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Prelúdio – Canto I: colocação do tema

O primeiro canto, antes das seis partes do poema, serve de prelúdio. Ele
coloca o material da narrativa: as aventuras de Ulisses (Odisseu) durante seu
retorno da Guerra de Troia.
“Musa, reconta-me os feitos do herói astucioso que muito
peregrinou, dês que esfez as muralhas sagradas de Troia (…)“
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Perceba que esse é mais o contexto do poema, do que seu tema. O tema, como
ocorre em todo romance, é interior. Passa-se na intimidade do herói. De fato,
como anota Susan Wise Bauer em seu clássico “A Mente Bem Educada”,
traduzido para o português pela Editora É Realizações sob o título “Como
Educar sua mente”, a principal característica do romance é o “vislumbre da
vida interior de uma personalidade individual” (p. 74 da edição em
português).
Nessa linha, o tema da Odisseia é, na verdade, o desejo do protagonista de retornar
à casa e sua atuação obstinada para tanto. Suas aventuras compõem o quadro
narrativo em que essa ação interior se desenvolve.
O relato inicia com uma reunião dos deuses do Olimpo, em que Atena
relata a Zeus que Odisseu, apesar de piedoso para com as deidades, já
tendo ofertado abundantes oferendas aos olímpicos, ainda não conseguiu
retornar à casa e ao convívio da família, o que muito sofrimento lhe traz.

A narrativa, como dito acima, inicia quando Odisseu está na Ilha Ogígia,
refém da deusa Calipso, que lhe quer ter por esposo, sob promessa de
fazer-lhe divino, à custa de esquecer-se da casa e da família. Atena relata a
Zeus como Odisseu não pretende desposar a deusa, mas sim voltar à casa.

Zeus afirma que a demora do retorno de Odisseu se deve à ira de Posido


(Poseidon em algumas traduções), em virtude de Odisseu ter privado da
vista o ciclope Polifemo, filho do deus das águas. Contudo, resolve que
tendo todos os demais deuses concordado em conceder o retorno a
Odisseu, não é possível a Posido isoladamente privá-lo de seu desejo.
Assim, autoriza os demais a diligenciarem o retorno do herói.

Atenas, então, informa que o deus Hermes será enviado à Ilha de Ogígia
para alertar Calipso que deverá libertar Odisseu. Enquanto isso, Atenas
descerá para informar Telêmeco de que o pai vive e retornará, e que
Telêmeco deve se dirigir a Esparta e Pilo, para falar com Nestor e Menelau
(heróis na Guerra de Troia e personagens importantes da Ilíada), a fim de
ter notícias do pai.
Atena assim procede. Ao se dirigir à morada de Telêmaco, em Ítaca,
encontra sua casa lotada de pretendentes da mãe. Com efeito, após o fim
da Guerra de Troia, não tendo Ulisses retornado, Penélope, sua esposa,
passa a receber pretendentes. Como ela guarda esperança do retorno de
Odisseu, não aceita casar-se. Porém, como o filho ainda é menor, também
não recusa os pretendentes, a fim de não deixar a casa permanentemente
sem um homem adulto. Assim, enquanto ela não se resolve, esses ficam
nas propriedades dela, vivendo às suas custas e dilapidando os bens que
seriam herdados por Telêmaco.

Atena orienta o jovem a dar um ultimado nos pretendentes e depois a


preparar-se para a viagem, a fim de ter notícias do pai.
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Primeira parte: Telemaquia – Canto II a IV


Como dito rapidamente, a Telemaquia segue um estilo comum que consiste
em, após o esgotamento das aventuras de um herói, explorar as de seus
descendentes (como no desenho animado Dragon Ball) ou ascendentes (tal
qual na saga Star Wars). A Telemaquia, por isso, apesar de colocada no início
do poema, provavelmente, foi a última parte a ser elaborada. Ela conta as
aventuras de Telêmaco, filho de Odisseu, ao partir em busca de notícias do
pai.
Canto II – Telêmaco fala aos pretendentes e parte em viagem
Telêmaco convoca a assembleia dos itacenses e dá um ultimato aos
pretendentes, de que parem de usufruir de seus bens, ou serão objeto de
sua vingança. Solicita, ainda, um navio para viajar a Esparta e Pilo para ter
notícias do pai. Os pretendentes se recusam a deixar sua casa e a fornecer-
lhe o navio. Telêmaco, então, recebendo uma pequena nau de Noémone,
um morador da ilha e seu aliado, e provisões de sua ama Euricleia, parte
escondido para aqueles lugares.

Canto III – Ida de Telêmaco a Pilo, a ilha do herói Nestor


Telêmaco vai até Pilo, acompanhado de Atena, onde encontra Nestor, o qual
descreve alguns fatos ocorridos em Troia e que, após a vitória, não quiseram os
deuses conceder rápido retorno aos gregos, em virtude das más ações cometidas
durante a investida.
Ele diz que houve discussão entre os gregos, os quais se dividiram em dois
grupos. O de Nestor partiu logo, enquanto o de Odisseu permaneceu com
Agamémnone (líder dos gregos na Guerra de Troia). Nestor conta ainda
como ocorreu o trágico destino de Agamémnone, o qual traído por sua
mulher (Clitemnestra) com Egisto, foi assassinado por este último. Morte
mais tarde vingada por seu filho, Orestes.

