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Cecília Myrelle Couto

Advocacia

MM. JUÍZO DA VARA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA FAZENDA


PÚBLICA DA COMARCA DE UBERLÂNDIA - MINAS GERAIS

DEISE CRISTINA JÚLIO GUERRA, brasileira, casada, desempregada,


portadora da cédula de identidade RG nº MG-6.926.339 SSPMG e
inscrita no CPF/MF sob o nº 032.675.286-23, residente e domiciliada
na Rua das Juritis, nº 1.141, Bairro Cidade Jardim, Uberlândia/MG,
CEP 38412- 126, endereço eletrônico deisecristinajg@hotmail.com, por
sua procuradora infra-assinada, mandato anexo (doc.1), com escritório
profissional situado na Rua São Paulo, nº 177 – Bairro Santa Ângela –
Bom Despacho, CEP. 35600-000, no Estado de Minas Gerais, onde
recebe intimações, vem à presença de Vossa Excelência, propor a
presente

AÇÃO ORDINÁRIA COM PEDIDO LIMINAR DE TUTELA


ANTECIPADA

em face do ESTADO DE MINAS GERAIS, pessoa jurídica de direito


público interno, inscrito no CNPJ/MF sob o nº 18.715.615/0001-60,
sediado à Rodovia Papa João Paulo II, nº 3.777, Edifício Gerais, andar 7,
Cidade Administrativa, Bairro Serra Verde, Belo Horizonte, CEP. 31630-
903, no Estado de Minas Gerais, pelas razões de fato e de direito que
passa a expor.
End. 1: Rua São Paulo, 177 – Centro – Bom Despacho – MG
End. 2: Rua João Domingues de Oliveira, 40 – Centro – Ribeirão Pires – SP
Tel: (37) 999256286
Tel: (11) 977441184
I-DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

Requer, com fulcro no artigo 98 e 99 do


CPC/2015, bem como no art. 5º, inc. LXXIV, da Constituição
Federal/88, os benefícios da Justiça Gratuita à Autora por ser pobre na
forma da lei, não podendo, portanto, arcar com as custas e demais
despesas processuais sem prejuízo do próprio sustento e de sua família,
conforme declaração de hipossuficiência em anexo (01).

II- DA COMPETÊNCIA

Como é cediço, nos termos do art. 52,


parágrafo único, do NCPC, em se tratando do Estado de Minas Gerais
figurar no pólo passivo, para a presente ação é competente o foro de
domicílio do autor:

“Art. 52. (...)


Parágrafo único. Se Estado ou o Distrito
Federal for o demandado, a ação poderá ser
proposta no foro de domicílio do autor, no de
ocorrência do ato ou fato que originou a
demanda, no de situação da coisa ou na
capital do respectivo ente federado.”

A jurisprudência tem firme o entendimento


de que, no caso de ação proposta contra os Estados brasileiros – tal
como se verifica no vertente caso, referido dispositivo legal deve ser
respeitado, senão vejamos:

“EMENTA. CONFLITO DE COMPETÊNCIA


CÍVEL. DESISTÊNCIA DE AÇÃO
ANTERIORMENTE PROPOSTA NO JUIZADO
ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA DE
PIRAQUARA. DISTRIBUIÇÃO DE NOVA AÇÃO
IDÊNTICA PERANTE O 4º JUIZADO ESPECIAL
DA FAZENDA PÚBLICA DE CURITIBA.
DETERMINAÇÃO DE REMESSA DOS AUTOS
AO PRIMEIRO JUÍZO EM DECORRÊNCIA DE
SUPOSTA PREVENÇÃO. ART. 286, II, DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. SUSCITADO
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA.
AUTOR QUE ALEGA RESIDIR NA COMARCA
DE CURITIBA. AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO EFETIVA QUANTO O
DOMICÍLIO DO AUTOR. ALEGAÇÃO DE
OFENSA AO PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL.
AÇÃO PROPOSTA FACE O ESTADO DO
PARANÁ. COMPETÊNCIA TERRITORIAL
RELATIVA. ART. 52.
PARÁGRAFO ÚNICO DO CPC. AÇÃO QUE
PODERIA SER PROPOSTA TANTO NO
DOMICÍLIO DO AUTOR QUANTO NA CAPITAL
DO ENTE FEDERADO. SUMULA 33 DO STJ.
NA AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA
EFETIVA LOCALIDADE DO DOMICÍLIO DO
AUTOR QUANDO DO AJUIZAMENTO DA
PRIMEIRA AÇÃO, DEVE-SE PRESUMIR COMO
VÁLIDO O DOMICÍLIO INDICADO NA
PRIMEIRA DISTRIBUIÇÃO. OBSERVÂNCIA DA
NORMA DE PREVENÇÃO. PRINCÍPIO DA
LEGALIDADE E BOA-FÉ PROCESSUAL. (TJPR
- 4ª Turma Recursal - 0009300-
40.2019.8.16.0182 -
Piraquara - Rel.: Juiz Aldemar Sternadt - J.
23.06.2020)
(TJ-PR - CC: 00093004020198160182 PR
0009300-40.2019.8.16.0182 (Acórdão),
Relator: Juiz Aldemar Sternadt, Data de
Julgamento: 23/06/2020, 4ª Turma
Recursal, Data de Publicação: 26/06/2020)”

Noutra vertente, aplicando a Lei nº


12.153/09, em especial, o art. 2º, § 4º, em razão do valor atribuído à
causa e da matéria processual, é competente para processar, conciliar e
julgar a presente causa cível de interesse do Estado de Minas Gerais, o
Juizado Especial da Fazenda Pública:

“Art. 2º É de competência dos Juizados


Especiais da Fazenda Pública processar,
conciliar e julgar causas cíveis de interesse
dos Estados, do Distrito Federal, dos
Territórios e dos Municípios, até o valor de 60
(sessenta) salários mínimos.
(...)
§ 4º No foro onde estiver instalado Juizado
Especial da Fazenda Pública, a sua
competência é absoluta.”

Portanto, em atenção às orientações legais


e jurisprudencial, por analogia, emerge com nitidez a competência do
MM. Juízo da Vara do Juizado Especial Cível da Fazenda Pública da
Comarca de Uberlândia/MG para processar e julgar procedente a
presente ação.

III- DOS FATOS

A parte autora foi admitida junto ao quadro


de servidores efetivos do Estado de Minas Gerais, para laborar no cargo
efetivo de PEB – Professora de Educação Básica, com posse e exercício
em 06/11/2007, conforme histórico funcional em anexo (02).
Ressalta-se que, desde 13/03/1995, a ex-
servidora laborou no quadro de servidores efetivos no mesmo cargo,
estando desligada de todos os cargos já contratada e/ou efetivada,
conforme histórico funcional e declaração de situação atual anexos (03),
em razão de declaração de inconstitucionalidade da efetivação conforme
explicado a seguir, o que levou a servidora ao estado de desempregada
que encontra-se atualmente.
A retro supracitada efetivação, não apenas
da parte autora, como de milhares de servidores públicos na mesma
situação, se deu em virtude da edição da Lei Complementar nº 100, de 5
de novembro de 2.007, que lotou estes servidores no IPSEMG- Instituto
de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais.
Motivou a aludida efetivação o fato de, em
meados dos anos 2.000, o Estado de Minas Gerais contar com uma
dívida previdenciária equivalente a aproximadamente R$6bi (Seis
Bilhões de Reais), uma vez que descontava os encargos previdenciários
na folha de pagamento de 98.000 (noventa e oito mil) servidores, mas
não repassava os valores recolhidos a título de previdência ao INSS.
Parte de uma manobra política, o réu então
resolveu que a solução para o impasse previdenciário era efetivar
aproximadamente 100.000 (cem mil) servidores que detinham a
condição de designado, através da edição da Lei Complementar
Estadual nº 100/2007, e incorporá-los ao regime próprio de previdência
do Estado de Minas Gerais.
Em outras palavras, o Estado de Minas
Gerais entendeu que deveria enganar 98.000 (noventa e oito mil)
pessoas, levando-as crer que teriam estabilidade, sem concurso público,
para se ver livre de dívida que detinha com a União e, assim, fazer
empréstimos e outras benesses fiscais.
A efetivação inconstitucional de servidor
público designado, por se dar sem a realização de concurso público,
culminou no ajuizamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade de nº
4876-DF, em 16 de novembro de 2012, onde o Procurador Geral da
República, questionando a Lei Complementar nº 100/07, sob a alegação
que no atual modelo jurídico constitucional a única forma de ser titular
de cargo efetivo seria mediante aprovação em concurso público. E
convenhamos, isso deveria ser óbvio para os membros dos Poderes
Legislativos e Executivo do Estado de Minas Gerais que editaram,
aprovaram e publicaram a LC nº 100/07.
Ocorre que o Supremo Tribunal Federal
decidiu na ADI nº 4.876, em 26/03/2014, pela insconstitucionalidade
parcial do art. 7º da norma legal estadual em epígrafe, o qual permitia a
efetivação de profissionais da área da educação, sem aprovação prévia
em concurso público, retirando assim a efetividade e estabilidade que
havia sido conferida à estes servidores.
O STF, fazendo uso do mecanismo da
proporcionalidade e razoabilidade, acabou também por modular os
efeitos desta decisão, nos seguintes termos:

1- Em relação aos cargos para os quais não


haja concurso público em andamento ou
com prazo de validade em curso, dar
efeitos prospectivos à decisão, de modo a
somente produzir efeitos a partir de doze
meses, contados da data da publicação
da ata de julgamento, tempo hábil para
a realização de concurso público, a
nomeação e a posse de novos servidores,
evitando-se, assim, prejuízo à prestação
de serviços públicos essenciais à
população;
2- Quanto aos cargos para os quais exista
concurso em andamento ou dentro do prazo
de validade, a decisão deve surtir efeitos
imediatamente. Ficam, ainda, ressalvados
dos efeitos da decisão a)aqueles que já
estejam aposentados e aqueles servidores
que, até a data de publicação da ata deste
julgamento, tenham preenchido os
requisitos para a aposentadoria,
exclusivamente para efeitos de
aposentadoria, o que não implica efetivação
nos cargos ou convalidação da lei
inconstitucional para esses servidores, uma
vez que a sua permanência no cargo deve,
necessariamente, observar os prazos de
modulação acima; (b) os que foram
nomeados em virtude de aprovação em
concurso público, imprescindivelmente, no
cargo para o qual foram aprovados; e (c) a
estabilidade adquirida pelos servidores que
cumpriram os requisitos previstos no art. 19
do ADCT da Constituição Federal. ( ADI
4876/DF).

Ainda em 2.014, foi Interposto Embargos


de Declaração nesta Ação Direta de Inconstitucionalidade, por meio do
qual o Supremo Tribunal Federal decide modular os efeitos da decisão
anterior até dezembro de 2.015. E na mesma oportunidade manteve
válido todos os efeitos do Acordo realizado no Recurso Especial de nº
1135.162/MG:

2- Após o voto do Ministro Dias Toffoli


(Relator), acolhendo parcialmente os
embargos de declaração opostos pelo
Estado de Minas Gerais, para, em
relação aos servidores da educação
básica e superior do Estado, estender o
prazo de modulação dos efeitos até o
final de
dezembro de 2015, e, quanto à questão
de ordem formulada pela Advocacia
Geral da União, declarar que devem ser
mantidos válidos os efeitos produzidos
pelo acordo celebrado entre a União, o
Estado de Minas Gerais e o INSS – o
qual foi homologado judicialmente pelo
Superior Tribunal de Justiça no Recurso
Especial nº 1.135.162/MG – no que
tange à aplicação do regime próprio de
previdência social aos servidores
atingidos pela declaração de
inconstitucionalidade parcial do art. 7º
da Lei Complementar nº 100/2007, com
a manutenção do período de contribuição
junto ao regime próprio, pediu vista dos
autos a Ministra Cármen Lúcia. Plenário,
26.03.2015.

Para cumprir a decisão, o Estado de Minas


Gerais tinha duas opções: garantir a estabilidade de tais servidores ou
retorná-los ao estado anterior, qual seja, de servidores temporários, ou,
usando o termo dado pela Administração Pública Mineira, servidor
designado. Deveria também mantê-los vinculados até preenchimento de
seus cargos por servidor concursado.
Em conduta equivocada, o Estado de Minas
Gerais além de não cumprir de forma adequada a decisão proferida na
ADI 4876, também não garantiu aos trabalhadores o pagamento do
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS); do abono pecuniário
relativo as férias prêmio; do rateio; do prêmio por produtividade; do
quinquênio; do biênio; e nem deu continuidade ou reparação pelo
desconto compulsório relativo a assistência médica, odontológica e
social
aos ex-efetivados. Por fim, causou vários prejuízos de ordem moral e
patrimonial, seja pela perda da estabilidade, assim como referente aos
descontos promovidos à título de contribuição previdenciária ao
IPSEMG sem possibilidade de continuarem vinculados a este sistema ou
uma contrapartida indenizatória.
Data vênia, o ato do Governo de Minas
Gerais de edição da Lei Complementar nº 100/07, apesar do intuito
benéfico, trouxe prejuízos a estes milhares de trabalhadores que
perderam uma série de direitos e garantias estatutários e até mesmo
previdenciários.
Neste diapasão, o advogado, como parte
fundamental na administração da justiça, deve pleitear requerendo, no
mínimo, os direitos dos servidores lesados por ato exclusivo do Governo,
buscando assim equilibrar a balança da justiça, tão representada de
várias formas, ponderando a equivalência entre o justo e o injusto, o
certo e o errado.
Destarte, a aprovação, no mínimo, do
depósito do FGTS, referente ao período de tempo em que a autora esteve
em exercício do cargo efetivo; da estabilidade já conferida à servidora
pública ou alternativadamente do acesso priorizado no serviço público;
do permanecimento da filiação no IPSEMG para fins previdenciários ou
alternativamente da devolução das contribuições previdenciárias já
efetuadas; da reintegração no plano de saúde IPSEMG; da restituição
dos valores referentes à contribuição compulsória para custeio de
assistência médica, hospitalar, odontológica, social, farmacêutica e
complementar; do recebimento dos valores equivalentes ao pagamento
dos quinquênios já adquiridos; e do pagamento relativo aos valores de
rateio sobre o ano de 2.015, é medida que se impõe, conforme razões de
direito que se lhes segue evidenciadas.

IV- DA TUTELA DE EVIDÊNCIA

O Novo Código de Processo Civil, em seu art.


311, inc. II, autoriza o juiz a conceder a tutela de evidência,
independentemente da demonstração de perigo de dano ou de risco ao
resultado útil do processo, quando as alegações de fato puderem ser
comprovadas documentalmente e houver tese firmada em julgamento de
casos repetitivos.
É o que resta evidenciado conforme
documentação anexa e argumentações de direito a seguir.
A tutela de evidência está baseada numa
demonstração do direito da parte com grau de probabilidade tão
elevado, que o torna desde logo evidente, resulta em tratamento
diferenciado pelo juiz, a fim de evitar o sacrifício do direito da autora
frente ao tempo do processo.
O entendimento do STJ-Superior Tribunal
de Justiça, em tese firmada em decorrência do Tema com Repercussão
Geral nº 1020, publicado em 07/08/2020, é o seguinte:

“Situação do Tema: Acórdão


PublicadoQuestão submetida a julgamento:
Análise acerca da aplicação do art. 19-A da
Lei n. 8.036/1990 - depósito do Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço - no caso de
servidores efetivados em cargo público pelo
Estado de Minas Gerais, sem aprovação em
concurso público, por meio de dispositivo da
Lei Complementar n. 100/2007, declarado
posteriormente inconstitucional pelo Supremo
Tribunal Federal, na ADI 4.876/DF.Tese
Firmada: Os servidores efetivados pelo
Estado de Minas Gerais submetidos ao
regime estatutário, por meio de dispositivo da
LCE n. 100/2007, declarado posteriormente
inconstitucional pelo STF na ADI 4.876/DF,
têm direito aos
depósitos no FGTS referentes ao período
irregular de serviço prestado.Anotações
Nugep: Afetação na sessão eletrônica iniciada
em 19/6/2019 e finalizada em 25/6/2019
(Primeira Seção).
Vide Controvérsia n. 91/STJ.
Vide Tema 141/STJ.Repercussão Geral:
Tema 308/STF - Efeitos trabalhistas
decorrentes de contratação pela
Administração Pública de empregado não
submetido à prévia aprovação em concurso
público.
Tema 916/STF - Efeitos jurídicos do contrato
temporário firmado em desconformidade com
o art. 37, IX, da Constituição Federal.
(STJ, Tema nº 1020, publicada em
07/08/2020)”

Este é o mesmo entendimento do Tribunal


de Justiça do Estado de Minas Gerais, em tese firmada em julgamento
de casos repetitivos. Apresenta-se ementa de acórdãos em razão de
interposição de dois recursos de apelação 1.0000.17.010362-6/001 e
1.0024.14.307925-9/001, de relatoria da Desembargadora Ana Paula
Caixeta, que reconheceu o direito de ex-servidoras efetivadas pela
Lei 100 aos depósitos de FGTS:

“EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - DIREITO


CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO -
SERVIDOR PÚBLICO - ESTADO DE MINAS
GERAIS - EFETIVAÇÃO PELA LEI
COMPLEMENTAR Nº 100/2007 -
INCONSTITUCIONALIDADE - STF - ADI Nº
4.876/DF - NULIDADE DO VÍNCULO -
ADMISSÃO SEM CONCURSO - DIREITO AO
FGTS - ENTENDIMENTO DECORRENTE DO
RECURSO EXTRAORDINÁRIO Nº 765.320/MG.
- Declarada a inconstitucionalidade dos
dispositivos da Lei Complementar Estadual nº
100/2007 que promoviam a efetivação de
servidores admitidos sem concurso público,
impõe-se reconhecer a nulidade do vínculo
mantido com a Administração, visto que não
atende aos requisitos para contratação de
servidores previstos na Constituição Federal
(art. 37, II e IX) e nas Leis Estaduais nº
10.254/90 e
18.185/09.
- Ao julgar o Recurso Extraordinário nº
765.320/MG, o STF reconheceu o direito ao
FGTS para o servidor cujo vínculo foi declarado
nulo, por violação aos preceitos constitucionais
que regem a admissão de servidores públicos,
notadamente o disposto no art. 37, II e IX, da
CF/88.
- Evidenciada a nulidade do vínculo firmado
entre o servidor e o Estado de Minas Gerais,
diante da admissão sem concurso e fora das
hipóteses que autorizam sua dispensa, impõe-
se o reconhecimento do direito aos depósitos de
FGTS (STF, RE nº 765.320/MG), respeitada a
prescrição quinquenal (Decreto nº
20.910/32). (TJMG -
Apelação Cível 1.0000.17.010362-6/001,
Relator(a): Des.(a) Ana Paula Caixeta , 4ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 23/11/0017,
publicação da súmula em 24/11/2017)”

E, ainda:

“EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - DIREITO


CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO -
SERVIDOR PÚBLICO - ESTADO DE MINAS
GERAIS - EFETIVAÇÃO PELA LEI
COMPLEMENTAR Nº 100/2007 -
INCONSTITUCIONALIDADE - STF - ADI Nº
4.876/DF - NULIDADE DO VÍNCULO -
ADMISSÃO SEM CONCURSO - DIREITO AO
FGTS - ENTENDIMENTO DECORRENTE DO
RECURSO EXTRAORDINÁRIO Nº 765.320/MG.
- Declarada a inconstitucionalidade dos
dispositivos da Lei Complementar Estadual nº
100/2007 que promoviam a efetivação de
servidores admitidos sem concurso público,
impõe-se reconhecer a nulidade do vínculo
mantido com a Administração, visto que não
atende aos requisitos para contratação de
servidores previstos na Constituição Federal
(art. 37, II e IX) e nas Leis Estaduais nº
10.254/90 e
18.185/09.
- Ao julgar o Recurso Extraordinário nº
765.320/MG, o STF reconheceu o direito ao
FGTS para o servidor cujo vínculo foi declarado
nulo, por violação aos preceitos constitucionais
que regem a admissão de servidores públicos,
notadamente o disposto no art. 37, II e IX, da
CF/88.
- Evidenciada a nulidade do vínculo firmado
entre o servidor e o Estado de Minas Gerais,
diante da admissão sem concurso e fora das
hipóteses que autorizam sua dispensa, impõe-
se o reconhecimento do direito aos depósitos de
FGTS (STF, RE nº 765.320/MG), respeitada a
prescrição quinquenal (Decreto nº
20.910/32). (TJMG -
Apelação Cível 1.0024.14.307925-9/001,
Relator(a): Des.(a) Ana Paula Caixeta , 4ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 23/11/0017,
publicação da súmula em 28/11/2017)”

Isso posto, requer-se a tutela provisória de


evidência, baseada na jurisprudência consolidada do tribunal, perante a
existência de pressuposto fático e jurídico, e considerando a
probabilidade de acolhimento da presente pretensão processual,
fundada em decisões de mesmo grau de hierarquia e de tribunal
superior, com fulcro no dispositivo legal retro supracitado.

V-DO DIREITO DE COBRANÇA DO SALDO DO FGTS

O FGTS-Fundo de Garantia por Tempo de


Serviço é constituído por meio de depósitos mensais realizados pelos
empregadores em conta vinculada aos trabalhadores e tem por fim
garantir ao empregado estabilidade no emprego, além de auxílio
monetário em caso de despedida sem justa causa.
Segundo a Lei nº 8.036/90, no início de
cada mês, o empregador deve depositar, em conta aberta na Caixa
Econômica Federal, em nome do empregado, valor correspondente a 8%
(oito por cento) da remuneração deste, que pode movimentá-la sempre
que verificada uma das hipóteses estabelecidas no art. 20 da referida Lei.
A Constituição Federal/1988, no capitulo
que trata sobre os direitos sociais, em seu art. 7º, inc. III, dispõe:

“Art. 7º São direitos dos trabalhadores


urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social:
(...)
III - fundo de garantia do tempo de serviço;”

Ainda, a Lei Federal nº 8.036, de 11 de


maio de 1.990, que dispõe sobre o Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço, e dá outras providências, em seu art. 19-A, “caput”, dispõe que:

“Art. 19-A. É devido o depósito do FGTS na


conta vinculada do trabalhador cujo contrato
de trabalho seja declarado nulo nas hipóteses
previstas no art. 37, § 2º, da Constituição
Federal, quando mantido o direito ao salário”

Diante o exposto, é sabido que a declaração


de nulidade do ato inconstitucional de efetivação de servidores públicos,
por parte do Governo de Minas Gerais, sem concurso público, mediante
a edição e publicação da Lei Complementar nº 100/07, é medida que
deve ser praticada por parte da própria Administração Pública, usando
do seu poder de autotutela administrativa, ou, por parte do Poder
Judiciário.
Seguindo o raciocínio, com a declaração de
nulidade do ato administrativo, encerrou-se o vínculo com os ex-
servidores efetivados, o que leva a entender pelo percebimento do saldo
do FGTS.
Esse é o mesmo entendimento do STJ-
Superior Tribunal de Justiça, em tese firmada em decorrência do Tema
com Repercussão Geral nº 1020, publicado em 07/08/2020:

“Situação do Tema: Acórdão


PublicadoQuestão submetida a julgamento:
Análise acerca da aplicação do art. 19-A da
Lei n. 8.036/1990 - depósito do Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço - no caso de
servidores efetivados em cargo público pelo
Estado de Minas Gerais, sem aprovação em
concurso público, por meio de dispositivo da
Lei Complementar n. 100/2007, declarado
posteriormente inconstitucional pelo Supremo
Tribunal Federal, na ADI 4.876/DF.Tese
Firmada: Os servidores efetivados pelo
Estado de Minas Gerais submetidos ao
regime estatutário, por meio de dispositivo da
LCE n. 100/2007, declarado posteriormente
inconstitucional pelo STF na ADI 4.876/DF,
têm direito aos depósitos no FGTS referentes
ao período irregular de serviço
prestado.Anotações Nugep: Afetação na
sessão eletrônica iniciada em 19/6/2019 e
finalizada em 25/6/2019 (Primeira Seção).
Vide Controvérsia n. 91/STJ.
Vide Tema 141/STJ.Repercussão Geral:
Tema 308/STF - Efeitos trabalhistas
decorrentes de contratação pela
Administração Pública de empregado não
submetido à prévia aprovação em concurso
público.
Tema 916/STF - Efeitos jurídicos do contrato
temporário firmado em desconformidade com
o
art. 37, IX, da Constituição Federal.
(STJ, Tema nº 1020, publicada em
07/08/2020)”

Isso posto, verifica-se que é indiscutível


essa questão, vez que existe decisão recente do STJ sobre o caso em
comento, pelo que requer-se a liberação e posterior depósito do saldo
devido na conta vinculada da autora.

VI- DO DIREITO DE CORREÇÃO MONETÁRIA DO SALDO CREDOR


DE FGTS

O direito do trabalhador de correção


monetária do FGTS encontra-se previsto no art. 13, “caput”, da Lei
Federal nº 8.036/90, que assim dispõe:

“Art. 13. Os depósitos efetuados nas contas


vinculadas serão corrigidos monetariamente
com base nos parâmetros fixados para
atualização dos saldos dos depósitos de
poupança e capitalização juros de (três) por
cento ao ano.”

