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2023/2
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SUMÁRIO
1. SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO
Na sua opinião, existe alguma diferença entre salário e remuneração? Se você respondeu
afirmativamente, você está correto. Remuneração é um conceito mais amplo que o conceito de salário.
De acordo com Lacombe (2004, p. 270), remuneração é a:
Soma de tudo aquilo que é periodicamente pago aos empregados por serviços
prestados, abrangendo: salários, gratificações, adicionais por periculosidade,
insalubridade ou tempo de serviço, horas extras, repouso remunerado, bem como
todos tipos de benefícios, financeiros ou não.
Focalizando nossa atenção no salário, precisaremos distinguir salário nominal de salário real. O
salário nominal é o montante de dinheiro pago a um determinado cargo e fixado em contrato individual.
Já o salário real se refere ao poder de compra do salário, ou seja, a quantidade de bens que podem
ser adquiridos com o salário.
• Descrição de cargos
• Avaliação de cargos
• Pesquisa salarial
• Faixas salariais
• Política salarial
Uma descrição de cargo é um documento formal onde consta o registro, de forma organizada,
das funções, das tarefas, das responsabilidades, dos pré-requisitos e das qualificações de um cargo.
A coleta de dados sobre os cargos pode ser feita através de entrevistas, de questionários e de
observação direta.
Com relação à descrição de cargos, Wood Jr e Filho (2004, p. 54) afirmam que:
O processo de descrever um cargo pode ser a ocasião para uma importante reflexão
sobre a identidade e a missão da função. O ponto-chave da descrição de cargo
modificada é o foco nos processos, incluindo informações sobre clientes internos e
externos, serviços e produtos fornecidos e expectativas desses clientes. Com essas
alterações, o foco da descrição muda das tarefas executadas para a razão de existir
da função e seu impacto em aspectos-chaves para as organizações, favorecendo o
alinhamento do sistema de remuneração com a estratégia da empresa.”
Os cargos nas posições mais altas desse ranking receberão os maiores salários. O valor do
salário diminuirá à medida que nos aproximarmos das posições mais baixas no ranking. Mas, atenção:
a avaliação de cargos não define o valor do salário; ela apenas cria a hierarquia dos cargos.
Seja qual for o método utilizado, a avaliação de cargos é feita por um comitê, formado pelo
Gerente de Recursos Humanos e gerentes das áreas que conheçam bem os cargos que serão
avaliados. A importância do comitê, segundo Pontes (2004):
• Facilitar a aceitação posterior do resultado das avaliações na empresa, uma vez que os
gestores dos cargos avaliados participaram do processo.
Escalonamento simples
Trata-se de um método simples, fácil de ser utilizado, com custo praticamente inexistente, mas
que envolve muita subjetividade, já que não há definição de critérios precisos a partir dos quais os
cargos serão avaliados.
O escalonamento por comparação binária ou comparação aos pares, para ser aplicado, requer
a utilização de uma tabela de dupla entrada, tal como ilustra a figura 1. Todos os cargos são listados
nas linhas da tabela e também nas colunas. Em seguida, tomando como ponto de partida o cargo da
primeira linha da tabela, este cargo será comparado com cada cargo das colunas. Nessa comparação,
deverá se avaliar se o cargo da linha é mais ou menos complexo que o cargo da coluna. Se for mais
complexo, coloca-se o sinal de “+“ na célula; se for menos complexo, coloca-se o sinal de “ – “; e se for
igual, coloca-se o sinal de “ = “. Após fazer a comparação aos pares de todos os cargos, verifica-se
quantos sinais de “+ “ cada linha de cargo recebeu. O cargo com a maior quantidades de “+ “ estará no
topo do ranking.
Assim como no escalonamento simples, primeiro cada membro faz sua avaliação
individualmente e depois os membros do comitê se reúnem para chegar um escalonamento
consensual. Neste método não pode haver empate e nenhum par pode ficar sem escolha. No exemplo
da figura 1, vemos que houve um empate no sexto, sétimo e nono escalonamento. Na reunião do
comitê, esse empate terá que ser decidido.
Graus predeterminados
A avaliação de cargos por graus predeterminados é mais um método qualitativo. Contudo, dos
métodos vistos até agora é o primeiro que trabalha com parâmetros predeterminados de avaliação.
Para realizar este tipo de avaliação, o primeiro passo é definir graus de avaliação, tal como
exemplificado na figura 2.
Uma vez definidos os graus, cada membro do comitê, tomando como referência a descrição de
cada cargo, irá avaliá-lo e inseri-lo em um dos graus predeterminados. Concluída a fase individual de
avaliação, os membros do comitê se reúnem para estabelecer uma avaliação consensual.
O método de avaliação de cargos por graus predeterminados é mais sistemático e objetivo que
os métodos de escalonamento simples e escalonamento por comparação binária, já que os critérios de
avaliação estão previamente definidos e serão os mesmos para todos os avaliadores. Mesmo assim,
estes critérios ainda são muito amplos e, para uma organização com uma grande quantidade de cargos,
a avaliação pode gerar distorções na avaliação.
Método de pontos
O método de avaliação de cargos por pontos é um método quantitativo de avaliação, que envolve
procedimentos matemáticos e estatísticos diversos e complexos.
Assim como nos métodos qualitativos de avaliação, na avaliação por pontos o primeiro passo é
constituir um comitê de avaliação. E a primeira atribuição deste comitê é definir critérios de avaliação
que serão utilizados para elaboração de uma tabela de avaliação de cargos, tal como ilustrado na figura
3.
Para que você possa compreender melhor o funcionamento desta tabela, vamos tomar como
exemplo o fator de avalição 6, supervisão recebida. Na tabela apresentada na figura 3, este fator de
avaliação tem 5 graus de variação, tal como ilustrado na figura 4.
