Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo: O texto defende um currículo para a disciplina de filosofia no ensino médio. Esse currículo
se mostra compatível com os parâmetros governamentais e, principalmente, é abalizado como um
aliado para atingir a finalidade legal da disciplina. Por fim, é proposta uma metodologia baseada na
aplicabilidade da filosofia que visa dar conta da efetividade do currículo em sala de aula.
1
Currículo e suas variáveis são entendidos ao longo do texto como um conjunto de conteúdos e competências
abordadas em uma disciplina.
2
Metodologia e suas variáveis são entendidas ao longo do texto como as técnicas e métodos de aplicação de um
currículo.
3
Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio.
Página 1 de 10
vale dizer, seu caráter propriamente ilusório. É nesse sentido que podemos
compreender as tradições de pesquisa do tipo da crítica da ideologia, das
genealogias, da psicanálise, da crítica social e todas as elaborações teóricas que
estão motivadas pelo desejo de alterar os elementos determinantes de uma “falsa”
consciência e extrair disso todas as conseqüências práticas. (PCNEM, 2000).
Todavia, também, não se pode esquecer que problema e sistema são noções
correlatas e que assim elas tem se apresentado ao longo da história da filosofia
(Bornheim, 1970, PP. 101s) A filosofia não se constrói com base apenas em
problematização ou sistematização. Ela começa formulando indagações sobre o real
que, por sua vez, instauram a necessidade de certa organização ou sistematização do
conhecimento, de modo que as respostas resultem em um discurso articulado e
coerente. (RODRIGO, 2009, p.44).
Em resumo, a disciplina deve ser ensinada criticamente. Um modo de fazer
isso é interpretando, examinando e avaliando teorias enquanto possíveis respostas aos
problemas filosóficos. Isso exige competências de interpretação, exame e avaliação do
estudante e, por conseguinte, sua criticidade e autonomia são desenvolvidas de uma maneira
peculiar. Essa maneira de trabalhar com os problemas e teorias é compatível com a proposta
de Murcho:
Uma correta compreensão da natureza da filosofia obriga a que o seu ensino procure
o seguinte: o estudante terá de compreender claramente os problemas, teorias e os
argumentos da filosofia e terá de formar a sua opinião abalizada sobre eles; o
estudante deverá ser estimulado a desenvolver o seu pensamento autônomo sobre os
problemas, as teorias e os argumentos da filosofia. Deverá ser capaz de traçar
distinções relevantes, terá de saber defender as suas idéias e terá de saber responder-
lhes de forma adequada e responsável. (MURCHO, 2002, p.28).
Partindo das idéias de Murcho e Rodrigo, foi defendido um modo pelo qual a
disciplina de filosofia pode ser ensinada criticamente: relacionando problemas e teorias
filosóficas. Essa tarefa exige do estudante habilidade de interpretação, exame e avaliação. Por
fim, essas habilidades aprimoram a criticidade e a autonomia.
6
Esse ponto não será aprofundado aqui, para saber mais ver o texto: ROCHA, R. Ensino de Filosofia e
Currículo. 1ª Ed. Vozes: RJ, 2008.
Página 3 de 10
O ensino médio, etapa final da educação básica, com duração mínima de três anos,
terá como finalidades: (...) o aprimoramento do educando como pessoa humana,
incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do
pensamento crítico. (LDB, artigo 35).
(...) ao final do ensino médio o educando deve demonstrar (...) domínio dos
conhecimentos de filosofia e sociologia necessários ao exercício da cidadania. (LDB,
artigo 36).
Neste sentido, deve-se considerar que a autonomia e a criticidade são condições
necessárias para o exercício da cidadania que a filosofia é capaz de promover. Sobre isso
Murcho diz o seguinte:
7
Projeto de ensino do autor cujo enfoque prioritário está no desenvolvimento de habilidades ligadas à
racionalidade.
Página 4 de 10
estudantes; terceiro, que essas habilidades atendem ao compromisso legal da disciplina. Como
já foi visto, o primeiro ponto, quando abordado de maneira adequada, implica o segundo.