Após ouvir esses relatos, Telêmaco, orientado por Nestor, dirige-se a cavalo
junto com Pisístrato (filho de Nestor) à Lacônia, a fim de encontrar
Menelau.
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Canto IV – Telêmaco vai à Lacônia falar com o herói Menelau


Telêmaco chega à Lacônia com Pisístrato, sendo recebido por Menelau, o qual
apresenta relatos de episódios da Guerra de Troia, envolvendo Odisseu. Fala do
Cavalo de Troia, episódio que não aparece na Ilíada. É a primeira vez que a lenda
do Cavalo de Troia aparece nos textos homéricos.
Helena intervém e conta que Odisseu chegou a adentrar o muros de Troia
fantasiado de mendigo e conversou com ela, quando esta já estava
arrependida de ter abandonado a Grécia e Menelau para juntar-se com o
herdeiro troiano Páris. Por isso, conta ela que ajudou Odisseu, fato que
segundo a lenda foi inclusive relevante para que Helena fosse novamente
aceita por Menelau.

Menelau conta como, durante sua passagem no Egito, Proteu, filho do deus Posido,
informou-lhe que Odisseu estava vivo, sendo mantido refém da deusa Calipso em
uma ilha.
Enquanto isso, os pretendentes, em Ítaca, organizam uma conspiração
contra Telêmaco. O fato da partida do jovem e do plano dos pretendentes
chegam aos ouvidos de Penélope, que se desespera. Após momentos de
tormento e angústia, Penélope cai em pesado sono. Atena, em sonho
inspira confiança em Penélope, a qual acorda renovada.

Os pretendentes se dirigem a uma pequena ilha no caminho pelo qual Telêmaco


teria de passar para voltar a Ítaca e ali armam emboscada contra ele.
Nesse ar de suspense, encerra-se a primeira parte do poema, a Telemaquia.

Segunda parte – Odisseu parte da Ilha de


Calipso (Ilha Ogígia) e chega à terra dos
Feácios (chefiados por Alcínoo)
Odisseu e Nausícaa – Pieter Lastman – 1619
Canto V – Partida de Odisseu da Ilha de Calipso para a terra dos Feácios
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Zeus convoca uma segunda assembleia das deidades. Atena reclama que Odisseu
ainda não foi libertado e que os pretendentes de sua esposa tramam contra o
Telêmaco. Zeus afirma que ela já tem autorização para ajudar Odisseu e
Telêmaco. Zeus, finalmente, envia Hermes para que determine a Calipso que
liberte Odisseu. Hermes transmite a mensagem para Calipso, contando-lhe que
os gregos não puderam retornar após a vitória em Troia por terem
desagradado Atena, que enviou fortes ondas contra os navios. Calipso
descreve como acolheu Odisseu quando ele chegou a sua ilha como único
sobrevivente de um naufrágio, abraçado na quilha da nau.
Calipso se dirige a Odisseu, o qual se encontrava chorando na praia de saudades
da casa e da família. Informa que o libertará, embora o advirta de que se
soubesse dos trabalhos que ainda deveria passar antes de tomar posse de
sua casa, optaria por ficar com ela, desposá-la e deixar que ela o tornasse
divino. Mas, visto que Odisseu escolhe partir, orienta-o a construir uma
jangada e avisa que lhe fornecerá mantimentos para a viagem.
Odisseu procede conforme orientação da deusa. Parte e navega por 17 dias,
quando vislumbra o monte de pedras da ilha dos Feácios. Posido vê que os
deuses o libertaram de Calipso e que está prestes a chegar à Feácia. Para
causar-lhe maiores males, torna o mar revolto. Odisseu ao verificar a
mudança do tempo fica tomado de temor. Após algum tempo em que
guiava a jangada, lutando contra a forte tempestade, ele se desfaz das
roupas que o submergiam e larga a jangada estraçalhada pelas ondas,
buscando nadar até a terra Feácia. Odisseu, abraçado em uma tábua da nau
destruída, fica mais dois dias vagando em meio às ondas, até que alcança a ilha dos
Feácios, totalmente combalido. Faz uma cama com folhas e mergulha em sono
profundo.
Canto VI – Odisseu é encontrado por Nausícaa, a filha do chefe da Ilha
Nausícaa, filha de Alcínoo (chefe da ilha e do povo feácio), inspirada por
Atena em sonho, vai com outras servas até onde Odisseu estava dormindo.
Encontra-o, fornece-lhe alimentos e roupas, e o acompanha até o centro da
cidade, próximo de onde ficava a casa de seu pai.

Canto VII – Odisseu chega à casa de Alcínoo.


Atena aparece a Odisseu e o guia do centro da cidade até a casa do pai de
Nausícaa. Chegando lá, Odisseu se lança aos pés da esposa de Alcínoo,
Arete, implorando que lhe conceda um barco e o leve de volta à casa.
Alcínoo ouve e concorda com a súplica, acolhendo Odisseu e fornecendo-
lhe estadia. Arete reconhece as roupas que Odisseu usava (fornecidas por
Nausícaa) e lhe pergunta de onde vem e quem lhe deu aquelas
vestimentas. Odisseu conta o que lhe ocorreu desde a ilha de Calipso até a
ajuda que recebeu de Nausícaa.
Canto VIII – A assembleia dos nobre Feácios com Odisseu
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Reúne-se uma assembleia de nobres feácios na casa de Alcínoo, para


recepção do estrangeiro. Alcínoo informa sobre a chegada de Odisseu e de
sua necessidade de abrigo e de um navio que o leve até sua casa,
concitando todos a ajudá-lo, ao que é unanimemente apoiado. Um navio é
preparado para partida de Odisseu, sendo sua despedida precedida de
uma festa. Eles jantam, cantam e praticam competições esportivas. Um
músico inicia uma canção sobre o Cavalo de Troia, a pedido de Odisseu, que revela
parcialmente o que ocorreu, sem revelar que era um dos personagens principais da
aludida Guerra de Troia:
“Ora começa de novo, e o cavalo de pau nos invoca,

que por Epeio foi feito com a ajuda de Palas Atena,

esse, que o divo Odisseu com astúcia pôs dentro de Troia,

cheio de heróis destemidos, que os muros sagrados saquearam.”

