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Departamento de História
Grupo:
O material é bem reduzido, não se aprofunda nos temas, não tem uma grande
variedade de assuntos abordados ao longo do texto, em suma, é um material de “apoio”
muito raso e que não faz ou incita uma reflexão ou um aprendizado verdadeiro e profundo
sobre os temas abordados, que foi em sua maioria se tratando dos Estados Unidos da
América, deixando outros países e a história do Brasil em segundo plano. O conteúdo
abordado foi a imigração para o Brasil no século XIX, Guerra de Secessão, Doutrina
Monroe, Consolidação do Estado Norte-Americano e o Imperialismo norte-americano na
América Latina, ou seja, silencia várias outras histórias e dá enfoque ao EUA, o que pode
significar uma americanização do ensino em detrimento da américa latina tão importante e
silenciada por uma cultura estadunidense e eurocêntrica.
Concepção de Educação
Quanto às questões contidas nos incertos “Atividades” o PET faz um bom trabalho
em ser claro e objetivo, mas a simplicidade sobrepuja a objetividade mais uma vez fazendo
com que as perguntas sejam uma correspondência direta do conteúdo exibido, sem muito
espaço para problematizações ou mesmo inquirir do aluno uma compreensão direta do
conteúdo.
Único conteúdo que fala diretamente do Brasil, mesmo que o objetivo seja ligado
completamente à conjuntura internacional, apresenta em uma página um desenvolvimento
narrativo que desconsidera totalmente as conjunturas internas e agências históricas
diferenciadas da europeia, pois foca-se somente nos aspectos conjunturais internacionais,
como podemos perceber:
Embora o texto refira à “premissa racista” e o parágrafo de fale de processos que são
historicamente corroborados por ampla historiografia, ele não apresenta criticidade e
contraponto, ou mesmo detalha e complexifica o quadro apresentado, resultando em um
processo passivo e sem conflitos de substituição de mão de obra, o que de fato aconteceu,
entretanto não de maneira unívoca como o texto termina por mostrar.
A partir deste ponto, a até a última semana, o foco torna-se a história dos EUA e seu
desenvolvimento. Novamente, a mesma métrica narrativa de desenvolvimento do texto é
apresentada, assim como a inexistente de perspectiva crítica sobre os fatos históricos
apresentados e seus respectivos desenvolvimentos.
O parágrafo acima exemplifica bem, pois mesmo apresentando que houve uma
guerra sangrenta contra o México e dizimação de diversos povos indígenas, ao não
apresentar dados que permitam complexificar o texto, não apresentar o que o “outro lado”,
restringe muito outras oportunidades de intepretação e compreensão do período histórico
apresentado e solidifica visões racistas dessas vozes omitidas, pois não apresenta quadros de
resistência e, portanto, de agência histórica. Segundo o texto, “Os escravizados do Sul
aproveitavam a presença de soldados do Norte para promoveram fugas coletivas”. Essa é a
única agência histórica apresentada pelo texto em referência à população afrodescendente
dos EUA. Contando com as atividades, este é o maior conteúdo apresentado pelo PET do
conteúdo de História.
Um texto de apenas dois parágrafos é a base de estudos para a semana três que, como
o próprio título sugere, apresenta uma ode à nação estadunidense ao apresentar uma narrativa
unilateral e acrítica aos processos históricos de consolidação, terminando por reforçar um
contexto vitorioso:
Com termos que mais uma vez “suavizam” os processos, como anexação, ocupadas,
acrescidos, primeiro, das conquistas de uma narrativa pautada pela ideia de progresso, a
informação do genocídio indígena praticamente perde sua função contestadora.
Os conceitos são tratados de forma rasa e “jogados” sem uma construção prévia
adequada, os estudantes não necessitam de se quer uma leitura para “compreender” o
conteúdo.
É sempre importante lembrar que o acesso, não só a internet, como também a outros
materiais e ferramentas de aprendizagem, bem como a um ambiente propício à educação,
não se dá de forma hegemônica em uma mesma turma, muito menos no estado ou país
inteiro. Vale lembrar também que, de forma alguma, e isso é claro para qualquer professor
ou outro funcionário envolvido no processo de educação, esses materiais de estudo tutorado
substituem, com auxílio de livro didático ou outras fontes de conhecimento, a aula presencial
e o papel ativo do professor.
No entanto, esses fatores não diminuem o fato do material ser, em muitos casos, bem
raso para um bom conhecimento. É claro que realizar debates mais complexos com os alunos
por esses meios à distância se torna ainda mais complicado, porém o material é insuficiente
na forma de guiar esses debates. Questões complexas como imperialismo, racismo,
extermínio dos povos originários, escravidão, bem como relações de trabalho e produção,
são colocadas de forma extremamente superficial, mesmo considerando os fatores já
abordados e a fase escolar dos alunos, sendo por vezes, um mero detalhe dentro de um
processo que aparenta ser coeso e homogêneo. O material falha também em suscitar um
debate nos conceitos e nas correntes de pensamento, mesmo considerando novamente as
ressalvas, dando uma ideia quase que teleológica da história em alguns momentos, além de
omitir conflitos e choques de realidade e ideias.
As críticas a esse material devem ser feitas por ele representar não só um ensino
emergencial frente a uma situação nunca experienciada por alunos e educadores, mas
também por revelar uma série de características sintomáticas do ensino de história no Brasil,
com ou sem pandemia.
Referencias: