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Rafael Barreto Ramos

© 2012

Direito Civil III

13/08/12

Ø Conteúdo Programático
Contratos em espécie.

Ø Revisão da Matéria Anterior


1. Fato Jurídico

Fatos Jurídicos são fatos que têm relevância para o direito, isto é, quando cria, modifica ou
extingue direitos.

1.1. Natural: Fato natural que produz efeitos/consequências jurídicas.

Ex. Chuva que causa enchente.

1.2. Conduta humana: Ato

I. Ato Ilícito: Para se definir o significado de ato ilícito, deve-se ter em mente duas ideias principais:

A primeira delas determina que pratica ato ilícito o indivíduo que, por sua ação ou omissão, que age
com culpa (em seu sentido amplo, envolvendo o dolo, ou seja, a intenção de causar o dano e a culpa,
quando o agente agir de forma negligente, imprudente ou com imperícia), causando prejuízos a
terceiros. Para a configuração do ato ilícito, deverá existir os requisitos: conduta humana, nexo, dano,
culpa.

A outra ideia é a de abuso de direito, que ocorre quando a pessoa, ao exercer um direito, exceder os
limites permitidos em razão das finalidades do direito, seu fim econômico e social, boa-fé e os bons
costumes.

Dessa forma, o ato ilícito é devido àquele que agir com culpa ou em abuso de direito.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

II. Ato Jurídico Lícito (Latu Sensu)(Retirado da matéria de TGD): Toda ação ou omissão humana,
voluntária ou involuntária que traga consequências jurídicas.

a. Ato Jurídico em Sentido Estrito (Strictu Sensu): Toda ação ou omissão cujos efeitos advém mais da lei
do que da vontade. A vontade é expressa em apenas alguns casos.

Ex. adoção, pois necessita da manifestação da vontade, porém os efeitos advirão primariamente da lei.

b. Negócio Jurídico: Toda ação ou omissão cujos efeitos advém mais da vontade do agente do que da
lei. SEMPRE DEPENDE DA VONTADE.

Ex.: Contratos

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2. Contrato (Retirado da matéria de Civil II)

2.1. Conceito

O negócio jurídico se divide em unilateral (uma parte), bilateral (duas partes) e plurilateral
(várias partes que irão celebrar o negócio).

Sob a ótica do negócio jurídico, o contrato será sempre BILATERAL.

Nota:

Há uma classificação dos contratos que os dividem em unilaterais e bilaterais. Veja:

- Contrato Unilateral: Gera obrigação para UMA das partes.

Ex. Contratos de doação gera obrigação somente para uma parte, o doador. O donatário não possui
obrigações.

- Contrato Bilateral: Geral obrigação para DUAS PARTES.

Ex. Contrato de compra e venda. Uma parte se obriga a pagar e outra a entregar o bem.

SUPERIMPORTANTE:
- Requisitos Contrato:

Agente capaz, objeto lícito e forma prescrita ou não defesa em lei

Ø Contrato de Compra e Venda


1. Conceito

É um negócio jurídico em que as partes se obrigam, no qual uma delas se obriga a entregar a
coisa e a outra a pagar a quantia combinada.

IMPORTANTE:

Gera obrigações. Não transfere, por si, a propriedade.

2. Partes

- Comprador

- Vendedor

3. Fases

I. Celebração: Quando as partes elaboram o contrato e se obrigam.

II. Execução: Quando há a execução do contrato, ou seja, quando a propriedade é transferida.

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4. Características

a. Consensual ou formal (Vide nota abaixo): Em regra, o contrato de compra e venda é


consensual.

Porém, há UMA ÚNICA exceção:

Os contratos de compra e venda de imóveis cujo valor é superior a 30 vezes o salário mínimo, este
contrato dever-se-á se dar através da forma de escritura pública.

Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios
jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre
imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.

IMPORTANTE:

- Contrato de compra e venda:

I. Faz-se a escritura pública no cartório de compra e venda. PODE SER FEITA EM QUALQUER
CARTÓRIO DE NOTAS.

II. A transferência, por sua vez, é feita no cartório de registros e através do registro do imóvel
no nome do comprador. DEVE SER FEITA SOMENTE NO CARTÓRIO EM QUE O IMÓVEL ESTÁ
LOCALIZADO.

- Contrato de PROMESSA de compra e venda:

Contrato preliminar no qual se promete a compra e venda de imóvel. Para este contrato não
há NENHUMA exigência quanto à forma.

Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao
contrato a ser celebrado.

Nota:

- Contratos Consensuais/Formais/Reais (Retirado da matéria de Civil II):

I. Consensuais: basta o consenso das partes para que ele se aperfeiçoe. Exige-se apenas o consenso das
partes para que se forme o contrato. O meio utilizado não é importante. Basta o consenso. NÃO HÁ
UMA FORMA PRESCRITA NA LEI.

Ex. Compra de cigarro picado num bar.

II. Formais: Aqueles que exigem a observância de certas formas estipuladas pelo legislador. Há uma
solenidade para sua validade. A FORMA DO CONTRATO ESTÁ PRÉ-ESTABELECIDA EM LEI.

Ex. Fiança deve ser por escrito.

III. Reais: Não se justificam nos dias de hoje, porém existem. É aquele que se perfaz quando há a
declaração de vontade juntamente com a tradição da coisa.

Ex. No empréstimo só se paga juros a partir do momento em que se utiliza o dinheiro disponível para tal.

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14/08/12
Nota:

O contrato de compra e venda de bem móvel é LIVRE.

b. Oneroso: A prestação de uma corresponde a uma contraprestação da outra parte.

c. Bilateral: Ambas as partes possuem obrigações.

IMPORTANTE (Rebeca, adaptado):

- Tradição necessária (Direito Real):

Art. 1.226. Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos, ou transmitidos por atos entre
vivos, só se adquirem com a tradição.

- Registro:

Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se
adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247),
salvo os casos expressos neste Código.

- Bem móvel:

Art. 1.267. A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição.

Parágrafo único. Subentende-se a tradição quando o transmitente continua a possuir pelo constituto
possessório; quando cede ao adquirente o direito à restituição da coisa, que se encontra em poder de
terceiro; ou quando o adquirente já está na posse da coisa, por ocasião do negócio jurídico.

Nota:

- As classificações Oneroso e Bilateral SÃO INDEPENDENTES, ou seja, NÃO POSSUEM RELAÇÃO


DE DEPENDÊNCIA.

5. Elementos Essenciais
Art. 482. A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as partes
acordarem¹ no objeto² e no preço³.

(1) Consentimento: As partes devem consentir no que diz respeito à realização do contrato.

(2) Objeto: O Contrato de Compra e Venda se dá em torno de um bem.

(3) Preço: O objeto vendido deve possuir um preço.

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6. Obrigações

- Vendedor

- Comprador

Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de
certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro.

Art. 483. A compra e venda pode ter por objeto coisa atual ou futura. Neste caso, ficará sem efeito o
contrato se esta não vier a existir, salvo se a intenção das partes era de concluir contrato aleatório.

- Interpretação:

Pode ser objeto de coisa atual ou futura. No caso se objeto de coisa futura e esta não vier a existir, este
ficará sem efeito, pois faltará seu elemento essencial OBJETO, a não ser se a intenção das partes era de
concluir contrato aleatório (Vide abaixo).

Ex. Contrata-se um indivíduo para pescar e este volta sem nenhum peixe.

Nota:

- CONTRATOS ALEATÓRIOS (Retirado da Matéria de Civil II): Nestes contratos, conta-se com a sorte,
uma vez que há o risco. Há “uma dose de imprevisibilidade”, uma vez que a definição das prestações
depende de um dado imprevisível.

Ou então este será aleatório por não se saber o valor da contraprestação.

É o contrato que DEPENDE DE UM DADO FUTURO.

Ex. Comprar ações na bolsa de valores. / Seguro de vida (não se sabe se a prestação será devida).

A Teoria da imprevisão não se aplica a estes contratos porque a parte ASSUME O RISCO.

Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem
a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi
prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado¹ venha
a existir.

(1) Avençado: Acordado, contratado.

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IMPORTANTE:

- Exceptio non adimpleti contractus (Exceção do contrato não cumprido): Caso uma parte não
cumpra sua obrigação, fica a outra desobrigada de cumprir a sua.

Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode
exigir o implemento da do outro.

No contrato de compra e venda:

Art. 491. Não sendo a venda a crédito, o vendedor não é obrigado a entregar a coisa antes de receber o
preço.

Art. 489. Nulo é o contrato de compra e venda, quando se deixa ao arbítrio exclusivo de uma das partes
a fixação do preço.

- Interpretação

A definição deve ser de COMUM ACORDO entre as partes.

Art. 485. A fixação do preço pode ser deixada ao arbítrio de terceiro, que os contratantes logo
designarem ou prometerem designar. Se o terceiro não aceitar a incumbência, ficará sem efeito o
contrato, salvo quando acordarem os contratantes designar outra pessoa.

Art. 486. Também se poderá deixar a fixação do preço à taxa de mercado ou de bolsa, em certo e
determinado dia e lugar.

Art. 487. É lícito às partes fixar o preço em função de índices ou parâmetros, desde que suscetíveis de
objetiva determinação.

Art. 488. Convencionada a venda sem fixação de preço ou de critérios para a sua determinação, se não
houver tabelamento oficial, entende-se que as partes se sujeitaram ao preço corrente nas vendas
habituais do vendedor.

Parágrafo único. Na falta de acordo, por ter havido diversidade de preço, prevalecerá o termo médio.

Nota:

- Condição: Evento futuro e incerto.

- Termo: Evento futuro e certo.

Macete:

- Morte: Evento futuro e certo.

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7. Requisitos

a) Subjetivos: Duas pessoas capazes e legítimas.

Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro,
exceto no regime da separação absoluta:

I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;

II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;

III - prestar fiança ou aval;

IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura
meação.

Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos filhos quando casarem ou estabelecerem
economia separada.

Art. 1.649. A falta de autorização, não suprida pelo juiz, quando necessária (art. 1.647), tornará anulável
o ato praticado, podendo o outro cônjuge pleitear-lhe a anulação, até dois anos depois de terminada a
sociedade conjugal.

Art. 496. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge
do alienante expressamente houverem consentido.

Parágrafo único. Em ambos os casos, dispensa-se o consentimento do cônjuge se o regime de bens for o
da separação obrigatória.

NESTES CASOS, NEGÓCIO JURÍDICO PODE SER REALIZADO, PORÉM É PASSÍVEL DE ANULAÇÃO. ANALISA-
SE, PORTANTO, A VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO.

Art. 504. Não pode um condômino em coisa indivisível vender a sua parte a estranhos, se outro
consorte a quiser, tanto por tanto¹. O condômino, a quem não se der conhecimento da venda, poderá,
depositando o preço, haver para si a parte vendida a estranhos, se o requerer no prazo de cento e
oitenta dias, sob pena de decadência.

Parágrafo único. Sendo muitos os condôminos, preferirá o que tiver benfeitorias de maior valor e, na
falta de benfeitorias, o de quinhão maior. Se as partes forem iguais, haverão a parte vendida os
comproprietários, que a quiserem, depositando previamente o preço.

(1) Tanto por tanto: vender a parte pelo que a coisa vale.

IMPORTANTE (Rebeca, adaptado)

- Domínio: Propriedade (exclusiva);

- Condomínio: Propriedade de mais de uma pessoa.

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Nota:

- Nulidade versus anulidade (Rebeca, adaptado):

Anulável: Convalesce¹, se torna válido. Juiz NÃO reconhece de ofício. (art. 172)

Art. 172. O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de terceiro.

Ato

Nulo: Não convalesce. Juiz reconhece de ofício. (art. 169)

Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso
do tempo.

(1) Convalescer: é recuperar-se de uma moléstia, é estar em processo de cura. Evidentemente que
nem todas as enfermidades, a depender do estágio e da gravidade que apresentam, são passíveis de
cura, situação em que não há convalescença. Outras, menos graves, podem ser extirpadas do
organismo, após o que o enfermo, convalescendo, restabelece-se, passando a viver com normalidade.

O mesmo ocorre com os contratos. Alguns, por estarem contaminados com vícios a bem dizer
incuráveis, não convalescem, tal qual se dá com os contratos nulos – adiante ver-se-á a exceção
representada pela prescrição. Outros, no entanto, combalidos por defeitos de menor expressão e
gravidade, que em direito qualificam o contrato anulável, podem recuperar-se, convalescendo.

Dá-se o nome de convalescença contratual, portanto, ao processo de recuperação e saneamento de


um contrato não seriamente defeituoso, de um contrato anulável, já se vê.

- Impedimentos:

Art. 497. Sob pena de nulidade, não podem ser comprados, ainda que em hasta pública:

I - pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens confiados à sua guarda ou


administração;

II - pelos servidores públicos, em geral, os bens ou direitos da pessoa jurídica a que servirem, ou que
estejam sob sua administração direta ou indireta;

III - pelos juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e outros serventuários ou auxiliares da
justiça, os bens ou direitos sobre que se litigar em tribunal, juízo ou conselho, no lugar onde servirem,
ou a que se estender a sua autoridade;

IV - pelos leiloeiros e seus prepostos, os bens de cuja venda estejam encarregados.

Parágrafo único. As proibições deste artigo estendem-se à cessão de crédito.

IMPORTANTE:

- Tendo em vista os costumes, que são fonte do Direito, e a insignificância dos bens em
questão, é permitido que crianças comprem, por exemplo, balas em um supermercado,
mesmo que não possuam a capacidade civil.

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20/08/12
Nota:

O objeto deve ser lícito, possível e determinado ou determinável.

b) Objetivos:

- Venda ad mensuram: A compra e venda se dá em razão da área, da metragem, do tamanho.

Art. 500. Se, na venda de um imóvel, se estipular o preço por medida de extensão, ou se determinar a
respectiva área, e esta não corresponder, em qualquer dos casos, às dimensões dadas, o comprador
terá o direito de exigir o complemento da área, e, não sendo isso possível, o de reclamar a resolução
do contrato ou abatimento proporcional ao preço.

§ 1o Presume-se que a referência às dimensões foi simplesmente enunciativa, quando a diferença


encontrada não exceder de um vigésimo da área total enunciada, ressalvado ao comprador o direito de
provar que, em tais circunstâncias, não teria realizado o negócio.

Ex. Caso uma imobiliária venda vários apartamentos com 1/20 de sua área combinada, faltará com a
boa-fé objetiva¹, devendo responder judicialmente.

