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Contexto
O processo de expansão metropolitana do Rio de Janeiro está diretamente ligado à
implantação de redes de transporte coletivo e à abertura de rodovias.
O ramal de trem de Belford Roxo, que corta São João de Meriti, configura um
importante eixo de mobilidade para o município. Em particular, a Estação de São João
de Meriti, junto ao metrô da Pavuna e aos terminais rodoviários, movimenta milhares
de pessoas por dia e adensa relações, usos e apropriações no seu entorno. Nesse cenário,
a estação contribui para a consolidação de uma centralidade marcada pelo comércio
formal e informal, sendo este traduzido morfologicamente pela Feira de São João de
Meriti / Pavuna.
Trem e Muro
A estação de trem consiste em dois acessos elevados em cada extremidade da plataforma
de 230 metros aproximados. Esta plataforma é coberta por uma longa marquise.
Paralelos aos trilhos, existem dois muros (afastados em 8m na média), que, embora por
vezes interrompidos (por exemplo, nos cruzamentos com ruas de carros), conformam
barreiras locais entre o trem e a rua, a fim de garantir a segurança dos pedestres e o
controle sobre o acesso à plataforma mediante pagamento de passagem. Produz, assim,
uma contínua separação de dois lados dos movimentos e usos da centralidade Pavuna/
Centro de São de João de Meriti. Para atravessar esses dois lados, é preciso passar pelos
poucos atravessamentos oferecidos: a estação de trem, a rua que atravessa o trilho e
duas passarelas.
Feira
A feira acontece em meio aos espaços de maior fluxo de pessoas, ocupando calçadas,
partes da infraestrutura viária - tendo rampas e escadarias como maiores exemplos -,
e até trechos da caixa de rolamento. Do metrô até a estação de trem, a feira ocupa as
duas ruas que margeiam a linha do trem, transformando-as em passeios exclusivos para
pedestres. A numerosa quantidade de barracas e tendas é disposta de forma a criar um
percurso tortuoso e nem sempre favorável ao rápido atravessamento.
Muro e Feira
A feira apropria-se do muro do trem, transformando-o em parede das barracas que nele
se apoiam. Dessa forma, pode-se dizer que nesse trecho o muro passa a ser programado
pela feira, mas não deixa de ser uma barreira.
OUC e o trem
Tendo em vista a OUC (Operação Urbana Consorciada), iniciativa que busca a
interdependência entre São João de Meriti e a cidade do Rio de Janeiro, foi elaborado
um projeto sobre a estação de trem Pavuna/São João de Meriti. Com ele, propõe-se a
reorganização da atual dinâmica estabelecida entre um trecho da feira e os muros do
trem, além de sugerir uma nova urbanidade em oposição à densidade construída.
Notas:
1. Livre tradução do trecho retirado do texto de Peter Cook em http://www.frac-centre.fr/_en/art-and-architecture-
collection/cook-peter/instant-city-317.html?authID=44&ensembleID=113
2. https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/14.160/4968
3. vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.070/371
4. http://www.nomads.usp.br/pesquisas/cultura_digital/complexidade/CASOS/FUN%20PALACE/FUN%20PALACE.
htm
5. https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.048/585
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Área de intervenção
Recorte da área de interesse para o desenvolvimento projetual - ênfase
nas relações de proximidade e escala do trem e da feira.
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Contexto
Mapa de parte da região central de São João de Meriti. Identificação de
alguns articuladores considerados decisivos para transporte e atrativos
de pessoas.
284
Projeto no contexto
Perspectiva de inserção do projeto no contexto.
285
Trem
Nota-se o recorte no tecido
urbano causado pela passagem da
linha do trem. Sua plataforma é
coberta por uma extensa laje sem
programa.
Cena vista da estação de trem
para o viaduto e a estação de
Metrô da Pavuna.
Muro
O espaço entre muros e trilhos
é atualmente de aproximados
2 a 4 metros. Ele não possui
utilidade que contribua para
o funcionamento do trem,
consequentemente se tornando
uma área ociosa sujeita ao
acúmulo de lixo.
Feira
O perímetro da parte murada do
trem é ocupado por comerciantes
interessados no fluxo intenso dia
e noite resultante da proximidade
com o terminal de metrô e a
estação de trem.
286
Atual
Vazio entre plataforma e muros,
feira apoiada nos muros.
Inversão da plataforma
Os trilhos passam a correr no
centro com plataformas nos dois
lados e o acesso às plataformas
passa a ser no nível térreo. Dessa
forma é possível reordenar o
acesso ao trem de maneira mais
simples e objetiva.
