Segundo Marx e Engels, a história de toda sociedade até nossos dias é a história da luta
de classes (Manifesto Comunista). Destacaram, assim, a importância da divisão em clas
ses nas diversas formas de organização social. Na verdade, a divisão da sociedade em c lasses nem sempre existiu. Em sociedades mais primitivas, a produtividade do tra balho era muito pequena e o trabalho realizado por uma pessoa bastava apenas par a viabilizar sua própria subsistência e reprodução (o que inclui a possibilidade de alim entar filhos por algum tempo). Todos os seres humanos eram obrigados a produzir, não havendo divisão de classes na sociedade. Quando, graças ao avanço das técnicas e das ferramentas de trabalho, a produtividade a umentou e o ser humano pôde produzir mais do que o necessário para sua subsistência e reprodução ou seja, quando o trabalho começou a gerar um produto excedente , parte da s ociedade passou a não ter mais de ganhar o pão com o suor do próprio rosto . Ou seja, tor nou-se possível a divisão das sociedades numa classe dominante, proprietária dos meios fundamentais de produção, desobrigada do trabalho para garantir sua subsistência, e n uma classe dominada e explorada que, além de viabilizar a sua própria subsistência, tr abalha também para a classe dominante e lhe entrega seu produto excedente.Em diver sos tipos de organização social essa divisão se dava de forma transparente. Assim, qua ndo a divisão fundamental da sociedade contrapunha senhores e escravos, era eviden te que os escravos trabalhavam (de graça) para os senhores. Do mesmo modo, na época feudal, os camponeses, servos, eram obrigados a trabalhar parte dos dias da sema na nas terras dos senhores feudais, sem qualquer pagamento. Na economia capitalista a divisão da sociedade em classes permanece, mas já não é tão tran sparente. Se analisarmos atentamente a situação perceberemos que a classe dominante não produz aquilo que consome vive, por exemplo, dos juros de aplicações financeiras, lucros gerados por empresas nas quais, muitas vezes, os acionistas proprietários não têm participação direta, sequer como administradores ou diretores, ou de aluguéis. Esta classe se mantém pela apropriação do excedente gerado por gente que trabalha e produz . Mas as formas precisas pela quais a transferência deste excedente se faz são compl exas, e nem sempre podem ser facilmente percebidas. No capitalismo, os trabalhadores assalariados são, fundamentalmente, os responsáveis pela produção. Recebem pagamento pelo seu trabalho: o salário. aparentemente realizam uma troca, visto que, ao contrário dos escravos ou dos servos, não trabalham de graça para seus patrões. Mas se isso fosse verdade, não haveria como explicar como vivem os que os que não produzem.Uma das contribuições fundamentais de Marx para compreender a economia capitalista foi justamente explicar a forma como isto acontece. Ele destacou que o salário não é pagamento pelo valor gerado pelo trabalho. É, isto sim, uma espécie de aluguel da capacidade de trabalho de um trabalhador ou de uma trabalha dora por um período de tempo (por exemplo, por um mês, se o salário é pago mensalmente). Ora, cabe ao capitalista que contrata os trabalhadores, ou a seus prepostos, gar antir que eles produzam um valor maior do que aquele recebido como salário. Isto não é muito difícil: os salários tendem a se fixar no nível em que são apenas aproxima amente suficientes para a subsistência e a reprodução da classe trabalhadora (incluind o sua qualificação); o desenvolvimento da tecnologia tornou possível que cada trabalha dor produza um valor bem maior do que este.Marx chamou de mais-valia a diferença e ntre o valor adicionado pelos trabalhadores (incorporado às mercadorias produzidas ) e o salário que recebem. A mais-valia definida desta maneira é em tudo semelhante ao trabalho gratuito que escravos ou servos entregavam a seus senhores. É uma form a disfarçada de transferência de um excedente para a classe dominante.A mais-valia é a base para os lucros, os juros das aplicações financeiras e para todas as formas de rendimentos vinculadas à propriedade. A apropriação da mais-valia é o fundamento da divi são das classes sociais no capitalismo.