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como a sociedade por quotas, tendo, portanto, a convocação a função social interna de habilitar os
sócios a participarem na formação da deliberação, e não os gerentes, que não são os destinatários
da convocatória.
VI - O princípio geral da liberdade da destituição dos gerentes, em qualquer momento, em
consequência de deliberação tomada em assembleia geral ou por voto escrito, por acto unilateral e
discricionário dos sócios, é independente da existência de justa causa, excepto quando o pacto
social confia a um sócio um direito especial à gerência, hipótese em que a destituição tem de ser
efectuada, por via judicial, e com fundamento em justa causa.
VII - Mesmo nas sociedades com apenas dois sócios, o princípio da livre revogabilidade do
mandato dos gerentes não conhece restrições, sendo certo que o recurso à acção judicial apenas se
mostra necessário para a prova do fundamento da justa causa da destituição do gerente.
VIII - A inexistência de justa causa da destituição do gerente de sociedade por quotas é compatível
com a deliberação dos sócios, tomada por maioria simples, a menos que o contrato de sociedade
imponha uma maioria qualificada ou a presença de outros requisitos.
IX - A inexistência de justa causa da destituição do gerente-autor destituído, cujo ónus competia à
ré, na qualidade de facto impeditivo do direito à indemnização daquele, apenas releva para efeitos
do direito à indemnização, não tendo qualquer repercussão quanto à aplicação do princípio da livre
discricionaridade da destituição do gerente.
X - A indemnização devida ao gerente destituído sem justa causa deverá ter subjacente a existência
de prejuízos correspondentes aos ganhos esperados e aos danos não patrimoniais sofridos,
porquanto não é consequência necessária da destituição sem justa causa.
XI - A deliberação que destitui o autor da gerência da ré é lícita, e, potencialmente, geradora de
responsabilidade civil da ré, quando ocorre sem se haver demonstrado a justa causa, não carecendo
de ser obtida pela via judicial, não sendo o mesmo titular de um direito especial à gerência, por não
se tratar de sócio da ré.
Decisão Texto Integral: ACORDAM OS JUÍZES QUE CONSTITUEM O SUPREMO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA (1):
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23/03/2021 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
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perante a sociedade.
19. Decorrido tal prazo de 30 dias, a primeira autora não efectuou
qualquer pagamento.
20. Em 27 de Outubro desse ano, a autora recebeu o teor do documento
9, relativo a uma assembleia geral da ré, a realizar no dia 16 de
Novembro de 2005, pelas 10h00, com a seguinte ordem de trabalhos:
“Ponto 1: deliberar sobre a exclusão de sócio da AA-E...-Comércio de
Materiais de Construção, Lda. por não realização da obrigação de
entrada no prazo máximo previsto na Lei e disposto no pacto social, em
sequência de interpelação que àquela foi realizada por CC-C... em
13.07.2005, nos termos do artigo 203°/3 do Código das Sociedades
Comerciais e do Aviso por escrito efectuado em 22.08.2005 de
exclusão de sócio com perda da quota e dos pagamentos efectuados por
conta da obrigação de entrada de acordo com o preceituado no artigo
204°/1 do Código das Sociedades Comerciais.
Ponto 2: deliberar sobre o destino a dar à quota nos termos do Código
das Sociedades Comerciais conquanto seja previamente deliberado
pelos sócios havê-la como perdida a favor da sociedade.
21. A referida assembleia geral foi realizada no dia e hora
mencionados, tendo sido deliberada, com o voto único favorável da
sócia DD-I..., S.A., a exclusão de sócia da sociedade AA-E...
alegadamente por “não cumprimento tempestivo da sua obrigação de
entrada nos termos da Lei e do contrato social com a consequente perda
da quota e dos pagamentos já realizados por conta desta a favor da CC-
C....” (conforme documento 10).
22. Na referida assembleia geral, a autora apresentou uma declaração,
cujo teor se dá por integralmente reproduzida para todos os devidos e
legais efeitos e faz o documento 11.
23. A ora autora AA-"E..., Lda”, não votou.
24. A deliberação de exclusão de sócia da requerente foi adoptada com
o voto favorável da sócia DD-"I..., SA”.