Atravessamento
Nível +8: possibilidade de
atravessamento acima da linha
do trem.
Nível intermediário
Nível +4m: ocupação longitudinal
acima da plataforma.
Cobertura
Estrutura de fechamento e de
suporte para as salas suspensas.
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Mapeamento crítico Mudança dos trilhos para o eixo central
Diagnóstico dos 3 elementos (trem, muro e feira) a serem Estudo da área a ser obtida com a realocação dos trilhos. Ganho de área
reconfigurados. para a feira.
0 0 10m
10m 20m
20m 50m50m 100m
100m 0 0 10m10m 20m20m 50m50m 100m100m
Rio
Rio
Rio Área
Área ganha Área
com ganha
a ganha com
realocação com a realocação
dosa trilhos
realocação dosdos
, propícia trilhos
trilhos , propícia
, propícia
paraa nova
para a novapara a nova
configuração da configuração
feira e dada
configuração
configuração feira
feira e configuração
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Terminal de trem São João de Meriti do novo acesso à plataforma doàtrem
Terminaldedetrem
Terminal tremSão
SãoJoão
JoãodedeMeriti
Meriti dodonovo
novo acesso
acesso à plataforma
plataforma dodo trem
trem
Muro, fronteira entre a calçada e os trilhos do trem Indicação de concentração de pessoas
Muro,fronteira
Muro, fronteiraentre
entrea acalçada
calçadae os
e ostrilhos trem(intensidadeTrilhos
trilhosdodotrem varia de acordo com o tamanho)
Trilhos realocados
realocados aoao eixo
eixo central
central
Área predominante de instalações informais da feira
Indicação de fluxo (intensidade varia de acordo
Trilhos
Área
Área realocados ao eixo
predominante
predominante central
dedeinstalações
instalaçõesinformais feiracom o tamanho)
informaisdadafeira
Espaço sem funcionalidade entre muro e trilhos
Indicação
Indicaçãodedeconcentração
concentraçãodedepessoas
pessoas
(intensidade
(intensidadevaria
variadedeacordo
acordocom
como otamanho)
tamanho)
Indicação
Indicaçãodedefluxo
fluxo(intensidade
(intensidadevaria
variadedeacordo
acordo
288 com
como otamanho)
tamanho)
Espaço
Espaçosem
semfuncionalidade
funcionalidadeentre
entremuro
muroe trilhos
e trilhos
Resolução do atravessamento
Novas dinâmicas de fluxo diante das modificações propostas. O atravessamento pode ser feito no nível +8m. Há seis pontos
dispostos ao longo do edifício - 3 de cada lado - o que possibilita
diversos caminhos. Ao todo, são 4 escadas e 2 rampas de acesso.
0 10m 20m
20m 50m
50m 100m
100m 0 0 10m 20m20m
10m 50m50m 100m100m
290
Estudo
Diante da questão de como reordenar as feiras de acordo com Eles estariam dispostos por todo o perímetro do lado norte da estação.
as adaptações feitas na estação, foram pensadas formas que não Essa possibilidade foi descartada uma vez que essas estruturas seriam
comprometessem a dinâmica existente. Aos comércios fixos foram um problema quanto ao fluxo. Da maneira que estariam dispostas não
criadas “salas” de 5 x 5 m no térreo, dispostas sob a cobertura. seriam a melhor escolha para a manutenção de corredores de comércio
Em um primeiro momento, para as feirinhas cuja estrutura são e facilmente seriam uma barreira para o fluxo rápido.
barracas ou qualquer tipo de estrutura móvel, foram pensados módulos
fixos não cobertos de 3 x 3 m.
Solução
Foi pensada uma segunda estrutura que resolvesse os problemas
mencionados. Balizadores dispostos na mesma área, porém em
um arranjo que possibilita a apropriação de uma área maior além
da projeção da cobertura. Eles são estruturas retráteis que quando
fechadas possuem 95 cm de altura e, quando abertas em sua totalidade,
320 cm.
Dessa forma, é possível garantir eixos livres para a passagem e áreas
sombreadas no térreo.
Balizador
Funciona em um sistema de trava, no qual ao ser puxado o travamento
se dá quando girado para o lado.
291
Térreo
Balizadores apropriados pela feira.
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Intermodalidade
Na fachada sul, na parte próxima ao viaduto, existe um ponto de
ônibus e van que ocupa
grande parte da rua e tumultua a calçada. Visto isso, foram criadas
vagas para alguns ônibus e a calçada foi expandida. O edifício serve de
cobertura para o ponto.
