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COMPORTAMENTOS COLETIVOS E PRÁTICAS SOCIAIS NO ESPAÇO

PÚBLICO DO PORTAL DA AMAZÔNIA

Ágila Flaviana Alves Chaves,


Universidade Federal do Pará, agflaviana@gmail.com

RESUMO: Este artigo analisa o contexto atual das práticas sociais e usos do espaço
público na área do Portal da Amazônia. A pesquisa apoiou-se em levantamento
bibliográfico e pesquisa de campo por meio de entrevistas estruturadas aos visitantes e
moradores da área que embasaram este estudo. Buscou-se compreender a cidade como
espaço urbano em constante mudança, no qual a atuação de diferentes atores sociais
vem se destacando no processo de transformação e participação no uso dos espaços
públicos. Afirma-se que o Portal da Amazônia é um ponto de encontro de diferentes
grupos sociais que através de suas particularidades se (re)apropriam do espaço
conforme suas necessidades e anseios.
PALAVRAS-CHAVE: Portal da Amazônia; Espaço Público; Usos e contra-usos; Lazer.

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INTRODUÇÃO
O estudo tem como objetivo analisar as práticas sociais a partir de alguns dos
diversos atores que utilizam o espaço público da área do Portal da Amazônia localizado
na orla Sul do município de Belém, capital do Pará.
A Orla do Portal da Amazônia agrega em sua extensão um número diversificado
de espaços destinados às práticas corporais de lazer, como a caminhada, a corrida e a
patinação, além dos espaços específicos destinados a algumas práticas esportivas como
voleibol, futebol e skate. Também se encontram espaços de uso cultural com áreas para
montagem de palcos para shows e demais apresentações culturais sem esquecer-se de
áreas de comum convívio frequentada por grupos dos movimentos Hippies, Hare
Krishna, Emos e hardcore, assim como quiosques de gastronomia tanto típica quanto
tradicional no decorrer de sua extensão. Essa diversificação proporciona o encontro de
diferentes grupos de pessoas dentro de um mesmo local de convívio, o Portal da
Amazônia atualmente é o ponto de encontro de jovens, famílias, casais assim como
movimentos urbanos.

ISBN: 978-85-7143-152-2
...In: II CONGRESSO BRASILEIRO DE ESTUDOS DO LAZER, 2016, Belém. Anais... Belém: NAEA, ANPEL, 2016.
Para Harvey (2014), a cidade é o lugar onde as pessoas de todos os tipos e
classes se misturam, ainda que relutante e conflituosamente, para produzir uma vida em
comum, embora perpetuamente mutável e transitória.
Ao percorrer os espaços de comum convívio na orla: quadras, pistas, quiosques,
jardins, entre outros, percebe-se a existência de características particulares em cada
grupo que a frequenta, dentre elas destacam-se vestimentas, acessórios, linguagem e
postura. Características estas que expõem um jeito de pensar, agir e organizar-se, uma
demonstração de diversas culturas e formas de organização criando assim uma
identidade aos seus frequentadores além de um sentimento de pertença a estes. Observa-
se, também, que o local representa uma opção de atrativo de lazer para uma concepção
de refúgio e auxílio na busca por atingir interesses comuns.
Segundo Jacobs (2000), as cidades são locais fantasticamente dinâmicos, o que
se aplica inteiramente a suas zonas prósperas, que propiciam solo fértil para os planos
de milhares de pessoas. O segundo grupo notado além dos movimentos urbanos é o de
moradores do próprio bairro do Jurunas e arredores assim como trabalhadores liberais
que buscam renda em vendas autônomas pelas imediações do portal. Por fim, o último
grupo é o de turistas que visitam a cidade e encontram naquele perímetro da orla como 954

uma de suas opções de visitação.