A Lei, portanto, dispõe que o fundo deverá


ser corrigido monetariamente e a correção monetária não representa
qualquer acréscimo, mas simples recomposição do valor da moeda
corroído pelo processo inflacionário (STJ, REsp nº 1.191.868, 2ª Turma,
Rel. Min. Eliana Calmon, j. 15/06/2010 e p. 22/06/2010).
A Taxa Referencial (TR) foi índice capaz de
refletir a inflação ocorrida na economia brasileira por significativo
período de tempo, durante o qual não havia quaisquer razões para se
opor à sua aplicação. Não é, contudo, a realidade desde janeiro de
1.999, a partir de quando a taxa deixou de espelhar a desvalorização da
moeda, e, portanto,
deixou de haver a correção monetária prevista em lei.
Inquestionável a
desigualdade/desproporção entre a TR e de outro lado, o IPCA-E e o INPC.
Sendo assim, a Lei nº 8.036/90 determina
que deve ser obrigatoriamente aplicado ao saldo de suas contas índice
de correção monetária, não sendo a Taxa Referencial (TR), índice
disposto pela Lei 8.177/91, hábil a atualizar monetariamente tais
saldos, e estando tal índice em lei não específica do FGTS, entende-se
que como inconstitucional a utilização da TR para tal fim, subsistindo a
necessidade de aplicar-se índice de correção monetária que reflita a
inflação do período, tal como prevê a Lei nº 8.036/90.
Nesse sentido, os índices que atualmente
têm refletido a variação inflacionária brasileira são o INPC e o IPCA-E.
No Manual de Cálculos da Justiça Federal
incide o IPCA-e como indexador de Correção Monetária para as
sentenças condenatórias em geral, conforme se pode verificar no sítio do
cjf na internet (www.cjf.jus.br), representado pela tabela anexada a esta
exordial.
Assim sendo, e por todo exposto, é que a
autora requer que seja tal índice considerado para correção monetária
do saldo credor do FGTS, para fins de dar cumprimento à atualização
monetária dos saldos das contas do FGTS, prevista no art. 2º da
Lei 8.036/90, em substituição à TR. Além disso, tais valores deverão ser
acrescidos de juros de mora de 1% a. M. (um por cento ao mês), a
contar da citação, até o efetivo pagamento.
Este cálculo, em caso de deferimento,
referente à correção monetária e juros de mora, deve ser realizado na
fase de liquidação da sentença, levando-se em conta o índice com
referência ao mês/ano referente à sentença decisória.
VII- DA MULTA DO FGTS NO PERCENTUAL DE 40%

A Lei nº 8.036/90, que dispõe sobre o


Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS, prevê uma série de
proteções financeiras ao trabalhador brasileiro, dentre elas, a multa
rescisória aplicável quando da demissão sem justa causa, isto é,
quando o trabalhador não deu motivos para a demissão.
Tal multa encontra fundamentação legal no
Capítulo V, art. 477 e seguintes da CLT, assim como no art. 18, § 1º, da
Lei nº 8.036/90.
No caso em tela, os servidores efetivados
pela Lei Complementar nº 100/07 foram exonerados ex officio por parte
do Estado de Minas Gerais, por ter sido posteriormente declarada a
nomeação inconstitucional. Apesar da autora ter sido admitida
principialmente no quadro de servidores do Estado de Minas Gerais pelo
vínculo estatutário, a posteriori, a admissão foi declarada
inconstitucional em ADI, pelo que presume-se, então, que o tempo de
serviço prestado ao ente estadual foi pelo vínculo celetista, sendo assim,
é devido o saldo do FGTS nele incorporados todos os demais direitos
nele abrangidos, inclusive a multa rescisória. É o que decidiu o STJ em
Tema com Repercussão Geral já citado nesta exordial.
Caso Vossa Excelência entenda não ser
direito da autora a multa de 40% (quarenta por cento) do FGTS, que
autorize o pagamento de forma indenizável, como forma de reparação
dos danos causados à autora pelo ato unilateral praticado pelo Estado
de Minas Gerais, tendo em vista a perca da estabilidade e a demissão
sem justa causa.

VIII- DO CÁLCULO DOS VALORES


DEVIDOS DO FGTS, COM CORREÇÃO
MONETÁRIA

Tendo em vista que a prescrição para


cobrança de valores não pagos de FGTS, no caso em tela, é trintenal,
considerando-se que o contrato de trabalho foi declarado nulo com o
julgamento da ADI nº 4.876, em 26/03/2014, antes do julgamento do
tema de repercussão geral do STF (ARE 709.212/DF), em 13/11/2014,
com publicação em 19/02/2015:

“Súmula nº 362 do TST


FGTS. PRESCRIÇÃO (nova redação) - Res.
198/2015, republicada em razão de erro
material – DEJT divulgado em 12, 15 e
16.06.2015
I – Para os casos em que a ciência da lesão
ocorreu a partir de 13.11.2014, é quinquenal
a prescrição do direito de reclamar contra o
não- recolhimento de contribuição para o
FGTS, observado o prazo de dois anos após o
término do contrato;
II – Para os casos em que o prazo
prescricional já estava em curso em
13.11.2014, aplica-se o prazo prescricional
que se consumar primeiro: trinta anos,
contados do termo inicial, ou cinco anos, a
partir de 13.11.2014 (STF-ARE- 709212/DF).”
“Súmula nº 210 do STJ
A AÇÃO DE COBRANÇA DAS
CONTRIBUIÇÕES PARA O FGTS PRESCREVE
EM TRINTA (30) ANOS.”

Considerando-se, então, que:


1. O termo inicial do prazo prescricional
é 26/03/1984;
2. O termo final do prazo prescricional é
26/03/2014;
3. A autora iniciou o exercício nas
funções do cargo efetivo, pela Lei Complementar nº 100/07, no cargo de
PEB – Professora de Educação Básica, em 06/11/2007;
É devido o saldo do FGTS durante o
período de 06/11/2017 a 26/03/2014 em que a autora laborou em
cargo dito efetivo no ente público estadual, sob a égide da Lei
Complementar nº 100/07, conforme tabela abaixo:

Início 06/11/2007
Fim 26/03/2014
Meses trabalhados 77
Salário base R$ 1.906,04
Depósito FGTS/mês (8%) R$ 152,48
Saldo FGTS R$ 11.741,21
Juros R$ 31,84
Saldo FGTS Corrigido R$ 12.944,33
Multa 40% R$ 5.177,73
Total R$ 18.122,07

IX- DO IPSEMG PREVIDENCIÁRIO

Em todo o período de vínculo, tanto antes


da edição da LC 100/MG, quanto depois, todas as contribuições
previdenciárias dos ex-efetivados foram devidamente descontadas pelo
Estado e destinadas ao IPSEMG.
Cabe lembrar que em julho de 2010,
mediante Acordo feito no Recurso Especial de nº. 1135162 MG, entre o
Estado de Minas Gerais e o INSS, foi confirmada a vinculação definitiva
ao IPSEMG, inclusive quanto ao direito à aposentadoria pelo regime
especial. Veja abaixo trecho do acordo retirado da página 582 do
referido processo:

“D) A União e o INSS RECONHECEM que os


servidores do Estado de Minas Gerais
(incluindo suas autarquias, fundações, o
Ministério Público, o Tribunal de Contas do
Estado e todos os Poderes – Executivo,
Legislativo e JUDICIÁRIO) EFETIVADOS NOS
TERMOS DA LEGISLAÇÃO MINEIRA,
especialmente aqueles enquadrados NAS
ESPÉCIES A SEGUIR LISTADAS, INTEGRAM
REGIME PRÓPRIO de Previdência dos
Servidores Públicos do Estado de Minas
Gerais:
II – SERVIDORES A QUE SE REFEREM OS
ARTS. 7º E 9º DA LEI COMPLEMENTAR
MINEIRA Nº 100, DE 5 DE NOVEMBRO DE
2007, INCLUSIVE AQUELES QUE JÁ
TENHAM IMPLEMENTADO TODOS OS
REQUISITOS NECESSÁRIOS À CONCESSÃO
DO BENEFÍCIO ATÉ ESTA DATA, BEM COMO
OS BENEFÍCIOS DELE DECORRENTES.”

Nesse sentido, em Dezembro de 2010, o


INSS edita a resolução nº 135, baseada no Acordo acima referido.
A resolução nº 135 prevê em seu artigo 2º:

“ Art. 2º Os servidores do Estado de Minas


Gerais - incluindo suas Autarquias,
Fundações, Ministério Público, Tribunal de
Contas do Estado e todos os órgãos dos
Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário -
efetivados nos termos da legislação mineira,
especialmente aqueles enquadrados nas
situações a seguir citadas, integram o Regime
Próprio de Previdência dos Servidores do
Estado de Minas Gerais: II - servidores a que
se referem os arts. 7º e 9º da Lei
Complementar Mineira nº 100, de 5 de
novembro de 2007, inclusive aqueles que já
tenham preenchido todos os requisitos
necessários à concessão do benefício até a
data da sua publicação, bem como os
benefícios dele decorrentes.”

Após a edição destes instrumentos


jurídicos acima citados, em 2012, foi proposta a ADI 4876/DF, e
posteriormente, foi interposto Embargos de declaração. Nesta
oportunidade, manteve válido todos os efeitos do Acordo realizado no
Recurso Especial de nº 1135.162/MG. Convém destacarmos o trecho da
decisão:

“(…) declarar que devem ser mantidos válidos


os efeitos produzidos pelo acordo celebrado
entre a União, o Estado de Minas Gerais e o
INSS – o qual foi homologado judicialmente
pelo Superior Tribunal de Justiça no Recurso
Especial nº 1.135.162/MG – no que tange à
aplicação do regime próprio de previdência
social aos servidores atingidos pela
declaração de inconstitucionalidade parcial
do art. 7º da Lei Complementar nº 100/2007,
com a manutenção do período de contribuição
junto ao regime próprio(...)”

O fato de ter havido a “desefetivação” não


impede a continuação do vínculo previdenciário com o IPSEMG. Para
completar, quando proferida a decisão do STF, este não se ocupou de
alteração do regime previdenciário dos servidores que deixariam de ser
efetivos, tampouco estabeleceu regras para o caso dos ex-efetivados ,
aqui relatado.
Não há nenhuma ordem judicial no sentido
de que o INSS deve receber em seus quadros, obrigatoriamente, ex-
efetivados. Ainda porque, o IPSEMG fez os recolhimentos, está na posse
desses valores e não pode simplesmente desamparar os “ex-efetivados
lei 100”.
Ademais, é notório o prejuízo causados aos
filiados, diante o fato de que não poderão mais se aposentar pelo
IPSEMG, uma vez que a aposentadoria pelo regime geral da previdência
social (RGPS) submeterá os filiados ao fator previdenciário, que reduz
drasticamente o valor do benefício previdenciário, e não lhe dá direito ao
abono de permanência, caso complete os requisitos para se aposentar
de forma voluntária.
Nesse sentindo, abordamos adiante a
conexão do plano fático e a respectiva ofensa aos ditames jurídicos
vigentes.
De imediato o primeiro princípio violado foi
o da segurança jurídica em seus aspectos objetivos e subjetivos. Nas
palavras do Jurista e Procurador Federal Bruno Maciel Braga, “a
natureza objetiva, tem a ver com a estabilização do ordenamento jurídico,
a partir do respeito ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa
julgada; já o aspecto subjetivo, relacionase com a proteção da confiança
do cidadão frente as expectativas geradas pela Administração Pública”. É
inegável o abalo da segurança jurídica na relação dos ex-efetivados com
o réu.
A segunda violação, diz respeito ao
princípio da boa-fé e sua aplicação na Administração Pública.
Na seara Jurídica, existem dois tipos de
boa-fé, objetiva e subjetiva. A boa-fé objetiva diz respeito a conduta
segundo os ditames da lealdade e honestidade na realização de qualquer
ato. A boa-fé subjetiva pode ser considerada um estado psicológico de
agir segundo as normas e princípios jurídicos.
Obviamente a conduta do réu em negar a
continuidade da filiação dos ex-efetivados ao IPSEMG, para fins
previdenciários, mesmo recebendo todas as contribuições, vai ao
encontro da má-fé e do abuso de suas atribuições.
Veja que a razoabilidade faz parte do rol de
princípios que devem ser obedecidos pela Administração. Esse princípio
tem como objetivo impedir a atuação despropositada do agente público e
atos que extrapolam os limites da lei. Visa ainda impor limites a atuação
discricionária do agente.
É certo que o réu não somente deu
aplicação equivocada da decisão proferida em ADI 4678/DF, como
também ofendeu os princípios da razoabilidade e proporcionalidade
Pelas razões acima expostas, deve ser
garantido o direito da autora de permanecer filiada ao IPSEMG,
independente se esteja na condição de efetivada ou designada, dando
continuidade à contribuição previdenciária ou, alternativamente, diante
dos prejuízos causados, já que o RGPS é evidentemente menos
vantajoso, requer a indenização substitutiva a fim de minimizar os
danos já causados.

X-DO DIREITO À ESTABILIDADE/PERMANÊNCIA/PRIORIDADE NO


SERVIÇO PÚBLICO

Sob a justificativa de dar cumprimento a


decisão proferida na ADI 4876/DF, em 31 de dezembro de 2015, o
Estado exonerou 57.921 servidores sob a alegação de cumprir decisão
do STF.
No entanto, deve-se considerar que a
autora ocupa o cargo dito efetivo desde 13/03/1995, isto é, mais de 12
(doze) anos antes da efetivação inconstitucional, que se consolidou no
decurso do tempo.
Sabe-se que os atos praticados pelo
Estado, ainda que ilegais, podem ser convalidados ao longo do tempo
diante a aplicação do fato consumado, segurança jurídica, da
estabilidade das relações sociais, da confiança, da boa-fé e da dignidade
da pessoa
humana.
Adiante, ainda que tenha havido a
declaração de inconstitucionalidade do artigo. 7º da LC 100/2007, tal
decisão não pode afetar o direito de tais servidores, pois, ainda que
tivessem sido efetivados através da referida lei, a estabilidade já foi
adquirida em face do tempo em que já se encontravam no serviço
público.
Desta forma, os ex-efetivados LC 100/07
tem o direito em permanecer no serviço público porquanto uma vez que
não seria possível o Estado de Minas Gerais anular os atos
administrativos oriundos da lei 100/07, uma vez que foram atingidos
pelo instituto da decadência.
Por outro lado, ainda que se fosse
inadmitido a tese do fato consumado referente ao direito à estabilidade
destes servidores, também não há um trecho sequer da decisão daquele
órgão judicial que determinasse a exoneração em massa destes
servidores de suas atividades. Em último caso, deveria ocorrer apenas a
anulação dos contratos de trabalho na condição de servidor efetivo.
Deve-se ressaltar que, na ocasião de uma
declaração de inconstitucionalidade, pode ocorrer tão somente a
invalidade dos atos praticados em virtude da lei inconstitucional,
retornando ao estado anterior que, no caso dos ex-efetivados LC
100/2007, seria da condição de servidor efetivado para servidor
designado.
Além disso, interpretando a modulação dos
efeitos concedida pelo STF, nota-se que este órgão ordenou a
substituição destes servidores “efetivados lei 100”, por cidadão aprovado
em Concurso Público para a vaga correspondente ao cargo ocupado pelo
“efetivado lei 100”.
Em outros termos, a exoneração imediata
apenas deveria acontecer se o “efetivado lei 100” estivesse ocupando
cargo para o qual havia concurso vigente, ou, em caso de não haver
concurso vigente, concedeu-se um prazo razoável para que fosse
realizado concurso, prazo este até 15/12/2015.
Mas não foi o que ocorreu. Apesar do réu
ter realizado Concurso Público no ano de 2.014 para preenchimentos de
vagas da Educação, é sabido que não foi disponibilizado neste edital
vagas preenchidas por “efetivados lei 100”. Os cargos que estes
profissionais ocupavam tornaram vagos tão logo foram exonerados e
não havia nenhum concursado aprovado para estes cargos. Aliás, até a
presente data não há.
Em pesquisa, verificou-se que o Estado de
Minas Gerais realizou 6 concursos na área da Educação desde 1988, a
saber: 1996, 2001, 2004, 2005, 2011 e 2014, dos quais vários
efetivados LC 100/07 haviam sido aprovados. Desde 1996 foram
ofertadas em Concurso Público, aproximadamente 110.000 mil vagas.
Houve 283.377 candidatos classificados, mas apenas uma minoria foi
nomeada e tomou posse dos cargos. No ano de 2018, segundo dados
publicados pelo Estado de Minas Gerais, este possui na área da
Educação, 140 mil servidores designados.
Ora, se foram “desefetivados”
aproximadamente 58.000 servidores LC 100/2007, certo que ficaram
vagos 58.000 cargos que, segundo decisão do STF deveriam ser
preenchidos por servidor concursado. O concurso de 2014
disponibilizou apenas 15.000 vagas. Nos anos posteriores houve
milhares de designações. É claro que as vagas que eram ocupadas pelos
ex-efetivados estão sendo ocupados por servidores designados, vez que
trata-se de profissionais indispensáveis que prestam serviços
continuados a fim de garantir direito constitucional fundamental da
educação aos brasileiros destinatários.
Acontece, que o Estado de Minas Gerais, a
fim de burlar o princípio do Concurso Público, está realizando de forma
permanente designações para exercícios da função pública aos moldes
do artigo 10 da Lei 10.254/1990 que autoriza o réu a suprir a
comprovada necessidade de pessoal nos casos de substituição,
durante o
impedimento do titular do cargo ou cargo vago, e exclusivamente até o
seu definitivo provimento, desde que não haja candidato aprovado em
concurso público para a classe correspondente.
Atualmente, as vagas que eram ocupadas
por “efetivados lei 100” estão preenchidas por servidores designados, em
processos seletivos de designação que ocorreram em 2015 e 2019,
instituto utilizado pelo Estado de Minas Gerais para contratar
servidores de forma excepcional e temporária, bem como para atender o
excepcional interesse público. O réu vem contratando milhares de
servidores temporários para substituir os ex-efetivados.
Apesar dos efetivados lei 100/2007 terem
prestado serviço durante 8, 10, 20 anos e serem enganados por uma lei
inconstitucional criada pelo Estado de Minas Gerais, muitos deles terem
sido aprovados em concursos sem a devida nomeação, foram
exonerados de forma abrupta sem qualquer compensação pelos danos
sofridos pela perda do cargo. O réu sequer deu preferência a estes
servidores para se manterem como designados. A imensa maioria foi
jogada à própria sorte, engrossando a fila de desempregados, sem
qualquer forma de compensação, ao contrário do que ocorre em
contratos de trabalho celetistas em que há fontes preventivas de
sobrevivência em caso de demissão sem justa causa, como os depósitos
de FGTS e acerto rescisório.
Considerando que com a
inconstitucionalidade da Lei 100/2007 aqueles “ efetivados” passariam
a ser “ ex efetivados” e, portanto, designados, não seria lógico que o réu,
adotando o paradigma constitucional de preservar a dignidade de seus
cidadãos, permanecesse com esses cidadãos na condição de estáveis ou
designados até que se promovesse a troca por cidadão aprovado por
concurso? Não seria esta uma forma de minimizar os prejuízos que o
réu causou ao enganar milhares de cidadãos forjando sua efetividade?
Certo é que o réu errou no cumprimento de
decisão proferida em sede de ADI 4876/DF. Essa decisão judicial
determinou a invalidade da Lei que seria tão somente relativo a
qualidade
de efetivos dos cargos ocupadores pelos servidores enquadrados na LC
100/2007. Não houve determinação judicial para que o réu promovesse
exoneração em massa. Pelo contrário, o que houve foi uma decisão
extremamente razoável, determinando a realização de concursos para
preenchimento de cargos ocupados por “ efetivados lei 100”. A decisão
do STF determina o retorno ao status quo ante destes “efetivados lei
100” para condição de designados com o intuito de preservar-lhes a
dignidade e o trabalho. Sendo assim, deveriam permanecer na condição
de designados até que haja concurso público preenchendo as vagas que
eram ocupadas por eles enquanto efetivados de modo inconstitucional.
Referente à estabilidade suscitada,
considerando que a autora iniciou a carreira em cargo público efetivo
em 06/11/2007, com desligamento em 01/01/2016. Com isso,
depreende- se que em 06/11/2010 a autora adquiriu a estabilidade no
cargo público efetivo, conforme rege o art. 35, “caput”, da Constituição
do Estado de Minas Gerais, que assim dispõe:

“Art. 35 – É estável, após três anos de efetivo


exercício, o servidor público nomeado para
cargo de provimento efetivo em virtude de
concurso público.”

Em razão de declaração de
inconstitucionalidade da Lei Complementar nº 100/07 pela ADI nº
4.876/14, ocorreu a exoneração ex officio dos servidores efetivados, com
base no art. 35, § 1º, inc. I, da Constituição do Estado de Minas Gerais.

“§ 1º – O servidor público estável só perderá o


cargo:
I – em virtude de sentença judicial transitada
em julgado;”

Insta salientar ainda o disposto no art. 18


do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias:

“Art. 18. Ficam extintos os efeitos jurídicos de


qualquer ato legislativo ou administrativo,
lavrado a partir da instalação da Assembléia
Nacional Constituinte, que tenha por objeto a
concessão de estabilidade a servidor
admitido sem concurso público, da
administração direta ou indireta, inclusive
das fundações instituídas e mantidas pelo
Poder Público.”

Todavia, é imperioso ressaltar que, em que


pese a inconstitucionalidade da lei em comento e a declaração de
nulidade do vínculo efetivo firmado entre a autora e o Estado de Minas
Gerais, a autora não pode ser prejudicada com a perda das várias
benesses concedidas legalmente, na medida em que exercia suas
atividades como se efetiva fosse, inclusive a estabilidade.
Não houve solicitação, sequer concordância
da autora com a efetivação no cargo de PEB – Professora de Educação
Básica, que ocorreu por ato exclusivo e discricionário do Governador do
Estado de Minas Gerais.
Saliente-se que quem legislou cometendo
vício de constitucionalidade por ação objetiva formal ou monodinâmica,
ato nulo de pleno direito com efeitos ex tunc, foi o Governador do Estado
de Minas Gerais, que inclusive deve responder pelo ato lesivo causado a
um número determinável de milhares de pessoas. Não houve nenhuma
parcela, nem influência da autora em seu ato.
Foram vários os prejuízos causados à
autora, tendo em vista que a estabilidade conferida a ela pressupõe
certa segurança estatutária e financeira e, em alguns casos, impede a
nomeação e posse em outro cargo público que constitucionalmente pode
ser inacumulável, o que restringe até mesmo a elevação profissional,
seja
no âmbito público ou privado. Mesmo “efetivada”, a servidora perdeu o
cargo em 01/01/2016, devido ao fim do prazo de aplicação da ADI, e
desde então está desempregada, não tendo mais sido contratada,
mesmo que fosse sob a chancela de designada.
Importante frisar também que o
psicológico, não apenas da servidora, como de milhares de ex-servidores
na mesma situação, ficou por vasto tempo muito abalado, tendo em
vista a pressão psicológica causada pela incerteza gerada por anos de
possível e eventual afastamento/suspensão/desligamento do quadro de
servidores estaduais. Tal fato foi motivo ensejador de abalos, bloqueios e
transtornos psicológicos que uma vez instaurados, tornam-se
irreparáveis, inesquecíveis e lesivos à vida e saúde tão defendidas na
seara dos direitos humanos, constitucionais, internacionais, entre
outras áreas do Direito.
Também é importante ressaltar que por
mais que a efetivação e estabilização no serviço público tenha ocorrido
de forma inconstitucional, há presença do instituto da prescrição ou da
decadência, em razão do vasto tempo decorrido sem ação do Estado de
Minas Gerais.
Ante todo o exposto, por ser medida justa
em razão dos prejuízos causados à autora, sem qualquer parcela de
culpa ou dolo e sem nenhum envolvimento no ato administrativo
inconstitucional praticado exclusivamente pelo Governador do Estado
de Minas Gerais, é que pleiteia-se nesta ação o direito a reintegração da
autora, ex efetivada lei 100, exonerada em virtude da ADI 4876/DF, no
cargo efetivo estadual de PEB – Professora de Educação Básica, e,
ainda, da estabilidade já conferida, haja vista, já ter sido aprovada em
estágio probatório, ou, alternativamente, a determinação de que a sua
vaga no serviço público seja ocupada apenas por cidadão aprovado em
concurso público para o cargo.
XI- DO DIREITO AO PLANO DE SAÚDE

O direito à saúde é um direito


constitucional social e ainda de todos os trabalhadores, conforme
insculpido nos artigos 6º e 7º, inc. IV, da Constituição Federal/88:

“Art. 6º São direitos sociais a educação, a


saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia,
o transporte, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade
e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição.
(Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 90, de 2015)
Art. 7º São direitos dos trabalhadores
urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social:
(...)
IV - salário mínimo , fixado em lei,
nacionalmente unificado, capaz de atender a
suas necessidades vitais básicas e às de sua
família com moradia, alimentação, educação,
saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e
previdência social, com reajustes periódicos
que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo
vedada sua vinculação para qualquer fim;”

Assim sendo, é sabido que após ser


demitido ou exonerado, o trabalhador tem direito de permanecer no
plano de saúde, nas mesmas condições de cobertura assistencial de que
gozava quando da contratação, desde que assuma o pagamento.
É o que se infere da Súmula nº 440 do TST:
“Súmula nº 440 do TST
AUXÍLIO-DOENÇA

ACIDENTÁRIO. APOSENTADORIA POR


INVALIDEZ. SUSPENSÃO DO CONTRATO DE
TRABALHO. RECONHECIMENTO DO DIREITO
À MANUTENÇÃO DE PLANO DE SAÚDE OU
DE ASSISTÊNCIA MÉDICA - Res. 185/2012,
DEJT
divulgado em 25, 26 e 27.09.2012 Assegura-
se o direito à manutenção de plano de saúde
ou de assistência médica oferecido pela
empresa ao empregado, não obstante
suspenso o contrato de trabalho em virtude
de auxílio-doença acidentário ou de
aposentadoria por invalidez.”

