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UMA HISTÓRIA DO CONTO

por Guillermo Cabrera Infante

O escritor cubano traça um amplo percurso do gênero literário mais antigo e versátil, que tem início com as
primeiras epopéias, passa pelas "Mil e Uma Noites" e, no século 19, por autores como Machado de Assis e
Tchecov, até chegar, no século 20, a Guimarães Rosa e Borges

O conto é tão antigo quanto o homem. Talvez até mais, pois podem muito bem ter existido primatas
ancestrais que contavam contos feitos inteiramente de grunhidos, que são a origem da linguagem humana:
um grunhido, bom; dois grunhidos, melhor; três grunhidos já são uma frase. Assim nasceu a onomatopéia e
com ela a epopéia. Mas antes desta, cantada ou escrita, houve contos feitos inteiramente de prosa: um conto
em verso não é um conto, mas outra coisa: um poema, uma ode, uma narração com métrica e talvez com
rima: uma ocasião cantada, não contada, uma canção.
Antes até que aquele anônimo artista de Altamira pintasse seus minuciosos murais, deve ter existido um
autor anônimo na região que contasse contos para seus companheiros de caverna sentados em volta de uma
fogueira. O homem, como sabemos, é o único animal que faz fogo. O contista é o único ser humano que faz
contos. Esses contos seriam, por exemplo, narrações de um dia de caça perdido no encalço de um cervo
branco com um chifre na testa. Os contos não perduraram nas paredes da caverna, mas não se perderam:
foram reencontrados, contados, na memória coletiva.
Séculos mais tarde, outro contista pegou o mesmo conto, embelezou o cervo branco e o converteu em mito ao
chamá-lo unicórnio. Embora a experiência fosse alheia, tomou e fez seu o tema do unicórnio perdido. Muitos
séculos mais tarde, outro contista enfeitou com metáforas (isto é, embelezou poeticamente) esse animal
único com seu único chifre. Passados outros tantos séculos, o homem que conta já havia aprendido a escrever
(e, é claro, a ler), e outros animais e outros homens que se transformavam em animais povoaram com contos
o que chamamos mitologia, mas que para eles era essa transcendência chamada religião.
Em outro século, quando outros homens já não acreditavam nessa religião de deuses tão humanos que se
confundiam com os simples mortais, um deles, um poeta chamado Ovídio, escreveu "As Metamorfoses". De
religião, esses textos não tinham mais do que aqueles primeiros contos contados em volta de uma fogueira
numa caverna. Isso fez do conto o gênero literário mais antigo e mais protéico.
Protéico, como se sabe, vem de Proteus, deus grego que estréia na cena olímpica com a "Odisséia", poema
feito de contos. Proteus sabia tudo de tudo, mas mudava de forma para não ser interrogado. Isto é, fazia o
contrário de um autor atual, que nunca muda de forma, mas procura sempre ser interrogado: pela imprensa,
pelo rádio e pela televisão _e, às vezes, pela polícia. Creio desnecessário frisar que Proteus era uma
metamorfose feita deus. Proteus está muito perto de prosa, que é o que os contistas cultivam. Protéico,
prosaico _dá na mesma.
Os gregos, além de Homero e sua "Odisséia", cultivavam o conto, e um romancezinho, que é o que é "Dafne e
Cloé", publicado no segundo ano da nossa era, foi seu provável precursor.
Mas são contos os fragmentos que fazem do "Satyricon", de Petrônio, um romance, e um de seus mais
memoráveis é aquele intitulado "A Viúva de Éfeso", um conto perfeito e muitas vezes citado, copiado até.
Entre outros por Jean Cocteau, poeta tão teatral que transformou o conto em peça, ganhando-o para o teatro.
O conto, logo protéico, parece desaparecer na Idade Média, mas na verdade se veste com os versos do
romance, seja nos "romans courtois", onde aparece como história de aventuras, seja no "Roman de Renart",
em que serve a um fabulário, não longe do zoológico de Esopo. Na saga arturiana (que não se deve confundir
com a sopa asturiana, conto de favas), o romance adquire um tom mágico, quase místico, que lhe é exclusivo.
Mas a história paralela do amor fatal de Tristão pela bela Isolda é, como quer Bédier, um conto de amor, de
loucura e de morte cuja aura mágica não fica nada a dever aos modelos gregos e romanos.
Mas o conto, sempre recomeçado, reaparece onde menos esperariam os trovadores medievais: no Oriente.
Os árabes, entre o harém e a areia
"As Mil e Uma Noites" é a mais monumental compilação de contos do final da Idade Média. Esses contos são
a mais traduzida (e conhecida) literatura árabe depois do Corão. Suas histórias ("Ali Babá e os 40 Ladrões",
"Aladim e a Lâmpada Maravilhosa" e "Simbá, o Marujo") são hoje tão populares como quando foram
traduzidas aos diversos idiomas europeus. Sua influência é perceptível desde Boccaccio e Chaucer. Mas, já
antes deles, um extraordinário escritor espanhol, o infante d. Juan Manuel, incluiu em seu "Libro de los
Enxiemplos" mais de um conto árabe extraído de "As Mil e Uma Noites", então reconvertidas em tradição
oral.
Ao contrário do que acontece com os contos contemporâneos na Europa, "As Mil e Uma Noites" têm mil e
um autores, e a esperta princesa Sherazade é um autor coletivo que conta com voz de mulher. São, em todo
caso, contos de encanto, e até seu título em árabe é encantador, encantatório: "Alf Layla wa Layla". Dessa
vasta coleção de contos rastreou-se a origem até o século 9º d.C. Sua última forma é do século 16. Isso quer
dizer que, com seu feitiço oriental, o livro cobre quase toda a Idade Média cristã _embora diga, no início de
cada conto: "... mas Allah é mais poderoso". Em seguida vem uma espécie desconhecida de poesia que as
infiéis e cruentas traduções não conseguiram aniquilar. Sherazade é a mais poderosa máquina de matar o
tédio e a crueldade do rei que sempre assassinava a consorte de cada noite, à exceção da contista, uma
mulher amena, apesar de ameaçada.
Chaucer repetiu o esquema em seus "Contos de Canterbury", mas em verso. Quem o conseguiu em prosa foi
Boccaccio, em seu imitado, inimitável "Decameron". É curioso que Cervantes, um artista supremo, tenha
buscado inspiração nos contos italianos e não nos exemplos do infante d. Juan Manuel, que, diga-se de
passagem, deu a Shakespeare seu "Relato de Mancebo que Casó con Mujer Brava". Acontece que Boccaccio é
um contista natural, tal como a contadora de histórias árabe. Cervantes, que inaugurou o romance moderno,
o mais imitado, chamou o "Quixote" de livro e de "novelas exemplares" seus contos, declarando que "de
modo algum poderás fazer", leitor, "mistifório". Mas revelou seu ofício e arte: "Meu intento foi armar (...)
uma mesa de carambolas". E acrescentou: "Onde cada qual encontre com o que se entreter".
Um escritor cairota, Naguib Mahfuz, em suas "Noites das Mil e Uma Noites", que o editor cataloga como
romance (os editores são capazes de chamar de romance a lista telefônica, que pode não ter narração, mas
tem uma porção de personagens), esse escritor consciente, demasiado consciente, tenta se tornar uma
Sherazade assídua. Mas fracassa em seu intento. O livro quer ser árabe e é apenas egípcio.
Por outro lado, "Los Cuentos Negros de Cuba" são minhas mil e uma noites negras, contadas por uma
Sherazade branca, Lydia Cabrera, para entreter as noites em claro de uma amiga agonizante. No final do
livro, a doente já estava morta, mas os contos vivem na imortalidade da literatura. Eu os classifiquei,
qualifiquei, como "antropoesia".
A trama tecida noite após noite por Sherazade, Penélope contista com milhares de pretendentes, levou
muitos escritores _desde d. Juan Manuel, Boccaccio e Chaucer_ a tentar uma imitação em que diversos
talentos buscam emular o encantamento árabe. Poucos o conseguiram, mas um escritor nosso
contemporâneo, Manuel Puig, em seu "O Beijo da Mulher Aranha", é uma Sherazade argentina que a cada
noite conta um filme inventado para seu companheiro de cela, seu vizir cruel: completamente surdo às
dádivas orais que lhe oferece Puigrazade _assim como é cego a suas investidas sexuais.
Edgar Allan Poe inventou com três contos _"Os Crimes da Rua Morgue", "O Mistério de Marie Roget" e "A
Carta Roubada"_, ele sozinho, a literatura policial, que são o conto e o romance de mistério. Todos os
cultivadores do gênero recém-criado foram seus epígonos, de Arthur Conan Doyle, criador do insólito
Sherlock Holmes, a Dashiell Hammett e Raymond Chandler, romancistas que foram também contistas e, de
passagem, renovaram o gênero. Uma epígona (se alguém disse "jóvenas", eu posso muito bem dizer
"epígona"), Agatha Christie, disse: "O conto é o domínio natural da literatura de crime e mistério".
Muitos contistas, quase todos anglo-saxões, fizeram do conto seu hábitat, que era como uma casa mal-
assombrada. Todos seguiram o ditame de Poe, que disse que o conto "é uma narração curta em prosa" e
definiu o conto breve como uma peça literária que "requer de meia hora a uma hora e meia ou duas de
leitura". Eis aí um importante modo de usar, "com cuidado". Mas há _ah!_ leitores descuidados. Para estes, a
melhor maneira de ler é no avião _e um best-seller ou livro que se compra porque se vende.
