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COISA JULGADA1

a) Conceito
Coisa julgada é um valor ou instituto que visa prestigiar a segurança jurídica no
âmbito do processo civil.
Chiovenda dizia que coisa julgada era a eficácia que decorre da própria sentença,
entretanto, tal entendimento não prevalece, pois Liebman diz que coisa julgada
é a autoridade da sentença que a torna imutável quanto ao seu conteúdo e
quanto aos seus efeitos.
Segundo o CPC, no art. 502, denomina-se coisa julgada material a autoridade
que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso.
b) Cognição e atos que podem gerar coisa julgada
Cognição que pode gerar coisa julgada
Cognição é o grau de aprofundamento do juiz quanto às questões de fato e de
direito submetidas ao magistrado com diferenciação entre cognição superficial
ou sumária e cognição exauriente ou aprofundada.
Cognição exauriente significa que o ato decisório decorre de um juízo de certeza
e, por conta disso, poderá transitar em julgado, ou seja, poderá haver coisa
julgada material.
Cognição sumária, por sua vez, assevera que o magistrado profere uma decisão
não com base no juízo de certeza, mas sim juízo de probabilidade, pois como a
instrução não chegou ao fim, poderá ela ser alterada
Coisa julgada, portanto, é uma autoridade que torna imutável o conteúdo de
um ato decisório (dispositivo, regra geral), mas que não se sujeita mais a
qualquer recurso, sendo depende, em regra, de cognição exauriente.
Preclusão, por sua vez, é a imutabilidade de um ato decisório se não for
interposto qualquer recurso e capaz de atingir qualquer espécie de ato decisório,
diferentemente da coisa julgada.
Estabilidade da decisão, ao seu turno, significa que a estabilidade da decisão
judicial poderá até gerar preclusão no processo, mas não irá gerar
necessariamente uma coisa julgada.

