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25/2/2019 Crescimento e Progresso, artigo de Marcus Eduardo de Oliveira - EcoDebate

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Crescimento e Progresso, artigo de Marcus Eduardo de Oliveira


Artigo by Redação - 28/04/2016  1

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[EcoDebate] Obcecada pela lógica capitalista dominante, a sociedade moderna parece ter sérias di culdades
em diferenciar, na prática e não no conceito, “crescimento” de “progresso”, e, de modo análogo, insiste em
confundir o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), não somente como sendo a maneira mais e ciente de
mensurar, mas também de aprimorar os níveis de bem-estar e de felicidade, como se esses princípios basilares
da vida, rasteiramente, dependessem de conquista material.

Ora, já é quase consenso entre os estudiosos da área econômica, que o PIB, do jeito que comumente é medido,
não obstante esforços patrocinados em prol de uma completa revisão da metodologia de cálculo, apresenta

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Lamentavelmente, as discrepâncias quanto a isso não param por aí. Por isso continua sendo precisa e atual a
argumentação feita pelo senador por Nova Iorque, Robert Kennedy, em meados dos anos 1960: “O PIB mede
tudo, exceto aquilo que faz a vida valer a pena”.

De tal modo, o to principal deste artigo não é o de apronfundar críticas em torno da mensuração equivocada do
PIB, assunto vastamente debatido na literatura econômica. O que pretendemos aqui é comentar a visão comum
que se têm em torno dos signi cados de “crescimento” e “progresso”.

Fora isso, desejamos argumentar ainda a imprescindível necessidade de irmos ao encontro de um novo
pensamento econômico que promova a qualidade de vida, mensurada pela busca do desenvolvimento, em lugar
de apenas “valorizar” e “quanti car” os níveis de consumo, objetivo tão caro ao crescimento físico das
economias.

Por isso o “crescimento” é frequentemente confundido e entendido como o caminho mais fácil para a obtenção
de progresso, uma vez que a defesa sistemática da mão invísvel propugnada por Smith têm como argumento
central a defesa de que ao buscar a melhoria pessoal há, implicitamente, uma “contribuição” correlata para o
bem-estar coletivo.

Retomando o ponto principal, é oportuno destacar que faz-se necessário desmisti car a noção em voga, que na
verdade se tornou uma espécie de obsessão generalizada de nossa cultura, de que a expansão do PIB, per si,
gera somente benefícios, sem custos (ambientais) extras à sociedade.

Contudo, não se nega que o crescimento das economias proporciona benefícios, mas, à luz de sensata re exão,
não se pode obscurecer a visão de que, na esteira desse acontecimento, vêem junto alguns problemas, incluindo
passivos ambientais, cujo esgotamento ecossistêmico talvez seja um dos mais visíveis e perniciosos à
humanidade.

Portanto, está longe de ser uma verdade inconteste o fato de que a expansão do crescimento econômico (mais
produção de bens e serviços, logo, mais expansão da atividade produtiva) somente acarreta melhorias à
sociedade.

Em nome da verdade, não se pode esquecer que o mundo está abarrotado de produtos dos quais muitos deles
são completamente desnecessários para a continuidade da vida em sociedade.

É importante então ter a clara noção de que o crescimento físico das economias, feito à custa da diminuição do
capital natural, sendo o responsável direto por propiciar esse abarrotamento produtivo, cria mais problemas
ambientais, uma vez que esbarra nos limites da natureza.

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que na verdade não existe, uma vez que não se pode “sustentar”cookies. algo que continua a crescer inde nidamente –
encontra amparo nessa questão, exceto pelo lado dos assíduos Ok defensores da oferta ilimitada de bens e serviços,
que agem como se a natureza fosse um imenso baú dotado de recursos in ndáveis.

A verdade nua e crua é que, todo e qualquer crescimento econômico-produtivo, ocorre sob a diminuição
acentuada de algum importante serviço ecossistêmico e, principalmente, se dá à custa do uso sistemático de
capital natural, visto que muitos recursos providos pela natureza, que servem pois de suporte à atividade
industrial, são nitos, limitados.

Se nos baseamos então nesse atual e devastador modelo de economia global que organiza o aumento da
produção e do consumo com vistas a alcançar a estabilidade e a prosperidade de um país, inexoravelmente
vamos nos afastando da recuperação ecológica da terra, à medida que degradamos, pari passu, a qualidade de
vida dos povos, especialmente dos mais necessitados.

O crasso erro envolto nessa questão, a meu ver, se localiza na equivocada ideia que a sociedade tem de
“progresso”. Para começo de conversa, progresso não é riqueza.

