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LEANDRO CASTILHO FARIA

O SUICÍDIO INFANTIL SOB O ENFOQUE BEHAVIORISTA


SUBTÍTULO DO TRABALHO, SE HOUVER
LEANDRO CASTILHO FARIA

O SUICÍDIO INFANTIL SOB O ENEFOQUE BEHAVIORISTA

O SUICÍDIO INFANTIL SOB O ENFOQUE BEHAVIORISTA


caixa alta, fonte Arial
Trabalho DSD
de Conclusão de Curso apresentado à
Faculdade Anhanguera, como requisito parcial
para a obtenção do título de graduado em

Psicologia.

Orientadora: Juliana Godoy

São José dos Campos


2020
3

LEANDRO CASTILHO FARIA

O SUICÍDIO INFANTIL SOB O ENFOQUE BEHAVIORISTA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Faculdade Anhanguera, como requisito parcial
para a obtenção do título de graduado em
Psicologia.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Doutor Lauro

Prof. Mestre Rodney

São José dos Campos, 08 de dezembro de


2020.

O SUICÍDIO INFANTIL SOB O ENFOQUE BEHAVIORISTA


4

FARIA, Leandro Castilho. O suicídio infantil sob o enfoque behaviorista. 2020. 28


folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Psicologia) – Faculdade
Anhanguera, São José dos Campos, 2020.

RESUMO

Compreende-se como comportamento suicida todo comportamento operante que


resulta diretamente ou indiretamente em uma consequência fatal para o próprio
organismo emissor, uma vez a vítima tenha ciência de que a morte poderá ser o
resultado de sua ação (independentemente do conceito de morte que o organismo
tenha). O objetivo central dessa pesquisa é compreender o comportamento suicida
infantil por uma perspectiva comportamentalista. Para tanto o trabalho vale-se de
materiais bibliográficos para conceituar a teoria behaviorista aplicada à Análise
Experimental do Comportamento, contextualizar a fase do desenvolvimento infantil
para essa linha teórica e discorrer sobre os principais fatores desencadeantes de
comportamentos suicidas em crianças. Sob essa ótica nota-se uma grande correlação
entre a presença de estímulos aversivos no ambiente de uma criança e a emissão de
respostas autolesivas de cunho suicida, sendo que muitas vezes a criança não busca
o “fim da vida”, mas sim o “fim do sofrimento”, o que caracteriza o comportamento
suicida como um comportamento de fuga/ esquiva de um reforçador negativo.

Palavras-chave: Behaviorismo; Suicídio; Infantil; Crianças; Comportamento.


5

FARIA, Leandro Castilho. Child suicide from a behaviorist perspective. 2020. 28


folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Psicologia) – Faculdade
Anhanguera, São José dos Campos, 2020.

ABSTRACT

Suicidal behavior is understood to be any operative behavior that directly or indirectly


results in a fatal consequence for the issuing organism itself, once the victim is aware
that death may be the result of his action (regardless of the concept of death that the
organism have). The main objective of this research is to understand child suicidal
behavior from a behavioral perspective. For this purpose, the work uses bibliographic
materials to conceptualize the behaviorist theory applied to Experimental Behavior
Analysis, contextualize the phase of child development for this theoretical line and
discuss the main factors that trigger suicidal behaviors in children. From this
perspective, there is a great correlation between the presence of aversive stimuli in a
child's environment and the emission of self-injurious responses of a suicidal nature,
and often the child does not seek the "end of life", but the "end". of suffering ”, which
characterizes suicidal behavior as escape / avoidance behavior from a negative
reinforcer.

Keywords: Behaviorism; Suicide; Childish; Children; Behavior.


6

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1 – Modelo de interação entre o organismo e seu meio ambiente ......... 14


7

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AEC Análise Experimental do Comportamento


Sd Estímulo Discriminativo
Sc Estímulo Consequente
R Resposta
SIB Self-Injurious Behaviors
SA Estímulo Ambiental
8

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9

2 - A TEORIA BEHAVIORISTA APLICADA À ANÁLISE EXPERIMENTAL DO


COMPORTAMENTO ................................................................................................. 10

3 A INFÂNCIA SOB A PERSPECTIVA BEHAVIORISTA RADICAL ......................... 16

4 - FATORES DESENCADEANTES DE COMPORTAMENTOS SUICIDAS NA


INFÂNCIA.................................................................................................................. 21

