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“EM DEFESA DA VIDA - Parte (3)”

(Alguns argumentos contra o uso das DROGAS)


2

Índice

Prefácio.................................................................................................................. 3

Introdução.............................................................................................................. 4

Uma carta de adeus.............................................................................................. 5

Como evitar que um traficante adote seu filho...................................................... 6

O vício por dentro.................................................................................................. 9


A devastação que as drogas causam no cérebro............................................... 10

Drogas psicotrópicas: o que são e como atuam................................................. 11

Cresce o número de jovens dependentes de crack............................................ 12

Crack: o vício é imediato..................................................................................... 13

As perversas pedras do pó.................................................................................. 14

Governo pode autorizar uso médico da maconha.............................................. 15

Dependentes de drogas tem tratamento comunitário......................................... 16

A procura dos vilões............................................................................................ 19

AIDS: pacto com a morte.........................................................................................20

Alcoolismo na adolescência................................................................................ 21

Escapando do vício............................................................................................. 23

A estratégia contra a droga................................................................................. 25

A droga nos rituais religiosos..................................................................................26

Desencarne por overdose................................................................................... 28

Tratamento do drogado....................................................................................... 32
3

Prefácio

Esta é a terceira e última parte de “EM DEFESA DA VIDA”.


Tivemos o primeiro tema tratando do Aborto, seguido do Suicídio e, este,
abordando as Drogas.
A nossa intenção, ao organizar textos de autores encar-nados e
desencarnados, é levar informações sob os mais diver-sos ângulos, numa forma
de ampliar a visão sobre estes temas tão polêmicos.
Todos estes três assuntos devem passar a ser discutidos dentro da própria
família, num diálogo franco e aberto, com a maior naturalidade.
Como veremos nos textos apresentados, é preferível falar um ano antes,
do que cinco minutos depois do fato ter ocorrido.
E é na adolescência o melhor período para que estes temas sejam
discutidos.

Rubens Santini de Oliveira

São Paulo, 25 de junho de 1995.


4

Introdução

“Proibir ou não proibir, eis a questão!”.


A discussão está lançada. Existem argumentações a favor da liberação das
drogas, e existem as que são contra.
A favor, alegam que ficaria mais fácil para localizar os viciados e, por
ventura, procurar tratá-los. Assim como, ficaria mais fácil para identificar os
traficantes e fixar regras para limitar o uso das drogas.
Contra, alegam que aumentaria o seu consumo, principal-mente entre os
adolescentes, onde ainda eles não tem uma vi-são crítica de mundo muito bem
definida e esclarecida, sendo uma presa fácil para esse vício.
Também não adianta proibir, pura e simplesmente, e não se fazer mais
nada. Temos o exemplo da famosa “Lei Seca” que vigorou nos Estados Unidos,
entre 1919 e 1933, onde o álcool foi “eliminado”, proibidos sua fabricação, uso e
venda. Ocorreu o que se conhece e o que seria previsto. Quem realmente queria
beber tinha inúmeros meios de obtê-lo. Vigorou o império do contrabando, da
fabricação ilegal, da venda dissimulada. É como nos conta o famoso cineasta
espanhol Luiz Buñel, em seu livro “Meu último suspiro”:

“...passei cinco anos nos Estados Unidos, em 1930, na época da proibição,


e acho que nunca bebi tanto.(...) Podia-se conseguir uísque em farmácias, e em
determinados restaurantes, servia-se vinho em xícaras de café.”

Até agora, as campanhas contra as drogas tem resultado em um grande


fracasso. Não adianta jogar uma série de informações científicas, com a intenção
de amendrontar as pessoas. Muito menos fazer cartazes, colocando um desenho
de uma caveira dizendo que a droga mata. Seria a mesma coisa se
espalhássemos cartazes pelo mundo inteiro, dizendo que a fome e a desnutrição
também fazem milhares de vítimas. É preciso atacar o problema pela sua raiz.
Geralmente, o viciado tem instinto autodestrutivo, muitas movido pela falta de
diálogo dentro do lar, das dificuldades nos relacionamentos familiares e afetivos.
A prevenção começa dentro de casa.
É preciso abrir canais de discussão nas escolas, nas igrejas,... Enfim, o
problema precisa realmente ser discutido na sua profundidade.
5