No entanto, pela ordem do mercado, como se fosse lei divina, somos facilmente condicionados a aceitar que o
acesso ao dinheiro e, especi camente, a posse material por ele permitida, nos ofertam muita felicidade e
satisfação plena, nos deixando um pouco mais “ricos”, como se fosse possível regozijar a essência da vida a partir
do “ter mais”.

Não é então por mero acaso que a confusão existente entre dinheiro, riqueza e progresso, como se fossem
perfeitos sinônimos entre si, se sobressai. Alguém sabiamente proferiu um axioma que se encaixa
perfeitamente nesse argumento: “Ele era tão pobre, mas tão pobre, que a única coisa que tinha na vida era
dinheiro”.

Vale rea rmar: “dinheiro não é riqueza, mas apenas uma medida de riqueza, um meio de troca”, pondera com
assertividade, ao longo de seus 80 anos de idade, o lósofo indiano Satish Kumar.

Aprofundando essa questão, Kumar diz que “a riqueza verdadeira é terra fértil, orestas intocadas, rios limpos,
animais saudáveis, comunidades vibrantes, alimentação saudável e criatividade humana. Porém, os gerentes do
dinheiro transformaram a terra, as orestas, os rios, os animais e a criatividade humana em commodities a
serem compradas e vendidas”.

Até mesmo o próprio dinheiro se converteu em mercadoria. O que Kumar aponta como sendo a “verdadeira
riqueza”, lamentavelmente, não interessa aos fundamentos da economia, muito menos entram no cômputo do
PIB, ou seja, não tem “valor” algum para a economia de mercado.

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produção-consumo, do compra-vende, do consome-descarta, Ok do usa e joga fora.

Por isso se estimula tanto a política do crescimento econômico, convertendo isso em sinônimo de riqueza,
progresso e bem-estar. Desse modo, é a quantidade (crescimento) que se sobrepuja à qualidade
(desenvolvimento).

Esse é o tipo de economia linear que tem promovido, em dois séculos e meio de industrialização, a mais
completa nanceirização da natureza, des gurando-a em prol dos ditames do mercado de consumo.

Exatamente por isso – cabe rea rmar – a política de crescimento é incentivada em detrimento da
conservação/preservação dos recursos naturais que dão suporte ao sistema vida. A mercantilização de tudo o
que é mercadoria condiciona, sobremaneira, que se coloque a economia (atividade de produção-transformação)
num patamar acima da natureza, do meio ambiente e dos ecossistemas.

Para deleite dos gestores do mercado de consumo, vale mais o “ter” do que o “ser”. Para nalizar, cabe uma vez
mais referenciar o lósofo Kumar quando apropriadamente diz que (…) “Devemos viver como peregrinos, não
como turistas. O turista é egocêntrico, quer algo para ele próprio, bons hotéis, restaurantes e lojas. A sua atitude
é a exigência, quer sempre mais e melhor. O hotel, o táxi ou o serviço não era bom o su ciente. O peregrino é
humilde, deixa uma pegada leve na Terra, respeita a árvore e agradece-lhe pela sombra e frutos. A mente
egocêntrica tem de mudar para respeitarmos a natureza”.

Adaptando essas sensatas palavras ao objetivo aqui proposto, seria como a rmar que o turista quer e deseja, o
tempo todo, o “crescimento”, enquanto o peregrino anseia alcançar o “progresso”.

O “crescimento”, uma vez alcançado, é algo insustentável na linha do tempo, passa logo, é efêmero e, com direito
a um leve trocadilho, é “passageiro”, ao passo que o “progresso” é sustentável, eterno, duradouro, para sempre.

Marcus Eduardo de Oliveira, Articulista do Portal EcoDebate, é economista e ativista ambiental


prof.marcuseduardo@bol.com.br

in EcoDebate, 28/04/2016

"Crescimento e Progresso, artigo de Marcus Eduardo de Oliveira," in EcoDebate, ISSN 2446-9394,


28/04/2016, https://www.ecodebate.com.br/2016/04/28/crescimento-e-progresso-artigo-de-marcus-
eduardo-de-oliveira/.

 
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Um comentário em “Crescimento e Progresso, artigo de Marcus Eduardo de Oliveira”

Jorge Luiz Rodrigues 30/04/2016 às 22:24


Grato Marcus por tão coerente artigo. Neste profundo dizer, temos que nos “agarrar” a algum
otimismo de mudança, mas sem esquecer que essa começa necessariamente por nós.

Comentários encerrados.

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