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A ATIVIDADE FABRIL EM SÃO LUÍS DO MARANHÃO, SÉCULO

XVIII AO XX.

Antonia da Silva Mota – historiadora.

Das primeiras décadas do século XVIII, datam as referências iniciais às atividades


manufatureiras no entorno da cidade de São Luís. Na documentação do Arquivo Histórico
Ultramarino encontram-se registros de uma contenda entre moradores da cidade acerca da
“fábrica de curtir sola” de Lourenço Belfort. São Luís, em seu núcleo urbano, contabilizava
somente mil e duzentos moradores, quando esse irlandês naturalizado recebeu autorização da
Coroa portuguesa para instalar a primeira fábrica de “atanados” 1, “na Praça do Mercado”. Tal
fábrica poderia “curtir cada ano até oito mil meios de sola, [...] ainda que esta terra não
produza esta quantidade de couros” 2. Como a Coroa havia estabelecido a obrigatoriedade dos
couros exportados pelo porto de São Luís passarem por tal curtume, os moradores, revoltados,
se dirigiram ao rei por meio do Senado da Câmara, solicitando a revogação de tal
obrigatoriedade. Não conseguiram. Segundo as autoridades metropolitanas, o sentido da
medida era coibir os constantes roubos de gado, facilitada pela exportação feita com os couros
“em cabelo”.

Nas capitanias do Norte, desde o século XVIII, se adensavam os rebanhos bovinos


para atender à demanda de carne dos enclaves populacionais localizados no litoral; bem como
para abastecer a agroindústria açucareira e, mais tarde, as atividades mineradoras. Na cidade
de São Luís, os curtumes localizavam-se nos arrabaldes do limitado centro urbano, nas
margens dos rios Anil e Bacanga, alguns deles utilizavam dezenas de escravos. Proprietário
de uma dessas unidades de produção, José Bernardes Teixeira, nascido na Vila Torre de
Moncorvo, arcebispado de Braga, Portugal, fez sua vida na capitania do Maranhão, onde se
casou e deu origem a numerosa descendência. “Lavrador” 3
e negociante, disse em seu
testamento possuir cento e dois escravos, “entre grandes e pequenos, mulatos, negros crioulos
e negros de Cacheu, entre os quais se acham oficiais de carapina, ferreiros, tecelões e
pedreiros”.

Pelo extrato seguinte, fica patente a constatação de que os proprietários do


período investiam em vários ramos de negócios, sem buscar necessariamente a
especialização:
Declaramos que possuímos uma légua de terra lavrada com meia de fundo, e mais mil braças
em quadra neste Sítio de Sam Payo cuja terra a houvemos por compra, e nela estamos
situados com casas de sobrado, cobertas de telha, plantações de cana, café, e mais
benfeitorias, engenho de canas com dois alambiques, uma caldeira, uma “cayxa”, uma
caldeirinha, e dois tachos grandes, um engenho de mandioca, um moinho e uma fábrica de
cortar sola = Declaramos que possuímos uma fazenda de gado vacum, e cavalar nos
Campos de Anajatuba, donde temos meia légua de fundo [...] em cuja fazenda fizemos o
patrimônio da nossa capela da Senhora Santa Ana que consta de trinta vacas e duas éguas, e
todas as multiplicações. 4

Bernardes Teixeira menciona ainda a arrematação dos dízimos do Itapecuru e


sociedade em negócios mercantis, evidenciando a versatilidade dos proprietários do período,
característica de agentes que se movimentavam em uma economia pré-capitalista.

Na segunda metade do século XVIII, com a inserção econômica ao mercado


Atlântico realizada pelo ministério pombalino, por meio da Companhia de Comércio do
Grão-Pará e Maranhão, foi iniciado o cultivo de gêneros agrícolas para exportação. Na
capitania do Maranhão, o cultivo do arroz branco da Carolina foi imposto aos lavradores e
logo obteve resultados favoráveis, pois “no primeiro ano de sua plantação exportaram-se
2.847 arrobas para Lisboa”. Zelando pelo melhoramento da atividade, “no ano de 1766, a
Companhia de Comércio enviou à capitania o tenente-coronel José de Carvalho com todos os
utensílios próprios para a construção de uma fábrica de soque de arroz, montada junto às
margens do rio Anil”. A recomendação era de que “se tivesse muito cuidado no
descascamento do arroz”. Logo no início da década de 1770 “já havia três moinhos ou
fábricas de soque, pertencentes à Companhia e já se projetava o assentamento de mais dez.” 5
Esses estabelecimentos manufatureiros ocupavam as áreas periféricas da cidade, pois
necessitavam da força motriz dos rios e rias para viabilizar suas atividades. Por outro lado,
aproveitavam os portos naturais para obterem abastecimento de matérias-primas e da lenha
com maior facilidade.
As manufaturas para o trabalho de descasque do arroz em São Luís estavam
situadas preferencialmente nos terrenos baixos, acessíveis pela maré, tais como Santo
Antônio, Remédios e os terrenos indicados como do “Salgado”, no caminho da ermida da
Madre de Deus, na ponta sul da cidade em formação. Além da ampla utilização de
escravizados, naturalmente trabalhadores forros e livres dessas “fábricas” começaram a
ocupar o entorno delas com construções rústicas, para moradia.
No século XVIII, era utilizado regularmente como conceito de “fábrica”:
“estabelecimentos especializados em atividades de beneficiamento de algum produto”. Rafael
Bluteau, em seu dicionário, definiu fábrica como “construção, edifício; casa ou oficina onde
se fabricam alguns gêneros” como “panos e tabacos” 6. Logo, o conceito de época é próximo
ao atual e plenamente aplicável ao quadro geral que vem sendo montado nesse texto. Por
exemplo, Bernardo José Prego, nascido na Vila de Vianna, Comarca de Valença do Minho,
morador de São Luís, registrou em seu testamento de 1798: “tenho uma fábrica de socar
arroz, que terá para o manejo desta, oitenta negros, meus escravos, pouco mais ou menos,
contando pequenos e grandes. Também para o dito serviço da mesma fábrica tenho
dezessete cavalos, pouco mais ou menos.” 7

Mediante as doações de chãos urbanos realizados pelo Senado da Câmara de São


Luís, constata-se a multiplicação dessas unidades produtivas. Ao que parece, o
empreendimento era vantajoso para os proprietários daquele período, pois não eram raros os
pedidos de novos terrenos para sua expansão. O trecho da carta abaixo é claro a esse respeito:

Fazemos mercê (...) de dar e conceder por data e sesmaria deste Senado ao Immenoribus
Roque Jacinto Lopes Tourinho e a viúva dona Francisca Xavier de Sousa Lopes um
terreno de setenta braças de terras em quadra, que corre por detrás da ermida de N. S. dos
Remédios para o nascente, buscando o Armazém de Pólvora desta cidade a beira de um
apicum que se acha na dita paragem donde tinham já edificado duas fábricas de sola e
outra de descascar arroz e por ser muito pouco terreno para as ditas manufaturas, casas
de vivenda, e ranchos para os seus escravos [...] Maranhão, 15 de dezembro de 1790. 8

Nos Livros de Registro do Senado da Câmara de São Luís foram encontradas


cartas de doação de chãos urbanos para as “fábricas” de Lourenço Belfort, de Manoel Loudos
Reys, de um certo Trindade, de Joaquim José Gomes, de João Rodrigues de Almeida, de
Simão dos Santos Malheiros e de Elena Correa.
Não só os donos das fábricas recorriam à Câmara para adquirir chãos urbanos e
expandir seus negócios. Inúmeros moradores também pediam terreno e davam como
referência determinada “fábrica”. Alguns desses solicitantes demostravam com muita
evidência sua ligação com a atividade, pois se diziam “oficial de pica-couro”, “oficial de
picassola” etc.
Sentindo a ameaça representada pelo avanço das atividades manufatureiras nas
Colônias portuguesas, o alvará da rainha D. Maria I, de 1785, tentou controlar esse
movimento ao permitir apenas fábricas de roupas mais simples para os escravos, extinguindo
assim todas as outras que trabalhavam com outros materiais e produtos, sob pena de aplicar
multa, cujo valor seria três vezes o valor da propriedade.9 No Estado do Grão-Pará e
Maranhão, notadamente nos arredores da cidade portuária de São Luís, verificou-se que tal
vigilância foi burlada, pois os registros locais dão conta de que se multiplicavam unidades
fabris, a maioria delas beneficiando produtos da pauta de exportação local, como o couro e o
arroz.
As fábricas também eram instaladas em terrenos mais afastados do núcleo urbano
inicial, como as localizadas no Sítio de Sam Payo, no Sítio Pearenga, Tamancão e o Sítio do
“Físico.” Esse último, de propriedade do físico-mor Antônio José da Silva Pereira, abrigava
um complexo de atividades voltadas para o beneficiamento de vários produtos, como o couro
e o arroz e ainda a fabricação de cera e cal. Faziam parte do conjunto, além das casas de
vivenda dos proprietários e de seus escravos, fornos, conjunto de tanques, poços, armazéns,
cais, laboratório, rampas, telheiros e canalizações com caixa de distribuição para os tanques.

A Fábrica do Capitão Salgado Moscoso.

No final do século XVIII, na área onde mais tarde se implantariam inúmeras


unidades fabris, já se verificava a existência de algumas edificações importantes: a Santa Casa
de Misericórdia, a Igreja de São Pantaleão e o Cemitério dos Ingleses, no Alto do Carrapatal,
mais à frente o Colégio da Madre de Deus, erigido pelos Jesuítas, e mais abaixo, a Capela e o
Largo de Santiago, e uma fábrica de descasque de arroz, pertencente à família Salgado
Moscoso.

