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Boletim Academia Paulista de Psicologia

ISSN: 1415-711X
academia@appsico.org.br
Academia Paulista de Psicologia
Brasil

Peçanha, Dóris Lieth


Reseña de "Atualidades em Psicologia da Saúde" de V.A. Camon (Org.)
Boletim Academia Paulista de Psicologia, vol. XXIV, núm. 2, mayo-agosto, 2004, pp. 70-72
Academia Paulista de Psicologia
São Paulo, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=94612361013

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Boletim Academia Paulista de Psicologia - Ano XXIV, nº 2/04: 63-72

• Camon, V.A. (Org.) (2004). Atualidades em Psicologia da Saúde.


São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 185 p.
Dóris Lieth Peçanha1
Universidade Federal de São Carlos

“Atualidades em Psicologia da Saúde” é mais uma obra organizada por


Valdemar Augusto Angerami-Camon, versando sobre o tema saúde e
preocupando-se com a conceituação e delimitação de intervenções nessa área.
Como em outros trabalhos por ele organizados, neste também se encontra a
veia poética do escritor que intercala seus poemas (“De um aniversário ...” e
“De um sorriso doce...”) aos textos apresentados.
A oportunidade de resenhar esse livro constitui para mim motivo de
satisfação. Primeiro porque tenho o privilégio de conhecer e conviver com alguns
de seus autores, prevendo, assim, a qualidade da obra; segundo, pelo interesse
quanto às novidades lançadas na área pela Editora Thomson. A temática saúde
é o tema que une os seis capítulos da obra, de caráter heterogêneo, como
heterogêneos são os seis autores que os assinam. Aí a escritura de jovens
pesquisadores convive com a maturidade de Acadêmicos, como Aidyl Macedo
de Queiroz Pérez-Ramos e Maria Margarida M. J. de Carvalho (Magui).
Parafraseando Geórgia da Silva (p. 180), eu diria que isso ocorre num abraço
que promove a dialógica entre a singularidade e a universalidade, características
marcantes nessa obra.
O primeiro capítulo, assinado por Camon, traz uma leitura crítica da
Psicologia e da sociedade no Brasil, expondo contradições, como o fato dos
profissionais sonharem com uma realidade nacional e, ao mesmo tempo,
aderirem ao “american way of life”. O autor clama por uma Psicologia mais
humana que atenda às necessidades socioculturais do nosso país. A resposta
começa a ser formulada no próprio livro. Caminhos de atuação original,
fundamentados na realidade brasileira são, por exemplo, o trabalho em “sala de
espera”, descrito por Sílvia Martins Ivancko, no capítulo 3, e o projeto de teatro
para crianças hospitalizadas, por Geórgia Sibele Nogueira da Silva, no capítulo
6. Na experiência de Ivancko, a sala de espera constitui-se num lugar de
acolhimento do paciente, servindo ainda para minimizar ansiedades, fornecer-
lhe apoio, orientação e, obviamente, “aliviar a espera” (p. 81). No cap. 6, após a
exposição das características do pensamento moderno e de sua presença na
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Professor Adjunto do Curso de Psicologia. Menção Honrosa da Academia Paulista de Psicologia.
E-mail:doris@power.ufscar.br / pecanha@yahoo.com
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medicina ocidental, Silva propõe um diálogo com esse tipo de racionalidade.