Ao ouvir a música, Odisseu derrama-se em lágrimas e é questionado sobre sua


origem.

Terceira parte – O relato de Odisseu


sobre suas aventuras antes de chegar
na Ilha de Calipso: o relato vai da Ilha
dos Ciclopes até os Bois de Hélio, na
Trinácria. Essa é a parte que contém os
principais mitos conhecidos das
aventuras de Ulisses.
Ulisses e as Sereias – John William Waterhouse – 1891
Canto IX – Os Cíconos, os Lotófagos e o Ciclope
Odisseu se identifica como o herói das guerras de Troia. Conta como após
sair da cidade amuralhada, uma ventania lançou a embarcação à terra
habitada por Cíconos (ou Ciconianos).
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Como já mencionado, o poema atribui as dificuldades no retorno ao desejo


dos deuses. Afirma Odisseu: “Dir-te-ei do regresso que fiz, trabalhoso, dado por
Zeus, quando a costa de Troia deixei, de retorno“.
No Canto III, Nestor já havia apontado que “após a vitória, não quiseram os
deuses conceder rápido retorno aos gregos, em virtude das más ações cometidas
durante a investida. Houve discussão entre os gregos, os quais se dividiram em dois
grupos. O de Nestor partiu logo, enquanto o de Odisseu permaneceu com
Agamémnone.”
O poema põe os seguintes versos na boca de Nestor:

“quando a excelsa cidade de Príamo, enfim, destruímos,


às naus subimos velozes; um deus dispersou os Aquivos.
Zeus planejou no mais íntimo triste regresso aos Acaios,
visto nem todos se terem mostrado sensatos e justos,
pela cizânia terrível que a filha do pai poderoso,
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a de olhos glaucos, Atena, lançou entre fortes Atridas.


Estes resolvem reunir a assembleia-geral dos Acaios,
inoportunos e contra os costumes, depois do Sol posto.”
Afirma, então, que houve uma contenda. Agamémnone teria pedido que
ficassem, ofertando hecatombes a Atenas, a fim de aplacá-la. Porém, diz
Nestor: “Tolo! De fato, ignorava que lhe era impossível dobrá-la, pois não se muda
assim, prestes, a mente dos deuses eternos.” O grupo de Nestor parte, enquanto
o de Agamémnone com Odisseu permanece e encontra dificuldades na
volta.
Na terra dos Cíconos, o grupo de Odisseu saqueou e pilhou a cidade,
repartindo o tesouro acumulado. Porém, o grupo contrariou o conselho do
herói que pretendia partir imediatamente após saquear a cidade. Optaram
por permanecer, fartando-se com a comida e bebida roubada. Os Cíconos,
então, chamaram grupos de regiões vizinhas para auxiliá-los e iniciaram
novo combate, matando seis gregos de cada nave. Os demais conseguiram
fugir.

Partiram, assim, e após saírem da terra dos Cíconos, novamente, os deuses


impedem o retorno tranquilo: “Sobre os navios lançou o poderoso, que as
nuvens reúne, Zeus, tempestade violenta, fazendo que as nuvens cobrissem a terra
e o mar juntamente.”
Enfrentaram outra violenta tempestade que levou Odisseu e seus
companheiros à terra dos Lotófagos, ou seja, homens que se alimentavam
de flores de Lótus. Depois de os membros das embarcações se
alimentarem, enviam três homens para conhecer os habitantes daquela
terra. Os Lotófagos “não empreenderam fazer nenhum dano aos nossos homens,
mas logo fizeram que loto comessem“. “O efeito causado pela ingestão dessa
planta era esquecer inteiramente a própria terra de origem, além do desejo
de permanecer naquele país. Ulisses precisou utilizar muita força para
arrastar seus homens dali, e foi mesmo obrigado a amarrá-los aos assentos
nos navios” (p. 357, “O Livro da Mitologia”, de Thomas Bulfinch), dando
ordem aos demais para darem partida nos barcos.
Saíram, então, e chegaram “ao país dos soberbos Ciclopes“. O grupo, àquela
altura, era composto de 12 navios. Avistaram a gruta do Ciclope gigante,
chamado Polifemo – filho de Posido – e, então, em 12 companheiros mais
Odisseu foram até lá. Ingressaram na gruta e se alimentaram com a comida
que encontraram, e tomaram o vinho que levaram consigo.
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O Ciclope retornou e fez entrar seu rebanho de ovelhas na caverna. Fechou


a entrada com uma pedra de tamanho descomunal, impossível de ser
removida mesmo por um grupo numeroso de homens fortes. Ele só então
viu os estrangeiros, momento em que Odisseu lhe solicitou ajuda e
hospedagem em nome dos deuses. O Ciclope respondeu que não atendia
ao nome dos deuses. Tomou dois dos companheiros e os arremessou no
chão, tirando-lhes a vida, fazendo refeição com seus corpos.

Odisseu teve ocasião de matá-lo, mas não o fez, pois percebeu que
morreriam ali, visto que não conseguiriam remover a pedra da porta. No
dia seguinte, o Ciclope assassina mais dois dos companheiros para o
almoço e sai com o rebanho de ovelhas.

Odisseu toma um tronco que estava dentro da gruta e faz uma enorme
estaca. Quando o Ciclope retorna à noite com o rebanho, Odisseu oferece-
lhe vinho. O Ciclope aceita a bebida e se embriaga. Ele pergunta o nome de
Odisseu e esse diz que se chama “Ninguém”.
O Ciclope cai em sono profundo e, então, Odisseu toma a estaca gigante,
coloca-a no fogo e com mais quatro companheiros enterra-a no olho do
gigante, cegando-o.