Segundo César Marques, a propriedade do capitão José Salgado de Sá e Moscoso,


natural da Vila Nova dos Infantes, Reino de Galiza, ficava localizada nos “arrabaldes da
cidade, rodeada de árvores, numa pequena elevação, que em plano inclinado, vai terminar no
mar”. Escreveu o mesmo autor, que no arquivo do escrivão de Capelas e Resíduos está
lançada uma escritura, feita em 6 de dezembro de 1788,

Em que o capitão José Salgado e sua mulher fizeram doação de patrimônio a essa
capela de 120$000 cada ano, na forma seguinte: a fábrica de descascar arroz,
16$000; as casas místicas à mesma capela, 40$000; e mais 64$000 por ano no
rendimento das casas que possuíam na rua do Desterro, bem como 120 braças de terra
de comprido e 60 de largo, onde se achava ereta a mesma capela do Senhor São Tiago
e fábrica. 10
Mapa de São Luís, 1844, versão modificada, em que aparecem os arredores da cidade e o lugar
denominado “Salgado”, onde se situava a Quinta e a Fábrica de soque de arroz. Desenho feito a
partir do livro “O Maranhão no Centenário da Independência”, de J. Ribeiro do Amaral.

No mapa acima fica nítida a indicação “Salgado”, onde estava localizada uma
grande edificação, à qual convergiam as ruas de São João, das Crioulas (antiga Madre de
Deus) e de São Pantaleão. Provavelmente seria essa a propriedade do capitão Salgado
Moscoso, com a fábrica, empreendimento responsável por atrair contingentes das populações
de baixa renda para essa ponta extrema do núcleo urbano, pois as ruas se alongam até chegar
aos seus limites. Por outro lado, foram as inúmeras “quintas” existentes nessa área as
responsáveis por impedir a expansão natural da cidade para esse espaço. Certo é que nesses
espaços foram erigidas, no século XIX, as unidades fabris que conhecemos hoje: a Fábrica
Santa Amélia, a Fábrica Santiago, a São Luís e a Cânhamo.
Sobre a propriedade dos Salgados, com a morte do capitão e patriarca da família,
no final do século XVIII, a capela e casas místicas ficaram abandonadas por muito tempo, até
que em 14 de março de 1848, o neto do fundador, o capitão Tiago José Salgado de Sá
Moscoso, como procurador-geral de sua mãe, D. Luísa Rita de Sousa Salgado, fez um
contrato com o capuchinho Frei Doroteu de Dronero. O religioso conseguiu, após longo
processo, o beneplácito do Imperador e a autorização do bispo, para transformar a capela e
casas contíguas em hospício regular11, “com todos os privilégios, graças, isenções e
imunidades.” A solenidade de inauguração dessa benfeitoria ocorreu com grandes celebrações
a 24 de julho de 1854.

César Marques registra que os capuchinhos estiveram mansa e pacificamente à


frente da casa e capela de Santiago até a morte do Frei Doroteu, em 1869, quando
“apresentou-se o Dr. Ricardo Décio Salazar, casado com uma das herdeiras de Rodrigo
Salgado, pedindo a entrega das propriedades por julgar ter direitos ao domínio da capela.” A
briga seguiu acirrada. A longa contenda arregimentou defensores pró e contra, que se
manifestaram nos tribunais como jornais da época.12

Ao que parece, a disputa judicial acabou por condenar a capela e o largo, que
hoje já não existem mais, tendo seus terrenos sido vendidos aos poucos pelos herdeiros da
família Moscoso.

Infelizmente, a historiografia nada informa sobre o destino da fábrica de


descasque de arroz pertencente à propriedade dos Moscoso. Tudo leva a crer que foi
comprada, ou arrendada, e continuou a beneficiar arroz, pois o Maranhão, durante todo o
século XIX exportou este gênero agrícola em larga escala, sendo o segundo na pauta de
exportação da província.

Obviamente que tais unidades de produção logo atraíram para seu entorno uma
população de moradores livres e alforriados de poucas posses. A Câmara de São Luís emitiu
inúmeros títulos de terra para moradores que ali construíram suas casas. Essa população de
trabalhadores de menor renda passou a constituir significativo contingente urbano que foi se
concentrando na periferia da cidade. Os registros de doações de chãos urbanos evidenciam a
diversificação social e étnica da população no final do século XVIII. O exemplo seguinte é
elucidativo de tal premissa:

O Doutor Jozé Thomas da Sylva Quintanilha (...) e mais senadores que servimos (...),
fazemos mercê de dar e conceder a cafuza forra Anna Raymunda, casada, e a seu irmão
Antonio da Trindade um chão de cinco braças de testada e quinze de fundos na rua da
Madre de Deus, com a frente para o poente e os quintais ao nascente, místicos da parte do
sul a outro chão concedido a Luísa, cafuza forra, mãe dos ditos acima (...). São Luís do
Maranhão, 13 de setembro de 1781.13

Semelhantes a esses, existem inúmeros registros de terras concedidos pela Câmara


a moradores nos terrenos baixos localizados próximos à Fonte das Pedras e no “caminho da
ermida da Madre de Deus”, depois rua de São Pantaleão. Tais registros permitem constatar a
expansão do perímetro urbano para essa área periférica da cidade de São Luís.

A Fábrica dos Irmãos Martins.

Consultando a documentação relativa ao período, verifica-se que, ainda no século


XIX, o português de Aveiro, Manoel Pereira Martins, tendo começado a produzir sabão de
andiroba em Morros, decidiu tentar a sorte em São Luís, capital da província. Na segunda
metade do mesmo século, conforme anúncio citado por Jerônimo de Viveiros, os Martins já
aparecem associados à Fábrica de Santiago, como proprietários desse negócio, perfilando-se o
empreendimento na tradição das antigas fábricas de descasque de arroz existentes nos
arredores de São Luís.

Ao discorrer acerca das saboarias pioneiras nesta região, Jerônimo Viveiros


assinala que,

Depois da pilação de arroz, a indústria mais importante era a de sabão, artigo que
importávamos em larga escala da Inglaterra, apesar das três fábricas que possuíamos.
Uma pertencia à firma Bottentuit & Chavanes, ficava à rua do Pespontão, servida por
força a vapor e produzia 2.000 libras de sabão, 100 de velas estearinas e 250 frascos de
azeite; a outra era de Lázaro Moreira de Sousa, sita na praia dos Remédios, com a
produção mensal de 32.000 libras de sabão amarelo e 60 caixas de sabão branco; e a
terceira, situada no largo de Santiago, era propriedade de Manuel Pereira Martins. 14

Um problema constatado na obra de Jerônimo de Viveiros é que ele raramente cita


suas fontes, mas é um fato que no Largo de Santiago existiam várias fábricas de descasque de
arroz, tendo sido uma delas adquirida por Manoel Pereira Martins. Nessa empresa ele
continuou a descascar arroz, a fabricar sabão e logo iniciou a atividade de extração de óleos
vegetais. Sobre as fábricas pioneiras ainda em funcionamento no terceiro quarto do século
XIX, Jerônimo de Viveiros mencionou como as mais importantes as de “pilar arroz”,
destacando-se a Feliz Esperança, de João Gualberto da Costa, situada à rua da Madre de
Deus, movimentada por motor de 20 H.P., produzindo de 90 a 100 sacas diárias, trabalhando
com 18 homens. Depois vinha Tamancão, da viúva Brito e Castro, força hidráulica de 15
H.P., produção de 60 a 70 sacas, ocupando 25 escravos. Esse autor finaliza citando ainda as
fábricas Tamacaca, de Donana Jansen, Trindade, São Félix e Roma, com produção menor.15

Nesse período, os trabalhadores das fábricas, em sua maioria, eram escravos,


porém é admissível que alguns trabalhadores já fossem forros ou livres. Importante registrar
que a fábrica de Santiago iniciou utilizando trabalho escravo e depois passou a operar com
trabalho assalariado nas décadas finais do século XIX.

A crise na economia do arroz e do algodão e a reorientação econômica para extração de


óleos vegetais.

Diversos fatores encaminharam as classes produtoras para uma reorientação de


suas atividades produtivas ao longo do século XIX. Essa nova atitude começou a partir da
queda dos preços do algodão e do arroz no mercado internacional e a consequente
desestruturação de todo o sistema montado para a produção desses gêneros nas grandes
propriedades rurais com a utilização do braço escravo. Em meados deste mesmo século, tal
esquema começou a dar mostras de falência, quando muitas fazendas foram executadas para
pagamento de dívidas. Por outro lado, as dificuldades de aquisição de mão-de-obra escrava
com a proibição do tráfico atlântico fizeram com que a maioria dos proprietários rurais
abandonasse suas propriedades. Segundo o historiador Matthias Assunção, no Maranhão
ocorreu uma “interiorização da economia”, com a queda do preço do algodão no mercado
mundial. Segundo esse autor, “o crescimento demográfico da população pobre e livre pode
explicar porque a economia da província se orientara, já na primeira metade do século XIX,
cada vez mais para o mercado interno”.16 Refletindo sobre as consequências sociais desse
processo, o historiador esclarece:

No caso do Maranhão, houve uma “caboclização”, ou seja, uma extensão da economia de


subsistência mesmo em áreas antigas de plantation. As razões são várias: erosão das
terras; inexistência de um mercado urbano suficientemente grande para estimular a
produção mercantil; falta de capital (os eventuais lucros dos fazendeiros foram todos
reinvestidos em escravos ou gastos em importações de luxo); distâncias dos grandes
centros consumidores. 17
O que nos interessa reter dessa análise é que a elite econômica vai enfrentar a
queda do preço do algodão, promovendo uma “reorientação econômica”. A roda da história
não para, novos produtos da região passaram a ser explorados a partir daí, sendo a amêndoa
do babaçu, a mais importante. Assunção conclui:

Os resultados deste primeiro ciclo econômico baseado na plantation algodoeira, além do


extermínio das sociedades indígenas, da deportação de milhares de escravos negros e da
construção de sobrados magníficos em São Luís, vastas extensões de selva destruídas,
onde crescia uma vegetação secundária de babaçu, imortalizado como símbolo pátrio por
Gonçalves Dias no seu famoso poema ufanista “Minha terra tem palmeiras”. Este
episódio “áureo” da economia maranhense gerou também uma classe de fazendeiros que
não conseguia mais plantar outro produto lucrativo para a exportação. Por esta razão, não
tiveram mais papel de destaque em nível nacional. Outro resultado imprevisto foi a
formação de um campesinato nos interstícios da economia de plantation.18

Ante a crise, as terras foram deixadas de lado pelos grandes produtores rurais e
passaram a ser exploradas pelas roças de subsistência dos “posseiros”. Os pequenos
agricultores e suas famílias tinham origens diversas: a maioria era de trabalhadores
escravizados, que foram se mantendo nas terras onde se localizavam as plantations.

Outros posseiros vieram de várias áreas do nordeste assoladas pelas secas,


cultivando nas margens férteis dos rios. Como ainda encontraram uma demanda no mercado
pelo arroz, continuaram a cultivar esse produto em pequena escala. O economista esquematiza
como se reordenou a economia local e regional nesta nova conjuntura. Vale ressaltar que o
cultivo e o beneficiamento do arroz não foram abandonados. Essas duas atividades
encontravam mercado e eram exploradas pelos mesmos agentes econômicos. Existem
evidências comprobatórias que as fábricas de sabão também a estrutura para pilar arroz. Essa
premissa pode ser comprovada pelo exame do anúncio da fábrica Tamancão, e da Fábrica de
Arroz São Tiago, citadas na História do Comércio do Maranhão de Jerônimo Viveiros, a
saber:

Fábrica de Arroz São Tiago

Propriedade de Martins & Irmão. Situada no largo de São Tiago, com uma
área de 3.500 metros quadrados, três motores que juntos davam 30 cavalos
de força, e dez máquinas operatrizes, destinava-se a pilar arroz, extrair óleos
e fabricar sabão. Em 12 horas de trabalho, produzia 1.200 litros de óleos,
4.000 quilos de sabão e 60 sacas de arroz pilado. Nas suas vendas figurava
esta tabela;

Óleo de mamona extraído a frio ........... 1$400 litro

Óleo de mamona extraído a quente ..... 1$200 litro

Óleo de mamona extraído torrado ....... 1$000 litro


Óleo andiroba ..................................... $800 litro

Sabão palma ....................................... $500 litro

Sabão família ...................................... $460 litro

Sabão andiroba .................................. $480 quilo

Óleo de coco ....................................... 1$000 litro

Óleo de gergelim ................................ 1$400 litro 19

Segundo Viveiros, nesse período, o estabelecimento “dava serviço a 40 operários,


pagava o salário de 1$600 a 2$500”. Em outras palavras, a fábrica da firma Martins & Irmão
foi diversificando sua produção com a extração de vários óleos de origem vegetal. Conforme
anúncio citado, além dos óleos de andiroba, mamona e gergelim, aparece também o óleo de
coco babaçu.

A produção de sabão se baseia nos sebos e essências de várias origens, no extrato


da andiroba e na mistura de óleos, que a região possuía em abundância. Aliás, os curtumes
estavam localizados nas redondezas e o Maranhão já exportava óleo de andiroba, de gergelim,
e outros, desde o período do extrativismo das drogas do sertão, no século XVII. Também
havia larga produção de algodão, cujo óleo era uma das matérias-primas utilizadas. Nesse
momento, as matérias primas vinham principalmente do vale dos rios Munim, Itapecuru,
Mearim.

Segundo João Pereira Martins Neto, herdeiro ainda vivo da família, o segredo do
sabão Martins se devia à mistura de vários óleos: de andiroba, de algodão, do babaçu etc. Isso
garantia a umidade do produto por mais tempo, diferenciando-o dos produzidos pela
concorrência.

Sobre a cidade São Luís neste período, seu ordenamento e sua população, existe
um mapa de 1871, no Arquivo Militar no Rio de Janeiro, dando conta de que em 1858, esta
seria de 27.817 habitantes, distribuídos em 4.210 domicílios. Quanto ao Largo de Santiago e
seu entorno, apesar de contar com edificações importantes, até o século XIX, se configurava
como uma das áreas periféricas, situada “nos confins da cidade, perdida no extremo sul, ainda
quase mata virgem, entre o lamaçal mal odorante do Ibacanga e os apicuns praguentos da
quinta do Gavião!” 20
Nas últimas décadas do século XIX, por força da atração dos
estabelecimentos fabris inaugurados naquele espaço, foram se abrindo vias onde antes eram
caminhos.
A primeira via, de São João, se estendera do Largo da Fonte das Pedras por mais três
esquinas, até a rua das Cajazeiras [...] A segunda, paralela à anterior, que seria chamada
Caminho Velho da Madre de Deus (hoje Cândido Ribeiro), começava na rua Grande e ia
terminar uma quadra adiante da rua da Cotovia, na rua das Cajazeiras, onde, aliás,
terminava aquele Largo de Santiago. 21

Quanto ao estabelecimento capitaneado pelo português de Aveiro, Viveiros


escreveu: “das três fábricas de sabão existentes em São Luís aquela época, a que mais
prosperou foi a de Manuel Pereira Martins, que chegou a produzir magníficos sabonetes,
iguais aos feitos em França”. A excelência dos sabões e sabonetes produzidos pela firma já se
faziam notar na exposição intitulada “Festa Popular do Trabalho”, realizada em 1873. A
produção da fábrica era tão superior que opositores acusaram o empreendedor de haver
exposto como de sua fábrica, produtos franceses. Para dirimir a questão, ele se dirigiu ao
diretor da comissão organizadora do evento, oferecendo “um resto das aparas das esferas”
expostas, no intuito de provar que se tratava de produção local.22

A descrição do evento, chamado Festa Popular do Trabalho, encontra-se no


Publicador Maranhense de 17 de dezembro de 1872. Esse jornal no que tange à parte
industrial, entre outros: “produtos farmacêuticos, sabões e sabonetes de Manoel Pereira
Martins”.

Nesse período, Manuel Pereira Martins já havia mandado buscar seu irmão, João
Pereira Martins, em Aveiro-Portugal, no intuito de ajudá-lo na ampliação da Fábrica.

Jerônimo de Viveiros atribuiu aos irmãos Martins o pioneirismo na extração de


óleo da amêndoa do babaçu. Primeiro ele lembrou que o azeite do coco do babaçu foi usado
durante muito tempo ao redor das fazendas, para iluminação dos casebres, não tendo valor
mercantil. Somente em 1891, o produto teve a sua primeira cotação pela firma comercial
Martins & Irmão. Em anúncio veiculado pelo Diário do Maranhão, em janeiro daquele ano, se
comprometia a “comprá-lo a 140 réis o quilo de vianda (amêndoas) e aconselhava queimar o
23
coco em rumas com fogo de coivara para facilitar a extração da amêndoa” . No intuito de
confirmar sua pressuposição relativa ao pioneirismo da firma Martins & Irmãos na extração
do óleo de babaçu, Viveiros publicou ainda uma carta de João Vasconcelos Martins, herdeiro
direto do empreendimento, de teor seguinte:

São Luís, 11.04.1960 – Prezado Sr. Jerônimo Viveiros – Saudações – Teria muito prazer
em lhe fornecer dados concretos sobre as primeiras investidas tomadas pela nossa firma
comercial sobre a exploração das sementes de babaçu, mas infelizmente, naquela época
de 870, pouco caso se dava aos arquivos das firmas. Assim, apenas sei por palestras
havida com meu saudoso pai que, naquele tempo, pensava em aproveitar o óleo dessa
semente para a nossa indústria de sabão. Tanto assim que, a primeira instalação para
extração de óleos vegetais aqui em São Luís, foi adquirida por meu pai numa de suas
viagens a Inglaterra, instalação essa que ainda cheguei a ver trabalhando. – João V.
Martins. 24

Sobre as referências feitas pelo autor do História do Comércio no Maranhão, a


conclusão é de que as fábricas de descasque de arroz e as de sabão já se destacavam antes do
“boom” das fábricas têxteis e de vários outros ramos, fenômeno ocorrido no Maranhão na
última década do século XIX, nas quais negociantes e proprietários rurais investiram o capital
que ainda possuíam nas atividades industriais, em especial, nas têxteis. Como uma reação à
conjuntura de queda dos preços do algodão e do arroz, os negociantes reorientaram seus
negócios, buscando agora o mercado interno. É possível perceber que a Fábrica Martins &
Irmãos atingiu sua plenitude no, final do século XIX. Ela foi uma das unidades fabris
fotografadas e descritas no Álbum Ilustrado, impresso na tipogravura de propriedade da
Alfaiataria Teixeira, em 1899.

Álbum da Alfaiataria Teixeira, 1899. Acervo digitalizado do Studio Edgar Rocha.

Logo ao dobrar a página, aparece um texto correspondente à fotografia, intitulado


“Fabrica Industrial de Martins & Irmãos”. Nele o articulista aponta a importância do
empreendimento, enfatizando: “Entre os bons estabelecimentos produtores que possue o
Maranhão, acha-se, em primeiro lugar no seu gênero, a fabrica dos Srs. Martins & Irmãos,
destinada à preparação de óleos, sabão, velas e arroz.” Mais à frente, ressaltam as reformas
constantes: “attenta a tranformaçao geral por que esta passando afim de augmentar a
producção.” 25
Claramente trata-se de uma propaganda, certamente os editores foram pagos
para produzirem tal matéria.

A seguir, o texto informa sobre a construção de espaços em que funcionavam as


atividades manufatureiras: “edifício de arquitetura apropriada, situado em um plano inclinado,
numa área de 3500 metros quadrados, à beira do Largo de S. Tiago, confinando com a
margem direita do rio Bacanga.” Finaliza indicando ainda que a fábrica possuía duas entradas:
uma principal, para o trânsito de operários; e outra para a passagem dos carros, à esquerda
lateral.

Em continuidade, o texto prossegue enumerando vários outros espaços daquela


unidade fabril:

A porta principal dá engresso ao vasto armazém que serve de depósito das sementes
oleaginosas: em seguida desce-se uma larga escadaria que conduz ao centro do
estabelecimento onde abre-se um grande pateo, para os carros empregados no trafego. Ao
lado direito nos ângulos, estão as machinas extractoras do óleo.26

Esse serviço feito com o melhor aperfeiçoamento possível, occupa o primeiro e segundo
pavimentos que bastante espaçosos, dão logar também ao fabrico do sabão. À esquerda
num salão apropriado estão colocadas as caldeiras e machinas motoras, e ao lado, a
fabrica de pilar arroz.

