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SEMINÁRIO TEOLÓGICO PRESBITERIANO REV.

DENOEL
NICODEMUS ELLER

DAVID SILVA DE FREITAS

ANÁLISE CRÍTICA DO LIVRO:


INTERPRETAÇÃO DAS CARTAS PAULINAS – JOHN D. HARVEY

Belo Horizonte
2021
DAVID SILVA DE FREITAS

ANÁLISE CRÍTICA DO LIVRO:


INTERPRETAÇÃO DAS CARTAS PAULINAS – JOHN D. HARVEY

Trabalho apresentada ao RDNE, como


requisito parcial para o aproveitamento da
disciplina Exegese do Novo Testamento
III do Curso de Teologia.

Prof. Rev. José Silva Lapa

Belo Horizonte
2021
HARVEY, John D. Interpretação das Cartas Paulinas. Traduzido por João Paulo
Thomaz de Aquino. São Paulo: Cultura Cristã, 2017, 208p.

O livro de John Harvey analisa, em contundentes oito capítulos, o contexto, a


necessidade, o conteúdo, a literalidade e a interpretação das cartas paulinas. Harvey é
doutor em Teologia e professor de Novo Testamento no Seminário e Escola de
Ministério da Universidade Internacional de Columbia, em Columbia, Carolina do Sul.
Harvey é ordenado na Igreja Presbiteriana da América, já tendo servido
transculturalmente na Europa e África. Escreve livros de orientação e instrução ao
trabalho exegético no grego.
As cartas paulinas foram escritas pelo apóstolo endereçadas a igreja plantadas por
Paulo e a trabalhadores que colaboraram com o ofício paulino. Por isso, as cartas
demonstram o espírito e o contexto da vida na igreja primitiva. Este contexto traz
dificuldades ao leitor atual que, com a distância histórica, cultural e linguística entre
Paulo e o século XXI, precisa coadunar o ensino de Paulo àqueles irmãos com o ensino
bíblico para os irmãos (igrejas) atuais. Tendo em vista este problema apontado, a
presente análise crítica busca pontuar como o autor os trata no livro e como ele propõe
caminhos de interpretação. Será apontada também a abordagem de Harvey sobre a Carta
aos gálatas, livro base para a exegese do autor desta análise crítica.
O autor do livro afirma que a linguagem escrita de Paulo tinha traços
estereotipados para facilitar a compreensão e assimilação dos leitores da época. A
cultura de escrita de Paulo envolvia três aspectos: oral, retórico e literário. Harvey
mostra que Paulo possuía uma forma geral de abertura da carta, corpo da carta e
conclusão da carta; ou introdução, corpo e fechamento. Paulo seguia esta estrutura,
contudo não era limitado à uma só cadeia de pensamento estrutural. Harvey diz que “a
flexibilidade das cartas permitiu a Paulo lidar com múltiplos tópicos e dar forma à sua
comunicação de acordo com seus ouvintes e suas circunstâncias.” Paulo adequado seu
escrito à igreja ou à pessoa desejada.
Para Harvey, Paulo foi o autor das treze cartas que o Novo Testamento atribui a
ele. Segundo quadro detalhado do autor, 1 e 2 Timóteo e Tito são cartas que têm a
autoria paulina fortemente contestadas. Estas são as cartas finais do apóstolo. Harvey
diz que não há evidência de manuscritos que colaboram com a teoria de carta composta,
como 2 Coríntios e Filipenses. Já a carta mais antiga, para Harvey, é a de Gálatas,
datada provavelmente em 49-50 d.C.
As cartas de Paulo foram destinadas a igrejas e a pessoas. Nove são destinadas a
igrejas que tinham a maioria de cristãos gentios. Algumas destas cartas são fruto de
disputas sobre o propósito da escrita. Na carta aos gálatas (carta da exegese do autor da
análise crítica) não há disputas em relação ao conteúdo e propósito de escrita. O
apóstolo a escreveu porque judeus haviam chegado àquela cidade (Galácia) e estavam
ensinando (judaizando) aos gálatas. Harvey sintetiza o tema da carta dizendo que é
“defender o evangelho verdadeiro”.
Harvey diz que as cartas paulinas são ricas em teologia, o que se chama de teologia
paulina. Harvey cita uma interessante divisão para lidar com a teologia das cartas.
Citando Gordon Fee, Harvey diz que a divisão é: (1) o fundamento é Deus como
Criador; (2) a estrutura apresenta a salvação como cumprimento inicial da promessa de
Deus; (3) o foco é Jesus como o Messias que assegurou a salvação e é Senhor exaltado;
(4) e o fruto é a igreja como a comunidade escatológica do novo povo da aliança de
Deus. Porém, Harvey diz que estes elementos são dedutivos e necessitam de um
entendimento preconcebido de Paulo e sua teologia. Por isso, Harvey acrescenta nesta
divisão um quinto elemento, mais indutivo: a linguagem antitética que está explícita nos
escritos de Paulo – lei e graça, carne e Espírito, Adão e Cristo, velho e novo homem.
