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Biomassa Torrefeita - Um Novo Combustível - Airton Carneiro
Biomassa Torrefeita - Um Novo Combustível - Airton Carneiro
Biomassa torrefeita:
um novo combustível
para a indústria
J O S É A I R TO N D E M AT TO S C A R N E I RO J U N I O R A INDEPENDÊNCIA e a autossuficiência
Mestre e doutorando em Engenharia Industrial,
pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)
no setor de energia é um indicador do
e graduado em Engenharia Química, pela
desenvolvimento socioeconômico de
Universidade Federal do Ceará (UFC). Professor
do ensino básico, técnico e tecnológico do qualquer país. Tem-se visto que, nos
Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia da Bahia (IFBA) – Campus Irecê e últimos anos, as pesquisas e prospecções
pesquisador do Laboratório de Energia e Gás da
UFBA. airton@ifba.edu.br tecnológicas têm-se voltado ao uso de
C A R I N E TO N D O A LV E S fontes de energia não convencionais.
Pós-doutora, pela School of Chemical
Engineering – University of Birmingham; A utilização da biomassa, de forma regulada
doutora sanduíche, pela School of Chemical
Engineering – University of Birmingham;
e eficiente, tem sido bastante impulsionada
doutora em Engenharia Industrial, pela por ser um recurso renovável e de grande
Universidade Federal da Bahia (UFBA);
mestre em Engenharia Química, pela UFBA abundância no Brasil.
e graduada em Engenharia Química, pela
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Professora participante do Programa de Pós- Conforme dados da International Agency
graduação em Engenharia Industrial da UFBA
e do Programa de Pós-graduação em Energia Energy (2016), a oferta mundial de energia
e Ambiente da UFBA; professora adjunta da
Universidade Federal do Recôncavo Baiano
por fonte corresponde, no total, a cerca de
(UFRB) e pesquisadora do Grupo de Pesquisa
13.113 (x106) tep1 (Gráfico 1).
em Bioenergia da UFRB. carine.alves@ufrb.
edu.br
essencialmente
de origem De acordo com dados do Ministério de Minas e Energia, em 2016 a par-
renovável ticipação da biomassa na geração de energia elétrica no Brasil repre-
sentou cerca de 8,2%, sendo o bagaço da cana-de-açúcar, o licor negro
e os resíduos florestais as principais fontes utilizadas para essa geração
(BALANÇO ENERGÉTICO NACIONAL, 2016). A biomassa de base flo-
restal representou cerca de 15,8% da energia elétrica gerada a partir de
biomassa (Figura 1).
Gráfico 2
Oferta interna de energia elétrica por fonte – 2016
3,7%
5,4%
8,2% 9,1% 2,9%
2,6%
Derivados de petróleo
Gas natural
Carvão e derivados
Nuclear
68,1% Hidráulica
Biomassa
Eólica
uma quantidade significativa de energia para reduzir a sua dimensão Este trabalho
(na forma de chips ou cavacos), a qual é necessária na maior parte dos objetiva o
processos de obtenção de energia a partir da biomassa. desenvolvimento
de um
Assim, as propriedades inerentes à biomassa crua, como o alto teor de sistema piloto
umidade, a baixa densidade energética, a degradação biológica, a al- laboratorial para
teração de propriedades físico-químicas durante o armazenamento e a
pré-tratamento
dificuldade de moagem, limitam sua ampla utilização na indústria. Para
da biomassa
superar estas limitações, a torrefação tem sido proposta como um pro-
através do
cesso de tratamento térmico da biomassa (ARIAS et al., 2008). Pode-se
considerar que a torrefação objetiva eliminar o oxigênio sob a forma de processo de
gases sem valor calórico, como, por exemplo, o CO2, a água e alguns torrefação,
ácidos orgânicos, a partir da exposição da biomassa a temperaturas de utilizando como
200-300°C (PIMCHUAI; DUTTA; BASU, 2010; MEDIC et al., 2012). biomassas
potenciais
Os tipos mais comuns de reatores de pequena escala utilizados na tor- o eucalipto
refação são os de aquecimento por convecção, de leito fluidizado, de (Eucalyptus
tambor rotativo e de microondas. Os reatores do tipo leito convecti- grandis) e
vo e fluidizado utilizam, na maioria das vezes, o aquecimento direto, a algaroba
enquanto que o tambor rotativo é um reator de aquecimento indire- (Prosopis
to, e o de microondas é um reator de aquecimento volumétrico. O re- juliflora)
ator de aquecimento direto tem uma melhor e mais uniforme trans-
ferência de calor, enquanto que, no aquecimento indireto, os voláteis
não são diluídos pelo fluido de aquecimento e podem ser facilmente
reutilizados na combustão.
