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A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO AFETIVO

NO PROCESSO DA ADAPTAÇÃO ESCOLAR

Palavras chaves: Afetividade, Autoestima, Escola, Práticas pedagógicas, Aprendizagem.

INTRODUÇÃO
Desde o momento do nascimento a criança estabelece uma relação afetiva com pais e
membros da família sendo desde já o centro das atenções. Em determinado momento,
porém, estes pais ou responsáveis colocam-se diante da necessidade, seja do retorno ao
trabalho ou da percepção de que seu filho necessita explorar outros ambientes e conviver
com outros indivíduos, que não sejam apenas o seu lar ou os ambientes de convívio
comum da família.
Neste momento desperta-se a necessidade de conhecer os espaços de uma escola que é
o primeiro ambiente que a criança frequenta sem a presença da família. Este espaço além
de oferecer um local de brincadeiras e passatempos, proporciona o desenvolvimento das
capacidades afetiva, intelectual e social da criança.
Esse processo de adaptação a uma nova realidade social envolve a família e a
instituição e precisam ser encaradas de maneira responsável por ambas as partes. É preciso
que se entenda que este é um período importante de transição na vida da criança e que a
escola é peça fundamental neste processo de transição.

VÍNCULO AFETIVO FAMILIAR


Assim que as crianças nascem são muito indefesas e necessitam da ajuda das pessoas,
mas apresentam grande capacidade de aprender e seu interesse por estímulos sociais
proporciona surgimento de vínculos com as pessoas. Um dos vínculos emocionais mais
importantes na primeira infância é o apego, ou seja, o vinculo afetivo que a criança
estabelece com uma ou várias pessoas da mesma família.
De acordo com Ortiz, Fuentes e López devemos primeiramente compreender o
significado do que é o apego:

“O apego tem uma função adaptativa para a criança, para os pais, para o
sistema familiar e, em último caso para a espécie. Do ponto de vista
objetivo, seu sentido último é favorecer a sobrevivência, mantendo
próximos e em contato os bebês e os progenitores (ou quem cumprir essa
função), que são os que protegem e oferecem os cuidados durante a
infância. Do ponto de vista subjetivo, a função do apego é proporcionar
segurança emocional; o sujeito quer as figuras de apego, porque com ela
se sente seguro, aceito incondicionalmente, protegido e com recursos
emocionais e sociais necessários para o bem estar. A ausência ou perda
das figuras de apego é percebida como ameaçadora como perda
irreparável, como situação de desproteção e desamparo, como situação de
risco. (2004, p.105).

Esta segurança emocional é fortalecida através da manutenção da comunicação


familiar, é o meio pelo qual os membros da família tornam conhecidos, aos outros, as suas
necessidades físicas, psicológicas e sociais. Segundo Humphreys, “a principal função da
família é facilitar o desenvolvimento ótimo de cada um de seus membros, e isso significa
responder a toda gama de necessidades individuais. (...) Quando os próprios pais não
comunicam claramente entre si suas necessidades, (...) então é improvável que os filhos
desses pais aprendam a falar sobre as suas próprias necessidades”. (2001, p.81).
O início da escolarização formal já se constitui uma mudança notável na vida social e
afetiva da criança. Cada vez mais uma proporção maior delas ingressa em creches e
procura a pré-escola. O fato de elas estarem fora de casa, durante boa parte do dia, não
torna menos dramática esta transição, pois, até mesmo para essas crianças, a escola
representa uma grande mudança no nível de expectativa de desempenho que ela precisa
tentar satisfazer.
A escola significa o começo do período em que ela deverá aprender todas aquelas
competências e papéis específicos que são parte da cultura já adquirida com os familiares,
acrescidos dos valores difundidos pela escola.
O processo de adaptação requer o desenvolvimento do apego, que pressupõe, por
exemplo, do bebê a compreensão de que sua mãe continua a existir, mesmo quando não a
vê num determinado lugar, o que na realidade tal situação não acontece. O pré-escolar
percebe que o relacionamento continua existindo mesmo quando os pais estão separados e
parecem ficar muito menos perturbadas com a separação; mas demonstram-se igualmente
preocupadas se não sabem o que está acontecendo ou não compartilham o planejamento de
adaptação.
A criança se percebe como um indivíduo diferenciado de sua mãe, tendo que lidar
sozinha com este novo mundo que se apresenta a sua volta: o ambiente escolar. Para que a
criança se sinta segura, pois em determinados momentos ainda necessita conferir a
proximidade da presença materna, é preciso que a figura da professora seja sua fonte de
abastecimento ou até mesmo faça uso de objetos como recurso de apoio emocional. É
necessário entender sobre a importância da utilização nesta fase, do objeto transicional, que
tem um valor simbólico de união com a figura materna e tudo o que se relaciona a esta.
Este é utilizado para unir, simbolizar e comunicar a relação mãe-filho, por isso deve ser
respeitado o seu uso até que a criança passe a se relacionar com o ambiente e criar vínculos
afetivos.
Deve-se respeitar também que o ingresso na escola não coincida com algum outro
acontecimento importante na vida da criança, como uma doença grave, a separação dos
pais, o falecimento de alguém próximo ou o nascimento de um irmão, uma vez que esta, já
deverá lidar com o afastamento daqueles que lhe trazem segurança afetiva. Em qualquer
situação de desequilíbrio emocional, a criança necessitará de um tempo de recuperação,
adaptando-se primeiro à nova situação, para depois se adaptar à nova escola, pois tais
situações são marcantes e podem já trazer para o ambiente escolar, problemas de
autoestima. Para Humphreys, podem interferir inclusive no processo do aprendizado:

“Uma criança entra na sala de aula levando consigo os efeitos dos


relacionamentos com adultos significativos em sua vida. O
relacionamento mais crucial é aquele com os seus pais. Uma
criança também é afetada por experiências com os seus avós
(principalmente quando vivem sob o mesmo teto, tios, tias e
tutores). Esses relacionamentos são as lentes através das quais a
criança desenvolve sua autoestima. No momento em que chega à
escola, a criança já formou uma imagem dela mesma e dali em
diante essa imagem pode ser afetada por suas experiências com
professores e colegas. Sabe-se agora que as crianças que têm
dificuldades de aprendizado na escola frequentemente têm
problemas de autoestima, e precisam de uma elevação dessa
autoestima antes de iniciarem um desenvolvimento escolar
efetivo.” (2001, p.15).

Devemos considerar que tanto a família, quanto a instituição escolar são responsáveis
pelo ingresso da criança à escola, com garantias de preservar sua historicidade e cultivar a
autoestima, facilitadores do ensino-aprendizagem. Para Paín, “o processo educativo
compreende todos os comportamentos dedicados à transmissão da cultura, inclusive os
objetivados como instituições que, específica (escola) ou secundariamente (família),
promovem a educação. Através dela o sujeito histórico exercita, assume e incorpora uma
cultura particular, na medida em que fala, cumprimenta, usa utensílios, fabrica e reza
segundo a modalidade própria de seu grupo de pertencimento.” (1992, p.18)
Podemos também considerar as contribuições de Wallon para a compreensão dos
processos de ensino aprendizagem e o desenvolvimento da criança ao adulto, ao
demonstrar a importância de compreender o confronto entre a razão e a emoção, uma vez
que família e escola estão envolvidos no processo de adaptação da criança. Para ele, a
emoção é a exteriorização da afetividade e, ao mesmo tempo, um comportamento social na
sua função de adaptação do ser humano ao seu meio:
...As emoções são a exteriorização da afetividade (...). Nelas que
assentam os exercícios gregários, que são uma forma primitiva de
comunhão e de comunidade. As relações que elas tornam possíveis
afinam os seus meios de expressão, e fazem deles instrumentos de
sociabilidade cada vez mais especializados. (Wallon, 1995, p. 143).

VÍNCULO AFETIVO ESCOLAR


Realmente o início do período escolar é normalmente conturbado, devido ao fato de
muitas crianças estarem iniciando ao espaço pela primeira vez e por si só, tudo é muito
diferente, novo e atrativo. É o momento de transição entre o lugar onde a criança sabe se
relacionar com todos, e outro diferente onde terá de construir novas relações afetivas. É
neste primeiro aprendizado que se poderá determinar a facilidade ou a dificuldade com que
ela vai se adaptar às novas situações ao longo de toda a sua situação escolar.
Para isto, muitas instituições preparam um período de adaptação singular a sua
filosofia de trabalho, respeitando as fases de cada faixa etária e oportunizando a criança um
ambiente propício a exploração e conhecimento deste meio, facilitando a sua adaptação.
Esse processo possibilita a criança fazer sua opção de ficar na escola, mesmo que isso
represente o afastamento materno.
Sabemos que nesta fase de adaptação o vínculo família/escola passa a ser fundamental
para se estabelecer um relacionamento saudável e tranquilo, por isso, também é de vital
importância que os pais estejam acordados com a filosofia inserida na proposta pedagógica
da instituição, respeitem esse período de adaptação, conhecendo e apoiando o plano
estabelecido para fase. Podemos listar alguns pontos importantes deste plano, que podem
garantir uma educação de qualidade:

 A vinda da criança para a escola deve ser preparada pelos pais.