Os herdeiros de Mark Twain são tão numerosos quanto os seguidores de Poe, mas os primeiros, que
chamaremos aqui humoristas, atentaram apenas para o lado luminoso da lua de Twain _sem enxergar suas
regiões de sombra e de penumbra. O mais bem-sucedido deles foi Damon Runyon, com suas historietas em
que o submundo de Nova York aparecia povoado de gângsteres sentimentais, jogadores sementais e uma
porção de mulheres de moralidade duvidosa e um (pouco) siso legível como sexo. O cinema e o teatro, onde
ninguém lê, criaram um Runyon ilustrado para iletrados. Runyon, que fazia rir, ia ao banco sempre rindo.
Não foram só os contistas com humor que tiveram sucesso popular. A partir do século 19, houve também
quem cultivasse _e fosse popular por algum tempo_ essa estranha e elusiva planta chamada "conto
fantástico". Na Inglaterra, onde se desperdiçara a tradição realista iniciada por Chaucer, houve muitos
autores de fantasias cujo objetivo não era induzir o sonho, e sim o pesadelo. Lembro, entre outros, Arthur
Machen, Saki e Roald Dahl.
Na Irlanda, terra de luzidas lendas nada lúcidas, Sheridan le Fanu foi um contista de mistério e terror cuja
coleção "In a Glass Darkly" (em Dublin, cidade alcoólica, tomam o espelho, "glass", como copo, e o livro se
chama "Em um Copo Escuro") é um dos clássicos do conto de terror como horror. Sua contrapartida foi mais
tarde o norte-americano H.P. Lovecraft, um precursor da ficção científica, gênero praticamente inventado
por H.G. Wells na Inglaterra. A ficção científica encontrou no conto sua forma perfeita para uma arte
imperfeita. Vale registrar que todos os mestres do conto de horror anglo-saxão têm, também eles, em Poe seu
antecessor primordial.
É preciso abrir aqui um parágrafo para Rudyard Kipling, talvez o maior contista inglês de todos os tempos.
Kipling não fica nada a dever a Poe ou a Mark Twain, e é para a Inglaterra o que Maupassant foi para a
França e Tchecov para a Rússia: um contista natural. Começou publicando em jornais indianos e, quando
afinal foi a Londres, então o centro do universo literário, tinha apenas 20 anos (Kipling é quase nosso
contemporâneo, morreu em 1936). Deixara para trás a Índia, embora fosse justamente seu lado muçulmano,
mais do que o hindu, o que mais lhe interessava no subcontinente.
Kipling cultivou todas as modalidades do conto, do monólogo à conversa, sendo alguns de seus contos feitos
inteiramente de digressões, como queria Sterne, mas também de invenções memoráveis. E muito antes que
Conrad ou Somerset Maugham descobrissem o mundo exótico do Oriente. Com a diferença de que, para
Kipling, nascido em Bombaim, aquilo era a vida vivida e vívida.
A França não teve um Chaucer, mas teve um mestre do conto no século 18, tardio, mas nada lerdo em sua
arte da ironia, exercida com uma inteligência incomum. Refiro-me a Voltaire, cuja obra-prima, "Cândido",
não é um romance, e sim uma fábula com uma moral em cada página. Os franceses tiveram de esperar todo o
século 19 para que, afinal, surgisse um dos maiores contistas de todos os tempos, Guy de Maupassant,
assombroso autor de sucessivas obras-primas do gênero. Maupassant teve Gustave Flaubert como mestre e
Émile Zola como mentor. Mas nenhum dos dois, embora tanto Flaubert como Zola tenham escrito contos
memoráveis, conseguiu superar o discípulo nascido para o conto. Sua influência foi enorme em toda parte e
teve seguidores (se não verdadeiros plagiários) na Inglaterra, nos EUA e na Rússia.
É na Rússia que Maupassant encontrará um rival extraordinário, Anton Tchecov, que começou contando
anedotas e piadas na imprensa e acabou transpondo seus principais contos para o teatro, com uma arte
inesperada. Tchecov, que podia reivindicar para si Nicolai Gogol (autor de "O Nariz" e "O Capote", entre
outros contos), era um admirador de Tolstói, que escreveu contos como relatórios de guerra e foi
contemporâneo de outro mestre cultivador da forma breve, Ivan Turgueniev. Mas a influência maior no autor
de "A Dama do Cachorrinho" e "A Cigarra" é, evidentemente, Maupassant. De Tchecov derivam Górki e todos
os contistas russos do início do século 20, que pareciam brotar da terra russa _até que chegou Stálin e, com
seu cultivo forçado do realismo socialista, transformou a fértil literatura russa num deserto com tratores.
Outro seguidor de Tchecov foi, na Inglaterra, Somerset Maugham, mestre do conto inglês e mundial. Foi,
ainda é, um autor com uma popularidade que se estendeu aos palcos e às telas: várias obras-primas do
cinema, como "A Carta" (do diretor William Wyler, de 1940), se baseiam em seus contos. Maugham, em seus
contos exóticos, foi influenciado pelas narrações dos "mares do sul" de Conrad e, por sua vez, teve influência
sobre outros contistas, evidente sobretudo nos contos urbanos de John Cheever e John Updike, típicos
produtos da revista "The New Yorker".
