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Prof. Rodrigo Medina Zagni


Etnografia Rural e Etnografia Urbana

Nessa unidade, vamos tratar do tema “Etnografia rural e


Etnografia urbana”.

Sendo assim, vamos estudar dois âmbitos distintos de


estudo e coleta de informações sobre povos, seus hábitos e
sistemas culturais: um ambiente urbano, das grandes
cidades; e um ambiente rural, de sociedades simples e
hábitos tradicionais.

Atenção

Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar
as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.
Contextualização

 Como estudar a constituição de um povo?

 Como registrar suas características, seus hábitos e costumes para analisá-los desde uma
perspectiva cultural?

 Como podemos dividir as sociedades?

 As cidades possibilitariam aos indivíduos as mesmas dinâmicas sociais que o campo?

 Tribos e sociedades complexas têm as mesmas dinâmicas? Como diferenciá-las?

 E mais, haveria tribos dentro de sociedades complexas, nas cidades? Haveria tribos
urbanas?

Em busca das respostas às perguntas aqui elaboradas, embrenhe-se pelo conteúdo


teórico, apresentação narrada e demais materiais dessa unidade, a fim de entendermos mais
sobre a dimensão cultural da condição humana.
Material Teórico

O que é etnografia?

Erro comum em estudos recentes, presente até mesmo em manuais didáticos inclusive
do ensino superior, sem contar no uso recorrente dado pela imprensa, consiste em tomar o
termo “étnico” como designativo da tonalidade da pele do indivíduo ou de um grupo de
indivíduos.
Etnia é muito mais do que isso, e se refere a povo. Logo, um povo não se define
apenas por seus traços biotípicos, mas incorpora todos os seus traços culturais. Mais ainda, um
povo não se define sem um território, sendo assim, a etnia implica também nas relações de
grupos sociais com seu entorno físico.
Para que não sejamos obtusos em nossas primeiras tentativas de definição para esse
complicado conceito, vamos recorrer à etimologia:
O termo ethno, do vernáculo grego,
significa nação, povo, o que implica em todas as
relações acima mencionadas: traços biotípicos,
cultura e relação com um território.
E a Etnografia, no que consiste?
Recorrendo também à etimologia e já
sabendo que ethno se refere a povo, o termo
grego graphein designa ato de escrever. Seria
então o ato de escrever sobre um povo? Na
Antropologia cultural, a Etnografia se agiganta Fonte: www.alltheinternet.com/.../images?q=Etnografia

como um método de coleta de dados sobre um determinado povo, coleta essa que ganha a
dimensão de registro escrito sobre sua constituição biotípica, seus sistemas culturais e sua
relação com o meio ambiente.
Trata-se da atividade primordial dos antropólogos ao estudar um povo, o elemento
mediador entre estudioso e objeto, por meio do qual os registros sobre as impressões do
antropólogo servirão de base de dados para análise posterior.
Mas que tipo de grupos humanos podem ser estudados pela Etnografia? Oras, qualquer
um!
Ocorre que a Antropologia, área que primordialmente utiliza a etnografia (mas não a
única), não estuda qualquer tipo de sociedades humanas; há outras áreas que se confundem
com ela e também estudam grupos humanos, podendo valer-se dos meios etnográficos.
Se utilizarmos as categorias classificatórias de Talcott
Parsons, por exemplo, podemos distinguir grupos sociais entre
simples e complexos, que por sua vez podem existir ou terem
existido, ou seja, do presente ou do passado. Primordialmente, a
Antropologia se ocupou do estudo de sociedades simples do
presente, isso porque sociedades simples do passado são
estudadas pela História (no caso de sociedades portadoras de
escrita) e a Arqueologia (para o caso de sociedades ágrafas); já as
sociedades complexas do presente, seriam estudadas pela
Sociologia.