Polifemo solta enormes gritos, chamando os demais ciclopes. Quando eles


perguntam o que ocorreu, ele diz que “‘Ninguém’ me feriu e quer me matar“.
Eles então vão embora, achando que Polifemo se lesionou sozinho.
Odisseu e seus companheiros se prendem na barriga das ovelhas. Quando
amanhece, o Ciclope remove a pedra da entrada e deixa-as sair, carregando
os intrusos.

Eles fogem para o barco, carregando consigo alguns animais do rebanho.


Quando já estão a alguma distância, Odisseu grita ao Ciclope:

“Ouve, Ciclope! Se um dia, qualquer dos mortais inquirir-te


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sobre a razão vergonhosa de estares com o olho vazado,


dize ter sido o potente Odisseu, eversor de cidades,
que de Laertes é filho e que em Ítaca tem a morada“.
Odisseu ainda provoca Posido, pai de Polifemo, ao afirmar que “não pode
curar-te Posido, que a terra sacode“, menosprezando o poder do deus dos
mares.
O Ciclope, então, ora a Posido pedindo que Odisseu demore para retornar
à casa, perca os amigos e encontre infortúnios em sua pátria.

“Ouve-me, ó deus de cabelos escuros, que a terra sacode,


se sou teu filho, em verdade, e te orgulhas de pai me ter sido,
dá que não possa voltar Odisseu, eversor de cidades,
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que de Laertes é filho e que em Ítaca tem a morada.


Mas, se é do Fado que deva rever os amigos, e à casa
bem-construída voltar, assim como ao torrão de nascença,
que, miserável, o faça e mui tarde, perdidos os sócios,
em um navio estrangeiro, e aflições vá encontrar no palácio“.
Polifemo foi imediatamente atendido por Posido. Essa maldição de Poseidon
explica os demais trabalhos sofridos pelo herói, como ficou demonstrado no
Canto I, quando Zeus declara ao tratar das causas dos sofrimentos de
Odisseu: “de ter-lhe ódio não cessa Posido, que a terra sacode, pelo motivo de
haver o Ciclope privado da vista, sim, Polifemo, a um deus semelhante, de força
enormíssima, entre os Ciclopes, gerado que foi pela ninfa Toosa (…). Por essa
causa Posido, que a terra violento sacode, quer, não matá-lo, mas tê-lo constante
alongado da pátria“.
Feito o rogo a Posido, Polifemo lança uma enorme pedra contra o barco,
fazendo-o ancorar na praia onde haviam chegado na ilha e estavam os
demais companheiros. Ali fazem refeição e partem.

Canto X – Ilha de Éolo, monarca com domínio sobre os ventos; a tribo dos
Lestrigões e a ilha de Circe.
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O grupo chega e desembarca na ilha Eólia, onde chefiava Éolo, regente dos
ventos por concessão dos deuses. Ele e seus doze filhos dão hospedagem a
Odisseu e ouvem sua história. Compadecidos, decidem ajudá-los no
retorno à casa. Éolo prende todos os ventos contrários num odre e libera
apenas Zéfiro, para que sopre nas velas da nau guiando-os à casa.

Após nove dias de viagem e quando já podiam enxergar a terra nativa ao


longe, Odisseu dormiu. Seus companheiros, tomados de inveja, e curiosos
para saber se no odre havia ouro e prata recebidos por Odisseu como
presente de Éolo, abrem a tampa, liberando os ventos contrários.
Com isso, retornam arrastados à ilha Eólia. Odisseu explica o ocorrido. Éolo
vê nisso um sinal de que Odisseu é odiado pelos deuses, o que deveria
revelar uma intensa maldade pessoal e o expulsa.

O grupo, então, parte a remo, chegando à Lestrigônia, terra dos lestrigões,


seres gigantes. Odisseu atracou seu barco na parte externa de uma baía,
enquanto os demais adentraram e atracaram num porto que ali se
encontrava. Desembarcaram e Odisseu enviou três companheiros para ter
notícias de quem habitava no local. Ao chegarem ao centro da cidade,
encontraram a filha do monarca, Antífates, a qual apontou onde ficava a
casa do pai. Dirigiram-se para lá e quando chegaram foram recebidos pela
esposa do governante, uma gigante, a qual mandou chamar o marido.
Imediatamente atacou-os, tomando um deles e devorando-o. Os dois
outros fugiram às pressas até os barcos. Os lestrigões soaram o alarme,
avisando que havia fugitivos na ilha. Os seres gigantes atacaram as naus
com pedras imensas. Apenas o navio de Odisseu que estava ancorado na
parte externa conseguiu escapar.

Após a fuga, aportaram na ilha Eeia, onde morava a deusa Circe. Lá


chegando ficaram dois dias e duas noites exaustos. Odisseu saiu, subiu
numa pedra e ficou a procurar se enxergava sinal de alguém que habitasse
a ilha. Viu fumaça subindo em certa altura.

Contou o fato aos companheiros, os quais ficaram aterrorizados e


temorosos de novamente defrontarem inimigos como o Ciclope ou os
lestrigões. Odisseu buscou acalmá-los e dividiu-os em dois grupos, um
chefiado por ele e outro por Euríloco. Tiraram a sorte, sendo o grupo de
Euríloco escolhido para ingressar na ilha e descobrir quem lá habitava.