Uma Carta de Adeus (1)

“Acho que neste mundo ninguém procurou descrever o seu próprio


cemitério. Não sei como meu pai vai recebê-lo; mas preciso de todas as forças
enquanto é tempo.
Sinto muito, meu pai, acho que este diálogo é o último que tenho com o
senhor. Sinto muito mesmo... Sabe, pai, está em tempo do senhor saber a
verdade que nunca desconfiou. Vou ser breve e claro. Bastante objetivo. O
TÓXICO ME MATOU!
Travei conhecimento com meu assassino, o tóxico, aos 15 anos ou 16 anos
de idade. É horrível, não pai? Através de um cidadão elegantemente vestido, bem
elegante mesmo, e bem falante, que me apresentou o meu futuro assassino: o
tóxico.
Eu tentei recusar, tentei mesmo, mas o cidadão mexeu com o meu brio,
dizendo que eu não era homem. Não é preciso dizer mais nada, não é pai?
Ingressei no mundo do tóxico. No começo foram as tonturas, depois o desvaneio
e a seguir a escuridão. Depois veio a falta de ar, o medo, as alucinações e logo a
seguir veio a euforia do pico novamente. Eu me sentia mais gente do que as
outras pessoas: e o tóxico, meu amigo inseparável, sorria ...
Sabe pai, a gente quando começa, acha tudo ridículo e muito engraçado.
Até Deus eu achava ridículo e hoje no leito do hospital, eu reconheço que Deus é
o mais importante de tudo no mundo, e que sem a ajuda Dele eu não estaria
escrevendo esta carta. Pai, eu só tenho 19 anos e sei que não tenho a menor
chance de viver. É muito tarde para mim. Mas para o senhor, meu pai, tenho um
último pedido a fazer: diga a todos os jovens que o senhor conhece e mostre a
eles esta carta. Diga a eles que em cada porta de escola, em cada cursinho de
faculdade, em qualquer lugar há sempre um homem elegantemente vestido e
bem falante, que irá mostrar-lhes o seu futuro assassino e destruidor de suas
vidas, e que os levará à loucura ou à morte, como aconteceu comigo.
Por favor, faça isso meu pai, antes que seja tarde demais para eles.
Perdoa-me, pai. Já sofri demais. Perdoa-me também por fazê-lo sofrer
pelas minhas loucuras.
Adeus meu pai...”

Observação: Caso verídico! Depois desta carta, o jovem morreu em um hospital


em São Paulo, onde estava internado.

(1)
"Extraído da revista espírita Allan Kardec - julho/93.
6

Como evitar que um traficante adote o seu filho(2)

(1) Os pais atuam como modelo, exemplo para os filhos. Assim sendo,
respeito mútuo e diálogo asseguram uma relação harmônica e, como decorrência
desta relação, podemos ter o crescimento promovendo sempre o
redimensionamento entre os membros integrantes não da nossa casa, mas do lar.

(2) A automedicação deve ser evitada, se não estamos incentivando


indevidamente o uso inapropriado às drogas.

(3) Quando medicar o seu filho, nunca associe este fato como algo
prazeroso, tal como comer uma barra de chocolate. Procure associar o remédio à
necessidade de combater a doença.

(4) O consumo de bebidas alcoólicas e de cigarros é incentivado pela


sociedade a ponto de induzir ao “sucesso” os seus usuários. Os adolescentes em
busca de auto-afirmação se identificam com o adulto (o pai, a mãe e outros),
procurando fumar e beber, mesmo sem gostar.

(5) Apoio, atenção e amor a cada filho, respeitando a sua individualidade


de expressar, implicando a aceitação da maneira como ele é e não como
gostaríamos que ele fosse.

(6) Mobilizar o crescimento, despertando o senso crítico do filho, tendo ele


a oportunidade de expressar seu ponto de vista, discutir, avaliar situações e andar
sobre suas pernas.