 Estes devem estar seguros de sua opção, demonstrando confiança e determinação.
 Reorganizar antecipadamente e gradualmente a rotina de horários de sono e
alimentação da criança, para que estes não coincidam ou interfiram diretamente no
horário de sua permanência na escola.
 Providenciar todo o material necessário à criança solicitado pela escola (mochila,
uniforme, lanche), organizando-o junto com a mesma.
 O horário de permanência da criança na escola durante os primeiros dias devem
ser menores. Os pais deverão respeitá-lo, não atrasando para vir buscá-la. Lembrá-
los de que a confiança é recíproca.
 Após os primeiros dias é aconselhável que apenas um membro da família
permaneça no ambiente escolar.
 A escola pode priorizar a primeira semana para adaptação somente para as novas
crianças.
 Permitir a permanência dos pais ou responsável na escola, mas em ambiente
separado e devidamente preparado para recepcioná-lo.
 Orientar aos pais entregar a criança ao educador, colocando-a no chão e
incentivando-a a ficar na escola. Não é recomendável deixar o educador retirar a
criança do colo da mãe ou de outro adulto.
 Orientar aos pais que o choro da criança pode ser frequente ou não, e que esta
instabilidade emocional é esperada e nem sempre significa que a criança não
queira ficar na escola.
 Os pais devem despedir-se naturalmente e de maneira alguma se afastarem
sorrateiramente ou “escondido” da criança.
 Permitir que a criança traga objetos pessoais que lhe transmitam segurança
emocional nesta fase de transição.
 Evitem comentários sobre a adaptação da criança na presença da mesma. Converse
sobre os acontecimentos ou sobre suas dúvidas diretamente com o professor ou
coordenador pedagógico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Devemos compreender então, que o processo de adaptação na escola, é um momento


de extrema delicadeza, envolvendo comunidade escolar, pais, alunos e é muito importante
lembrar também, que é um período de mudança e renovação para todos os envolvidos. É
necessário que todos compreendam suas funções para que se auxilie a criança, pois a
separação é um processo que gera sentimentos, que precisam ser discutidos e superados
gradativamente.
Cabe à instituição escolar prover aos pais, o esclarecimento de dúvidas e trabalhar a
relação de confiança, amizade e afetividade entre escola e família. O professor deve
proporcionar um ambiente agradável e acolhedor e que amenize este processo de separação
da criança dos pais, socializando o ambiente com atividades lúdicas e prazerosas.
Aos pais cabe estarem certos na decisão de colocarem seu filho na escola e manterem
postura firme, mas de apoio emocional positivo, demonstrem interessem, reforçarem a
autoestima, pois esta transmitirá segurança à este período que gera desequilíbrio para
ambas as partes. Devem estar seguros o suficiente para acatar as orientações recebidas pela
instituição escolar e realmente procurar formar uma parceria.
Colocamos aqui, que em algumas instituições escolares, é permitido que os pais
permaneçam junto à criança no mesmo ambiente, participando do processo de adaptação.
Se levarmos em conta, que este período de transição familia / escola é propício para que a
criança possa estabelecer vínculos sociais, diferentes daqueles construidos entre pai, mãe e
familiares e se esta separação faz com que a criança se desfaça e refaça o seu apego na
figura do professor, devemos refletir, até que momento seria proveitoso que estes pais
estivessem junto da criança e presentes no dia a dia do processo de adaptação.
Portanto é necessário e muito importante que todos aceitem esta fase, como algo
positivo e enriquecedor no desenvolvimento social e afetivo, seja do filho ou do aluno,
envolvendo também a família e a escola como um todo.
Referências Bibliográficas

COLL, César. MARCHESI, Álvaro. PALACIOS, Jesús & Cols. Desenvolvimento


Psicológico e Educação – volume 1 – Psicologia Evolutiva. 2ª edição. Editora Artmed,
2004.

HUMPHREYS, Tony. Auto-estima: a chave para a educação do seu filho. São Paulo,
Ground, 2001.

PAÌN, Sara. Diagnóstico e Tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre,


Artes Médicas, 1985.

GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil -


Petrópolis, RJ; Editora Vozes, 1995.

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