Como pode você pode ver, o fator de avaliação “Supervisão recebida” possui seis graus de
variação. A cada grau de variação corresponde um valor em pontos. O avaliador deverá analisar a
descrição do cargo e decidir em qual dos graus o cargo deve ser inserido. Supondo que um cargo tenho
sido inserido no grau C, ele fará jus a 26 pontos.
Todos os fatores elencados na figura 3 são desdobrados em graus, mas nem todos os fatores
vão ter o mesmo número de graus. Os avaliadores, com base na descrição de cargos, vão avaliar cada
cargo em todos os fatores da tabela e, no final, cada cargo terá um número de pontos decorrente da
avaliação. Com base neste número de pontos, é estabelecida a hierarquia de cargos da organização.
Cada um dos métodos de avaliação de cargos gera um ranking de cargos. Contudo, lembre-se
que a avaliação de cargos não determina o valor nominal do salário. Sabe-se que o cargo mais alto no
ranking produzido deve ganhar o maior salário praticado na organização e que o valor dos demais
salários diminui à medida que descemos no ranking. Contudo, o valor deste salário não será definido
pela avaliação.
Além disso, definir um ranking de cargos não é suficiente para criar um plano de cargos e
salários. É preciso ainda criar uma estrutura salarial.
Pense em uma empresa que tenha 60 diferentes cargos. Você consegue imaginar o desgaste
que seria ter que administrar 60 diferentes salários? Como gerenciar aumentos para tantos cargos?
Como decidir de forma objetiva qual será o valor de um aumento? Para responder a perguntas como
essa é que é preciso definir uma estrutura para racionalizar a administração salarial.
Para explicar a criação de uma estrutura salarial vamos tomar como referência o método de
avaliação de cargos por pontos. Neste caso, o primeiro passo para criar uma estrutura salarial é agrupar
cargos com pontuações próximos em grupos. Esses grupos de cargos são denominados de GRAUS
ou CLASSES SALARIAIS.
Não há uma regra predeterminada para definir quantos graus uma estrutura salarial deve ter. O
número de graus de uma estrutura vai variar em função da quantidade de cargos da organização,
quanto menor o número de cargos, devemos trabalhar com poucos graus. Outro fator que interfere é a
amplitude salarial da organização – diferença percentual entre o maior e o menor salário pagos. Quanto
menor a amplitude, com menos graus devemos trabalhar.
Suponha que você gerencia uma organização com 60 cargos, que foram avaliados pelo método
de pontos, sendo que menor pontuação atribuída foi 240 e a máxima foi 490. Suponha ainda que você
quer agrupar esses cargos em 5 grupos. O procedimento é o seguinte:
Agora, na prática, para que servem os graus? Por que agrupar cargos com pontuações
próximas? Simplesmente porque os cargos dentro de um grau terão tratamento salarial similar. Sendo
assim, ao invés de gerenciar o salário de 60 cargos, gerenciamos o salário de 5 graus. E isso implica
que todos os cargos de um grau vão ter o mesmo piso salarial e o mesmo teto salarial. Esse intervalo
salarial entre o piso e o teto é o que denominamos FAIXA SALARIAL. E toda faixa salarial possui uma
diferença percentual entre o piso e o teto. A esta diferença percentual entre o piso o teto de uma faixa
salarial, chamamos de AMPLITUDE SALARIAL.
O papel das faixas salariais é permitir que um cargo posso ter seu salário aumentado de uma
forma planejada. Mas, fica a pergunta, se um salário for aumentado, de quanto será esse aumento?
Como garantir que esses aumentos não sejam arbitrariamente concedidos? É possível dividir a faixa
salarial em vários NÍVEIS SALARIAIS. A cada mudança de nível corresponde um percentual de
aumento predeterminado. A figura 6 ilustra os elementos da estrutura salarial que acabamos de
apresentar.
Temos, então, a estrutura salarial montada. Mas, como chegamos aos valores? Precisamos
encontrar uma maneira de relacionar os pontos atribuídos aos cargos aos salários. Temos os pontos,
o x. Como encontrar y? Precisamos encontrar uma função que correlacione x e y. O primeiro passo é
montar uma tabela, com duas colunas: uma para x, pontos por cargo, e outra para y, que são os salários
atualmente pagos na empresa. Colocamos esta tabela no Excel e criamos um gráfico de dispersão.
Uma vez criado o gráfico, clicamos com o botão direito do mouse na curva expressa pelo gráfico e
marcamos a opção “exibir linha de tendência”. Aparecerá uma caixa de diálogo onde você pode optar
pelas diversas linhas de tendências - linear, exponencial, logarítmica, quadrática – e a opção de exibir
a equação da reta. Você deverá fazer isso para os diversos tipos de função e escolher aquela equação
que apresentar a menor dispersão com relação à curva dos salários atuais da empresa.
Digamos que ao fazer isso, você conclui que a menor dispersão é representada pelo ajuste linear
cuja a equação é y = 1,8492x + 788,5. Sendo assim, se x = 100, y = 973,92. Isso significa que os cargos
do grau 1, entre 100 e 138 pontos, terão como piso o salário de R$ 973,42. Para criar a faixa salarial,
eu preciso decidir qual a amplitude, ou seja, quantos pontos percentuais o teto deve ter acima do piso.
Se optarmos por uma amplitude de 30%, teremos que o teto do grau 1 será de R$ 1265,45.
Resumindo, par definir os valores salariais, é preciso encontrar a equação ideal que expressa a
relação entre os pontos atribuídos na avaliação de cargos e os salários em vigência na organização.
Encontrada a equação, substitui-se o x pelo número de pontos do cargo inicial de cada grau e encontra-
se o piso salarial do grau. Em seguida, define-se a amplitude desejada para a faixa e aplica-se o
percentual sobre o valor do piso para encontrar o teto salarial da faixa.