Se James Joyce tivesse morrido logo depois de publicar "Dublinenses", ainda assim seria considerado um
escritor notável e um grande contista. Traduzir é reescrever. Traduzindo "Dublineses", tive a oportunidade de
encontrar os "tricks" e tiques de Joyce mas também seus magistrais contos originais e sombrios e sua
escritura cômica.
"The Dead" (que traduzi como "El Muerto") é uma obra-prima dolorosa e um dos grandes contos escritos em
inglês, quase um romance, por seus personagens inesquecíveis e sua extensão. "The Dead" não é um
precursor do "Ulisses", e sim uma peça acabada em si mesma, de uma prosa milagrosamente extraordinária.
Não se poderia deixar de falar de um dos escritores mais originais do século 20, Franz Kafka, inventor da
fábula com moral teológica, ou seja, metafísica. Sua influência se faz sentir em muitos escritores judeus,
como Isaac Bashevis Singer, ou genuinamente gentílicos como Milan Kundera, que o reclama para a
literatura tcheca, embora Kafka tenha escrito em alemão e pertença à cultura talmúdica. Felizmente para
nós, que não somos nem tchecos nem judeus nem alemães, Kafka pode ser lido com verdadeiro deleite
literário.
Um epígono de Kafka, judeu como Kafka, apareceu não na Tchecoslováquia, mas na Polônia: Bruno Schulz,
contista. Seu "Lojas de Canela" é de uma originalidade delicada: uma visão da vida judia numa cidadezinha
da Polônia que oscila entre a magia e um doce realismo. Schulz, não podemos esquecer, foi assassinado por
um tenente da SS nazista, castigo tremendo apenas por estar parado numa esquina sem fazer nada. Ao
contrário de Kafka, nunca nem sequer sonhou seu final. É que o totalitarismo é sempre inimigo da literatura.
Hemingway e Tarantino
O conto americano do século 20 nada deve a Maupassant, mas sim a Tchecov. Seu renascimento lembra mais
Twain do que Poe e começou, como ocorrera com Twain, com uma literatura regional que pulava as
fronteiras do Meio-Oeste para chegar a Nova York e daí ao mundo. Seu pioneiro se chamava Sherwood
Anderson, patrocinador de William Faulkner e modelo de Ernest Hemingway. Seu livro "Winesburg, Ohio"
(conhecido na América do Sul e em Cuba como "Las Novelas de lo Grotesco", embora não sejam romances, e
sim contos, e essa história de grotesco seja gratuita, mas não deixa de ser um título com gancho) continha
uma nova visão do mundo adolescente num lugarejo de Ohio, e sua linguagem, coisa bem importante, era
entre ingênua e sábia.
Faulkner, que graças a Anderson publicou seu primeiro romance, é famoso como romancista, ou melhor,
como um poeta falastrão, mas escreveu meia dúzia de contos memoráveis. Hemingway, por sua vez, é mais
contista do que romancista: um artista que renovou a prosa moderna americana com seus diálogos
sofisticados para conversar com primitivos, que são de uma mestria ainda atual. Seu conto "Os Assassinos",
em que apenas com o diálogo se oferece uma amostra do mal sob a forma de uma conversa aparentemente
casual, revela uma violência latente que nunca se faz patente.
Desse breve conto partiu a renovação do romance policial com Hammett e Chandler, que escreveram
primeiro contos de mentira e de morte. Um filme recente, "Pulp Fiction" [de Quentin Tarantino], com seus
diálogos recorrentes, intermináveis e perigosos, não teria lugar se antes não tivesse existido "The Killers".
Seu título mesmo, direto e brutal, serviu ao cinema desde que este começou a falar: diálogos ditos com o
canto da boca, que é como se lêem, sem mexer os lábios, as conversas de Hemingway.
Dos grandes escritores americanos dos anos 20, Scott Fitzgerald é o único que frequentou a universidade,
mas nunca chegou a se formar. Todos, portanto, foram autodidatas. Alguns, como John Steinbeck e William
Faulkner, exerceram as mais variadas atividades, quase sempre manuais. Ernest Hemingway se dedicou ao
jornalismo _que é quase um trabalho manual. O único instrumento que se tem de aprender a utilizar é a
máquina de escrever, e Hemingway sempre foi um mau datilógrafo. Todos eles eram contistas respeitáveis,
mas, à exceção de Hemingway, o cultivo do romance ocultou essa qualidade.
