Você está na página 1de 11

Semana jurídica – Direito civil – Rafael Mendonça

1. Informativo 683 do STJ – 18 de dezembro de 2020

a. Tema: direito de preferência por condômino (não é de


condomínio edilício)

i. Prazo decadencial de 180 dias;

1. Notificação judicial ou extrajudicial


a. Termo inicial: verifica-se com a certificação
do recebimento dessa notificação;
i. E, quando não há essa notificação.
Qual é o termo inicial?
1. Informativo 683: O STJ diz que
o termo inicial para contagem
desses 180 dias é a data em
que a Escritura Pública de
Compra e Venda é levada a
registro no cartório de imóveis.
2. Liberdade das formas – art. 107
do CC: A validade da
declaração de vontade não
dependerá de forma especial,
senão quando a lei
expressamente a exigir.

b. Via adequada para o exercício (do direito


do condômino):
i. O exercício desse direito ocorre pela
via da ação de Adjudicação
Compulsória, no prazo de 180 dias
em face do comprador e do vendedor;
E, irá requerer que o juízo expeça uma
guia para depósito judicial do valor
equivalente aquele que foi o valor da
venda; Além de pleitear para si aquela
porcentagem (vendida) através de
uma decisão judicial que irá substituir
a vontade daquele comprado e
vendedor ao transferir os direitos a
aquisição para o condômino que foi
prejudicado pela venda e
posteriormente essa sentença será
levada a registro.

b. Tema: contratos eletrônicos – marco civil da internet – domicílio


virtual.

i. Em caso de ofensa ao direito brasileiro em aplicação


hospedada no estrangeiro (ex: uma ofensa veiculada
contra residente no Brasil feita no Facebook por um
estrangeira), é possível sim a determinação judicial, por
autoridade brasileira, de que tal conteúdo seja retirado da
internet e que os dados do autor da ofensa sejam
apresentados à vítima. Não fosse assim, bastaria a
qualquer pessoa armazenar informações lesivas em países
longínquos para não responder por seus atos danosos.
Com base no art. 11 do Marco Civil da Internet (Lei nº
12.965/2014), tem-se a aplicação da lei brasileira sempre
que qualquer operação de coleta, armazenamento, guarda
e tratamento de registros, de dados pessoais ou de
comunicações por provedores de conexão e de aplicações
de internet ocorra em território nacional, mesmo que
apenas um dos dispositivos da comunicação esteja no
Brasil e mesmo que as atividades sejam feitas por
empresa com sede no estrangeiro. STJ. 3ª Turma. REsp
1.745.657-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
03/11/2020 (Info 683).

c. Tema: direito securitário – seguro de vida coletivo


1. No contrato de seguro de vida em grupo, cuja
estipulação é feita em favor de terceiros, três são as
partes interessadas:

a. Estipulante, responsável pela contratação


com o segurador (ex: empresa ou
associação);

b. Seguradora, que oferece a cobertura dos


riscos especificados na apólice;

c. O grupo segurado, usufrutuários dos


benefícios, que assumem suas obrigações
para com o estipulante (ex: trabalhadores ou
associados).

2. Uma pessoa está decidindo se irá ou não aderir a


um seguro de vida em grupo oferecido pelo
empregador (estipulante).

a. De quem é o dever de informar previamente


ao segurado a respeito das cláusulas
limitativas/restritivas do contrato? Esse dever
é da seguradora ou do estipulante?
• Estipulante. É a posição atual da 3ª
Turma do STJ: Incumbe
exclusivamente ao estipulante o dever
de prestar informação prévia ao
segurado a respeito das cláusulas
limitativas/restritivas nos contratos de
seguro de vida em grupo. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.825.716-SC, Rel. Min.
Marco Aurélio Bellizze, julgado em
27/10/2020 (Info 683).
• Seguradora. É o entendimento da 4ª
Turma do STJ: A seguradora tem o
dever de prestar informações ao
segurado, mesmo nos contratos de
seguro de vida em grupo. Tal
responsabilidade não pode ser
transferida integralmente à estipulante,
eximindo a seguradora. STJ. 4ª Turma.
AgInt no REsp 1.848.053/SC, Rel. Min.
Raul Araújo, julgado em 10/3/2020

d. Tema: Imóvel bem de família oferecido como caução


imobiliária em contrato de locação não pode ser objeto de
penhora

i. Caso concreto: em um contrato de locação de terceiro,


João ofereceu sua casa como caução (garantia) da relação
locatícia (art. 37, I, da Lei nº 8.245/91). O terceiro
(locatário) não pagou os aluguéis e a empresa locadora
executou o locatário e João pedindo a penhora da casa
objeto da caução.
1. Ocorre que se trata de bem de família onde João
reside. Será possível a penhora?

