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PRIMEIRA PROVA - FI002 - SOLUÇÃO

1. Considere a equação de Schrödinger


∂|ψi
ih̄ = (H0 + V )|ψi
∂t
e
|ψ̃i = eiH0 t/h̄ |ψi ≡ U0† (t)|ψi.
(a) Obtenha a equação diferencial satisfeita por |ψ̃i.
(b) Definindo o propagador por |ψ̃(t)i ≡ T̃ (t, t0 )|ψ̃(t0 )i, encontre a
equação diferencial satisfeita for T̃ (t, t0 ) e a transforme em uma equação
integral.
(c) Mostre que T̃ (t, t0 ) = U0† (t)T (t, t0 )U0 (t0 ), onde T é o propagador de
|ψi, e obtenha a relação entre os elementos de matriz de T e T̃ entre
auto-estados de H0 .

Solução:
(a)
∂|ψ̃i ∂|ψi
ih̄ = −H0 U0† |ψi + ih̄U0†
∂t ∂t

= −H0 |ψ̃i + U0† (H0 + V )|ψi

= U0† V |ψi = U0† V U0 U0† |ψi

= Ṽ |ψ̃i
(b)
∂|ψ̃i ∂ T̃ (t, t0 )
ih̄ = ih̄ |ψ̃(t0 )i
∂t ∂t

= Ṽ |ψ̃(t)i = Ṽ T̃ (t, t0 )|ψ̃(t0 )i


como isso deve valer para todo estado inicial,
∂ T̃ (t, t0 )
ih̄ = Ṽ T̃ (t, t0 ).
∂t

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Integrando entre t e t0 com T̃ (t0 , t0 ) = 1 obtemos
iZt
T̃ (t, t0 ) = 1 − Ṽ (t0 )T̃ (t0 , t0 )dt0 .
h̄ t0

(c)

|ψ̃(t)i = U0† (t)|ψ(t)i = U0† (t)T (t, t0 )|ψ(t0 )i = U0† (t)T (t, t0 )U (t0 )|ψ̃(t0 )i.

Por outro lado


|ψ̃(t)i = T̃ (t, t0 )|ψ̃(t0 )i.
Assim
T̃ (t, t0 ) = U0† (t)T (t, t0 )U (t0 )
e
hk|T̃ (t, t0 )|si = ei/h̄(Ek t−Es t0 ) hk|T (t, t0 )|si.

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2. Considere um átomo sujeito ao potencial perturbador
V (t) = V0 e−iωt + V0† eiωt .
que age desde o instante inicial t0 = 0.
(a) Mostre que transições do estado |si para o estado |ki, com Ek > Es ,
induzidas por esse potencial são relevantes apenas se ω ≈ ωks , de forma
que apenas um dos dois termos de V (t) é significativo.
(b) Nessa aproximação, calcule a probabilidade de transição
Ps→k (t) = |hk|T̃ (t, 0)|si|2
onde
iZt 0
hk|T̃ (t, 0)|si ≈ − hk|V (t0 )|sieiωks t dt0 .
h̄ 0
(c) Supondo que o estado final |ki está no contı́nuo, integre essa proba-
bilidade sobre Ek em uma vizinhança onde ωks ≈ ω e mostre que Ps→k
cresce linearmente com o tempo. Deduza a regra de ouro de Fermi. Não
se esqueça de incluir a densidade de estados ρ(Ek ) na sua integração.
Indique claramente suas hipóteses para a obtenção do resultado.
Solução:
(a) Integrando cada um dos termos obtemos
i ei(ωks −ω)t − 1 i † ei(ωks +ω)t − 1
hk|T̃ (t, t0 )|si = − hk|V0 |si − hk|V0 |si .
h̄ i(ωks − ω) h̄ i(ωks + ω)
Como função de ω essas expressões oscilam rapidamente se o tempo
final t for longo e sua amplitude cai como 1/ω. A única região de
contribuição importante acontece para o primeiro termo para ω ≈ ωks .
Para tempos longos essa função tende a uma delta.

(b) Desprezando o segundo termo obtemos


2 2 1 − cos (ωks − ω)t
Ps→k (t) = 2 |hk|V0 |si| .
h̄ (ωks − ω)2

(c) Se Ek está no contı́nuo, podemos calcular a probabilidade da transição


ocorre em uma vizinhança do valor mais provável Ek = Es + h̄ω:
2 Z Es +h̄ω+² 1 − cos (ωks − ω)t
Ps→k (t) = 2 |hk|V0 |si|2 ρ(Ek )dEk .
h̄ Es +h̄ω−² (ωks − ω)2

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Se o tempo for longo haverá contribuição significativa apenas para Ek
bem próximo de Es + h̄ω e podemos aproximar
Z Es +h̄ω+²
2 2 1 − cos (ωks − ω)t
Ps→k (t) = 2 |hk|V0 |si| ρ(Es + h̄ω) dEk .
h̄ Es +h̄ω−² (ωks − ω)2

Fazendo x = (Ek − Es − h̄ω)t/h̄ obtemos


Z +²t/h̄
2 1 − cos x
Ps→k (t) = |hk|V0 |si|2 ρ(Es + h̄ω)t dx.
h̄ −²t/h̄ x2


= |hk|V0 |si|2 ρ(Es + h̄ω)t.