METODOLOGIA
Onde: (1)
Metalurgia e montagem
Testes de validação
Ensaios de torrefação
Figura 2
Cavacos in natura de eucalipto (a) e algaroba (b)
Umidade
Análise elementar
Poder calorífico
Sendo:
RESULTADOS E DISCUSSÃO
- Temperatura
- Tempo de Reação
FATORES DE - Tamanho da Partícula
INFLUÊNCIA - Composição da Biomassa
- Taxa Aquecimento
- Atmosfera de Trabalho
REATOR
- Bancada
Direto -
VOLUME/CAP - Laboratorial
AQUECIMENTO
Indireto - ACIDADE
- Industrial
Tabela 1
Considerações iniciais do reator e sistema de torrefação
Figura 4
Diagrama do sistema de torrefação
Controlador de Chave
Temperatura Contactora
Termopar
(tipo J)
Controlador de
Vazão
Condensador
Exaustão
Reator
Vapores
condensáveis
Borbulhador de gases /
N2 vapores
Figura 6
Sistema de torrefação laboratorial montado e testado
Ensaios de torrefação
Tabela 2
Análise imediata e análise elementar das biomassas in natura de eucalipto e algaroba
Análise imediata (% base seca)
Umidade (%) Teor de cinzas (%) Teor de voláteis (%) Carbono fixo (%)
Eucalipto 0,33 2,23 86,80 10,64
Algaroba 0,21 2,87 86,48 10,44
Análise elementar (% base seca)
C H N O H/C O/C
Eucalipto 46,81 6,11 0,12 46,96 0,13 1,00
Algaroba 46,11 6,49 0,06 47,36 0,14 1,03
Poder calorífico superior Poder calorífico
(MJ.Kg-1) inferior (MJ.Kg-1)
Eucalipto 18,13 18,06
Algaroba 16,33 16,24
Fonte: elaboração própria.
Tabela 3
Análises imediata e elementar das biomassas torrefeitas de eucalipto e algaroba
Análise imediata (% base seca)
Teor de
Umidade Teor de cinzas Carbono fixo
voláteis
(%) (%) (%)
(%)
190°C 0,17 2,34 83,10 14,39
230°C 0,06 2,39 80,75 16,80
Eucalipto
270°C 0,04 2,43 73,20 24,34
310°C 0,03 2,55 61,40 36,02
190°C 0,01 3,13 83,86 13,00
230°C 0,01 3,25 74,92 21,82
Algaroba
270°C 0,00 3,97 72,65 23,38
310°C 0,00 4,41 62,94 32,65
Análise elementar (% base seca)
C H N O H/C O/C
Gráfico 3
Relação entre as frações H/C e O/C de eucalipto e algaroba
Gráfico 4
Influência da torrefação no comportamento do teor de voláteis e carbono fixo do eucalipto e da algaroba
Tabela 4
A utilização Poder calorífico superior e inferior das biomassas torrefeitas de eucalipto e algaroba
da biomassa Poder calorífico Umidade Poder calorífico
para fins superior (MJ.Kg-1) (%) inferior (MJ.Kg-1)
energéticos 190°C 19,05 0,17 19,01
230°C 19,90 0,06 19,88
depende Eucalipto
270°C 21,57 0,04 21,56
de diversos 310°C 25,48 0,03 25,47
aspectos, como 190°C 18,74 0,01 18,74
sua natureza, 230°C 20,02 0,01 20,02
Algaroba
270°C 23,14 0,00 23,14
origem, 310°C 26,85 0,00 26,85
tecnologia Fonte: elaboração própria.
de conversão
e produtos Quando utilizada em fornos industriais, a biomassa com excesso de
energéticos umidade prejudica o rendimento e pode causar danos físicos aos equi-
derivados pamentos. Por sua vez, quanto menor o teor de umidade da biomassa
menor será o seu consumo por volume de energia desejado. O baixo
teor de umidade e o caráter hidrófobo são características desejáveis,
pois favorecem o transporte da biomassa, já que o custo do transporte
é menor porque a quantidade de energia potencial por volume trans-
portado é muito maior (FELFLI, 1999).
Quanto ao poder calorífico inferior, o seu valor final sofre influência dire-
ta do teor de umidade. Na prática, o PCI apresenta um valor mais exato
do calor liberado pelo combustível.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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