Resta definir quantos níveis salariais a faixa terá. A organização deverá decidir quantos níveis
salariais a faixa terá e calcular o fator multiplicador que definirá os valores dos níveis.
De acordo com Chiavenato (1999, 240), “Para não precisar trocar informações a respeito de
todos os cargos, torna-se necessário selecionar os cargos de referência ou cargos amostrais
(benchmarks jobs).
A respeito desses cargos de referência, Milkovich e Boudreau (2000, p.388) sugerem que eles
devem ter as seguintes características:
As pesquisas salariais ajudarão a definir as faixas salariais que serão praticadas pelas
organizações.
• Não são considerados inúmeros fatores decisivos na existência da organização, entre eles,
pressões do mercado por maior qualidade, maior competitividade, planos de carreira, sucessão de
executivos e mudanças na organização do trabalho.
• Não são contemplados também, graus de automação e competitividade do setor, assim como
perspectivas de crescimento; basicamente, a remuneração clássica acontece de forma estática e
atemporal.
Hoje, o uso da remuneração funcional, se não for aplicada juntamente às técnicas de gestão
de pessoas mais eficazes – como exemplo, as avaliações de resultado, avaliação 360º – tendem a
comprometer todos os esforços em busca dos resultados e o próprio sistema de remuneração da
companhia, podendo inclusive prejudicar o posicionamento estratégico da mesma.
Nos últimos anos, muito se tem discutido a respeito da velocidade na qual as mudanças têm
acontecido, de quão rápido são os processos e de como as técnicas administrativas aplicadas àquele
momento são efêmeras. Entretanto, mais importante do que apenas concordarmos com essas
afirmativas, é atentar para o fato de que nossa sociedade também vem mudando e, com ela, todos os
processos que a regem.
Não há como negar que todo esse apelo por transformações cada vez mais rápidas tem levado
as organizações a lidarem com alguns cenários até então desconhecidos, ou pelo menos não tão
explorados, dentre eles, flexibilidade, adaptabilidade e mudança de certos paradigmas tidos como
verdade absoluta.
Todo o processo que vem se formando ao redor dessa nova tendência comportamental nos
remete, segundo Wood Jr. E Filho (2004, p. 35):
Ou seja, de modo geral, estamos passando por um processo de mudança comportamental que,
segundo Naisbitt (appud Milkovich e Boudreau, 2000) é a passagem da era industrial para a era pós-
industrial; processo esse, que define algumas tendências de comportamento, a saber:
• Globalização;
Embora haja um sentimento de que as mudanças são constantes, é importante observar que
elas hoje ocorrem de forma extremamente rápida e, por muitas vezes, não são tão previsíveis como no
passado.
Como consequência natural, é razoável supor que todo esse processo de mudança gere
impactos no ambiente de trabalho. De certa forma, aquilo que sempre foi considerado normal, como a
centralização de informação, divisão rígida do trabalho, forte hierarquia, passam a não ter mais sentido
e vão, paulatinamente, sendo substituídas por estruturas mais flexíveis que, por sua vez, permitem
melhores resultados.
Uma vez que as relações de trabalho mudam, é possível esperar que as formas de
administração mudem e, com elas, as políticas das empresas; em especial, a forma como a
remuneração é tratada. De forma geral, segundo Wood Jr. E Filho (2004), “a maneira pela qual se
remunera esse tipo de indivíduo – nesse tipo de contexto – jamais poderia ser a mesma daquela que,
até alguns anos atrás, era tida como a prática consagrada de compensação de pessoal” (p.39), em
alusão à remuneração clássica dos empregados.
Embora pareça uma consequência natural das mudanças na organização do trabalho, por que
as formas de remuneração tidas, até tempos atrás, como eficientes e aplicáveis, passaram a ser
consideradas defasadas e/ou inaplicáveis?
Dentre muitas explicações cabíveis, Flannery, Hofrichter e Platten (1997, p.20) afirmam que:
As empresas estão começando a compreender que o salário não deve ser mais
considerado apenas em termos de cargos específicos e resultados financeiros correntes.
A remuneração deve estar ligada às pessoas, ao desempenho individual e em equipe e à
visão e aos valores organizacionais mantidos por esse desempenho.
Todas as pressões existentes atualmente para que as relações de trabalho, bem como as
políticas de remuneração, sofram mudanças, podem ser evidenciadas em algumas práticas hoje
correntes, dentre elas:
• O uso das tecnologias, que mudando a maioria das rotinas de trabalho permitiu uma maior
padronização, com consequente redução de tempo e gasto de material.
• Concorrência global, que começa a exigir das empresas funcionários que, embora residam e
trabalhem no seu local de origem, atuem no mercado mundial.
• Valorização das competências, onde o fato da empresa possuir um bom produto ou serviço não
mais garante o sucesso e sim, a mesma possuir competências fundamentais que possam torná-la
competitiva e, ao mesmo tempo, única em seu segmento de atuação.
• Velocidade e simplicidade, segundo Flannery, Hofrichter e Platten (1997), “as empresas precisam
encontrar formas mais simples e amigáveis de fornecer serviços e produtos ao cliente” (p.29).
Segundo Wood Jr. e Filho (2004), a remuneração estratégica derruba o mito do sistema
universal de gestão de salários. O sistema de remuneração passa a ser parte do sistema gerencial da
organização e, se bem balanceado, fonte autêntica de diferenciação e vantagem competitiva.
Tais sistemas, ou projetos deles, já existem em algumas organizações no mundo, mesmo que
ainda não tenham atingido sua maturidade. São os conhecidos sistemas de “remuneração estratégica”,
ou seja, sistemas que têm por finalidade, alinhar o desempenho individual dos participantes com os
objetivos organizacionais. Todavia, segundo Flannery, Hofrichter e Platten (1997), “a solução para a
remuneração não reside em abandonar a antiga abordagem padronizada por uma nova. Para serem
vitoriosas, as empresas devem ter abordagens dinâmicas que misturem o conhecimento de
remuneração” (p.36).