(7) Não corromper o filho às suas idéias. Diante da televisão, leituras e as


demais situações sociais; deixe que seu filho num processo lento e gradativo
obtenha sua consciência crítica estruturada, dentro da dinâmica familiar. A
proposta é discutir e não proibir.

(8) É saudável não invadir os espaços, portanto, deixe que seu filho traga
amigos para dentro de casa.

(9) Considerando a adolescência um período de transição, de fronteira,


canalize o diálogo como forma de redimensionar as relações com vias ao
crescimento dos jovens como dos pais.

(10) Adolescer é ainda um sonho por fazer, um esboço a concretizar, um


intuito de viver e inventar. Assim, sendo, o adolescente sente-se em cima do muro
por não ser criança e também não ser adulto. Diversões, lazer e em grupo
‚ necessário.

(11) A vigilância dos pais é importante, com a dosagem não policial; porém
amorosa, companheira, de quem zela pelo bem do filho e nele confia.

(12) Observar o grupo com quem o filho anda, uma vez que a influência do
meio social é forte na adolescência.

(2)
Texto de Miltes Aparecida Bonna - extraído do livro
"Família e Espiritismo" - Edições U.S.E.
7

(13) A família que cedo começou o diálogo com o filho, encontrará, na sua
adolescência, aceitação, facilidade de reciclar compreensão e confiança em mão
dupla.

(14) Vale mais falar um ano antes do que o cinco minutos depois. Assim
sendo os pais devem se atualizar e reciclarem-se para acompanhar a evolução do
tempo: é fundamental acompanhar o momento de seu filho.

(15) Abordar sobre as conseqüências do uso indevido de drogas, com


naturalidade e dentro da verdade científica. Nunca mentir ou fazer especulações
em cima de assuntos, porque o efeito poderá ser contraditório.

(16) Não acomodar diante do cansaço e desânimo das tarefas diárias.


Também dê um tempo para o seu filho, compartilhe com ele alegrias,
preocupações, seja amigo da criança e do jovem, eles precisam muito desta
troca.

Ao detectar um filho com problemas, por onde caminhar?

Medidas educativas são necessárias, quando detectamos um filho


experimentando ou até mesmo usando drogas:

(1) Não deixe o desespero tomar conta de você, pois desta forma os pais
não usam a razão.

(2) Não se culpe, responsabilize-se.

(3) Não dramatize nem use atitudes primitivas e drásticas, como surrar,
expulsar, xingar, porque tudo isso só agrava mais o problema.

(4) Tenha como meta a busca de segurança e saúde para o seu filho.

(5) Sensibilize-se mostrando o envolvimento e as conseqüências, use de


firmeza, mostrando-lhe que ele está doente e que pode contar com o apoio
familiar para se recuperar.

(6) Institua um processo disciplinar no sistema de vida, mesmo ele sabendo


que vocês estão atuando de forma mais incisiva. É necessário paciência,
compreensão, firmeza e acima de tudo muita garra.

(7) Procurar um profissional ou outra pessoa de confiança para ajudar você


e seu filho; e se necessário encaminhe-o para tratamento.

(8) Algumas vezes se faz necessário cortar o assédio de determinados


companheiros que podem emperrar o tratamento. Bom senso, afeto e tato nestes
momentos.

(9) Os pais devem se comprometer a acompanhar o processo de


recuperação do filho e não delegar este papel ou até mesmo esperar que os
Professores responsáveis o façam.
8

(10) Desmitifique idéias primárias como sentir medo ou vergonha por ter
um drogado na família. O único mal que pode haver é não estar ao lado do
doente, desconsiderá-lo como um marginal que está desonrando a família. O que
interessa, realmente, é o seu bem estar e a sua vida.

(11) Reintegrá-lo na sociedade através de seus ideais, lazer, estudo,


compromissos e vínculos sadios com todos os que o rodeiam.

