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A primeira câmera fotográfica desenvolvida para produção comercial, construída por Alphonse Giroux, um parente de Daguerre, foi
lançada em 1839 e era destinada à produção de daguerreótipos. A invenção revolucionária foi atribuída a Daguerre e Niépce e ficou
conhecida por daguerreótipo.
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movimentações populares, e as perturbações políticas próprias da 1.ª República. O que
verdadeiramente marcou a sua carreira profissional foi a revolta de 14 de maio de 1915
contra o governo “ditatorial” de Pimenta de Castro foi perpetrada por uma fação do
Partido Republicano Português (Partido Democrático), membros da Carbonária, Guarda
Nacional Republicana e militares do Exército infligiram cerca de 200 mortos e mais de
1000 feridos, tendo desse modo conseguido a demissão do governo do general Pimenta
de Castro e a nomeação de um governo do partido democrático chefiado por João
Pinheiro Chagas. Em consequência desta revolta foi demitido o presidente da república
Manuel de Arriaga, tendo sido substituído por Teófilo Braga. Arnaldo Garcez fotografou
exaustivamente todos os acontecimentos desta revolta.
Quando em 1914 despoletou o conflito mundial, a fotografia tinha iniciado o
seu processo de democratização com a Kodak a lançar no mercado a câmera
fotográfica “Vest Pocket”, ou “soldier’s camera”, esta câmera era facilmente
transportada no bolso de um casaco ou num uniforme, sendo a primeira câmera
fotográfica de produção em série produzida por George Eastmann, o fundador
da Kodak.
Vest Pocket Autographic Kodak camera, c. 1914 © National Media Museum, Bradford /
SSPL. Creative Commons BY-NC-SA
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termos do art.26º, nº14, da Constituição. ” 2 Na mesma Ordem do
Exército foi decretada a requisição militar enquanto durar o estado
de guerra exercida sobre todo o território Português.
Neste contexto histórico o fotografo Joshua Benoliel,
contemporâneo e colega de Arnaldo Garcez, retrata de forma
original este período de mobilização das tropas [Lisboa].
Foi nesse contexto que surgiu o convite oficial do Ministro da Guerra, General
Norton de Matos, para que Garcez faça a cobertura das imagens da Divisão de
Instrução em Tancos, devido ao seu excelente trabalho, o convite estende-se à
campanha do CEP no norte da Europa inicia então a recolha de imagens desde a
concentração e preparação até ao embarque das tropas. Arnaldo Garcez foi o fotógrafo
oficial do Corpo Expedicionário Português (CEP) na Grande Guerra, sendo as fotografias
que tirou nesse âmbito o seu principal legado, contribuindo para o conhecimento e
divulgação da participação portuguesa no conflito.
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Ordem do exército, nº4 (1ª série), de 25 de março de 1916;
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Instrução militar em Tancos [cidade de Paulona]; Arnaldo Garcez;
Arquivo Histórico Militar. PT AHM-FE-CAVE-AG-A11-0831
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1919), iniciando o processo de recolha de imagens na preparação da Divisão de
Instrução, mais tarde Corpo Expedicionário Português, em Tancos.
Os repórteres fotográficos, como o fotografo Joshua Benoliel, mas apenas na
região de Lisboa, particularmente no que se refere ao embarque e desembarque
das tropas no cais de Alcântara e Santa Apolónia, em cerimónias e paradas
militares e no recrutamento militar, sempre na cidade de Lisboa.
Os fotógrafos Amadores que se dedicavam à fotografia, por iniciativa própria,
como por exemplo o Tenente médico miliciano Fernando da Silva Correia e o
Capitão Barros Basto, rememora-se que, o processo de democratização da câmera
Kodak, “soldier’s camera”, possibilitou a muitos militares retratarem outras realidades
do conflito e o convívio salutar em tempo de descontração.
Em 1917, com o posto de “alferes equiparado”, Arnaldo Garcez embarcou, para
a Flandres com o CEP, onde lhe foi dado a missão de realizar a cobertura
fotográfica do conflito.
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Já em França, a sua câmera fotográfica registou os treinos da instrução
complementar em França no campo central de Marthes. Contribuiu com o seu
trabalho para o nascimento do fotojornalismo português.
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Instrução de tiro com a metralhadora Lewis; Arnaldo Garcez;
Arquivo Histórico Militar. PT AHM-FE-CAVE-AG-A11-0868
Foi feita uma cobertura exaustiva das visitas oficiais, portuguesas e estrangeiras
à frente atribuída ao CEP, a toda a atividade operacional e ao apoio
logístico/administrativo às tropas portuguesas. Foram retratadas as vivências
dos soldados nas trincheiras e as atividades na retaguarda, as penosas condições
das trincheiras, e o quotidiano dos soldados, os gestos e hábitos diários da
higiene pessoal, o transporte da alimentação, a tomada da refeição, as
diversões e desporto na retaguarda e a recuperação e manutenção do campo
entrincheirado, os acampamentos e acantonamentos improvisados, os
batalhões a caminho da frente de combate e as paisagens destruídas pelos
bombardeamentos, os edifícios em ruinas que em muitas ocasiões serviam de
abrigo, dormitório ou de acantonamento para os postos de comando da linha
da frente e da retaguarda, na chamada linha das aldeias.