O exemplo mais evidente é o de Fitzgerald. Todos vocês já leram ou sabem que se deve ler "O Grande
Gatsby", festejado pela crítica, favorecido pelo cinema em produções coloridas e em preto-e-branco, com
Alan Ladd, o perdedor nato, e com Robert Redford, numa versão chocha de Alan Ladd. Alguns conhecem seu
conto "O Diamante do Tamanho do Ritz", mas poucos sabem que faz parte de seu livro "Contos da Era do
Jazz", e ninguém sabe nada de suas coletâneas "All the Sad Young Men" e "Taps at Reveiile". Depois de sua
morte, foram publicados dois volumes de contos, "Afternoon of an Author" e "The Pat Hobby Stories", uma
compilação surpreendentemente leve para um tema dolorosamente autobiográfico: as aventuras e
desventuras de um escritor de aluguel em Hollywood, onde o autor morreu.
Faulkner, como Fitzgerald, também foi alcoólatra e, como Fitzgerald, também foi a Hollywood e serviu como
tarefeiro de ouro (ou dourado), especialmente para o diretor Howard Hawks. Mais esperto ou mais duro de
domar, Faulkner ia a Hollywood, mas, assim que recebia seu dinheiro, voltava correndo para Oxford. Não a
universidade inglesa, mas o pobre povoado do Mississippi onde ele nasceu e morreu, no mais profundo e
racista Sul. Ao contrário de Fitzgerald e Hemingway, Faulkner era um reacionário público e um liberal
privado. Dessas tensões são feitos não apenas seus romances mas os muitos contos que ele escreveu.
Alguns de seus romances, como "Palmeiras Selvagens", cujo belo título acaba de ser surrupiado e estropiado
pelo diretor Oliver Stone, e "Desça, Moisés", são feitos de contos mais ou menos longos, entre os quais
algumas obras-primas como "O Urso". Outras de suas narrações breves, como "A Rose for Emily" e "Barn
Burning", constam de todas as antologias e integraram a seleção feita pelo próprio Faulkner em suas
"Selected Stories". William Faulkner chegou a publicar um livro de contos detetivescos. Chama-se "Knight's
Gambit", e seu fio condutor é uma atividade que ninguém associaria ao narrador de "Enquanto Agonizo" e "O
Som e a Fúria": o xadrez.
Steinbeck e John Ford
Tão contraditório quanto Faulkner foi John Steinbeck: primeiro, comunista; depois, liberal e, mais tarde, um
dos defensores mais ferrenhos do presidente Johnson e da Guerra de Vietnã. Além de seus grandes êxitos
novelísticos, como "Vinhas da Ira" (conhecido na Espanha por um título menos bíblico e mais vitícola, "Las
Uvas del Rencor"), que é, apesar da opinião de certos críticos americanos como Mary McCarthy, uma obra-
prima popularizada em todo o mundo por John Ford, Steinbeck escreveu e publicou muitos contos, e seu
segundo livro, "Pastagens do Céu", é uma coleção de contos. Seu conto "O Cavalinho Vermelho" é uma
pequena obra-prima, e seus contos longos, como "Ratos e Homens" e "A Pérola", são obras-primas desse
gênero, a novela, que parece ter sido inventado pelos escritores americanos, de Henry James, com "A Volta
do Parafuso", a Hemingway, com "O Velho e o Mar".
Mas vim aqui falar do conto. Toda intromissão de outros gêneros deve ser considerada uma digressão. E a
digressão nunca deve ser considerada uma agressão. Como diz Laurence Sterne, é o sol que brilha sobre a
conversa. Também, diriam vocês, sobre meu monólogo. Outro escritor contemporâneo desses autores
artistas foi um jornalista que era um contista nato: o risonho e frágil Ring Lardner, que influenciou todos os
mestres do humor americano que o sucederam. Lardner, embarcado numa missão impossível _criar o conto
de humor absurdo_, se autodestruiu com o álcool.
Outro escritor agora esquecido, Erskine Caldwell, que já foi considerado o melhor contista do Sul selvagem,
sabia mesclar o drama rural com uma sexualidade que, na época, era franca e atrevida, mas divertida. Agora,
perto do que se vê no cinema, seus contos parecem se passar num convento de freiras que fumam.
Lardner, contudo, teve colegas de mérito, como James Thurber, Robert Benchley e Dorothy Parker, que
apostavam tudo no humor.
Ao mesmo tempo, outros de seus colegas da revista "New Yorker" fiavam, mas não confiavam no esquivo
amor _que muitas vezes se escrevia ódio; outras, tédio. Talvez o maior mestre entre eles tenha sido John
O'Hara, que fez dos diálogos aprendidos de Hemingway uma espécie de sábia sarabanda em que tudo se fiava
à conversa, para revelar, mas muitas vezes ocultar, os conversantes, conversos de uma religião atéia.
Desde então não houve nenhum contista americano tão influente e tão lido _se excluirmos Raymond Carver.