O grupo, formado pelo líder e mais 22 sócios, partiu, chegando à casa de


Circe. Lá chegando ouviram um canto belo no interior da morada, quando:

“veio Circe e o portão lhes franqueia,


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belo e brilhante; os estultos, então para dentro a seguiram,


com exceção só de Euríloco, por suspeitar de algum dolo“.
Circe, então, fornece alimento e bebida ao grupo que entrou, enquanto
Euríloco observa os fatos do lado de fora da casa. Circe mistura na bebida
uma droga que os faz perder a memória e, logo após, lança contra eles um
encanto, tocando-os com uma varinha em seus ombros, transformando-os
em porcos.

Euríloco horrorizado, parte para junto de Odisseu e, aos prantos, conta o


ocorrido, implorando que partam dali e salvem os que restaram. Odisseu
afirma que “força incontida” o “obriga” a ingressar na ilha para tentar salvar
os companheiros.
Odisseu, então, ingressa na ilha e conta: “quando estava no vale sagrado e do
grande palácio me aproximava, de Circe que todas as plantas conhece, Hermes me
veio encontrar, o imortal que o bastão de ouro leva – a antes de a casa chegar – na
figura de um moço radiante“. Hermes deu a Odisseu um antídoto ao feitiço de
Circe. Orienta-o a logo que Circe o tocar no ombro, tomar a espada e
solicitar que a deusa prometa solenemente que nenhum mal o fará se ele
nada contra ela fizer. Ele ainda pede que ela liberte seus companheiros.
Assim, ocorre. Circe liberta-os e lhes dá excelente hospedagem. Eles ficam
em sua ilha por um ano. Após esse período pedem que Circe os envie de
volta a Ítaca. Ela, porém, responde que não poderão ir diretamente para lá,
o que desespera a todos.

Afirma que antes terão de ir à mansão dos mortos, dominada pelo deus
Hades e sua esposa, a deusa Perséfone, para consultar um cego adivinho, o
tebano Tirésias. Ela explica como devem fazer para chegar ao local onde
poderão consultar os mortos. Embora contrariados por terem de enfrentar
novas aventuras antes de partirem para casa, embarcam rumo ao local
indicado por Circe.

Canto XI – Odisseu consulta os mortos


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Chegam à ilha indicada por Circe. Odisseu procede conforme orientado


pela deusa e estabelece contato com o mundo dos mortos. Encontra o
tebano advinho Tirésias. Esse lhe diz que retornará à casa, mas ainda terá
de enfrentar novos trabalhos, em virtude da fúria de Posido em razão de
Odisseu lhe ter cegado o filho.

Tirésias afirma que, apesar dos trabalhos, chegarão na Ilha Trinácria, onde
ficam os bois do deus Hélio. Se lá nada fizerem contra os bois e as ovelhas,
terão retorno contente. Caso qualquer lesão pratiquem contra esses
animais, Odisseu chegará em Ítaca após longo período, e somente depois
de perder o barco e ver morrer os companheiros. Sendo que ao chegar à
casa, encontrará ainda novos sofrimentos, pois pretendentes lhe devorarão
os bens e tentarão conquistar sua esposa.

Diz o poema:

“vira-se o grande vidente e me diz as seguintes palavras:


‘Andas em busca do doce regresso, Odisseu preclaríssimo,
mas há de um deus agravar-te o retorno; não creio que escapes
do que sacode os pilares da terra, pois sempre irritado
contra ti se acha, por teres o filho querido cegado.
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Mas, apesar dos trabalhos, à pátria hás de ir ter estremada,


se conseguires refrear a cobiça e a dos teus companheiros,
quando chegar teu navio, de sólida e bela feitura,
à ilha Trinácria, fugindo da sanha das ondas violentas,
onde hás de ver nas pastagens as vacas e pingues ovelhas
de Hélio que tudo discerne e que todas as coisas escuta.
Se nenhum mal lhes fizerdes, cuidando somente da volta,
posto que muitos trabalhos tenhais, ainda haveis de ver Ítaca;
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mas se as lesardes, então, desde já te anuncio a ruína


dos companheiros, bem como da nave; conquanto te salves,
hás de voltar muito tarde, com perda de todos os sócios,
em nave estranha, indo em casa encontrar infinitos trabalhos,
homens de grande soberba, que todos os bens te devoram,
e que tua esposa divina pretendem ganhar com presentes.
Mas, lá chegado, sem dúvida a todos darás o castigo.“
Diz Tirésias, ainda, que de um modo ou de outro, após retomar o convívio
do lar, deve ofertar especiais sacrifícios aos deuses, especialmente a
Posido:
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“sacrifícios esplêndidos logo oferece a Posido,


primeiramente um carneiro, depois um novilho e um cachaço.
Volta, depois, para casa e oferece hecatombes sagradas
às divindades eternas, que moram no céu espaçoco,
a todas elas, por ordem.“
Diz o adivinha Tirésias que, assim procedendo, Odisseu viverá longa vida e
morrerá feliz, governando sua pátria:

“(…) distante do mar há a Morte


de te surpreender por maneira mui doce e suave, ao te vires
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enfraquecido em velhice opulenta e deixares um povo


completamente feliz. Eis que toda a verdade te disse“.
Odisseu, então, suspende a narrativa. Mas Alcínoo pede que conte se no
Hades teve acesso a alguns de seus companheiros da Guerra de Troia:

“Vamos! Agora me fala e responde conforme a verdade,


se viste, acaso, qualquer dos excelsos amigos, que outrora
a Ílio viajaram contigo, onde acerbo destino encontraram?
(…) Ora os feitos nos conta admiráveis.
Consentiria em ficar até vir-nos a aurora divina,
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se suportasses, aqui no salão, teus trabalhos contar-nos“


Odisseu, então, relata como falou no Hades com Agamémnone, Aquiles e
também Ajaz. Aqui o poema narra o que ocorreu com Ajaz, que após
disputar com Odisseu a herança da armadura de Aquiles, sendo derrotado,
suicidou-se. A disputa entra Ajaz e Odisseu, na mitologia grega, com a
vitória do último, indicava a superioridade da sagacidade sobre a força
bruta.