Ao fundo está em construçâo um vasto armazém para o deposito e mais outros salões
destinados à multiplicidade do trabalho.27

A parte final do texto menciona o entorno, consignando prédios mais afastados


que davam sustentação à atividade principal: “junto ao estabelecimento acha-se o escriptorio e
em seguida a habitação do gerente a qual constitue uma vivenda bastante confortável,
circulada de arvores e canteiros bem cultivados, dando tudo realce e beleza que fica n’um dos
arrabaldes da cidade”.28

O anúncio mostra uma “indústria” sem especialização definida, aspecto tão


característico das indústrias modernas, que lidam em mercados extremamente concorridos.
No mesmo espaço abrigavam diferentes iniciativas, que eram impulsionadas ao sabor do
mercado: no caso desta firma, só multiplicavam suas atividades, procurando atender às
demandas do mercado interno e externo. Como ainda pilavam arroz, fabricavam sabão e
incrementavam a extração de óleos vegetais, isso lhes abriu novamente o mercado externo no
início do século XX.

O fotógrafo Gaudêncio Cunha clicou a mesma fábrica em 1908, quando ela


aparecia como fábrica de “pilar arroz”. Chama a atenção nessa imagem o aspecto decadente
do prédio antes tão vivo. Essa situação talvez se devesse ao resultado dos reveses econômicos
por que vinha passando a província naquela conjuntura. Não resta dúvida de que se trata do
mesmo prédio, apenas tomado sob ângulo diferente.

Fábrica de arroz no largo de Santiago, Álbum de Gaudêncio Cunha, p. 124.

O economista Moacir Feitosa desenvolveu um estudo sobre a economia do


Maranhão desse período, no qual relaciona diretamente as atividades de descasque de arroz,
29
capitaneadas pelos usineiros , com a exploração da nova matéria-prima, o babaçu. O autor
defende que uma nova conjuntura histórica se inicia com as atividades de extração do óleo e
depois da torta do babaçu. Segundo sua concepção, uma das formas encontradas pelos
empresários para enfrentar o momento de crise foi investir em novos produtos, mas continuar
a beneficiar o arroz, tendo agora novos agentes como produtores/fornecedores e
atravessadores. No caso da firma Martins & Irmãos, que entrava neste circuito pilando arroz,
deduzimos que, pelo fato dessa família de portugueses ter chegado à região na segunda
metade do século XIX, com a disposição de trabalho dos iniciantes, foi muito mais fácil
prosperar ante a reorientação econômica que se dava naquele momento na economia local.
Não possuíam grandes posses, mas também não estavam empenhados com dívidas. Essa
circunstância lhe permitiu um poder de manobra maior do que o daquelas famílias que tinham
enriquecido e se endividado no primeiro ciclo exportador do arroz e do algodão. Vale
lembrar, que a firma esteve envolvida nas atividades de descasque do arroz desde que
mudaram seu negócio para São Luís, adequando a cadeia de comercialização do arroz à
exploração da amêndoa do babaçu.

Outrossim, ao lado dos produtores diretos, frisa Moacir Feitosa, os pequenos


produtores, posseiros em sua grande maioria, passaram a ser os principais agentes de
produção de gêneros para abastecimento interno e de exportação. Lembra ainda que, devido à
fragilidade desses novos agentes, “o risco da produção ficava inteiramente por conta do
produtor, do lavrador com sua família, enquanto o lucro acabava se concentrando nas mãos
dos usineiros, intermediários de um modo geral, e de especuladores proprietários do capital
comercial, via, evidentemente, circuito de comercialização”. 30

Registra ainda esse autor:

Paralelamente à produção e comercialização do arroz, milho, mandioca e feijão, essa


atividade passa a reunir um grande número de famílias em torno da coleta e quebra do
coco babaçu para extração e comercialização da sua amêndoa. Agregam-se em torno
dessa a atividade de coleta do coco e extração da amêndoa as mulheres e filhos dos
lavradores, passando essa atividade a existir como uma forma de complementação da
renda familiar agrícola. 31

Segundo a pesquisa feita pelo economista, a economia do babaçu ganhou


impulso a partir da I Guerra Mundial, quando o coquilho e a amêndoa passaram a
ser aproveitados para fins industriais e quando, em nível local, passou a ser
utilizado para a extração de óleo bruto, bem como para a fabricação de óleos
comestíveis, sabões, sabonetes, velas e glicerinas.32
O economista Jair do Amaral Filho, em sua obra A Economia Política do Babaçu
observou que a valorização da amêndoa ocasionou uma “freiada na desagregração do sistema
de propriedade privada da terra, onde se desenvolvia a cultura do algodão,” pois, “atraiu a
atenção dos proprietários de terra e dos pequenos produtores de alimentos, os primeiros
porque viam no babaçu uma nova fonte de renda e, os segundos, porque viam uma alternativa
a mais para conseguirem meios de reprodução.”33

Segundo ainda esse especialista, tal processo ocasionou a retenção de pequenos


produtores nas terras, interessados no extrativismo dos babaçuais, garantindo a continuidade
em moldes diferentes da “articulação entre pequena produção de alimentos e a grande
propriedade.” Com efeito,

O interesse do pequeno produtor em explorar o coco, que possivelmente se encontrava


em grande parte privatizado, fazia com que permanecesse em terras do grande
proprietário, pagando uma renda fundiária pela exploração das terras onde produzia os
alimentos e vendendo, compulsoriamente, sua produção de amêndoa ao proprietário.
Desta forma, os grandes proprietários rurais conseguiram manter, em suas propriedades,
uma reserva de força de trabalho com menor custo e fazendo gerar renda.

Não custa lembrar, a firma Martins & Irmãos já fabricava sabões e sabonetes na
segunda metade do século XIX, utilizando óleos diversos, inclusive aquele retirado da
amêndoa de babaçu, o que lhe garantiu uma dianteira sobre os outros empresários.

Na segunda parte da primeira metade do século XX, a atividade ligada ao babaçu


ganhou dinamismo:

A partir de 1935, a venda do babaçu cresceu vertiginosamente e, até 1945, o volume


exportado aumentou, atingindo 150% das vendas em termos físicos. Em 1939, o produto
representou a metade do valor monetário de exportação global do Estado e a verdadeira
corrida de mão-de-obra do setor agrícola para o extrativismo ameaçava decrescer a
produção agrícola. Para não prejudicar a fase de coleta e preparo da safra seguinte, o
lavrador buscou uma solução doméstica: utilizar o trabalho feminino e infantil. 34

A historiadora Maria de Lourdes Lacroix, em sua obra sobre a Campanha da


Produção, destaca que “as fontes de matérias primas utilizadas pelos norte-americanos para
lubrificação de máquinas e fabricação de sabão foram bloqueadas com a deflagração da II
Guerra, voltando-se o mercado às fontes brasileiras, e dentre elas, o babaçu.”35 Para a autora,
a partir dessa circunstância, assistiu-se a mudanças significativas na economia maranhense
nas primeiras décadas do século XIX:

Atravessa-se uma fase de transição entre a desintegração da atividade produtiva da grande


propriedade exportadora e a consolidação de uma estrutura produtiva fragilmente
articulada com o capitalismo industrial brasileiro, em pleno processo de alargamento no
Centro-Sul. 36

A autora analisa o processo de uma forma mais aproximada da realidade,


apontando que várias mudanças ocorreram nesse período, em que:
Surgem novas relações de trabalho, com homens libertos lavrando terras comunais de
parcelas da antiga e grande propriedade rural ou como posseiros de terras devolutas da
União e do Estado. No interior da unidade de produção familiar desenvolveu-se, então,
um trabalho de colheita e quebra de coco babaçu, plantação de algodão, arroz, mandioca,
feijão e milho. A origem do volume da exportação do Estado estava apoiada no trabalho
individual da pequena roça, comprada antecipadamente pelas grandes firmas de São Luís.

Acertadamente, a historiadora raciocina que “o pequeno lavrador tornou-se o


sangue das grandes firmas comerciais do Maranhão”.37 Nesse cenário, “o babaçu, o arroz e o
algodão eram trocados na quitanda por querosene, fósforos, sabão e outras mercadorias não
produzidas na região. Feito o encontro de contas entre os produtos e as mercadorias, muitas
vezes o plantador ainda era devedor.” 38

CONSELHO NACIONAL DE ECONOMIA. Babaçu, economia a organizar. Rio de Janeiro, 1952, p.


29.

A imagem acima fala por si. As populações que ocuparam com seu trabalho as
terras antes utilizadas para o plantio do algodão e de arroz passaram a fazer parte de uma rede
de dependência que tinha nas atividades extrativistas um dos elos mais importantes. Famílias
inteiras entravam nessa cadeia com o seu trabalho de coleta. As condições de vida no interior
maranhense deveriam ser precaríssimas, visíveis nas figuras esqueléticas, esfarrapadas,
provavelmente analfabetas, clicadas pelo fotógrafo.

Explorando a rede que movimentava os negócios, Lacroix informa que “reunida a


produção desses pequenos agricultores, o quitandeiro, segunda personagem desta cadeia,
fazendo jus ao dinheiro previamente recebido do gerente da firma de São Luís, a entregava ao
tropeiro, condutor de vinte ou mais animais, entre burros e jumentos”. Conforme a mesma
autora, as condições de transporte eram deficitárias, Assim, “a carga transportada dos centros
produtores era recebida pelos gerentes das grandes firmas de São Luís que a embarcava nos
batelões, grandes barcaças de madeira cobertas de palha, verdadeiras casas flutuantes
rebocadas por lanchas”. As precárias estradas de terra também serviam para o escoamento
dos produtos, em caminhões que atolavam a cada instante nos meses de chuva, levando
muitos dias para chegar a São Luís. 39

Álbum do Maranhão, 1950, p. 310.

Moacir Feitosa também chamou atenção para o fato de que foi por intermédio do
extrativismo do babaçu que houve uma reinserção da economia local ao mercado externo.
Com efeito, “a partir da comercialização da torta gorda no mercado europeu – Alemanha e
Holanda, particularmente – quando a mesma passa a ser utilizada como uma importante ração
na criação de animais, bovinos em particular”. 40 Feitosa esclarece que apesar da “importância
da amêndoa de babaçu para as indústrias química e alimentar desenvolvidas fora do país e no
Centro-Sul brasileiro”, a rede de comercialização da amêndoa no que se refere à exploração
da força de trabalho segue o mesmo rumo da comercialização do arroz.” Para esse autor,
muda apenas a figura do usineiro que passa a ser assumida pelo industrial urbano, “localizado
em pontos estratégicos do Estado, próximos às áreas dos densos cocais ou beneficiados por
regular sistema de transportes”.41 Feitosa observa ainda que:

A exploração do produtor se processa em função do achatamento do preço da


amêndoa pelo quitandeiro e pelos intermediários de um modo geral ou por um corretor
qualquer do setor industrial; além do que esse quitandeiro também é fornecedor das
mercadorias capitalistas que a quebradeira de coco necessita, obrigando-a, sempre, a
adquirir produtos por preços muito elevados em relação à capacidade de pagamento
que dispõe com o produto (a amêndoa) que vende. 42

Álbum do Estado do Maranhão, 1923, p. 100.

Em seu texto, o economista desenhou uma rede de produção, comercialização e


beneficiamento do arroz, em que aparecem inúmeros agentes que passaram a movimentar a
economia do Estado, o lavrador, o dono da terra, o quitandeiro, o caminhoneiro, o
comerciante urbano, e finalmente, o usineiro. Se antes quem dominava o cenário econômico
era o proprietário rural com sua plantation escravista, que por meio dos comissários exportava
para o mercado internacional, agora se multiplicam os agentes internos, pulverizando os
ganhos e voltando-se para o abastecimento do mercado interno.

Novos produtos da Fábrica: algodão medicinal e gelo.


No início do século XX, os empreendedores da Martins & Irmãos, que já extraíam
o óleo do algodão, passaram a investir em outro subproduto: o algodão medicinal, anunciado
no Álbum do Estado do Maranhão, de 1923. Desde o período colonial se plantava algodão
nestas terras, sendo que sua produção em larga escala somente ocorreu a partir da segunda
metade do século XVIII, para atender a crescente demanda das indústrias têxteis europeias,
em especial da Inglaterra. A produção e exportação de algodão alcançou seu auge na capitania
do Maranhão entre 1780 a 1820, quando a oferta de algodão de outras praças fez com que o
preço deste produto só declinasse, ao longo do século XIX, arruinando o esquema produtivo
montado para sua exploração.

Apesar dos preços baixos, os grandes proprietários rurais continuaram a plantar e


escoar sua produção de algodão por intermédio do porto de São Luís. Portanto, apesar dos
preços baixos, havia uma oferta abundante desse produto. Esta foi uma das variáveis que
contribuíram com que os negociantes maranhenses, no final do século XIX, resolvessem
investir na construção de fábricas têxteis, fenômeno largamente estudado pela historiografia
local.

O “boom” fabril do Maranhão durou poucas décadas, devido a inúmeros fatores,


sendo os mais importantes o aumento dos impostos e a concorrência dos produtos vindos do
Sudeste brasileiro e da Europa. Quanto à Fábrica Martins & Irmãos, continuou sua trajetória
de produção de sabões e extração de óleos vegetais. Tal inovação feita pelos industriais
apontava para o grande negócio em que embarcou a classe empresarial maranhense com o
malogro da experiência têxtil: a extração de óleo babaçu. Como o coquilho era abundante na
região, a atividade extrativa viria ocupar larga mão de obra no interior da província e trazer
dividendos aos negociantes estabelecidos em São Luís.

A nova atividade já aparecia no Álbum do Estado do Maranhão, publicação


lançada em 1923, de cunho governamental, destinado à propaganda comercial e celebração do
primeiro centenário de Adesão do Maranhão à causa da Independência. Em sua parte final, o
livro-álbum apresentou anúncios das firmas mais prósperas, que provavelmente custeavam os
gastos com sua edição. Em três páginas, um dos maiores anúncios, dentre as firmas
focalizadas, aparece uma fotografia da fábrica Martins, apresentando um prédio reformado,
com uma arquitetura mais moderna, no qual despontam três chaminés. Mesmo guardando as
mesmas características do prédio fotografado por Gaudêncio Cunha, no final do século XIX e
início do XX, a edificação abandonou o aspecto colonial. Na matéria, em letras maiores,
aparece a razão social Martins, Irmãos & Cia, agora com a indicação de vários sócios: João
Pereira Martins, Manoel Pereira Martins, Dr. João de Vasconcelos Martins e Thomas
Marques dos Santos. Obviamente, a maioria era aparentada entre si. Logo são citados os
novos produtos e aqueles que vinha explorando ao longo do século XIX, a firma anuncia:
“algodões medicinais, gelo, sabão e óleos vegetaes”. 43

Álbum do Estado do Maranhão, 1923, p. 187.

Na página seguinte aparecem várias seções da fábrica, nas quais trabalhadores


sem camisa estão num imenso salão em que vapores sobem de grandes tanques aquecidos
para permitir a mistura das essências. Logo a seguir, nova imagem, outro amplo salão, em que
trabalhadores vestidos manuseiam as caldeiras e as fornalhas.
Fonte: Álbum do Maranhão, 1923, p. 188.

Na última página do anúncio, num ambiente mais limpo, são vistos operários à
frente de máquinas mais sofisticadas, com as indicações: “machinas e prensa para extração de
óleos vegetaes” e “machina motora” . 44
Álbum do Maranhão, 1923, p. 189.

No anúncio de 1923 também aparece outra atividade da firma: a fabricação de


gelo. Segundo João Pereira Martins Neto, no terreno da fábrica em Santiago existia uma
nascente canalizada com água mineral (ph aproximadamente igual a 7), da qual era feito o
gelo, que também abastecia as redondezas de água potável. Realmente, nos arredores existiam
inúmeras fontes, como a Fonte das Pedras e a do Bispo, que ainda perduram. Deduz-se que os
donos da fábrica perceberam a necessidade que havia desse produto, em uma região com
grandes rios que possibilitavam o desenvolvimento de atividades pesqueiras com demanda
crescente de gelo. O trabalho que os empresários tiveram foi o de importar a máquina e
monopolizar o mercado.

Na época, a localização dos empreendimentos fabris exigia a proximidade com os


rios e igarapés. Portanto, empregavam trabalhadores não só no trabalho direto no chão das
fábricas, mas também nos inúmeros serviços que davam subsídio à atividade principal.

Os trabalhadores da Fábrica, estratégias de sobrevivência.


Quanto ao perfil dos trabalhadores da fábrica, verifica-se que viviam em um
espaço geográfico onde havia várias possibilidades de ganho, sendo que nenhuma as
remunerava suficientemente, o que levou as famílias a articularem várias formas de
sobrevivência. Algum membro da família trabalhava no chão de fábrica, outros prestavam
serviços diversos, de fornecimento de lenha, transporte de cargas; as mulheres também
prestavam serviços aos trabalhadores graduados etc.

Ao longo do tempo, o estabelecimento fabril ao longo do tempo passou a aglutinar


uma população de trabalhadores (homens, mulheres e crianças), ocupando o seu entorno com
construções rústicas. Importante ressaltar que não se tratava de operários no modelo europeu,
aqueles desprovidos de terra e instrumentos de produção. No caso dos trabalhadores das
manufaturas maranhenses, as informações coletadas dão conta de que se viravam utilizando
seu saber tradicional e se adaptavam aos novos afazeres, tentando amealhar sua
sobrevivência. Então, faziam roça pros lados do Bacanga, na outra margem do rio; colhiam
frutas na Vila de Vinhais; faziam carvão nos arredores da ilha, que usavam para seu consumo
doméstico e vendiam o excedente aos moradores do centro da cidade. Os homens pescavam
nos rios Anil e Bacanga, assim como todos possuíam e cultivavam estreitos laços parentais
com populações que viviam na Baixada maranhense, região próxima no continente, onde
produziam farinha de mandioca, frutas, caça etc. Portanto, o trabalho nas fábricas dos
arredores de São Luís era mais uma das alternativas de sustento das populações de menor
renda, descendente das populações escravizadas e marginalizadas.

As caldeiras das fábricas eram movidas a lenha de mangue, cuja extração


empregava uma mão de obra livre recrutada nas redondezas. Nos depoimentos dos
protagonistas da cultura popular, colhidos por iniciativa da Secretaria de Cultura do Estado do
Maranhão, intitulados Memórias de Velhos, muitos revelaram seu envolvimento com o
movimento das fábricas. Luís de França, que nasceu em 1916, recordou que:

O meu pai trabalhava no tiramento de lenha, lenha para vender por metro. [...] Cortava
uns pedaços com um metro de largura, um metro de lenha, entendeu? Isso foi vendido até
outro dia, antes das máquinas a óleo. {...} Aqui era movimentado com lenha e meu pai
tirava aquela lenha do mangue, [...} no Igarapé do Anil, [...] Dava para criar os filhos, era
dois mil réis o metro. Ele fazia aqueles metros e botava na maré [...] botava e quando era
sábado, uma hora dessa ele tava recebendo a nota...45

Segundo seu João Pereira Martins Neto, toda a área no entorno da antiga fábrica
foi aterrada com os resíduos das caldeiras. Antes, o galpão maior ficava localizado à beira
mar; hoje todo o entorno é terreno firme, devido ao aterro produzido pelos detritos produzidos
pela fábrica.

Desde o século XVIII, as áreas do entorno das antigas fábricas de soque de arroz
foram sendo ocupadas por populações de baixa renda. Tal fenômeno se intensificou no
decorrer dos séculos seguintes, com a abertura de inúmeras fábricas têxteis. Existem imagens
de tais espaços no início do século XX, onde vemos resquícios do tipo das construções
rústicas que marcaram seu começo: lotes de pequenas dimensões, construções térreas e
acanhadas.

Rua de São Pantaleão, no Álbum de Gaudêncio Cunha, 1908.