a. Não. As hipóteses excepcionais nas quais o


bem de família pode ser penhorado estão
previstas, taxativamente, no art. 3º da Lei nº
8.009/90.
Tais hipóteses não admitem interpretação
extensiva.
A caução imobiliária oferecida em contrato de
locação não consta como uma situação na
qual o art. 3º da Lei autorize a penhora do
bem de família.
Assim, não é possível a penhora do bem de
família mesmo que o proprietário tenha
oferecido o imóvel como caução em contrato
de locação. STJ. 3ª Turma. REsp 1.873.203-
SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
24/11/2020 (Info 683).

e. Tema: alienação fiduciária de bens imóveis - Nos contratos de


mútuo imobiliário com pacto adjeto de alienação fiduciária, é
possível que o devedor fiduciante faça a purgação da mora após
a consolidação da propriedade em nome do fiduciário?

i. Exemplo: João celebrou com a CEF contrato de alienação


fiduciária para a compra de seu imóvel residencial. João
comprometeu-se a pagar a dívida em 180 prestações.
Ocorre que, por dificuldades financeiras, o
mutuário/fiduciante tornou-se inadimplente.
Havendo mora por parte do mutuário, o credor deverá
fazer a notificação extrajudicial (“intimação”) do devedor de
que este se encontra em débito, comprovando, assim, a
mora. Se, passados 15 dias da intimação, o fiduciante não
pagar a dívida (purgar a mora), o art. 26 da Lei nº 9.514/97
afirma que ocorre a consolidação da propriedade em nome
do fiduciário.
Após a consolidação da propriedade, a Lei impõe ao
fiduciário a obrigação de tentar alienar o imóvel por meio
de leilão público (art. 27).
 É possível que o devedor fiduciante faça a
purgação da mora após a consolidação da
propriedade em nome do fiduciário?

a. Antes da entrada em vigor da Lei nº


13.465/2017:

 SIM. Mesmo que já consolidada a


propriedade do imóvel dado em garantia
em nome do credor fiduciário, era possível
a purgação da mora. A purgação era
admitida até a assinatura do auto de
arrematação.

b. A partir da entrada em vigor da Lei nº


13.465/2017:

 NÃO. Nos contratos de mútuo imobiliário


com pacto adjeto de alienação fiduciária,
com a entrada em vigor da Lei nº
13.465/2017, não se admite a purgação
da mora após a consolidação da
propriedade em favor do credor
fiduciário, sendo assegurado ao
devedor fiduciante tão somente o
exercício do direito de preferência. STJ.
3ª Turma. REsp 1.649.595-RS, Rel. Min.
Marco Aurélio Bellizze, julgado em
13/10/2020 (Info 681).

 O exercício do direito de preferência


deverá ser exercido após a constatação
da proposta vencedora  Leilão.

f. Tema: Plano de saúde - A operadora de plano de saúde não é


obrigada a custear o procedimento de fertilização in vitro
associado ao tratamento de endometriose profunda

i. O STJ possui entendimento consolidado no sentido de


que, se não houver previsão contratual expressa, o plano
de saúde não é obrigado a custear o tratamento de
fertilização in vitro. Existe julgado no qual o STJ afirmou
que é devida a cobertura, pelo plano de saúde, do
procedimento de criopreservação de óvulos de paciente
fértil, até a alta do tratamento quimioterápico, como medida
preventiva à infertilidade (STJ REsp 1.815.796/RJ). No
entanto, nesse acórdão, foi feita a seguinte distinção
aplicável aqui:

a. Tratamento da infertilidade: não é de


cobertura obrigatória pelo plano de saúde;

b. Prevenção da infertilidade, enquanto efeito


adverso do tratamento prescrito ao paciente:
é coberto pelo plano de saúde.

ii. No caso concreto, o procedimento de fertilização in vitro


não foi prescrito à mulher para prevenir a infertilidade
decorrente do tratamento para a endometriose. O
procedimento foi prescrito como tratamento da infertilidade
coexistente à endometriose. Logo, não há cobertura do
plano. STJ. 3ª Turma. REsp 1.859.606-SP, Rel. Min.
Nancy Andrighi, Turma, julgado em 06/10/2020 (Info 681).

g. Tema: Prisão civil - É ilegal/teratológica a prisão civil do devedor


de alimentos, sob o regime fechado, no período de pandemia,
anterior ou posterior à Lei nº 14.010/2020

i. Como ficou a prisão civil do devedor de alimentos


durante a pandemia da Covid-19?