A metodologia adotada consiste em levantamento de dados bibliográficos de
estudiosos do espaço público e urbano assim pesquisa de campo com uso de técnica de
entrevista estruturada. A análise dos dados foi comparativa entre o arcabouço teórico
utilizado na pesquisa e o discurso apresentado nas entrevistas. As entrevistas foram
direcionadas aos freqüentadores da Orla do Portal da Amazônia e ao seu entendimento
sobre o conceito de espaço público e quais as práticas sociais desenvolvimentos no
espaço do Portal da Amazônia.
É, portanto, função deste artigo trazer à tona aspectos que auxiliem no
reconhecimento da relação entre os visitantes com o espaço estudado, de modo que haja
um senso de pertencimento ao local além da percepção de que o movimento de cada
indivíduo molda o seu espaço de acordo com seus gostos, opiniões e status social.

O ESPAÇO PÚBLICO A PARTIR DOS SEUS USUÁRIOS

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...In: II CONGRESSO BRASILEIRO DE ESTUDOS DO LAZER, 2016, Belém. Anais... Belém: NAEA, ANPEL, 2016.
Percebe-se que a ocupação urbana de Belém ocorreu ao longo das margens do
rio Guamá e da baía do Guajará e desde o início é marcada pela existência de conflitos
entre seus habitantes. A expansão confirmou-se com o uso de áreas de elevação
consideradas a partir do Forte do Presépio hoje Forte do Castelo no bairro da Cidade
Velha. As áreas de Terra Firme foram ocupadas pela classe social mais abastada,
restando à classe mais pobre a ocupação das áreas alagadas na área central. Num
primeiro momento esses espaços não foram alvo de interesse nem do Estado nem dos
demais sujeitos sociais, no entanto esse quadro apresenta mudanças nas últimas
décadas, pois por interesses políticos e imobiliários uma nova infraestrutura vem sendo
implantada nas áreas centrais no qual a população de baixa renda vem sendo
encurralada para terrenos fora do centro da cidade.
Os lugares podem apresentar conjuntos de sentidos convergentes diversos,
através dos quais é possível ocorrer o entendimento cultural necessário para que sejam
estabelecidas uma ou mais identidades socioespaciais. Se híbrido, um lugar é sempre
um campo tenso de disputas e negociações. Se fragmentário, a afirmação da diferença
dispersa-se em distintas configurações espaciais. Em ambos os casos, a demarcação
espacial de um lugar implica zonas de fronteiras, escalas sobrepostas, áreas liminares, 955

interstícios. Além disso, há uma dificuldade prática em demarcar com precisão onde
começam e terminam os lugares, onde exatamente se fixam e onde se deslocam, onde
têm limites mais fechados e onde são mais permeáveis (LEITE, 2004).
Atualmente, a periferia instalada na orla da capital passou a ser o centro das
atenções, pois o surgimento de novas políticas urbanas para a cidade valorizam a
recuperação da orla fluvial de Belém com o objetivo de resgatar ares ribeirinhos à
cidade, tornando o espaço da orla de uso público, sendo este é o discurso das últimas
gestões municipais. Essa busca por suas origens ribeirinhas propõe a modernização da
cidade por meio de projetos de intervenção urbana. A cidade de Belém assim como
outras capitais com litoral ou banhadas por rios apresenta inchaço populacional em
áreas de várzea, terrenos baixos nos arredores de rios e igarapés, a capital do Pará
possui rico grupo hidrográfico contado com cerca de 14 bacias, dentre elas a do Una se
destaca por ser a maior, concentrando também o maior contingente populacional
dividido em 20 bairros e conjuntos habitacionais.