A ocupação histórica deste espaço pelos trabalhadores faz parte da memória de


uma antiga operária da Martins, Dona Raimunda Mendonça, entrevistada em 2012, afirmando
que, “os trabalhadores dos Martins Aguiar moravam entre a rua de Santa Rita, depois da Praça
da Alegria, até a Igreja de São Pantaleão, em um conjunto de portas e janelas que existiam e
eram alugadas pelo dono da fábrica para morar lá”. 46

O pioneirismo na extração do óleo do babaçu


No que concerne ao fornecimento de matérias primas, João Martins Neto revelou
que o coco do babaçu vinha do vale do Mearim, conduzido em embarcações ribeirinhas. No
início do século XX existia uma rede de pequenos produtores e comerciantes regionais que se
articulavam para que esse produto chegasse até as fábricas. João Pereira Martins Neto
confirma a participação da firma Martins & Irmãos nessa rede de comercialização de
produtos. Lembrou que na época do período de estiagem era difícil penetrar no leito do rio
Mearim. Essa circunstância fez com que a firma providenciasse a compra de uma lancha com
fundo chato, de metal, batizada com o nome de “Timbiras”, para facilitar o transporte.
Lembrou ainda que a firma possuía armazéns em Bacabal, Pedreiras e vários outros centros
menores nas zonas de babaçuais.

Em 1925, conforme registro na Junta Comercial do Maranhão, a firma passou a


ter outra razão social: “Martins Irmão & Companhia. Ela ainda contava com os mesmos
sócios e com já alguns de seus descendentes (João Pereira Martins, Manoel Pereira Martins,
João de Vasconcellos Martins, Thomaz Marques dos Santos, Amadeu Pires de Abrantes,
Pedro Perdigão de Barros Vasconcellos). Nesse momento, constam no registro da nova firma
os variados empreendimentos: fábrica de óleos, de sabão, de algodão medicinal e de gelo,
bem como seu local de funcionamento na rua Antônio Rayol, antiga São João, no 118.47 Como
se depreende, a sociedade em nome da família mudou de razão social pelo menos por três
vezes.
Rua Portugal, 199, escritórios da Fábrica. LIMA, Zelinda Machado de Castro (org.). Inventário do
Patrimônio Azulejar do Maranhão, Edições AML, São Luís – MA, 2012, p. 28.

O óleo de babaçu era exportado para diversos países, sendo que entre os anos de
1919 a 1937, no período entre guerras, a Alemanha foi o principal destino, com 127.606
toneladas. Logo a seguir vinham os Estados Unidos, com 61.933, depois Holanda com 39.533
e diversos outros países, para onde seguiram 57.879 toneladas do óleo bruto. 48

Estudos realizados por técnicos da área de agricultura sobre as usinas de óleos


vegetais dão conta de que em São Luís se destacava a Martins Irmão & Cia. Essa fábrica,
segundo o gráfico amostrado, foi “fundada em 1870, beneficiando algodão e babaçu,
possuindo para isto quatro prensas hidráulicas inglesas”.49 No que respeita à composição
tecnológica do empreendimento, José Fusetti de Viveiros, em sua obra O babaçu nos Estados
do Maranhão e Piauí, ressalta que a fabrica possuía: aparelhagem de separação de cascas; 1
bomba de pressão com acumulador; 1 cozinhador automático de 3 seções com capacidade
para 40 toneladas em 24 horas; 1 desintegrador “Bauer”; 1 torrador automático; 5 linters; 2
moinhos de rolo “French”; 3 prensas hidráulicas ; 1 triturador de torta”. 50
Vários municípios maranhenses extraíam e exportavam pelos rios a amêndoa do
babaçu, destacando-se em produção Caxias, com 3.867.813 quilos, seguido de Pinheiro,
Coelho Neto, Flores, Vargem Grande, Codó, S. José dos Matões, Pedreiras e muitos outros,
com produções menores, mas significativas. No Maranhão, entre os anos de 1935 a 1937, a
firma Martins, Irmãos & Cia foi a que mais beneficiou o produto, tal como registra o quadro
seguinte, baseado em dados do Conselho Nacional de Economia:

Óleo da amêndoa do babaçu (quilos)

1935 1936 1937 Total


650.000 329.630 79.200 1.058.830
CONSELHO NACIONAL DE ECONOMIA. Babaçu, economia a organizar. Rio de
Janeiro, 1952, p. 80.

Outro produto que se destacava sobremaneira no empreendimento industrial era o


Algodão Medicinal, iniciativa dos sócios foi bem sucedida e teve uma produção sempre
ascendente na década de quarenta do século XX, como demonstrado a seguir:

Algodão Medicinal (quilos)

1945 1946 1947


133.312 148.382 169.369
Revista da Associação Comercial do Maranhão, 1928, nº indisponível,
p. 31.

O algodão vinha, em grande parte, das ribeiras do Itapecuru e Mearim, e


chegavam até São Luís por meio das embarcações que desciam o leito desses rios. Avançando
o século XX, e com o incremento da atividade, o algodão também passou a vir do Ceará e do
Rio Grande do Norte, sendo uma planta com fibra mais longa, especial para fazer o algodão
medicinal. O algodão hidrófilo produzido na firma também se destacava do importado da
Europa, feito a partir de resíduos. Segundo nossa principal fonte oral, os donos da fábrica
Martins conseguiram produzir um algodão pioneiro, reconhecido no Brasil e no exterior;
tendo os mesmos trazido um técnico de Portugal especialmente para fazer o alvejamento da
fibra. A fábrica produzia dois tipos de algodão: o de nome “pasteur”, superior, nome em
homenagem ao cientista francês, e o “martins”, com diferenciações ligadas às qualidades
técnicas e ao grau de absorção.

Mesmo que as imagens disponíveis para visualizar aspectos do interior da fábrica


registrem exclusivamente a presença de homens ocupando os postos de trabalho, em vários
âmbitos do chão da fábrica, como a tecelagem e a embalagem manual do algodão, além de
outras áreas que exigissem mais sensibilidade, destreza, que força.

Para a confecção do relatório arqueológico, feito para início das obras de


construção do futuro supermercado, foi entrevistada uma antiga operária da fábrica, dona
Raimunda Mendonça, que descreveu suas atividades cotidianas:

O meu ofício na fábrica era cortar caixas que já vinham marcadas por moldes... As caixas
eram em papelão azul, que embalava o algodão. O algodão era enrolado em papel
também azul.

Na fábrica trabalhavam mais mulheres que homens. Os homens ficavam no serviço


pesado para carregar e as mulheres na tecelagem e as meninas nas embalagens. A fiação
era feita em maquinário e o algodão dos Aguiar era considerado o melhor do Brasil e era
vendido para muitos países da Europa.

No Maranhão dessa época não tinha gente sem emprego, tanto homens, como mulheres e
os mais novos trabalhavam. Não tinha gente miserável. Podia ter gente pobre, mas com
comida, jantar, almoço e todos os jovens estavam na escola e eram alfabetizados.[...]

Os algodões das fábricas vinham da lavoura maranhense nos sertões do Itapecuru. [...] 51
Acervo particular de João Pereira Martins Neto, fotografada por Edgar Rocha, em 2013.

O Álbum do Maranhão de 1950, organizado pelo jornalista Miécio de Miranda


Jorge, apresenta, nas últimas páginas, inúmeros anúncios das mais importantes firmas locais.
Neles consta também um anúncio da “Martins Irmão & Cia. Indústrias Reunidas”,
representada pela fotografia já mostrada no anúncio do Álbum do Maranhão de 1923. Logo a
seguir, aparecem com destaque as especialidades do empreendimento: “Algodão Hidrófilo –
Sabão – Óleos Vegetais – Gelo.” Portanto, no mesmo chão de fábrica, eram manipulados e
beneficiados quatro produtos diferentes, por diferentes máquinas, manobrados por
funcionários com competências diversas.

Uma análise detida do anúncio mencionado leva à conclusão de que o sucesso do


empreendimento foi resultado de sua versatilidade, ao apresentar três grandes produtos ao
mercado: o algodão hidrófilo, o sabão e os óleos vegetais. Quanto ao algodão hidrófilo
(“borifico, fenicado e iodoformado”); a propaganda impressa ressalta que ele era uma das:
“marcas mais reputadas e preferidas pelas suas propriedades absorventes e seu valor
antisséptico”. Além disso, era produzido na “mais antiga fábrica de Algodão hidrófilo da
América do Sul”.

A seguir, no mesmo anúncio indica o Sabão Martins e a “Fábrica de óleo e gelo


com frigorífico”.

Quanto ao Sabão Martins, a peça publicitária insinua que ele era: “sempre imitado
e nunca igualado”. Afirma ainda que: “a constante procura com que vem o povo distinguindo,
há muitos anos, este produto, vale por um atestado de sua superioridade.” Em síntese, o sabão
foi o produto mais importante da firma, estando presente, por ocasião do anúncio há mais de
um século no mercado local, passando por pelo menos três gerações da família proprietária da
fábrica.

Logo após a chamada maior sobre os produtos da fábrica, foi dado conhecimento
sobre suas atividades comerciais, referindo-se à suas relações com outras firmas, como
aponta: “Agentes Gerais de Atlantic Refining Company of Brasil, Urbania, Companhia
Nacional de Seguros, Pneus Brasil.” Tanto que atendia em dois endereços, como aparece
indicado: “Estabelecimentos Industriais: Praça Primeiro de Maio, Estabelecimento comercial:
Edifício Martins – Rua Portugal, 199.” 52
Os empreendimentos não se especializavam, as
oportunidades apareciam aos empresários por intermédio de seus contatos familiares e de
negócios, e então congregavam várias atividades. Essa era uma das características mais
marcantes dos negócios em economias ainda pouco desenvolvidas.

Cartões postais, imagem retirada do Livro de Antônio Guimarães de Oliveira. São Luís: Memória
& Tempo. São Luís nos cartões postais e álbuns de lembranças. 2 o vol. São Luís, Novagraf
Comunicação visual, 2010, p. 245.

Na imagem acerca da movimentação do porto de São Luís, aparecem os fardos de


algodão e os tonéis nos quais era envasado o óleo do babaçu. Nas primeiras décadas do século
XX, os industriais que exploravam a amêndoa passaram a exportar também a torta de babaçu,
o que sobrava quando da extração do óleo, e também a borra, que as fábricas alemãs
aproveitavam para tirar mais óleo e fazer “pelots”, utilizada na ração de animais. João Martins
Neto disse ter visto, no porto de Hamburgo-Alemanha, sacos de juta, com a marca do Brasil,
acondicionando a torta de babaçu exportada pela fábrica maranhense. Em São Luís, também,
as fábricas que extraíam óleo passaram a vender o bagaço, o subproduto, para compor ração
animal coabastecendo o mercado local.