(1) Boa-fé objetiva (Retirado da matéria de Civil II): Verifica-se se a conduta objetivamente considerada é
capaz de lesar o indivíduo ou de gerar certa expectativa de lesão, se no meio social em questão a
conduta leva a um determinado entendimento. Ou seja, avalia-se então a REPERCUÇÃO da conduta em
si no meio social.

O juiz analisará se, no meio social, a conduta, objetivamente considerada, é aceitável.

Consiste em conferir ao magistrado o poder de analisar se a conduta das partes é ou não adequada a
um determinado contexto histórico-social, econômico, etc.

Ex. Casas Bahia através de “propaganda enganosa” induz o consumidor a supor que o pagamento de
uma compra parcelada começaria após a páscoa, sendo que, na verdade, haveria somente a “junção” da
primeira parcela com a terceira.

A análise da boa-fé subjetiva torna-se então SECUNDÁRIA.

§ 2o Se em vez de falta houver excesso, e o vendedor provar que tinha motivos para ignorar a medida
exata da área vendida, caberá ao comprador, à sua escolha, completar o valor correspondente ao preço
ou devolver o excesso.

- Venda ad corpus: A compra e venda se dá em razão do “corpo”, do objeto.

§ 3o Não haverá complemento de área, nem devolução de excesso, se o imóvel for vendido como coisa
certa e discriminada, tendo sido apenas enunciativa a referência às suas dimensões, ainda que não
conste, de modo expresso, ter sido a venda ad corpus.

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c) Formais: Forma livre. Pode ser feito na forma verbal.

Porém, há UMA ÚNICA exceção:

Os contratos de compra e venda de imóveis cujo valor é superior a 30 vezes o salário mínimo, este
contrato dever-se-á se dar através da forma de escritura pública.

Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios
jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre
imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.

8. Cláusulas especiais (Facultativas)

a) Retrovenda: Somente é possível em contratos de compra e venda de bens imóveis. O


vendedor a recompra do imóvel vendido pelo mesmo valor adquirido por um prazo de até 3
anos. Tal direito é oponível a terceiro.

Art. 505. O vendedor de coisa imóvel pode reservar-se o direito de recobrá-la no prazo máximo de
decadência de três anos, restituindo o preço recebido e reembolsando as despesas do comprador,
inclusive as que, durante o período de resgate, se efetuaram com a sua autorização escrita, ou para a
realização de benfeitorias necessárias.

Art. 507. O direito de retrato, que é cessível e transmissível a herdeiros e legatários, poderá ser exercido
contra o terceiro adquirente.

b) Venda a contento: Depende do contentamento, do agrado do comprador.

Ex. Compras pela internet.

Art. 509. A venda feita a contento do comprador entende-se realizada sob condição suspensiva, ainda
que a coisa lhe tenha sido entregue; e não se reputará perfeita, enquanto o adquirente não manifestar
seu agrado.

c) Venda sujeita à prova: Depende da verificação das qualidades do bem mencionadas no


momento da venda.

Art. 510. Também a venda sujeita a prova presume-se feita sob a condição suspensiva de que a coisa
tenha as qualidades asseguradas pelo vendedor e seja idônea para o fim a que se destina.

d) Preferência: Se o comprador vier a vender o imóvel, deverá oferecer, primeiramente, ao


vendedor. Caso esta cláusula não seja cumprida, caberá ação por perdas e danos.

Art. 513. A preempção, ou preferência, impõe ao comprador a obrigação de oferecer ao vendedor a


coisa que aquele vai vender, ou dar em pagamento, para que este use de seu direito de prelação na
compra, tanto por tanto.

Parágrafo único. O prazo para exercer o direito de preferência não poderá exceder a cento e oitenta
dias, se a coisa for móvel, ou a dois anos, se imóvel.

Art. 515. Aquele que exerce a preferência está, sob pena de a perder, obrigado a pagar, em condições
iguais, o preço encontrado, ou o ajustado.

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Art. 516. Inexistindo prazo estipulado, o direito de preempção caducará, se a coisa for móvel, não se
exercendo nos três dias, e, se for imóvel, não se exercendo nos sessenta dias subseqüentes à data em
que o comprador tiver notificado o vendedor.

Art. 517. Quando o direito de preempção for estipulado a favor de dois ou mais indivíduos em comum,
só pode ser exercido em relação à coisa no seu todo. Se alguma das pessoas, a quem ele toque, perder
ou não exercer o seu direito, poderão as demais utilizá-lo na forma sobredita.

Art. 518. Responderá por perdas e danos o comprador, se alienar a coisa sem ter dado ao vendedor
ciência do preço e das vantagens que por ela lhe oferecem. Responderá solidariamente o adquirente, se
tiver procedido de má-fé.

e) Reserva de domínio:

Art. 521. Na venda de coisa móvel, pode o vendedor reservar para si a propriedade, até que o preço
esteja integralmente pago.

Art. 522. A cláusula de reserva de domínio será estipulada por escrito e depende de registro no
domicílio do comprador para valer contra terceiros.

Art. 524. A transferência de propriedade ao comprador dá-se no momento em que o preço esteja
integralmente pago. Todavia, pelos riscos da coisa responde o comprador, a partir de quando lhe foi
entregue.

Foi substituída pela alienação fiduciária e garantia.

f) Venda sobre documentos

Art. 529. Na venda sobre documentos, a tradição da coisa é substituída pela entrega do seu título
representativo e dos outros documentos exigidos pelo contrato ou, no silêncio deste, pelos usos.

Parágrafo único. Achando-se a documentação em ordem, não pode o comprador recusar o pagamento,
a pretexto de defeito de qualidade ou do estado da coisa vendida, salvo se o defeito já houver sido
comprovado.

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21/08/12
Professor: Hugo Rios Bretas

Nota:

Ação de complementação cabe nos casos em que há 1/20 a menos na área acordada do
imóvel.

Ø Permuta (Troca)

1. Considerações Iniciais

Considerado como a modalidade mais antiga de contrato, uma vez que na antiguidade a
humanidade não possuía a sofisticação para valorar economicamente os bens.

Não é necessária a noção de dinheiro, que é vital para a compreensão do contrato de compra
e venda.

A permuta NÃO ADMITE A TROCA DE DINHEIRO, uma vez que esta, na verdade, é um contrato
de compra e venda.

Valor econômico não é, necessariamente, ligado à pecúnia. Neste sentido, a permuta não
flexibilizou a economicidade dos contratos e sim a exigência do dinheiro.

- Formas de permuta ao longo da história:

I. Escambo simples: Troca-se algo que se tem em abundância por algo que está em escassez. NÃO HÁ
IDENTIFICAÇÃO DE VALOR ECONÔMICO.

II. Escambo especializado: Havia valor econômico. “Perde o sentido trocar arroz por um cavalo.”
Trocava-se sem qualquer participação do Estado.

III. Permuta regrada: Troca que apresenta diretamente o respeito às legislações do Estado, ou seja,
quem dita as normas de fato da permuta É O ESTADO. “O legislador cria as regras e não os donos dos
meios de produção”. Vigente nos dias atuais, presente no nosso Código Civil.

2. Essência

A troca de bens móveis e imóveis, todavia sem haver a troca de dinheiro.

IMPORTANTE:

- As regras gerais estão adstritas ao contrato mais pródigo: o de compra e venda. Ou seja, na
lacuna do contrato de permuta, aplicar-se-ão, subsidiariamente, as disposições de compra e
venda.

- O CONTRATO É MARCADO PELA VONTADE.

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3. Vedação

DINHEIRO, pois senão estar-se-á diante de um contrato de compra e venda.

4. Classificação

4.1. Vontades

No que diz respeito à vontade, é um contrato bilateral (sinalagmático¹), pois há vontades


antagônicas.

(1) Sinalagmático: é um contrato equilibrado do início ao fim, ou seja, não é marcado pela
onerosidade².

(2) Onerosidade:

a. Originária: art. 157

Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga
a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.

§ 1o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi
celebrado o negócio jurídico.

§ 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte


favorecida concordar com a redução do proveito.

- Interpretação:

Se o contrato nascer desequilibrado, estará sujeito à ANULABILIDADE.

b. Superveniente: Art. 317 e 478 (Revisão dos Contratos)

Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da
prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo
que assegure, quanto possível, o valor real da prestação.

Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar
excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos
extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença
que a decretar retroagirão à data da citação.

- Interpretação:

Se o contrato se tornar desequilibrado, deverá ser REVISTO.

4.2. Impessoal

Impessoal, pois não é exigida a qualidade específica de qualquer sujeito.

Contraexemplo. Contratação de um autor para escrever determinado livro.

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4.3. Real

É real porque exige a TRADIÇÃO e/ou a TRANSCRIÇÃO.

SUPERIMPORTANTE:
- No âmbito do negócio jurídico, a lateralidade é analisada sob a perspectiva da VONTADE das
partes.

- Já no âmbito dos contratos, a lateralidade é analisada sob a perspectiva das PRESTAÇÕES das
partes.

5. Formas de tradição

Exige a TRADIÇÃO¹ e/ou a TRANSCRIÇÃO²:

(1) Tradição: A transferência da propriedade mediante uma entrega simbólica dos bens.

Art. 1.226. Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos, ou transmitidos por atos entre
vivos, só se adquirem com a tradição¹.

(2) Transcrição: Transferência de um bem IMÓVEL.

Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se
adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247),
salvo os casos expressos neste Código.

Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro
de Imóveis.

§ 1o Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido como dono do
imóvel.

§ 2o Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a decretação de invalidade do registro, e o
respectivo cancelamento, o adquirente continua a ser havido como dono do imóvel.

6. Outorga

A outorga uxória¹ é necessária quando o objeto da permuta for bem imóvel.

(1) Uxória: Relativo a mulher casada.

Nota:

Necessária a outorga do cônjuge:

I. Venda de bem imóvel;

II. Doação de bens;

III. Fiança;

IV. Hipoteca.

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7. Vício

Anulabilidade do negócio jurídico, com o prazo de 2 anos após o fim do casamento.

8. Trocas desiguais

A permuta pode ser perfeitamente simétrica ou pode ser desigual.

- Se dividem em:

Com sobras em dinheiro;

Sem sobras em dinheiro;

Art. 533. Aplicam-se à troca as disposições referentes à compra e venda, com as seguintes modificações:

I - salvo disposição em contrário, cada um dos contratantes pagará por metade as despesas com o
instrumento da troca;

II - é anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes, sem consentimento dos
outros descendentes e do cônjuge do alienante.

Nota:

- Princípio da igualdade entre os filhos: O quinhão hereditário, ou seja, a participação quanto


a herança do ascendente deve ser IGUALITÁRIA.

IMPORTANTE:

Na permuta, as despesas de transferências serão divididas entre os realizadores da troca.

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27/08/12

Ø Contrato estimatório

1. Essência

É uma missão, uma busca, um desejo quando uma determinada pessoa cujo nome se dá por
CONSIGNANTE entrega um bem móvel para o outro personagem – CONSIGNATÁRIO – com a
missão de vender este bem.

2. Natureza Real

Para que seja celebrado, é necessário que exista a ENTREGA de um bem.

IMPORTANTE:

- Detentor VS. Possuidor

Detentor Possuidor

- Conceito: Aquele que segue as ordens do Poderá pleitear o usucapião.


proprietário (Ex. Caseiro) ou se, eventualmente,
houver uma limitação legal.

Nunca poderá pleitear em juízo a usucapião.

Assim sendo, o consignatário sempre será DETENTOR.

3. Quem estipula as condições

Consignante.

IMPORTANTE:

O Código Civil permite que o CONSIGNATÁRIO compre o bem, ou seja, este pode deixar de ser
detentor para se tornar proprietário.

4. Personagem

Consignante e Consignatário. (vide acima)

5. Lapso Temporal

Determinada pelas partes a fim de respeitar o Princípio da autonomia das partes¹.

(1) Princípio da autonomia das partes: é o princípio que garante às partes o poder de manifestar a
própria vontade, estabelecendo o conteúdo e a disciplina das relações jurídicas de que participam. Em
regra permanece a vontade dos contratantes.

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Nota:

- Quando não há prazo fixado, o consignante pode reaver seu bem através da Constituição em
Mora¹.

(1) Constituição em Mora: Incidência, nesta, do devedor que não cumpre a obrigação no prazo
convencionado, ou do credor que se recusa a receber a prestação no tempo e lugar preestabelecidos.

IMPORTANTE:

O contrato estimatório PODE resultar em astreintes¹.

(1) Astreintes: Multa processual aplicada para o fim de fazer cumprir decisão judicial de obrigação de
fazer ou de não fazer. Geralmente diária (Artigos 14, 461 e 461-A do CPC).

Ex. O Juiz determinou multa (astreinte) diária de R$1000,00 caso o Diretor do Porto impeça de serem
descarregados os navios transportadores de soja transgênica.

6. Responsabilidade

Com culpa ou sem culpa, ou seja, em qualquer situação o consignatário será responsável.
Trata-se da RESPONSABILIDADE OBJETIVA¹.

(1) Responsabilidade Objetiva: Aquela que INDEPENDE da culpa.

7. Vantagem

O consignatário possuirá, conforme o contrato, a vantagem de obter a sobreposição¹.

(1) Sobreposição: O consignatário pode vender o bem por preço além do que foi pedido e ficar com a
diferença.

Nota:

- Sobreposição não pode ser chamada de comissão, pois esta é estipulada no contrato de
comissão.

- A responsabilidade do consignatário é majorada, ou seja, se este perder o bem, com ou sem


culpa, deverá restitui-lo.

“O consignante estipula as cláusulas gerais da venda e, caso o consignatário consiga vender o


bem por um preço maior, poderá reter esse valor para si.”

8. Gastos

- Os gastos ordinários – comuns – se dão por conta do CONSIGNATÁRIO;

Ex. Gastos necessários ao bom funcionamento do bem.

- Os gastos extraordinários, por sua vez, deverão ser custeados pelo CONSIGNANTE.

Ex. Defeitos imprevisíveis advindos do uso do bem.

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9. Previsão Legal
Art. 534. Pelo contrato estimatório, o consignante entrega bens móveis ao consignatário, que fica
autorizado a vendê-los, pagando àquele o preço ajustado, salvo se preferir, no prazo estabelecido,
restituir-lhe a coisa consignada.

Art. 535. O consignatário não se exonera da obrigação de pagar o preço, se a restituição da coisa, em
sua integridade, se tornar impossível, ainda que por fato a ele não imputável.

- Interpretação:

Não importa o motivo, o consignatário jamais será exonerado do dever de restituir, de devolver ao
consignante.

Art. 536. A coisa consignada não pode ser objeto de penhora ou seqüestro pelos credores do
consignatário, enquanto não pago integralmente o preço.

Art. 537. O consignante não pode dispor da coisa antes de lhe ser restituída ou de lhe ser comunicada a
restituição.

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28/08/12

Ø Contrato de doação

1. Essência

Marcado pela liberalidade, que, por sua vez, traz consigo um “tom de solidariedade”.

Enfim, sua essência é a disposição de riquezas por parte, que acarreta em diminuição
patrimonial.

- Conceito: Contrato por meio do qual existe a disposição de riquezas por parte do DOADOR
em favor do DONATÁRIO que, por sua vez, aumenta o seu patrimônio.

2. Razões da liberalidade

Alguns consideram como razão da liberalidade a vaidade.

Art. 5º

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.

Nota:

- Liberalidade chama atenção para a GRATUIDADE;

- Liberalidade é o oposto de compulsoriedade. É em razão da compulsoriedade inerente à sua


natureza que o pagamento de impostos não é considerado como doação.

3. Negócio Misto (Doação Indireta)

Compilação/confusão entre a liberalidade e a onerosidade.

Nasce oneroso, no entanto, se transforma, em partes, em contrato de doação.

4. Forma

I. Forma Livre: Bens móveis de pequeno valor.

II. Forma Escrita: Bens móveis de grande valor.

III. Forma solene/formal/por escritura pública: Bens imóveis de qualquer valor.

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5. Aceitação

É um negócio jurídico BILATERAL, pois é necessário que o DONATÁRIO aceite e este aceita SE
QUISER.

- Aceitação expressa:

- Aceitação tácita: Somente é validade se EXPRESSA emcontrato.

- Aceitação Presumida: Totalmente legítima, pois trata-se um fazer que denota a aceitação.

Ex. Sujeito aceita patrocinar a causa de certo indivíduo que está preso e se dirige ao presídio
em que este está preso.

6. Ascendentes para descendentes – efeito

Adiantamento da herança. Quando o inventário for analisado a fim de se formar o espólio,


emerge o artigo 2.002 do Código Civil, que diz respeito à colação¹, a fim de que se garanta o
Princípio da Igualdade entre Filhos.

(1) Colação: “devolução”/“desconto”

Da Colação

Art. 2.002. Os descendentes que concorrerem à sucessão do ascendente comum são obrigados, para
igualar as legítimas, a conferir o valor das doações que dele em vida receberam, sob pena de sonegação.

Parágrafo único. Para cálculo da legítima, o valor dos bens conferidos será computado na parte
indisponível, sem aumentar a disponível.

7. Doação universal

Se não houver herdeiros necessários¹, é possível a doação universal, desde que, para tanto,
seja garantida a cláusula de usufruto infinito a fim de se garantir as condições mínimas de
dignidade.

(1) Herdeiro necessário: ascendente, descendente e cônjuge.

Nota:

NÃO EXISTE DOAÇÃO DE POSSE. Assim sendo, somente o proprietário pode doar.

8. Doação inoficiosa – efeito

Acontece quando há extrapolação do limite de 50% dos bens que podem ser doados quando
existem herdeiros necessários.

Art. 549. Nula é também a doação quanto à parte que exceder à de que o doador, no momento da
liberalidade, poderia dispor em testamento.

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03/09/12
Nota:

Art. 548. É nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a subsistência
do doador.

Diz respeito ao Princípio da Dignidade Humana.

9. Outorga

Será necessária a outorga uxória, exceto nos casos de casamentos regidos pelo regime de
separação absoluta de bens.

10. Evicção? Vícios?

- Evicção¹:

Não cabe ação de regresso do evicto contra o, neste caso, doador, pois não há prejuízo
material.

(1) Evicção – (Lat. evictione.) S.f. É a privação parcial ou total de alguma coisa, que apesar de adquirida
de boa-fé, é ilegal, devido a mesma já pertencer de direito a outra pessoa, o verdadeiro dono, através
de processo judicial, prova e solicita a sua posse.

Partes:

I. Evicto: aquele que perde o bem, ainda que esteja de boa fé.

II. Evenceste: aquele que recupera o bem. O legítimo proprietário.

III. Alienante: Aquele que subtrai o bem e o aliena.

- Vícios: Não cabe ação contra vícios, ainda que estes sejam redibitórios (ocultos).

11. Responsabilidade do doador

O donatário somente poderá reclamar qualquer responsabilidade contra o doador se este tiver
agido com culpa¹. No caso de cometimento de ato ilícito, o doador terá que pagar indenização
por danos materiais e morais.

(1) Culpa: Definida no artigo 186.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Ex. Doador doa determinada coisa a alguém para se livrar de um “fardo”.

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12. Doação de imóvel

Através do registro em cartório de imóveis.

Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se
adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247),
salvo os casos expressos neste Código.

Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro
de Imóveis.

§ 1o Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido como dono do
imóvel.

§ 2o Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a decretação de invalidade do registro, e o
respectivo cancelamento, o adquirente continua a ser havido como dono do imóvel.

13. Doação de coisa futura

O único que pode doar é o proprietário. Assim sendo, pode-se dizer que neste caso trata-se de
doação de propriedade futura.

A doação efetivamente, de coisa futura é ilegítima, sendo passível de anulabilidade.

Nota:

- Requisitos de existência:

I. Agente capaz ou incapaz;

II. Objeto lícito ou ilícito;

III. Forma defesa ou não em lei.

14. Espécies

14.1. Pura e simples

Aquela que é desprovida de encargos/ônus para o donatário.

IMPORTANTE:

Caso a prestação seja compatível com a contraprestação, tratar-se-á de PERMUTA e não


doação.

Enfim, é natural da doação que haja uma desproporção entre prestação e contraprestação.

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14.2. Modal

Aquela em que há certo encargo/ônus para o donatário. Para que seja considerado
ônus/encargo, deve ir ALÉM da natureza do próprio ato de doação.

Ex. Doar uma casa e exigir que o donatário realize um culto.

Contraexemplo. Transferir o bem da casa do doador para a do donatário.

14.3. Remuneratória

Decorre de uma atividade trabalhista, de um esforço físico que envolve a profissão do


indivíduo que é feita de forma voluntária.

NÃO PODE ESTAR LIGADO A UM CONTRATO DE TRABALHO.

Ex. Indivíduo que ganha um bombom por ter feito uma boa palestra.

14.4. Meritória

Não decorre do trabalho e sim do merecimento.

Ex. Diploma concedido pela PUC por destaque acadêmico.

IMPORTANTE:

- Prova dia 18/09 – 25 pontos – 12 ou 13 questões de V ou F.

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04/09/12
14.5. Periódica

Doações reiteradas e regulares.

- Regularidade do caráter alimentar: Aquele realiza doações reiteradas e regulares e esta


passa a ter caráter alimentar, tais doações passam a fazer parte do patrimônio do donatário,
sem facultado a este exigir seu pagamento por mais um certo período de tempo somente,
uma vez que, em contrapartida, ninguém é obrigado doar contra sua vontade.

Ex. Pessoa se acostuma com doações reiteradas por um período de 10 anos e o juiz define que
as doações perdurem por mais 1 ano para que esta alcance sua independência.

14.6. Conjuntiva

Aquela em que há pluralidade de doadores ou donatários.

Ex. Doar camisas a várias pessoas.

14.7. Contemplativa

Doação justificada/fundamentada, haja vista que é voltada para determinado fim estabelecido
pelo doador. Expõe no semblante do doador sua intenção.

Ex. Estou lhe doando para que você pague a mensalidade da faculdade, uma vez que você não
trabalhou no ano passado.

Doo esta casa ao meu filho, desde que esta não a venda, uma vez que não possui
responsabilidade e eu quero garantir sua moradia.

IMPORTANTE:

- Se a condição resolutiva se perfaz, extingue-se o negócio jurídico, ou seja, há a


NULABILIDADE do negócio jurídico.

15. Reversão (Cláusula de reversão por premoniência¹)


(1) Premoniência: Ideia de previsibilidade do fenômeno da morte.

Regresso do bem doado em razão da morte do donatário ao patrimônio do doador.

Nos casos de morte do doador, a reversão se dá para os herdeiros deste.

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16. Concubinato

Versa sobre o adultério. Impede o doador adúltero de doar um bem do outro cônjuge ao
amante.

Art. 550. A doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser anulada pelo outro cônjuge, ou por
seus herdeiros necessários, até dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal¹.

(1) Dissolvida a sociedade conjugal: divórcio

17. Revogação de doação

Consiste na devolução, por parte do donatário, da riqueza/do bem doada(o).

- Doação modal: Se há o descumprimento do encargo, é facultado ao doador pleitear a


revogação da doação. Aplicação da exceção do contrato não cumprido¹.

(1) Exceção do contrato não cumprido: Se eu não cumpro minha prestação, não posso exigir a
contraprestação.

- Ingratidão: Somente se dá se houver violação aos seguintes bens jurídicos:

I. Integridade física: Quando houver violação à integridade física do doador.

Ex. Lesão corporal

II. Integridade moral: Quando houver um crime contra a honra.

Ex. Quando o donatário pratica injúria contra o doador.

III. Vida: Tentativa de homicídio.

Art. 557. Podem ser revogadas por ingratidão as doações:

I - se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de homicídio doloso contra ele;
(Vida)

II - se cometeu contra ele ofensa física; (Integridade física)

III - se o injuriou gravemente ou o caluniou; (Integridade moral)

IV - se, podendo ministrá-los, recusou ao doador os alimentos de que este necessitava. (Vida)

Nota:

Juízes cíveis não podem verificar as hipóteses penais acima. Para poder afirmar que houve
tentativa de homicídio, o juiz cível deve esperar a resolução do processo penal, que,
geralmente, demora mais de 1 ano.

Ex. Não pode declarar que houve tentativa de homicídio.

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17.1. Impedimentos

- Encargo: se o donatário cumpriu a parte dele, não há motivo de se haver a revogação da


doação, uma vez que este corroborou com a confiança depositada pelo doador.

- Remuneratória

- Casamento

18. Prazo

Prazo decadencial de 1 ano, a contar dos fatos, para que a revogação seja pleiteada. Assim
sendo, vide nota acima, o prazo é extremamente exíguo e de difícil cumprimento.

Assim sendo, na prática, ocorre a decadência por decurso do tempo.

19. Promessa de doação

Chama atenção para o contrato preliminar¹.

(1) Contrato preliminar: Os contratos preliminares seguirão todos os parâmetros do contrato principal.
Será, portanto, contíguo, similar, a todos os elementos do contrato principal. Este precisará, então,
SEGUIR TODOS ELEMENTOS DO CONTRATO PRINCIPAL, exceto a forma.

OU

Anuncia a iminência do contrato principal. Pode ser definido por duas palavras:

I. Exigibilidade: pode-se exigir que o contrato preliminar gere o contrato principal;

II. Acessoriedade: seguirá os parâmetros do contrato principal.

Ninguém é obrigado a doar, uma vez que não se pode exigir a liberalidade, a boa vontade de
alguém, pois não haverá perdas patrimoniais.

Em linhas gerais, a promessa de doação é DISCUTÍVEL, salvo a doação com encargo, que, por
sua vez, é possível.

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10/09/12

Ø Empréstimo (Genérico)
1. Essência

Necessidade de restituição, devolução da coisa.

2. Natureza obrigacional

Tem como natureza obrigacional uma obrigação de restituir.

“Credor e devedor celebraram um empréstimo, ou seja, estes estabeleceram entre si uma


obrigação de restituir.”

3. Classificação

- Bilateral ou unilateral, a depender do contrato a ser celebrado.

- Comutativo¹

(1) Contrato comutativo: Há uma equivalência/equilíbrio entre a prestação e a contraprestação. Há o


SINALAGMA contratual. Paga-se pelo produto “o tanto que ele vale”.

Ex. Comprar um veículo pelo preço de tabela.

Em via de regra, a REVISÃO se dá nos contratos comutativos.

- Oneroso ou gratuito, a depender da espécie de empréstimo

Nota:

Nos contratos de empréstimo, aplica-se:

I. Envolvendo-se o Estado: Lei 8.987/95

II. Imóvel urbano: Lei do inquilinato

III. Imóvel rural: Estatuto da Terra

IV. Demais casos: Código Civil

4. Natureza Real

Necessária a tradição, ou seja, a entrega da coisa, sob pena de não se configurar o


empréstimo.

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5. Comodato

Empréstimo necessariamente gratuito de bens infungíveis.

Bens infungíveis por convenção social: Ex. Computador, carro, etc.

- Comodante: Aquele que empresta, o proprietário.

- Comodatário: Destinatário do empréstimo.

IMPORTANTE:

- Existe SUBCOMODATO, assim como existe sublocação. Ou seja, o comodatário pode realizar
um contrato de comodato do mesmo bem com um terceiro.

- Trata-se de um contrato UNILATERAL, uma vez que somente o comodatário fica obrigado a
devolver a coisa que lhe foi emprestada.

- Se o bem for perdido nas mãos do comodatário, sofre o proprietário a perda e não pode
exigir uma reparação patrimonial.

Nota:

- Bens fungíveis & infungíveis

I. Bens fungíveis: podem ser substituídos por outros de mesmo gênero, espécie e qualidade.

II. Bens infungíveis: bens que não podem ser substituídos por outros de mesmo gênero, espécie e
qualidade.

- Diferença comodato e doação

No comodato, há a OBRIGAÇÃO de restituir a coisa. Na doação, não.

- Diferença comodato e inquilinato

Comodato é marcado pela GRATUIDADE e o inquilinato é marcado pela onerosidade.

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11/09/12
5.1. Capacidade

5.2. Possuidor?

O possuidor tem legitimidade para realizar o contrato de comodato.

5.3. Restituição – formalismo

Não é necessário a estipulação de um prazo. Caso não haja prazo e o comodante deseje reaver
o bem, deverá realizar a notificação extrajudicial e a constituição em mora. Se o comodatário
não devolve a coisa, deverá pagar valores referentes a ao aluguel da coisa a partir da
constituição em mora.

5.4. Promessa de comodato

A promessa de comodato é possível, uma vez que, diferentemente da doação, o comodante


receberá o bem de volta.