Em Gálatas se observa uma rica exposição teológica de Paulo contra-argumentando os
judeus que estavam em Galácia. Justiça, justiça de Deus e em Cristo, o problema e a
finalidade da Lei e a vivência no Espírito e não na carne são temas tratados e expostos
pela teologia paulina em Gálatas.
O livro de Harvey aborda os aspectos principais a serem trabalhos numa boa
exegese. Segundo o autor, a exegese deve abordar os aspectos históricos, literários e
teológicos da passagem analisada. O autor do livro evidencia que, nas cartas paulinas, o
aspecto histórico deve levar em conta que Paulo escreveu sua carta no contexto
histórico-cultural-religioso do século 1º. Além disso, deve ser observado também o
contexto histórico geral do Novo Testamento. Harvey aponta que, neste assunto, devem
ser observados os 70 primeiros anos da história do Novo Testamento, levando em conta
o período intertestamentário. No aspecto teológico, o autor evidencia que devem ser
observadas a analogia da Escritura, olhando como o conjunto de todo o livro é
harmonioso e coeso; a analogia da fé, olhando como a passagem analisada está em
paralelo com outros assuntos da teologia sistemática; e o uso do Antigo Testamento no
Novo. Paulo faz muito uso da teologia veterotestamentária em seus escritos. No livro de
Gálatas, Paulo se vale muito da lei veterotestamentária e da sua finalidade limitada,
esperando um cumprimento maior e completo – Cristo.
Embora a exegese busca vasculhar as propriedades e riquezas literárias, históricas e
teológicas da passagem, tornando-a mais clara e compreensível, transmitir tudo isto ao
outro é uma tarefa árdua e complicada. Harvey diz que depois de completar o trabalho
da exegese, o foco deve ser na exposição das verdades encontradas. Ele sistematiza esse
foco na exposição dizendo que deve passar por três áreas: a síntese do século 1ª, a
apropriação do século XXI e o empacotamento homilético. Na primeira área, observa-se
que Paulo tinha uma sistematização de ideias em parágrafos. Nisto, deve-se observar o
porquê dele ter dito o que disse e o porquê dele ter dito na forma que disse. Pensando
assim, chegar-se-á ao ponto central da passagem, entendendo o que Paulo quis dizer ao
século 1º, seu ambiente de escrita. Na segunda área, busca-se trazer a ideia de Paulo
para o agora. Harvey cita três perguntas a serem respondidas (citarei ipsis literis, de tão
interessantes que são): (1) Como a passagem se conecta com a audiência de hoje? (2)
Quais são as atitudes e ações contemporâneas que a passagem corrige? (3) Quais são as
formas de pensar e/ou agir que a passagem recomenda para a audiência de hoje? Já na
terceira área, busca-se determinar qual a melhor maneira de comunicar e aplicar as
verdades da passagem ao público ouvinte.
Após trabalhar sobre os elementos iniciais e fundamentais da exegese e da
exposição, autor conclui que a exegese leve o estudante a entender a mensagem que o
autor bíblico comunicou à sua audiência original – 1º século. Já a exposição constrói
uma ponte entre o texto e o ouvinte do século XXI, empacotando a mensagem e a
tornando mais memorável e prática ao ouvinte atual. Com isso, Harvey mostra
que a exegese e a exposição devem andar paralelas e unidas, e que uma complementa a
outra, levando ao entendimento e conhecimento da riqueza bíblica. O autor mostra que a
exegese é um recurso indispensável para a interpretação paulina e que a exposição é um
recurso de valor inestimável, quando feita em harmonia com a exegese.
O livro de Harvey pode ser visto como uma cartilha exegética. O autor expõe as
principais e necessárias ferramentas para a interpretação paulinas. Ademais, Harvey
trata de maneira clara, objetiva e motivadora os problemas que possam surgir na
interpretação dos escritos do apóstolo. O livro aponta recursos úteis para um bom e
eficaz trabalho. Também inclui um glossário que define as palavras mais técnicas
utilizadas, o que torna a leitura e a utilização do livro mais fácil, didática e acessível a
todos. Julgo que o livro Interpretação das Cartas Paulinas é um excelente guia e manual
exegético para aqueles que se dedicam em trabalhar nas cartas paulinas. O livro leva o
estudante a entender, de maneira clara o que Paulo queria que os leitores do primeiro
século entendessem, e auxilia a entender de maneira prática o que os leitores do século
XXI podem extrair destes ricos ensinos.

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