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CENTRO UNIVERSITÁRIO BELAS ARTES DE SÃO PAULO

Bacharelado em Artes Visuais: Pintura, Gravura e Escultura

FABIO ESTEVES DE ROSA

“ATÔNICO”:
Performance

Memorial descritivo referente à disciplina de Perfor-


mance, ministrada pela Prof.ª Dr.ª Carol Melchert,
apresentado como requisito parcial para avaliação do
2º bimestre

São Paulo, 2020


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RELEASE

Autor: Fabio De Rosa


Título: “Atônico”
Ano: 2020
Linguagem: Performance
Duração: ~ 30 min
Espaço utilizado: ~ 3m² em local de passagem

A ação se desenvolve em local de passagem no ambiente urbano ou no interior de um estabe-


lecimento, dentro de um contexto bastante cotidiano. O sujeito performático se apresenta des-
calço e trajado de vestimenta corriqueira e neutra. A performance “Atônico” intenta um embate
entre o encaixe e o desencaixe, aludindo às aflições presentes na vida em sociedade. Ali se
produzem gestos à menor aproximação com os transeuntes do espaço. Se verificaria incômodo
por parte do artista em cena na presença de tais pessoas, além de uma sutil naturalidade diante
da posição relativamente camuflada, pois se mantém quase estático no local de passagem se-
guindo código de vestimenta.

O ato tem duração de aproximadamente 30 minutos e ocupa um espaço de aproximadamente


três metros quadrados. Este trabalho embasou-se em ações performáticas de Marina Abramo-
vic, como “Imponderabilia” (1977) [Fig. 1] – junto a seu então parceiro Ulay – dentre outras,
para discutir questões ligadas à vida em sociedade por meio da relação com o público. São
provocadas reações do público perante o performer e são ocasionadas reações do performer
perante o público.
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CONCEITO

Em “Atônico” há uma ação de inserir-se no espaço comum e deixar-se sensibilizar pela passa-
gem de pessoas, natural do ambiente escolhido. Com os pés descalços e traje rotineiro, quer-se
adentrar no espaço sem produzir inquietude. O sujeito performático, estático, observa atônico
o andar apressado dos transeuntes e se comove pela passagem desenfreada e postura cristalizada
do povo presente. Se demonstra represado e incapaz de efetuar alarde na constância consolidada
do grupo. Se propõe ao encaixe resistente, atrelado ao duro piso da construção civil ou jardim
da metrópole. Ali se fecha e se coloca ao público diante de sua individualidade exacerbada,
avessa ao convívio duradouro, abismada com o desenrolar da sociedade e átona às demais com-
plexidades, que superariam o limite do sustentável para aquele corpo estarrecido. E ainda mais
pelo contato muito próximo com o calor de outros espantados, sem contar com os olhares re-
preensivos dos pedestres privativos. O eu performático estatela-se na fluidez organizada da es-
trutura caótica do espaço designado, sem saber comportar-se diante da turbulenta ação do con-
vívio. Os andantes passageiros nunca cessam o contato, para quem alheia-se da sapiência sobre
a bruta alteridade, no âmago de cada qual com seu próprio individualismo. A jornada imóvel
se desdobra sem grandes novidades para a estrutura orgânica ímpar, em meio ao emaranhado
de seres passantes da cidade. São situações, pelas quais passa, análogas entre si e cumulativas
no infindo decorrer estruturante e redentor chamado tempo. São discrepâncias tortuosas e inin-
terruptas naquela redoma, para aquele que desconsidera a estrutura cronológica massificante
engendrada pelos astutos antepassados, sobre os quais não tem conhecimento. Aquilo se opõe
e se decompõe pela força remanescente do ser. Em sua própria gangorra de pensamento, analisa
inquietamente as pistas de intimidade, como se pudesse aplicar aquele discernimento em seu
próprio relacionamento consigo mesmo. Perpassa sua paralisia ultrapassando os ritos de com-
portamento, intrínsecos ao contato transformador e necessário, da inevitável coletividade.
Tanto faz, quanto tanto fez, na rigidez anárquica dos seios da vida. Blasfema sua situação auto
infligida, mas resolve-se buscando evitar a posição rígida dos demais habitantes. Se pudesse
julgar pela comparação, estaria exercendo papel demasiadamente interessado, pelas peripécias
daqueles que, o mesmo, não demonstram. Não lhe atingem o ser calejado, acostumado já com
a aspereza dos desajeitados viajantes. Assim, retira-se pela desconsideração, tudo tem um fim,
e isso se espera. Tudo retira-se pelo cansaço. Não se insiste na mesma ação passiva e atônita
infinitamente sem que o ouçam gritar em sua ideia hipotética.
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LISTA DE IMAGENS

Fig. 1. Registro: Marina Abramovic e Ulay, “Imponderabilia”, 1977, performance, Art Basel (14-17 junho)

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