5.5. Cláusula imediata

Os interesses do comodatário não podem se sobrepor aos do comodante. Assim sendo, se


houver urgência reconhecida pelo juiz, poderá o comodante receber o bem de volta antes do
prazo estipulado.

Ex. Indivíduo empresta uma segunda casa a alguém e tem a sua alagada. Neste caso,
comprovada a urgência, poderá o indivíduo reaver sua casa antes do prazo.

Por outro lado, a devolução imediata NÃO É POSSÍVEL, uma vez que possui caráter vexatório.

5.6. Consequência da perda

Se houve a perda total ou parcial (deterioração), sofre o credor/comodante, desde que não
haja culpa do comodatário. Caso haja, nasce a necessidade da indenização do valor da coisa
mais perdas e danos.

5.7. Nacionalidade

A marca da nacionalidade das obrigações é a exigibilidade que todos os contratos/obrigações


sejam mensurados em moeda nacional, salvo exceções, como por exemplo, na lei 7.357/85,
que dispõe que poderá ser celebrado, no âmbito do cheque, em moeda estrangeira, nas
seguintes hipóteses:

I. Importação; II. Exportação; III. Câmbio.

Portanto, os valores em torno dos contratos de comodato são valores deverão ser mensurados
em moeda nacional.

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5.8. Vícios da entrega

Se houver culpa na entrega do bem por parte do comodante.

Ex. Entrega um bem roubado, um bem totalmente deteriorado, etc.

5.9. Tranquilidade da posse/Turbação

É um dos princípios que avalizam o comodato. O comodante não deve expor o comodatário ao
vexame nem invadir sua privacidade.

Caso semelhante ocorre na lei do inquilinato, a qual dispõe que o locador não poderá fiscalizar
ostensivamente o locatário.

5.10. Natureza da posse

Precária, uma vez que não há estabilidade, haja vista que o comodante pode reaver o bem a
qualquer momento, desde que não seja de forma imediata. Ou seja, o comodatário deve
seguir as limitações impostas pelo comodante.

Sendo assim, o comodatário é DETENTOR da coisa.

5.11. Vencimento antecipado? (QUESTÃO DE PROVA)

Sim, é possível somente em questões de URGÊNCIA, que deverá ser reconhecida pelo
JUDICIÁRIO.

5.12. Exigibilidade da garantia?

Apesar de o código civil não ter disposto claramente, o comodante pode exigir uma garantia
na realização do contrato de comodato.

5.13. Reforço da garantia à Efeito

O comodante tem o direito de pedir o reforço da garantia.

Se o comodatário se recusar a reforçar a garantia, a consequência será a EXTINÇÃO DO


COMODATO.

5.14. Desvio dos fins

Se houver desvio dos fins, haver-se-á a EXTINÇÃO DO CONTRATO DE COMODATO, uma vez
que o contrato de comodato se baseia na confiança do comodante no comodatário.

Ex. Comodatário utiliza imóvel destinado à moradia para realizar festas.

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5.15. Despesas extraordinárias e ordinárias

As despesas ordinárias¹ correm por conta do COMODATÁRIO.

As extraordinárias², por sua vez, correm por conta do COMODANTE.

(1) Despesas ordinárias: despesas inerentes/necessárias/comuns à utilização do bem.

Ex. Créditos a serem colocados num celular.

(2) Despesas extraordinárias: despesas incomuns, que ocorrem, muitas vezes, com o uso de longo
prazo.

Ex. Defeito na ignição do veículo.

Art. 584. O comodatário não poderá jamais recobrar do comodante as despesas feitas com o uso e gozo
da coisa emprestada.

5.16. Frutos à de quem?

Pertencem ao comodante.

5.17. Mora

A mora tem como consequência a perda da gratuidade da relação contratual. Assim sendo,
será cobrado aluguel do empréstimo da coisa.

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17/09/12
5.18. Restituição

Devolução do bem em si.

Nota:

Comodato é empréstimo de bem infungível gratuito.

Ø Mútuo (Espécie de empréstimo)


1. Essência

Empréstimo de bem fungível, gratuito ou oneroso.

2. Objeto

Não é o bem em si.

Nota:

- O mutuário poderá reclamar com o mutuante caso o empréstimo tenha sido doloso, ou seja,
tenha havido um prejuízo ao mutuário com dolo por parte do mutuante.

3. Vícios da entrega (Rebeca)

Podem ser cobrados quando o mutuante entregar um bem viciado na realização do


empréstimo. Este deverá agir com dolo e deve se caracterizar o prejuízo contra o mutuário.
Caso não haja dolo, o mutuário poderá devolver o bem.

Nota:

- Se mútuo gratuito ou comodato, o devedor perde o objeto sem culpa, qual a consequência?

O dono sofre o prejuízo.

4. Restituição

Não é a restituição do bem em si, uma vez que se houver a restituição do bem em si,
caracteriza-se o comodato.

- Nos casos de contrato mútuo oneroso, se houver perda do bem, ainda que sem culpa do
mutuário, este será obrigado a restituir o bem.

- Nos casos de mútuo gratuito, caso haja perda do bem sem culpa do mutuário, este fica
desobrigado de restituir o bem.

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5. Garantia – Recusa – Consequência

É facultado ao mutuante estabelecer garantias.

Ex. Empresto-lhe um vade mecum 2012 se, somente se, você me emprestar um mais antigo.

Se a garantia estiver perecendo e o devedor se recusa a reforça-la, a consequência é o fim do


mútuo.

IMPORTANTE:

TODO CONTRATO QUE É PURAMENTE GRATUITO É UNILATERAL. TODO CONTRATO ONEROSO,


POR SUA VEZ, É BILATERAL.

Nota:

No contrato mútuo, não se aplica a hipótese do egoísmo¹, que, por sua vez, é aplicável ao
comodato.

(1) Hipótese do egoísmo: No risco de perecimento, aquele que pegou emprestado é obrigado a salvar
primeiro os bens emprestados a seus próprios bens.

Art. 583. Se, correndo risco o objeto do comodato juntamente com outros do comodatário, antepuser
este a salvação dos seus abandonando o do comodante, responderá pelo dano ocorrido, ainda que se
possa atribuir a caso fortuito, ou força maior.

Nota:

Caso o mutuário declare a insolvência¹/falência², o mutuante poderá requerer o aumento da


garantia ou a extinção do contrato mútuo ou até mesmo o VENCIMENTO ANTECIPADO³.

(1) Insolvência: crise financeira da pessoa física.

(2) Falência: crise financeira da pessoa jurídica.

(3) Vencimento antecipado:

6. Juros Legais

6.1. Operações não financeiras (Não Confiável – Vide material complementar abaixo)

Lei 22.636/1933 – Lei da usura.

Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou
quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a
mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.

Conforme define o artigo 161, da lei 5.472/69, os juros serão de 12% ao mano, ou seja, de 1%
ao mês.

Assim sendo, em suma, os juros para as operações não financeiras será de 1% ao mês.

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6.2. Operações financeiras

A lei da usura não se aplica às operações financeiras¹.

(1) Operações financeiras: Operações que envolvem banco.

IMPORTANTE:

- Material complementar sobre taxa de juros no contrato de mútuo:

1. Dos aspectos legais relativos à taxa de juros

O Código Civil anterior determinava, em seu artigo 1.062, que os juros devidos por força de lei, quando
não convencionados, seriam de 6% ao ano, inexistindo tal limitação nos casos em que as partes
mencionassem no contrato a taxa de juros a ser utilizada.

Por sua vez, o artigo 1º do Decreto nº 22.626, de 7 de abril de 1933 (Lei de Usura) proibia a estipulação
de taxa de juros superiores ao dobro da taxa legal, ou seja, independentemente da existência ou não de
previsão contratual, esta taxa não poderia ser superior a 12% ao ano, sob pena de ser considerado nulo
o contrato, além das penalidades previstas na própria Lei da Usura. A Lei de Usura vedava a
capitalização de juros (anatocismo), admitindo, todavia, a acumulação de juros vencidos aos saldos
líquidos em conta-corrente de ano a ano.

Essa sistemática foi alterada pelo NCC, que disciplinou a matéria, em seu artigo 406, como segue:

"Artigo 406 - Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada,
ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a
mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional."

Em razão de o artigo 406 do NCC prever a sua regulamentação por norma relativa ao "pagamento de
impostos devidos à Fazenda Nacional", cumpre-nos analisar o disposto no Código Tributário Nacional -
CTN (Lei nº 5.172, de 25 de dezembro de 1966).

Nesse sentido, o parágrafo 1º do artigo 161 do CTN estabelece que o crédito não integralmente pago no
vencimento será acrescido de juros de mora, calculados à taxa de 1% ao mês, nos casos em que a lei não
dispuser de modo diverso. Diante disso, a questão restou aparentemente solucionada no sentido de que
a taxa de juros deveria ser aplicada à razão de 12% ao ano.

Posteriormente, com a edição do artigo 13 da Lei nº 9.065, de 20 de junho de 1995, e reedições do


dispositivo que culminou no artigo 30 da Medida Provisória nº 2.176-79, de 23 de agosto de 2001
(posteriormente convertida na Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002), a taxa de juros moratórios dos
tributos devidos à Fazenda Nacional passou a ser equivalente à taxa referencial do Sistema Especial de
Liquidação e de Custódia - SELIC para títulos federais, acumulada mensalmente (2).

Muito se discutiu a respeito da aplicabilidade ou não da taxa SELIC como índice de apuração dos juros
legais, uma vez que, além de impedir o prévio conhecimento dos juros, posto que é publicada
mensalmente, esta taxa abrange, não só os juros propriamente ditos, como também a correção
monetária do período.

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Entretanto, por ser a aplicação da taxa SELIC expressamente prevista na legislação federal para o
pagamento de impostos federais em atraso, somos da opinião de que esta taxa deverá ser considerada
pelas empresas como limitadora dos juros contratuais, atendendo-se, desta forma, o disposto no artigo
406 do NCC(3).

Interessante salientar, ainda, que o artigo 591 do NCC permite agora a capitalização anual dos juros, no
caso de mútuos.

2. Das instituições financeiras

As operações de mútuo realizadas por instituições financeiras, assim entendidas como aquelas que
integram o Sistema Financeiro Nacional, não estão sujeitas à Lei de Usura e são regidas por regras
próprias, estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional. Consoante a Súmula 596, de 15 de dezembro
de 1976, do Supremo Tribunal Federal (STF), as disposições da Lei da Usura não se aplicam às taxas de
juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por instituições públicas ou privadas, que
integrem o Sistema Financeiro Nacional.

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Rafael Barreto Ramos
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24/09/12
Nota:

Algumas das características do contrato de comodato podem ser estendidas ao mútuo.

Ex. Reforço da garantia.

7. Menor (Incapazes)

O empréstimo realizado ao incapaz tem como consequência o óbice¹ ao direito de restituição.

(1) Óbice: Obstáculo

Atinge o plano da eficácia, uma vez que há o empréstimo. Se houvesse o silencio por parte do
legislador, atingiria o plano da validade, uma vez que se trataria de nulidade e/ou
anulabilidade.

7.1. Exceções

7.1.1. Engodo

Se o menor mutuário deu causa ao empréstimo, enganando o mutuante no tocante à sua maioridade, o
negócio será VÁLIDO.

DEVE HAVER O DOLO.

7.2. Existência (Do menor)

Caso o menor mutuário requeira um empréstimo de alimentos para não perecer, sendo imprescindível
para sua vida, caberá ao mutuante o direito de restituição posterior.

7.3. Labor

Quando o empréstimo foi contraído por parte do menor, e este menor tem provisão, o negócio será
válido.

8. Prazos Implícitos

Decorrem da LACUNA do contrato. Ainda que não estipulados em contrato, deverão ser
seguidos.

I. Empréstimo de dinheiro (mútuo pecuniário): 30 dias.

II. Empréstimo agrícola: O pagamento será feito na próxima colheita, a fim de que o mutuante
receba de uma colheita fresca, não deteriorada.

III. Costumes: Se o costume local apresentar certa prática reiterada.

Ex. Se for estipulado por determinada sociedade que a devolução de uma arma deverá se dar
após 2 meses.

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8. Previsão legal
Art. 586. O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O mutuário é obrigado a restituir ao mutuante o
que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade.

- Interpretação:

O código se silencia no que diz respeito à onerosidade do mútuo.

Art. 587. Este empréstimo transfere o domínio da coisa emprestada ao mutuário, por cuja conta correm
todos os riscos dela desde a tradição.

Art. 588. O mútuo feito a pessoa menor, sem prévia autorização daquele sob cuja guarda estiver, não
pode ser reavido nem do mutuário, nem de seus fiadores.

- Interpretação:

A jurisprudência estende a aplicação deste artigo aos incapazes.

Art. 589. Cessa a disposição do artigo antecedente:

I - se a pessoa, de cuja autorização necessitava o mutuário para contrair o empréstimo, o ratificar


posteriormente;

II - se o menor, estando ausente essa pessoa, se viu obrigado a contrair o empréstimo para os seus
alimentos habituais;

III - se o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho. Mas, em tal caso, a execução do credor não lhes
poderá ultrapassar as forças; (Labor)

IV - se o empréstimo reverteu em benefício do menor;

V - se o menor obteve o empréstimo maliciosamente. (Engodo)

- Interpretação:

Nos casos acima, apesar da menoridade do mutuário, é de direito do mutuante a restituição.

Art. 591. Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de
redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitida a capitalização anual.

- Interpretação:

No mútuo pecuniário, aplica-se o artigo 406.

Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou
quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a
mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.

As taxas da Fazenda Nacional são de 1% ao mês.

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Art. 592. Não se tendo convencionado expressamente, o prazo do mútuo será:

I - até a próxima colheita, se o mútuo for de produtos agrícolas, assim para o consumo, como para
semeadura;

II - de trinta dias, pelo menos, se for de dinheiro;

III - do espaço de tempo que declarar o mutuante, se for de qualquer outra coisa fungível.

Ø Prestação de Serviços (Código Civil)


1. Essência

Consiste num trabalho intelectual ou laborativo (físico).

2. Amplitude

A expressão/nomenclatura prestação de serviços envolve vários ramos do Direito.

O disposto no Código Civil, por sua vez, possui aspecto subsidiário. Ou seja, somente se aplica
o Código Civil quando outro ramo específico não puder ser aplicado.

Nota:

Se houver um destinatário final¹ vulnerável² e houver uma prestação de serviços, aplica-se o


Código de Defesa do Consumidor, não se aplicando, portanto, o Código Civil.