Essa aproximação vale se t >> h̄/². Derivando em relação ao tempo
obtemos a regra de ouro de Fermi. A energia Ek do estado |ki deve ser
calculada em Ek = Es + h̄ω.

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3. Considere um potencial central tal que V (r) = V0 se r < a e V (r) = 0
se r > a onde V0 é uma constante positiva. Faça um diagrama indi-
cando a partı́cula incidente, o alcance do potencial e a posição do de-
tector. Calcule a amplitude de espalhamento na aproximação de Born.
Em seguida, suponha que ka << 1 e obtenha a seção de choque nessa
aproximação.

Solução: Na aproximação de Born podemos integrar a expressão dada


no formulário no ângulos θ0 e φ0 , conforme mostrado nas notas de aula
de Espalhamento, páginas 21 e 22. Feito isso ficamos com
2µV0 Z a 0 2µV0
fk (θ) = 2 r sin βr0 dr0 = 2 3 (sin βa − βa cos βa)
h̄ β 0 h̄ β

onde β = 2k sin (θ/2). Assim,

dσ 4µ2 V 2
= 4 60 (sin βa − βa cos βa)2
dΩ h̄ β

Para ka << 1, βa = 2ka sin θ/2 << 1 e podemos aproximar

sin βa ≈ βa − (βa)3 /6
βa cos βa ≈ βa − (βa)3 /2

o que resulta

2µV0 a3 dσ 4µ2 V02 a6


fk (θ) = e = .
3h̄2 dΩ 9h̄4

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4. Defina o que são phase shifts. Se uma partı́cula de energia E é es-
palhada por um potencial central de alcance a, estime quantos phase
shifts são necessários para o cálculo da seção de choque. Explique a
dependência angular do problema anterior para ka << 1. Calcule a
seção de choque para o potencial do problema anterior via phase-shifts
supondo ka << 1 e E < V0 . Compare os resultados dos dois cálculos.

Solução: Na região assintótica, onde está o detector, as partı́culas


do feixe são livres e suas funções de onda podem ser expressas, em
coordenadas esféricas, como um produto de um harmônico Ylm vezes
um função radial da forma

Rkl = Al jl (kr) + Bl nl (kr) .

Se não houver potencial espalhador, essa solução vale em todo o espaço,


inclusive na origem. Nesse ponto a função de Neumann diverge e deve
ser eliminada da solução tomando-se Bl = 0. Se existe um potencial
não nulo próximo da origem essa solução não pode ser continuada até
r = 0, e portanto o termo em Neumann pode ficar. Dessa forma, o
coeficiente Bl mede a intensidade do potencial na componente l do
momento angular. Os phase shifts são definidos como a proporção de
Bl em relação a Al : tan δl ≡ −Bl /Al .
Uma estimativa de quantas componentes de momento angular devemos
levar em conta vem da imagem clássica do espalhamento. O parâmetro
de impacto b está ligado com o momento angular por L = µvb = h̄kb.
O intervalo de parâmetro de impacto importante é de zero até b = a,
o alcance do potencial. Fazendo L ≈ h̄l e b = a obtemos lmax = ka.
No problema anterior, como ka << 1, apenas l = 0 é importante, e
como o harmônico esférico Y00 é constante, a seção de choque nessa
aproximação não deve depender de θ.
Neste problema temos que calcular δ0 para E < V0 e comparar com a
solução obtida via aproximação de Born. Para r < a a equação para
u0 (r) é da forma u000 = κ2 u0 onde κ2 = 2µ(V0 − E)/h̄2 . As soluções
são do tipo e±κr . Como R0 (r) = u0 (r)/r, a solução u deve ir a zero na
origem para R0 não divergir. Assim

u0 (r) = C sinh κr se r < a.

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Para r > a a partı́cula é livre e satisfaz a equação u000 = −k 2 u0 onde
k 2 = 2µE/h̄2 . A solução é da forma u0 = D sin kr − E cos kr. O
sinal de menos é escolhido por conveniência, pois n0 (kr) = − cos kr/kr.
Definindo tan δ0 ≡ −E/D e chamando A = D/ cos δ0 a solução fica

u0 (r) = A sin (kr + δ0 ) se r > a.

Impondo continuidade de u0 (r) e de sua derivada em r = a e dividindo


uma equação pela outra obtem-se tan (ka + δ0 ) = (k/κ) tanh κa ≡
tan Ψ e portanto δ0 = −ka + Ψ onde tan Ψ ≡ (k/κ) tanh κa. A seção
de choque nessa aproximação fica
dσ 1 1
= 2 sin2 δ0 = 2 sin2 (−ka + Ψ).
dΩ k k

Se ka << 1 podemos aproximar:


s s
E E
tan Ψ = tanh κa ≈ tanh κ0 a = (k/κ0 ) tanh κ0 a
V0 − E V0
q q
onde κ = 2µ(V0 − E)/h̄2 ≈ 2µV0 /h̄2 ≡ κ0 . Para comparar esse
resultado com o exercı́cio 2 temos que ainda considerar que o potencial
é fraco, pois é apenas nesse limite que vale a aproximação de Born.
Então, assumindo que κa << 1 obtemos

δ0 = −ka + Ψ ≈ −ka + (ka/κ0 a)(κ0 a − κ30 a3 /3) = −kκ20 a3 /3.

Assim, σ ≈ δ02 /k 2 = κ40 a6 /9, que é o resultado do problema 2.

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