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www2.uvawise.edu/.../TalcottParsons%5B1%
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Veja abaixo a imagem em:
www2.uvawise.edu/.../TMRev/RevTM02Later
Yrs.html

Fonte: colunistas.ig.com.br/street/tag/gas-festival/

Fonte: copoamericano.wordpress.com/.../
Fonte: revistaintolerante.blogspot.com/2009_03_01_ar...
É claro que esse quadro não é assim tão simples. Isso porque, tendo a Antropologia se
ocupado de sociedades simples, de organização primordialmente tribal e do presente, passou
a perceber a existência de “tribos”, ou seja, sociedades simples, inseridas dentro de sociedades
urbanas e complexas no presente, ou seja, as chamadas “tribos urbanas” (grafiteiros,
comunidades hip-hop, punks, headbangers etc.). Sendo assim, uma Antropologia Urbana
passou a adentrar o terreno da Sociologia, se confundindo com ela e muitas vezes se
sobrepondo. Na mesma medida, isso ocorreu entre todas as áreas aqui mencionadas, que
passaram a se confundir gravemente na busca por vezes dos mesmos objetos de estudos e
com abordagens muito parecidas.
Para complicar ainda mais a questão, a própria Etnografia vem se tornando cada vez
mais autônoma, deixando de ser método da Antropologia e de outras ciências humanas e
reivindicando tornar-se uma área de estudos per se.
Já vimos nas unidades anteriores
a importância que teve a publicação dos
estudos de Bronislaw Malinowski sobre
“Os Argonautas do Pacífico Ocidental”
(1922), que funda para a antropologia
moderna uma moderna forma de
etnografia, envolvendo uma observação
participante.

Fonte: www.vanderbilt.edu/AnS/Anthro/Anth101/notes_o...
Ocorre que tal estudo foi
empreendido tomando como objeto sociedades simples e do presente. Contudo, como podem
ser designadas as sociedades simples e complexas que se confundem e se acotovelam em
espaço cada vez mais limítrofes? Temos então, para a etnografia, duas categorias
fundamentais: etnografia rural e etnografia urbana.
A etnografia rural

Grupos sociais simples e do tempo presente contrapõem-se à complexidade dos


grandes centros urbanizados, constituindo o que chamamos de sociedades rurais. Enquanto
nas cidades encontram-se dinâmicas complexas, nas sociedades rurais temos estruturas sociais
de tipo simples; enquanto nos centros urbanizados temos densos processos de ocupação do
espaço, nas comunidades rurais a natureza está muito mais presente, bem como a interação
do Homem com o meio natural é muito mais enfática.
Autores da Antropologia e da Sociologia, no Brasil, deram
inomináveis contribuições aos estudos etnográficos rurais, em especial
as obras: “Os Parceiros do Rio Bonito”, de Antonio Candido (Coleção
Espírito Crítico, Livraria Duas Cidades, Editora 34, Abril de 2001), na
qual são profundamente estudados vários aspectos da cultura rústica –
termo utilizado pelo autor para se referir à conhecida cultura caipira -,
como sua gênese, produto das miscigenações dos desbravadores
portugueses com os índios e negros, dando origem, respectivamente,
aos caboclos e mulatos que iniciaram a povoação do interior paulista;
seus meios de vida em relação à sua sociabilidade e seu modelo econômico de subsistência; a
situação presente (para o autor, cuja obra foi concebida na década de 1940), relacionando-se
a organização dos municípios, sua estrutura para o trabalho e características contemporâneas
em relação às origens culturais do caipira, buscando os determinantes de suas mudanças
culturais.
Outra literatura referencial é a obra “Os Brasileiros”,
de Joaquim Ribeiro (em convênio com o Instituto Nacional
do Livro, Ministério da Educação e Cultura; Editora e
Distribuidora Pallas S.A., Rio de Janeiro, 1977), na qual
encontramos vasto material a respeito da cultura brasileira
representada nas festividades de origem lúdico-religiosas,
nos mitos, crendices e superstições, cancioneiros caipiras, a
colonização europeia como resultado do fim da escravatura
e do ápice da cultura do café, e sua consequentes
miscigenações, influenciando a cultura caipira e
determinando sua mutação. Referido trabalho, ao contrário
Fonte:
peregrinacultural.wordpress.com/.../
do livro “Os Parceiros do Rio Bonito”, não se limita ao estudo da cultura caipira no estado de
São Paulo, mas abrange todo o território nacional, tratando-se de um importantíssimo estudo
antropológico sobre cultura material e imaterial, em todas as suas formas de manifestação.
Quanto ao estudo específico da culta do caipira paulista, é reservada grande parte do trabalho
a este assunto, representando importantíssima referência bibliográfica para estudos de
etnografia rural.