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 27

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 28
9

1 INTRODUÇÃO

O behaviorismo, também conhecido como comportamentalismo, é uma linha


teórica da psicologia, cujas perspectivas e metodologias contribuem para a
compreensão científica dos comportamentos humanos. A ideação suicida levada à
cabo, por comportamentos autolesivos é atualmente uma das principais causas de
óbito no Brasil, e nos últimos anos tem crescido de modo constante entre o público
infantil.
As taxas de mortalidade infantil por suicídio tem aumentado de forma
acentuada na última década. De acordo com dados do Governo Federal, houve um
crescimento de 41,7% no número mortes por lesões autoprovocadas, entre os anos
de 2010 e 2017, portanto o estudo deste tema se faz de grande importância.
Diante deste cenário há uma grande necessidade de compreender melhor o
comportamento suicida entre crianças, mas como pode-se compreendê-los sob a
perspectiva behaviorista? Uma compreensão científica de como e porque uma criança
poderia emitir tal comportamento é vital para conseguir ajuda-las.
Os objetivos específicos dessa pesquisa visam conceituar a teoria Behaviorista
aplicada à Análise Experimental do Comportamento (AEC), contextualizar a fase de
desenvolvimento da infância sob a perspectiva Behaviorista, e discorrer sobre os
fatores desencadeantes de comportamentos suicidas na infância. Deste modo,
alcança-se o objetivo primário de compreender sob a perspectiva behaviorista os
comportamentos suicidas emitidos por crianças.
O presente trabalho é um estudo de revisão bibliográfica, realizado entre os
meses de janeiro e novembro de 2020. Para embasá-la, foram procuradas obras
literárias relevantes academicamente que tratam do behaviorismo e da análise
comportamental, dados de pesquisas governamentais sobre o suicídio e artigos
científicos publicados entre os anos 2000 e 2020, que tratem de behaviorismo, análise
comportamental e suicídio. A pesquisa foi feita em banco de dados dos sites do
Google Acadêmico, IPEA, Scielo e Pubmed, bem como em livros físicos. Quaisquer
materiais que tratem do suicídio sob outras linhas teóricas da psicologia não foram
considerados, bem como qualquer artigo anterior ao período estipulado. As palavras-
chave utilizadas foram: Behaviorismo; Suicídio; Infantil; Crianças; Comportamento.
10

2 - A TEORIA BEHAVIORISTA APLICADA À ANÁLISE EXPERIMENTAL DO


COMPORTAMENTO

É à luz da epistemologia behaviorista aplicada à Análise Experimental do


Comportamento (AEC), que essa pesquisa buscou compreender as características
que podem levar uma criança a cometer suicídio. Logo, é necessário compreender
melhor essa abordagem teórica bem como sua prática tanto no contexto experimental
como no âmbito clínico.

2.1 ORIGEM DO BEHAVIORISMO

O Behaviorismo surgiu com o objetivo de trazer à psicologia o caráter científico


do qual ainda carecia nos meados do século XX. Mas o que viria a ser ciência? Para
Skinner (1978) ela caracteriza-se como um conjunto de atitudes metodicamente
ordenadas e replicáveis que tratam com os fatos trazidos pela realidade da
experimentação, e não com as conjecturas intelectivas incomprovadas sobre o fato.
Mas que aspectos psicológicos poderiam ser devidamente observados e
experimentados dentro desses preceitos epistemológicos? A resposta para essa
pergunta não poderia ser outra se não os comportamentos. Logo os comportamentos
humanos ocuparam o lugar de objeto de estudo dessa linha teórica da psicologia, o
que contrasta radicalmente com as linhas teóricas existentes até então, que
objetivavam as estruturas mentais (SKINNER, 1979).

O comportamento é uma matéria difícil, não porque seja inacessível, mas


porque é extremamente complexo. Desde que é um processo, e não uma
coisa, não pode ser facilmente imobilizado para observação. É mutável, fluido
e evanescente, e, por esta razão, faz grandes exigências técnicas da
engenhosidade e energia do cientista (SKINNER, 1979, p. 16).

O comportamento, como foi descoberto, não é apenas um aspecto visível do


homem, mas sim um processo que envolve tanto o ambiente interno quanto o
ambiente externo do indivíduo. Ambos estão intimamente ligados e modificam-se
mutuamente (SKINNER, 1979).
11

2.2 SKINNER E OS PRINCIPIOS DO CONDICIONAMENTO OPERANTE

Por algum tempo muitos cientistas comportamentalistas acreditaram que a


emissão do comportamento e sua subsequente aprendizagem resumia-se à
vinculação de um estímulo à uma resposta (R). Esse modelo credita ao estímulo
antecessor à R um papel fundamental para a aprendizagem do comportamento.
Todavia Skinner apresentou um novo modelo teórico (que posteriormente viria
a denominar-se comportamento operante) no qual o ambiente não apenas incita o
comportamento, mas também seleciona-o por intermédio das consequências
ambientais. Para Skinner (BORGES, 2012, p. 53), “[...] o comportamento é
fundamentalmente regulado pelas suas consequências”. Nesse modelo é creditado
um papel fundamental para as consequências ambientais derivadas da R, dando-as
certo destaque quando comparadas aos estímulos antecessores. “O estímulo não
desencadeia por si só a resposta. É através da associação de um estímulo a uma
consequência que o primeiro adquire as propriedades discriminativas de indução da
resposta” (BORGES, 2012, p. 53).
Ainda segundo Skinner (BORGES, 2012, p. 53), os estímulos ambientais
possuem a funcionalidade de informarem da probabilidade da apresentação de certas
consequências. Deste modo aumentando ou diminuindo as chances do indivíduo
emitir aquela R. Através de experiências laboratoriais Skinner formulou duas
constantes relativas ao comportamento operante.
Na primeira constante a força do comportamento aumenta diante de uma
consequência reforçadora. Na segunda a força deste mesmo comportamento tende a
cair caso seja suspensa a consequência reforçadora (BORGES, 2012). Esses
experimentos vieram a fortalecer a teoria dos comportamentos operantes.