1. Antes da Lei nº 14.010/2020:


a. 4ª Turma do STJ e CNJ: entendiam que a
prisão civil por dívida alimentar deveria ser
cumprida em prisão domiciliar.

b. 3ª Turma do STJ: afirmava que, durante a


pandemia de Covid-19, deveria ser suspensa
a prisão civil dos devedores (e não assegurar
a prisão domiciliar).

2. Depois da Lei nº 14.010/2020: A Lei nº 14.010/2020


adotou a mesma solução jurídica da 4ª Turma do
STJ e do CNJ e previu o seguinte:
3. Art. 15. Até 30 de outubro de 2020, a prisão civil por
dívida alimentícia, prevista no art. 528, § 3º e
seguintes da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015
(Código de Processo Civil), deverá ser cumprida
exclusivamente sob a modalidade domiciliar, sem
prejuízo da exigibilidade das respectivas obrigações.

4. Desse modo, o certo é que, seja antes ou depois da


Lei nº 14.010/2020, o devedor de alimentos não
poderia permanecer preso no regime fechado
durante a pandemia da Covid-19. STJ. 3ª Turma.
HC 569.014-RN, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 06/10/2020 (Info 681).

h. Tema: Responsabilidade pelo vício do produto - Consumidor que,


em ação redibitória, recebeu a restituição do valor pago, deve
devolver o veículo com defeito ao vendedor mesmo que na
sentença essa obrigação não tenha ficado expressamente
prevista.

i. Caso concreto: consumidor adquiriu veículo, que


apresentou diversos problemas após a compra, tornando-
se inadequado ao uso. Consumidor propôs ação redibitória
contra a concessionária, pedindo a devolução do preço
pago. A sentença foi procedente tendo o juiz determinado
a restituição da quantia gasta com a aquisição do carro.
Não falou nada, contudo, sobre a devolução do carro à
concessionária. Com o trânsito em jugado, o consumidor
deu início do cumprimento de sentença. A concessionária
restituiu o valor pago e pediu a devolução do veículo
usado. O juiz negou o pleito afirmando que no título
executivo não constou nenhum comando para que o
consumidor devolvesse o automóvel. Não agiu
corretamente o magistrado.
É obrigatória a devolução de veículo considerado
inadequado ao uso após a restituição do preço pelo
fornecedor no cumprimento de sentença prolatada em
ação redibitória.
Acolhida a pretensão redibitória do consumidor, rescinde-
se o contrato de compra e venda, retornando as partes à
situação anterior à sua celebração (status quo ante), sendo
uma das consequências automáticas da sentença a sua
eficácia restitutória, com a restituição atualizada do preço
pelo vendedor e devolução da coisa adquirida pelo
comprador.
Constitui obrigação do consumidor devolver o veículo
viciado à fornecedora, sob pena de afronta ao princípio que
veda o enriquecimento sem causa e à proibição do venire
contra factum proprium. STJ. 3ª Turma. REsp 1.823.284-
SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
13/10/2020 (Info 681).

i. Tema: Usufruto vidual – (ótima pergunta para prova oral)

i. Candidato, o usufruto vidual ainda está vigente no código


civil brasileiro?

1. O usufruto vidual era um instituto previstono art.


1.611, § 1º do Código Civil de 1916, nos seguintes
termos:
i. Art. 1.611 (...) § 1º O cônjuge viúvo, se
o regime de bens do casamento não
era o da comunhão universal, terá
direito, enquanto durar a viuvez, ao
usufruto da quarta parte dos bens do
cônjuge falecido, se houver filhos,
deste ou do casal, e à metade, se não
houver filhos embora sobrevivam
ascendentes do de cujus.

b. O objetivo era garantir um mínimo necessário


ao cônjuge que não tinha direito à herança do
falecido.

c. Na interpretação teleológica do instituto, não


faz jus ao usufruto legal a que alude o art.
1.611, § 1º, do Código Civil revogado, a viúva
meeira. Isso porque ela já foi contemplada
com parcela significativa do patrimônio,
afastando a necessidade econômica
autorizativa da benesse.

d. No caso concreto, o STJ negou a uma viúva


o reconhecimento do usufruto vidual porque a
mulher já havia sido contemplada com a
meação de bens.
e. Além disso, já tinha havido a separação de
corpos, ocorrida dois anos antes do
falecimento.

f. Obs: o Código Civil de 2002 não previu o


usufruto vidual, porém, em compensação,
estendeu o direito real de habitação a
todos os regimes de bens (art. 1.831), sem
as restrições então previstas. Além disso,
o cônjuge passou a ser herdeiro
necessário. STJ. 4ª Turma. REsp 1.280.102-
SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em
13/10/2020 (Info 681).

