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Curso Elementar de Tupi Antigo

Lição 1
Introdução ao Tupi Antigo

Nós nos propomos, aqui, a ensinar-lhe, de modo correto, o Tupi Antigo, a língua
indígena clássica do Brasil, a velha língua brasílica dos primeiros dois séculos
de colonização do nosso país. Você aprenderá os fundamentos da língua Tupi e
conhecerá onde ele está presente na língua portuguesa e na geografia do Brasil.

Infelizmente há cursos sem a mínima seriedade, que ensinam Nheengatu da


Amazônia como se fosse Tupi Antigo, de envolta com o Guarani paraguaio. Tudo
isso mais confunde os alunos que os ensina. Ora, estudar Tupi Antigo exige a
mesma seriedade científica que exige o estudo de qualquer outro idioma. Assim,
antes de tudo, é importante que certos conceitos fiquem bem claros para quem
começa a estudar essa língua.

Conceitos Importantes

TUPI ANTIGO - Essa foi a língua que os marinheiros da armada de Cabral


ouviram quando aqui chegaram em 1500 e que ajudou na construção espiritual
do Brasil. Naquela época, essa língua era falada em toda a costa do Brasil por
muitos grupos indígenas: os Potiguaras, os Caetés, os Tupinambás, os
Temiminós, os Tabajaras, etc. Seu primeiro gramático foi o Padre José de
Anchieta, que publicou sua Arte de Gramática da Língua mais Usada na Costa
do Brasil, em 1595.

Chegou a ser, por séculos, a língua da maioria dos membros do sistema colonial
brasileiro, de índios, negros africanos e europeus, contribuindo para a unidade
política do Brasil. Forneceu milhares de termos para a língua portuguesa do
Brasil, nomeou milhares de lugares no nosso país (sendo, depois do português,
a língua que mais produziu nomes geográficos em nosso território), esteve
presente em nossa literatura colonial, no Romantismo, no Modernismo, foi a
referência fundamental de todos os que quiseram afirmar a identidade cultural
do Brasil. “Falada na catequese e nas bandeiras, instrumento das conquistas
espirituais e territoriais da nossa história, o seu conhecimento, sequer superficial,
faz parte da cultura nacional” (Lemos Barbosa, 1956).

LÍNGUA GERAL – Foi uma língua surgida da evolução do Tupi Antigo, a partir
da segunda metade do século XVII, quando, então, era falada por todos os
membros do sistema colonial brasileiro: negros, brancos, índios tupis e não tupis,
mestiços.
TUPI-GUARANI – não é uma língua, mas uma família de mais de vinte línguas.
Inclui o Tapirapé, o Wayampi, o Kamayurá, o Guarani (com seus dialetos), o
Parintintin, o Xetá, o Tupi Antigo, etc. Existem línguas Tupi-Guarani, não o Tupi-
Guarani. Dessas, o Tupi Antigo é a que foi estudada primeiro e a que mais
influenciou a formação da cultura brasileira.

NHEENGATU – é uma língua da Amazônia, uma evolução da língua geral,


falada por caboclos no vale do Rio Negro, na Amazônia. É uma fase atual do
desenvolvimento histórico do Tupi Antigo, mas não é o Tupi Antigo.

TUPI MODERNO – é o nome que alguns dão ao Nheengatu da Amazônia ou,


ainda, a certas línguas faladas da família Tupi-Guarani. Não é a língua que
Anchieta estudou, mas uma evolução dela.

Chave da pronúncia do tupi antigo

VOGAIS:

a-karu - (eu) como; taba - aldeia


A: ka’a - mata;

E: ere-ker - (tu) dormes; ixé - eu; pereba - ferida


I: itá - pedra; pirá - peixe; maíra - francês
O: "a-só" (leia assó) - (eu) oka - (leia "óca") -
vou; casa
U: upaba - lago; sumarã - inimigo; puká - rir

Y: fonema que não existe no português, mas existe no russo e no romeno. É


uma vogal média, intermediária entre u e i, com a língua na posição para u e os
lábios estendidos para i. (Sugestão prática: diga u e vá abrindo os lábios até
chegar à posição em que você pronuncia i.)

Todas as vogais acima têm suas correspondentes nasais.

Consoantes e Semivogais

‘ - representa a consoante oclusiva glotal, que não existe em português. Tal


fonema realiza-se com uma pequena interrupção da corrente de ar, seguida
por um súbito relaxamento da glote: emba’e - coisa, so´o - caça
B - Pronuncia-se como o v do castelhano em huevo. É um b fricativo e não
oclusivo, isto é, para pronunciá-lo, os lábios não se fecham, apenas friccionam-
se: abá - homem; ybyrá - árvore; t-obá - rosto

Î - Como a semivogal i do português, em vai, falai, caiar, bóia, lei, dói: îuká -
matar; îase’o - chorar; îakaré - jacaré

NH - É um alofone (i.e., uma outra forma) de î e pronuncia-se como no


português ganhar, banha, rainha: kunhã - mulher; nhan - correr;nharõ - raiva,
ferocidade; nhandu-’i - aranha.

K - Como o q ou o c do português antes de a, o ou u, como em casa, colo,


querer: ker - dormir; îuká - matar; paka - paca; ybaka - céu.

M (ou MB) - Como em português mar, mel, manto, ambos,


samba: momorang - embelezar; mokaba - arma de fogo; moasy - arrepender-
se. Às vezes o m muda-se em mb, que é um alofone. Em mb, o b é
oclusivo, devendo-se encostar os lábios para pronunciá-lo. O m final deve ser
sempre pronunciado, isto é, devem-se fechar os lábios no final da pronúncia da
palavra, como no inglês “room” : a-sem - (eu) saio
N (ou ND) - Como no português nada, nicho, nódoa, andar, indo: nupã -
castigar; nem - fedorento; nong - pôr, colocar. Às vezes o n muda-se em nd,
que éseu alofone.
Ex.: ne ou nde - tu; amã’-ndykyra - gotas de chuva
O n final deve ser sempre pronunciado: você deverá estar com a língua nos
dentes incisivos superiores ao finalizar a pronúncia da palavra:nhan -
correr; momaran - fazer
brigar.
NG - Como no inglês “thing” - coisa ou “sing” - cantar. monhang -
fazer; nhe’eng –falar
P - Como no português pé, porta, pedra: potim - camarão; potar -
querer; pepó - asa.
R - É sempre brando, como no português aranha, Maria, arado, mesmo no
início dos vocábulos: ro’y - frio; aruru - tristonho; paranã - mar; ryryî -
tremer.
S - Sempre soa como no português Sara, assunto, semana, pedaço (nunca
tem som de z): a-só (leia: assó) - vou; sema - saída. Às vezes, após i e î o s
realiza-se como x (seu alofone): i xy - mãe dele; su’u - morder, a-î-xu’u -
mordo-o.
T - Como em antena, matar, tato: tutyra - tio; taba - aldeia; tukura - gafanhoto.
Û - Como a semi-vogal u do português em água, mau, nau, audácia, igual. Em
início de sílaba pode ser pronunciado como gû: ûyrá ougûyrá - pássaro; ûi-
tu ou gûi-tu - vindo eu; ûatá ou gûatá - caminhar.