Também, se observou que o segundo ponto é condição necessária do terceiro.
O livro de Ronai Rocha Ensino de Filosofia e Currículo pode fornecer um rumo a essa
tarefa. “No processo de consolidação de nossa estrutura noética apresentam-se naturalmente
certas curiosidades e perguntas para as quais o lugar correto de debate é a aula de filosofia.”
(ROCHA, 2008, p.43). Geralmente, algumas dessas perguntas se relacionam com problemas
filosóficos. Nesse ponto, faz-se necessário um trabalho de persuasão dos estudantes. Isso pode
ser feito mostrando ao aluno, na prática, que a filosofia pode ser o melhor local para encontrar
respostas a certo tipo de perguntas inerentes ao ser humano. O fato de o aluno se fazer esse
tipo de perguntas não garante necessariamente o seu interesse, contudo, é um passo nesta
direção. Lipman ajuda a esclarecer o papel da filosofia frente essas perguntas:
O interesse pela reflexão filosófica, assim como por qualquer outro assunto, só
poderá ser despertado se os conteúdos se revelarem significativos para o sujeito de
aprendizagem, que dizer, além de serem objetivamente significativos, eles devem
sê-lo também, subjetivamente, inscrevendo-se num horizonte pessoal de
experiências, conhecimentos e valores. (RODRIGO, 2009, p. 38).
Lipman corrobora essa idéia de estabelecer a ligação entre a filosofia e elementos que
são significativos para os alunos:
9
Série de TV norte-americana criada em 2004. Ela é transmitida no Brasil pela Universal Channel.
10
Esta oficina fez parte de um bloco de três oficinas que trataram da teoria relativista em diferentes campos. Os
planos dessas três oficinas estão presentes neste livro.
Página 8 de 10
Após a abordagem inicial do conteúdo através da apresentação de algum recurso que
desperte o interesse do educando, se faz necessária a extração da relevância filosófica desse
conteúdo. Ela deverá encaminhar a aula para o modelo visto anteriormente de argumentação
sobre os problemas filosóficos. Entretanto, agora, o aluno tomará contato com esse conteúdo
partindo de um olhar interessado adquirido anteriormente. Nesse contexto, as teorias
filosóficas ficam “vivas”, elas se tornam mais claras e acessíveis aos educandos levando
adiante a investigação do assunto em pauta. Por fim, após a análise filosófica do tema, há um
retorno ao caso particular que serviu de gancho com o objetivo de verificar a contribuição da
abordagem filosófica à questão. Contudo, ainda, é preciso que o professor tenha sensibilidade
para manter o interesse dos alunos, conservando um vínculo apropriado da forma e do
conteúdo que serão trabalhados com o recurso pelo qual estes foram introduzidos:
Dissemos várias vezes que a discussão em sala de aula deve começar com os
interesses dos alunos e que fazer com que leiam uma história é uma maneira de criar
uma experiência que mobilizará e cristalizará seus interesses. Todos nos estamos
familiarizados com o fato de que nossos próprios interesses tendem a diminuir a
menos que sejam estimulados e direcionados, o que é pedagogicamente útil na obra
de arte é que anima aqueles nossos interesses que, de outro modo, ficariam
adormecidos e inertes. (LIPMAN, 2006, p.157).
Para a realização de uma boa aula é preciso cobrir um campo de elementos bastante
grande, muitos deles são variáveis, outros tantos são independentes da atividade do professor.
Foram abordados ao longo do texto apenas alguns desses elementos. No entanto, foi
apresentado um estilo de unir a finalidade legal à prática docente através do que se defendeu
ser uma boa estratégia frente ao problema em questão.
REFERÊNCIAS:
11
Um exemplo onde cada momento desse método está bem delineado se encontra no planejamento da oficina
“Decisão e Responsabilidade” presente neste mesmo livro.
Página 9 de 10
BAGGINI, J. e FOSL, P. As Ferramentas dos Filósofos. 1ª Ed. Loyola: Sp, 2008.
Página 10 de 10