2. DIREITO REAL DE HABITAÇÃO - Não há direito


real de habitação sobre imóvel comprado pelo
falecido em copropriedade com terceiro

a. O direito real de habitação possui como


finalidade precípua garantir o direito à
moradia ao cônjuge/companheiro supérstite,
preservando o imóvel que era destinado à
residência do casal, restringindo
temporariamente os direitos de propriedade
originados da transmissão da herança em
prol da solidariedade familiar.

b. A copropriedade anterior à abertura da


sucessão impede o reconhecimento do direito
real de habitação, visto que de titularidade
comum a terceiros estranhos à relação
sucessória que ampararia o pretendido
direito.

c. Como o direito real de habitação já é uma


exceção criada pelo legislador, não pode
haver interpretação extensiva para incluir no
mesmo tratamento situações não previstas
em lei, como, por exemplo, a hipótese em
que o imóvel seja objeto de copropriedade
anterior com terceiros.

d. O direito real à habitação limita (restringe) os


direitos de propriedade e, portanto, só quem
deve suportar tal limitação são os herdeiros
do de cujus (quem recebeu o bem na
herança), e não quem já era proprietário do
imóvel antes do óbito.

e. Caso concreto: o STJ negou o pedido de uma


viúva que pretendia ver reconhecido o direito
real de habitação sobre o imóvel em que
morava, comprado pelo seu falecido marido
em copropriedade com um filho dele, antes
do casamento. STJ. 2ª Seção. EREsp
1.520.294-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti,
julgado em 26/08/2020 (Info 680).

f. No mesmo sentido é a Tese 10 do


Jurisprudência em Teses (Ed. 50): 10) Não
subsiste o direito real de habitação se houver
copropriedade sobre o imóvel antes da
abertura da sucessão ou se, àquele tempo, o
falecido era mero usufrutuário do bem.

j. Tema: Plano de saúde - Ex-empregado mantido no plano de


saúde por mais de dez anos após a demissão, por liberalidade do
Ex-empregado e com assunção de custeio integral do serviço,
não poderá ser excluído da cobertura do seguro

i. João era empregado de determinada empresa e, nessa


qualidade, possuía plano de saúde oferecido aos
funcionários da instituição. Em 2001, João foi demitido sem
justa causa e pediu para continuar no plano de saúde com
as mesmas condições de cobertura assistencial que
gozava.

ii. Para tanto, ele se comprometeu a assumir o custeio


integral do plano de saúde.

iii. Ele possui esse direito?

1. Sim. Tal possibilidade encontra-se prevista no art.


30 da Lei nº 9.656/98. Vale ressaltar, no entanto,
que, segundo o texto da lei, o trabalhador terá
direito de continuar com o plano de saúde por um
tempo máximo de 24 meses (§ 1º do art. 30).
2. Assim, João teria direito ao plano até 2003. Ocorre
que, por liberalidade da empresa, ele continuou com
o plano de saúde até 2013, quando, já com 72 anos
de idade, foi notificado de que estava excluído.

3. O STJ considerou que essa exclusão, após tantos


anos, foi indevida. O ex-empregador, por sua
liberalidade, manteve o ex-empregado no plano por
mais de 10 anos depois de findo o prazo. A
manutenção do ex-empregado no plano de saúde
por liberalidade do antigo empregador, consolidada
pelo prolongado decurso do tempo, é circunstância
capaz de criar no beneficiário a confiança de que a
empresa renunciara ao direito de exclui-lo. Aplica-se
aqui o instituto da supressio.

4. A supressio indica a possibilidade de se considerar


suprimida determinada obrigação contratual na
hipótese em que o não exercício do direito
correspondente, pelo credor, gerar no devedor a
legítima expectativa de que esse não exercício se
prorrogará no tempo. STJ. 3ª Turma. REsp
1.879.503-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
15/09/2020 (Info 680).

Você também pode gostar