Ambos, O'Hara e Carver, são, à sua maneira, epígonos de Hemingway. Há outro grande contista
contemporâneo que não vem da tradição americana, que não é americano, mas cria sua própria tradição na
América, embora sua arte singular não tenha seguidores. Além de seus grandes romances, escreveu contos
perfeitos que, curiosamente, foram quase todos publicados pela primeira vez na revista "New Yorker". Seu
nome, claro, é Vladimir Nabokov. Acabaram de sair seus contos completos, e entre eles há pelo menos meia
dúzia de obras-primas do gênero _a dúzia de Nabokov.
Se "Os Contos de Canterbury" não tiveram continuadores (a não ser, é claro, no uso do inglês: Chaucer tem
na literatura inglesa o mesmo papel crucial que Dante na italiana), é talvez porque os ingleses do século 16 e
17 não sabiam ler, embora soubessem, sim, ouvir e apreciar a música das palavras, que vinha de poetas
dramáticos como Marlowe e Shakespeare e Ben Jonson. Todos, sobretudo Jonson e Shakespeare, grandes
contistas. Algo parecido ocorreu na Espanha, onde se preferiu o romance picaresco e a comédia ao conto.
O conto espanhol da América
Cervantes, ninguém duvida disso, é um grande contista, tanto em suas "Novelas Exemplares" como em seus
entremezes e em muitos dos contos que retardam com passos certos os incertos passos do cavaleiro, ginete
louco, e seu demasiadamente sensato escudeiro que segue a seu lado num burro. Todos sabemos que os
séculos 18 e 19 fizeram da Espanha uma terra baldia literária e que o grande conto espanhol que percorrerá o
mundo em palcos e cinemas foi escrito por um francês. Estou falando de "Carmen", cujo autor, Prosper
Mérimée, situou a ação na Andaluzia, mas o escreveu em Paris.
Assim como ocorreu nos EUA com o conto escrito em inglês, o conto escrito em espanhol será escrito na
América. Um crítico peruano chamou a América (referia-se antes à América hispânica) de "romance sem
romancistas". Estava enganado, é claro, mas não teria errado se tivesse chamado as Américas de continente
que contém contos. Pelo menos, se o título não é exato, ele poderia ter tirado algum proveito de minha
aliteração.
Thomas Colchie, tradutor norte-americano, conseguiu organizar uma antologia intitulada "A Hammock
Beneath the Mangoes" ("Uma Rede sob as Mangueiras" ou sob as mangas), o que mais parece a descrição do
sutiã de, digamos, Sarita Montiel.
Mas é uma excelente coletânea de contos breves sul-americanos. Não poderia, no entanto, ter feito uma
antologia similar de contos espanhóis chamada, digamos, "Os Dotes de Rocío Jurado".
Por quê? Simplesmente porque haveria peitos a conter, mas não contos a contar. Toda regra tem uma
exceção lutando por vir à tona, e deve-se dizer que uma recente coletânea de contos de Javier Marías,
"Cuando Fui Mortal", que contém contos não imorais, mas sim imortais, poderia continuar a tradição
inaugurada por d. Juan Manuel, que foi neto e sobrinho de reis, adiantado do reino de Múrcia quando
Múrcia era um reino. Mas não é o escritor da nobreza o que nos interessa, e sim a nobreza do escritor _e
sobretudo sua
popularidade: em poucos meses, Marías vendeu perto de 50 mil exemplares de seu livro de contos. Mas eu
não vim aqui para fazer o elogio de Marías, e sim do conto americano ou hispano-americano, muito embora
três dos maiores contistas cubanos (Hernández Catá, Carlos Montenegro e Lino Novás Calvo) tenham
nascido na Espanha: em Castela e na Galícia, respectivamente. Lino Novás, outra surpresa, foi o verdadeiro
criador dessa coisa curiosa chamada realismo mágico. Aparece pela primeira vez num conto dele, "Aquella
Noche Salieron los Muertos", muito antes que Alejo Carpentier formulasse sua teoria estética (tomada
emprestada de um surrealista francês) do "real maravilhoso".
Horacio Quiroga é o primeiro contista qua contista (gosto dessa palavra latina, qua, porque lembra água,
aqua, e repetida, qua, qua, parece um chamariz para patos, quá, quá, quá) e um louco perseguido pelo
infortúnio. Perdeu o pai num acidente de caça (caçava patos na fronteira do Uruguai com a Argentina: os
dois países reivindicam sua paternidade) e seu padrasto se suicidou pouco depois. Perder o pai pode ser uma
desgraça, mas perder um padrasto me parece um descuido.
Ambos, tomem nota, por favor, morreram de morte violenta. Poucos anos depois, Quiroga matou seu melhor
amigo, no que os juízes qualificaram de acidente. Quiroga se casou, e, não muito depois da lua-de-mel (ele
obrigou sua jovem mulher a passá-la na mais densa selva brasileira), quase nem preciso dizê-lo, foi a vez de
ela se suicidar. Casado mais uma vez, sua nova mulher, como a oitava de Barba Azul, sobreviveu a ele. Doente
de câncer da próstata (até nisso ele foi um pioneiro), Quiroga escolheu o suicídio.