X - Como o ch ou o x do português em chácara, chapéu, xereta, feixe: ixé -


eu; t-aîxó - sogra; i xy - sua mãe.
Exercício 01

Leia as seguintes palavras tupis (ouvindo-as depois):

A-

morubixaba (cacique)

ygara (canoa)

syk (chegar)

kûá (enseada)

nhe’eng (falar)

pytá (ficar)

gûyratinga (garça)

abá (índio)

îakaré (jacaré)

ygarusu (navio)

paka (paca)

peró (português)

ybyrá (árvore)

tendy (luz)

‘aka (chifre)

moti’a (peito)

ybytyra (monte, montanha)


Lição 2

“Vamos parar de nhen nhen nhen...”

Que significa "nhen nhen nhen"?

Ixé a-nhe’eng.

Eu falo

Os verbos da primeira classe

Falar, em Tupi antigo, é nhe’eng. Em Tupi antigo os verbos flexionam-se à


esquerda, i.e., no começo, e não à direita como acontece em português (p.ex.,
falo, falas, fala, etc.):

Verbo falar (nhe’eng), no modo indicativo - presente ou pretérito:

ixé a-nhe’eng eu falo; eu falei

endé ere-nhe’eng tu falas; tu falaste

a’e o-nhe’eng ele fala

oré oro-nhe’eng nós falamos (exclusivo)

îandé îa-nhe’eng nós falamos (inclusivo)

pee pe-nhe’eng vós falais; vós falastes

a’e o-nhe’eng eles falam


Os verbos da primeira classe recebem prefixos número-pessoais, como você
pode ver acima (a- ere-, o-, oro-, îa-, pe-, o-). A 3ª pessoa do singular e a 3ª
pessoa do plural não se diferenciam.

Você deve ter percebido que há duas formas que traduzem nós. Existe o
nós inclusivo e o nós exclusivo. Isso acontece em muitas línguas indígenas,
até mesmo nas do Peru e do México.

INCLUSIVO: INCLUI O OUVINTE


EXCLUSIVO: EXCLUI O OUVINTE

Se dissermos, em Tupi, para um grupo de índios: - “Nós somos


portugueses” ou - “Nós viemos de Portugal”, devemos usar o “nós”
exclusivo (ORÉ), pois os índios não se incluem nesse “nós”. Se
dissermos, porém, “Nós morreremos um dia”, incluem-se, aí, aqueles
com quem falamos. Usa-se, então, a forma inclusiva (ÎANDÉ), que inclui a
1a e a 2a pessoas. Há também a forma ASÉ, que significa “a gente”, eu, tu
e ele, que leva sempre o verbo para a 3ª pessoa, também equivalente ao
se, como índice de indeterminação do sujeito, em Bebe-se aqui, come-se
bem ali.

Observações importantes

Todo infinitivo de verbo tupi sempre termina em vogal. Se o verbo tiver o


tema terminado em consoante, no infinitivo ele recebe o sufixo -A.

Ex.-

só..............infinitivo: só

sykyîé........infinitivo: sykyîé

syk............infinitivo: syk-a

nhe’eng.....infinitivo: nhe’eng-a

sem...........infinitivo: sem-a

O infinitivo verbal em tupi é um perfeito substantivo.

Assim:

só - o ir, a ida
sykyîé - o temer, o medo

syk-a - o chegar, a chegada

nhe’eng-a - o falar, a fala

sem-a - o sair, a saída

EXERCÍCIO 1:
Conjugue os seguintes verbos em todas as pessoas, usando os pronomes
pessoais (eu, tu, ele, etc.), conforme o modelo.

SÓ (ir)

ixé a-só eu vou; eu fui

endé ere-só tu vais; tu foste

a’e o-só ele vai; ele foi

asé o-só a gente vai

oré oro-só nós vamos, nós fomos (excl.)

îandé îa-só nós vamos, nós fomos (incl.)

pee pe-só vós ides; vós fostes

a’e o-só eles vão; eles foram

Continue agora:
1) KOPIR - (carpir)
2) PYTÁ - (ficar)
3) SYKYÎÉ - (temer, ter medo)
4) IKÓ - (estar, morar)*
5) SEM - (sair) - donde "piracema" - saída dos peixes
6) SYK - (chegar) - donde Piracicaba - chegada dos peixes
7) ‘YTAB - nadar

*A vogal i , átona, após uma outra vogal, forma ditongo, tornando-se î


(semivogal).
O- + ikó > o-îkó (forme um ditongo no oi)

EXERCÍCIO 2
Verta para o Tupi as frases abaixo com base no vocabulário mnemônico que
apresentamos a seguir:

1) Sorocaba: sorok - rasgar-se + -aba - sufixo substantivador, podendo


também significar "lugar da rasgadura" da terra

2) ir para a cucuia: de kukuî - ficar caindo, ficar-se desprendendo (o fruto, o


cabelo, etc.), reduplicação de kuî - cair, desprender-se: ir para a decadência

3) maracujá - murukuîá

4) aoba - roupa

5) sapo cururu na beira do rio (cantiga folclórica brasileira): de kururu - sapo

6) Avanhandava - abá - homem, pessoa, índio + nhan - correr + aba - lugar:


lugar da corrida dos homens)

7) Jaci (nome próprio) - de îasy - lua

8) Itaberaba (município de Minas Gerais): de itá - pedra + berab - brilhante:


pedra brilhante)

1 - A roupa rasgou-se.
2 - O maracujá caiu.
3 - O sapo dormiu.
4 - O homem correu.
5 - A lua brilhou.

EXERCÍCIO 3
Traduza:
1 - Abá o-kopir.
2 - Itá o-berab.
3 - Kururu o-‘ytab.
4 - Abá o-sykyîé.
5 - Îasy o-sem.
LIÇÃO 3

Por que Iguape, Cotegipe e Sergipe terminam em -pe?

"Eu fui ao Itororó beber água e não achei"...


Que quer dizer Itororó?

Ele estava numa pindaíba...Até fome passava?


Donde vem tal expressão?

Ixé a-ker ka’a-pe.

Eu durmo no mato.

A posposição em Tupi

As preposições do português correspondem, em tupi, a posposições, porque


aparecem depois dos termos que regem. Há posposições átonas, que
aparecem ligadas por hífen, mas a maior parte delas é tônica, vindo separadas
dos termos que regem.

