dos próprios meios, o que
“fez da ciência da economia com nós a conhecemos – uma ciência de meios – extremamente
poderosa” (McKibben, 2007, pos. 87) para transformar toda sociedade em uma sociedade
consumista e produtivista.

O movimento do decrescimento está buscando explicitamente fugir deste “economicismo”


simplificador, “evitando a armadilha de ficar se enroscando em propostas econômicas e uma
linguagem econômica, quando pretende conceber a transição para a sociedade do
decrescimento” (Cattaneo et al., 2012, p. 515). Latouche (2010, p. 522) até equipara esta
obsessão pelo crescimento a uma religião que necessariamente deve ser deixada de lado, ao
passo que devêssemo-nos tornar “ateístas do crescimento e da economia”. Consequentemente,
o movimento reintroduz a questão dos fins da economia e, portanto, o tipo de futuro que se
almeja, não deixando essas questões na mão da religião chamada de economia, porém afirma
que estes fins só podem e devem ser definidos politicamente. E em termos políticos, como
ressalta Welzer (2015, p. 182), o desafio é enorme: “o que está em questão é nada menos do
que o modelo civilizacional da modernidade expansiva”.

Embora existam diversos economistas como Nicolas Georgescu-Roegen, um dos fundadores


da economia ecológica, da bioeconomia e do decrescimento, quem ao aplicar o conceito da
entropia à ciência econômica percebeu que a economia excluiu da suas análises a
irreversibilidade do tempo e demonstrou a inevitabilidade da degradação dos recursos naturais
em função das atividades econômicas humanas, Herman Daly e John B. Cobb, que propuseram
a concepção de uma economia de equilíbrio (steady-state economy), definindo
desenvolvimento como “uma mudança qualitativa de um sistema econômico que não cresce

13
fisicamente, num equilíbrio dinâmico com o meio ambiente” (apud. Yanarella & Levine, 1992,
p. 761), ou Bill McKibben (2007) com sua proposta de uma deep economy, para quem soluções
para a crise ecológica passam necessariamente pela localização da economia e pela busca de
uma relativa autossuficiência local, todos convergem no questionamento do crescimento
econômico e contribuem de diferentes maneiras para a concepção do decrescimento. É uma das
convicções compartilhadas por estes autores e pelo movimento do decrescimento que não existe
“a” alternativa econômica, “mas uma matriz de alternativas que reabre um espaço para a
criatividade ao levantar a manta do totalitarismo econômico” (Latouche, 2010, p. 520).

O movimento, portanto, está bastante claro e determinado quanto à sua avaliação de que a
responsabilidade “pela pobreza e pela exclusão precisa ser buscada exatamente onde se alegava
que a solução deve ser encontrada, o que quer dizer, no processo de crescimento e
desenvolvimento” (Bonaiuti, 2012, p. 528), enquanto o que deve ser colocado no lugar do mal
desenvolvimento, fica propositalmente em aberto, já que as estratégias devem ser definidas
politicamente; contudo, os autores apontam para diversos princípios, direcionamentos e
propostas que devem ser perseguidos para se encontrar a trilha da sustentabilidade, mesmo que
os autores divergem na radicalidade e na concretude de suas propostas:

“Ecologia e crescimento são mutuamente excludentes. Se queremos justiça social com


sustentabilidade em escala global, não tem jeito: Precisamos sair de nossa zona de conforto,
renunciar à prosperidade, começar a dar aos outros, desenvolver outros modelos de distribuição,
de economia e de vida” (Welzer, 2015, p. 184). Não obstante, há propostas mais concretas,
como o programa dos 8 Rs, proposto por Latouche (2009, 2010), que identifica 8 objetivos
interdependentes “propensas a promover um ciclo virtuoso de decrescimento sereno, convival
e sustentável” (Latouche, 2010, p. 521): revalorizar, reconceituar, reestruturar, relocalizar,
redistribuir, reduzir, reusar, e reciclar. Apesar de considerar os 8 Rs igualmente importante
para o decrescimento, ele atribui valor mais estratégico aos seguintes três objetivos: “la
revalorización, porque conduce a todo cambio; la reducción, porque condensa todos los
imperativos prácticos del decrecimiento, y la relocalización porque concierne a la vida cotidiana
y al empleo de millones de personas” (Latouche, 2009, p. 58). Eu gostaria de chamar a atenção
pelo princípio da localização, por sua centralidade em todas as abordagens do decrescimento e
porque, primeiro, vai claramente na contramão da globalização econômica, pelo menos no que
concerne à própria essência desta, isto é, a aposta no livre comércio global; e segundo, porque
ao mesmo tempo implica uma necessária reinvenção do Estado e da democracia: “El poyecto
de decrecimiento local comprende dos partes interdependientes: la innovación política y la
14
autonomía económica” (ibid.).