Assim, seu trabalho inscreve-se no paradigma da razão comunicativa, como
diria Rockenbach em “Relacionamento alunos- professores – na construção do
conhecimento” (www.unijui.tche.br/unijui/editora), livro que também resenhei para
esta prestigiosa Academia. No caso, trata-se da Unidade de Palhaçada Intensiva
(UPI!), projeto do grupo de teatro Clowns de Shakespeare, em parceira com a
Unimed, utilizando o riso como recurso terapêutico no cuidado de crianças
hospitalizadas. A UPI atua em dois hospitais públicos do Rio Grande do Norte.
Penso que a arte dos clowns da UPI pode ser um instrumental precioso para
abordar a racionalidade técnica dos “doutores” de inúmeras UTIs no Brasil .
Também interessante é o capítulo 5 sobre tratamento cognitivo-
comportamental do alcoolismo. O autor, Angelotti, além de apresentar esse
modelo psicoterápico, desenvolve a conceituação, etiologia e epidemiologia do
alcoolismo. Traz registros históricos, como a utilização da bebida fermentada
originariamente na Índia. Tanto na Ásia, quanto no Brasil antes da chegada dos
portugueses, essa bebida limitava-se ao uso doméstico “mas, por exigências
comerciais, passou a ser negociada em forma de trocas” (Angelotti, p.104). No
Brasil, os engenhos de cana-de-açúcar levaram aos índios e escravos negros a
oportunidade de se embriagarem. Hoje, o alcoolismo é um problema mundial. A
meu ver, as políticas de saúde referentes a esse problema não devem se limitar
à população que abusa do álcool e, sim, se estenderem a toda população,
preventivamente. Isto contribuiria também para recolocar o problema além da
sua dimensão comportamental, ou seja, considerando a perspectiva sistêmica,
atestada desde sua origem.
O capítulo 2, “Preservação da saúde mental do psicólogo hospitalar”, de
autoria da Acadêmica Pérez-Ramos, A.M.Q. (Cad. 30), traz importantíssima
contribuição à pesquisa, encorajando-se fortemente à maior divulgação desse
trabalho, sob a forma de artigo, em revista científica nacional. Isto se justifica
pelo cuidado metodológico desse trabalho e pela apresentação do Questionário
“S-1 de Stress Ocupacional” desenvolvido e validado em nosso meio pelo
Acadêmico Pérez-Ramos, J. (Cad. 23). Tem-se no âmbito da pesquisa nacional
uma carência importante de instrumentos psicológicos válidos, atendida, nesse
capítulo, pelo trabalhos dos Pérez-Ramos. A autora focaliza os temas stress e
coping e apresenta relevantes subsídios teóricos e metodológicos para o estudo

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da saúde emocional do psicólogo hospitalar. Esse agente de saúde, apesar de


indispensável nos programas clínicos desenvolvidos nos hospitais, pouca
atenção tem recebido nas intervenções e pesquisas nacionais e internacionais.
A autora faz um chamado ao próprio psicólogo para que centralize sua atenção
nessa problemática de forma a resguardar seu equilíbrio emocional e, ao mesmo
tempo, promover a saúde em todo o ambiente hospitalar.
Dias antes de comparecer à sessão de autógrafos do livro em epígrafe,
em abril do corrente ano, ouvi uma questão freqüente nos seminários que ministro
ou que organizo, na área da saúde. Ei-la: como cuidar de alguém que não acredita
na justiça e na bondade divina, alguém que não compartilha da crença na
eternidade, na continuidade da vida após a passagem? Surpresa! Encontrei uma
resposta muito adequada no belo texto de outra Acadêmica, Maria Margarida M.
de Carvalho (Cad. 11), sobre “a dor no estágio avançado das doenças”. Em
relação aos ateus, a autora oferece ao leitor um belo exemplo de cuidado que
respeita as crenças e os valores do outro, mas sempre facilitando e promovendo
a transcendência; no caso, o espírito que permanece vivo através de flores. O
paciente em questão, segundo o relato da autora, tinha 36 anos, estava morrendo
de câncer, era engenheiro, sem religião e nenhuma crença na imortalidade. Para
ele a morte era o fim de tudo e seu corpo se transformaria, simplesmente, em
material de adubo. A autora sugeriu-lhe “que os adubos são ótimos fertilizantes
e que sobre o seu túmulo poderia crescer um belo jardim. Surpreendido e
encantado com a idéia, ele começou a projetar um jardim com suas flores
favoritas”. Com base nos seus conhecimentos de paisagismo e botânica,
dedicou-se, até morrer, à criação de um belíssimo jardim. Sua passagem foi
tranqüila e sem dor. A vida em sua infinita “grandeza, permanecendo através
das flores plantadas por ele, na realidade da sua imaginação” (Carvalho, p. 94).
Agradecimentos à Acadêmica que, desde a publicação desse texto, concretizou
- no meu entender - a compreensão da transcendência.
Enfim, o público, por iniciativa do incansável Camon, é presenteado com
uma obra rica, dirigida a todos que, de alguma forma, se interessam pelo tema
Psicologia da Saúde e Saúde Mental.

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