Ex.-

-PE - em, para (geralmente locativo). É posposição átona:

siri ‘y-pe (donde Sergipe - estado brasileiro) - no rio dos siris, para o rio dos
siris
akuti îy*-pe (donde Cotegipe) - no rio das cotias
‘y kûá-pe (donde Iguape) - na enseada do rio
iperu ‘y-pe (donde Peruíbe - município paulista) - no rio dos tubarões

(*água, rio, em Tupi Antigo, é ‘y ou îy, tendo sido usada esta última forma
principalmente na porção nordeste do Brasil)

SUPÉ - para (pessoas ou coisas) - só para a 3a pessoa

abá supé - para o índio


morubixaba supé - para o cacique
Maria supé - para Maria

SUÍ - de (proveniência, causa)

îakaré ‘y suí - do rio dos jacarés


tatu ‘y suí - do rio dos tatus
Piratininga suí - de Piratininga (antigo nome de São Paulo)
PUPÉ - dentro de
arará kûara pupé - dentro do buraco das ararás (var. de formiga)
oka pupé - dentro da casa

A RELAÇÃO GENITIVA EM TUPI

Em tupi não existe posposição correspondente à preposição DE do português,


que exprime uma relação de posse como “casa de Pedro”, ou outras relações
como “faca de prata” (relação de matéria), etc. Basta, para exprimi-las em tupi,
juntar os dois substantivos em ordem inversa à do português, como faz o
inglês, por exemplo, em “Peter’s house” (“casa de Pedro”) ou como faz o
alemão em ‘‘Volkswagen’’ (“carro do povo”). Tal relação que leva, em
português, a preposição DE e que exprime posse, pertença, origem, qualidade,
atribuição de algo a alguém, etc. , é a que chamaremos “relação genitiva”.
Chamaremos o primeiro termo da relação genitiva de genitivo ou determinante.

Ex.-

mãe de Pindobuçu Pindobusu sy

rio do tatu tatu ‘y

rio do jacaré îakaré ‘y

enseada do rio ‘y kûá

navio dos portugueses peró ygar-usu

língua dos índios abá nhe’enga

jorro d´água ‘y tororoma

planta de anzol (vara de pescar) pindá ‘yba

Outros exemplos:
menino de pedra itá kunumim - (itá = pedra) (kunumim = menino)
farinha de milho abati u’i - (u’i = farinha) (abati = milho)
prato de pedra itá nha’em - (nha’em = prato) (itá = pedra)

EXERCÍCIO 4
Traduza:
01 - A-sem Nhoesembé suí.
02 - Ere-só îakaré ‘y-pe.
03 - Oro-pytá siri ‘y-pe.
04 - A-nhe’eng peró supé.
05 - Ere-nhe’eng abá supé.
06 - Pe-îkó ‘y pupé.
07 - Morubixaba supé pe-nhe'eng.
08 - Îakaré o-sem ‘y suí.
09 - Pe-sem tatu kûara suí.
10 - Ka'a-pe ere-só.

EXERCÍCIO 5
Verta para o Tupi:

01 - Fico em Nhoesembé.
02 - Ficamos (incl.) no rio.
03 - Moramos (excl.) em Nhoesembé.
04 - Ficas dentro do navio.
05 - Saímos (incl.) da canoa.
06 - Falaste aos índios.
07 - Os índios falam a Maria.
08 - Ficamos (incl.) dentro do navio.
09 - Pedro está dentro do navio.
10 - Saio da mata.
07 - As favas estouraram.
08 - O tucano dormiu.
09 - A casa de carijós queimou.
10 - Escorreguei dentro do rio das pedras.

EXERCÍCIO 6
Traduza as frases abaixo com base no vocabulário mnemônico dado abaixo:

- Avaré (município de São Paulo): abaré - padre

- Velha coroca: kuruk - resmungar, resmungão

- Itabira (cidade de Minas Gerais) - de itá - pedra + byr - levantar-se, erguer-


se: pedra levantada
- Itapecirica (cidade de São Paulo): itá - pedra + peb - achatado
+ syryk - escorregar: pedra achatada escorregadia

- Comandacaia (localidade da Bahia): komandá - fava + kaî - queimar:


favas queimadas

- Pirabebé (nome de um peixe): pirá - peixe + bebé - voar: peixe voador

- Pipoca: pira - pele + pok - estourar: pele estourada

- Voçoroca (tipo de erosão da terra) - de yby - terra + sorok - rasgar: terra


rasgada

- Boiçucanga (município de São Paulo) - de mboia - cobra + usu - sufixo


de aumentativo + kanga - esqueleto, osso

- Tocantins (estado brasileiro) - de tukana - tucano + tim - bico,


nariz, saliência: bico de tucano

01 - O tucano ergueu-se da terra. Voou para a mata.


02 - O padre escorregou na pedra. Resmungou, ergueu-se, foi para o rio.
03 - O esqueleto do tucano está na terra.
04 - A pele da cobra estourou.
05 - O nariz do padre é achatado.
06 - A casa queimou.
07 - As favas estouraram.
08 - O tucano dormiu.
09 - A casa de carijós queimou.
10 - Escorreguei dentro do rio das pedras.

EXERCÍCIO 7

01 - A mãe de Pedro é bonita.


02 - A toca da onça é comprida.
03 - O filho de Maria é bom.
04 - Nadei no rio dos peixes.
05 - Pedro nadou no rio dos gravatás.
06 - Dormi na toca das araras.
07 - Maria ficou no rio dos tatus.
08 - Vou para a enseada de pedra.
09 - Maria mora dentro da casa de pedra.
10 - O rio dos siris é bonito.

EXERCÍCIO 8
Traduza para o Tupi com base no vocabulário mnemônico dado abaixo:

- Pari (nome de bairro de São Paulo): pari - canal para apanhar peixes
- Itaquera (bairro de São Paulo): itá - pedra + ker - dormir: pedra dormente

- Capibaribe (nome de rio de Pernambuco) - kapibara - capivara + ‘y - rio + -


pe (posposição) - em

- Itapororoca (município da Paraíba) - itá - pedra + pororok - explodir: pedras


explodidas ou explosão das pedras

- Pirapora (município da Bahia) - pirá - peixe + por - pular: pulo dos peixes
ou peixes que pulam

- Iquiririm (rua de São Paulo) - ‘y - rio + kyririm - silencioso

- carioca (nome de quem nasce na cidade do Rio de Janeiro) - de kariîó - carijó


- nome de grupo indígena + oka - casa: casa de carijós

01 - A capivara saiu do pari.


02 - O carijó pulou dentro do rio.
03 - O carijó silencioso dormiu dentro da casa.
04 - A casa explodiu.
05 - A capivara dormiu no rio das pedras.
Lição 4

Que significa Etá em Guaratinguetá e Paquetá?

ETÁ (muitos, muitas) vem sempre posposto ao substantivo, formando uma


composição com ele. O sufixo -A final, se existir, cai. (Usaremos sempre o
hífen com as composições)
Ex.-
pak(a)-etá (donde Paquetá - ilha do Rio de Janeiro) - muitas pacas
peró-etá - muitos portugueses
itá-etá (donde Itaetá, nome de arroio do Rio Grande do Sul) - muitas pedras
abá-etá - muitos índios
ygarusu-etá - muitos navios
gûyrá-ting(a)-etá - muitas aves brancas, muitas garças
(donde Guaratinguetá – município paulista)

Exercício 9
Traduza:

01 - Muitos índios vão para o rio.


02 - Muitos índios saem da canoa.
03 - Muitos navios estão na enseada.
04 - Muitos portugueses falam aos índios.
05 - Muitas pacas ficam dentro da mata.
06 - Muitas garças saem do rio.
07 - Muitos índios moram em Nhoesembé.
08 - Muitos tatus vão para a mata.
09 - Muitos meninos estão dentro do navio.
10 - Muitas pacas moram na mata.
Lição 5

Os Pronomes Pessoais - (Continuação)


Itaporanga, Iporanga, Botucatu, Ibicatu... Que significam poranga e catu?
Os pronomes pessoais em tupi são divididos em duas séries:

Primeira série Segunda série

ixé - eu xe- eu

endé - tu nde ou ne - tu

a’e - ele, ela (aquele,-a) i - ele, ela

oré - nós (excl.) oré - nós (excl.)

îandé - nós (incl.) îandé - nós (incl.)

pee - vós pe - vós

a'e - eles, elas i - eles, elas

asé - a gente; nós todos

Com verbos, usam-se preferencialmente os pronomes pessoais da primeira


série, conforme o que você já viu na lição 1. Com adjetivos, usam-se
preferencialmente os da segunda série.
Os adjetivos qualificativos e predicativos
Os adjetivos podem ser qualificativos ou predicativos.
Ex.

Qualificativos Predicativos

ta(ba)-porang-a - aldeia taba i porang - a aldeia, ela (é)


bonita bonita
taba i porang - a aldeia, ela x ‘y i pyrang - o rio, ele (é)
(é) bonita vermelho

Quando dizemos casa bonita, usamos um adjetivo qualificativo, porque ele se


prende diretamente ao substantivo. Se dizemos a casa é bonita, usamos um
adjetivo predicativo, porque ele se prende ao substantivo por meio de verbo de
ligação. Neste último caso, nós afirmamos alguma coisa da casa (que ela é
bonita). Na predicação, assim, usamos, em português, um verbo de ligação,
que no exemplo acima é o verbo ser. Porém, em tupi não existe o verbo ser.
Se queremos dizer menino bonito, basta justapor porang ao substantivo,
acrescentando o sufixo -A à composição formada. Dizemos pois kunumim-
porang-a. Se quisermos dizer “o menino é bonito” teremos de usar o pronome
pessoal de 3ª pessoa, I, dizendo assim: kunumim i porang. (Literalmente isso
significa “o menino, ele (é) bonito.)” Subentendemos o verbo ser, que em tupi
não tem correspondente. Se quisermos dizer “eu sou bonito”, dizemos xe
porang. Veja, assim, que com adjetivos predicativos usamos os pronomes
pessoais da segunda série. O pronome I de 3a pessoa só se usa com eles:

xe porang eu (sou) bonito

nde porang tu (és) bonito

i porang ele (é) bonito

oré porang nós (somos) bonitos (excl.)

îandé porang nós (somos) bonitos (incl.)

pe porang vós (sois) bonitos

i porang eles (são) bonitos

Outros exemplos:

nde tu (és) bom (com adjetivos não se usa


katu comumente endé)

vós (sois) bons (com adjetivos não se usa


pe katu
comumente pee)

ele (é) bom (com adjetivos não se usa


i katu
nunca a’e)

oré katu nós (somos) bons


Com substantivos servem as duas séries, menos o pronome I, que, na função
de sujeito, só se usa com adjetivos. Podem vir antes ou depois do substantivo.

Ex.-

xe
eu (sou) o cacique
morubixaba

ixé
eu (sou) o cacique
morubixaba

morubixaba
o cacique (sou) eu
ixé

Se o sujeito for substantivo, o adjetivo predicativo deverá vir sempre antecedido


do pronome pessoal I, que é um sujeito pleonástico.
Ex.-
Kunhã i katu. - A mulher, ela (é) bondosa. Kunhã i porang. - A mulher, ela (é)
bonita.
O adjetivo que qualifica um substantivo está sempre em composição com ele e
é invariável em número. Também a composição de substantivo + adjetivo deve
terminar sempre em vogal. Acrescentamos -A se o segundo termo da
composição terminar em consoante. Esse -A refere-se não ao adjetivo, mas à
composição formada pelo substantivo e pelo adjetivo. O adjetivo qualificativo
sempre está em composição com o substantivo.
Ex.-
Bonito em tupi é porang. Agora:
kunhã-porang-a - mulher bonita, (ou mulheres bonitas) - Acrescentamos um A
porque o adjetivo termina em consoante.
Bom em tupi é katu. Então: Abá-katu - homem bom (ou homens bons) - A
composição termina em vogal (u). Assim, não acrescentamos o sufixo -A final.

Ex.-

taba + porang tá’-porang-a aldeia bonita

upaba + nem upá’-nem-a lago fedorento

‘y + pyrang ‘y-pyrang-a rio vermelho

Exercício 10
Com base no vocabulário dado abaixo, traduza para o tupi as frases seguintes:
Adjetivos
alto - puku
bom - katu
bonito - porang
fedorento - nem
pequeno - mirim
sujo - ky’a
vermelho - pyrang
Substantivos
aldeia - taba
árvore - ybyrá
Cunhambebe - Kunhambeba
homem - abá
menino - kunumim
mulher - kunhã
padre - abaré
Potira - Potyra
Reritiba - Rerityba
rio - ‘y
01 - O homem bom é fedorento.
02 - O homem fedorento é bom.
03 - O menino pequeno é bonito.
04 - O menino bonito é pequeno.
05 - O rio vermelho é sujo.
06 - O rio sujo é vermelho.
07 - O homem bonito é alto.
08 - O homem alto é bonito.
09 - A árvore pequena é vermelha.
10 - A árvore vermelha é pequena.
EXERCÍCIO 11
Traduza as frases abaixo com base no vocabulário mnemônico apresentado:
- Potengi (rio do Rio Grande do Norte) - de potim - camarão + îy – rio*: rio dos
camarões
- Tietê (rio de São Paulo) - de ty- rio, água* + eté - muito bom, verdadeiro,
genuíno: rio muito bom, rio verdadeiro
- Tijuca (nome de rio do Rio de Janeiro) - de ty - rio, água + îuk - podre: rio
podre, água podre
- Paraíba (estado brasileiro e nome de rio que banha sua capital) - de pará -
rio grande ou mar* + aíb
- ruim, mau: rio ruim
- Paranapanema (nome de rio que separa os estados de São Paulo e Paraná) -
de paranã - mar ou rio grande* + panem - imprestável: rio imprestável
- Bauru (nome de município de São Paulo) - de ‘ybá - fruta + uru - vasilha:
vasilha de frutas
- Peruíbe (nome de município de São Paulo) - de iperu - tubarão + ‘y - rio + -
pe - em: no rio dos tubarões
*Atenção!
Rio, em Tupi Antigo pode ser ‘y ou ty. No Nordeste, achamos também a
forma îy. Rio grande, rio de grande volume d´água, pode ser paranã (que
também significa mar) ou pará.
01 - Potim i pyrang. Potim o-‘ytab ty-îuka pupé.
02 - ‘Ybá o-kuî ybyrá suí. ‘Ybá i îuk.
03 - Kunumim-aíb-a o-só pará-gûasu-pe.
04 - Abá-panema o-ker pirá-îy-pe.
05 - Iperu o-sem paranã suí.
06 - ‘Ybá-îuka o-îkó uru pupé.
07 - Kunhã-aíba o-nhe’eng abá-panema supé.
08 - Iperu-panema o-‘ytab pirá-îy-pe.
Lição 6

Taquarenduva, Mantiqueira, Itaipu, Pindamonhangaba, Pernambuco,


Catanduva, Nuporanga, Garanhuns...Depois de ler esta lição, você saberá o
que esses nomes significam.