Odisseu conta, então, como se levantou da visão do mundo dos mortos e


partiu com os companheiros a barco, retornando à Ilha Eeia, onde habitava
Circe.

Canto XII – A ida até a Trinácria, passando pelas Sereias e enfrentando Cila e
Caribde. A perda dos companheiros e a chegada à Ilha de Calipso.
Chegando à ilha Eeia, o grupo é recebido por Circe, que os concede
hospedagem e refeição. Odisseu conta a Circe tudo o que ouviu de Tirésias.
Circe, então, revela-lhe o caminho que terá de percorrer, buscando preveni-
lo dos riscos.

Primeiramente, informa sobre as Sereias e seu canto:

“Quem quer que, por ignorância, vá ter às Sereias, e o canto


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delas ouvir, nunca mais a mulher nem os tenros filhinhos


hão de saudá-lo contentes, por não mais voltar para casa.
Enfeitiçado será pela voz das Sereias maviosas.
Elas se encontram num prado; ao redor se lhe veem muitos ossos
de corpos de homens desfeitos, nos quais se engrouvinha a epiderme.
Passa de largo, mas tapa os ouvidos de todos os sócios
com cera doce amolgada, porque nenhum deles o canto possa escutar.“
Afirma que mais à frente na viagem, Odisseu encontrará uma gruta na qual
mora a terrível Cila, uma espécie de serpente gigante com seis cabeças.
Descreve, ainda, que próximo dali, habita Caribde, um tufão das águas que
três vezes ao dia aspira tudo o que está na superfície. Orienta Odisseu a
passar perto de Cila, pois perderá apenas seis companheiros, cada um
devorado por uma cabeça do monstro, mas ao menos não perderá a
embarcação toda, o que arrisca ocorrer se passar pelas águas no momento
em que Cila atacar.
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Descreve que após chegarão à ilha Trinácria, onde encontrarão ovelhas e


vacas de Hélio, prevenindo-os de que:

“Se todas elas deixardes ilesas, pensando na volta,


a Ítaca haveis de chegar, apesar dos trabalhos da viagem;
mas, se lesardes alguma, anuncio-te a ruína dos sócios
e do navio; conquanto tu próprio te salves, mui tarde
e miserável à pátria hás de ir ter, sem nenhum companheiro“.
Odisseu, então, embarca junto com os companheiros e partem. Odisseu
adverte-os sobre tudo o que Circe lhe disse. Ao contar-lhe acerca das
Sereias, dá-lhes a seguinte orientação:
“peço a vós todos
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que me amarreis com bem fortes calabres, porque permaneça


junto do mastro, de pé, com possantes amarras seguro.
Se, por acaso, pedir ou ordenar que as amarras me soltem,
mais fortes cordas, em torno do corpo, deveis apertar-me“.
Rapidamente chegam à ilha das Sereias. Odisseu tapa o ouvido dos
companheiros com cera e eles procedem como orientado, amarrando-o ao
mastro. Passam então pela ilha. Odisseu ouve o canto das Sereias que o
convidam a chegar até o local. Odisseu faz sinal com os olhos para que os
companheiros o soltem, mas conforme combinado eles o apertam ainda
mais, de modo que passam em segurança.

Chegam ao trecho em que “cheios de angústia” iniciam “a estreita passagem“,


por terem “Cila de um lado e Caribde divina do oposto“. No momento da
passagem Caribde lança o tufão, motivo por que Odisseu ordenou que
dirigissem a nave de modo a navegarem rentes à gruta de Cila. Odisseu
vestiu as armas e se colocou no ponto mais alto do navio, para fazer frente
ao mostro, jamais vencido. O ataque de Caribde destrai a todos, de modo
que “enquanto o olhar para ali dirigíamos, cheios de espanto, seis companheiros
do fundo da côncava nave arrancou-me Cila, entre todos os mais distinguidos em
força e no braço“.
“Quando a cabeça de novo volvi para a célere nave
e para os sócios, por cima de mim percebi que agitavam
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as mãos e os pés, a chamar por meu nome com voz angustiosa,


o que fizeram pela última vez na premência em que estavam.
(…)
Cila os comeu ali mesmo, na entrada da gruta, entre gritos;
eles as mãos me estendiam, na luta horrorosa em que estavam.
Foi esse o quadro mais triste de todos que viram meus olhos,
em quanto tenho sofrido a explorar as estradas marinhas“.
Ultrapassam o ponto perigoso e chegam à ilha Trinácria. Odisseu pede que
passem direto, mas Euríloco deflagra revolta entre os companheiros,
fazendo discurso alegando que o cansaço os impedia de seguir. Odisseu
aceita que façam parada, mas avisa os companheiros sobre as profecias e
de como deviam deixar intocados os bois e as ovelhas, devendo comer “tão
somente, das iguarias de Circe“.
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Enquanto na ilha se achavam, contudo, tempestade violenta se abate sobre


os mares, impedindo a partida. Após 30 dias na ilha, a comida começa a
escassear. Odisseu se afasta certo dia para rezar aos eternos, pedindo que
consigam livrar-se daquela situação e retornar à casa.

Nesse meio tempo novamente Euríloco convence os companheiros a matar


as reses, alegando que do contrário morreriam de fome. Eles matam os
bois e assam a carne. Quando Odisseu retorna percebe o que foi feito e se
desespera.