2.3 ANÁLISE EXPERIMENTAL DO COMPORTAMENTO

Skinner denominou sua versão teórica comportamentalista de behaviorismo


radical, assim diferenciando-se nominalmente da linha teórica corrente até então, a
metodológica (NETO, 2002). De modo sucinto o behaviorismo radical seria a
epistemologia por trás da ciência comportamentalista enquanto o conhecimento
12

empírico em si seria denominado análise experimental do comportamento (NETO,


2002). “A Análise Experimental do Comportamento, ou simplesmente AEC, é a
subárea encarregada de conduzir a produção e validação de dados empíricos em uma
ciência autônoma do comportamento” (NETO, 2002, p. 3).
Por “análise” considera-se que o objeto de estudo em questão, o
comportamento, está sob um enfoque reducionista e indutivo, ou seja, o está
buscando-se compreender o todo do objeto tomando por base uma investigação
cuidadosa e detalhada de todos os aspectos de suas partes (NETO, 2002).
Por “experimental” considera-se a produção do conhecimento empírico, dotado
metodologicamente de um planejamento prévio das articulações e manipulações de
variáveis. Para conseguir executar tal planejamento é necessário um âmbito
deliberadamente controlado, cujas variáveis possam ser mantidas sob controle
(NETO, 2002). “Identificar relações funcionais equivaleria a identificar que variáveis
antecedentes e consequentes afetariam, e como, a frequência de uma classe de
respostas” (NETO, 2002, p. 2).
Por “comportamento” explicita-se o objeto de estudo da “análise experimental”.
Logo seria dado ao exame e à compreensão do comportamento um caráter cientifico
e teoricamente coerente com sua estrutura epistemológica. Por consequente foram
definidos conceitos teóricos para a uma análise reducionista para compreender o
comportamento em sua totalidade, como uma real interação entre ambiente e
organismo (NETO, 2002).

2.4 CONCEITUAÇÃO DE RESPOSTA PARA A ANÁLISE EXPERIMENTAL DO


COMPORTAMENTO

A resposta é uma das etapas que constituem a apresentação do


comportamento. Suas características mudam conforme o modelo de comportamento
observado, podendo ser responsável pela ação ou reação do indivíduo ao ambiente
no qual está inserido.
Se estiver sendo acompanhado um processo comportamental respondente a R
será a reação automática do organismo ao estímulo discriminativo (Sd). Pode-se
exemplificar esse modelo com um organismo humano que aumenta os batimentos
13

cardíacos na presença de algo ameaçador. Nesse caso a R seria o aumento dos


batimentos cardíacos, estando assim dentro das características previamente
determinadas (SKINNER, 1974).
Contudo, se estiver sendo acompanhado um processo comportamental
operante a R será uma ação intencional do indivíduo à espera de uma alteração em
seu atual ambiente. O objetivo dessa ação não estará necessariamente claro para seu
emissor. Pode-se exemplificar esse modelo comportamental com uma criança que
chora todas as noites para não ir dormir. Nesse cenário a R seria o ato da criança de
chorar, sendo seu objetivo não ir dormir (SKINNER, 1974).
Um aspecto considerado como R pode ser facilmente interpretado como Sd
quando o comportamento objetivado pelo primeiro participa do comportamento
objetivado pelo segundo. Como o próprio Skinner disse o comportamento “é mutável,
fluído” (1979, p.16).

2.5 CONCEITUAÇÃO DE AMBIENTE E ESTÍMULO

O ambiente engloba todo o meio que envolve o comportamento, logicamente


com a exceção do movimento de reação ou ação do indivíduo, a R. O ambiente pode
ser segmentado de dois modos: pelo local onde se encontra e por quando ocorre em
relação à R.
No primeiro segmenta-se por interior ou exterior do indivíduo. Considera-se
então como exterior todos os fatores fora do organismo que emitiu o comportamento,
como por exemplo a presença ou ausência de pessoas próximas a ele naquele
instante. Por interno considera-se os fatores internos do organismo, como por
exemplo as memórias afetivas de alguém, bem como a situação fisiológica do
indivíduo (SKINNER, 1974).
No segundo segmenta-se o ambiente pelo tempo em relação à apresentação
de R. Caso seja anterior à R será chamado Sd, caso seja posterior será chamado de
estimulo consequente (Sc). Como o nome propriamente diz, os estímulos ambientais
incitam à realização de R, mas de modos diferentes. No caso do comportamento
respondente o Sd incita diretamente a eliciação de R. Já no comportamento operante
14

o Sd proporciona as condições necessárias para a emissão de R e o Sc, como o


objetivo de R, afetará diretamente na repetição de R (SKINNER, 1974).

2.6 TEORIA DE ANÁLISE FUNCIONAL DO COMPORTAMENTO

Independente do comportamento a ser decomposto para a análise funcional


faz-se necessário, segundo a ciência comportamentalista, a descrição do processo
em operação. Em outras palavras, faz-se necessário formular as interações entre o
organismo acompanhado e o seu meio ambiente discriminando a ocasião em que
ocorreu a R, a R e suas consequências ambientais (CHEQUER, 2002)
Dentro da realidade clínica o psicólogo vale-se do modelo de tríplice
contingência descrito acima para identificar o tipo de contingência reforçadora que
está em ação, deste modo realizando uma análise funcional. Essa interação pode ser
ilustrada do seguinte modo:

Ilustração 1 – Modelo de interação entre o organismo e seu meio ambiente.

Princípios Básicos de Análise do Comportamento: MEDEIROS, C. A.; MOREIRA, M. B. (2007, p.