Algumas transformações fonéticas

Quando uma consoante surda (K, T, P, S) vier depois de um fonema nasal


numa composição ou numa afixação, ela se nasaliza, a não ser que já exista
outro fonema nasal no vocábulo onde aparece a consoante surda. Mesmo
caindo o fonema nasal, a vogal anterior continua nasal. Assim:

K torna-se NG

T torna-se ND

P torna-se MB ou M

S torna-se ND

Ex.-
kunumim + katu - kunumim-ngatu - menino bom
nhum + -pe - nhum-me - no campo
mena + sy - men(a)-ndy - mendy - mãe de marido, sogra

Agora veja:

kunumim-porang-a - menino bonito - Em porang já existe um fonema nasal


(ng). Sendo assim, o p não se nasaliza diante do fonema nasal final
de kunumim.

Tupã sy - a mãe de Deus - Não há composição aqui. Assim, o s não se


nasaliza (v. §58).

kunhã-kane’õ - mulher cansada - O k de kane’õ não se nasaliza porque já


existe outro fonema nasal no vocábulo.
nhe’enga + katu - nhe’e(nga)-ngatu - nhe’e -ngatu - língua boa, fala boa
tetama + -pe - teta(ma)-me - tetã-me - na região, na terra

EXERCÍCIO 12

Para praticar a aplicação das regras de transformação fonética, verta para o


tupi as composições acima e aprenda o significado do nome de muitas
localidades brasileiras e de muitos termos de origem tupi.

01 - mulher cansada
02 - camarão vermelho
03 - enseada de mar (cidade do Paraná)
04 - mata branca (nome de vegetação do sertão nordestino)
05 - na rede (de dormir)
06 - barulho de passarinhos
07 - lugar de fazer anzóis
08 - dança de mulher
09 - fenda de mar (nome de estado brasileiro)
10 - ossos de passarinho
11 - pião de menino
12 - ajuntamento de passarinhos
13 - ajuntamento de cerrado (nome de município de São Paulo)
14 - prato comprido
15 - campo silencioso
16 - campo dos guarás (nome de município de Pernambuco)
17 - na bica d’água
18 - gotas de chuva (nome de serra de Minas Gerais)

VOCABULÁRIO
ajuntamento - tyba
barulho - pu
bica d’água - ‘y - tororoma
branco - ting
camarão - potim
campo - nhum
cana-de-açúcar - takûar-e’em
cansado - kane’õ
cerrado (tipo de vegetação do Brasil) - ka’a-atã
chuva - amana
comprido - puku
dança - poraseîa
enseada - kûá
fenda - puka
gota – tykyra
guará - gûará
lugar de fazer anzóis - pindá-monhang-aba
mar – paranã
mata – ka’a
menino - kunumim
mulher - kunhã
osso - kanga
passarinho - gûyrá-’im
pião - pyryryma
prato - nha’em
rede (de dormir) - inim
silencioso - kyririm
vermelho - pyrang
Lição 7

Os verbos transitivos

KUNUMIM O-Î-KUTUK O PEREBA PINDA´YBA PUPÉ PINDAMONHANGA-


PE.

O curumim cutucou sua pereba com a pindaíba no lugar de fazer anzóis...

Os verbos transitivos

Todo verbo transitivo em tupi pode levar o objeto direto a três posições
diferentes:

a - Antes do verbo
Pindá a-î-monhang - Anzol faço. É a colocação mais comum do objeto direto
em tupi.

b - Incorporado no verbo
A-pindá-monhang. - Faço anzol - O objeto direto, nesse caso, fica entre o
prefixo a-, ere-, o-, etc. e o tema verbal. É o que chamaremos de objeto
incorporado (que é uma forma de composição em tupi). Aplica-se, aí, então, a
regra fonológica 3 (lição 3):

c - Depois do verbo
A-î-monhang anzol. - Faço anzol.

Se o substantivo objeto direto não ficar incorporado no verbo, aí ficará o


pronome objetivo da 3ª pessoa -Î-, mesmo que o substantivo correspondente
ao objeto direto esteja presente na oração.

Ex.-

MONHANG (fazer)

a-î-monhang
faço; fiz anzol
pindá
ere-î-monhang
fazes; fizeste anzol
pindá

o-î-monhang
faz; fez anzol
pindá

oro-î-monhang
fazemos; fizemos anzol (excl.)
pindá

îa-î-monhang
fazemos; fizemos anzol (incl.)
pindá

pe-î-monhang
fazeis; fizestes anzol
pindá

o-î-monhang
fazem; fizeram anzol
pindá

Veja bem! Literalmente A-î-monhang pindá significa Faço-o o anzol, com um


objeto pleonástico.

Outro
(espetar, furar)
exemplo: KUTUK

a-î-kutuk pereba espeto; espetei a ferida

ere-î-kutuk
espetas; espetaste a ferida
pereba

o-î-kutuk pereba espeta; espetou a ferida


oro-î-kutuk
espetamos a ferida (excl.)
pereba

îa-î-kutuk pereba espetamos a ferida (incl.)

pe-î-kutuk
espetais, espetastes a ferida
pereba

o-î-kutuk pereba espetam, espetaram a ferida

Diz-se em português: Faço a comida, ou então: Faço-a; Conheço os meninos


ou então: Conheço-os. Em tupi, porém, se o substantivo objeto não estiver
incorporado no verbo, dir-se-ia algo correspondente a faço-a a comida ou
conheço-os os meninos, isto é, usa-se um objeto direto pleonástico.

Observação importante:
Com os verbos monossilábicos usa-se -îo- (ou -nho-, antes de nasais).

Ex.-

SOK (socar, pilar)

a-îo-sok akaîu soco o caju

ere-îo-sok akaîu socas o caju

o-îo-sok akaîu soca o caju, etc

Quando Î ficar junto de um outro Î ou I, há, geralmente, a fusão dos dois num
único Î.

Ex.-
a- mato- o-î-
a-î-îuká o-îuká mata-o
îuká o îuká

a- atiro- o-î-
a-î-ityk o-îtyk atira-o
îtyk o ityk
Lição 8

Por que a índia Iracema de José de Alencar chamou seu filho, o primeiro
cearense, de MOACYR?

A voz causativa

Veja estas duas frases:


a - Gûarinim o-sem o taba suí.
O guerreiro saiu de sua aldeia.

b - Gûarinim o-î-mo-sem gûaîbim o taba suí.