(12) Procure inteirar-se dos grupos, como o DESAAT - Departamento de


Socorro Anti-Álcool e Tóxico, do Centro Espírita “Obreiros do Senhor”, Rua
Francisco Alves, 275, Paulicéia, São Bernardo do Campo-SP e outros de
tratamentos especializados para dependentes químicos. Nunca interne em
hospital psiquiátrico sem a devida recomendação de um especialista. Lembre-se
que cada caso é único e particular, o que re-quer uma atenção clínica e para
instituir o tratamento em busca de recuperação. A busca de Deus, a valorização
da vida e a assistência espiritual (com a fluidoterapia) são roteiros que também
trazem novas esperanças.

“As crianças aprendem desde pequenas que a dor física pode ser sedada com
remédios que seus pais compram na farmácia. Assimilam, pelo exemplo dos
adultos, que existem antídotos para combater a insônia, o nervosismo, a tosse, a
dor. De maneira geral, o homem moderno tem grande dificuldade de suportar a
dor. Vários autores questionam até que ponto a privação da dor por meio da
farmacologia não deveria ser considerada na explicação do adolescente às
drogas. Ao experimentar a dor psíquica, inerente ao processo de crescer, o jovem
buscaria nelas uma espécie de pílula anti-dor.”(*)

O vício por dentro(3)

“Israel Levin, um dos proprietários da indústria de cuecas Zorba, sonhava


ver seu filho Abrão nos altares das sinagogas de São Paulo, como rabino. De
Abrão, hoje com 31 anos, pode-se dizer tudo. Menos que ele leve uma vida de
rabino. Viciado em cocaína desde os 15 anos, ele já roubou o próprio pai,
apanhou de traficantes, surrou a ex-mulher. Anda armado. Entre uma injeção e
outra de cocaína - foram quatro ao total, num espaço de cinco horas -, Abrão
recebeu VEJA em sua casa para uma entrevista. Ele é contra a legalização das
drogas. Os viciados consumiriam mais, argumenta. A seguir, os principais trechos
de seu depoimento:

“Estou para lá de Bagdá. Sob o efeito das drogas não sou uma pessoa
feliz. Me sinto culpado de usá-las. Minha vida está muito ruim. As drogas me
afastaram do trabalho e da família. Virei uma pessoa sem escrúpulos. Por
exemplo: digamos que tenho só 10 reais no bolso e minha ex-mulher, a atriz
Grace Gianoukas, telefona dizendo que precisa de dinheiro para comprar leite
para o nosso filho de 4 anos, o Nicolas. Bem, se eu precisar comprar uma dose

(*)
"Prevenção de Drogas" - Dr. Roberto Wusthof - Ed. Brasi-
liense
(3)
Extraído da Revista VEJA de 01/fev/1995
9

para mim, eu não dou a grana para o Nicolas, com certeza. E é certeza. É
certeza. Não é uma dúvida.
Aos 15 anos, eu já fumava maconha e cheirava cocaína. Nessa época,
numa certa noite, quando cheguei em casa, fui intimado por meu pai. “Você fuma
maconha?”, ele me perguntou. Não tive como negar. Começamos a discutir. Na
manhã seguinte, fui mandado embora de casa. “Quando uma das laranjas do
saco é podre, a gente tira, para não estragar as outras”, foi o que ouvi. As outras
laranjas eram meus dois irmãos. Reconciliamo-nos muitos anos depois, quando
comecei a trabalhar na Zorba como assistente de marketing. Trabalhava muito.
Porque o viciado é um sujeito compulsivo. Tudo vira vício na vida dele. Todas as
mulheres de minha vida, por exemplo, foram obsessão. Nessa época, criei o
famoso passarinho da Zorba, aquele que fez sucesso nas campanhas
publicitárias.
Mas aos 26 anos, decidi parar de trabalhar. Virei ro-queiro. Montei um
grupo, o Abrão e os Lincolns. Mas, apesar de o som ser do barulho, não
emplacamos. Sem dinheiro, precisava roubar para conseguir comprar a droga.
Comecei a vender tudo o que tinha na casa de meu pai, à revelia dele. Televisão,
esse tipo de coisa. Até o dia que os tiras da Policia Civil me pegaram. Tinha
comprado 5 gramas de cocaina e estava louquinho para aplicar. De cara, assumi
que era viciado. Levaram-me à delegacia. Foi traumatizante. Queriam saber de
onde vinha aquela mercadoria. Começaram a me ameaçar. Deram uns socos na
minha cara. Me deixaram pelado. Fui parar no xadrez. Foi nojento. Um lugar que
fedia a xixi, com ratos embaixo do cano. Achei um absurdo. Rasparam meu
cabelo dizendo que eu parecia mulher. Rasparam até minhas sobrancelhas.
Péssimos dias. O sol mal penetrava na cela. Ficava fazendo exercícios. Também
meditava, fazia ioga, o que motivo de piada entre os carcereiros. Ioga naquele
chão nojento, nem Buda seria capaz! Saí de lá no terceiro dia, cheio de piolho e
com umas perebas no corpo. Tive de me depilar todo. Saí aliviadíssimo, porque
reconquistara a liberdade. A prisão me fez perceber que estou mesmo fora da
realidade. O futuro do viciado é a morte ou a loucura total”.

