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EXPERIÊNCIA ESTÉTICA, FILOSOFIA E REEDUCAÇÃO DO OLHAR:

DIÁLOGOS A PARTIR DA TEORIA ESTÉTICA DE THEODOR W. ADORNO

Helga Caroline Peres


Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Educação – Universidade Federal de
São Carlos/UFSCar
Orientador: Professor Doutor Luiz Roberto Gomes
Eixo Temático: Estética e crítica da cultura

Pretende-se, neste trabalho, apresentar parte da discussão que integra a


pesquisa de doutorado intitulada “Se podes ver, repara: a (re)educação do olhar em
cena”, que tem por objetivo discutir os sentidos da experiência estética com o cinema
no âmbito das instituições escolares. Para tal, tomamos como aporte teórico central as
reflexões desenvolvidas por Theodor W. Adorno em sua Teoria Estética (1970).
Objetivamos, aqui, discutir as intersecções entre experiência estética e filosofia na obra
supracitada, vinculando-as à perspectiva da reeducação do olhar.
As obras de arte, na perspectiva de Adorno (1970), promovem um tipo de
experiência estética que se difere daquela imposta pela racionalidade instrumental; o
prazer e a alegria forjados pelos produtos da indústria cultural vendem imagens
estereotipadas, e estas limitam seus consumidores à mera vivência. A arte, por sua vez,
implica o conhecimento da realidade para transformá-la; tal como a filosofia, a arte
remete ao universal, aqui entendido como coletividade. Por isso a insistência de Adorno
em afirmar que “[...] a genuína experiência estética deve tornar-se filosofia, ou então,
não existe” (1970, p. 152).
Esta relação entre arte e filosofia é necessária visto que a condição enigmática
das obras de arte pede que a experiência do apreciador com aquilo que a obra quer
expressar tenha como norte a reflexão crítica – porém, um tipo de reflexão que não seja
postulada pela resolução dos enigmas; na perspectiva de Adorno (1970), conhecer a
obra de arte em sua totalidade exprime uma possibilidade inalcançável. Reside aí o
caráter enigmático insuperável da obra de arte (ADORNO, 1970, p. 169).
O enigma toma o apreciador de assalto, trazendo-lhe novas questões, que serão
elaboradas através do pensamento mediado (ADORNO, 1970, p. 188). A arte é um
abalo para quem a contempla, pois comunica sem comunicar e, nesse movimento,
provoca o contemplador com um prolongamento reflexivo, que marca seu caráter
processual. Não há um discurso final que consiga resolver o enigma por completo, uma
vez que não se deve resolvê-lo, mas sim decifrar sua estrutura; isto envolve uma
formação sensível e uma educação da capacidade crítico-reflexiva. Deste modo, “A
crítica não se acrescenta de fora à experiência estética, mas é-lhe imanente” (ADORNO,
1982, p. 382).
Com base na concepção de experiência estética postulada por Adorno (1970),
defendemos a hipótese de que, no âmbito da relação estabelecida entre os sujeitos e o
cinema, a experiência estética deve ser imbricada a um processo de reeducação do
olhar, para que, a partir dela, se torne possível compreender aquilo que é imputado pelo
aparato produtivo da indústria cultural, através da apreensão e compreensão de sua
estrutura alienada.

REFERÊNCIA
ADORNO, T.W. Teoria Estética (Trad. Artur Mourão). São Paulo: Martins Fontes,
1970.

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