Complementando a ideia apresentada acima, Lawler III (appud Milkovich e Boudreau, 2000),
diz que a questão central é transformar a visão que temos hoje de remuneração – remuneração igual
a fator de custo – em uma visão que promova a remuneração como algo que impulsione o desempenho
da organização, melhorando seus processos e, consequentemente, seu desempenho.
Essa união, a qual advém desses novos sistemas de remuneração pode, na verdade,
acontecer de duas formas:
De forma geral, segundo Wood Jr. e Filho (2004), “à medida que o sistema de remuneração é
alinhado ao contexto e à estratégia da empresa, constitui fator de harmonização de interesses,
ajudando a gerar consensos e atuando como alavanca de resultados” (p.45).
Na verdade, não é possível determinar um modelo ou, como muitos insistem em chamar, uma
regra universal, para o desenvolvimento e aplicação dos sistemas de remuneração estratégica.
Entretanto, sabe-se que um bom sistema de remuneração deve contemplar não uma, mas várias
formas de remuneração e, com isso, garantir um sistema tal que permita a empresa ter a tão desejada
flexibilidade.
Há também uma forma chamada “Alternativas Criativas” e que concentra, as formas especiais
de reconhecimento dos empregados.
Segundo Filho e Wood Jr. (2004), para a construção de um sistema consistente, um passo
essencial é o estabelecimento dos princípios centrais de remuneração. Estes objetivos devem estar
alinhados com os objetivos estratégicos da empresa e focalizar os comportamentos necessários para
o seu atendimento.
Desta forma devem ser considerados alguns passos para que o sistema venha a obter êxito, a
saber:
▪ Planejamento, ou seja, explicitar de forma clara e objetiva cada etapa que estiver por vir,
dando a todos os participantes do processo, clara noção do cronograma e ações a serem
desenvolvidas.
▪ Sensibilização/divulgação dos objetivos por toda a empresa, ou seja, ser o mais claro
possível, quando da divulgação do sistema, objetivando mostrar a forma como o programa
irá funcionar e como cada pessoa deverá se adaptar a ele.
Após a etapa inicial, de acordo com os itens acima, é especialmente importante, considerar o
fator avaliação de desempenho, nas análises de remuneração estratégica. A avaliação de
desempenho, por mais “distorcido” que possa ser o processo de avaliação deve ser considerada, uma
vez que o objetivo principal dos programas de remuneração estratégica é alinhar o desempenho
individual com os objetivos organizacionais e que, somente através do processo de avaliação, será
possível mensurar se o esforço/ desempenho estão no sentido correto e contribuindo para o objetivo
maior da organização.
De modo geral, dada às mudanças e à forma como estas estão acontecendo, as definições de
programas de remuneração variáveis que, realmente, desenvolvam a tão esperada vantagem
competitiva, tende a tornar-se um imperativo para as organizações que desejam sobreviver, crescer e
prosperar. Segundo Filho e Wood Jr. (2004), “existem centenas de alternativas de remuneração
variável, mas o objetivo é sempre o mesmo: alinhar e convergir esforços para melhorar o desempenho
da empresa” (p.114).
Por fim, de acordo com Xavier (1999), os modelos modernos estão migrando de uma visão
estritamente operacional para uma visão abrangente de negócio, que considera a estratégia da
organização e o seu mercado de atuação. O foco principal da remuneração estará na mensuração e
pagamentos por resultados efetivamente alcançados na direção da estratégia.
Dentro de uma estratégia cada vez mais atuante de redução nos custos, as empresas não só
procuram concentrar a produção nos produtos ou serviços mais competitivos, mas também, realizar
apenas as atividades em que são melhores, deixando a cargo de empresas terceirizadas partes do
processo administrativo e de produção que possam ser feitas com um menor custo e maior qualidade.
Nesse contexto, o programa de participação nos lucros e resultados surge como alternativa à
remuneração clássica, direcionando parte dos custos fixos da remuneração para uma espécie de “conta
variável”, onde os funcionários passam a ter relação direta com o pagamento da mesma.
A redução do custo fixo com a adoção desse sistema de remuneração é alcançada de duas
formas. Primeiro, com o aumento de produtividade, pois uma produção maior com um mesmo número
de funcionários implica maior diluição da despesa de remuneração para cada unidade produzida. A
segunda forma reside na tendência de as empresas substituírem a parcela de benefícios concedida à
alta e média administração independentemente dos resultados alcançados pela organização, pela parte
que concerne à remuneração variável.
Entretanto, é errado, ainda que rotineiro, se pensar em programa de participação nos lucros e
resultados como um programa único. Na verdade, são dois programas diferentes que, geralmente, pelo
desconhecimento de algumas empresas, são tratados como se fossem iguais. Segundo Costa (1997),
é importante, antes de tudo, saber estabelecer, claramente, a diferença, no que concerne a esses
programas, entre lucro e resultados. Lucro é o que se verifica realmente em termos do balanço,
enquanto resultado, neste caso específico, são metas, objetivos, indicadores de qualidade, índices de
produtividade.
De forma geral, o mais correto seria dividir o que se costuma chamar de Programa de
Participação nos Lucros e Resultados, em 2 programas distintos: o programa de participação nos lucros
e o programa de participação nos resultados.
Analisando o programa de participação nos lucros, observa-se que o mesmo tem fundamental
preocupação com o desempenho global da empresa. Segundo Milkovich e Boudreau (2000),
“essencialmente, a participação nos lucros é o pagamento aos empregados de uma parcela de lucros
da empresa que tenha excedido ao nível preestabelecido” (p.422). Basicamente, o programa difere da
remuneração por resultados em dois pontos: não é, geralmente, estruturado sob indicadores e sistemas
de medição e não está, necessariamente, ligado a práticas de administração participativa.