Detive-me na vida de Horacio Quiroga porque parece uma violenta telenovela e é mais interessante que sua
ficção _que não é menos violenta. Um de seus livros de contos se chama "A Galinha Degolada". No conto que
dá título e tom ao volume, dois irmãos gêmeos, ambos idiotas, têm uma linda irmãzinha. Mas os dois irmãos
vêem _ou melhor, observam_ a madre degolar uma galinha para o jantar. Eles provam que a imitação é a
mãe da experiência e cortam o pescoço da irmãzinha.
Li os contos de Quiroga, todos, na adolescência e acreditei em todos. Eu era, como vocês já devem ter
deduzido, mentalmente são, mas impressionável. Agora, mesmo que me ameaçassem com a expulsão deste
encontro, eu não os leria nem amarrado. Vocês já devem ter deduzido também que Horacio Quiroga era
dependente não só de morfina mas da literatura de Poe.
Outro escritor de contos nascido na Argentina, mas com a cabeça bem no lugar, é Adolfo Bioy Casares.
Muitas vezes é associado a Jorge Luis Borges só porque eram amigos e colaboravam em empresas narrativas.
Alguém os chamou, a ambos, Biorges. Mas Bioy continuou escrevendo depois da morte de Borges e foi cada
vez mais individual e distinto, não apenas no porte mas na escritura. Bioy escreveu a mais comovente história
de amor da literatura em espanhol do século 20. Chama-se "A Invenção de Morel" e, embora alguns a
chamem de romance, é uma novela ou conto longo e, para mim, é perfeita. É a melhor ilustração do conselho
francês "cherchez la femme".
Agora uma breve interpolação para falar, brevemente, embora ele mereça ensaios e tratados, desse grande
autor: um americano que não escreve em espanhol e que não segue a tradição de sua língua, porque está
criando as duas. Refiro-me a Machado de Assis, o único grande romancista sul-americano do século 19, que é
também um contista extraordinário: sempre original, sempre na vanguarda de um homem só. Leiam, como
aperitivo para o festim de um Trimalcião literário, seu conto "O Alienista".
O uruguaio Felisberto Hernández era o oposto físico do cubano Virgilio Piñera. Não gostava de homens
magros, como Virgilio, mas de mulheres, muitas, gordas e caras: casou-se quatro vezes. Ao contrário de
Virgilio, que nunca foi musical, Felisberto (podemos chamá-lo Felisberto: ninguém se chama assim) era um
músico profissional, que, curiosamente, trabalhava como pianista de teatro, mas não de palco, e sim no fosso,
e não para acompanhar sopranos, mas fazendo música de fundo para filmes mudos.
Suas vidas opostas tiveram um final parecido, mas diferente. Virgilio morreu reconhecido como pederasta
passivo, com passagens pela prisão, condenado por invertido. Sua morte foi chorada por poetas pederastas,
mas seu cadáver desapareceu do velório: as autoridades estavam convencidas de que seu corpo presente
recriaria o ausente com fins políticos. Felisberto morreu de leucemia muito mais jovem que Virgilio, mas seu
corpo inchou tanto que foi preciso procurar às pressas um caixão adequado, uma coisa tão enorme que não
pôde ser tirada pela porta da funerária e saiu para a eternidade por uma janela.
Há um provérbio latino que propõe que se chega ao final da vida conforme se viveu. Os respectivos finais de
Virgilio Piñera e Felisberto Hernández foram, se não vidas, mortes paralelas. Acho que não por acaso a
editora americana que publicou os "Contos Frios" de Piñera agora publique os contos completos de
Hernández. Mas vale notar e anotar uma diferença notável: Felisberto estava meio louco, Virgilio, ao
contrário, sempre teve a cabeça bem assentada na guilhotina. Precisava apenas de uma revolução, e a teve.
Juan Rulfo chamou Guimarães Rosa de "o maior autor surgido nas Américas neste século". Não se deve
exagerar, mas Guimarães Rosa, que escreveu o melhor romance do chamado "realismo mágico", é um grande
escritor. Para deleite de vocês (já que sua obra-prima, "Grande Sertão: Veredas" é longa, complexa e
metafísica), ele tem um volume de contos, mais zen do que sensacionais, intitulado "Primeiras Estórias", que
em espanhol ganhou o sugestivo título de um de seus textos, "A Terceira Margem do Rio". Há outros
compatriotas de Machado de Assis que vale a pena citar, ainda que rapidamente. Murilo Rubião, com seu
conto "O Ex-Mágico da Taberna Minhota", que é "sui generis", como são os contos de João Ubaldo Ribeiro,
sobretudo seu "Foi um Dia Diferente o da Matança do Porco" e o elusivo e alusivo Rubem Fonseca, que com
seu "Corações Solitários" criou um escândalo internacional ao ser proibido pelas autoridades de seu país.