A devastação que as drogas causam no cérebro(3)

“As drogas agem na parte mais delicada do cérebro humano, o mecanismo


de transmissão dos impulsos nervosos. O cérebro tem por bilhões de células, os
neurônios, que comunicando-se entre si geram as sensações, o pensamento ou a
ação. Essa comunicação só acontece graças a substâncias químicas conhecidas
por neuro-transmissores. É aí que as drogas chegam para atrapalhar. Interagindo
como os neuro-transmissores, tornam imprecisas as mensagens entre os
neurônios. É o fim de uma harmoniosa ciranda de impulsos nervosos. Elas podem
estimular o sistema nervoso central, como a cocaína, a cafeína ou a nicotina.
Deprimi-lo, como o álcool ou a heroína. Perturbá-lo, como a maconha ou o ácido
lisérgico. Fica-se eufórico, inapetente ou insone. Vêem-se coisas. Ouvem-se
sons. Dependendo do tipo de droga, da quantidade usada e do tempo de uso,
variam os malefícios. A cocaína é a que mais rapidamente devasta o usuário.
Bastam alguns meses ou mesmo semanas para que ela cause um
emagrecimento profundo, insônia, lesão da mucosa nasal e maior suscetibilidade
a convulsões. Ao longo dos anos, porém, os efeitos destrutivos do álcool são mais
graves e numerosos. Entre eles estão gastrite, hipertensão, pancreatite,
miocardite, hepatite e cirrose. Retrato dessa tragédia são as clínicas brasileiras. A

(3)
Revista VEJA - 01/fev/95
10

média de idade das pessoas que procuram ajuda contra bebida é de 35 anos.
Contra a cocaína, 20 anos. Curiosamente, a heroína, que está entrando agora no
mercado brasileiro, é o entorpecente que apresenta o menor risco de doenças
decorrentes do uso crônico. No máximo, contam-se a constipação intestinal e
alguns espasmos das vias biliares. A heroína vicia muito rapidamente, gera uma
grave síndrome de abstinência, e é a que relativamente mais mata por overdose,
seguida de perto pela cocaína. A dose letal da maconha, em contrapartida, é
absurda. Para morrer, o sujeito teria de fumar 50 quilos de maconha por minuto
durante quinze minutos. O principal problema da maconha é que causa câncer,
como o tabaco, e afeta a memória.
11

Drogas psicotrópicas: O que são e como atuam(9)

“Impropriamente chamadas de tóxicos - já que qualquer substância pode


vir a ser tóxica - as drogas psicoativas ou psicotrópicas atuam principalmente no
cérebro (sistema nervoso central). Deriva daí a denominação psicotrópico:
tropismo ou atração pela mente. Produzem alterações psicológicas cuja qualidade
e intensidade vão variar principalmente com o tipo e quantidade de droga.
Vamos tomar, por exemplo, os efeitos que a maconha e a cocaína
causam no organismo humano:

(a) A ingestão aguda de maconha leva um aumento de freqüência dos


batimentos do coração, que só vai representar problema para quem
eventualmente já tenha problemas cardíacos. Ingerida constantemente, a
maconha pode levar à alteração do nível de testosterona circulante, com
conseqüente diminuição no número de espermatozóides no líquido seminal. É, no
entanto, importante ressaltar que esse efeito é reversível, voltando os valores ao
normal após a interrupção do seu uso. Usada cronicamente, a maconha parece
também interferir na memória e, conseqüentemente, com a capacidade de
aprendizagem. Apatia é outra condição geralmente associada ao uso crônico da
maconha. Uma afirmativa muito freqüente nas discussões que se travam sobre o
uso de drogas psicotrópicas é que o álcool e o fumo são mais maléficos do que a
maconha. O que se sabe é que o tabaco prejudica o aparelho circulatório e
aumenta a probabilidade de câncer. Mas isto não significa que a maconha não
possa também ter esse efeito. Ainda não existem estudos suficientes sobre o uso
regular da maconha que permitam descartar essa possibilidade. Sendo a
maconha uma droga de uso ilegal, muito dificilmente se conseguirão dados
confiáveis onde as pessoas irão dizer por quanto tempo fumam e quanto fumam
(é necessário um número muito grande de pessoas estudadas para se chegar a
conclusões válidas). (...) Em relação ao álcool, a comparação com a maconha só
seria justa se ela fosse consumida na mesma quantidade e intensidade com que
o são as bebidas alcoólicas. É até possível que a maconha seja menos
prejudicial, mas no momento tal afirmativa é no mínimo prematura.

(b) Os efeitos mais comuns após o uso de cocaína são a perda da fome e
do sono, acompanhada de euforia, sensação de bem-estar e de aumento de
energia. Doses maiores podem levar à excitação sexual. Também a uma
irritabilidade intensa, o que possivelmente explica a associação entre o uso de
cocaína e violência. Os sintomas físicos que aparecem concomitantemente são
aumento dos batimentos cardíacos, dilatação da pupila, aumento da temperatura
corporal, suor e palidez. A sensação de intenso bem-estar é fugaz. Desaparece
rapidamente e sobrevêm a apatia, tristeza e ansiedade, o que por sua vez é
revertida por uma nova dose de cocaína. É fácil entender porque ela é
considerada como uma das drogas com maior potencial para produzir
dependência psicológica. O uso contínuo de cocaína leva a problemas
psicológicos bastante sérios, como idéias de perseguição, irritabilidade intensa e
alucinações. Obviamente, essas alterações podem comprometer toda a vida de
relação da pessoa.”

(9)
"O que é Toxicomania" - Dra Jandira Masur - Ed. Brasiliense
12

Cresce o número de jovens dependentes de crack(5)