Portanto, consoante as disposições legais e


jurisprudencial, requer-se o direito a manutenção da autora no plano de
saúde IPSEMG.

XII- DO DIREITO DE RESTITUIÇÃO DOS VALORES INDEVIDAMENTE


DESCONTADOS PELO IPSEMG PARA CUSTEIO DE ASSISTÊNCIA
MÉDICA, HOSPITALAR, ODONTOLÓGICA, SOCIAL, FARMACÊUTICA E
COMPLEMENTAR

Em 14/04/2010, o STF decidiu, por meio


da ADI 3.106 MINAS GERAIS, pela inconstitucionalidade da expressão
“definidos no art. 79”, contida no art. 85, caput, da Lei Complementar
nº 64/02, tanto em seu texto original quanto com a redação que lhe foi
conferida pela Lei Complementar nº 7003, bem como do vocábulo
“compulsoriamente”, inserido no § 4º do art. 85 da LC 64/02 e no § 5º
do art. 85 na redação dada pela LC 70/03, ambas do Estado de Minas
Gerais.
“ADI 3106
Órgão julgador: Tribunal Pleno
Relator(a): Min. EROS
GRAU Julgamento:
14/04/2010 Publicação:
24/09/2010 Ementa
EMENTA: AÇÃO DIRETA
DE
INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGOS 79 e 85
DA LEI COMPLEMENTAR N. 64, DE 25 DE
MARÇO DE 2002, DO ESTADO DE MINAS
GERAIS. IMPUGNAÇÃO DA REDAÇÃO
ORIGINAL E DA REDAÇÃO CONFERIDA PELA
LEI COMPLEMENTAR N. 70, DE 30 DE
JULHO DE 2003, AOS PRECEITOS. IPSEMG.
REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA E
ASSISTÊNCIA SOCIAL DOS SERVIDORES DO
ESTADO DE MINAS GERAIS.
BENEFÍCIIOS
PREVIDENCIÁRIOS E APOSENTADORIA
ASSEGURADOS A SERVIDORES NÃO-
TITULARES DE CARGO EFETIVO. ALEGAÇÃO
DE VIOLAÇÃO DO DISPOSTO NO § 13 DO
ARTIGO 40 E NO § 1º DO ARTIGO 149 DA
CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. AÇÃO DIRETA
JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE. 1.
Artigo 85, caput, da LC n. 64 estabelece que
"o IPSEMG prestará assistência médica,
hospitalar e odontológica, bem como social,
farmacêutica e complementar aos segurados
referidos no art. 3º e aos servidores não
titulares de cargo efetivo definidos no art. 79,
extensiva a seus dependentes". A
Constituição de 1988 --- art. 149, § 1º ---
define que "os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios poderão instituir contribuição,
cobrada de seus
servidores, para o custeio, em benefícios
destes, de sistemas de previdência e
assistência social". O preceito viola o texto da
Constituição de 1988 ao instituir contribuição
compulsória. Apenas os servidores públicos
titulares de cargos efetivos podem estar
compulsoriamente filiados aos regimes
próprios de previdência. Inconstitucionalidade
da expressão "definidos no art. 79" contida no
artigo 85, caput, da LC 64/02. 2. Os Estados-
membros não podem contemplar de modo
obrigatório em relação aos seus servidores,
sob pena de mácula à Constituição do Brasil,
como benefícios, serviços de assistência
médica, hospitalar, odontológica, social, e
farmacêutica. O benefício será custeado
mediante o pagamento de contribuição
facultativa aos que se dispuserem a dele
fruir.
3. O artigo 85 da lei impugnada institui
modalidade complementar do sistema único
de saúde --- "plano de saúde complementar".
Contribuição voluntária. Inconstitucionalidade
do vocábulo "compulsoriamente" contido no §
4º e no § 5º do artigo 85 da LC 64/02,
referente à contribuição para o custeio da
assistência médica, hospitalar, odontológica e
farmacêutica. 4. Reconhecida a perda de
objeto superveniente em relação ao artigo 79
da LC 64/02, na redação conferida LC
70/03, ambas do Estado de Minas Gerais. A
Lei Complementar 100, de 5 de novembro de
2007, do Estado de Minas Gerais --- "Art. 14.
Fica revogado o art. 79 da Lei Complementar
nº 64, de 2002". 5. Pedido julgado
parcialmente procedente para declarar a
inconstitucionalidade: [i] da expressão
"definidos no art. 79" --- artigo 85, caput, da
LC 64/02 [tanto na redação original quanto
na redação conferida pela LC 70/03], ambas
do Estado de Minas Gerais. [ii] do vocábulo
"compulsoriamente" --- §§ 4º e 5º do artigo 85
[tanto na redação original quanto na redação
conferida pela LC 70/03], ambas do Estado
de Minas Gerais.”

Desde então, a adesão e cobrança da


contribuição ao IPSEMG, plano de saúde instituído pelo Estado de
Minas Gerais para seus servidores, não é mais compulsória, mas sim
optativa.
Anteriormente, a Lei Estadual nº 64/02,
determinava a contribuição compulsória no percentual de 3,2%,
descontada da remuneração de contribuição ou dos proventos, até o
limite de vinte vezes o valor do vencimento mínimo estadual, para o
custeio da assistência médica, hospitalar, odontológica, social,
farmacêutica e complementar prestada aos segurados.
Sendo assim, a cobrança da referida
contribuição foi indevida, o que autoriza a devolução dos valores
recolhidos, com espeque no art. 165 e seguintes do CTN.
Corroborando o quanto exposto, a
jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais tem
comungado do mesmo entendimento mencionado, conforme trechos da
sentença do Meritíssimo Juiz da 3ª Vara de Feitos Tributários do
Estado, Senhor Doutor Maurício Pinto Coelho Filho, nos autos do
processo nº 0024.14.002.301-1:
“Reconhecida a inconstitucionalidade, e com
espeque na Súmula 21 da Corte Superior do
TJMG, forçoso concluir que a contribuição
compulsória destinada ao custeio da saúde
pelo IPSEMG não era apta a produzir
quaisquer efeitos jurídicos, de forma que
devem ser desconstituídas as consequências
daquele dispositivo.
Assim, verifica-se, pois, que houve cobrança
indevida, o que autoriza a devolução dos
valores, motivo pelo qual não há que se falar
em enriquecimento ilícito ou em consolidação
da situação pelo decurso do tempo.
(...)
Em relação à alegação de que os serviços
estiveram à disposição da parte autora,
entendo ser irrelevante para efeito de
restituição dos valores descontados, posto
que não retira a natureza indevida da
cobrança, como, aliás, vem decidindo o
Superior Tribunal de Justiça.
Dessa forma, não merece guarida a alegação
de incompatibilidade entre o pedido de
repetição dos valores e o de manutenção do
pagamento e da prestação do serviço.”

Referente ao prazo prescricional, tendo em


vista o disposto no art. 168, inc. II c/c art. 165, inc. III, ambos do CTN;
e, considerando o mês de Maio/2010 em que passou a vigorar a
Instrução Normativa n° 02/2010, da Superintendência Central de
Administração de Pessoal, que notificou os servidores sobre a faculdade
de permanecerem utilizando o serviço mediante o desconto referido,
quando
deixou de existir a compulsoriedade da contribuição; têm-se que são
devidos os pagamentos referentes ao meses de Maio/2005-Maio/2010,
em observância também à Súmula N. 85 do STJ que dispõe que:

“Nas relações jurídicas de trato sucessivo em


que a Fazenda Pública figure como devedora,
quando não tiver sido negado o próprio direito
reclamado, a prescrição atinge apenas as
prestações vencidas antes do qüinqüênio
anterior à propositura da ação.”

Contudo, requer-se do Estado de Minas


Gerais a restituição dos valores indevidamente descontados pelo
IPSEMG para custeio de assistência médica, hospitalar, odontológica,
social, farmacêutica e complementar, no valor total de R$ 2.380,20 (dois
mil, trezentos e oitenta reais e vinte centavos), calculados
multiplicando-se o valor mensal de R$ 39,67 (trinta e nove reais e
sessenta e sete centavos) da contribuição, conforme consta das holerites
anexadas, por 12 (doze), número referentes a quantidade de meses do
ano, e, sucessivamente, por 5, número referente a quantidade de anos.
Requer-se ainda a correção monetária do saldo credor e aplicação de
juros de mora em sede de liquidação da sentença, quando da ocorrência
da sentença decisória.