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Segundo Trindade Jr. (2004), os moradores das ocupações urbanas assistem
gradualmente a segregação dos seus assentamentos humanos, o empobrecimento de
suas relações de vizinhanças e a diminuição dos espaços públicos por meio da
banalização do consumo. [...] a cidade de Belém tem na sua faixa de orla fluvial um dos
espaços que melhor expressam a interação da cidade com os rios. A caracterização
dessa faixa é definida pelo processo histórico de formação da cidade, bem como pela
forma de apropriação do espaço pelos agentes produtores do urbano que aí se fazem
presentes (TRINDADE JR., 2004, p. 244).
A ausência de espaços de lazer, o inchaço urbano, a verticalização da cidade, a
política de desenvolvimento por meio do turismo, assim como a emergência de outros
setores da economia, fez com que os gestores públicos repensassem na condição do
espaço e da orla urbana da cidade. Desde sua criação o Portal da Amazônia chama a
atenção pelas contradições apresentadas desde a formatação do projeto até sua
implantação, pois não se preocupou em considerar as intervenções já existentes assim
como a opinião da população ali existente.
Carlos (2009) define que sociedade e espaço não podem ser vistos
desvinculadamente, pois a cada estágio do desenvolvimento da sociedade, 956

corresponderá um estágio de desenvolvimento da produção espacial. A tendência


normal de desvincular-se os dois pontos dessa relação dialética levará a uma
compreensão errônea do que seja o espaço geográfico. Então percebe-se que tais
intervenções urbanas mudaram a dinâmica dos moradores dos bairros da zona sul de
Belém, em alguns casos para a pior, pois a especulação imobiliária assim como a falta
de reuniões adequadas acabaram por expulsar estes habitantes para outros bairros mais
afastados do centro e da orla. Esse processo acaba por ferir princípios básicos do Plano
Diretor e do Estatuto da Cidade que estabelece que as ações devam ser conduzidas pela
Prefeitura Municipal em conjunto com representantes da sociedade em um processo
democrático e participativo.
O calçadão do Portal é composto por bancos para os visitantes relaxarem e
contemplarem a paisagem voltada para o rio, são quatro quiosques com vendas de
comidas típicas e bebidas, quatro quadras poliesportivas, uma academia ao ar livre e
uma ciclovia, por este novo espaço também são vistos grupos de trabalhadores
informais desenvolvendo atividades de comercio sem estabelecer ponto fixo, atuam na

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venda de brinquedos, lanches, cd’s e dvd’s piratas, circulando livremente pelas calçadas
e vias. Sem muitas opções, sejam atrativos gastronômicos ou artesanais, a falta de
fiscalização permanente permite a livre circulação de vários trabalhadores ilegais que
atuam na área principalmente aos fins de semana.
Durante o percurso não é encontrado formação de guarda-corpo, estacionamento
insuficiente causando engarrafamento principalmente aos fins de semana, momento em
que foi realizada esta pesquisa. A falta de banheiros públicos, pouca arborização, coleta
de lixo insuficiente, falta de um processo transparente na concessão dos quiosques, além
de falta de áreas cobertas o que se tratando de Belém, cidade cujo clima quente-úmido
equatorial remete a constantes períodos de chuva, também o policiamento insuficiente
nos horários de grande movimentação e até mesmo inexistente nos momentos de menor
fluxo de visitantes, durante o dia principalmente comprovam a perda de critérios do
projeto desde sua criação até inauguração.
Questionados sobre o conceito de espaço público e as motivações que os
levaram a ir até o Portal da Amazônia assim como as práticas sociais desenvolvidas
informaram que a o local ainda não trouxe todos os benefícios prometidos no início de
sua implantação, que 957

(...) Sou moradora de Belém e sempre venho aqui com a minha família, mas toda
vez acontece alguma coisa. Na primeira vez tivemos que voltar correndo pra dentro
do carro porque tinha um grupinho de garotos que com certeza moram aqui de
perto estavam fazendo arrastão no calçadão perto da primeira quadra. Da segunda
vez a chuva não deixou a gente nem terminar de lanchar porque quando começou a
cair não tinha muita opção de lugar pra gente esperar ela passar, falta lugar coberto
e árvore também, durante o dia é impossível vir aqui, pois não tem árvores e o
calor é insuportável. Hoje só vim mesmo porque estou com a minha cunhada de
Altamira em casa e decidi levar ela pra conhecer um pouco da cidade, senão nem
teria vindo. Mas assim considero espaço público as praças, os parquinhos, os
locais bonitos e agradáveis pra gente levar nossos filhos, o Portal da Amazônia eu
considero um espaço público também só que ainda precisa ser muito trabalhado
pela prefeitura porque não ficou cem por cento não. [Cristina Lameira].

