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CURVA DE ACUMULAÇÃO DE ESPÉCIES E SUFICIÊNCIA AMOSTRAL EM UMA

FLORESTA DE TERRA FIRME EM VITÓRIA DO JARI, AMAPÁ


Renildo Medeiros da Silva1, Maria Juliana Sá de Almeida 2, Lucas Guimarães Pereira3, Ademir Roberto
Ruschel4, Marcio Hoffman Mota Soares5, Fernanda da Silva Mendes6

1
Acadêmico de Engenharia Florestal. UEPA. renildomedeiros.florestal@gmail.com
2
Acadêmica de Engenharia Florestal. UEPA. mjulianasadealmeida@gmail.com
3
Acadêmico de Engenharia Florestal. UEPA. guimass123@gmail.com
4
Doutor em Biologia. Embrapa Amazônia Oriental. ademir.ruschel@embrapa.br
5
Mestre em Ciências Florestais. Embrapa Amazônia Oriental. marcio.soares@embrapa.br
6
Doutora em Engenharia Florestal. UEPA. mendes.fsm@gmail.com.

Resumo: As florestas tropicais são consideradas domínios de elevada riqueza e diversidade, o que
contribui para que o manejo florestal se torne extremamente complexo. Nesse contexto, a curva de
acumulação de espécies é uma expressão da diversidade de espécies na amostragem de uma comunidade.
O objetivo do presente trabalho foi verificar a eficiência da utilização da curva espécie-área para avaliar a
suficiência amostral na representação da população florestal. O estudo foi conduzido em uma área de 500
ha de floresta, sem intervenções silviculturais, no município de Vitória do Jari, Amapá. A amostragem é
constituída de 40 parcelas permanentes de 1 ha cada instaladas em 1984. Para analisar a
representatividade amostral foi utilizado o método da curva do coletor, sendo a curva ajustada por
regressão logarítmica. A curva espécie-área apresentou tendência à estabilização em aproximadamente
70% da área amostrada, com o número de espécies amostradas próximo ao valor obtido pelo estimador de
riqueza “Jackknife 1”. Os resultados indicaram que apesar da curva não haver estabilizado, ainda assim a
suficiência amostral foi satisfatória para representar a comunidade, uma vez que a definição dos limites
de uma comunidade em florestas tropicais é difícil devido à alta biodiversidade encontrada nas mesmas.

Palavras-chave: Relação espécie-área; representatividade amostral; Amazônia brasileira

SPECIES ACCUMULATION CURVE AND SAMPLE SUFFICIENCY IN A FOREST OF


“TERRA-FIRME” IN VITÓRIA DO JARI, AMAPÁ

Abstract: Tropical forests are considered to be areas of high richness and diversity, which contributes to
their forest management being extremely complex. In this context, the species accumulation curve is an
expression of the diversity of species in a community sample. The objective of this study was to verify
the efficiency of the species-area curve to evaluate the sample adequacy in the representativeness of the
forest population. The study was conducted in a forest area of 500 ha, without silvicultural interventions,
in the municipality of “Vitória do Jari”, Amapá. The Sampling consists of 40 permanent plots of 1 ha
each installed in 1984. To analyze the sample representativeness, the collector curve method was used,
and the curve was adjusted by a logarithmic regression. The species-area curve showed a tendency to
stabilize in approximately 70% of the sampled area, with the number of species near the value obtained
by the "Jackknife 1" richness estimator. The results indicated that although the curve did not stabilize, the
sample adequacy was satisfactory to represent the community, since the community limits definition in
tropical forests is difficult due to the high biodiversity found on them.

Keywords: species-area relationship; sample representativeness; Brazilian Amazon

Introdução

O modelo tradicional de ocupação da Amazônia nos últimos cinquenta anos elevou os níveis de
desmatamento, perpassando por atividades econômicas predatórias de extração de recursos, como
abertura de estradas, crescimento das cidades, agricultura de monoculturas intensivas, pecuária extensiva,
queimadas e exploração de madeira sem critérios sustentáveis (BARLOW et al., 2016). Em contrapartida
a tais atividades, o manejo florestal surge como alternativa, desenvolvendo-se o conceito de uso múltiplo,
através do qual os recursos florestais são usados para produzir bens e serviços, desde que atendam ao
preceito do rendimento sustentável (HOLMES et al., 2002).
O manejo florestal consiste na administração da vegetação natural ou formações sucessoras, para a
obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando os mecanismos de sustentação do
ecossistema objeto do manejo e considerando, cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas
espécies madeireiras ou não, múltiplos produtos e subprodutos da flora, bem como a utilização de outros
bens e serviços (BRASIL, 2012).
O monitoramento de áreas sob manejo florestal é uma atividade de longo prazo, que requer
regularidade na coleta de dados (VASCONCELOS, 2004), sendo que, para que este monitoramento seja
eficiente, é necessário verificar primeiramente se a amostragem é representativa em relação a população
estudada. Em se tratando de florestas tropicais, é importante verificar se a área amostrada corresponde a
riqueza real de espécies da comunidade.
Mediante o exposto, o objetivo do presente trabalho foi verificar a utilização da curva espécie-área
em uma área de floresta de terra firme em Vitória do Jari, Amapá, sem intervenção antrópica, afim de
analisar a suficiência amostral, como forma de assegurar uma apropriada representação da comunidade
vegetal em estudos com fins de manejo florestal na Amazônia brasileira.
Material e Métodos