Outro aspecto sobre o comportamento de povos indígenas,


pode ser encontrado na obra de Darcy Ribeiro, “Utopia Selvagem”
(Distribuidora Record de Serviços de Imprensa Ltda., Editora
Círculo do Livro S.A., São Paulo, 1981), que trata do cotidiano de
uma tribo indígena e nos possibilita analisar as relações entre o
homem branco e o índio, origem do conhecido caboclo.

Vasto material a respeito das tribos indígenas que habitavam


o Estado de São Paulo durante os séculos XV a XVIII, pode ser
encontrado por meio do endereço virtual da FUNAI (Fundação
Nacional do Índio), no sítio: www.funai.gov.br -, onde há preciosismo
material para pesquisa histórica e mesma a respeito da situação
Fonte:
atuação das populações indígenas que habitam o território www.nosrevista.com.br/2009/12/29/8683/

nacional.

Fonte: mosaicojornalistico.wordpress.com/2009/09/20/
A etnografia urbana

A etnografia urbana, como o próprio nome pressupõe, se ocupa de sociedades


urbanizadas, ou seja, de tipo complexo, cujo grau de institucionalização pressupõe alto grau
de burocratização e de racionalização de leis e procedimentos, complexa divisão do trabalho
social e de processos produtivos, bem como um modus vivendi completamente distinto de
outras sociedades com configurações menos complexas. Trata não só de sociedades urbanas
acabadas; mas do processo de complexização que acompanha a urbanização nas grandes
metrópoles contemporâneas e suas rápidas transfigurações.
Os estudos de etnografia urbana, por suja vez, dividem-se em duas correntes, segundo
seus objetos e sentidos primordiais de análise:
O primeiro tipo está focado nos
aspectos desagregadores dos processos de
urbanização, ou seja, no quão traumático
e doloroso pode ser o crescimento urbano
para aqueles que o experimentam na
forma de colapsos e crises. Dentre seus
temas estão os problemas pelos quais
passam as grandes metrópoles, como o
trânsito, o colapso do transporte urbano, o
deficitário sistema de saúde, as desigualdades sociais, a aprofundização da miséria e a
exclusão social, a falta de saneamento básico, a desigual distribuição de direitos básicos,
violência urbana, poluição etc.
Obviamente, o locus desses estudos são as
grandes cidades que mais experimentam esses
problemas, ou seja, tratam-se das realidades da
periferia do sistema capitalista, onde a distribuição
de renda é gravemente mais desigual e se
aprofundam os abismos que cindem as classes
sociais entre cada vez mais ricos, em menor
número; em contraste com cada vez mais pobres, em número cada vez maior.
Não que não haja etnografia urbana no
centres desenvolvidos de capitalismo
mundializado, os países centrais em cuja órbita
gravitam os países periféricos; o que muda é o
enfoque. Não tendo os graves problemas da
periferia, os estudos etnográficos se focam nos
aspectos oníricos de um mundo que entendem
“globalizado” por gozarem da quase globalidade dos adventos do progresso técnico e
científico (que tanto carecem as realidades periféricas e que experimentam os aspectos
nefastos da globalização de misérias e mazelas sociais).
Esse mundo onírico é o mundo das imagens que circulam em velocidade nunca antes
vista, informações em out-doors, na mídia impressa, televisiva e internet, redes de
relacionamento, não-lugares, ou seja, ambientes virtuais de sociabilidade pela difusão e uso
comum de tecnologias de informação, como a internet em dispositivos cada vez mais portáteis
e que encurtam cada vez maiores distância, interconectando grupos humanos de forma a
desafiar as históricas certezas do tempo e do espaço, agora “líquidas” (pois se desfazem, de
monolitos de pedra em líquido, num simples “clique”).
Entre as duas etnografias, identificamos um caos urbano em contrastee com um
universo de rupturas e de adventos tecnológicos, acessíveis para poucos.
Em ambos os casos, coincidem constatações de que o atual ciclo sist~emico do
capitalismo vem promovendo um avanço do capital privado sobre setores públicos,
culminando na penetração do capital e praticamente todas as relações sociais e um fenômeno
de privatização da vida coletiva e de individualismo.
Ambas as vertentes também reconhecem que o fenômeno do individualismo estaria
apenso à transposição dos valores do mundo do trabalho, consubstancialmente empresarial,
para as demais esferas da vida social. Ou seja, valores e praticas notadamente individualistas
como as da competitividade, do isolamento, da agressividade, do entesouramento privado e
da perda do espírito de coletividade, numa espécie de solidão que não é mais estar apenas só
(isolado do contato com outros indivíduos); mas uma solidão pior, aquela que se dá em meio
à multidão. Mas não se trata de uma multidão conexa, mas um aglomerado de indivíduos
desconexos, ensimesmados.
Material Complementar