Um medo generalizado, ainda que matizado também ele (de acordo com a
classe, a cor da pele, a faixa etária, o sexo e o local de residência), toma conta de
corações e mentes, (re)condicionando hábitos de deslocamento e lazer, influenciado
formas de moradia e habitat e modelando alguns discursos padrão sobre a violência
urbana( SOUZA, 2008).
O problema da insegurança nas ruas e na porta de casa é tão sério em cidades
que empreenderam iniciativas de revitalização conscientes como naquelas que ficaram
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para trás. E também não resolve nada atribuir a grupos minoritários, aos pobres e
marginalizados a responsabilidade pelos perigos urbanos. Há variações enormes no
nível de civilidade e de segurança entre tais grupos e entre as zonas urbanas onde eles
vivem. (JACOBS, 2000). Desde sua inauguração buscam-se alternativas que visem à
manutenção e equilíbrio das atividades existentes no Portal, de modo que o público
frequentador consiga estabelecer convívio harmônico com a população remanescente do
local buscando assim a sustentabilidade do Portal da Amazônia. No entanto, percebe-se
que a falta de acompanhamento e manutenção constante por parte da gestão municipal,
principalmente em dias de pouca movimentação na orla do portal fazem com que a ação
de grupos marginalizados promovam assaltos ao local afastando assim antigos e futuros
freqüentadores.

AS PRÁTICAS SOCIAIS NO PORTAL DA AMAZÔNIA: USOS E CONTRA-


USOS DO ESPAÇO
A Orla do Portal da Amazônia é frequentada por famílias moradoras de diversos
bairros da cidade de Belém, trabalhadores da área e turistas. O complexo desde sua
inauguração em meados de 2012 caracteriza-se como um ponto de encontro e de 958

diversidade social. Esses grupos são reconhecidos por usos e costumes próprios,
destacando-se o jeito de se vestir, status social e interesses em comum.
Os espaços de lazer e convívio construídos na Orla do Portal da Amazônia
preenchem os interesses que movem grupos sociais diversos para realizarem suas
atividades em grupo. As pessoas buscam preencher seus horários de ócio com objetivo
de distração ou diversão, estes momentos denominamos também de lazer. Os
freqüentadores do Portal da Amazônia usam seu tempo livre para jogos de recreação,
atividades físicas, de relaxamento e passeios, considera-se neste estudo o lazer ao qual
se destinam esses espaços que representam os interesses que movem os grupos e
indivíduos a frequentarem estes locais.
A capacidade de um parque de bairro de estimular uma ligação apaixonada ou,
ao contrário, a apatia parece ter pouca ou nenhuma relação com a renda ou a ocupação
da população do bairro (JACOBS, 2000). Percebe-se que a maioria dos freqüentadores é
da capital paraense e demais municípios da região metropolitana de Belém. No entanto,
observa-se a presença constante de turistas, principalmente brasileiros, já outros grupos