O guerreiro fez a velha sair da sua aldeia.

Como você pode perceber, na frase b o sujeito (gûarinim) faz alguém praticar
uma ação, em vez de ele mesmo praticá-la, como na frase a. Na frase b, o
guerreiro fez a velha sair. A velha é o agente imediato e o guerreiro é
o agente mediato. Isso é o que chamamos de voz causativa, ou seja, aquela
em que alguém causa uma ação ou um processo, mas não os realiza. Quem
os realiza é outra pessoa.

Em tupi, a voz causativa é formada antepondo-se o prefixo MO- a verbos


intransitivos, substantivos, adjetivos, partículas, etc.

sem - sair mo-sem - fazer sair


îebyr - voltar mo-îebyr - fazer voltar
eté - verdadeiro; honrado; legítimo.........mo-eté - honrar; legitimar, louvar
akub - quente........................................mo-akub - esquentar
abaré - padre.......................................mo-abaré - tornar padre, fazer padre:
A-î-mo-abaré Pedro.
Faço Pedro ser padre. (Anch., Arte, 48v)

paîé - curandeiro......mo-paîé - tornar pajé, fazer ser pajé


endy (t-) - luz............mo-endy - iluminar, acender
Oro-î-mo-endy t-atá.
Acendemos o fogo.

Transformações fonéticas com mo-

MO- é sílaba nasal. Produz nasalização das consoantes K, T, P e S (regra


fonológica 6, § 78).

Ex.-
mo- + pak (acordar) > mo-mbak - fazer acordar
mo- + ker (dormir) > mo-nger - fazer dormir
mo- + tykyra (gota) > mo-ndykyr - fazer gotejar, destilar
mo- + só (ir) > mo-ndó - fazer ir

Em mo- + tym > motym, não há nasalização porque já há uma nasal no tema
verbal (regra fonológica 6, § 78).

EXERCÍCIO 14

Verta para o Tupi com base no vocabulário mnemônico apresentado


abaixo e no que já conhece:

- Guataporanga (município de São Paulo) - de guatá - caminhar, caminhada


+ porang - bonito: caminhada bonita

- Jaguatirica: îagûara - onça + tyryk - escapulir: onça que escapule, onça


arisca

- graúna - nome de pássaro: gûyrá - pássaro + un - preto, escuro: pássaro


preto

- Tucuruvi (nome de bairro de São Paulo) - tukura - gafanhoto + oby - verde

- Tapirapé - nome de grupo indígena - de tapi’ira - anta + (a)pé - caminho -


caminho de antas: (Era o nome que os antigos índios da costa do Brasil davam
à Via Láctea.)

- Itaipu (nome de usina hidrelétrica do Paraná) : itá - pedra + ‘y - rio + pu -


barulho, ruído: barulho do rio das pedras

- Ajuruoca (localidade de Minas Gerais) - aîuru - variedade de papagaio


+ oka - casa, reduto: casa de papagaios

- Ipiranga (nome de bairro de São Paulo) - ‘y - rio, água + pyrang - vermelho:


rio vermelho, água vermelho

- Iraci (nome de mulher) - eíra - mel + sy - mãe: mãe do mel, abelha

- Ipanema (nome de bairro do Rio de Janeiro) - upaba - árvore + nem -


fedorento

- Urucu - uruku - nome de planta que fornece tinta vermelha para tingir o
corpo.

- Bartira (nome de mulher) - mbotyra - flor


- Taquarenduva (município de São Paulo) - takûara - taquara, variedade de
bambu + e’em - doce + tyba - ajuntamento

- Tiquinho (como um tiquinho de café...) - de tykyra - gota, pingo

- Mantiqueira (nome de serra de Minas Gerais) - de amana - chuva + tykyra -


gota: gotas de chuva

- Ibiara (nome de localidade da Paraíba) - de yby - terra + ‘ar - cair: terra caída

- Ubaporanga (localidade de Minas Gerais) - de ybaka - céu + porang - bonito:


céu bonito

01 - O menino fez feder a casa.


02 - A onça fez escapulir o menino.
03 - Avermelhei a mãe de Pedro com urucu.
04 - O barulho das antas fez escapulir os pássaros verdes.
05 - Embelezei a casa com as flores vermelhas.
06 - Pretejei o menino com a água escura.
07 - As flores esverdeiam o lago bonito.
08 - As flores embelezam o caminho das onças.
09 - O barulho das antas faz andar o menino.
10 - O mel adoça a água.
11 - A gota de chuva caiu do céu.
12 - O pássaro bonito caminha na terra.
13 - A nuvem escureceu a terra.
14 - O pássaro caiu dentro do rio.

O substantivo tyba

O substantivo Tyba, do tupi, forma muitos topônimos no Brasil. Ele significa


“reunião’’, ‘‘ajuntamento’’, ‘‘multidão”. Tal coletivo realiza-se, em português, de
várias maneiras: -tiba, -tuba, -nduva, -ndiva, -tuva, -tiva.

EXERCÍCIO 15
Para conhecer topônimos com tal forma, complete as palavras cruzadas.
(Certos nomes de plantas são tomados do tupi sem alterações fonéticas.)

01 - Cidade paulista cujo nome, em tupi, significa “ajuntamento de sal” (sal


: îukyra)

02 - Cidade paulista cujo nome, em tupi, significa “ajuntamento de cobras”


(cobra : mboîa)

03 - Nome de cidade paulista que significa “ajuntamento de araçás”


04 - Nome de cidade paulista que significa “ajuntamento de mata dura”, ou
seja, de cerrado (duro : atã)

05 - Nome de localidade de Minas Gerais que significa “reunião de emas” (ema


: nhandu)

06 - Nome de estrada do município de São Bernardo do Campo, SP,


que significa “ ajuntamento de taquara-faca” (faca : kysé)

07 - Nome de rua de São Paulo que significa “ajuntamento de sapé”

08 - Nome de serra do Rio de Janeiro que significa “ajuntamento de palmeiras”


(palmeira: pindoba)

09 - Nome de cidade paulista que significa “reunião de caraguatás”

10 - Nome de vila de São Paulo que significa “reunião de andorinhas”


(andorinha : taperá)
Lição 9

Ibirapuera

Anhanguera

Capoeira

Pariquera...
Que significa -uera?

O tempo nominal em tupi

Em tupi existe o tempo do substantivo. Para tanto, usam-se os


adjetivos RAM (futuro, promissor, que vai ser), e PÛER (passado, velho,
superado, que já foi), que recebem, na composição, o sufixo -A: RAM-A,
PÛER-A. Eles são tratados, também, como se fossem sufixos, apresentando,
então, as formas -ÛAM-A (-AM-A) e -ÛER-A (-ER-A).

Ex.-
ybyrá - árvore
ybyrá-ram-a - a futura árvore ou o que será árvore (Diz-se, por exemplo, de
uma muda ou de um arbusto.)
ybyrá-pûer-a - a ex-árvore ou a árvore caída (Diz-se, por exemplo, de um
tronco seco caído ou de uma árvore morta.)