Entretanto, o programa está condicionado a alguns fatores que devem preexistir, definidos por
Filho e Wood Jr. (2004) e explicitados abaixo:
No Brasil, a primeira referência sobre a participação, por parte dos empregados, nos lucros das
empresas, data de 1946, quando foi definida pela Constituição Federal da República. Desde então,
passando pelas revisões de 1967 e 1988, o direito assegurado aos trabalhadores foi sendo revisto e
trazido à discussão pelo governo, até que em 1994, por instrumento de uma medida provisória (MP
794), o assunto foi regulamentado.
Entretanto, por motivos de interesse maior, tal medida provisória vinha sendo sistematicamente
alterada. Geralmente, eram apontadas falhas quanto à definição de lucros e resultados e a dificuldade
de aplicação a alguns setores da economia. Finalmente, em 19 de dezembro de 2000, foi promulgada
a LEI Nº 10.101, a qual, entre outros pontos, assegurava “a participação dos trabalhadores nos lucros
ou resultados da empresa como instrumento de integração entre o capital e o trabalho e como incentivo
à produtividade, nos termos do art. 7º, inciso XI, da Constituição”.
Uma vez analisado o programa de participação nos lucros, analisar-se-á a seguir, o programa
de participação nos resultados a fim de explicitar a parte do PPLR que diz respeito aos resultados
obtidos pelo desempenho dos indivíduos e complementar a análise dessa modalidade de remuneração
variável.
Desse modo, de acordo os autores acima citados, a adoção de tais sistemas pressupõe, dentre
outras, as seguintes características tidas como fatores condicionantes para a implantação, a saber:
• Estruturas organizacionais pequenas: dessa forma, o vínculo ação / resultado se torna claro;
• Adoção de sistemas de medição de resultados simples: a escolha por sistemas simples, eficazes
e transparentes faz com que as pessoas envolvidas sintam credibilidade no programa;
• Apoio da gerência para a execução dos trabalhos: ou seja, a atitude gerencial favorável ao trabalho
em grupo;
• Cultura favorável à gestão participativa: é imprescindível que a cultura da empresa permita que os
funcionários participem da gestão.
Entretanto, para que o sistema de remuneração baseado nos resultados organizacionais tenha
se tornado prática no mercado, algumas características favoráveis à sua aplicação foram bastante
divulgadas e constituíram o que Filho e Wood Jr. (2004) chamaram de vantagens do plano de
remuneração baseado em resultados, a saber:
Dessa forma, o programa de participação nos resultados se volta muito mais a estruturas
organizacionais que estejam acostumadas, ou que estejam desenvolvendo, sistemas de trabalho em
equipes e que estejam dispostas a trabalhar, focadas em objetivos e metas bem definidos.
Uma vez que os dois modos de remuneração foram apresentados, é importante ressaltar que
os mesmos guardam muitos pontos em comum, principalmente no que tange à mudança
organizacional; a adoção de qualquer um dos dois tipos de programa faz com que a organização
direcione seus esforços para objetivos comuns e, se bem implantados, propiciam à mesma, redução
da resistência dos funcionários às mudanças organizacionais, garantindo a necessidade da adoção de
sistemas de gestão mais eficazes.
Não obstante, não só a definição de metas e objetivos, mas sim, um claro posicionamento por
parte da empresa sob qual é o novo estilo de gerenciamento adotado na mesma, assim como o correto
conhecimento da estrutura organizacional, são fundamentais para que o tão sonhado papel estratégico
da remuneração atinja seus objetivos. São necessários alguns pontos mínimos para que o programa a
ser implantado atinja os objetivos esperados.
Assim sendo, uma vez definido o direcionamento desejado, a ser obtido com a implantação de
um sistema de remuneração variável eficaz, é necessário então, voltar a um passo estratégico
fundamental: como construir um sistema de remuneração variável? e ainda, que fatores abordar nesse
programa, a fim de fazer com que a empresa efetivamente alcance seus objetivos?
De forma geral, para tal desenvolvimento, são necessários três componentes básicos:
Estilo
Estratégia Estrutura
Gerencial
Remuneração Variável
a) Fatores Determinantes: sendo as condições necessárias para que a empresa atinja seus
objetivos previamente definidos, podem ser subdivididos em:
Para que realmente a adesão a esses programas de remuneração se torne algo propício ao
desenvolvimento da mesma, alguns fatores de sucesso devem ser encarados como pontos-chave do
processo. Segundo Wood Jr. e Filho (2004), “Antes da implantação de qualquer sistema de
remuneração variável, é importante conhecer os fatores críticos de sucesso para garantir que os
resultados esperados sejam realizados” (p.116). Esses fatores seriam:
1. Simplicidade
2. Flexibilidade
3. Clareza
4. Objetividade
5. Alinhamento com a direção estratégica da empresa
Para que os sistemas de participação nos lucros e resultados realmente consigam atingir o que
Milkovich e Boudreau (2000), chamaram de “resultados esperados realizáveis”, estes devem
Segundo Wood Jr. e Filho (2004), “a remuneração variável tende a tornar-se um componente
obrigatório para as empresas que estão transformando a si próprias e adaptando-se às novas
condições ambientais” (p.121).
Por fim, fica a ideia que não há uma forma única e por que não dizer “mágica” para a questão de
como se tratar a remuneração estratégica nas empresas. O que, no entanto, é sabido e deve ser cada
vez enfatizado é que o bom senso aliado a práticas de mercado e as pesquisas (também chamados
benchmarks) são a melhor forma de introduzir, ao poucos, a ideia de estratégia ligada à remuneração,
transformando as práticas atuais, gerando melhores resultados e levando as empresas a novos
patamares de competição e atuação.