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Trata-se de sucinto roteiro de aulas com a finalidade de contribuir para os estudos diários dos discentes, mas
que não dispensa frequência em classe nem a leitura atenta do CPC e de doutrina qualificada sobre os temas.
Este termo é utilizado para designar o regime da tutela provisória de urgência
antecipada, quando a mesma é deferida e não é interposto qualquer recurso
pela parte ré, pois o processo será extinto e os efeitos da liminar serão extintos,
não mais passíveis de alteração nos próprios autos, ocorrendo uma estabilidade
da decisão judicial em face da qual a parte endereçada terá 2 anos, por meio de
uma ação própria de impugnação, para reverter essa decisão.
Classificação da coisa julgada
A coisa julgada poderá ser:
Coisa julgada formal: atua exclusivamente no processo em que a sentença foi
proferida com efeito endoprocessual, sendo relevante mencionar que todo
processo possui coisa julgada formal, pois não tendo havido recurso contra a
decisão, terá transitado em julgado formalmente, não podendo mais ser
discutido o que foi decidido naquele processo, mas poderá ser julgado noutro,
pois não fará coisa julgada. Ex.: tutela provisória de urgência antecipada.
Coisa julgada material: ocorre quando os efeitos da coisa julgada extrapolam
aquele processo, não se permitindo uma nova discussão sobre aquele fato em
qualquer outro processo, o que é típico de uma sentença definitiva.
Coisa soberanamente julgada: ocorre quando uma decisão transita em julgado e
há o prazo de 2 anos para a propositura de ação rescisória. Neste caso,
transcorrido este prazo de 2 anos, surge a denominada coisa soberanamente
julgada, pois não é possível sequer ação rescisória.
Limites subjetivos da coisa julgada:
A coisa julgada só vai vincular demandante e demandado no processo em que
foi proferida, pois a sentença faz coisa julgada às partes, não prejudicando
terceiros, como regra.
Excepcionalmente, a coisa julgada poderá atingir terceiros que não participaram
do processo, como por exemplo, o substituto processual que consiste em alguém
que age em nome próprio defendendo direito alheio, o que faz com que eventual
sentença proferida venha a atingir a esfera subjetiva de terceiro, a despeito de
não ser parte no processo.
Outra hipótese seria o litisconsórcio facultativo unitário que ocorre, por
exemplo, quando dois ou mais acionistas tentam obter judicialmente a nulidade
de uma Assembleia, fundamentando suas pretensões na mesma causa de pedir
(ausência de quórum para deliberação), podendo cada um dos tais acionais ir a
juízo sozinho ou conjuntamente, constituindo-se, portanto, em um litisconsórcio
facultativo.
Neste caso, há um litisconsórcio facultativo unitário, pois será a Assembleia
anulada ou não, seja para um seja para o outro e o teor da sentença, portanto,
irá vincular não apenas o que participou do processo, mas todos aqueles que
figuraram no processo como litisconsortes facultativos unitários.
Por fim, um terceiro exemplo seria a dissolução parcial da sociedade, na qual o
CPC estabelece que, nestas demandas, deverão figurar todos os sócios e também
a pessoa jurídica, mas este mesmo CPC dispensa a citação da pessoa jurídica
sempre que todos os sócios estiverem citados, pois, neste caso, a pessoa jurídica
será atingida pela coisa julgada, apesar de não participar do processo.
Limites objetivos da coisa julgada:
Coisa julgada alcança objetivamente o dispositivo da sentença ou do ato
decisório, mas merece destaque o art. 503, §1º do CPC que passou a prever que
a coisa julgada também vai abranger, além da questão principal ou dispositivo
da sentença, a questão prejudicial de mérito, desde que o enfrentamento dessa
questão seja necessário para resolver a demanda.
Neste caso, tendo sido respeitado o contraditório prévio e a competência do juiz,
tal decisão fará coisa julgada material.
São requisitos para que haja a resolução de questão prejudicial, decidida
expressa e incidentemente no processo, se:
• Dessa resolução depender o julgamento do mérito;
• A seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se aplicando no
caso de revelia;
• O juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la
como questão principal.
O Professor Rodolfo Hartmann também acrescenta que que deverá ser feita uma
interpretação restritiva para formar a coisa julgada da questão prejudicial
interna apenas se houver o requerimento expresso da parte, a fim de não julgar
em desconformidade com o pedido do demandante.
Coisa julgada rebus sic stantibus:
É a sentença que o juiz impõe ao vencido uma obrigação de trato sucessivo,
sendo típica da ação de alimentos.
A grande dúvida reside na hipótese de saber se tal sentença possui ou não
aptidão para gerar coisa julgada material, já que o conteúdo poderá ser alterado
numa demanda posterior.
A verdade é que tal sentença pode gerar coisa julgada formal e coisa julgada
material porque, se o sujeito propõe posteriormente uma ação de revisão de
alimentos, esta ação se fundará numa nova causa de pedir e novo pedido, pois
terá havido alteração do panorama fático.
O primeiro argumento basear-se-ia na existência de pedido anterior que era de
reconhecimento de alimentos e o segundo seria de revisão de alimentos com
novo panorama fático, motivo pelo qual não há identidade de pedidos.
E um segundo argumento residiria na circunstância de que a causa de pedir está
fundada na alteração do binômio necessidade x possibilidade, visto que já está
reconhecida a paternidade.
Como se vê, não se está repetindo necessariamente a ação de pedir, pois inexiste
identidade de causa de pedir (novo panorama fático) e pedido, sendo, portanto,
possível afirmar que a sentença anterior transitou em julgado por algum
intervalo de tempo.
Relativização da coisa julgada nas ações de desapropriação:
Esse tema ganhou relevância em razão de indenizações que foram sendo
estabelecidas em ações de desapropriação que já haviam transitado em julgado,
mas cujo valor da indenização fixado em sentença era absolutamente
desproporcional e injusto.
Tratava-se de uma fonte de enriquecimento ilícito do particular em detrimento
do Erário, oportunidade em que o STJ pacificou o entendimento de que
sentenças dessa natureza nem sempre transitam em julgado, visto que haveria
um interesse público afeto à sociedade em corrigir estas distorções que causam
grave prejuízo ao Erário, autorizando ainda questionamentos no título no
decorrer dessa sentença em face do Erário com clara consolidação da ideia de
que o interesse público desautorizaria a formação de coisa julgada.
Relativização da coisa julgada nas ações de estado:
Ações de estado são processos instaurados com o objetivo de criar, modificar,
extinguir um estado, conferindo um novo estado àquela pessoa. Ex.: ação de
paternidade, divórcio, etc. (ações de estado).
A fenômeno da relativização da coisa julgada ganha importância nas ações de
reconhecimento de paternidade julgadas improcedentes por falta de provas,
mas que, à época, não havia e/ou não foi realizado o exame de DNA, hipótese
em que, se não realizado o exame de DNA e julgado o pleito improcedente, o STJ
entende que a coisa julgada, nesse caso, deverá ser relativizada, sendo possível
o ajuizamento de uma nova ação de paternidade sem que a anterior tenha sido
desconstituída. Não é preciso, portanto, interposição de ação rescisória, pois o
argumento reinante é de que, se a ação não tiver sido peremptoriamente
negada, seria possível um novo processo, instruído com novas provas.
Por outro lado, se não fez o exame de DNA, mas a sentença disse que
determinado indivíduo não era o pai, há correntes doutrinaria e jurisprudencial
que entendem cabível a relativização para submeter ao exame.
Coisa julgada inconstitucional:
Prolatada uma sentença que contraria frontalmente a Constituição e,
transitando em julgado, haverá uma coisa julgada inconstitucional.
O art. 525, §12 do CPC exterioriza o entendimento do legislador de que se trata
de decisão inexigível, pois tal sentença está fundamentada num ato normativo
reputado inconstitucional ou tido como incompatível com a Constituição Federal
pela Suprema Corte.
Aqui há uma sentença já transitada em julgado, mas o CPC normatiza que (art.
515, §15) se a sentença for proferida antes da decisão do STF que declarou o ato
normativo inconstitucional ou a interpretação dada como incompatível com a
CF, caberá ação rescisória dessa decisão, cujo prazo para proposição será de 2
anos com termo inicial a contar do trânsito em julgado da decisão prolatada pela
Suprema Corte.

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