Nesse lado também há acesso ao trem e a poucos metros está o acesso
ao metrô. Logo, esse trecho se torna um centro intermodal.
293
Acesso à plataforma
A A
294
0 10m 20m 50m 100m 0 10m 20m 50m 100m
295
Atravessamentos
Com a disposição atual, o trecho analisado possui dois atravessamentos
no nível acima do muro: através da estação de trem e da estação de
metrô. Apesar de ter escadas e rampas, a estação do trem não possui
acessibilidade.
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Cobertura
Auditório
Comércio
Escadas
Rampa
Acesso à plataforma
O edifício
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Além da circulação vertical
A rampa concede acesso ao 1º pavimento e ao terraço, mas devido
à sua largura e pequena inclinação, ela também é um espaço de
permanência.
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Eventos
A grande laje funciona não só como suporte para atravessamentos no
cotidiano, mas também como palco para diversos eventos, sendo um
espaço público por excelência, incorporando múltiplas possibilidades
de ocupação.
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‘‘A coisa’’’
Em referência ao projeto Instant City, do grupo Archigram:
‘’Projeto para uma cidade nômade, Instant City é o resultado de uma
abordagem sobre um dilema filosófico que diz respeito à arquitetura
que o Archigram começou a experimentar a partir do Plug-in-city
(1964). Com este conceito, a arquitetura desaparece dando espaço a
imagem, ao evento e apresentações audiovisuais, a dispositivos e a
outros simuladores de ambientes.’’ ¹
300
301
Eventos
Uma das múltiplas possibilidades de ocupação da grande laje.
302
Impacto na paisagem
303
Articulador urbano:
a convergência cotidiana do trânsito
305
Pavuna
A Pavuna é um bairro localizado no limite da cidade do Rio de Janeiro, fronteira com a
Baixada Fluminense e tem aproximadamente 120 mil habitantes. Faz parte do subúrbio
carioca e possui como uma de suas principais características o fluxo intenso de pessoas e
o comércio incentivado pela estação terminal da linha 2 do metrô.
Sua organização urbana está vinculada a tal intensidade e diversidade de funções.
A circulação dos pedestres é atrelada diretamente ao consumo, no qual o comércio
informal, popularmente conhecido como Feira da Pavuna, domina os espaços das
passarelas, rampas, calçadas e ocupa vazios públicos. Como resultado, o espaço urbano
da Pavuna consiste em um mercado contínuo, que engloba inclusive os supermercados
e grandes lojas que vendem os mesmos produtos das feiras.
Essa urbanidade é produzida principalmente pelo uso da estação de metrô terminal, a
qual cria um fluxo de pessoas intenso com alguns horários de pico, mas que permanece
considerável durante todo o dia, garantindo o funcionamento da feira por 24h. Com
destino principal ao centro da cidade do Rio de Janeiro, a maioria dos usuários do
metrô vem da Baixada Fluminense, os quais utilizam uma rede intermodal que inclui
diversas linhas de ônibus que ali convergem, além do ramal de trem Belford Roxo.
Estação Terminal
Inaugurada em 1998, a estação da Pavuna é o terminal da Linha 2 do metrô. Esse
equipamento público funciona como centro de trocas e circulação tanto de pessoas
como de mercadorias. Assim como as demais estações, opera de segunda a sábado,
das 5h às 00h e domingos e feriados, de 7h às 23h, o que propicia a utilização quase
ininterrupta do espaço ao redor pelo comércio informal ao longo dos dias úteis.
A estação atual tem muros de aproximadamente 8 metros de altura, que representam
uma maciça barreira visual e espacial no nível do térreo. O acesso é feito a partir de
extensas rampas, em todas as entradas, e uma escada que por vezes é mais utilizada
do que duas das três rampas. Os usuários são obrigados a escolher qualquer um
dos percursos, igualmente desgastantes, para subir até a estação apenas para descer
novamente até a plataforma. Esse sistema não apresenta nenhuma facilidade ou
praticidade de locomoção, além de impossibilitar inclusive uma troca com o meio
urbano o qual está inserido.
Feira da Pavuna
A feira da Pavuna, tombada como patrimônio imaterial em 2014, abrange toda a
extensão dos muros do trem e do metrô, além de ocupar boa parte das calçadas dos
quarteirões próximos. A espacialidade dos fluxos cotidianos dos moradores da Baixada
Fluminense, contribui para a permanência desse comércio e o seu possível crescimento.