A Martins & Irmãos possuía uma localização geográfica privilegiada, foi


edificada às margens do Rio do Bacanga, o facilitava o recebimento de matérias-primas que
adentravam pela Baía de São Marcos, vindas do continente pelos rios Pindaré, Mearim, e dos
inúmeros igarapés que irrigavam a Baixada Maranhense. Por essa via, com certeza, recebiam
algodão, babaçu e lenha para as caldeiras. Por outro lado, estava bem próximo o principal
porto de São Luís, por onde eram distribuídos para o interior maranhense e mercados regional
seus produtos: o gelo, o sabão e os produtos que representavam (óleo diesel e querosene). Por
essa via também exportava para o mercado internacional o óleo, a torta de babaçu e o
algodão, principalmente para Alemanha, Estados Unidos, Inglaterra, Holanda.

A família Martins, inovação na arquitetura urbana, abertura de novos bairros na cidade


colonial.

Dona Raimunda Mendonça, uma das antigas operárias ainda vivas por ocasião
das obras de construção do supermercado, se referiu ao ordenamento urbano no entorno da
fábrica. Produzindo uma imagem elucidativa das relações da fábrica com o Largo de
Santiago, com o rio Bacanga e os bairros da Madre Deus e Camboa:

O local do casarão do Largo do São Tiago era dos Aguiar, uma fábrica de algodão que
funcionava em um galpão que foi demolido, pois a maré enchia o porão dele. Os Aguiar
eram ricos e tinham duas fábricas, a de algodão, que eu trabalhava recortando as caixas
para embalar o algodão, quando eu tinha quatorze anos e outra fábrica de fazendas, na
Camboa. A fábrica de algodão parece que era também de álcool, mas lembro do algodão
onde eu trabalhava, tinha uma praça grande na frente, chamada de São Tiago. No fim da
praça tinha o casarão dos Martins Aguiar, que era virado para o mar. O mar subia até a
rua, antes do aterro. O galpão foi derrubado muito tempo depois e só ficou a casa de
morada e o largo da praça. Depois que a Fábrica fechou a Praça de São Tiago foi sendo
abandonada, a rua da Praça foi fechada pelo muro e a Caixa Econômica Federal fez as
casas de trás das fábricas no modelo das antigas, mas eram novas para época. 53

O depoimento da operária é rico em detalhes que escaparam às publicações da


época. Apesar de se confundir em alguns pontos, por exemplo, quando fala em álcool em vez
da água sanitária, que era vendida a varejo para branqueamento de roupas, ficou registrado em
sua memória um aspecto fundamental: a aliança que se estabelecia entre as famílias de elite,
através dos casamentos. Nesse caso, dois negociantes, os senhores João Pereira Martins e
Francisco Coelho de Aguiar uniram suas famílias por meio do matrimônio de seus filhos,
Manoel e Eusa. Talvez por isso a operária não tenha conseguido distinguir os donos de uma
fábrica e outra.

O casal João Pereira Martins e Alice Vasconcelos Martins foi um dos primeiros
da elite ludovicense a abandonar os antigos casarões coloniais e buscar áreas mais arejadas
para construir suas moradias. Convencidos pelos ares de civilidade que agora dominavam o
Velho Mundo, esses novos ricos passaram a edificar em áreas mais afastadas, como o bairro
dos Remédios em São Luís, preferindo as casas em estilo moderno, garantindo iluminação e
higiene nos espaços, em primoroso estilo neoclássico, demonstrando sua riqueza e bom gosto.
O caminho para a ermida dos Remédios foi aberto pelo governador Joaquim de Melo e
Póvoas, no século XVIII, mas possuía poucas construções até o século XX, quando passou a
ser um dos espaços preferidos pelos novos ricos, vindo, mais tarde a tomar a denominação de
Rio Branco.

A casa apresentada no registro fotográfico acima foi construída por João Pereira
Martins em conjunto com seu genro, Dr. João Itapary, na primeira metade do século XX.
Segundo especialistas em estilos arquitetônicos, a casa foi construída em estilo neocolonial,
“encimada na sua fachada principal por frontão decorado de azulejos ingleses de técnica
majólica, beiral com pináculos e vãos adornados com os mesmos azulejos, esquadrias em
madeira e vidro”. Destacam ainda outras características importantes nas construções dessa
época, como a “presença de terraço no pavimento superior e muros baixos nos limites com a
via pública, recuo nas laterais e na fachada, onde aparecem pátios externos e passagens
laterais”, permitindo a ventilação e higiene dos espaços. 54
Sobre a origem dos materiais de
construção, o neto dos donos da Fábrica adverte que ao contrário do que dizem os
especialistas se tratava de azulejos portugueses, belgas e franceses, e ainda que, devido o
esmero dos empresários em seu emprego, levou a uma revalorização dos azulejos em terras
maranhenses.

Logo foi seguido pelo seu filho novo, Manoel Vasconcelos Martins, outro dos
herdeiros da fábrica, que construiu exemplar característico no mesmo estilo, onde hoje
funciona o hospital particular Aliança.
Na primeira metade do século XX, o entorno das praças Deodoro e do Pantheon
encarnou o espírito da modernidade urbanística em São Luís. Segundo a arquiteta e urbanista
Grete Pflueger,

A São Luís republicana buscou com ansiedade tudo o que se referia à vida moderna:
novas tecnologias, a expansão dos meios de comunicação os eventos da modernidade,
como o automóvel, o cinema e as Exposições Universais. Estas novidades influenciaram
a vida social e urbana da capital. 55

O conjunto de casas construído nesse período mostra essa busca por “condições
higiênicas necessárias (com ventilação e iluminação suficientes), retomando elementos da
arquitetura tradicional luso brasileira no Maranhão, elaborando uma leitura com novos
56
materiais e implantação diferenciada”. A urbanista frisa que havia entre as elites uma
admiração pelos novos modelos de construção de moradia vindos da Europa e dos Estados
Unidos, mas ao mesmo tempo relutavam em se afastar dos padrões tradicionais, produzindo
um estilo conhecido como neoclássico.

Acervo particular do Senhor João Martins Neto.


Acervo particular do Senhor João Martins Neto.

As imagens antecedentes são referentes à família de João Pereira Martins. Na


última imagem aparece dona Alice Vasconcelos Martins, filha de Francisco Aguiar, outro
industrial de sucesso na época. Segundo a lembrança de seu neto João Pereira Martins, dona
Alice foi uma mulher dedicada à Igreja católica, tendo sido uma das pessoas que mais
contribuiu pela reintrodução da ordem dos jesuítas no Maranhão, a cujos padres garantiu
sustento durante bom período. Ainda segundo seu neto, ela foi uma das maiores benfeitoras
da Igreja dos Remédios, onde sua família assistia missa aos domingos em cadeiras cativas. É
possível comprovar que os padrões de ladrilhos hidráulicos encontrados naquele templo
religioso são semelhantes aos do casarão situado no Largo de Santiago. Pode ser uma
coincidência, mas pode ser também que a família tenha encomendado e patrocinado a reforma
do piso da Igreja centenária.

As dificuldades financeiras com o fim do ciclo econômico do babaçu.

Na segunda metade do século XX, as fábricas em São Luís não conseguiram


resistir à concorrência das indústrias instaladas no Sudeste, que ofereciam seus produtos nesta
praça a preços reduzidos. Segundo João Pereira Martins Neto, ele e seus primos foram estudar
em centros mais adiantados no intuito de se preparar para assumir os negócios da família. Ele
se formou em Química com esse objetivo. As novas gerações descendentes dos donos da
antiga fábrica fizeram várias viagens no intuito de observar outras indústrias (ele nos contou
que esteve na Suíça e em Nova Iorque), e tentaram implantar mudanças tecnológicas para
manter o empreendimento.

Martins Neto assevera que nos últimos tempos de vida útil da fábrica, os donos
implantaram três turnos de trabalho, na tentativa de maximizar a produção, o que gerou sérias
contestações por parte dos operários, acostumados que estavam aos dois turnos. Outro
exemplo: os proprietários perceberam que um dos pontos de estrangulamento do processo
produtivo do algodão medicinal era o empacotamento manual. Trataram então de importar
uma máquina para fazer o empacotamento, a mesma usada para embalar esponjas de aço nas
fábricas do sudeste do Brasil.

A concorrência das fábricas estabelecidas no Sudeste, que gozavam de largos


incentivos fiscais, da proximidade com grandes centros consumidores etc. talvez tenha sido
decisiva para a derrocada dos empreendimentos fabris no Maranhão. Por outro lado, há que se
considerar a falta de especialização dos empresários em suas atividades. Algumas famílias
monopolizavam o mercado local, não permitindo a livre concorrência; então se envolviam em
todos os negócios, inclusive comerciais, como vimos no caso da firma Martins & Irmãos.
Ocorre que, o que no início era uma grande vantagem, no final acaba por prejudicar a
administração dos negócios, diminuindo sua competitividade no mercado.

A família Martins empenhou todos os seus bens no intuito de salvar seu negócio,
mas, endividada com os bancos e agiotas, a empresa fechou suas portas no dia 21 de
dezembro de 1968. Nesse processo, perdeu não só a fábrica como todas as propriedades dos
donos: o prédio e os terrenos onde estava localizada a unidade produtiva, o sobradão de três
andares da rua Portugal, as casas da família na rua Rio Branco, no centro de São Luís.

As antigas instalações fabris e seu entorno foram utilizadas sucessivamente por


vários estabelecimentos comerciais, abrigando o Depósito Humberto, a seguir outra firma, a
concessionária de veículos CINORTE e, finalmente, o Bingo Tentação.
Casarões do entorno da Fábrica em ruínas. LIMA, Zelinda Machado de Castro (org.). Inventário
do Patrimônio Azulejar do Maranhão, Edições AML, São Luís – MA, 2012, p. 28., p. 61.

Atualmente, toda a área voltada para a rua das Cajazeiras foi ocupada pelo novo
empreendimento do Grupo Mateus: um supermercado.