148)

Ainda relacionado às condições necessárias para considerar-se a


funcionalidade de uma análise, há duas condições básicas. A primeira trata da
manipulação de variáveis e a segunda, por sua vez, trata da observação contínua do
objeto com formulações e testagens de hipóteses (CHEQUER, 2002).
A primeira condição diz respeito a um procedimento experimental muito mais
ligado à realidade acadêmica do que clínica. Na realidade clínica o terapeuta
comportamentalista busca manter o rigor despendido nas pesquisas experimentais,
15

porém ele não conseguirá controlar todas as variáveis, separá-las e manipulá-las


(CHEQUER, 2002).
A segunda condição por sua vez está muito mais próxima do contexto
terapêutico propriamente dito. Nela o psicólogo formula suas hipóteses referentes às
contingências que sustentam o comportamento e propõe alterações que possam
comprovar ou desqualificar suas hipóteses (CHEQUER, 2002).
16

3 A INFÂNCIA SOB A PERSPECTIVA BEHAVIORISTA RADICAL

No capítulo anterior esmiuçou-se os conceitos da teoria behaviorista para


compreender como ela enfoca a psicologia humana. O capítulo atual aborda os
conceitos de desenvolvimento humano e de infância sob a perspectiva do
behaviorismo radical, a fim de compreender-se melhor as características
comportamentais dessa idade.

3.1 O DESENVOLVIMENTO HUMANO SEGUNDO O BEHAVIORISMO RADICAL

O campo de estudos e pesquisas relacionados ao desenvolvimento humano


apresenta diversas ramificações, tal como ocorre com as teorias psicológicas como
um todo. Essa diversidade teórica fica evidenciada com uma leitura dos manuais
relativos à psicologia do desenvolvimento (LAURENTI, 2016). Ao lê-los o leitor
encontrará diversas explicações plausíveis para o desenvolvimento humano, sendo
todas elas alicerçadas sobre os estudos de diversos pesquisadores que utilizaram de
metodologias variadas para estudar seu objeto (LAURENTI, 2016).
A ciência comportamentalista tem publicado nas últimas seis décadas obras
literárias (artigos e livros) que tratam com muita seriedade de pontos importantes da
psicologia do desenvolvimento. Skinner não chegou a escrever nenhum material
específico sobre a temática, mas isso não impediu-o de indagar e até procurar
responder pontos vitais para o estudo do desenvolvimento humano (LAURENTI,
2016).
Em suas obras, Skinner faz duras críticas ao conceito de desenvolvimento tal
como sinônimo de evolução, como um movimento de mudança do organismo
buscando aperfeiçoar a si mesmo (LAURENTI, 2016). O behaviorismo radical
postulado por ele não é favorável a termos como progresso, crescimento e
desenvolvimento, por exemplo (LAURENTI, 2016).
Para essa linha teórica o desenvolvimento humano está inevitavelmente
vinculado a mudanças no repertório comportamental do organismo, e essas seguem
sim um certo direcionamento. Entretanto, ao invés de seguir rumo à perfeição elas são
guiadas pelas contingências de reforçamento. Os aspectos relativos à mudança, tais
17

como a velocidade ou o direcionamento estão alheios às mesmas contingencias,


independente de para onde levem (LAURENTI, 2016).
Além disso, para o behaviorismo radical há um alinhamento muito claro entre o
desenvolvimento ontogenético e a evolução filogenética. Skinner afirma, por exemplo,
que “a capacidade de ser reforçado por comida [ontogênese] provavelmente foi
adquirida como parte do desenvolvimento evolutivo [filogênese] da espécie”
(LAURENTI, 2016, apud SKINNER, 1957b, p. 1). Dentro dessas analogias o homem
é desenvolvido à partir de sua interação com o ambiente, na qual ambos modificam-
se. Essa concepção “implica afirmar que o ser humano é produto do processo de
aprendizagem vivido ao longo de sua vida” (ALMEIDA, 2009, p.3).
Desde o nascimento o indivíduo possui potencialidades biológicas vitais para
interagir com o ambiente (ALMEIDA, 2009), potencialidades essas que se
desenvolverão com o passar dos anos (BORGES; 2012). Contudo, Skinner
(LAURENTI, 2016) alerta que creditar essas mudanças comportamentais que uma
pessoa passa ao longo da vida unicamente à herança genética ou à passagem do
tempo impossibilitaria todas as ações que visariam intervir no processo de
desenvolvimento (LAURENTI, 2016). Os processos seletivos de comportamentos
conforme são recompensadas ou punidas também integram diretamente nas causas
do já mencionado desenvolvimento (BORGES; CASSAS; 2012).