25. A ré enviou a BB uma carta, datada de 17 de Novembro de 2005,
recepcionada no dia 18 de Novembro do mesmo ano, através da qual
comunicou ao Sr. BB, gerente da requerente, que uma assembleia geral
se realizaria, em 21 de Novembro de 2005, às 10h00, cujo ponto único
da ordem de trabalhos era a deliberação da destituição de gerente do Sr.
BB; acrescentando que ele poderia estar presente “na qualidade de
gerente da sociedade e nela participar ao abrigo do disposto nos art.
248º/1 e 379º/4, ambos do CSC” (conforme documento 12).
26. Tal assembleia geral veio efectivamente a ser realizada, no dia 21
de Novembro de 2005, às 10 horas, tendo sido deliberada a destituição
de gerente do autor BB, com o voto único favorável da sócia DD-"I...
SA”.
27. Os sócios da autora eram titulares de uma patente europeia e da
marca registada “E...”.
28. A referida patente e a aludida marca referem-se a material de
construção civil consistente em “caixa de plástico para lajes
fungiformes”.
29. Foi atribuída uma menção honrosa, numa feira internacional de
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lei.
O direito de exclusão do sócio é uma consequência necessária da
própria estrutura da sociedade, como um contrato de fim comum, como
uma organização económica que se deseja estável, no interesse geral e
dos próprios sócios, mas que resulta prejudicada com a actuação do
sócio que não cumpre os seus deveres sociais, pondo em perigo o seu
normal desenvolvimento, ao mesmo tempo que evita a sua extinção
para a sua prossecução (6).
Assim sendo, um sócio pode ser excluído da sociedade quando se
verificar um facto que, para esse efeito, esteja previsto na lei aplicável
às sociedades por quotas, que aqui interessa analisar, ou, no contrato,
em conformidade com o prescrito pelo artigo 241º, nº 1, do CSC.
Ora, o artigo 204º, do CSC, preceitua que, se o sócio não efectuar, no
prazo fixado na interpelação, a prestação de entrada a que está
obrigado, deve a sociedade avisá-lo, por carta registada, de que, a partir
do trigésimo dia subsequente à recepção da mesma, fica sujeito a
exclusão e a perda total ou parcial da quota, podendo a sociedade
deliberar a sua exclusão, se o pagamento não for efectuado nesse prazo.
Trata-se, na verdade, de uma deliberação vinculada, cujos pressupostos
são a mora no cumprimento da prestação, o aviso feito ao sócio, nos
termos do disposto pelo artigo 204º, nº 1, do CSC, e a não efectivação
da prestação em dívida, até à data da deliberação.
Porém, a deliberação dos sócios pode ser tomada, por maioria simples,
quando o pacto social não disponha de maneira diferente, pois que a lei
não exige a maioria qualificada para esse efeito, respeitando antes a
maioria aos votos e não ao número de sócios, por não haver na lei
nacional qualquer preceito que aponte para este sistema da maioria dos
sócios, que para certas sociedades e nalguns países tem sido
considerado mais adequado às hipóteses de exclusão (7) .
Contudo, a propósito do contrato de sociedade, sob a forma civil, o
artigo 1005º, do Código Civil, depois de, no seu nº 1, preceituar que “a
exclusão [de um sócio] depende do voto da maioria dos sócios, não
incluindo no número destes o sócio em causa, e produz efeitos
decorridos trinta dias sobre a data da respectiva comunicação ao
excluído”, acrescenta, no respectivo nº 3, que “se a sociedade tiver
apenas dois sócios, a exclusão de qualquer deles só pode ser
pronunciada pelo tribunal”.
A isto acresce que, no que concerne às sociedades em nome colectivo,
preceitua o artigo 186º, nº 3, do CSC, que “se a sociedade tiver apenas
dois sócios, a exclusão de qualquer deles, com fundamento nalgum dos
factos previstos nas alíneas a) [quando lhe seja imputável violação
grave das suas obrigações para com a sociedade, designadamente da
proibição de concorrência prescrita pelo artigo 180º, ou quando for
destituído da gerência com fundamento em justa causa que consista em
facto culposo susceptível de causar prejuízo à sociedade] e c) [quando,
sendo o sócio de indústria, se impossibilite de prestar à sociedade os
serviços a que ficou obrigado] do nº 1, só pode ser decretada pelo
tribunal”, enquanto que, a propósito da destituição de gerentes em
sociedades por quotas, dispõe o artigo 257º, nº 5, do mesmo diploma
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CONCLUSÕES:
DECISÃO (18) :
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Notifique.
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