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com características e interesses parecidos são encontradas em espaços específicos ao
decorrer do complexo, como nas pistas de ciclismo e patinação, nas quadras
poliesportivas e nas áreas de menor movimentação da Orla, levando em consideração os
cerca de dois quilômetros de extensão.
No aspecto social, muitos são os questionamentos, pois apesar de proporcionar a
aproximação de grupos com interesses comuns no espaço, o preenchimento do tempo é
aplicado de maneira diferenciada dentre tantos frequentadores para os mais diversos
fins, seja para a prática do lazer ou a esportiva, assim como da contemplação dos
recursos naturais. Nota-se que a maioria do público ainda busca o espaço para fins de
relaxamento e contemplação, portanto em sua maioria são constituídos por casais e
famílias com crianças, seguidos dos grupos de bem estar (caminhada e corrida), futebol
amador, skate e patinação respectivamente.
(...) O Portal é um espaço público sim, qualquer um pode vir aqui, o acesso é fácil e
fica na parte do centro da cidade o que facilita muito pra gente que mora por aqui.
Todo dia faço minhas caminhadas por aqui ou no início da manhã ou final da tarde.
Quando termina ainda aproveito pra tomar minha água de coco que é sagrada,
porque não tem coisa melhor que fazer exercício e depois relaxar olhando o por do
sol. Onde você vai encontrar essas duas coisas juntas aqui em Belém? [Jamily Silva
Souza]. 959

De acordo com Bahia (2012) apesar das pessoas encontrarem formas diversas de
experimentar o lazer, não necessariamente dependendo de um espaço específico como
suporte, com a urbanização das cidades, o espaço público e os equipamentos públicos
de lazer precisam existir e precisam ser potencializados, pois a realidade contemporânea
vem demonstrando um estrangulamento de áreas livres e o desaparecimento dos
mesmos.
Um grupo de destaque é o de caminhantes e corredores que realizam suas
práticas principalmente em busca de saúde, com um grande número de mulheres, no
entanto devido a pressa ou perceptibilidade fora o grupo menos disponível a nos
conceder entrevistas. Por fim, o grupo de trabalhadores informais, sempre em destaque
por sua forma dinâmica de se comportar perante os outros grupos, alguns se
aproximaram buscando mais informações sobre o tipo de pesquisa que estava sendo
realizada, o que chamou a atenção e após breve discurso percebe-se que em sua maioria
são compostos por moradores ou ex moradores dos bairros atingidos pelas obras do
PROMABEN, entre eles Cremação, Condor e Jurunas, pessoas que se viram obrigadas a
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se adaptar as mudanças que esta intervenção causou em suas vidas buscando assim
novas alternativas de sustento dentro do próprio espaço alterado.
O tempo livre é o fator de incentivo para o uso frequente da orla, apesar desse
aspecto unanime entre os entrevistados muitos são os questionamentos e reclamações
quanto a falta de ações que não permitem o melhor aproveitamento dos horários e
espaços do Portal da Amazônia:
Observou-se a evidente ausência de uma política pública pós-inauguração do
Portal da Amazônia, os entrevistados apontaram a falta de segurança como o maior
empecilho para aumento da frequência em visitas ao Portal, afirmam que o policiamento
só é reforçado em dias de programação cultural ou eventos desportivos, em dias normais
o policiamento se limita a um Box que não fica disponível as vinte e quatro horas do
dia. Os horários de maior incidência de assaltos são o de almoço entre meio dia e quinze
horas e após as vinte e duas horas, os trabalhadores da área afirmam que esse fator é o
de maior afastamento de turistas da área.
Constata-se também outros apelos como pedidos de maior iluminação pública,
mais opções gastronômicas, um guarda-corpo ou alambrado que separe a calçada da
baía visando assim proteger principalmente crianças, um salva-vidas do corpo de 960

bombeiros para possíveis casos de afogamento, além de mais atividades culturais que
não se limitem a datas comemorativas ao decorrer do ano.
Para freqüentar esses espaços, as pessoas terão necessariamente que vivenciar de
algum modo a presença de diferentes grupos, ainda que essa interação pública – muitas
vezes implicando uma reelaboração das interações com moradores locais e com a
própria população de rua – seja contrastiva, porque é mediada substantivamente pelas
tensões e disputas advindas das diferentes e desiguais relações sociais e suas
assimétricas modalidades de interação, que formam e dão sentido público a esses
espaços (LEITE, 2004).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A construção social dos lugares incide sobre a formação de um espaço público
na proporção em que necessitam legitimar – e ter reconhecidas publicamente – suas
próprias concepções de mundo, em uma configuração socioespacial que possibilite
externar reivindicações de validade (LEITE, 2004). A orla do Portal da Amazônia