O decrescimento como projeto local, conforme concebido por Latouche, encontra sua
concretude na questão fundamental da alimentação da população do planeta que, de acordo com
McKibben (2007), apenas pode ser solucionada na medida em que a humanidade começa a
“comer localmente” (cap.2). Corrobora esta posição outro livro influente de Raj Patel (2007)
que analisa criticamente o sistema alimentar global. Os dois livros se dedicam a demonstrar a
insustentabilidade ecológica, econômica e social do atual regime global da produção de
alimentação, da revolução verde e da sujeição da produção de alimentos a uma lógica predatória
do lucro imediato, da globalização e do comércio desenfreado que acarretam uma concentração
extrema em algumas empresas transnacionais e a destruição de formas tradicionais e locais de
produção sustentável de alimentos em unidades familiares, embasando um sistema global de
extrema vulnerabilidade – “devido ao tamanho de sua pegada ecológica, aos recursos
necessários para sua sustentação e à exploração que requer” (Patel, 2007, p. 294) –, colocando
em risco a segurança alimentar das comunidades e da humanidade: “em termos de justiça,
fairness e igualdade, nosso atual sistema alimentar falha” (ibid.); ao mesmo tempo em que
apontam novas iniciativas de produção sustentável em nível local e movimentos de resistência
que buscam novos caminhos sustentáveis de produção agrícola: “Grupos em todo mundo têm
buscado ampliar o sistema alimentar para devolver a possibilidade de fazer escolhas que tem
sido tirada das pessoas que cultivam e das pessoas que comem” (Patel, 2007, p. 17).

A questão alimentar ganha central importância no âmbito de propostas mais amplas de


transformação como o biorregionalismo que condena a globalização do agrobusiness e a
pressão de agências internacionais de desenvolvimento como Banco Mundial e FMI que são
apontados como responsáveis para a destruição do modo de vida de subsistência dos pequenos
agricultores e da autonomia dos países pobres na produção de seus alimentos (Rajeswar, 2002,
p. 210). O biorregionalismo, portanto, visa estabelecer “um território da vida, um espaço
definido por suas formas de vida, sua topografia e sua biota, antes do que por meio do ditame
humano; uma região governada pela natureza, não pela legislatura” (Sale, 1985, p. 336).
Embora a abordagem do biorregionalismo se inspire no funcionamento de comunidades
indígenas antigas, “onde natureza e cultura foram reconhecidas como entidades
complementares, simbióticas e inseparáveis” (Rajeswar, 2002, p. 206), a luta por um futuro
ecológico melhor seria antes de mais nada uma luta social, dependendo de uma mudança de
rota do desenvolvimento, do envolvimento efetivo das comunidades locais, da descentralização
dos processos de desenvolvimento e de uma gestão participativa.
15
O biorregionalismo representa um encontro dos adeptos da ecologia profunda com os da
ecologia social, na medida em que lutam conjuntamente contra o consumismo, uma economia
opressiva, a exaustão dos recursos e a mecanização da vida (ibid., p. 212). Contrapõem a essa
economia predadora uma economia “centrada em valores como a independência, a
sustentabilidade, a igualdade e a justiça, [...] uma economia ‘de suficiência’ ou ‘de viver bem’”
(Hathaway & Boff, 2012, p. 481). Como agenda positiva defendem “indústrias locais em
pequena escala, economia de baixo crescimento, autodeterminação, autossuficiência,
cooperação não-hierárquica e democracia participativa [...] conservando as diversidades
biológicas e culturais e adoptando uma abordagem descentralizada bottom-up” (Rajeswar,
2002, pp. 211-212).