A-î-monhang xe r-embi-’u-rama. - Faço minha comida (que ainda não está


pronta).
A-î-monhang xe r-embi-’u-pûera. - Fiz minha comida (que já foi deglutida).

Com substantivos oxítonos, RAM(A) e PÛER(A) mantêm as consoantes R- e P-


, respectivamente.

Ex.-
xe só-rama - minha futura ida
xe só-pûera - minha passada ida

Com substantivos paroxítonos, RAM(A) e PÛER(A) assumem formas com


ditongo ou vogal iniciais: ÛAM(A), AM(A); ÛER(A), ER(A), respectivamente.
Em regra geral, os substantivos paroxítonos perdem o sufixo -A e juntam -
ÛAM(A) ou -ÛER(A).

Ex.-
Anhanga - diabo - Anhang-ûama - futuro diabo e Anhang-ûera - o que foi
diabo ou diabo velho
oka - casa
ok-ûama - futura casa

A labial B cai diante de -ÛAM(A) e -ÛER(A). Antes da semivogal, nos


ditongos -ÛA e -ÛE, aparece freqüentemente G (v. a regra fonológica 2, lição 3,
§ 48)

Ex.-
peasaba - porto peasa-(g)ûama - futuro porto
peasa-(g)ûera - o que foi porto; porto velho

EXERCÍCIO 16

Relacione as colunas para saber a origem e o significado dos seguintes nomes:

01 - Ibirapuera ( ) aldeia extinta

02 - Tabatingüera ( ) ossada, osso fora do corpo

03 - Anhangüera ( ) mata extinta

04 - Piaçagüera ( ) diabo velho

05 - tapera ( ) barreira branca esgotada

06 - capoeira ( ) rio extinto

07 - quirera ( ) porto extinto


08 - Pariqüera ( ) árvore caída, árvore velha

09 - Tipuera ( ) o que foi grão, grânulo

10 - Cangüera ( ) barragem extinta

VOCABULÁRIO: eíra - mel; tobatinga - barro branco como cal, barreira


branca; peasaba - porto, embarcadouro; kuruba - bolota, grão, caroço; pari -
canal para apanhar peixes; ty - rio, líquido; kanga - osso (enquanto está no
corpo)

Os substantivos pluriformes

A maior parte dos substantivos, adjetivos, verbos e posposições tupis têm uma
só forma de se expressar. Essas palavras se chamam UNIFORMES.

Ex.-
AOBA - roupa
PINDÁ - anzol
ITÁ - pedra

Existem, porém, palavras que apresentam várias formas de se expressar,


recebendo diferentes prefixos de relação (T-, R-, S-): são os PLURIFORMES.
Tratamos aqui dos substantivos pluriformes.

Ex.-
ERA, T-ERA, R-ERA, S-ERA - nome

A forma ERA, acima, é o tema. A forma em T- (p.ex. T-ERA) se chama forma


absoluta. Ela é usada quando a palavra é independente, como sujeito ou como
objeto, sem exigir outra palavra para completar-lhe o sentido.

Ex.-
O nome é bonito! - T-era i porang! (Léry, Histoire, 341)
Se quisermos dizer, em tupi, nome bonito, de forma absoluta, sem
relacionarmos o termo nome a algum substantivo ou possessivo, diremos t-
e(ra)-poranga. Agora, se quisermos relacionar a palavra com um possessivo e
dizer meu nome, diremos, em tupi, xe r-era. Se quisermos dizer nome do
menino, verteremos por kunumim r-era. Se quisermos dizer nome dele,
diremos s-era. As formas em R- e S- (p.ex. R-ERA e S-ERA) se chamam
formas relacionadas ou formas construtas.
A forma relacionada em R- é usada quando o vocábulo pluriforme é
imediatamente precedido por um possessivo de 1a ou 2a pessoas (singular ou
plural) ou por um substantivo com o qual ele esteja em relação genitiva ou do
qual ele dependa gramaticalmente.

Ex.-
t-emimotara xe r-emimotara xe r-uba r-emimotara
vontade minha vontade a vontade de meu pai

t-ugûy - sangue
pe r-ugûy - vosso sangue
paka r-ugûy - o sangue da paca

t-eté - corpo
nde r-eté - teu corpo
abá r-eté - o corpo do índio

A forma relacionada em S- é usada quando se refere à terceira pessoa sem


substantivo. O S- é pronome de 3a pessoa e equivale ao pronome I (usado
com os substantivos uniformes) e significando ele(s), ela(s), seu(s), sua(s).

Ex.-
com substantivo: kunumim r-era - o nome do menino (Anch., Arte, 9v)
com o pronome: Santa Maria s-era (...) - Santa Maria é o nome dela. (Anch.,
Poemas, 88)

Assim:
o corpo dele: s-eté, mas Pedro r-eté - o corpo de Pedro (Anch., Arte, 12v)
o sangue dele: s-ugûy, mas mba’e r-ugûy - o sangue do ser bruto (VLB, II,
112)

Na relação genitiva com composição, caem os prefixos de relação na fronteira


entre as palavras (ver o §54 e o §58), além de caírem também os sufixos da
palavra anterior (a que chamamos determinante ou genitivo).

Ex.-
Tupã r-oka - a casa de Deus Agora: Tupã-oka - casa de Deus, igreja (em
sentido genérico - veja que cai o prefixo r-)
tatu r-apé - o caminho do tatu Agora: tatu-apé - caminho de tatus (em sentido
genérico - cai o prefixo r-)
îagûar-a r-a’yra - o filhote da onça (isto é, de uma determinada onça)
îagûar-a’yra - filhote de onça (isto é, de onças em geral - Caem o prefixo r- e o
sufixo -a na fronteira entre as palavras)

Alguns substantivos pluriformes irregulares


oka - casa - Na forma absoluta não recebe t-. Indicaremos oka (r-s-)
oka - casa (forma absoluta)
xe r-oka - minha casa
s-oka - casa dele

apé - caminho - Na forma absoluta perde a vogal a e não leva t-.


Indicaremos (a)pé (r-s-)
pé -caminho
xe r-apé - meu caminho
s-apé - caminho dele

apó - raiz - Na forma absoluta recebe s-. Indicaremos apó (s-r-s-)


s-apó - raiz (absoluto)
ybyrá r-apó - raiz da árvore
s-apó - suas raízes

Há muitos substantivos uniformes começados por t. O t, nesse caso, não é


prefixo, mas faz parte do tema do substantivo. Os nomes de animais, plantas e
frutas que começam por t são sempre uniformes.

Ex.-
Tupã - Deus
taba - aldeia
tatu - tatu
tapiti - coelho
tapi’ira - anta

EXERCÍCIO 17

Verta para o Tupi com base no vocabulário mnemônico apresentado abaixo e


no que já conhece. Indicaremos os substantivos pluriformes com t- ou r-
prefixados ou (t-, r-, s-) entre parênteses:

Boitatá (nome de entidade mítica dos antigos índios tupis da costa) -


de mba`e - coisa + t-atá - fogo (veja que este termo é pluriforme): a coisa-
fogo

Carioca (o natural da cidade do Rio de Janeiro) - de kariîó - carijó , índio


guarani + oka (r-, s-): casa de carijós

Tatuapé (nome de bairro de São Paulo) - tatu - tatu + (a)pé (r-, s-): caminho de
tatus

Itaici (nome de bairro de Indaiatuba, SP) - de itá - pedra e ysy (t-,r-,s-) - fila,
fileira: fila de pedras
Xará (o que tem o mesmo nome de alguém - de xe -meu + r-era - nome
[era (t-, r-, s-)] - nome: meu nome

Tupãciretama (nome de localidade de Pernambuco) - de Tupã - Deus+sy -


mãe + etama (t-, r-, s-) - terra, região: terra da mãe de Deus

Piranha (nome de um peixe) - de pirá - peixe + ãîa (t-, r-, s-) - dente: peixe
dentado

Sapopemba (nome da maior avenida de São Paulo) – de apó (s-, r-, s-) + pem
– anguloso: raízes angulosas

01 - Os carijós fizeram fogo dentro da casa. O fogo deles é pequeno.


02 - O caminho dos carijós é bonito.
03 - Conheço o nome de tua mãe.
04 - Os dentes de tua mãe são pequenos.
05 - A fila dos peixes é comprida.
06 - Conheço a região do chefe.
07 - As raízes da árvore são angulosas.
Lição 10

Guarda-mirim, Estrada do Mboi-mirim, Cataratas do Iguaçu...


Que significam mirim e guaçu?
“A mulher sapeca o porco...”
Donde vem sapecar?

Os graus do substantivo (aumentativo e diminutivo)

Em tupi, o grau aumentativo faz-se com os sufixos -ÛASU (-GÛASU) ou -USU.


-ÛASU (-GÛASU) é usado quando o substantivo é oxítono e -USU quando é
paroxítono. Este perde o sufixo -A, quando o tiver.

Ex.-

pará- mar grande,


pará mar
gûasu oceano

kunumim-
kunumim menino moço
ûasu

ybytyr- montanhão,
ybytyra montanha
usu serra

mboîa cobra mboî-usu cobra grande

palmeira
pindob-
pindoba palmeira grande,
usu
palmeirão

O grau diminutivo faz-se com os sufixos -’IM e -’I ou com o adjetivo MIRIM. Cai
o sufixo -A do substantivo, se ele existir.
Ex.-

itá pedra itá-’im pedrinha

pitanga criança pitang-im criancinha

gûyrá pássaro gûyrá-’im passarinho

mboî- cobrinha; cobra


mboîa cobra
mirim pequena

‘y rio ‘y-mirim riozinho; rio pequeno

A oclusiva glotal cai se seguir uma consoante numa composição ou sufixação.

Ex.-

pitang(a) +
pitang-im nenenzinho
‘im

a-
A-petymb-
petym(a) + Fumo
u
‘u

tapi’ir(a) + ‘y tapi’ir-y rio de antas

EXERCÍCIO 18

Traduza:
1. Kunumim-gûasu pirá-’im o-îuká ‘y-mirim pupé.
2. Morubixaba mboî-mirim o-îuká, nd’o-îuká-î-te mboî-usu.
3. Kunhã-muku-’im peró o-î-kutuk.
4. Oro-gûeîyb ybytyr-usu suí.
5. Itá-’im-etá oro-î-pysyk ‘y-mirim pupé.
6. Kunhã-etá îakaré-gûasu o-î-pysyk.

Vocabulário
îuká – matar
morubixaba - chefe
mboîa – cobra
kunhã-muku-'im - mocinha
peró – português
gûeîyb – descer
ybytyra – montanha
pysyk – pegar, apanhar
îakaré - jacaré;

EXERCÍCIO 19

Os sufixos -gûasu (aumentativo), -’im (diminutivo) e o


adjetivo mirim aparecem em grande número de topônimos no Brasil e até em
substantivos comuns. Procure dar os significados dos nomes abaixo:

a) Cataratas do Iguaçu
b) Itaim
c) Tijucuçu (tyîuka – pântano, lodo)
d) Itapemirim (peb – achatado; syryk - escorregadio)
e) Igaraçu (ygara – canoa)
f) Itaguaçu
g) guarda-mirim
h) oficial-mirim
i) Mboi-mirim
j) Imirim

Os verbos pluriformes

Os verbos pluriformes recebem pronome objetivo -S-


Ex.- APEK - sapecar, chamuscar, queimar ligeiramente

INDICATIVO
A-s-apek kunhã - sapeco a mulher
Ere-s-apek kunhã - sapecas a mulher
O-s-apek kunhã - sapeca a mulher
Oro-s-apek kunhã - sapecamos a mulher (excl.)
Îa-s-apek kunhã - sapecamos a mulher (incl.)
Pe-s-apek kunhã - sapecais a mulher
O-s-apek kunhã - sapecam a mulher
Indicaremos os verbos pluriformes com (S):
Ex.
aûsub (s) - amar
epîak (s) - ver
apek (s) - sapecar

EXERCÍCIO 20

Verta para o Tupi com base no vocabulário mnemônico apresentado abaixo e


no que já conhece:

- Paranapiacaba (nome de serra do Sudeste) - de paranã - mar + epîak (s) -


ver + -aba - lugar: lugar de ver o mar.

- Caçapava (município de São Paulo) - de ka’a - mata + asab (s) - atravessar,


cruzar + -aba lugar: lugar de atravessar a mata.

- Cunhaú (município do Rio Grande do Norte) - de kunhã -mulher + ‘y - rio: rio


das mulheres.

- Ibitipoca (localidade de Minas Gerais) - de ybytyra - montanha + pok -


estourar: montanha estourada (i.e., com grutas).

- Maíra (nome próprio de mulher) - de maíra - nome de entidade mitológica dos


antigos índios da costa que serviu para designar os franceses, que os índios
supunham ser criaturas sobrenaturais. Significa, assim, francês.

- Jaguaquara (localidade da Bahia) - de îagûara - onça + kûara - toca: toca da


onças.

- Taiaçutuba (nome de ilha do Amazonas) - de taîasu - porco (do mato)


+ tyba - ajuntamento, grande número: ajuntamento de porcos.

- Guaibim (localidade da Bahia) - de gûaîbim - velha.

- Tatajuba (localidade do Ceará) - de tatá - fogo + îub - amarelo: fogo amarelo.

- Itacolomi (formação rochosa de Minas Gerais) - de itá - pedra + kunumim -


menino: menino de pedra.

01 - A mulher vê o céu azul.


02 - O menino atravessa a montanha amarela.
03 - A mulher má atravessa o mar dentro do navio do francês.
04 - O francês viu a mulher dentro da toca da onça.
05 - A velha sapecou o porco dentro de sua casa.
06 - A mulher bonita sapecou o francês dentro do fogo.
07 - O menino ama a velha.
08 - Amo as mulheres. As mulheres amam o francês.

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