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compõe o cenário onde atuam inúmeros grupos sociais em busca de momentos de lazer,
de diversão, de entretenimento, com gostos e estilos ora diferentes, ora comuns, seja
qual for destas opções, a finalidade do treino ou da diversão movem todos os
frequentadores em direção à este espaço de convívio e lazer.
Paralelo a estas discussões percebe-se que os espaços da Orla do Portal da
Amazônia estão sendo ocupados por grupos que tem uma relação de amor, satisfação ou
paixão, e neste ponto todos os atores desta pesquisa concordam. Unidos por uma relação
de proximidade e identidade entre estes e os seus equipamentos, mesmo quando
integram mundos tão distantes, separados por questões sociais e econômicas entre as
classes, assim como também transfere esperança para os moradores remanescentes que
resgatam novamente no rio e principalmente nos serviços turísticos a chance de
dignidade na sua comunidade de origem.
Leite (2004) afirma que não são os ares de uma cidade enobrecida que libertam,
mas as formas cotidianas de apropriação política dos lugares, que publicizam e
politizam as diferenças, atribuindo sentidos e qualificando os espaços da cidade como
espaços públicos. A orla emerge como o principal objeto espacial no qual se reúnem as
práticas sociais responsáveis pelo contato com o rio, dinâmica esta adquirida nas 961

relações cotidianas que o (re)inventam diariamente.

REFERÊNCIAS
ARRUDA, E. S. Porto de Belém do Pará: origens, concessão e contemporaneidade.
Dissertação Mestrado em Planejamento Urbano e Regional - Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.
BAHIA, M. C. O Lazer e as relações socioambientais em Belém – Pará. 2012. 300f.
Tese (Doutorado em Desenvolvimento Sustentável do Trópico úmido) – Núcleo de
Altos Estudos Amazônicos, Universidade Federal do Pará, Belém, 2012. P. 124-163.
CARLOS, Ana Fani A. A cidade. 8. Ed. São Paulo: Contexto, 2009. p. 11-34.
HARVEY, D. A criação dos bens comuns urbanos. In: Cidades rebeldes: do direito
à cidade à revolução urbana. São Paulo: Martins Fontes, 2014. P. 134-189.
JACOBS, J. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2000. P.01-
121.

ISBN: 978-85-7143-152-2
...In: II CONGRESSO BRASILEIRO DE ESTUDOS DO LAZER, 2016, Belém. Anais... Belém: NAEA, ANPEL, 2016.
LEITE, R. P. Política dos usos: a construção dos lugares no espaço público.
In:______. Contra-usos da cidade: lugares e espaço público na experiência urbana
contemporânea. Campinas. Editora da Unicamp, 2004. P. 284-319.
PLANO DIRETOR DO MUNICIPIO DE BELEM: LEI Nº 8.655, DE 30 DE JULHO
DE 2008.
PORTAL DA AMAZÔNIA. Nova Orla de Belém. Waterfront (vídeo 2,39”). Prefeitura
Municipal de Belém, s/d.
PREFEITURA MUNICIPAL DE BELEM. Portal da Amazônia muda a cara de Belém.
Disponível em www.belem.pa.br, acesso em 12-12-2015.
SOUZA , M. L. Cidades fragmentadas, medo generalizado: das “áreas de risco”
`”ubiqüidade do risco” In: ______. Fobópole: o medo generalizado e a
militarização da questão urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008. P 51-91.
TRINDADE JR. Saint Clair C. da; SILVA, Marcos A. Pimentel Orgs.) Belém: a cidade
e o rio na Amazônia. Belém: EDUFPA, 2005.

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