(1) Destinatário final: Aquele que não tem a intenção de revenda, que irá consumir/utilizar o bem.

(2) Pessoa Vulnerável: é a pessoa que possui uma fragilidade emocional (abalo psíquico), econômica
(pobre) ou informacional (ignorante).

Nas prestações de serviço, por sua vez, caso haja vínculo empregatício, aplicar-se-á o decreto
5452/43, ou seja, a Consolidação das Leis Trabalhistas.

3. Outros Ramos

Código de Defesa do Consumidor

Direito Empresarial

Consolidação das Leis Trabalhistas.

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25/09/12
4. Classificação

I. Bilateral: Existem duas vontades antagônicas entre seus personagens¹.

(1) Devedor

II. Comutativo: A prestação é compatível/proporcional/equilibrada ao valor da


contraprestação oferecida.

III. Oneroso: A prestação de uma corresponde a uma contraprestação da outra parte.

Segundo autores, como Maria Helena Diniz, através da interpretação semântica, chega-se à seguinte
classificação:

IV. Pessoal (Intuito Personae):

O fato que não se pode trocar a pessoa do prestador do serviço sem anuência do contratante
torna este contrato Pessoal.

V. Típico: Uma vez que está previsto no Código Civil.

IMPORTANTE:

- Contrato típico: é aquele que está previsto em alguma disposição legal não sendo,
necessariamente, no Código Civil.

5. Lacuna - momento do adimplemento

No caso de lacuna, convenciona-se que primeiramente seja realizada a prestação de serviço e


depois o pagamento da obrigação.

Nota:

- Obrigação complexa: quando se identifica no caso concreto, partes que são credores e
devedores simultaneamente.

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6. Transferência de personagens

Troca-se o prestador do serviço apenas com a ANUÊNCIA do dono do serviço.

- Consequências:

I. Retenção do pagamento até que o serviço seja realizado pelo prestador de serviço original, podendo
alegar ocasional perda de qualidade, etc.

II. Rescisão contratual¹ cumulado com perdas e danos, FEITA EM JUÍZO.

(1) Rescisão contratual: SOMENTE O PODER JUDICIÁRIO PODERÁ RESCINDIR UM CONTRATO.

IMPORTANTE:

- Caso de urgência:

Se houver urgência na prestação de serviço, pode o credor/dono do serviço nomear terceiro


para a realização deste às custas do PRESTADOR DE SERVIÇO originário. Caso o terceiro
prestador cobrar valor inferior ao estipulado inicialmente, deverá o prestador original devolver
ao dono do serviço o valor recebido.

Assim sendo, em linhas gerais:

I. Terceiro prestador de serviço cobra valor superior: custas do prestador original.

II. Terceiro prestador de serviço cobra valor inferior: deverá o prestador do serviço devolver a quantia
que lhe foi paga ao dono do serviço.

Ex. Contrata-se certo prestador para realização de trabalho acadêmico com data certa para a
entrega. Se, na iminência desta data, o prestador não tenha feito o trabalho, poderá o dono do
serviço nomear terceiro para sua realização e, assim sendo, mesmo se o terceiro prestador
cobrar um valor mais elevado ao estipulado inicialmente, deverá o prestador original arcar
com as custas. Caso o terceiro prestador não cobre pelo serviço, deverá o prestador original
devolver o valor que lhe foi pago inicialmente.

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7. Natureza obrigacional

Obrigação de fazer.

- Consequência do descumprimento da obrigação de fazer:

I. Se não houver culpa: resolve-se o contrato, restaurando-se a situação anterior à celebração do


contrato.

II. Se houver culpa: resolução mais perdas e danos.

8. Habitualidade/Costume

A marca da prestação de serviços é a habitualidade que projeta o processo de realização de


determinada obra, tanto é que o pagamento é feito em certos intervalos de tempo (dia a dia,
mês a mês).

Contrapõe-se à empreitada, que, por sua vez, projeta o fim da obra, sendo, portanto, o
pagamento feito na sua integralidade.

9. Aliciamento¹ – Consequência e pressupostos


(1) Aliciamento: Induzimento do prestador de serviços.

Alicia-se o prestador de serviços, segundo o Código Civil, caso sejam caracterizados dois
pressupostos:

I. Exclusividade do prestador de serviços;

II. Serviço específico: serviço árduo, complexo, etc.

Neste caso, o aliciante será obrigado a indenizar na importância de 2 anos da prestação.

Ex. Caso a faculdade alicie certo professor a lecionar, deverá pagar a importância de 2 anos do
seu salário.

Nota:

Em relação às relações esportivas, aplicar-se-á a Lei Pelé

10. Duração

Contrato de prestação não pode exceder o prazo de 4 anos.

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11. Alienação de prédio agrícola – efeito

Neste caso, acredita o professor que o legislador disse menos do que queria, uma vez que o
termo agrícola deveria ser substituído pela palavra rural¹.

Acredita-se, portanto, que o termo agrícola diz respeito à localização do imóvel (urbana e
rural).

(1) Rural: é gênero que possui duas espécies, sendo estas: Agrícola e Pecuário.

Desta forma, a venda de um prédio NÃO RETIRA do prestador de serviços A OBRIGAÇÃO de


prestá-lo, devendo este continuar prestando-o no mesmo local².

(2) Local: Neste caso, leia-se MUNICÍPIO.

Ex. Caso a Vale venda uma de suas mineradoras, determinado prestador de serviços deverá
continuar prestando-o no mesmo município.

Cabe ressaltar, em suma, que a obrigação de prestar o serviço será relacionada AO MESMO
DONO DO SERVIÇO.

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01/10/12
12. Fim¹ por parte do dono – efeito
(1) Fim do contrato (extinção): Pode ocorrer tanto pelo desejo do dono, quanto pelo prestador do
serviço. Hipóteses de fim do contrato:

I. Resilição/distrato: Extinção do contrato através da manifestação de vontade unilateral. FIM DO


CONTRATO UNILATERALMENTE ou por vontade do dono ou pelo prestador do serviços.

II. Rescisão: Extinção do contrato no âmbito judicial.

III. Força maior: Busca de regresso ao status quo ante, ou seja, à situação anterior à
celebração do contrato.

IV. Execução: Efeito desejável, ou seja, que o serviço tenha acontecido e o prestador tenha
recebido.

Nota:

No caso fortuito, não há participação humana.

Já na força maior, por sua vez, trata-se de uma causa além do domínio das partes, no entanto, há
participação humana.

IMPORTANTE:

Na dúvida, deverá o prestador de serviço receber após a prestação do serviço.

13. Fim do contrato sem justa causa por parte do dono (Dono à Sem Justa Causa à
Efeito)

O dono, sem motivo algum, faz a resilição do contrato.

Nada mais representa que uma explicação do efeito da resilição.

Dispensa que gera a manifestação de vontade de um personagem: o dono do serviço.

- Efeitos:

O dono do serviço terá que pagar TODAS AS PRESTAÇÕES VENCIDAS mais 50% de todas as
prestações vincendas¹ até o fim do contrato.

(1) Vincendas: A vencer.

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14. Previsão legal


Art. 593. A prestação de serviço, que não estiver sujeita às leis trabalhistas ou a lei especial, reger-se-á
pelas disposições deste Capítulo.

- Interpretação:

Aspecto subsidiário do disposto no Código Civil no que diz respeito à prestação de serviços.

Art. 594. Toda a espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial¹, pode ser contratada
mediante retribuição.

(1) Material ou imaterial: física ou intelectual.

Art. 596. Não se tendo estipulado, nem chegado a acordo as partes, fixar-se-á por arbitramento a
retribuição, segundo o costume do lugar, o tempo de serviço e sua qualidade.

Art. 598. A prestação de serviço não se poderá convencionar por mais de quatro anos, embora o
contrato tenha por causa o pagamento de dívida de quem o presta, ou se destine à execução de certa e
determinada obra. Neste caso, decorridos quatro anos, dar-se-á por findo o contrato, ainda que não
concluída a obra.

- Interpretação:

Lapso temporal de, no máximo, 4 anos para a duração do contrato de serviços. Findado os 4 anos,
encerrar-se-á o contrato, ainda que a prestação de serviço se encontre pela metade.

Art. 602. O prestador de serviço contratado por tempo certo, ou por obra determinada, não se pode
ausentar, ou despedir, sem justa causa, antes de preenchido o tempo, ou concluída a obra.

Parágrafo único. Se se despedir sem justa causa, terá direito à retribuição vencida, mas responderá por
perdas e danos. O mesmo dar-se-á, se despedido por justa causa.

- Interpretação

Caput

Não se pode dispensar, sem justa causa. Por justa causa, poderia. Se o dono da obra dispensa, tratar-se-
á de resilição.

Parágrafo único

Se o prestador se demitir sem justa causa ou se o dono demitir o prestador com justa causa, terá o
prestador direito ao recebimento das prestações vencidas, porém responderá por perdas e danos.

Art. 603. Se o prestador de serviço for despedido sem justa causa, a outra parte será obrigada a pagar-
lhe por inteiro a retribuição vencida, e por metade a que lhe tocaria de então ao termo legal do
contrato.

- Interpretação

O dono do serviço terá que pagar TODAS AS PRESTAÇÕES VENCIDAS mais 50% de todas as prestações
vincendas¹ até o fim do contrato.

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Nota:

Sem justa causa: art. 603. / Com justa causa: art. 602.

Art. 608. Aquele que aliciar¹ pessoas obrigadas em contrato escrito a prestar serviço a outrem pagará a
este a importância que ao prestador de serviço, pelo ajuste desfeito, houvesse de caber durante dois
anos.

(1) Aliciar: aplica-se a ideia do aliciamento somente quando se tratar de prestador exclusivo e atividade
específica.

Ex. Professores acadêmicos.

- Considerações:

Quem sofre o prejuízo, no final das contas, é o DONO DO SERVIÇO.

Nota:

- Primeira prova:

Questão 1: Comodato ou “subcomodato” é o empréstimo, por parte do comodante (proprietário), de coisa fungível e onerosa em
favor do comodatário. Este contrato permite a modalidade precária, além de definir que as obrigações de manutenção são do
comodatário e os frutos são a ele concernentes. Some-se também que se houver desvio da finalidade contratual e houver perda
ou deterioração da coisa, a responsabilidade será do comodatário, ainda que haja caso fortuito ou força maior. Por fim, se o
comodatário se atrasar na restituição, haverá a incidência de alugueis.

FALSA

Questão 2: O contrato de compra e venda é consensual, bilateral, oneroso, comutativo e típico. Esse contrato tem como
elementos a coisa, o preço e o consentimento. Outro detalhe importante acerca do contrato de compra e venda diz respeito à
necessidade de escritura pública, quando se estiver diante da transferência de um bem imóvel, cujo valor exceda ao de trinta
vezes o maior salário mínimo vigente no país, salvo disposição de lei em contrário.

VERDADEIRA

Questão 3: No contrato de compra e venda existem capacidades excepcionais. Vale dizer, para a realização da venda de bens
imóveis, assim como na troca de valores desiguais, de ascendentes para descendentes é necessária a autorização dos demais
descendentes e do cônjuge alienante. Nesse interim, sem as citadas autorizações, anulável será o negócio jurídico. Por outro lado,
se houver por parte dos tutores, curadores, juízes, secretários e leiloeiros, dos bens que lhe sejam confiados, o efeito será de
nulidade.

Questão 4: No condomínio no que tangencia a parte indivisível, nota-se que o condômino, caso queira vender a sua parte a
estranhos, poderá fazê-lo, desde que o comprador não seja descendente do vendedor. Outro detalhe importante sobre a compra
e venda diz respeito à venda por amostra, que exige que a referida amostra seja fidedigna à realidade do produto.

FALSA

Questão 5: Na compra e venda de imóveis, a venda ad corpus e a venda ad mensuram são expressões idênticas. Em relação à
ambas, observa-se, que caso haja uma diferença entre as medidas ajustadas e as medidas efetivamente percebidas, só será
possível dirimir as controvérsias se houver um vício de consentimento.

FALSA

Questão 6: A retrovenda, a preempção, venda a contento e reserva de domínio, observa-se que estas modalidades se operam
exclusivamente em relação aos bens imóveis e todas repercutem como direitos potestativos. Ademais, em todas as hipóteses não
haverá a transferência da propriedade.

FALSA

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Questão 7: O contrato estimatório gera em favor do consignatário a incumbência de vender um bem de propriedade do
consignante, a partir da transferência de propriedade. Nesse patamar, as despesas extraordinárias correrão contra o consignante.
Em outros termos está a reserva de domínio, que se assemelha ao arrendamento mercantil e à alienação fiduciária. Hipóteses
essas que autorizam a prisão civil.

FALSA.

Questão 8 O contrato de doação consiste em negócio jurídico ou contrato unilateral. Doação essa, que pode ser direta ou
indireta, que inclusive pode ser destinada ao nascituro. Acrescente-se que se a doação for feita em favor do relativamente incapaz
é necessária a autorização de seu representante. Todavia, se a doação for pura e simples e for destinada ao absolutamente
incapaz, dispensada será a autorização.

FALSA

Questão 9 A doação admite doação pura e simples, expressa ou tácita. Ainda sobre doação, é possível que esta aconteça, por
parte dos tutores e curadores, em relação aos seus tutelados e curatelados. Como se não bastasse, a doação universal (de todo o
patrimônio é possível), porém, a doação de ascendentes para descendentes é expressamente proibida.

FALSA

Questão 10 A doação remuneratória, pura e simples, modal, segundo o Código Civil, não trazem qualquer diferença entre elas.
Ainda sobre a doação, é devido dizer que inadmissível a cláusula de reversão. Ademais, a revogação da doação pode acontecer, se
esta for a vontade do doador.

FALSA

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02/10/12

Ø Empreitada
1. Essência

Trata-se, morfologicamente, de uma meta, um desafio a ser alcançado.

2. Tipicidade¹
(1) Tipicidade: É a projeção adotada pelo Código Civil para definir a empreitada.

Construção civil/obra.

3. Personagens

- Principais:

I. Empreiteiro: responsável pelo planejamento e pela execução da obra em si. Essa função pode ser
delegada a um empregado, porém, caso este cometa algum erro, será o empreiteiro responsabilizado
em virtude da culpa in elgendo.

II. Dono da obra: Devedor do dinheiro ao empreiteiro. Corre os riscos do empreendimento

O dono recebe prestações do proprietário e repassa parcela do valor para o empreiteiro.