O escândalo chegou aos ouvidos do presidente Carter, mais conhecido como "el manisero", não por causa da
saborosa rumba havanesa, mas por ter enriquecido cultivando amendoim. Há outra rumba chamada "Tanta
Lipidia por un Medio de Maní" cujo título me leva a explicar aqui meu interesse e até meu afeto pelos
cariocas do conto. Não há outro país na América que se pareça tanto com a minúscula Cuba como o
gigantesco Brasil: ambos têm sua musicalidade na música e na língua, ambos são uma mistura de brancos
ibéricos e negros africanos, ambos criaram uma nova religião, que no Brasil se chama macumba e, em Cuba,
"santeria".
Todos acreditamos que o ritmo não está só na música mas na fala, nos movimentos do corpo e nesse balanço
que em Havana se chama "el caminao". Este meu ensaio, por exemplo, foi escrito como falam em Havana os
"hablaneros".
Penso, ou sinto, não serem muito bons os contos de Rulfo, que me parecem parcos, mas primitivos. Em
compensação, acredito que "Pedro Páramo" é um grande romance em poucas palavras e o melhor romance
mexicano já escrito _neste e em outros séculos. O contrário acontece com o defunto Julio Cortázar: seus
romances são para mim enfadonhos exercícios de uma vanguarda que o tempo mandou para a retaguarda.
Mas seus contos, sobretudo os contos de família, são extraordinários, e um ou dois _por exemplo, "O
Perseguidor"; por exemplo, "A Auto-Estrada do Sul"_ são admiráveis. O mesmo acontece com Alejo
Carpentier, cujos últimos romances são lamentáveis quando comparados aos romances que escreveu na
Venezuela: "O Reino deste Mundo", "Os Passos Perdidos", "O Cerco". Mas seu conto "Viagem à Semente" é
uma obra-prima do gênero.
Também o é seu conto longo "Concerto Barroco" _se esquecermos seu final, que eu não quero esquecer.
Também Gabriel García Márquez, Carlos Fuentes e Mario Vargas Llosa escreveram e publicaram contos.
Mas, apreciados ou desprezados, devem ser considerados romancistas antes de mais nada ou depois de tudo.
Chegamos aqui à grande literatura não apenas regional ou continental mas mundial, universal até. Agora
vem, e com tudo, Jorge Luis Borges. Não houve no idioma um escritor maior desde que Calderón de la Barca
morreu em Madrid em 1681. Toda pessoa que tenha lido um único conto de Borges (e felizmente Borges só
escreveu contos e ensaios à maneira de contos) percebe que está diante de um escritor excepcional. Foi
Borges quem disse de Quevedo que não era um escritor, mas uma literatura. Com maior justiça se pode dizer
o mesmo de Borges. Ele sozinho, em sua remota Buenos Aires, que depois dele sempre está perto, aqui ao
lado, virando a página, Borges sozinho fez do conto toda uma literatura e até mais, uma teoria literária. Não
preciso citar nenhum título, pois vocês conhecem todos. Mas são contos não para ler, e sim para reler,
recordar, memorizar e sempre nos assombrar. Não só com sua cultura e seu humor, mas também com sua
arte narrativa. O oportunismo político o privou do Prêmio Nobel que ele tanto almejou. Pior para o prêmio:
não mereceu Borges. Mas todos os seus leitores, todos os dias, lhe oferecemos o prazeroso desagravo da
leitura, pois ele é, argentino nobre que era, nosso prêmio.
Não me escapa e, claro, não escapará a vocês, que fui parco em nomes e largo em adjetivos. Não era meu
propósito compor aqui um guia de autores, mas oferecer um panorama do conto mais geográfico do que
histórico. Depois de passear _como queria Anatole France que fosse a visão, não a missão, do crítico_ por
entre obras-primas, posso chegar a uma conclusão, se é que chego. Talvez o conto requeira mais arte que
verdade. Isto é, uma quantidade maior de ficção.
Anatole France, aliás, deu uma aula sobre memória histórica em seu magistral conto "O Procurador da
Judéia". Em Roma, Pôncio Pilatos, que fora procurador da Judéia, vai a uma festa romana, que vocês podem
chamar orgia, e seu anfitrião lhe pergunta por "um judeu desordeiro" chamado Jesus. Pilatos, uma taça de
vinho na mão, a toga impecável, o penteado à César, pensa por um momento e diz: "Jesus? Não conheci
ninguém com esse nome".
Por favor, não me perguntem pelos autores que esqueci.

Guillermo Cabrera Infante é escritor cubano e vive em Londres. É autor, entre outros, de "Havana para um
Infante Defunto" e "Mea Cuba" (Companhia das Letras).

Tradução de Sergio Molina.

Folha de São Paulo, 30/12/2001.

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