A recuperação das economias locais, amplamente enfraquecidas e destruídas devido à obsessão


pela globalização econômica, é de fundamental importância para o biorregionalismo. “A lógica
é bem clara: num mundo ameaçado por um aumento contínuo dos preços de energia e por uma
crescente escassez de combustível fóssil, você está melhor em uma comarca, um estado ou uma
região relativamente autossuficiente. Em um mundo, crescentemente afetado por um clima
selvagem e ameaçador, economias duráveis serão mais úteis do que dinâmicas” (McKibben,
2007, pos. 3629)

Para muitos de seus adeptos envolve também a necessidade de uma renovação ética e espiritual,
além de uma preocupação com o atendimento às necessidades básicas materiais. Todavia, “ao
invés de adaptar o meio ambiente às necessidades dos seres humanos, são eles que se adaptam,
harmonizam-se com a natureza e mantêm o equilíbrio ecológico. A economia passa a ter como
objetivo o uso mínimo de recursos não renováveis e a não destruição da natureza ao mesmo
tempo em que maximiza a habilidade de reciclagem e o trabalho e a criatividade humana”
(Hathaway & Boff, 2012, p. 482).A

Apesar de valorizar a localidade e as identidades locais, é de fundamental importância a


dimensão global e a necessidades de ações coordenadas para enfrentar problemas globais, como
as mudanças climáticas, além da cooperação entre as comunidades e localidades, para o
enfrentamento de problemas e a busca de soluções para questões que não se limitam ao nível
local: “As pessoas e as ideias devem ser capazes de se mover livremente e comunidades locais
precisam se manter abertas à criatividade e a expressões culturais que surgem além de suas
fronteiras” (Hathaway & Boff, 2012, p. 477). Evanoff (2011, pos. 222 - 227) fala da necessidade
de estabelecer um diálogo intercultural para a criação de uma nova ‘ética global’”, partindo de

16
uma “visão transacional da relação entre o self, a sociedade e a natureza, a qual enxerga cada
um destes três polos como interagindo com os outros de maneiras dialéticas”, garantindo
autonomia a cada um, buscando a harmonização desta relação. O paradigma biorregional busca
conciliar uma convergência suficiente entre culturas para poder agir coletivamente com as
divergências necessárias para garantir o avanço cultural baseado e impulsionado pelas
diversidades culturais adequadas. Supõe, portanto, “a criação de comunidades economicamente
autossuficientes e politicamente descentralizadas, acopladas do mercado global, mas
confederadas em níveis apropriados para enfrentar problemas que transcendem fronteiras
culturais” (ibid., pos. 232-237).

O biorregionalismo, portanto, não advoga um simples ou radical anti-globalismo, um retorno


às comunidades tradicionais, a uma política pré-moderna, fechada e coercitiva (Ophuls &
Boyan, 1992, p. 191s), mas sim “a criação de uma ‘ordem mundial’ biorregional alternativa [...
para] cumprir os três objetivos da sustentabilidade ecológica, justiça social e do bem-estar
humana” (Evanoff, 2011, pos. 237-242). Reconhece-se, pois, que para sociedades em processo
de modernização, ou já amplamente “modernizadas”, baseado não apenas num processo de
progresso material contínuo, mas também num processo de emancipação social e coletiva, um
mero caminho de volta a um passado pré-moderno é inviável e indesejável.

Entretanto, os nossos modelos mentais hegemônicos são ainda muito distantes de tais visões de
decrescimento ou biorregionalismo que aparentam contrariar frontalmente os valores
individualista de autorrealização da vida moderna, os padrões de consumo e de produção
irrestritos e expansivos que caracterizam as sociedades capitalistas contemporâneas.

Infelizmente, não consegui mais avançar na elaboração das seguintes seções. Pretendo avançar
até a submissão do trabalho final com uma análise crítica das concepções da pós-democracia e
do populismo pós-político, bem como da tese do encolhimento do político, assim com as
propostas dominantes na ecologia política referentes à revitalização da democracia e do
ativismo político como estratégia principal de enfrentamento dos atuais modos insustentáveis
do desenvolvimento. Na sequência, com base em autores de viés teórico mais radical que
consideram esta estratégia pouco realista diante dos processos de modernização em curso nas
sociedades desenvolvidas, o objetivo é refletir sobre os dilemas e potencialidades de abordagens
contestadoras ou subversivas de pensar possíveis caminhos de sustentabilidade.

Segue uma conclusão preliminar que será ampliada para a versão final do ensaio, considerando
justamente a dimensão política/democrática que será abordada nas seções que ainda precisam
17
ser elaboradas.