- Adjacentes:

III. Arquiteto e engenheiro

IV. Obreiros: Contratados com vínculo empregatício. Aplica-se comumente, portanto, a Consolidação
das Leis do Trabalho – CLT.

V. Proprietário: Futuro morador.

IMPORTANTE:

- Empreiteiro vs. Obreiros: Aplica-se a CLT caso haja vínculo empregatício ou o Código Civil no
contexto da prestação de serviços na inexistência deste.

- Proprietário vs. Dono da obra: Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor, arrolando todos
os integrantes dos quais se tiver conhecimento, a fim de que estes respondam solidariamente
pela dívida.

- Não é necessário provar a culpa da empreiteira nos casos de atos praticados pelos
empregados desta como, por exemplo, o obreiro.

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4. Classificação

I. Trata-se de um negócio jurídico pessoal, pois o dono da obra, ao contratar uma empreiteira,
está observando características específicas do empreiteiro.

II. Comutativo: Há um equilíbrio de prestações.

III. Oneroso: O empreiteiro cobra do dono da obra e o dono da obra cobra do futuro
proprietário.

IV. Bilateral sui generis: Bilateral porque o empreiteiro recebe efetivamente para executar a
obra e o dono da obra efetua os pagamentos.

Por outro lado, o objetivo tanto do empreiteiro quanto do dono da obra é o de finalizar a obra.
Neste aspecto, trata-se de um contrato plurilateral¹.

(1) Contrato plurilateral: Aquele no qual duas vontades caminham em sintonia.

5. Natureza obrigacional

Obrigação de fazer intelectual, pois a atividade do empreiteiro não é, precipuamente,


intelectual.

Ex. Projeto, planejamento da obra, etc.

6. Abrangência

Ex. Editora contrata um professor para a elaboração de um livro. Neste caso, o professor seria
tanto o empreiteiro quanto o obreiro.

7. Espécies – fornecimento

I. Empreitada a lavor ou a labor: Aquela em que o empreiteiro tem uma única


responsabilidade: prestar o serviço/executar a obra. Todavia, o fornecimento dos materiais
ficará a cargo do dono da obra.

II. Empreitada Mista: Se a figura do empreiteiro ficar responsabilizada de comprar todos os


materiais da obra e ainda tiver que prestar a mão-de-obra, tratar-se-á de empreitada mista.

7.1. Riscos – responsabilidade

A RESPONSABILIDADE POR MATERIAL DE BAIXA QUALIDADE SERÁ DE QUEM FORNECEU O


MATERIAL.

Assim sendo, dependerá da espécie de empreitada.

7.2. Mora

Em relação ao futuro proprietário, o empreiteiro deverá pagar uma multa nos casos de mora.

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08/10/12
8. Preço - Engenheiro

Teoricamente, o engenheiro contratado deveria manter o preço cobrado pelo tempo de


duração da obra, salvo comprovação de mudança mercadológica.

Diz o Código Civil, não é possível ter aumento, salvo se justificado.

8.1. Autonomia – mercado

O engenheiro/arquiteto é responsável pelo estabelecimento do preço da obra, não podendo


majorá-lo injustificadamente, ou seja, o preço deverá ser mantido. No entanto, poderá
majorar justificadamente como, por exemplo, nos casos de oscilação do mercado.

A justificativa do aumento do preço também pode estar previsto no contrato.

Em linhas gerais, há duas hipóteses de aumento de preço:

I. Através de previsão contratual;

II. Através de justificativa posterior.

Deve haver uma notificação com o orçamento para que seja possível a cobrança pelo aumento
do preço no mercado.

9. Projeto – alteração

Defesa dos direitos autorais do engenheiro/arquiteto que farão o projeto da obra, sendo que
sua alteração não autorizada caracteriza o crime disposto no artigo 184 do Código Penal.

O empreiteiro, então, pode alterar o projeto sem violar os direitos autorais em dois casos:

I. Se a obra apresentar um orçamento incompatível, excessivamente vultoso;

“O planejamento do engenheiro vai encarecer tanto a obra que a tornará inviável. O empreiteiro então
fará pequenas alterações a fim de tornar a obra viável.”

II. Quando o planejamento tornar a obra insegura;

Ex. Prédio com 33 apartamentos por andar.

III. Violação da lei.

Ex. Banheiros sem janela.

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10. Garantia – lapso

Lapso temporal de 5 anos para garantia por dois fenômenos: solo e segurança.

Neste caso, o dono da obra pode ingressar em juízo contra o empreiteiro dizendo que a obra
pronta não é segura.

O dono da obra, se perceber insegurança, terá 5 anos para cobrar o empreiteiro.

O futuro proprietário também terá 5 anos para acionar o dono da obra, empreiteiro ou
qualquer outro que lhe couber nos casos de insegurança na obra.

Prazo decorrente da lacuna, da ausência de previsão contratual.

CDC - Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do
produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do
conhecimento do dano e de sua autoria.

11. Suspensão – Pagamento

Se eventualmente o empreiteiro parar de prestar o serviço, poderá o dono da obra suspender


o pagamento.

Se o dono da obra, por sua vez, suspender o pagamento sem justificativa, poderá o
empreiteiro parar de prestar o serviço.

Art. 610. O empreiteiro de uma obra pode contribuir para ela só com seu trabalho ou com ele e os
materiais.

§ 1o A obrigação de fornecer os materiais não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes.

§ 2o O contrato para elaboração de um projeto não implica a obrigação de executá-lo, ou de fiscalizar-


lhe a execução.

Art. 611. Quando o empreiteiro fornece os materiais, correm por sua conta os riscos até o momento da
entrega da obra, a contento de quem a encomendou, se este não estiver em mora de receber. Mas se
estiver, por sua conta correrão os riscos.

Art. 612. Se o empreiteiro só forneceu mão-de-obra, todos os riscos em que não tiver culpa correrão
por conta do dono.

Art. 613. Sendo a empreitada unicamente de lavor (art. 610), se a coisa perecer antes de entregue, sem
mora do dono nem culpa do empreiteiro, este perderá a retribuição, se não provar que a perda resultou
de defeito dos materiais e que em tempo reclamara contra a sua quantidade ou qualidade.

Art. 614. Se a obra constar de partes distintas, ou for de natureza das que se determinam por medida, o
empreiteiro terá direito a que também se verifique por medida, ou segundo as partes em que se dividir,
podendo exigir o pagamento na proporção da obra executada.

§ 1o Tudo o que se pagou presume-se verificado.

§ 2o O que se mediu presume-se verificado se, em trinta dias, a contar da medição, não forem
denunciados os vícios ou defeitos pelo dono da obra ou por quem estiver incumbido da sua fiscalização.

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Rafael Barreto Ramos
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Art. 615. Concluída a obra de acordo com o ajuste, ou o costume do lugar, o dono é obrigado a recebê-
la. Poderá, porém, rejeitá-la, se o empreiteiro se afastou das instruções recebidas e dos planos dados,
ou das regras técnicas em trabalhos de tal natureza.

Art. 616. No caso da segunda parte do artigo antecedente, pode quem encomendou a obra, em vez de
enjeitá-la, recebê-la com abatimento no preço.

Art. 617. O empreiteiro é obrigado a pagar os materiais que recebeu, se por imperícia ou negligência os
inutilizar.

Art. 618. Nos contratos de empreitada de edifícios ou outras construções consideráveis, o empreiteiro
de materiais e execução responderá, durante o prazo irredutível de cinco anos, pela solidez e segurança
do trabalho, assim em razão dos materiais, como do solo.

Parágrafo único. Decairá do direito assegurado neste artigo o dono da obra que não propuser a ação
contra o empreiteiro, nos cento e oitenta dias seguintes ao aparecimento do vício ou defeito.

- Interpretação:

No momento que o dono da obra perceber o prejuízo, deverá propor a ação em 180 dias, desde que não
tenha passado o prazo de 5 anos.

Art. 619. Salvo estipulação em contrário, o empreiteiro que se incumbir de executar uma obra, segundo
plano aceito por quem a encomendou, não terá direito a exigir acréscimo no preço, ainda que sejam
introduzidas modificações no projeto, a não ser que estas resultem de instruções escritas do dono da
obra.

Parágrafo único. Ainda que não tenha havido autorização escrita, o dono da obra é obrigado a pagar ao
empreiteiro os aumentos e acréscimos, segundo o que for arbitrado, se, sempre presente à obra, por
continuadas visitas, não podia ignorar o que se estava passando, e nunca protestou.

Art. 620. Se ocorrer diminuição no preço do material ou da mão-de-obra superior a um décimo do preço
global convencionado, poderá este ser revisto, a pedido do dono da obra, para que se lhe assegure a
diferença apurada.

Art. 621. Sem anuência de seu autor, não pode o proprietário da obra introduzir modificações no
projeto por ele aprovado, ainda que a execução seja confiada a terceiros, a não ser que, por motivos
supervenientes ou razões de ordem técnica, fique comprovada a inconveniência ou a excessiva
onerosidade de execução do projeto em sua forma originária.

Parágrafo único. A proibição deste artigo não abrange alterações de pouca monta, ressalvada sempre a
unidade estética da obra projetada.

Art. 622. Se a execução da obra for confiada a terceiros, a responsabilidade do autor do projeto
respectivo, desde que não assuma a direção ou fiscalização daquela, ficará limitada aos danos
resultantes de defeitos previstos no art. 618 e seu parágrafo único.

Art. 623. Mesmo após iniciada a construção, pode o dono da obra suspendê-la, desde que pague ao
empreiteiro as despesas e lucros relativos aos serviços já feitos, mais indenização razoável, calculada em
função do que ele teria ganho, se concluída a obra.

Art. 624. Suspensa a execução da empreitada sem justa causa, responde o empreiteiro por perdas e
danos.

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Art. 625. Poderá o empreiteiro suspender a obra:

I - por culpa do dono, ou por motivo de força maior;

II - quando, no decorrer dos serviços, se manifestarem dificuldades imprevisíveis de execução,


resultantes de causas geológicas ou hídricas, ou outras semelhantes, de modo que torne a empreitada
excessivamente onerosa, e o dono da obra se opuser ao reajuste do preço inerente ao projeto por ele
elaborado, observados os preços;

III - se as modificações exigidas pelo dono da obra, por seu vulto e natureza, forem desproporcionais ao
projeto aprovado, ainda que o dono se disponha a arcar com o acréscimo de preço.

Art. 626. Não se extingue o contrato de empreitada pela morte de qualquer das partes, salvo se
ajustado em consideração às qualidades pessoais do empreiteiro.

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09/10/12

Ø Depósito
1. Essência

A guarda de um objeto no mesmo estado da época da celebração do contrato.

2. Abrangência

Segundo o Código Civil, pode-se celebrar o contrato de depósito somente se versar sobre bens
móveis.

Já o Código de Processo Civil, por sua vez, abrange tanto os bens móveis quanto imóveis.

3. Tipicidade – onerosidade?

Para o Código Civil, tipicamente, o depósito versa sobre um contrato gratuito.

Não implica na proibição do contrato oneroso, mas, no silêncio das partes, este será um
contrato gratuito.

4. Recuperação processual – Cautelar

- Sequestro:

O Código de Processo Civil trata da medida cautelar denominada SEQUESTRO¹.

(1) Sequestro: apreensão de um bem específico a fim de evitar que o atual possuidor continue a
dilapidá-lo.

“Entregue-me o bem de uma vez, antes que você o estrague por completo.”

- Depósito

Somente apelar-se-á para o depósito se estiver diante de o mau pagador. Se o bem estivesse
sido pago, não haveria nem mesmo a propositura da ação. Será o devedor nomeado então
como depositário FIEL e somente tornar-se-á infiel se descumprir com a obrigação de
depósito.

5. Personagens

I. Depositante: Proprietário do bem;

II. Depositário: Detentor, uma vez que segue as instruções do detentor, não possuindo,
portanto, liberdade para utilizar o bem (possuidor). Também denominada como posse
precária.

Tem como dever a conservar e RESTITUIR o bem.

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6. Depositário – Natureza da posse

Posse precária – Vide acima.

7. Perda – Exclusão da responsabilidade

Se o bem se perder por caso fortuito ou força maior, o depositário se escusa do dever de
indenizar.

Segundo o Código de Defesa do Consumidor, por sua vez, não há excludente de


responsabilidade.

8. Conservação

Depositário é responsável pela conservação, no que diz respeito às despesas mais básicas,
mínimas.

OS FRUTOS PERTENCEM AO DEPOSITANTE.

9. Não devolução

Terá como dever não devolver o bem em duas hipóteses:

I. Caso o bem seja objeto de um crime;

II. Caso o bem seja objeto de um embargo (em seu sentido mais amplo).

Ex. Não pagamento de uma dívida no valor de 25.000 reais em que o devedor possui somente o
carro como bem.

Deverá cumprir as ordens do Estado-juiz, que é deixar o bem a disposição do judiciário até que
se resolva a lide.

Nota:

Se o depósito for gratuito, e o bem se perder por culpa do depositário, a culpa será deste.

Se o depositante não pagar a quantia destinada à guarda do bem, poderá o depositário reter o
bem. (Penhora extrajudicial).

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16/10/12
10. Depositário Infiel

Decorre do descumprimento das ordens do depositante ou do poder judiciário.

OU

Decorrente do não cumprimento da obrigação de depósito.

NÃO CONFIGURARÁ, EM NENHUMA HIPÓSTESE, A PRISÃO, em virtude do Pacto de San Jose da


Costa Rica.

IMPORTANTE:

- O Código Civil impede a troca de um bem fungível por outro semelhante nos contratos de
depósito, haja vista que se caracterizar a troca, configura-se o contrato mútuo.

- O depositário pode somente GUARDAR e CONSERVAR o bem, sendo expressamente vedada a


sua utilização.

11. Conhecimento do conteúdo

Somente se configura o depósito se o depositário conhecer o conteúdo deste.

12. Pluralidade de depositário

Primeiramente, deve-se verificar se o bem é divisível ou indivisível.

I. Bem indivisível: configurará a obrigação indivisível, sendo todos os depositantes obrigados,


individualmente, pela entrega do bem.

Gera a solidariedade, ou seja, todos são coobrigados pela entrega ou restituição do bem,
cabendo ação de regresso.

II. Bem divisível: Fraciona-se o depósito, sendo cada um responsável pela conservação de sua
parte do bem.

NÃO gera a solidariedade.