No sétimo dia após a morte das vacas, cessa a tempestade. Todos


embarcam. Todavia, em virtude do sacrifício dos animais, Zeus envia
terrível tempestade que destrói a nave, matando todos os companheiros de
Odisseu. Este se apega a um pedaço do navio e fica vagando durante nove
dias. Na noite do décimo, é levado pelo mar à ilha Ogígia, onde é recebido
por Calipso, local em que se encontrava no início do poema.

Quarta parte – O retorno de Odisseu a


Ítaca
Canto XIII – Odisseu chega a Ítaca, levado pelos Feácios
Os Feácios, após ouvirem os relatos de Odisseu, apiedam-se ainda mais
dele. Concedem-lhe presentes e o levam em um veloz navio até a ilha de
Ítaca. Odisseu adormece no caminho. Ao lá chegaram, os Feácios o colocam
adormecido na praia junto dos presentes a ele concedidos.

Odisseu acorda e não reconhece a terra natal. Atenas aparece a ele, na


forma de um jovem, e lhe informa que está em Ítaca, o que muito alegra o
herói. Atenas se revela a Odisseu, informando-o  de que foi ela quem o
protegeu para chegar até ali.

Atenas, então, indica-lhe uma gruta para esconder seus tesouros, até que
todo seu plano esteja consumado, no que é atendida por Odisseu. Informa
que há três anos os pretendentes de sua esposa consomem os bens de sua
propriedade. Orienta-o a procurar o porqueiro Eumeu, antigo criado de
Odisseu e extremamente leal à família, sem contudo lhe revelar sua
identidade. Atenas lhe transforma a aparência na de um velho mendigo
para que o antigo servo não o reconheça. Ela diz irá para Esparta, nas
campinas de Lacedemônia para buscar Telêmaco, que havia partido para
ter notícias do pai.
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Ambos, então, partem para executar o plano de Atenas.

Canto XIV – Odisseu chega à casa do porqueiro Eumeu


Odisseu é recebido pelo porqueiro Eumeu com toda hospitalidade.
Fingindo ser outra pessoa, conta de seus trabalhos e anuncia que Odisseu
está para retornar à casa.

Canto XV – O retorno de Telêmaco a Ítaca


Atenas aparece, em sonho, a Telêmaco e o inspira a retornar para Ítaca. Ela
adverte-o da emboscada dos pretendentes, orientando-o a passar longe da
ilha em que o aguardam, e navegar apenas durante a noite, informando-o
de que um deus o protegerá. Telêmaco atende ao pedido e parte,
aportando em Ítaca são e salvo.

Canto XVI – Telêmaco chega à casa de Eumeu, reconhece Odisseu e trama um


plano contra os pretendentes
Telêmaco chega à casa do porqueiro Eumeu. Senta-se com ele e Odisseu, e
eles conversam sobre as ofensas praticadas pelos pretendentes. Telêmaco
pede a Eumeu que vá até o palácio informar Penélope de que voltou em
segurança.

Ao ficarem a sós Telêmaco e Odisseu, este último recupera a aparência


normal por ação de Atenas e lhe revela sua identidade. A cena do
reencontro é tocante. Diz Odisseu:
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“Sou, sim, teu pai, por quem hás suspirado, saudoso, já tanto
e tantas dores sofrido (…).
Isso disse ele, indo o filho beijar. Pelo rosto lhe escorrem
lágrimas para o chão duro, que tanto, até ali, represara.
(…)
Sou, sim, eu mesmo, que, após sofrimentos e viagens inúmeras,
vinte anos já decorridos, ao solo da pátria retorno.
(…)
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Ambos sentiram desejo incontido de ao prato se darem,


e prorromperam em choro ruidoso (…).“
Odisseu orienta Telêmaco a retornar para o palácio no dia seguinte,
avisando que irá para lá também sob a forma de um mendigo e pede a
Telêmaco que recolha todas as armas do salão, deixando apenas duas: uma
para cada um deles.

Eumeu chega ao palácio e avisa Penélope do retorno do filho. Após, volta à


casa e encontra Odisseu (já novamente transfigurado em mendigo por
Atenas, a fim de que o porqueiro não o reconhecesse) e Telêmaco
conversando.

Quinta parte – Odisseu no Palácio


Pintura de Odisseu e Penélope, Johann Heinrich Wilhelm Tischbein – 1802
Canto XVII – Telêmaco e Odisseu chegam ao Palácio
Telêmaco se dirige ao palácio e conta para sua mãe um resumo de sua
viagem. Odisseu também se dirige para lá. Sob a forma de um mendigo é
insultado pelos pretendentes, porém não reage.

Canto XVIII – Odisseu entra em combate com o mendigo Iro (Arneu)


Havia um mendigo em Ítaca de nome Arneu, mas chamado pelo povo de
Iro, em alusão a Íris, deusa mensageira do arco-íris, dado que o mendigo
trabalhava transmitindo mensagens. Ele chegou próximo a Odisseu e
tentou expulsá-lo do local, sob ameaças, afirmando que caso não deixasse
o palácio entrariam em contenda. Odisseu aceita o duelo. Ao se preparar,
expõe a forte musculatura, surpreendendo os presentes e o adversário.
Com um único golpe nocauteia Iro.
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Penélope, após ter notícia do ocorrido, desce para o saguão e repreende


Telêmaco por permitir que o suposto mendigo, Odisseu, fosse ultrajado
daquele modo, sendo provocado e tendo de entrar em combate. Telêmaco
tenta justificar-se e afirma que, de todo modo, ao final, o estrangeiro
venceu a luta.