3.2 A FASE INFANTIL NO DESESNVOLVIMENTO HUMANO SOB A


PERSPECTIVA DO BEHAVIORISMO RADICAL

Para o behaviorismo radical skinneriano a infância é um período vital para seu


desenvolvimento comportamental. Como já foi dito anteriormente, o desenvolvimento
ontogenético e a evolução filogenética estão indivisivelmente unidos no
desenvolvimento comportamental infantil (LAURENTI, 2016). A estrutura básica para
o desenvolvimento de um repertório comportamental de qualquer criança está
alicerçada sobre essa interação. Por exemplo, parte vital para a seleção natural
desses comportamentos é a capacidade da pessoa de ser reforçada [ontogênese]
positivamente ou negativamente, o que muito possivelmente é uma capacidade
adquirida ao longo do processo evolutivo [filogênese].
18

Para desenvolver suas habilidades comportamentais a criança depende de sua


maturação biológica do mesmo modo que depende de sua interação ambiental
(LAURENTI, 2016). Para Skinner (LAURENTI, 2016) estes processos seguem um
determinado ciclo, e isto ocorre ao longo de toda a vida, havendo uma variável
essencial a ser levada em consideração: a idade. “A idade é outra variável importante
[...]. Foi registrada a idade em que uma criança faz pela primeira vez sons de
linguagem [...]. No outro extremo do continuum da idade nós encontramos o
comportamento verbal de senilidade” (LAURENTI, 2016, p.100 apud SKINNER,
1957a, p. 213-214).
Logo, para se compreender o processo de seleção de comportamentos de uma
criança precisamos levar em conta sua idade. Todavia Skinner mantém um firme
posicionamento crítico diante da concepção de que a idade por si só represente um
papel explicativo para as mudanças comportamentais de um organismo, ou então que
seja um sinal definitivo das já referidas mudanças (LAURENTI, 2016).
Há linhas de pesquisa dentro da psicologia mais alinhadas com a conceituação
da idade como fator fundamental para dizer, por exemplo, como um bebê pequeno
consegue manter a cabeça ereta, apertar brinquedos e começar a balbuciar palavras.
Entretanto se as variáveis mais importantes para a aprendizagem dos
comportamentos são encontradas invariavelmente na filogênese do organismo, talvez
não haja nada que possa ser feito além de assistir o desenvolvimento (LAURENTI,
2016).
Skinner, não obstante, já havia salientado em 1969 (LAURENTI,2016, apud
SKINNER, 1969) as consequências de restringir a análise do desenvolvimento
comportamental à variáveis ambientais impossíveis de serem acessadas, controladas
e replicadas experimentalmente: “A ênfase naturalmente recai sobre a topografia
quando o comportamento é estudado como uma função de variáveis inacessíveis ou
incontroláveis (LAURENTI,2016, apud SKINNER, 1969).”
Isso implica que ao depositar a responsabilidade elucidativa do
desenvolvimento comportamental de uma criança nas condições filogenéticas do
organismo, como por exemplo a idade, impossibilita-se qualquer plausibilidade de
agir-se interventivamente sobre o processo de desenvolvimento do indivíduo.
(LAURENTI, 2016).
19

Consequentemente a própria experimentação investigativa, na qual faz-se uso


de condições manipuláveis, seria inviável, uma vez que as variáveis que condicionam
as alterações comportamentais estão fora do alcance laboratorial. Deste modo
restaria à ciência comportamentalista apenas a capacidade de acompanhar e
“descrever a forma do comportamento e a idade em que as mudanças ocorreriam”
(LAURENTI, 2016, p. 102).
Além disso, quando a idade é observada sob a ótica de um modelo de
desenvolvimento humano mais alinhado ao conceito de maturação do organismo
tende-se a interpretar que as alterações no repertório comportamental podem ser
previstas como base na periodicidade em que costumam ocorrer em organismos
similares (LAURENTI, 2016). Skinner faz outra forte argumentação sobre esse
aspecto, dizendo que existem singularidades de organismo para organismo e que
esse fato não pode ser negligenciado. Quando leva-se isso em consideração torna-se
altamente improvável realizar tais previsões de modo razoavelmente eficaz
respaldando-as sobre as idades médias em que certas mudanças comportamentais
costumam ocorrer num determinado público (LAURENTI).

Porém, embora o autor renegue a variável idade como sendo explicativa para
essas mudanças, ou ainda, como um indicativo absoluto de mudança
comportamental, ele admite que existe certa regularidade nessas
modificações e que a idade pode ser uma variável descritiva importante
(LAURENTI, 2016, p. 100).

Tomando os argumentos expostos como base foi proposto que o


desenvolvimento humano em si é uma metáfora (SKINNER, 1968). Essa metáfora
seria o resultado de uma objetivação maturacionista quanto às alterações
comportamentais LAURENTI, 2016). Pode-se exemplificar isso com uma analogia
simples: “o embrião se desenvolve com o mínimo de contato com o ambiente e, com
isso, supõe-se que o mesmo ocorreria com o desenvolvimento comportamental”
(LAURENTI, 2016 apud cf. Skinner, 1968, p. 1-8). Ou seja, sob essa visão o
comportamento em si não se desenvolveria interagindo com o ambiente, mas sim
variáveis internas de caráter filogenéticos fariam essa mudança (LAURENTI, 2016).
Ainda sob essa visão do desenvolvimento comportamental, as variáveis
responsáveis por concretizar o desenvolvimento de uma criança já estão presentes
20

