Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
Existem diversas aplicações para o termo “protofascismo”. Mas aqui irei usar a aplicação mais habitual,
que é a denominação dada à aspectos sociais, políticos e ideológicos que tenham bases de inspiração no
nazifascismo sem, necessariamente, a presença de um Estado fascista.
temas atuais, mas apenas usá-los de forma a ilustrar melhor as vicissitudes do
fascismo.
Acredito que o fascismo não foi uma ideologia confinada no século XX,
muito menos restritas aos modelos Italiano e Alemão. E aqui o termo
protofascista nos permite uma generalização da ideologia – da mesma forma
que generalizamos todas as outras – demarcando o que a meu ver, são os dois
momentos mais importantes para a doutrina fascista: a tomada de poder – ou a
organização de um movimento de massas –, e a estruturação do Estado
fascista.
A RAIZ DO FASCISMO
2
A teoria aceita pela Internacional Comunista, interpretava a socialdemocracia como uma espécie de variante do
fascismo. Com o “Período Final” que marcava o fim da estabilidade do capitalismo, a teoria baseada nas ideias e
resoluções de Grigori Zinoviev colocava os partidos da socialdemocracia como “Irmãos Gêmeos” do fascismo e que
um dependia ativamente do outro. Após a teoria ser anunciada no Sexto Congresso, ela foi aceita pelos partidos
alinhados à Internacional Comunista (Comintern) o que impediu várias alianças entre sociais-democratas e
comunistas no combate ao fascismo. Isso afetou até mesmo as alianças para a derrota do Integralismo no Brasil.
para os italianos, mas logo foram abandonadas quando os fascistas chegaram
ao poder.
3
Jens Peterson, “Elettorato e base sociale del fascismo italiano negli anni venti”. Studi Storici, vol. 16, nº
3, 1975, p.635.
“O novo espírito se encarnava nos soldados que retornaram. Esses
veteranos constituíram o caldo de cultura para a proliferação de
violentas associações paramilitares de direita, dos quais o fascismo
recrutava seus adeptos mais exaltados. Grande parte do simbolismo
da extrema direita foi elaborado durante a guerra. As camisas negras
usadas por seus seguidores tinham inspiração no uniforma das tropas
de elite – os arditi -, idealizado no verão de 1917 pelo general Luigi
Capello. O hino dos arditi, “Giovinezza” (Juventude), tornou-se o hino
oficial do Partido Fascista. A própria palavra fascio (feixe ou maço)
estivera em voga muito antes de Mussolini apropriar-se dela.” (Sasson,
2009, p.49)
4 O movimento Irredentista Italiano entendia que todos os territórios separados da Itália – seja por questões
geográficas ou políticas – mas que tivessem uma ligação com a Itália por questões de costumes, cultura ou
idioma, deveriam pertencer a Itália. Como o caso de Fiume que não tinha ligações por terra com a Itália,
mas que existiam muitos cidadãos italianos e uma de suas línguas era o Italiano.
5 Alguns cânticos fascistas; o óleo de rícino que obrigavam os adversários a beber; e o termo Duce, que
apesar de ser mais antigo, serviu para inspirar os fascistas ao uso. Além de heranças dos Futuristas que
também influenciariam posteriormente o fascismo.
da glória pelo conflito. E tudo isto estava presente nesse veio artístico. O
Futurismo de Marinetti e o fascismo terão em comum a glorificação da ideologia
da guerra e da potência que os conflitos tem de proporcionar avanços técnicos
e militares.
Nesse aspecto creio que seja complexo afirmar que o fascismo tenha
uma repulsa pela arte, ou pelos artistas, justamente por ter em seu cerne uma
grande colaboração de artistas da época que não só estavam em seu auge, mas
também estavam modificando e renovando a arte italiana. Podemos discutir o
conceito de arte ao qual estava mais atrelado, se era apenas uma forma de
propaganda ideológica, ou se era algo substancial – essa discussão é levantada
em todos os regimes políticos do sec. XX que foram próximos à artistas, como
por exemplo a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas -, mas nesse aspecto
o fascismo odiava – e ainda odeia - “apenas” tudo que foge do seu controle
ideológico.
Salgado não apoiava verdadeiramente a Revolução, uma vez que entendia que
ela quebrava com estruturas sociais que ele apoiava. Porém, via nela uma forma
de encaminhar o Brasil para uma forma de governo realmente efetiva. Nos anos
que se seguiram Salgado tinha tentado se aproximar do Governo Provisório de
Getúlio Vargas, primeiro com um apoio indireto à Revolução de 1930, depois
com notas políticas sobre as diretrizes da Ditadura. Para ele a Ditadura era o
que o povo precisava naquele momento. Uma vez ignorado por Vargas, tenta
uma aproximação da juventude, pregando uma revolução dentro da Revolução.
6
Giovanni Gentile foi um dos responsáveis pela criação e fortalecimento da doutrina fascista. Em 1932
escreve em coautoria de Benito Mussolini o livro “A Doutrina do Fascismo”. Atuou como Ministro da
Educação de Mussolini durante seu governo, sendo responsável por uma série de reformas autoritárias e
doutrinárias.
possibilidade ou na utilidade da paz perpétua. Ele então descarta o
pacifismo como uma máscara para uma renúncia insolente e covarde
em contradição com o auto sacrifício. Apenas a guerra canaliza todas
as energias humanas para a sua máxima tensão e perpetua o selo da
nobreza naqueles povos que tem a coragem de enfrente-la. Todos os
outros testes são substitutos que nunca colocam o homem face a face
com si mesmo, diante da alternativa de vida ou morte.” (MUSSOLINI,
1932)
E continua:
E não é atoa que por mais que os integralistas que ainda restam, apareçam em
determinados momentos em unidades com grupos neofascistas ou participando
de manifestações com caráter protofascista, seus posicionamentos ainda
continuem contundentes no que diz respeito ao modelo político e social que
deveria ser adotado no Brasil de hoje.