Como dito anteriormente, no Brasil a participação nos lucros e resultados é regida pela LEI No
10.101, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2000. Esta lei está disponível no grupo da disciplina, no Facebook,
e deve ser lida com atenção para a devida compreensão desta modalidade de remuneração.
empregados. Um prêmio somente será percebido como tal se ele corresponder a uma necessidade ou
a um desejo dos empregados.
O tipo de participação acionária mais difundido no Brasil são os planos de opção de compra de
ações (Stock Option Plans). Consiste no seguinte: a empresa oferece a um empregado a opção de
compra de ações da empresa, a um preço prefixado após o cumprimento de um prazo de carência.
Findo esse prazo, o empregado pode comprar essas ações e comercializá-las na bolsa de valores. Se
no momento em que o empregado vende as suas ações estas estiverem cotadas por um valor maior
do que aquele que foi estabelecido na opção de compra, ele obterá um ganho real com a transação.
Mas também pode acontecer que o valor de mercado atual das ações seja o mesmo ou menor do que
o estabelecido na opção de compra. Trata-se, portanto, de um risco que o empregado deve estar
disposto a correr.
A ideia por trás da opção de compra é que o empregado dará o melhor de si para que a empresa
obtenha um bom desempenho econômico, valorizando as ações e aumentando a probabilidade de
lucro efetivo no momento em que ele puder exercer a opção de compra.
A princípio, a participação acionária foi uma forma de remuneração direcionada para os altos
executivos, aqueles mais cobiçados pelo mercado, visando retê-los na empresa e motivá-los para que
a empresa seja valorizada no mercado de capitais. Esse princípio foi posteriormente expandido para
todos os empregados, partindo do pressuposto que todos os envolvidos no crescimento e
desenvolvimento da empresa busquem o sucesso empresarial do seu empregador. Dessa maneira, a
participação acionária estendida a todos os empregados também atende ao objetivo retê-los na
organização.
Você deve se lembrar que a remuneração estratégica busca alinhar os interesses dos
empregados com os interesses organizacionais. Mas para que isso ocorra, é importante que cada
empregado entenda claramente como seu bom desempenho contribui para o sucesso empresarial. A
questão que se coloca, então, é a seguinte: será que todos os empregados de uma organização são
capazes de estabelecer uma relação clara entre o seu desempenho e a valorização da empresa no
mercado de capitais? Será mesmo que a participação acionária é uma forma de remuneração aplicável
a todos os empregados?
1.3.4 Benefícios
Benefícios são bens ou serviços espontaneamente concedidos aos empregados por iniciativa da
empresa. É uma forma de tornar a remuneração mais atrativa a um custo menor para as organizações.
Para baratear o custo da remuneração, entram em cena os benefícios, uma vez que sobre os
custos deles decorrentes não incidem os encargos trabalhistas. Desta maneira, as organizações
remuneram melhor seus empregados com um custo menor.
Vejamos um exemplo. Um empregado mensalista que ganha R$ 7895,67, em uma empresa NÃO
OPTANTE PELO SIMPLES tem como benefício o plano de saúde. Este empregado custa para a
empresa R$ 15.534,73, com os encargos trabalhistas. O valor de mercado do plano é de R$ 757,52.
Para a empresa, este mesmo plano sai a R$ 342,75. Se a empresa ao invés de benefício, agregasse
ao salário este valor, o mesmo empregado custaria R$ 16.209,09, ou seja, o custo do plano de saúde
subiria de R$ 342,75 para R$ 674,36, uma diferença de 96%. Indiretamente, o empregado está
ganhando mais este valor, sem, contudo, nenhum desconto de Imposto de Renda e INSS, e o
empregador não pagará nenhum encargo trabalhista sobre esse valor.
Alguns autores chamam de benefícios legais as férias, descanso remunerado, 13º salário.
Contudo, essas são DIREITOS TRABALHISTAS definidos por lei, logo, não são espontaneamente
concedidas pela empresa. Sendo assim, não consideramos adequado trata-los como benefícios.
2 GESTÃO DE CARREIRA
Por Aluizio de Moraes Neto e Luiza Silva de Abreu
Londom e Stumph (apud Dutra, 1996, p.17) apresentam um conceito de carreira que é um
referencial para muitos autores, a saber:
Essa citação nos permite enxergar que a carreira não é um caminho rígido e estruturado que
possa ser seguido por alguém, e sim uma sequência articulada entre o desenvolvimento pessoal e o
organizacional. Costuma-se fazer um paralelo entre a carreira e uma trajetória, pois ao olharmos para
1
A competência é definida como o conjunto de conhecimento, habilidades e atitudes (CHA) esperado das pessoas.
trás conseguimos visualizar claramente o caminho percorrido. Enquanto que ao nos voltarmos para
frente não é possível enxergar um caminho bem definido, ainda incerto a ser construído.
Dutra (1996) ressalta três importantes aspectos a partir desta definição de carreira: (1) a
carreira deixa de ser vista como uma simples sequência linear de experiências profissionais para se
tornar o reflexo das pressões sofridas pelo sujeito, originárias dele próprio ou do meio; (2) a carreira é
produto da relação entre sujeito e empresa; (3) a carreira é um elemento conciliador das expectativas
desses dois personagens.
Um dos reflexos dessa mudança gradual está na percepção das empresas a respeito da
carreira de seus empregados. Até meados da década de 70, as empresas movimentavam seus
empregados horizontal, vertical e diagonalmente, ainda sem a participação dos mais interessados
2
Plateau profissional é um ponto da carreira em que o profissional não tem perspectiva. Ele apresenta-se profissionalmente
estacionado e sem nenhuma predisposição para se desenvolver.
O papel designado ao empregado vem sendo cada vez mais estimulado pelas organizações
constatado por meio da mudança de perfil dos colaboradores, valorizando as competências de
inovação e empreendedorismo em detrimento da disciplina e da submissão, em prol de maior
competitividade no mercado. A programação de carreira não garante sucesso antecipado para a força
de trabalho da organização, mas com ela podemos ver a ascensão de funcionários capacitados e
satisfeitos em suas atividades (Snell e Bohlander, 2009).