XIII- DO DIREITO AOS QUINQUÊNIOS E BIÊNIOS

O Decreto Estadual nº. 26.576/1987, que


dispõe sobre a concessão de adicional quinquenal e da gratificação de
incentivo à docência a servidor convocado para o exercício de funções
na área do magistério, estabelece o seguinte:

Art. 2º - Será concedido ao servidor


convocado: I - para função de professor, de
regente de ensino ou de especialista de
educação, adicional de 10% (dez por cento)
sobre o
vencimento, a cada período de 5 (cinco) anos
de efetivo exercício no serviço público
estadual, ainda que prestado em funções
diferentes; [...] III - para a função de professor
ou de regente de ensino, gratificação de
incentivo à docência de 5% (cinco por cento)
sobre o vencimento, a cada período de 2 (dois)
anos de efetivo exercício na regência de
turma ou de aulas em escola estadual, nos
termos da Lei n. 8.517, de 9 de janeiro de
1984. (g.n.)

Em momento ulterior, com a edição da Lei


Estadual nº. 15.787/2005, foi instituída a Vantagem Temporária
Incorporável - VTI, extensível aos servidores designados. Essa é a
interpretação obtida da leitura do artigo abaixo transcrito:

Art. 9° O disposto nesta Lei aplica-se ao


designado nos termos do art. 10 da Lei nº
10.254, de 20 de julho de 1990, observadas
as condições estabelecidas neste artigo.
§ 1º Será mantido o valor correspondente à
VTI percebida por designado em caso de nova
designação, salvo se o intervalo entre uma e
outra designação for superior a trezentos
dias, hipótese em que o designado perceberá
a VTI relativa à nova designação, nos termos
do inciso II do art. 2º. (Parágrafo com redação
dada pelo art. 4º da Lei nº 18.710, de
7/1/2010.)
§ 2º - (Revogado pelo art. 9º da Lei nº 18.710,
de 7/1/2010.)
§ 3º - O intervalo de que trata o § 1º será
contado a partir da última designação do
servidor, ainda que anterior à data de
publicação desta Lei.

Por outro lado, importante destacar que o


art. 116, acrescido ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
da Constituição do Estado pela EC nº. 57/03, vedou expressamente a
percepção de acréscimo pecuniário em razão exclusiva do tempo de
serviço ao servidor que ingressar no serviço público após a publicação
da mencionada emenda constitucional. Vejamos:

Art. 116 - É vedada a percepção de acréscimo


pecuniário em razão exclusiva do tempo de
serviço ao servidor que ingressar no serviço
público após a publicação desta emenda à
Constituição, excetuado o disposto nos §§ 3º
e 5º do art. 31 e no parágrafo único do art.
115 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias.

Todavia, em relação àqueles que já se


encontravam no funcionalismo quando adveio a nova regra, foi
assegurada a manutenção dos adicionais.
Nesse sentido, sabe-se que deve ser
garantido aos servidores, ainda que retornados à condição de
designados, mas ingressaram no serviço público no Estado de Minas
Gerais antes de 2003 e se encontravam em efetivo exercício na data de
publicação da emenda 57/2003, o direito a receber valor equivalente ao
pagamento dos quinquênios e biênios a que adquiriram no decorrer do
contrato de trabalho com a ré.
Caso Vossa Excelência entenda que a
autora também detém esse direito, que seja concedido e calculado, na
oportunidade, em fase de liquidação da sentença.

XIV- DO RATEIO

Mais um direito dos ex-efetivados LC


100/07 que foi violado, foi a ausência do pagamento do rateio referente
aos repasses do FUNDEB (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação)
referente o ano de 2015.
O FUNDEB é regulamentado pela Lei
11.494/2007, que em seu artigo 22, determina que, pelo menos 60%
(sessenta por cento) dos recursos anuais totais dos Fundos serão
destinados ao pagamento da remuneração dos profissionais do
magistério da educação básica em efetivo exercício na rede pública.

Parágrafo único. Para os fins do disposto no


caput deste artigo, considera-se:
I- remuneração: o total de pagamentos
devidos aos profissionais do magistério da
educação, em decorrência do efetivo exercício
em cargo, emprego ou função, integrantes da
estrutura, quadro ou tabela de servidores do
Estado, Distrito Federal ou Município,
conforme o caso, inclusive os encargos sociais
incidentes;
II - profissionais do magistério da educação:
docentes, profissionais que oferecem suporte
pedagógico direto ao exercício da docência:
direção ou administração escolar,
planejamento, inspeção, supervisão,
orientação educacional e coordenação
pedagógica;
III - efetivo exercício: atuação efetiva no
desempenho das atividades de magistério
previstas no inciso II deste parágrafo
associada à sua regular vinculação
contratual, temporária ou estatutária, com o
ente governamental que o remunera, não
sendo descaracterizado por eventuais
afastamentos temporários previstos em lei,
com ônus para o empregador, que não
impliquem rompimento da relação jurídica
existente.

Embora tenha havido o repasse ao Estado


de Minas Gerais, o réu excluiu todos os professores atingidos pela
declaração de inconstitucionalidade da lei 100/07. Entretanto, deve-se
ressaltar que apesar de exonerados, os atingidos pela Lei 100/07
exerceram efetivamente suas atividades de Magistério por todo o ano de
2015, fazendo jus ao respectivo rateio.
Sob pena de enriquecimento ilícito, deve o
réu ser condenado a efetuar o pagamento relativo aos valores de rateio
sobre o ano 2015 à autora, uma vez que esteve incluído no art. 22 da
Lei de nº. 11.494/2007, e o pagamento foi bloqueado por ato do
Governo do Estado de Minas Gerais.

XV- DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer a parte autora:

a) O deferimento dos benefícios da justiça gratuita à autora, nos termos


da Lei 1.060/50, por ser pobre nos termos da Lei;

b) O recebimento e julgamento da presente exordial no MM. Juízo da


Vara do Juizado Especial Cível da Fazenda Pública da Comarca de
Uberlândia/MG, nos termos do art. 52, parágrafo único, do NCPC c/c
o art. 2º, § 4º, da Lei nº 12.153/09;

c) Que os pedidos sejam JULGADOS PROCEDENTES, assegurando que


o pagamento do saldo do FGTS seja efetuado, conforme é direito da
Autora;
d) A citação do Réu para que no prazo legal manifeste, se assim desejar.
Destarte, se não houver contestação, que seja declarado a revelia, na
forma da Lei, e que se presuma a exordial verdadeira em sua
totalidade;

e) Que seja dado cumprimento à multa rescisória por demissão sem


justa causa no percentual de 40% e à atualização monetária dos
saldos das contas do FGTS, com aplicação do IPCA-e referente ao
mês/ano da sentençã decisória, acrescidos de juros de mora de 1% a.
M. (um por cento ao mês);

f) Que seja reintegrada no cargo efetivo de PEB – Professora de


Educação Básica, inclusive com a estabilidade já adquirida, ou
alternativadamente que tenha acesso priorizado no serviço público;

g) A manutenção no plano de saúde IPSEMG;

h) A restituição dos valores referentes à contribuição compulsória para


custeio de assistência médica, hospitalar, odontológica, social,
farmacêutica e complementar;

i) O recebimento dos valores equivalentes aos pagamentos dos


quinquênios e biênios já adquiridos;

j) O permanecimento da filiação no IPSEMG para fins previdenciários


ou alternativamente a devolução das contribuições previdenciárias já
efetuadas;

k) O pagamento relativo aos valores do rateio do FUNDEB sobre o ano


de 2.015.

Dá-se à causa o valor inicial de R$


20.502,27 (vinte mil, quinhentos e dois reais e vinte e sete centavos),
que poderá ser majorado, ou, com a indicação de valores que deverão
ser informados pelo réu, ou, definidos na fase de liquidação da
sentença, ou, correspondentes à correção monetária e aplicação de
juros moratórios.

Pretende-se provar o alegado por todos os


meios de prova em direito admitidos, especialmente pelo depoimento
pessoal, juntada de documentos, expedição de ofícios e precatórias e
demais que se tornem necessárias à elucidação da verdade.

Nestes Termos,
Pede-se deferimento.
Bom Despacho, 15 de dezembro de 2.020.

Cecília Myrelle Couto


OAB/MG 203. 997

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