O consumo de crack - mistura de pasta de cocaína com bicarbonato de


sódio - antigamente restrito a menores de rua de São Mateus, no extremo leste de
São Paulo, se alastrou. Hoje o crack já invadiu as classes alta e média de São
Paulo e é a droga que apresenta maior número de casos de dependência da
cidade.
Segundo o Departamento Estadual de Narcóticos (Denarc), o número de
encaminhamentos para tratamento por uso de crack aumentou cerca de 20% no
ano de 1993 (com relação a 1992). No total foram 223 casos, dos quais 81
envolvendo jovens entre 16 e 18 anos. Só nos dois primeiros meses deste ano o
Denarc apreendeu uma quantidade de cocaína equivalente ao total do primeiro
quadrimestre de l993.
O crack também é a maior preocupação da Delegacia de Investigação
sobre Crimes contra a Criança e o Adolescente. Segundo a delegada titular,
Elisabete Ferreira Sato, em 50% dos casos investigados - as vítimas estavam
envolvidas com a droga.
“A droga está hoje em ‘ascensão social’, já é parte dos costumes da classe
alta paulista”, afirma Alberto Corazza, delegado titular da Divisão de Prevenção e
Educação (Dipe) do Denarc.
Uma amostra disto é o aumento de dependentes de crack em clínicas
particulares, com alto custo de internação - o plano mais barato na Comunidade
Terapêutica Maxwell, em Atibaia-SP, sai por US$ 2.800 por mês.
Segundo Corazza, o perfil do consumidor de crack é dividido. Ele é um
adolescente ou um profissional “bem estabelecido”, com mais de 30 anos. “A
droga hoje é consumida nos extremos da sociedade, tanto na classe mais baixa
como nas esferas da classe A”, diz.
A zona leste de São Paulo continua sendo o maior foco de origem dos
usuários de drogas que procuram o Denarc (um total de 537 casos no ano
passado), além de ter a maior incidência de crimes, segundo Elisabete Sato.
Outra característica do crack é que normalmente ele é feito do que
profissionais da área chamam de “escalada”. “Nunca vi chegar aqui nenhum
paciente que tivesse começado no crack”, diz Flávia Garcia de Macedo, psicóloga
e coordenadora da equipe técnica da Maxwell.
Experimentar crack já é um risco grande demais. Além da droga ser ilegal,
oito em cada dez “experimentadores” se tornam dependentes. Marcelo (nome
fictício), 23 anos, dependente em tratamento há 14 meses na Maxwell e já pronto
para sair pela segunda vez - na primeira teve uma recaída -, concorda: ”Ninguém
tem controle com crack. A fissura é muito violenta”.

Crack: o vício é imediato(5)

O crack é resultado da mistura do bicarbonato de sódio com pasta de


cocaína. O produto final é uma pedra insolúvel em água que por isso é fumada
em cachimbos ou até em copos plásticos utilizados como tal. Outra forma de
consumo que vem crescendo entre os jovens é colocar a pedra de crack no
cigarro de maconha.
O crack atualmente é a droga que mais preocupa os especialistas. Flávia
Macedo, psicóloga do Instituto Maxwell, admite que ele cause dependência de
(5)
"Folha de São Paulo - 07/março/1994
13

forma mais imediata, mas avisa que o processo é inevitável com qualquer droga.
“Todas são perigosas. Só que o crack é mais barato, além de ser consumido por
uma população mais jovem em quantidades muito maiores”.
A delegada Elisabete Sato diz ter “preocupação social” com a questão do
crack. Segundo suas pesquisas, na maioria dos casos as vítimas vêm de famílias
desetruturadas e elegem a droga como sua válvula de escape. Alberto Corazza
completa: “O crack dá um ‘prazer de Cinderela’ - depois o mundo vira uma
abóbora.”

Terapia exige esforço: Abandonar o crack não é fácil. Como em qualquer


outro caso de dependência, o tratamento significa abstinência total, de forma
definitiva. “Saí daqui achando que estava bom. Cheguei lá fora e não agüentei.
Agora eu sei que essa briga é para a vida toda”, diz Marcelo (todos os nomes de
dependentes são fictícios). “O crack é o demônio”, diz Felipe, um paciente da
Maxwell de 18 anos. “Fumo maconha desde os dez anos, mas o crack acabou
comigo”. Para agüentar a ‘fissura’ (vontade de usar a droga) ele toca violão,
escreve muito e faz exercícios. Ex-nadador, Alexandre, 16 anos, está na fase final
de tratamento na Maxwell e pretende voltar a competir, trabalhar e estudar. “O
crack foi minha gota d’água, fui para o fundo do poço”. Antes de aceitar de vez o
tratamento, ele fugiu várias vezes, chegando a fazer a pé metade do caminho de
Atibaia ao Centro de São Paulo. “Meu pai morreu e ninguém me convence que a
culpa não foi minha”, conta, explicando por que finalmente mudou de idéia.