A própria estrutura de acesso ao metrô é vista como potencialidade ao comércio
informal — suas rampas e passarelas, ocupadas pela feira, contribuem para que as
mesmas apresentem um fluxo de aproximadamente 60 pessoas por minuto, tornando-as
espaços fluidos.
306
Estação Terminal do Metrô
Com destino principal ao centro da cidade do Rio de Janeiro, a maioria
dos usuários do metrô vêm da Baixada Fluminense e se utilizam
dessa rede intermodal — ou pelas diversas linhas de ônibus que ali
convergem, ou pelo ramal Belford Roxo da Supervia. Outra parte
chega na estação com poucos minutos de caminhada e tem origem no
município limítrofe de São João de Meriti.
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Subir para descer
Apesar de ser um metrô na
superfície, os acessos são
elevados, através de passarelas,
rampas e escadas.
Viaduto da Pavuna
Interliga dois lados da Pavuna
que são separados pelos trilhos,
tanto do metrô como do trem.
308
A A
309
PAVUNA VIC. DE CARVALHO CENTRAL URUGUAIANA
6h 6h 6h 6h
9h 9h 9h 9h
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GUAIANA CINELÂNDIA GLÓRIA L. DO MACHADO BOTAFOGO
6h 6h 6h 6h
CINELÂNDIA GLÓRIA L. DO MACHADO BOTAFOGO p
9h 9h 9h 9h
6h 6h 6h 6h
12h 12h 12h 12h
período de pico
9h 9h 9h 9h
15h 15h 15h 15h
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Comércio
Misto
Residencial
Barreira
Visual
Projeto
Metrô
Área de
Intervenção
Intenção projetual
A proposta de projeto é estabelecer uma conexão entre áreas
ociosas, localizadas em lados opostos do metrô, através de eixos que
promovem a liberação do térreo e representam um respiro na malha
urbana tomado por comércio, além da retirada do muro do metrô,
aumentando a permeabilidade visual. Ainda, oferece a criação de uma
praça equivalente à Copérnico.
312
Comércio
+1,5M
+1,5M
+1,5M
Misto
Residencial
Barreira
Visual
Projeto
Metrô
Área de
Intervenção
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Térro aberto
A intenção da reestruturação desse equipamento urbano é de potencializar a relação
entre circulação e comércio intrínseca da Pavuna, além de produzir vazios na malha
urbana que forneçam pontos de respiro no nível térreo — espaços públicos com
dispositivos que dificultem a apropriação pela feira, de forma a garantir o caráter fluido
e de permanência daquele local.
Para tanto, foi necessária a retirada do muro da estação, que segue por toda a extensão
dos trilhos e dividia o bairro de forma extremamente prejudicial a um dos lados, o qual
ficava, na maior parte do tempo, abandonado. Assim, foi feita a transição da entrada
do metrô para o nível do térreo, o que possibilita a criação de uma praça em frente à
mesma. A conexão entre os dois lados da estação, que antes se dava por meio de um
caminho tortuoso entre rampas e passarelas, agora acontece de maneira direta através
dessa praça. O dispositivo inserido neste espaço é uma pista de skate, a qual dificulta o
uso como para o comércio e modula um novo fluxo de atividades. Já na larga calçada
do acesso lateral do metrô, próxima à Praça Copérnico, uma ‘fonte interativa’ delimita
o espaço e permite ao público atividades de lazer que mantenham contato direto com a
água.
Ainda em busca de explorar o caráter público do modal, sua plataforma central
foi liberada para ser utilizada como uma extensão da rua, na qual performances
artísticas, exposições, eventos festivos ou qualquer outro tipo de expressão cultural são
incentivados. O acesso dessa plataforma é independente das catracas e desvincula seu
uso ao do metrô, de forma a facilitar tal potencialidade de uso.
Laje-mercado
Além dessas transformações, são propostos dois edifícios nos locais onde antes se
encontravam as rampas que levavam à estação. Posicionados em lados opostos do
metrô, através de um novo projeto para as rampas, possibilitam um modelo de
circulação vertical mais confortável e acessível, que embora ainda inevitavelmente
longo, complementa o edifício ao qual se conecta e cria distrações ao longo do percurso.
Além disso, ao entender a grande laje da estação como uma potencialidade de uso, esses
edifícios colaboram para afirmar a ocupação da mesma. Junto de seu caráter comercial,
esse modelo de circulação vertical, tão presente na Pavuna, foi incorporado aos blocos
como característica principal, em tentativa de estimular a cultura da circulação e
comércio existente.
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CARGA E DESCARGA
O projeto
Uma estação de metrô no térreo, com um mercado acima, além de dois
edifícios anexos que servem como circulação vertical.
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