A área de estudo é uma Floresta Ombrófila Densa localizada no município de Vitória do Jari,
Amapá, sob coordenadas 52º 10’ a 11’ W e 0º 53’ a 55’ S, a uma altitude de aproximadamente 150 m. O
clima é do tipo Am (Köppen), com temperatura média anual de 25,8 °C. A precipitação média anual
alcança 2.234 mm, com período chuvoso de dezembro a maio e seco de junho a setembro. O solo é do
tipo Latossolo Amarelo Distrófico, com textura argilosa pesada. A área selecionada para o estudo foi de
500 ha. Em 1984, foi estabelecida a área de amostragem onde foram alocadas 40 parcelas permanentes
(AZEVEDO et al., 2008).
As parcelas permanentes foram subdivididas em 100 subparcelas de 10 x 10 m (100 m²). Foram
mensuradas árvores (indivíduos com DAP ≥ 20 cm); arvoretas (dentro de cada parcela, sorteadas 10
subparcelas, onde foram medidos indivíduos: 5 ≤ DAP < 20 cm); varas (no centro das subparcelas
sorteadas, foram instaladas subparcelas de 5 x 5 m, onde foram medidos indivíduos de 2,5 ≤ DAP < 5
cm); mudas (nas parcelas de 5 x 5 m, o quadrado foi subdividido em quatro triângulos de 3,54 x 3,54 x 5
m, sendo um sorteado, onde foi contado o número de indivíduos com 30 cm < Ht e DAP < 2,5 cm).
Para analisar a representatividade amostral, considerou-se o ano de 1984, isto é, o primeiro ano de
medição após a instalação do experimento, logo, antes da realização de qualquer intervenção antrópica.
Para a análise estatística, foi utilizado o método da curva do coletor, onde no eixo das abscissas foram
localizadas as 40 unidades amostrais, e no eixo das ordenadas foi representado o número cumulativo de
espécies. Esse método verifica a suficiência amostral, visto que ele observa se há uma estabilização do
número acumulativo de espécies amostradas (CAIN; CURTIS, 1959). Para o ajustamento da curva, foi
utilizado o método por regressão logarítmica, dado pela equação: 𝑌 = 𝐴 + 𝐵𝑙𝑜𝑔𝑋. Onde: A = coeficiente
angular; B = coeficiente linear; X = número de unidades amostrais. O número suficiente de espécies para
representar a área de amostragem foi estimado pelo estimador de riqueza “Jackknife1” (HELTSHE;
FORRESTER, 1983).

Resultados e Discussão

A curva do coletor considerando o primeiro ano de medição do experimento (1984), apresentou


acréscimo no número de espécies de forma abrupta inicialmente, sendo à medida que o número de
parcelas aumentou houve tendência à estabilização em aproximadamente 70% da área amostrada (Figura
1), logo, a amostragem foi considerada eficiente. De acordo com o estimador de riqueza “Jackknife 1”,
essa estabilização somente ocorreria caso a amostragem abordasse cerca de 330 espécies na área
monitorada, sendo verificadas 306 espécies no presente estudo. Contudo, em florestas tropicais a
agregação de espécies é uma característica intrínseca que culmina na ausência de estabilização dessa
curva (SCHILLING et al., 2012).

Figura 1 - Curva de acumulação de espécies (linha tracejada), considerando o ano de 1984, em uma amostragem de 40 ha de
amostragem em floresta manejada, no município de Vitória do Jari, Amapá.

Devido à alta diversidade das florestas tropicais úmidas, caracterizadas por uma grande variação de
espécies em pequenas unidades de área (PROCÓPIO et al., 2010), a definição dos limites de uma
comunidade torna-se difícil (SCHILLING; BATISTA, 2008), pois cada vez que o número de unidades
amostrais aumenta, ocorre a inclusão de novas espécies, em especial daquelas que não se comportam de
forma aleatória. Consequentemente, isto faz com que haja uma alteração na curva a cada ordem de
entrada de unidades amostrais, evitando que a curva se estabilize.
Assim, as características da comunidade podem ter peso maior que os esforços de amostragem
definidos pelo pesquisador (CHAO; JOST, 2012). Contudo, a amostragem realizada apresentou tendência
de estabilização da curva, com o número de espécies amostrados próximo ao valor estimado pelo
estimador de riqueza “Jackknife 1”. Também foi observado que a inclusão de novas espécies já não
alterava de forma considerável a disposição da curva ao longo do eixo das abcissas, o que de acordo com
Kersten e Galvão (2011) são características que indicam que a curva atingiu a suficiência amostral.

Conclusões

A curva espécie-área apresentou tendência à estabilização em aproximadamente 70% da área


amostrada, com o número de espécies amostradas próximo ao valor obtido pelo estimador de riqueza.
Apesar da curva não haver estabilizado, considerando os resultados obtidos, ainda assim a suficiência
amostral foi satisfatória para representar a comunidade florestal, uma vez que a definição dos limites de
uma comunidade em florestas tropicais é difícil devido à alta biodiversidade encontrada nas mesmas.

Referências Bibliográficas
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2004. 63 f. 2004. (Dissertação de Mestrado) – Universidade Federal Rural da Amazônia, Belém, Pará,
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