Considerações finais

O desenvolvimento das atividades manufatureiras nas cidades coloniais, pelo


menos no caso de São Luís, foi definidor para os rumos que as atividades econômicas na
região tomarão a partir de então. A capitania do Maranhão foi uma das maiores exportadoras
de algodão para as indústrias têxteis da Inglaterra, no final do período colonial. No entanto,
foi uma breve conjuntura de prosperidade, logo o preço do algodão caiu, nas primeiras
décadas do XIX, levando à bancarrota toda a estrutura voltada para a agroexportação. Ante à
crise instalada, no final do século XIX, os proprietários maranhenses, com o capital restante,
investem tudo nas atividades manufatureiras, abrindo inúmeras fábricas em Caxias, Codó e,
principalmente, na cidade de São Luís. A historiografia oficial explica tal “desinteria
fabriqueira” aos contatos amiudados dos negociantes maranhenses com a Inglaterra. Com
certeza, a iniciativa de investimento nas atividades fabris muito se deveu a esse fator, mas há
que considerar que desde o período colonial existiam atividades manufatureiras em São Luís,
conferindo experiência aos proprietários e concentrando uma população de menor renda que
facilmente poderia ser utilizada como mão de obra em tais unidades produtivas.

Arquivo Público do Estado do Maranhão, recorte de jornal de São Luís na década de 80.

1
Couro curtido.
2
ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO. Projeto Resgate, cx. 27, doc. 2754.
3
Como eram chamados à época os proprietários rurais.
4
ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO MARANHÃO. Livro de Registro de Testamento, 1770, fl. 344.
5
MARQUES, César Augusto. Dicionário histórico e geográfico da Província do Maranhão. Rio de Janeiro: Fon-
Fon e Seleta, l970, p. 91-2.
6
BLUTEAU, Rafael. Vocabulário Português e Latino. Coimbra: Colégio das Artes da Companhia de Jesus,
1712. p. 3 da letra F. Disponível em:
http://www.ieb.usp.br/online/dicionarios/Bluteau/formBuscaDicionarioPlChave.asp., pp. 1712.
7
ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO MARANHÃO. Livro de Registro de testamentos. São Luís, 1798,
fl.150.
8
MOTA, Antonia da Silva; MANTOVANI, José Dervil. São Luís do Maranhão no século XVIII: a construção
do espaço urbano sob a Lei das Sesmarias. São Luís, FUNC, 1998, p. 28.
9
BIBLIOTECA NACIONAL. Alvará Régio de 5 de Janeiro de 1875.
10
MARQUES, César Augusto. Dicionário histórico e geográfico da Província do Maranhão. Rio de Janeiro:
Fon-Fon e Seleta, l970, p. 177.
11
Casa de caridade onde são tratadas pessoas doentes e pobres, conforme significado da época.
12
Jornal Nação, Jornal Publicador Maranhense do dia 23 de julho de 1869, Jornal O País de n o 91.
13
ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO MARANHÃO. Livro de Registro Geral do Senado da Câmara de
São Luís, 1759, fl.273.
14
VIVEIROS, Jerônimo de. História do Comércio do Maranhão, 1612-1895. São Luís: Associação Comercial do
Maranhão, 1954, v. 2, p. 160.
15
VIVEIROS, Jerônimo de. História do Comércio do Maranhão, 1612-1895. São Luís: Associação Comercial do
Maranhão, 1954, v. 2, p. 160.
16
ASSUNÇÃO, Matthias Röhrig. Exportação, mercado interno e crises de subsistência numa província
brasileira: o caso do Maranhão, 1800-1860. Revista Estudos Sociedade e Agricultura, abril 2000, no 14, p.55.
17
ASSUNÇÃO, Matthias Röhrig. Exportação, mercado interno e crises de subsistência numa província
brasileira: o caso do Maranhão, 1800-1860. Revista Estudos Sociedade e Agricultura, abril 2000, no 14, p. 56.
18
Idem, p. 66.
19
VIVEIROS, Jerônimo de. História do Comércio do Maranhão, 1612-1895. São Luís: Associação Comercial do
Maranhão, 1954, v. 3, p. 563-64.
20
MEIRELLES, Mário. História de São Luís/Mário Meirelles; organização Carlos Gaspar, Caroline Castro
Licar. São Luís: Faculdade Santa Fé, 2012, p. 124.
21
MEIRELLES, Mário. História de São Luís/Mário Meirelles; organização Carlos Gaspar, Caroline Castro
Licar. São Luís: Faculdade Santa Fé, 2012, p. 124.
22
A carta foi escrita em 9 de fevereiro de 1873, e encontra-se registrada no Relatório de A. Enes de Sousa, Bib.
Wilson, APUD VIVIEIROS, p. 160, nota de rodapé de no 193.
23
VIVEIROS, Jerônimo de. História do Comércio do Maranhão, 1612-1895. São Luís: Associação Comercial do
Maranhão, 1954, v. 3, p. 218 e 219.
24
VIVEIROS, Jerônimo de. História do Comércio do Maranhão, 1612-1895. São Luís: Associação Comercial do
Maranhão, 1954, v. 2, p. 219, nota de rodapé, de no 490.
25
Álbum da Alfaiataria Teixeira, São Luís, 1899, p. 42.
26
Idem.
27
Álbum da Alfaiataria Teixeira, São Luís, 1899, p. 41
28
Álbum da Alfaiataria Teixeira, 1899, p.41.
29
Proprietários das usinas de pilar arroz.
30
FEITOSA, Raimundo Moacir Mendes. Tendências da economia mundial e ajustes nacionais e regionais. São
Luís: Mestrado em Políticas Públicas da UFMA, 1998, p. 58.
31
Idem, p.61.
32
FEITOSA, Raimundo Moacir Mendes. Tendências da economia mundial e ajustes nacionais e regionais. São
Luís: Mestrado em Políticas Públicas da UFMA, 1998, p.62.
33
AMARAL Filho, Jair do. A economia política do babaçu; um estudo da organização da extrato-indústria do
babaçu no Maranhão e suas tendências. São Luís, SIOGE, 1990
34
LACROIX, Maria de Lourdes Lauande. A Campanha da produção. São Luís, LITOGRAF/ACM, 2004, p. 104.
35
Idem, p. 104
36
LACROIX, op. cit., p.115.
37
FEITOSA, Raimundo Moacir Mendes. Tendências da economia mundial e ajustes nacionais e regionais. São
Luís: Mestrado em Políticas Públicas da UFMA, 1998, p. 115.
38
LACROIX, op. cit., p.116.
39
LACROIX, Maria de Lourdes Lauande. A Campanha da produção. São Luís, LITOGRAF/ACM, 2004, p. 116.
40
FEITOSA, Raimundo Moacir Mendes. Tendências da economia mundial e ajustes nacionais e regionais. São
Luís: Mestrado em Políticas Públicas da UFMA, 1998, p.62.
41
Idem, p. 64.
42
Idem, p. 65.
43
Álbum do Estado do Maranhão, 1923, p. 187. Acervo digitalizado do Studio Edgar Rocha.
44
Álbum do Maranhão, 1923, p. 196 a 198. Acervo digitalizado do Studio Edgar Rocha.
45
MARANHÃO. Secretaria de Estado da Cultura. Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho. Memória
de Velhos. Depoimentos: Uma contribuição á memória oral da cultura popular maranhense. São Luís:
LITOGRAF, 1997, p.72.
46
RELATÓRIO DE PROSPECÇÃO ARQUEOLÓGICA MATEUS CAJAZEIRAS. São Luís. Documento
elaborado para fins de obtenção de Licença de Instalação (LI), junto ao Instituto do Patrimônio Histórico a
Artístico Nacional – Superintendência do Maranhão – IPHAN – MA. Coordenador científico: Arkley Marques
Bandeira, p. 57.
47
Conforme Declaração para registro de firma na Junta Comercial do Maranhão.
48
CONSELHO NACIONAL DE ECONOMIA. Babaçu, economia a organizar. Rio de Janeiro, 1952, p. 42.
49
Joaquim Bertino de Moraes Carvalho, Notas sobre a indústria de óleos vegetais no Brasil, 1929, APUD
AMARAL Filho, Jair do. A economia política do babaçu; um estudo da organização da extrato-indústria do
babaçu no Maranhão e suas tendências. São Luís, SIOGE, 1990, p. 159.
50
VIVEIROS, José Fusetti de, O babaçu nos Estados do Maranhão e Piauí, nas páginas 24, 33 e 36. APUD
AMARAL Filho, Jair do. A economia política do babaçu; um estudo da organização da extrato-indústria do
babaçu no Maranhão e suas tendências. São Luís, SIOGE, 1990, p. 161.
51
RELATÓRIO DE PROSPECÇÃO ARQUEOLÓGICA MATEUS CAJAZEIRAS. São Luís. Documento
elaborado para fins de obtenção de Licença de Instalação (LI), junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional – Superintendência do Maranhão – IPHAN – MA. Coordenador científico: Arkley Marques
Bandeira, p. 57
52
Álbum do Maranhão, 1950, p. 345
53
RELATÓRIO DE PROSPECÇÃO ARQUEOLÓGICA MATEUS CAJAZEIRAS. São Luís. Documento
elaborado para fins de obtenção de Licença de Instalação (LI), junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional – Superintendência do Maranhão – IPHAN – MA. Coordenador científico: Arkley Marques
Bandeira, p. 57.
54
SÃO Luís, Ilha do Maranhão e Alcântara: guia de arquitetura e paisagem = SAN Luís Isla do Maranon y
Alcântara: guia de arquitectura y pasaje. Ed bilíngue. – Sevilla: Consejeria de Obras Públicas y Transportes.
Direccion General de Arquitectura Y Vivenda, 2008, p. 220.
55
SÃO Luís, Ilha do Maranhão e Alcântara: guia de arquitetura e paisagem = SAN Luís Isla do Maranon y
Alcântara: guia de arquitectura y pasaje. Ed bilíngue. – Sevilla: Consejeria de Obras Públicas y Transportes.
Direccion General de Arquitectura Y Vivenda, 2008, p. 82.
56
Idem, p. 82.

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