nela, esperando apenas sua maturação. Assim caberia aos pais e a sociedade apenas
tentar guia-la, mas não agir diretamente no processo (LAURENTI, 2016).
Teóricos comportamentalistas, como o próprio Skinner (LAURENTI, 2016),
opõem-se as premissas da metáfora desenvolvimentista afirmando que as mudanças
comportamentais que aparentemente são resultado de maturação de potencialidades
internas na verdade são mudanças decorridas em consequência de alterações
ambientais (LAURENTI, 2016). Devido a isso asseguram que todo esse processo está
indivisivelmente vinculado às contingências e suas alterações (LAURENTI, 2016).
Teria restado a Darwin, revelar como o meio ambiente realiza sua seleção
natural, e do mesmo modo resta à ciência comportamentalista complementar a
psicologia desenvolvimentista com uma análise de como o ambiente faz sus seleção
dos comportamentos. Em outras palavras, “caberia à ciência do comportamento
completar a visão puramente desenvolvimentista, descrevendo as mudanças em
termos de contingências” (LAURENTI, 2016, p. 104).
Gewirtz e Peláez-Nogueras (LAURENTI, 2016) comentam que as preposições
de Skinner relativas ao desenvolvimento auxiliam na compreensão do
desenvolvimento humano, sobretudo infantil. Ressaltam ainda que, dentre as maiores
contribuições do modelo teórico proposto por Skinner a maior possa ser a proposta
da contingência tríplice, que em suma relaciona o Sd, R e Sc. “Isso porque a análise
funcional do comportamento tem, segundo os autores, facilitado a compreensão da
aprendizagem e do desenvolvimento dos indivíduos” (LAURENTI, 2016, p. 97).
21

4 - FATORES DESENCADEANTES DE COMPORTAMENTOS SUICIDAS NA


INFÂNCIA.

Uma vez estabelecidos os conceitos de Behaviorismo, da Análise Funcional do


Comportamento (AEC) e as características da faixa etária infantil (para essa linha
psicológica) pode-se buscar compreender os principais fatores desencadeantes de
comportamentos suicidas entre público infantil.

4.1 COMPORTAMENTOS AUTOLESIVOS

Comportamentos autolesivos, também denominados SIB, acrônimo do inglês


“self-injurious behaviors”. Pode-se defini-los como ações ou inações de um organismo
que produzem como resultado danos físicos ao próprio organismo emissor das ações
ou inações (CEPPI, 2011).
Como já foi dito anteriormente todos os comportamentos estão submetidos à
uma contingência com o ambiente, ou seja, relações de dependência entre as R e
seus respectivos respectivos ambientes. Os SIB não estão alheios às contingências,
então pergunta-se: à que tipo de contingência estão submetidos? Frequentemente os
SIB são emitidos tendo em vista uma alteração positiva ou negativa no ambiente. Essa
alteração, por sua vez, é reforçadora ao organismo. Logo trata-se de um
comportamento operante e consequentemente está sob a tríplice contingência, tal
como é descrita pela ciência comportamentalista (CEPPI, 2011).
Há diversos comportamentos operantes que podem ser enquadrados na
designação de SIB, como por exemplo cortar os braços. Entretanto essa pesquisa
bibliográfica focará sua análise numa categoria especifica de SIB: o comportamento
suicida.

4.2 EPIDEMOLOGIA DO COMPORTAMENTO SUICIDA

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que no ano de 2020 um milhão


e meio de pessoas irá a óbito por consequência de comportamentos suicidas. A taxa
de êxito para esse comportamento varia entre cinco e dez por cento. Caso mantenha-
22

se as devidas proporções o número de pessoas que tentará suicídio poderá chegar a


trinta milhões (BARBOSA, 2011).
Ainda segundo a OMS as taxas globais de suicídio aumentaram em sessenta
por cento nos últimos quarenta e cinco anos, ocupando hoje o terceiro lugar no ranking
das principais causas de morte entre jovens e adultos (BARBOSA, 2011 apud
MCGIRR A, et al., 2007).
No Brasil, o número de mortes por homicídios e acidentes de transito
correspondem em média a quatro vezes o número de suicídios (BRASIL, Ministério
da Saúde, 2008 apud BARBOSA, 2011), mas nem sempre os dados são preenchidos
corretamente, o que pode estar obscurecendo os dados oficiais. Por conta disso a
OMS “consegue rastrear apenas 80% das mortes no país” (BARBOSA, 2011 apud
BARROS, 2003).

4.3 COMPORTAMENTOS SUICIDAS

Para objetivar o comportamento suicida, antes de mais nada, precisa-se


delimitar o que realmente se considerará um comportamento suicida. Segundo Émile
Durkheim (RIBEIRO, 2006 apud DURKHEIM, 1897), o suicídio é todo resultado fatal
direto ou indireto de uma ação perpetrada pela própria vítima. Essa ação pode tanto
ser positiva quanto negativa em relação ao ambiente, porém a vítima sempre está
ciente de que a morte poderia ser o produto da ação. Durkheim também diz que a
tentativa de suicídio é essa mesma ação, mas impedida antes da morte do indivíduo
(RIBEIRO, 2006). Cassorla (RIBEIRO, 2006) estudou a variabilidade dos níveis de
letalidade dos comportamentos suicidas, sendo eles “a ameaça, o gesto (onde não há
risco de vida, predominando a manipulação), a tentativa e o suicídio completo”
(RIBEIRO, 2006, p. 4).
Em 1995, Reinecke (RIBEIRO, 2006 apud REINECKE, 1995) aprofundou os
estudos relativos às motivações que costumam anteceder à esses comportamentos e
segmentou quatro subtipos de suicídio: o desesperado, o psicótico, o racional e o
histriônico. O primeiro diz respeito àqueles guiados pelos princípios de fuga e esquiva
como forma de evitar consequências aversivas. O segundo diz é referente àqueles
que possuem alucinações e/ ou delírios no ambiente. O terceiro, por sua vez,
23