13. Sigilo do conteúdo

Gera a DESCARACTERIZAÇÃO do contrato de depósito.

14. Retenção

- Requisito objetivo: Realização a benfeitoria seja útil ou necessária.

- Requisito subjetivo: Boa-fé

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15. Benfeitorias

As benfeitorias necessárias são caracterizadas quando alguém realizar uma melhoria a fim de
manter a conservação do bem. A inércia do depositário em relação à realização da benfeitoria
necessária poderá interferir na integridade do bem.

Retenção Indenização

Benfeitorias úteis ou necessárias Benfeitorias úteis ou necessárias

Boa-fé nos dois casos. Necessárias: má-fé e boa-fé

Úteis: boa-fé

IMPORTANTE:

Nas benfeitorias voluptuárias não acarretam tanto na retenção quanto na indenização,


cabendo somente o levantamento¹.

(1) Levantamento: Retirada das benfeitorias voluptuárias realizadas, caso haja possibilidade.

16. Conservação

Dever do depositário.

As despesas extraordinárias ficam a cargo do depositante.

Por outro lado, as despesas ordinárias podem estar embutidas no contrato, ficando a cargo do
depositário. Se não estiverem embutidas no contrato, o responsável pelo pagamento será o
depositante.

Na lacuna, as despesas ordinárias ficarão a cargo do depositante.

Despesas extraordinárias Despesas ordinárias

Depositante Embutidas no contrato: depositário;

Não embutidas no contrato: depositante.

17. Pessoalidade

O depósito é intuito persona, ou seja, é pessoal.

Desta forma, não é facultada a delegação da guarda e conservação do bem.

IMPORTANTE:

- Trabalho 22/10 & Prova 23/10 – De empréstimo até depósito;

- Trabalho em dupla 13/10: 2 laudas – Contrato de locação

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29/10/12
18. Depósito miserável¹
(1) Miserável: Não se trata de miserabilidade econômica e sim de miserabilidade proveniente da
situação de calamidade.

No Código Penal é tratado com o título de Apropriação Indébita.

Ocorre nos casos de CALAMIDADE.

Pode desencadear tanto o depósito fiel quanto o depósito infiel, que, por sua vez, NÃO
autoriza a prisão civil, contudo, a prisão penal é autorizada.

IMPORTANTE:

- Questão de prova:

Será dada a situação de uma pessoa pobre, afirmando-se que se trata de depósito miserável. A
assertiva será FALSA.

19. Legal

Os donos de hotel são depositários legais das bagagens dos hóspedes, vez que, quando se sai
de um hotel e o deixa lacrado, cria-se a expectativa de segurança.

O hoteleiro é responsável objetivamente, ou seja, são necessários o dano e o nexo de


causalidade. Porém, se o hóspede não tomar os cuidados necessários para com suas bagagens,
configurar-se-á a excludente de culpabilidade, a culpa exclusiva da vítima, não sendo o
hoteleiro responsabilizado.

Para o STJ, esta interpretação de bagagem abrange não só o ramo da hotelaria, como também
o dos transportes.

Ex. Viagens de avião, ônibus, etc.

IMPORTANTE:

A RESPONSABILIDADE LEGAL NESTES CASOS É OBJETIVA, OU SEJA, FAZ NECESSÁRIO PROVAR


APENAS O NEXO DE CAUSALIDADE E O DANO.

Deverá ser feito o inventário dos bens do hóspede.

Não há unanimidade na doutrina no que diz respeito à abertura de lacres e vedações a fim de
formação do inventário.

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Nota:

20. Extinção

20.1. Termo

Avento do termo, ou seja, “chegou a data”, findou-se o prazo.

20.2. Perecimento

Houve a perda do objeto.

20.3. Capacidade

Quando há a perda da capacidade, ou seja, quando há a interdição. Somente se é considerado


incapaz através de sentença transitada em julgado.

“Para se guardar e conservar objetos, deve-se haver o mínimo de lucidez.”

21. Previsão legal


- Depósito necessário:

Art. 647. É depósito necessário:

I - o que se faz em desempenho de obrigação legal; (Depósito legal)

II - o que se efetua por ocasião de alguma calamidade, como o incêndio, a inundação, o naufrágio ou o
saque

- Art. 648

Art. 648. O depósito a que se refere o inciso I do artigo antecedente, reger-se-á pela disposição da
respectiva lei, e, no silêncio ou deficiência dela, pelas concernentes ao depósito voluntário.

Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se aos depósitos previstos no inciso II do artigo
antecedente, podendo estes certificarem-se por qualquer meio de prova.

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- Complemento depósito legal

Art. 649. Aos depósitos previstos no artigo antecedente é equiparado o das bagagens dos viajantes¹ ou
hóspedes nas hospedarias onde estiverem.

Parágrafo único. Os hospedeiros responderão como depositários, assim como pelos furtos e roubos que
perpetrarem as pessoas empregadas ou admitidas nos seus estabelecimentos.

(1) Bagagens dos viajantes: trata-se dos contratos de TRANSPORTE.

Art. 650. Cessa, nos casos do artigo antecedente, a responsabilidade dos hospedeiros, se provarem que
os fatos prejudiciais aos viajantes ou hóspedes não podiam ter sido evitados.

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30/10/12

Ø Mandato
1. Essência

Representação, ou seja, assumir uma posição em lugar de outrem.

2. Classificação

- Típico, vez que possui previsão legal.

- Bilateral, haja vista que alguém está representando e alguém está sendo representado.

3. Âmbito trabalhista

Figura do sindicado e do preposto¹.

(1) Preposto: representante trabalhista no âmbito processual, isto é, representante da empresa no


âmbito jurisdicional.

4. Casamento

Pode se casar mediante PROCURAÇÃO ².

(2) Procuração: Instrumento, elemento que dá forma ao mandato.

O casamento, quando feito mediante procuração, NÃO EXIGE que o(s) procurador(es) sejam
de sexo distinto.

Todavia, não se podem representar, por meio de um único procurador, os dois noivos.

Assim sendo, são necessários dois mandatários.

O casamento é ANULÁVEL³ se for contraído com procuração viciada.

(3) Ato anulável: aquele passível de consentimento, ratificação, etc.

5. Forma

A forma do mandato será sempre a forma do contrato principal, haja vista que o contrato
acessório segue o principal.

6. Gratuidade

Presume-se que é gratuidade do mandato, salvo se o mandatário estiver exercendo um ato


característico de sua profissão. No entanto, nada impede que seja oneroso.

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7. Procuração judicial

Chamada de procuração ad judicia. Feita basicamente para atuar na advocacia.

Contrato de mandato para atuação judicial.

CPC - Art. 38. A procuração geral para o foro, conferida por instrumento público, ou particular assinado
pela parte, habilita o advogado a praticar todos os atos do processo, salvo para receber citação inicial,
confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre que se
funda a ação, receber, dar quitação e firmar compromisso.

Parágrafo único. A procuração pode ser assinada digitalmente com base em certificado emitido por
Autoridade Certificadora credenciada, na forma da lei específica.

7.1. Poderes Especiais

Ex. Poder para desistir ou renunciar da ação.

7.2. Urgência

CPC - Art. 37. Sem instrumento de mandato¹, o advogado não será admitido a procurar em juízo.
Poderá, todavia, em nome da parte, intentar ação, a fim de evitar decadência ou prescrição, bem como
intervir, no processo, para praticar atos reputados urgentes. Nestes casos, o advogado se obrigará,
independentemente de caução, a exibir o instrumento de mandato no prazo de 15 (quinze) dias²,
prorrogável até outros 15 (quinze), por despacho do juiz.

(1) Instrumento de mandato: Procuração.

(2) Prazo de 15 dias: se este prazo não for cumprido, haverá o desentranhamento da peça do processo.

- Considerações:

Poderá praticar sem procuração atos passível de preclusão iminente.

8. Procuração-Geral

Trata-se de uma procuração padrão. Ainda que nada mencione, se possuir esta finalidade,
presume-se que o mandatário, o procurador, possui poderes implícitos.

NÃO PERMITE A PRÁTICA DE ATOS ESPECIAIS como, por exemplo, desistir, renunciar.

Ainda que seja branda, é necessária, para segurança, a discriminação dos poderes conferidos.

Nota:

O foro geral caminha para o prosseguimento da marcha processual.

Em contrapartida, o foro especial caminha para o término da marcha processual.

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05/11/12
IMPORTANTE:

O contrato de mandato pode ser verbal, salvo se a forma do contrato principal exigir uma
solenidade.

9. Capacidade

No que tange aos menores incapazes, configura-se o mandato implícito.

Ex. O simples fato de meu pai ter o poder familiar sobre mim o autoriza a me representar.

Por outro lado, em relação ao mandato explícito, a regra geral é que, para ser mandatário, é
necessária a existência da capacidade de fato.

9.1. Relativa-exceção

Contudo, excepcionalmente, admite-se a capacidade relativa a partir dos 16 anos.

Em contrapartida, caso haja algum problema decorrente da representação, não poderá cobrar
do mandatário.

Destarte, a consequência é a inefetividade da reclamação contra o mandatário.

10. Obrigação principal do mandatário

A obrigação do mandatário é uma obrigação de fazer, cujo núcleo é a diligência, ou seja, o


cumprimento das ordens a ele dirigidas.

O mandatário deve informar ao mandante sobre todos os atos praticados.

Caso contrário, o mandante pode ingressar em juízo solicitando uma prestação de contas.

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11. Substabelecimento

É um ato celebrado entre o mandatário e um terceiro.

Somente acontece se anteriormente houver o contrato de mandato. Ou seja, trata-se de uma


derivação do contrato de mandato.

I. Partes

- Substabelecente: mandatário;

- Substabelecido: terceiro.

II. Classificação

- Com reserva de poderes: aquele em que o mandatário continua atuando. O mandante, portanto, terá
dois procuradores.

- Sem reserva de poderes: O único mandatário que resistirá é o substabelecido. O mandatário original,
então, será excluído. “Todos os poderes do mandatário são transferidos para o substabelecido.”

Define o Código Civil que o substabelecimento sem reservas exige a anuência¹ do mandante.

(1) Anuência: na prática, trata-se mais de uma notificação.

Neste caso, o mandatário responde pela má escolha do substabelecido pela modalidade de


culpa in eligendo.

IMPORTANTE:

- No silêncio da procuração, o substabelecimento está AUTORIZADO.

- Substabelecimento sem reservas vs. Renúncia

No substabelecimento não há o abandono do mandante, como também há a exigência da anuência


deste.

Na renúncia, por sua vez, há o abandono do mandante, estando este sem procurador até que faça nova
nomeação.

- SOMENTE O SUBSTABELECIMENTO SEM RESERVAS EXIGIRÁ A NOTIFICAÇÃO, HAJA VISTA


QUE É UM ATO GRAVOSO.

12. Lucro auferido por parte do mandatário

Restituição imediata ao mandante mais perdas e danos.

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13. Morte do mandante – urgência ou estado civil

Todos os atos do mandato são entre vivos

Se sobrevier a morte do mandante e houver a urgência na prática do ato, o mandatário, ainda


que ciente, deverá praticá-lo.

A mudança do estado civil pode gerar duas consequências:

I. Extinguir a procuração;

II. Renovar a procuração.

14. Despesas-retenção

As despesas são pagas pelo mandante, sob pena de retenção do bem pelo mandatário.

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06/11/12 (Rebeca, adaptado)


15. Aceitação

Adota-se a Teoria da Expedição na formação do contrato. Alguém aceita algo quando envia
uma comunicação a este respeito.

15.1. Formas

- Tácita: decorre do silêncio.

No Brasil, NÃO HÁ A ACEITAÇÃO TÁCITA, haja vista que é considerada como cláusula leonina.

Ex. Prazo de 24h para recusar ou aceitar expressamente.

- Expressa: decorre de anuência verbal ou escrita.

- Presumida: decorre dos indícios, ou seja, do comportamento da parte.

Nota:

- Oblato: Aquele que aceita, destinatário final da informação/proposta.

16. Compensação

Quando há o cúmulo de posicionamentos – devedor e credor em simultâneo. (Art. 368)

Art. 368. Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações
extinguem-se, até onde se compensarem.

Não se pode compensar uma obrigação, pois somente pode ocorrer se tratar do mesmo ramo
do Direito.

Ex. Dívida civil com dívida civil.

Nunca aceita compensação do procurador perante o mandante.

Ex. Mandatário tem crédito de 50 mil reais como procurador e tem uma dívida de 100 mil pelas
compras do mês.

17. Conjunto

Envolve pluralidade de mandatários.

Gera obrigações solidárias. Ambos têm o dever de prestar cumprimento pleno da obrigação.

18. Analfabeto-forma

O analfabeto somente celebrará contrato de mandato se for por meio de ESCRITURA PÚBLICA,
pois é um ato de muita insegurança.

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19. Morte, termo, ato, renúncia

- Fim do mandato:

I. Morte: ambos (mandante e mandatário);

II. Caso seja a termo¹: “chegou a data final, acabou o contrato;

(1) Termo: data;

III. Prática do ato em si: “fez o ato, finda-se o contrato”;

Ex. Autoriza o mandatário a atuar até a audiência de conciliação.

IV. Renúncia: não é necessária a anuência. O mandante é deixado “na mão”.

20. Previsão legal


Art. 662. Os atos praticados por quem não tenha mandato, ou o tenha sem poderes suficientes, são
ineficazes em relação àquele em cujo nome foram praticados, salvo se este os ratificar.

Parágrafo único. A ratificação há de ser expressa, ou resultar de ato inequívoco, e retroagirá à data do
ato.

Art. 666. O maior de dezesseis e menor de dezoito anos não emancipado pode ser mandatário, mas o
mandante não tem ação contra ele senão de conformidade com as regras gerais, aplicáveis às
obrigações contraídas por menores.

- Considerações:

Menor mandatário responde se houver bens e for uma relação de pai e filho.

Regra geral: menor NÃO responde.

Art. 668. O mandatário é obrigado a dar contas de sua gerência ao mandante, transferindo-lhe as
vantagens provenientes do mandato, por qualquer título que seja.

- Considerações:

Renúncia: se houver má-fé o mandante ajuíza perdas e danos.

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Ø Comissão
1. Essência

Tentativa de venda

2. Consolidação das Leis do Trabalho

Traz duas comissões: pura¹ e mista².

(1) Comissão pura: Aquela em que o comissário recebe somente a comissão.

Ex. Vendedor recebe somente as comissões referentes às blusas vendidas.

(2) Mista: Aquela em que o comissário recebe um salário mais a comissão.

3. Personagens formais

- Comitente: proprietário;

- Comissário ou comissionista (CLT): responsável pela venda da coisa.

Nota:

Quem “entra” formalmente no contrato é o comissário.

4. Morfologia

Comissão advém da palavra comittere, cujo significado é RECOMPENSA pela venda/batalha.

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5. Espécies

I. Tradicional: Indica responsabilidade do comissário, responsabilidade mínima. A figura do


comissário NÃO responderá pela solvência¹ do contratante.

(1) Solvência: possibilidade de pagar.

II. Del credere: Indica responsabilidade majorada.

O próprio contrato estabelece qual será a forma de comissão, sendo que, EM SEU SILÊNCIO,
será considerada a adoção da comissão TRADICIONAL.

- Semelhança: em ambas recebe-se valor pré-ajustado.

- Diferença:

I. Tradicional: Se o contratante for insolvente, o comissário não responderá. O proprietário arcará com
o prejuízo.

As ordens da forma de venda vêm do comitente. Caso este se desvie das ordens, responderá por perdas
e danos.

II. Del credere: Comissário responde pela insolvência do contratante. O risco é maior, logo a comissão
também será maior. Se o comissário se desvia das ordens, responde também por perdas e danos, apesar
de não disposto no Código Civil.

Nota:

- Na comissão tradicional, se há desobediência das ordens, o comissário responde pela


insolvência?

Gera comissão del credere atípica, não em virtude de disposição no Código Civil, mas pelos
princípios gerais do direito.

- O consignatário não responde pela insolvência do comprador.

Art. 697. O comissário não responde pela insolvência das pessoas com quem tratar, exceto em caso de
culpa e no do artigo seguinte.

- Considerações:

Comissão tradicional.

Art. 698. Se do contrato de comissão constar a cláusula del credere, responderá o comissário
solidariamente com as pessoas com que houver tratado em nome do comitente, caso em que, salvo
estipulação em contrário, o comissário tem direito a remuneração mais elevada, para compensar o
ônus¹ assumido.

(1) Ônus: fardo.

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12/11/12
6. Descumprimento da ordem

O descumprimento da ordem pelo comissário gera a configuração de uma consequência, de


uma sanção, ou seja, deverá responder pelos prejuízos mais perdas e danos.

7. Fonte supletiva

- Comissão mercantil¹: aplica-se o Código Comercial.

(1) Comissão mercantil: aquela na qual somente se envolvem comerciantes.

- Comissão Civil²: Aplica-se o Código Civil.

(2) Comissão Civil: aquela na qual o comissário pratica o ato eventualmente.

- Se houver subordinação, salário e afins: aplica-se a Consolidação das Leis do Trabalho.

IMPORTANTE:

- Os ramos do direito e empresarial se aplicam primariamente. O Código Civil, por sua vez, é
aplicado de forma subsidiária.

- NO SILÊNCIO DO CONTRATO, O COMISSÁRIO NÃO PODE RETER O VALOR DA COMISSÃO.

8. Formalidade da mudança de condição

Caso o comitente tenha o interesse em modificar as condições, esta deverá ser por escrito
mediante notificação.

9. Previsão Legal
Art. 696. No desempenho das suas incumbências o comissário é obrigado a agir com cuidado e
diligência, não só para evitar qualquer prejuízo ao comitente, mas ainda para lhe proporcionar o lucro
que razoavelmente se podia esperar do negócio.

Parágrafo único. Responderá o comissário, salvo motivo de força maior, por qualquer prejuízo que, por
ação ou omissão, ocasionar ao comitente.

- Considerações

Sempre que provada a culpa, há a incidência de perdas e danos.

Art. 697. O comissário não responde pela insolvência das pessoas com quem tratar, exceto em caso de
culpa e no do artigo seguinte.

Art. 698. Se do contrato de comissão constar a cláusula del credere, responderá o comissário
solidariamente com as pessoas com que houver tratado em nome do comitente, caso em que, salvo
estipulação em contrário, o comissário tem direito a remuneração mais elevada, para compensar o ônus
assumido.

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Art. 699. Presume-se o comissário autorizado a conceder dilação do prazo para pagamento, na
conformidade dos usos do lugar onde se realizar o negócio, se não houver instruções diversas do
comitente.

- Considerações

O comissário está autorizado a dilatar o prazo, no entanto, não está autorizado a parcelar. Somente
poderá parcelar

Art. 706. O comitente e o comissário são obrigados a pagar juros um ao outro; o primeiro pelo que o
comissário houver adiantado para cumprimento de suas ordens; e o segundo pela mora na entrega dos
fundos que pertencerem ao comitente.

Além da necessidade de restituição dos valores acessórios,

Ø Agência e distribuição
1. Essência

Promoção do agenciado ou do bem que se tenta vender a fim de que se tenha uma ideia
diferenciada do bem ou pessoa promovida.

2. Profissão

O agente e distribuidor que é credenciado, que atua de forma constante, é regido pela lei
4.886, existindo, também, um conselho profissional com função análoga à do sindicato.

O não credenciados, por sua vez, são tutelados pelo Código Civil.

3. Diferença

A agência não possui contato direto com o bem.

Na distribuição, por outro lado, há o contato com o bem.

Quando não existe contato ou não existe bem, trata-se de agência.

Quando existe contato direto com o bem, trata-se de distribuição.

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4. Restrição em certas regiões geográficas


Art. 710. Pelo contrato de agência, uma pessoa assume, em caráter não eventual e sem vínculos de
dependência, a obrigação de promover, à conta de outra, mediante retribuição, a realização de certos
negócios, em zona determinada, caracterizando-se a distribuição quando o agente¹ tiver à sua
disposição a coisa a ser negociada.

(1) Agente: erro do código civil. Onde se lê agente, deve-se ler distribuidor.

Parágrafo único. O proponente pode conferir poderes ao agente para que este o represente na
conclusão dos contratos.

Definitivamente o distribuidor poderá ter um único agenciado ou distribuído em certa


demarcação geográfica.

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13/11/12
Nota:

Contrato pessoal, vez que o agente somente poderá agenciar uma só pessoa à sua escolha. O
agenciado, por sua vez, selecionará uma pessoa que seja de seu agrado para ocupar posição
de seu agente.

Toda agência é uma forma de prestação de serviço, porém há um contrato específico que a
rege.

5. Remuneração – resultado

5.1. Momento

No silêncio do contrato, assim como na prestação de serviço, a remuneração deverá ocorrer


no momento da execução. No entanto, não há elementos palpáveis para se definir o momento
exato da execução. Desta forma, a remuneração ocorrerá no momento da celebração de um
contrato diferenciado.

6. Não conclusão – por culpa – sem remuneração?

A obrigação começa como de resultado. No entanto, caso se configure a culpa do agenciado,


transforma-se esta em obrigação de meio.

Deste modo, se o contrato diferenciado não for celebrado em virtude de culpa do agenciado,
deverá o agente receber sua devida remuneração.

IMPORTANTE:

O contrato de agência e distribuição trata de uma obrigação de resultado que pode se


transformar em obrigação de meio se caracterizada a culpa do agenciado.

7. Despesas – quem arca?

O agente será responsável pelo pagamento de eventuais despesas para promoção do


agenciado, no silêncio do contrato.

- Regra “estranha” ao Código Civil

O Código Civil obriga o agente a arcar com as despesas do agenciado, devendo, assim, inserir
estes custos no valor cobrado.

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8. Previsão legal
Art. 711. Salvo ajuste, o proponente não pode constituir, ao mesmo tempo, mais de um agente, na
mesma zona, com idêntica incumbência; nem pode o agente assumir o encargo de nela tratar de
negócios do mesmo gênero, à conta de outros proponentes.

- Considerações

O agente não pode, numa mesma circunscrição, agenciar duas pessoas do mesmo ramo.

Art. 712. O agente, no desempenho que lhe foi cometido, deve agir com toda diligência, atendo-se às
instruções recebidas do proponente.

Art. 713. Salvo estipulação diversa, todas as despesas com a agência ou distribuição correm a cargo do
agente ou distribuidor. (DESPESAS)

Art. 714. Salvo ajuste, o agente ou distribuidor terá direito à remuneração correspondente aos negócios
concluídos dentro de sua zona, ainda que sem a sua interferência.

Art. 715. O agente ou distribuidor tem direito à indenização se o proponente (agenciado ou distribuído),
sem justa causa, cessar o atendimento das propostas ou reduzi-lo tanto que se torna antieconômica a
continuação do contrato¹.

(1) Antieconômica a continuação do contrato: “é inviável para mim continuar agenciando uma pessoa
escandalosa como você”.

Art. 716. A remuneração será devida ao agente também quando o negócio deixar de ser realizado por
fato imputável ao proponente.

Art. 717. Ainda que dispensado por justa causa, terá o agente direito a ser remunerado pelos serviços
úteis prestados ao proponente, sem embargo de haver este perdas e danos pelos prejuízos sofridos.

Art. 718. Se a dispensa se der sem culpa do agente, terá ele direito à remuneração até então devida,
inclusive sobre os negócios pendentes, além das indenizações previstas em lei especial.

- Considerações:

O agente, se dispensado sem justa causa, terá direito apenas às prestações vencidas e não às vincendas,
conforme ocorre no contrato

Art. 719. Se o agente não puder continuar o trabalho por motivo de força maior, terá direito à
remuneração correspondente aos serviços realizados, cabendo esse direito aos herdeiros no caso de
morte.

Art. 720. Se o contrato for por tempo indeterminado, qualquer das partes poderá resolvê-lo, mediante
aviso prévio de noventa dias, desde que transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto do
investimento exigido do agente.

Parágrafo único. No caso de divergência entre as partes, o juiz decidirá da razoabilidade do prazo e do
valor devido.

Art. 721. Aplicam-se ao contrato de agência e distribuição, no que couber, as regras concernentes ao
mandato e à comissão e as constantes de lei especial.

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Ø Transporte
1. Essência

Concretização do destino.

2. Classificação

Obrigação de resultado, vez que se o transporte for interrompido no meio do caminho, a


transportadora deverá concretizar a posteriori o restante do mesmo. Assim sendo, “parar no
meio do caminho” não afasta a responsabilidade da transportadora.

- Comutativo

- Impessoal (discutível) uma vez que as características pessoais do transportado não são
relevantes para a transportadora. Todavia, analisando sob a ótica do transportado, caso este
tenha preferência por alguma marca, há de se afirmar a existência de aspecto impessoal.

IMPORTANTE:

Somente se aplica o código civil para a esfera privada.

Na esfera pública, por outro lado, se aplica 8.987/95.

3. Responsabilidade

3.1. Cláusula e de não indenizar (Válida para TODAS AS SITUAÇÕES DO DIREITO)

De antemão, pede-se para as partes de ingressar em juízo.

Somente vale a cláusula de não indenizar se esta não disser respeito a CONTRATO DE ADESÃO.

O Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 51, abole a cláusula de não indenizar.

- Contrato de transporte

No transporte, mesmo que esta seja estipulada e discutida em contrato, é plenamente


PROIBIDA em virtude de lei.

A súmula 161 do STF proíbe expressamente a cláusula de não indenizar nos contratos de
transporte.

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19/11/12
4. Culpa do remetente

O destinatário não é parte, no entanto, não pode fazer reinvindicações.

A responsabilidade do remetente é atenuada, porque a culpa objetiva é da transportadora.

Não poderá alegar culpa exclusiva e cláusula de não indenizar.

A transportadora, para se escusar da culpa, poderá SOMENTE alegar o caso fortuito ou força
maior.

Entretanto, o remetente pode responder se agir com culpa.

Se a mercadoria não estiver embalada e a mercadoria for perecível ou de fácil quebra, a


transportadora poderá embalar “de ofício”, ou seja, sem prévia notificação do remetente em
prol da segurança. Cabe ressaltar que este não é um dever da transportadora.

A embalagem é um poder-dever, haja vista que o Código Civil não obriga a transportadora a
embalar, todavia, sua responsabilidade é objetiva, sendo assim, é ALTAMENTE
RECOMENDÁVEL que esta embale.

5. Constituição Federal

No transporte interestadual, a Constituição Federal diz que quem tem legitimidade para atuar
nesta seara é a União.

No transporte intermunicipal os estados também têm legitimidade para atuar nesta seara.

CF - Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do
trabalho;

XI - trânsito e transporte;

6. Excludentes

Doutrinariamente, há a culpa exclusiva da vítima.

Legalmente, há o caso fortuito e força maior.

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7. Declaração

É dever da transportadora solicitar o memorial¹ de mercadorias.

(1) Memorial: Lista na qual são discriminados todos os objetos transportados.

- Problemática:

Caso haja dúvida em relação ao conteúdo transportado, o transportador não pode abrir a bagagem,
devendo-se manter o sigilo. Neste caso, é feita uma analogia em relação ao contrato de depósito.

IMPORTANTE:

- Teoria pura da responsabilidade: a vítima tem o ônus da prova.

- Teoria da culpa presumida: o ônus da prova não é da vítima e sim do autor do dano.

8. Bilhetes – espécies – desistência

- Duas espécies:

I. Pessoal: intransferível;

II. Impessoal: transferível.

- A desistência do transporte pode ocorrer sem justificativa até a hora do embarque, tendo o
transportado direito à indenização.

Caso tenha um bilhete cuja validade não exacerbou o prazo de 1 ano, o transportado terá
direito de trocá-lo;

- Overbooking¹

(1) Overbooking: transportadora vende mais bilhetes do que pode comportar.

Presume-se o prejuízo cabendo indenização ao transportado lesado.

Esta decorre apenas da prova do fato.

Nota:

O contrato de transporte vale para todas as espécies de transporte (marítimo, aéreo,


ferroviário, terrestre).

9. Complemento/interrupção do trajeto (abrangência)

A transportadora deve completar o trajeto, devendo, enquanto este não for completado,
pagar as despesas de alimentação e hospedagem.

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10. Rejeição de conteúdo

O transportador pode rejeitar o transportado ou a mercadoria nos casos de segurança e saúde.

Não se pode rejeitar de forma discriminatória NENHUM consumidor/transportado.

Se no curso da viagem for constatado que o passageiro passou a ameaçar o curso da viagem,
acredita Hugo Rios Bretas que, por analogia, este deverá ser expulso a fim de assegurar a
segurança de todos ao longo da viagem.

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