Canto XIX – Encontro de Penélope e Odisseu. Odisseu é reconhecido por sua


antiga ama.
Odisseu e Telêmaco recolhem as armas do saguão, preparando a execução
da vingança. Odisseu reencontra Penélope, que não o reconhece. Ele,
fingindo ser outra pessoa, profetiza o próprio retorno, ainda no curso
daquele ano. Penélope cai em lágrimas, alegra-se e manda que Euricleia
banhe Odisseu. Euricleia havia sido ama de criação dele, de modo que o
reconhece ao deparar com uma cicatriz da infância em sua perna:

“A cicatriz de Odisseu, Euricleia, ao tocá-la, no banho,


reconheceu, o que fez que soltasse das mãos logo a perna.
(…)
Dor e alegria, a um só tempo, abalavam-lhe o peito; de lágrimas
os olhos se enchem, sem que conseguisse emitir a voz forte.
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Toca no queixo do divo Odisseu e lhe diz o seguinte:


‘És Odisseu, caro filho, não tenho mais dúvida’ (…)“.
Ele pede que ela guarde segredo por ora, ao que Euricleia consente.

Canto XX – A profecia da morte dos pretendentes


No dia seguinte ao encontro entre Penélope e Odisseu, este não para de
meditar sobre o modo de vingar-se dos pretendentes, preocupado ante a
superioridade numérica deles. Atena aprece-lhe e profetiza que com sua
ajuda Odisseu sairá vencedor e nada tem a temer.

Durante o dia, Odisseu recebe inúmeros agravos dos pretendentes, que


demonstram enorme soberba e desprezo por ele e Telêmaco, o que incita
ainda mais o desejo de justiça no íntimo de ambos.

Sexta parte – A vingança de Odisseu


Canto XXI – A prova do arco
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Penélope lança uma prova aos pretendentes, avisando que se casará com o
vencedor: a prova do arco. Quem conseguisse envergar o arco que Odisseu
deixou em casa antes de sair para a guerra, lançando a flecha por entre 12
pequenos círculos, seria escolhido como marido.

Os pretendentes começam as tentativas, mas sem sucesso. Enquanto isso,


Odisseu se dirige a dois antigos empregados, Eumeu – o porqueiro – e
Filécio. Após verificar a lealdade deste último com perguntas, ele dá a
conhecer sua verdadeira identidade a ambos e combina com eles como dar
cabo dos pretendentes. Pede que Eumeu lhe entregue o arco e a flecha
para que possa participar do certame, e que Filécio oriente as criadas a
trancarem todas as portas e a não reingressarem no saguão onde ocorria o
concurso.

Após todos os pretendentes falharem no uso do arco, Odisseu pede para


participar. Os pretendentes reclamam, mas apoiado por Penélope e
Telêmaco, Eumeu leva o arco até o herói. Logo, Eumeu sai da sala com
Filécio e fecham as portas junto com Euricleia.

Odisseu toma o arco e, com facilidade, executa a prova e vence o concurso.


Imediatamente vira-se para Telêmaco, fazendo-lhe sinal. Este se coloca ao
seu lado, desembainha a espada e toma uma lança na mão.

Canto XXII – A chacina dos pretendentes


Virando-se para os pretendentes, Odisseu começa o ataque, disparando
flechas. Eles, tomados de medo, levantam e procuram armas; porém, sem
sucesso.

Um dos servos de Odisseu, no entanto, de nome Melântio, sobe à sala onde


estavam guardadas as armas, e tomando-as leva-as aos pretendentes.
Assim, inicia-se verdadeiro combate, equilibrado pelo maior número dos
inimigos do herói.

Palas Atena aparece a Odisseu e lhe inspira enorme vigor e coragem.


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Odisseu poupa dois dos presentes: o vate, Fêmio, que tocava para os
pretendentes; e Medonte, por sempre ter tratado Telêmaco de forma
benigna.

Após matar todos os presentes, Odisseu chama Euricleia e pede-lhe que


determine às servas que limpem o aposento e removam os cadáveres.
Depois, pergunta quais delas eram leais aos pretendentes e não a ele,
mandando exterminá-las. Telêmaco as executa, bem como a Melântio, o
servo traidor que auxiliou os inimigos durante a contenda.

Ao final, Odisseu pede a Euricleia que chame Penélope e as criadas


restantes.

Canto XXIII – O reencontro em que Penélope reconhece Odisseu


Euricleia manda chamar Penélope, informando-a da presença de Odisseu e
da morte dos pretendentes. Penélope se reencontra com Odisseu e o
reconhece, após ele descrever detalhes da cama que ele mesmo talhara.
Ele conta um resumo de suas aventuras. Diz a Penélope que deve partir
para cumprir o determinado na visão por Tirésias, de que após chegar à
casa deveria se deslocar até outro local para ofertar hecatombes aos
deuses.

Canto XXIV – O Tratado de Paz


No início do último canto, inicialmente as almas dos pretendentes descem
ao Hades e contam como foram mortos, em virtude de suas más ações,
descrevendo como ocorreu a vingança de Odisseu.

Então, narra-se como o herói no dia seguinte à vingança, saiu da cidade e


foi visitar seu pai, Laertes. Este, após o filho lhe mostrar sua cicatriz na
perna e contar fatos da infância, reconhece-o e se emociona com seu
retorno. Odisseu lhe conta da vingança que impôs aos pretendentes.
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Eis que próximos do palácio começam a se reunir os parentes dos


pretendentes, ao saberem de sua morte. Eles pegam em armas para vingar
os defuntos e se dirigem para onde estava o herói.

Odisseu vendo que o grupo se aproximava toma armas junto com seu pai e
outros criados que ali se encontravam.

Atenas, no entanto, intervém na batalha e pede que firmem um tratado de


paz, no que é atendida, firmando-se novamente paz permanente entre
todos, sob o reinado de Odisseu em Ítaca.
Assim, encerra-se o grande poema da Odisseia.

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