segmenta os comportamentos onde o organismo busca o alívio de condições


incapacitantes, ou seja, o afastamento de uma consequência aversiva presente em
seu ambiente. E no último, o comportamento objetivaria atrair atenção e/ ou vingar-se
de pessoas próximas.
Assim sendo, o ato de atentar contra a própria vida está sob “controle verbal,
uma vez que comunidades verbais formulam consequências verbais de sua própria
morte” (RIBEIRO, 2006, p.5). De acordo a conceituação de contingência proposta por
Skkiner, teria-se no suicídio a condição “Se morte, então não sofrimento” (RIBEIRO,
2006, p.5). Nesta condição o suicídio pode ser objetivado como um comportamento
regido por regras estruturadas sobre consequências imaginárias (RIBEIRO, 2006).
Devido aos impactos dos atos suicidas e de sua ascendente incidência nos
brasileiros deve-se considerar o ato de atentar contra a própria vida como uma
questão de saúde pública. Entretanto, não pode-se negligenciar o fato do suicídio,
como todo comportamento, ser um processo particular vinculado à uma contingencia
na qual as variáveis mudam de pessoa para pessoa. Uma vez pertencendo ao domínio
privado deve-se analisar as motivações do comportamento suicida sob a relação
estímulo resposta entre o indivíduo e o ambiente (RIBEIRO, 2006).

4.4 COMPORTAMENTOS SUICIDAS COMO COMPORTAMENTOS DE


FUGA/ESQUIVA

Como todo comportamento, o comportamento autolesivo de cunho suicida


surge de uma interação entre o organismo emissor da R e seu ambiente, que por sua
vez caracteriza o Sd (BARRETO, 2016). Por tratar-se de um comportamento operante
(uma vez que o organismo emite a R tendo em vista obter por consequência uma
alteração ambiental [NETO, 2002]) está sob a ordenação da tríplice contingência.
Esse fato permite uma compreensão genérica à respeito de sua funcionalidade, mas
para isso é preciso conhecer o Sc que o indivíduo busca alcançar com a ação suicida.
O Sc é o objetivo à ser alcançado pela R, portanto trata-se de algo reforçador para o
organismo, o que faz questionar: que consequência poderia ser reforçador para uma
pessoa que comete suicídio?
24

Em alguns ciclos sociais o suicídio pode ser considerado como um ato honroso
e corajoso, que e assim seria exaltado e reforçado positivamente (ALMEIDA, 2018),
porém essa realidade não é a predominante em nossa sociedade, que por sua vez
desencoraja e condena esse tipo de comportamento (ALMEIDA, 2018). Para Brandão
(ALMEIDA, 2018 apud 1999), o indivíduo busca através do ato suicida pôr fim ao seu
sofrimento emocional, o que caracterizaria o suicídio como um comportamento de
fuga/ esquiva.

[...] como também não consegue obter reforçadores por meio de outros
comportamentos, desta forma, sistemas coercitivos produzem respostas de
fuga e esquiva que se tornam disfuncionais, ou seja, comportamentos que
trazem prejuízos ao repertório cliente, que produzem mais consequências
punitivas e/ou aversivas do que reforçadoras. (ALMEIDA, 2018, p. 8)

Ou seja, a pessoa enxergaria no suicídio a única forma de evitar ou de afastar


um grande sofrimento psicológico. Logo o suicídio pode ser considerado como um
comportamento de fuga/ esquiva (depende se o fator aversivo já está presente no
ambiente ou se ainda está por vir), no qual a pessoa tenta através da R afastar de sua
realidade (ambiente, Sd) o que lhe é aversivo (reforçador negativo), para o qual ela
julga não haver outra opção, uma vez que não enxerga outros possíveis reforçadores
e pelo alívio que pode trazer à dor (BARRETO, 2016).
De acordo com Sidman (ALMEIDA, 2018 apud 1989) a R suicida pode ser uma
ação desesperada, uma última saída de uma vida repleta de reforçadores negativos
e de punições (positivas e/ ou negativas). Além disso a emissão do comportamento
suicida pode estar correlacionada à perda de fortes reforçadores positivos, que
resultariam numa grande punição positiva, como a morte de um familiar muito
significativo para a pessoa (ALMEIDA, 2018).

4.5 CARACTERISTICAS E FATORES DO SUICIDIO INFANTIL

A perspectiva de que uma criança possa decidir por atentar contra a própria
vida é muito impactante até mesmo entre os profissionais que atendem essa faixa
etária, o que por sua vez pode comprometer a avaliação imparcial necessária para
compreender-se o fato. Como já foi visto nessa pesquisa, o quadro crescente de
25