Conclusão preliminar

Estamos passando “de uma era geológica relativamente estável do Holoceno para o
Antropoceno, uma nova era geológica caracterizada por uma influência acelerada e em larga
escala sobre o planeta” (Christoff & Eckersley, 2013, pos. 218). Creio que uma saída não-
autoritária possível dos diversos dilemas gerados por um processo de modernização
desenfreada, desigual e ambientalmente predador, demanda uma reinvenção de nossos sistemas
econômico e político, assim como de nosso sistema de valores subjacente. Em analogia aos
processos de evolução humana, em nível individual, em que na busca contínua do sentido de
vida, da razão de viver ou da felicidades humana, vem se questionando o paradigma tradicional
da modernidade, identificando a busca do interesse individual e a acumulação de riquezas
materiais e monetárias com o “fim” da vida – entendido nos diversos sentidos da palavra – do
ser humano moderno, apontando novas concepções e práticas da “boa vida”, mas também de
uma nova espiritualidade individual enquanto libertação das coerções de nossos sistemas
políticos e econômicos que cada vez mais restringem nossa autonomia e liberdades ao invés de
amplia-las, devemos avançar, em nível das coletividades, em desenvolver teorias e conceitos
sobre a “boa convivência” coletiva e de uma nova ética ou espiritualidade coletiva que nos
conscientiza das limitações e coerções do paradigma economicista hegemônica e ao mesmo
tempo nos orientam no desenvolvimento de novas práticas coletivas pós-produtivistas, pós-
consumistas e pós-materialistas. As vozes multiplicaram nos últimos meses reivindicando um
repensar mais profundo de nossas práticas de desenvolvimento (Elies, 2020; Viner, 2020)

Sem dúvidas, os desafios são enormes, para mudar nossos conceitos mentais, como também
nossas práticas de ação. Consequentemente, a nossa inclinação e as pressões em favorecer
ajustes apenas parciais, uma modernização ecológica para mitigar os efeitos do processo de
desenvolvimento predatório, porém mantendo os princípios estruturais e fundantes de nosso
sistema econômico e político, são fortes e parecem compreensíveis diante de tamanho mudança
radical que as ameaças ecológicas, sociais e econômicas parecem requerer, conforme salienta
grande parte das vozes críticas trazidas à tona neste ensaio. A ascensão do neoliberalismo nas
últimas décadas, com seu discurso economicista hegemônico, tem revigorado estas crenças, a
religião do crescimento pelo crescimento, e da competitividade e dos mercados como únicos
meios para progredir. E mesmo no Brasil nos governos petistas, com governos preocupados
com a justiça social e o combate à pobreza, a mais importante solução que se vislumbrou foi a

18
intensificação do crescimento e do consumismo como formas primárias de inclusão social, ao
passo que se ignorou que o próprio crescimento, sobretudo um impulsionado pelo consumo ou
consumismo, é parte do problema, quando não o problema fundamental, tanto para a questão
ambiental como a da pobreza e das desigualdades.

Essa situação tem se evidenciada ainda muito mais crítica e preocupante com a emergência do
nacional-populismo no Brasil e alhures em que rejeita até o caminho liberal da modernização
ecológica, adota uma postura voluntarista, anti-ciência e negacionista dos graves problemas
ambientais como mudança climática ou a Covid-19, até combatendo insistentemente o
ambientalismo.

Mas os próprios cientistas, sobretudo os economistas, que poderiam e deveriam dar suporte aos
novos caminhos sustentáveis, parecem na sua grande maioria presos aos conceitos tradicionais,
dando de fato subsídios às políticas de insustentabilidade dominantes e aos modelos mentais
que as sustentam, no caso dos economistas, particularmente a ideia de que “o crescimento é um
evidente necessário fim de nossa economia” e que a única alternativa ao crescimento seria uma
“recessão miserável” (McKibben, 2007, pos. 3638), ou seja, a “fantasia liberal” de “um regime
de acumulação sem fim, de crescimento e exploração” como conditio sine qua non para o
enverdejar do capitalismo global (Boggs, 2012, p. 120). Ao invés de “meramente tentar manter
o atual sistema acelerando por mais um tempinho”, McKibben vislumbra um possível renovado
papel para os economistas, importantes para uma sociedade na busca da sustentabilidade: “Se
os economistas pudessem afastar-se de sua propensão de servir como sacerdotes do atual culto,
eles vão desempenhar um papel crucial em nos ajudar de entender quais opções temos, quais
escalas de empreendimento podem dar certo para atender todas as nossas demandas, quais
formas de eficiência ajudam e quais são prejudiciais (McKibben, 2007, pos. 3645). Temos que
dar respostas a situações ameaçadoras, ao mesmo tempo em que precisamos tornar este novo
caminho a percorrer prometedor, um caminho que não pode ser simplesmente assustador, mas
que tem que ser também atraente, sendo precondição para alcançar legitimidade social e
política. Por conseguinte, McKibben termina seu livro apontando como principal desafio “de
ver se nós alcançamos mobilizar a riqueza de nossas comunidades para tornar a transição
tolerável, até mesmo doce, ao invés de trágico”.

19
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