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Entrar nesses universos sem esse preparo mental e físico é o que leva
às famosas “bad trips” ou “peias”. A vida normalmente nos dá o que
precisamos, e não o que queremos, e neste caso precisamos estar
preparados para o valor educacional da sensação, seja ela boa ou ruim.
Don Juan diz no livro “A erva do diabo”, que as plantas não são nossas
escravas. Elas são aliadas que nos ajudam a enxergam nosso Eu
primordial.
Poder visitar esse lugar, esse “mundo dos mortos” e voltar para o
mundo dos vivos com algum fragmento de conhecimento, traz uma
sensação de conforto e reforça nossa fé de que existe algo além da vida
comum.
Preparação
Primeiro me acomodo em uma posição confortável e respirando
profundamente fecho meus olhos.
Ao mesmo tempo em que sinto o ar inflando meus pulmões e meu
sangue carregando suas moléculas por todas minhas veias, presto
atenção às pós imagens queimadas em minha retina se desvanecendo.
O formato dos objetos que estão na minha frente permanecem na tela
escura da mente, tingidos em suas cores complementares, e vão
desvanecendo em apenas suas linhas de contorno branco azulado.
Sobrepostos a eles, imagens de meu subconsciente dançam pedindo
atenção sobre um pano de fundo que começa a revelar sua textura.
Um padrão quadriculado de flor da vida pulsa e gira em uma rotação
suave no sentido horário, junto com filamentos verticais que lembram
raízes escuras, e penso que posso estar vendo as veias de minhas
pálpebras, ou estar embaixo da árvore da vida.
As imagens da memória continuam a disputar minha atenção na
periferia da visão, mas eu foco no ponto central, o vértice que se forma
no ponto cego da retina.
O ponto vai se aproximando até tomar todo o campo da visão, e se
torna um túnel, que me leva até o cerne de mim mesmo, e eu peço para
ver a fonte de minha consciência.
O primeiro drop
Após relaxar o corpo e a mente, e focar em meu objetivo de visitar a
Coroa, abro meus olhos e tomo a primeira dose. Fecho os olhos e
seguro a respiração, sentindo a partícula percorrendo meu corpo e
inundando meu cérebro.
A grade da árvore da vida se divide em dois planos como tabuleiros de
xadrez, um de cada lado, um preto e o outro púrpura, e eles voltam a se
entrelaçar em uma grade multidimensional infinita com o vértice um
pouco fora de centro para o lado direito.
Começo a soltar a fumaça da substância, e a respirar pelo nariz,
direcionando o fluxo de ar para o palato superior. Isso faz com que o
fluxo de DMT encha mais os vasos do meu crânio. Nesse momento, do
vértice aparece uma figura espaguetificada, alguém que pode ser
descrito como um elfo mecânico, com um corpo alongado entrelaçado
na grade, para mim ele é uma entidade trickster, ou palhaço. Ele tem um
sorriso sádico e olhos grandes e esbugalhados.
Nesse momento um ou mais vultos de linhas brancas azuladas com
longos braços se manifestam, e ao tempo que o palhaço me passa
emoções de confusão e caos, os vultos me passam uma sensação de
paz e acolhimento. Vejo eles ao fundo, e sinto seus braços me
circundando em um abraço de proteção com os dedos entrelaçados.
O palhaço então decide se aproximar mais, incomodado com a
presença do vultos, toda a grade quadriculada pulsa e vibra como peças
de lego fractais, e espelha o formato caótico do palhaço que exige
minha atenção.
Esse é um momento crucial da experiência, no qual a minha capacidade
de controle é testada. Essa é a hora em que sinto o cheiro da morte, e
meu corpo eleva a temperatura, criando um suor frio que desce a base
da nuca, e um gosto de adrenalina mais persistente do que o que
sentimos quando temos a iminência de um acidente.
Para mim esse é o momento da morte simulada do transe, onde posso
me desprender de meu corpo físico e projetar minha consciência para
onde conseguir imaginar.
Pouco se fala a respeito do que é realmente essa entidade elfo palhaço
trickster, este ser que guarda o portão de entrada para as dimensões
superiores, e este é o relato do que eu experienciei e o que ele significa
para mim.
Ele normalmente aparece com um ser totalmente caótico, carregado de
alguma problemática de minha mente, como se fosse a manifestação de
uma questão, e quando eu me deixo levar por ele, me pega pelo
pescoço e me arrasta pelas dimensões em uma carruagem flamejante
como a visão de Ezequiel, ou como se eu estivesse na ponta da
corrente do motoqueiro fantasma, que gargalhando, e me joga no centro
do problema que ele manifesta.
Então eu me encontro jogado na memória “ruim”, como se fosse um
cometa em forma de consciência, e me levanto da cratera e sou
obrigado a revisitar todo aquele enredo.
Essa é uma situação extenuante demais, e aprendi uma forma simples
de controle da influência do elfo.
Ao levantar e abaixar a cabeça, ainda de olhos fechados, comecei a
perceber que olhando para cima existe uma luz branca muito forte, que
imagino ser o chakra sahasrara da coroa, e olhando para baixo, vejo
tentáculos e vermes escuros, uma escuridão infinita. Com a cabeça
para a frente em posição ereta, eu vejo o horizonte da divisão entre o
que está acima e abaixo, algo como uma grande planície, onde
acontece a eterna batalha do bem contra o mal.
Eu percebo que quanto mais abaixo a cabeça, mais sou influenciado
pelo caos do elfo palhaço, e quando levanto a cabeça em direção à luz,
isso o irrita mais ainda. Foi assim que percebi que é possível “dar linha”
ao que acontece, levantando e abaixando a cabeça, mantendo a coluna
ereta ou curvada, e revirando os olhos para cima em busca da luz, ou
para baixo em direção às trevas.
Nesse momento tenho duas opções, ou me entregar ao túnel de
realidade do elfo, ou abrir os olhos e me maravilhar com a realidade
acrescida de todas as dimensões que a substância oferece durante
alguns minutos.