Entretanto, apesar de uma mudança gradual e lenta de perspectiva, muitas organizações não
estão preparadas para orientar a administração de carreira de seus funcionários conforme esse molde.
É em função dessa falta de preparo que muitas empresas pecam no momento de uma movimentação,
podendo interferir no clima organizacional ou na perda de talentos, fortalecendo a velha máxima de
perder um grande técnico para ganhar um péssimo gerente.
Para as instituições que almejam utilizar essa ferramenta, a gestão de carreira compartilhada
com o colaborador deve ser adotada, transformando a posição do empregado de submisso para ativo.
Aqui ele consegue visualizar o seu papel enquanto responsável pelo planejamento da sua carreira, e o
papel da empresa enquanto gerenciadora de oportunidades, e como esses dois papéis precisam estar
alinhados para promover ganhos mútuos.
Em busca desse alinhamento o sujeito precisa manter em mente três fatores, igualmente
relevantes, que devem ser constantemente analisados em seu processo de planejamento de carreira:
autoconhecimento, análise do ambiente e reavaliação das estratégias.
O autoconhecimento precisa ser buscado pelo indivíduo, pois é a partir dele que se torna
possível identificar com clareza os objetivos que atendem as suas expectativas e respeitam seus
limites. Ao considerarmos que o sujeito está em constante processo de construção, isto é, reconhecer
que a mudança se faz presente como um critério para a existência do mesmo, constatamos o motivo
da permanente vigilância desse aspecto. É preciso acompanhar as transformações vivenciadas pelo
sujeito, para então alinhar as demandas pessoais às expectativas profissionais que são traçadas no
planejamento.
A análise do ambiente é outro fator relevante nesse processo, pois assim como o homem, o
ambiente muda continuamente. Dutra (1996) destaca a importância de observar a relação estabelecida
entre o homem e o trabalho, pois é a partir da consciência do papel exercido pelo trabalho na vida de
um indivíduo, que um envolvimento sincero é permitido, acarretando num desenvolvimento pessoal e
organizacional. Dessa forma, para acompanhar as transformações que ocorrem ao seu redor e manter
alinhados seus objetivos a realidade em que está inserido, aumentando suas chances de sucesso, o
homem deve estar atento ao ambiente que o cerca.
Por fim, a reavaliação das estratégias traçadas pode ser cogitada para atingir os objetivos
definidos. Afinal, em meio a tantas mudanças, sejam provenientes do âmbito interno ou externo, as
estratégias não podem assumir uma posição imutável e inflexível, elas devem seguir as transformações
sentidas. Dutra (1996, p. 23) esclarece de forma clara a relação dessas três esferas:
A grande maioria das pessoas encara a reflexão sobre suas carreiras apenas
como a identificação de oportunidades e a busca de seu aproveitamento. Ao
proceder desta maneira, subordina suas carreiras a uma realidade dada pelo
ambiente e perde a condição de atuar sobre esta realidade. A atuação sobre o
ambiente, no sentido de transformá-lo para melhor adequar-se às preferências
e características pessoais, exige que as pessoas, antes de refletirem sobre as
oportunidades de carreira oferecidas pelo ambiente, olhem para dentro de si,
procurando identificar o que gostam, o que as satisfaz, o que as estimula etc.
Ao fazê-lo, por estarem usando com padrão interior de avaliação, terão melhor
condição para identificar oportunidades de carreira.
Fica clara a necessidade de um planejamento estratégico para que a gestão de pessoas possa
oferecer sua contribuição nas conquistas traçadas. Pois é a partir desse alinhamento com o RH que
podemos cogitar uma entrega que atenda as expectativas, através de uma análise sobre a necessidade
de mudança da equipe e um planejamento de carreira. Algumas informações da organização fornecidas
pelo planejamento estratégico, as previsões, os planos de sucessão e os levantamentos de habilidades,
são necessárias para um planejamento significativo de carreira, garantindo que o crescimento pessoal
corresponda as metas da empresa.
Com esses três pontos em mente a organização está preparada para ofertar aos empregados
uma proposta de carreira adequada aos seus objetivos. Dessa forma, a instituição consegue mapear
internamente o indivíduo que corresponde de forma esperada e traçar uma proposta de carreira que
atenda a ambos. Assim, a empresa visa um desenvolvimento a longo prazo e simultaneamente constrói
uma ferramenta que retém o profissional por mais tempo em seu quadro.
Para Dutra (1996) a concretude do sistema é proporcionada pela estrutura de carreira, pois é ela
quem define a sucessão de posições, sua valorização e seus requisitos de acesso, podendo assumir
alguns tipos. A seguir, destacaremos três tipos de estrutura de carreira:
Geralmente, esse modelo direciona a uma posição gerencial e, portanto, não oferece
alternativas para as pessoas que não almejam tais posições. Pode ser uma estrutura menos rígida a
depender da maneira como os degraus da carreira e seus critérios de acesso são definidos. Para tanto,
considera-se que esses elementos sejam menos fechados e detalhados e mais abrangentes, para que
a flexibilidade possa ser visualizada nesse modelo.
A carreira paralela vem ganhando adesão ao longo do tempo por permitir que o instrumental
tradicional da administração de carreiras, aliado a estrutura organizacional, se misture a um
instrumental avançado que atende as demandas da modernidade, proporcionando a
corresponsabilidade, transparência e flexibilidade. Essa estrutura de carreira rompe com conceitos já
incorporados na gestão de pessoas, ao associar um sistema de diferenciação focado no trabalho a um
focado na pessoa, e ao propor sequências vinculadas a espaço ocupacionais ou às pessoas.
que esse modelo se apresenta, ele garante que um profissional da linha técnica atinja o maior nível de
reconhecimento e remuneração, assim como um gerente.
Dessa forma, uma pessoa que não deseja a carreira gerencial também vislumbra
possibilidades de desenvolvimento na área técnica, atingindo status e recompensas. A carreira paralela
também beneficia a empresa ao evitar a multiplicação de gerentes ditos ruins, ou seja, aqueles que não
possuem o perfil gerencial, e manter uma estrutura organizacional adequada às necessidades da
empresa e não dos empregados.
O termo carreira proteana foi empregado pela primeira vez por Hall no ano de 1976. Porém,
conforme apontado por Inkson (2006), esse conceito só veio a ser consolidado e aprofundado duas
décadas posteriores a essa data por meio de outros trabalhos de Hall.
Esse nome faz alusão ao deus do mar, Proteus, que se caracterizava pelo fato de poder mudar
de aparência conforme as circunstâncias. Assim, o autor fez uso de uma metáfora para mostrar uma
carreira na qual os indivíduos devem ser flexíveis de forma a acompanharem as mudanças
organizacionais e do ambiente. Dessa forma, como se trata de um contexto em frequente alteração,
em que a rotatividade nas empresas é grande, a responsabilidade pelo gerenciamento da carreira não
é mais da organização, como no caso das carreiras organizacionais, e sim do próprio indivíduo.
Dutra (2010) aponta como uma das principais características da carreira proteana o fato do
contrato entre empregado e empregador ter se tornado de curto prazo, havendo, desse modo, a
necessidade de ser diariamente renovado com base nas necessidades de desenvolvimento e
Outro destaque dessa abordagem, apontado no último item do contrato supracitado, é a noção
de que o indivíduo não busca mais o sucesso exterior, ou seja, o status, e sim o chamado sucesso
psicológico, “um sentimento de orgulho e realização pessoal que acompanha o cumprimento das
principais metas da vida de uma pessoa, sejam elas realização, felicidade familiar, paz interior ou
qualquer outra coisa” (Hall apud CÁLCENA & CASADO, 2013, p. 81).
Esses elementos chave apontados até o presente momento podem ser resumidos pelo
seguinte trecho da obra de Hall e Moss (1998, p. 25):
The protean career is a process which the person, not the organization, is
managing. It consists of all of the person’s varied experiences in education,
training, work in several organizations, changes in occupational field, etc. The
protean person’s own personal career choices and search for self-fulfillment
are the unifying or integrative elements in his or her life. The criterion of
success is internal (psychological success), not external. 3
Um resultado visível fruto dessas reflexões são as mudanças frequentes do rumo de carreira
(CAVAZOTTE, LEMOS, VIANA, 2012). As mudanças no rumo de carreira, associado ao fato de que os
indivíduos passam a buscar aquilo que está de acordo com o seu parâmetro interno de sucesso, abrem
3
A carreira proteana é um processo no qual a pessoa, e não a organização, está no comando. Consiste na totalidade
das experiências da pessoa vividas na educação, treinamento, trabalho em várias organizações, mudanças no
campo ocupacional, etc.... As próprias escolhas de carreira e a busca por autorrealização da pessoa orientada pela
carreira proteana são os elementos integradores e unificadores de sua vida. O critério de sucesso é interno (sucesso
psicológico), e não externo. (Tradução do autor)
margem para uma diversidade de caminhos profissionais. Vale ressaltar que essa questão da
mobilidade é apontada por Briscoe e Hall (2006) como uma possível consequência da postura proteana,
não sendo, desse modo, uma condição necessária para a existência desse tipo de carreira.
Diante de todos esses elementos apontados como relacionados ao tema carreira proteana,
Briscoe e Hall (2006) fazem uma distinção daqueles que seriam possíveis consequências da adoção
de uma orientação proteana e aqueles que determinam, que caracterizam essa abordagem. O segundo
grupo é composto por dois fatores que derivam da busca pelo sucesso psicológico. Eles seriam o
autodirecionamento na gestão de carreira e a orientação para os valores pessoais de cada indivíduo.
Cordeiro (2012, p. 43) descreveu essas duas dimensões chave da seguinte forma:
Individuals who hold protean career attitudes are intent upon using their own
values (versus organizational values for example) to guide their career
(“values-driven”) and take an independent role in managing their vocational
behavior (“self-directed”). An individual who did not hold protean attitudes
would be more likely to “borrow” external standards, as opposed to internally
developed ones, and be more likely to seek external direction and assistance
in behavioral career management as opposed to being more proactive and
independent. While most protean individuals might in fact exhibit more mobility
and a learning orientation, we posit that mobility and learning may be
correlates of a protean career, but not necessary components of it. (Briscoe e
Hall, 2006, p. 31)4
4
Indivíduos que possuem atitudes baseadas na carreira proteana estão decididos a usar os seus próprios valores
(versus valores organizacionais, por exemplo) para orientar a sua carreira ("orientação para valores") e ter um
papel independente na gestão do seu comportamento profissional ("autodirecionamento"). De um indivíduo que
não apresenta atitudes proteanas é esperado que ele "peça emprestado" padrões externos, ao contrário daquele que
baseia suas escolhas em padrões internos; ele é mais propenso a buscar a direção externa e assistência na gestão
comportamental da carreira, em contraposição àquele que é mais pró-ativo e independente. Dado que a maioria
dos indivíduos que assume um direcionamento proteano pode, de fato, demonstrar mais mobilidade e uma
orientação de aprendizagem, podemos afirmar que a mobilidade e a aprendizagem podem ser fatores relacionados
a uma orientação proteana de carreira, mas não são os componentes que a definem. (Tradução do autor)
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2013.
CAVAZOTTE, Flávia de Souza Costa Neves; LEMOS, Ana Heloisa da Costa & VIANA, Mila Desouzart
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Cad. EBAPE.BR, v. 10, nº 1, artigo 9, Rio de Janeiro, Mar. 2012.
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