Você está na página 1de 2

O Espetáculo do Consumo

Letícia Amanda da Trindade

Em 2010 uma senhora de João Pessoa chegou a falecer na calçada por


conta de uma multidão descontrolada, louca para consumir, louca para
aproveitar a liquidação de uma das afiliadas do Atacadão dos Eletros. Maria de
Lourdes Galdino Pereira, aposentada, morreu aos 62 anos após duas paradas
cardíacas no Hospital de Emergência e Trauma, onde foi internada já com
morte cerebral, devido às pancadas na cabeça. O que será que levou essas
pessoas a se comportarem tão descontroladamente, ao ponto de pisotear uma
idosa e não dar importância? Isso se chama Sociedade do Espetáculo.

Sociedade do espetáculo é um termo criado por Guy Debord na década


de 60 do século XX. Ele observou as sociedades capitalistas e identificou três
fases históricas: ser, ter e parecer, sendo a última delas consequência das
duas primeiras. No início, o valor comum da sociedade está no SER, sendo sua
importância definida pelo que se é, plebeu, rei ou rainha, etc. Posteriormente,
passa pela fase do TER, onde a importância do indivíduo depende do que ele
tem, propriedades, joias, capital, etc. Por último, o PARECER, onde não só ter
ou ser é importante, mas também o parecer ser ou ter.

Não podemos generalizar o termo SOCIEDADE DO ESPETÁCULO


como uma definição do capitalismo. O conceito é produto da análise de fatos
históricos e não busca determinar a realidade de todas as sociedades em
qualquer época. Guy notabiliza as duas facetas da sociedade do espetáculo
nas sociedades capitalistas desenvolvidas como difusa, que corresponde aos
países capitalistas desenvolvidos, e a forma concentrada corresponde aos
países socialistas (considerados por ele como países onde vigorava o
capitalismo burocrático). Não obstante, nas sociedades subdesenvolvidas, ele
compreende a constituição de uma terceira forma pela combinação das duas
anteriores, denominando-a de espetacular integrado.

Podemos traçar um paralelo do modelo misto proposto por Guy com a


sociedade brasileira atual no sentido de que cada vez mais tudo o que se
apresenta aos consumidores pode ser confirmado apenas pelas imagens ou
marketing. Esta hipótese é evidenciada quando observamos o caso da dona
Maria. As pessoas são bombardeadas pela publicidade que influenciam no
quanto elas precisam consumir para se sentir melhor. Alienadas por essa
necessidade do consumo desenfreado, não querem perder qualquer
oportunidade para comprar, e uma simples liquidação resulta no falecimento de
uma senhora.

Diante desta problemática, a ciência se apresenta - principalmente em


suas faculdades mais relacionadas às demandas humanas, como filosofia
-como questionadora de uma cultura, refém de uma desenfreada valorização
pelo capital, que perde a sua principal característica humana de prezar pela
vida e bem-estar de seus pares. O que se pretende alcançar com este texto, é
contribuir para o questionamento, crítica e não conformismo do indivíduo sobre
o espetáculo que lhe é apresentado. Ainda que analisar os elementos deste
espetáculo e suas consequências não tragam, de imediato, soluções às
problemáticas, prefere-se o juízo à conformidade, na esperança de que a
ciência sobre tais fatos traga reflexão à sociedade contemporânea.

Você também pode gostar