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Visita do Dr. Bernardino Machado ao CEP em Roquetoire; Arnaldo Garcez;
Arquivo Histórico Militar. PT AHM-FE-CAVE-AG-A11-0401
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Fazer a barba nas trincheiras; Arnaldo Garcez;
Arquivo Histórico Militar. PT AHM-FE-CAVE-AG-A11-0230
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Registou também com a sua câmera fotográfica, os hospitais militares, o pessoal
médico da Cruz Vermelha e no pós-guerra, os destroços, as paisagens e as ruínas
da frente portuguesa no vale do rio Lys. Este acompanhamento na “linha da frente”
permitiu-lhe estabelecer relações que perduraram não só com os portugueses, mas
também com as tropas francesas, e principalmente com os membros do exército inglês,
no qual o CEP estava integrado.
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As suas imagens do front da Flandres foram publicadas abundantemente nas
revistas, Illustração Portugueza e Portugal na Grande Guerra. As fotografias,
na sua maioria, ilustravam notícias do CEP, contudo foram muito usadas como
fonte de propaganda e valorização do soldado português, pelo “regímen”
republicano.
Participou em várias exposições interaliadas, destacando-se o conteúdo
propagandístico das mesmas, realça-se a importância da exposição fotográfica
realizada em Paris (novembro de 1917).
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Já depois do Armistício, Arnaldo Garcez registou as edificações de cemitérios onde
foram sepultados os militares portugueses, que tombaram no conflito, a participação
de batalhões nacionais nas comemorações e os desfiles da Vitória em Paris3, Londres e
Bruxelas, (julho de 1919).
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Parada militar sob o arco do triunfo;
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Documentou as cerimónias fúnebres dos Soldados Desconhecidos (teatro de operações europeu e africano), que tiveram lugar no
mosteiro da Batalha, a 9 e 10 de abril de 1921;
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responsável pela reportagem da viagem do Presidente António José de Almeida ao
mesmo país.
Em 22 de Fevereiro de 19235 fundou no Chiado (junto à Brasileira, da qual era
frequentador assíduo) a casa Garcez Lda., com mais 2 sócios, dedicada à venda de
câmeras fotográficas6 e todo o material fotográfico necessário à produção da
fotografia.
Ainda na década de 20, concebeu uma exposição no Teatro Nacional D.
Maria II, onde apresentou o trabalho realizado na Grande Guerra. A
derradeira exposição foi produzida, já a título póstumo, e denominada:
“Retrospetiv a Fotográfica da Grande Guerra (1914 -1918)”, foi
organizada pela liga dos c ombatentes.
Faleceu a 5 de agosto de 1964, com 78 anos, tendo recebido ainda em
vida, várias c ondecorações, civis e militares, entre as quais, as Ordens
de Santiago, da Vitória e a Cruz de Guerra. A sua prolífic a atividade ao
serviç o do CEP em França reuniu uma coleção de imagens impresci ndível
para conhec imento da história da participação portuguesa na frente
europeia da Grande Guerra .
O Arquivo Histórico Militar é o detentor do deste magnífico acervo
fotográfic o e nessa medida envidou várias aç ões c om vista à preservação
e divulgação do acervo, entre as quais d esenvolv eu um projeto único e
muito exigente tecnicamente , que envolveu uma parceria com a
Fundação Calouste Gulbenkian, relativo às “C ampanhas d’África e I
Guerra Mundial”, com objetivo de organizar, tratar, preservar e
restaur ar os negativos em vidro, as provas fotográficas e os álbuns
fotográfic os 7, nesse sentido o projeto desenvolveu -se durante dois anos
(2008-2010) e visou, para além da preservação e restauro deste acervo
fotográfic o de reconhecido valor históric o e patrimonia l, a digitalização,
divulgação e disponibilização Online 8 deste património cultural nacional .
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Nesse ano de 1923 abandonou a reportagem fotográfica, dedicando-se à comercialização de câmeras fotográficas e material de
fotografia;
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Salientando-se, entre outras, representações para Portugal de marcas como a belga Gevaert e a austríaca Eunig.
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Fotógrafos: José Veloso de Castro, Arnaldo Garcez Rodrigues e Joshua Benoliel.
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Disponível em: https://arqhist.exercito.pt/
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Major, Joaquim José da Cunha Roberto,
Licenciado em História (1999-2003) e Mestre em Ciências da
Documentação e da Informação pela Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa (2007-2010).
Subdiretor do Arquivo Histórico Militar, desde dezembro de
2012.
Docente da Área de Ensino Específico do Exército e responsável
pela Unidade Curricular, “Emprego e Funcionamento dos
Serviços”, no Instituto Universitário Militar (IUM).
Tem publicado os livros: "Organização, Descrição e
Disponibilização da Informação das Forças Militares em Macau
1874-1978”; “In Memoriam, Loures no esforço da Grande Guerra
(1914-1918)”; “O Último Fuzilado. A Batalha do Lys, os
Combatentes Portugueses” (em coautoria).
Tem publicado diversos artigos sobre História Militar e Ciências da
Informação.
Conferencista convidado em vários colóquios/seminários.
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