Ainda sobre o tema “Etnografia rural e Etnografia urbana”, indico os textos abaixo,
disponíveis na internet, a título de leitura complementar:

MAPAS, Nubia Cristina Rodrigues; “Uma abordagem etnográfica sobre o meio urbano no
município de Parauapebas/ PA”; IV Encontro Nacional da ANPASS, disponível no link:
http://www.anppas.org.br/encontro4/cd/ARQUIVOS/GT3-144-30-20080517105527.pdf .
CASTRO, Elisa Guaraná de; “Entre ficar e sair: uma etnografia da construção social de jovem
rural, contribuições para o debate”; VIII Congresso Latinoamericano de Sociologia Rural,
disponível no link:
http://www.alasru.org/cdalasru2006/02%20GT%20Elisa%20Guaraná%20de%20Castro.pdf .

Indico ainda os filmes:

Instinto; dir.: Jon Turteltaub, EUA, drama, colorido, 1999.


O povo brasileiro; dir.: Isa Grinspum Ferraz, Brasil, documentário, colorido, 2000.
Botinada - A Origem do punk no Brasil; dir.: Gastão Moreira, Brasil, documentário,
colorido, 2007.
Metal: A Headbanger's journey; dir.: Sam Dunn, EUA, documentário, colorido, 2007.

Na internet, indico os conteúdos:

Site da Oficina de Etnografia:


http://oficinadeetnografia.blogspot.com/

Site Etnografia no virtual:


http://etnografianovirtual.wordpress.com/
Referências

ATKINSON, P.; HAMMERSLEY, M. Ethnography Principles and Practice. London: Routltdge


1983.

BLASS, Leila Maria da Silva; PAIS, José Machado (org.). Tribos urbanas: produção artística e
identidades. São Paulo: Annablume, 2007.

CÂNDIDO, Antonio. Os Parceiros do Rio Bonito. São Paulo: Livraria Duas Cidades,
Editora 34, 2001.

FERREIRA, Gerson André Albuquerque, “Sobre transgressão e poder no movimento Hip


Hop”, Par’ A’ Iwa, Revista dos pós-graduandos de Sociologia da UFPB, número 4, João
Pessoa, Nov. 2003, acessível no sítio http://www.cchla.ufpb.br/paraiwa/04-gerson2.html ,
último acesso em 19/08/2007.

MAGNANI, José Guilherme Cantor, “De perto e de dentro: Notas para uma etnografia
urbana”, Núcleo de Antropologia da USP, acessível no sítio: http://www.n-a-
u.org/DEPERTOEDEDENTRO.html, último acesso em 13/08/2007.

MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Ocidental. Coleção Os Pensadores. São


Paulo: Abril, 1977.

MONTEIRO, Anita Maria de Queiroz. Castainho: etnografia de um bairro rural de negros.


Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 1985.

REIS, Hiliana; “Fronteiras, territórios e espaços interculturais”, InTexto, UFRGS, n. 10, 2004,
acessível no sítio http://www.intexto.ufrgs.br/n10/a-n10a9.html , último acesso em 19/08/2007.

RIBEIRO, Darcy. Utopia selvagem: saudades da inocência. Rio de Janeiro: Nova


Fronteira, 1982.

SANTOS, Milton. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico


informacional. São Paulo: HUCITEC, 1994.

SEGATO, Rita Laura, “Formações de diversidade: Nação e Opções religiosas no contexto da


globalização”, trabalho apresentado durante o encontro sobre “Religião e Globalização”, VI
Jornada sobre Alternativas Religiosas na América Latina, Porto Alegre, 6 a 8 de Nov. de 1996.

WERNECK, Jurema; “Da diáspora globalizada: Notas sobre os afrodescendentes no Brasil e o


início do século XXI”, paper de conclusão do curso “A teoria crítica da cultura hoje: Alguns
caminhos possíveis. ECO-UFRJ, 2003.
Anotações

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