suicídios pediátricos no Brasil impele ao aprofundamento das características do


comportamento suicida infantil (KUCZYNSK, 2014, p. 246).
O comportamento suicida, como já foi citado, está sujeito à tríplice contingência,
então para poder compreende-lo precisamos entender as características ambientais
que podem propiciá-lo. A princípio, analisa-se as características pelos conceitos de
externo e interno. No primeiro considera-se os aspectos ambientais externos ao
organismo e no segundo considera-se os aspectos ambientais próprios do organismo
(CATANIA, 1999).
Uma característica externa presente em muitos casos é o bullying (o
cyberbullying é uma variação da mesma característica [KUCZYNSK, 2014]). O
número de vítimas dessa forma de assédio vêm tendo uma vertiginosa elevação.
Define-se o bullying como o ato de utilização da força para afetar negativamente
alguém, envolvendo voluntariamente atos danosos de modo repetitivo. Mas onde a
criança está mais suscetível à esse tipo de violência? Na escola (SOUSA, 2017).
A escola é um dos primeiros ambientes sociais no qual a criança é ingressada
e um dos que ela mais estará presente. Assim sendo os aspectos relacionados à
escola são extremamente importantes para compreender-se os comportamentos
autolesivos infantis. “Compreende-se por problemas relacionados à escola: o bullying,
[...] e a dificuldade de interação social” (SOUSA, 2017, p. 3105).
Diversos estudos estatísticos apontaram que metade das crianças que
cometeram algum comportamento contra a própria vida apresentaram problemas
disciplinares na escola, dos quais destacam-se a reprovação em provas, abandono e
suspensão escolar. Sempre em um período próximo ao ato suicida (SOUSA, 2017).

A ausência na escola pode estar relacionada à vergonha, à culpa e ao medo


em lidar com os problemas escolares expressados por problemas
disciplinares, notas baixas, dificuldade de se relacionar afetivamente com os
colegas e por violência sofrida pelos seus pares (SOUSA, 2017, p. 3106).

É fato que crianças que foram à óbito devido a comportamentos autolesivos,


em sua maioria, tinham problemas relativos ao desempenho acadêmico, além de
dificuldade em se relacionar com os demais. Porém não é possível afirmar se a queda
no desempenho está relacionada “por eventos estressantes na vida ou por distúrbios
26

de atenção, aprendizagem, conduta, ansiedade e depressão” (SOUSA, 2017, p.


3106).
Outro fator externo a ser levado em consideração é o modelo de imitação da
criança. A infância é uma fase onde a criança imita muitos comportamentos, e assim
começa a selecioná-los para montar seu próprio repertório comportamental. A
divulgação ou comunicação imprudente do suicídio de alguém que seja o modelo
comportamental de uma criança pode contribuir para que ela emita um
comportamento suicida imitativo ao divulgado (RIBEIRO, 2006, p. 2).
Agora dentro dos fatores ambientais internos destacam-se os transtornos
mentais (KUCZYNSK, 2014, apud SHAFFER & PIACENTINI, 1994), que segundo a
OMS estão presentes em mais de noventa por cento dos suicídios no mundo. Além
de serem predominantes entre as vítimas de suicídio, o suicídio também é uma das
principais causas de morte entre pacientes psiquiátricos (RIBEIRO, 2006). “Esses
diagnósticos são, em ordem crescente, a depressão, o transtorno de personalidade
(antissocial e boderline), abuso de substâncias (álcool), esquizofrenia e transtorno
mental orgânico” (RIBEIRO, 2006).
Além disso é importante considerar também qual o nível do desenvolvimento
da conceituação de morte para a criança. (KUCZYNSK, 2014). Segundo a ciência
comportamentalista não pode-se considerar o desenvolvimento de uma criança
apenas pela sua filogênese, e isso repercute também no conceito que a criança pode
tem em relação à morte. A visão que ela tem sobre a temática afetará diretamente no
seu julgamento quanto à consequência de um ato suicida, e consequentemente a
possibilidade de emitir tal comportamento.
27

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho possibilitou compreender o suicídio infantil e as características


ambientais que podem contribuir para a emissão do comportamento suicida em
crianças. Para alcançar essas compreensões, foram definidos três objetivos
específicos que ao serem atingidos, culminaram na resolução do objetivo principal da
pesquisa.
Para o primeiro objetivo específico utilizaram-se livros como material
bibliográfico, para explanar sobre a teoria behaviorista e sua aplicabilidade com a
Análise Experimental do Comportamento, estabelecendo assim, as premissas e o
arcabouço teórico que norteariam todas as análises posteriores.
Para o segundo objetivo específico, a pesquisa valeu-se de livros e artigos
científicos para estabelecer uma compreensão acerca do desenvolvimento humano
segundo o behaviorismo, bem como suas implicações sobre o fase pediátrica do
desenvolvimento. Desse modo, estabeleceram-se conceitos importantes para
entender-se os comportamentos infantis e suas peculiaridades.
Para o terceiro objetivo especifico, foram utilizados como material bibliográfico
livros e artigos que tratam propriamente do suicídio, objetivando-o sob a ótica
behaviorista. Assim, foi possível compreender de modo genérico o comportamento
suicida, sua funcionalidade sob a tríplice contingência e suas principais características
dentro do público infantil.
Deste modo, foi possível compreender o comportamento suicida infantil como
uma complexa correlação entre Sd, R e Sc que resulta numa ação de fuga/esquiva
por parte da criança, na qual ela não busca pôr fim à vida, mas sim, pôr fim ao
sofrimento (presente ou do por vir). Uma tentativa desesperada de uma criança que
não enxerga outra solução. Contudo, o comportamento suicida, tal como qualquer
comportamento, tem suas peculiaridades e variáveis, que como o próprio nome diz,
variam de criança para criança. Portanto é impossível uma análise completa do
comportamento suicida de uma amostra de indivíduos, sendo exequível apenas uma
análise genérica do público, como foi feita pela presente pesquisa.
28

REFERÊNCIAS

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