As perversas pedras de pó(6)

Em São Paulo o crack alucina quem o fuma, quem o vê e quem o combate


pensando em guerra às drogas.
O negro Baralhão está com 55 quilos, mas já teve 62. Tem 39 anos, mas
parece ter 50. Sentado num canto de calçada do centro de São Paulo, pega no
bolso da calça o cachimbo e uma pedrinha parecida com lasca de queijo
parmesão. (...) Baralhão pega um isqueiro, aquece a pedra e aspira fundo. Em
menos de quinze segundos a cocaína chega ao seu cérebro e provoca uma forte
constrição dos vasos. Tuiiiiinnnn. É a Luz, o Relâmpago, o Estalo. Seus olhos
vidram, desliga-se. Coisa de um segundo. Baralhão move-se nervoso. Como se
um comando ex-terno ligasse ao mesmo tempo todas as conexões elétricas de
um arranha-céu, da torradeira dos elevadores, a droga ordena a liberação de
dopamina, o mais poderoso excitante do organismo. Num edifício, tamanha
sobrecarga queima os fusíveis e desliga o sistema. No cérebro as células
protegem-se capturando de volta o excesso de dopamina, mas no de Baralhão a
cocaína desligou essa válvula. Cada tragada é um novo estímulo, mas Tuin só na
primeira. São dez minutos de êxtase. Absorvida a dose, falta dopamina nos
circuitos e onde houve luz e movimento, há silêncio e escuridão. É a nóia. (...)
Nóia vem de paranóia. Nela sucedem-se alguns minutos de alucinações (calçadas
cravejadas de pedras, policiais entrando pelas janelas do décimo andar, baratas
andando debaixo da pele) e a depressão provocada pela falta de dopamina nos
circuitos químicos do cérebro. Ou a pessoa espera algumas horas e o sistema
nervoso se reequilibra, ou queima outra pedra, estimula uma nova descarga e
ascende de novo o edifício. Minutos depois ele se apaga. Nova nóia. Isso dura
dias, até que, por mais pedras que restem, o cérebro já não tem mais dopamina.
(...)

(6)
"Revista VEJA - 04/maio/1994
14

Ou o viciado larga a pedra ou troca de classe, para pior. Três versões do


colapso do craqueiro:

(1) A do policial Alberto Corazza, dirigente do Denarc:

“O sujeito começa a fumar mantendo os valores e os hábitos da classe


média, mas a droga toma conta da vida dele. Em pouco tempo, ele vira marginal.
Rouba em casa para comprar a droga.”

(2) A do traficante Wesley, 17 anos:

“Tem sujeito que tem emprego e trabalha certo. Começa a fumar no fim de
semana, depois de cuidar de todas as ‘responsas’. Depois começa a fumar de
noite. Em quatro ou cinco meses ‘descabela’ e larga a ‘responsa’. Vi pouca gente
largar a pedra.”

(3) A do ex-usuário Rogério, 40 anos, dez de profissão liberal, sentado num


bar da classe média bonita de São Paulo:

“Eu fumava maconha desde os 18 anos. Fiquei desempregado em maio do


ano passado e em agosto um amigo mostrou uma pedra. Fumei e disse: “É isso
que eu quero”. Dias depois fui buscar maconha e comprei três. Com três eu
passava o dia sem pensar em emprego. Em setembro estava 4 quilos mais
magro.Em outubro eu vendi o relógio e pipei três dias seguidos. Dias depois tive
uma crise respiratória. Em novembro vendi a tele-visão, o rádio e algumas roupas.
Passava o dia trancado e só comia frutas, leite, mel e aveia. Eu era respeitado na
boca. Tinha crédito. Na nóia, achei que morreria na rua e a família descobriria
tudo. Guardava as pedras atrás de uma tomada. Um dia tinha gente em casa, saí
com tudo em cima, subi numa árvore e fumei das 3 às 9 horas da noite. No fim do
mês tinha perdido 12 quilos, dormia de olhos abertos e sentia dificuldades em
mexer os pés. Em dezembro fiquei sem dinheiro, as pernas perderam a
sensibilidade abaixo da canela. Era parar ou morrer. Fumei mais duas vezes,
joguei tudo fora e fui ao Hospital das Clínicas. Estava com o sistema nervoso
devastado. Consegui emprego há um mês, vou para a cama às 10 horas, levanto
às 6 e faço quatro horas de ginástica. Se o sujeito não tem formação, não sai. E,
se tem e não o ajudam, também fica.”

Governo pode autorizar o uso médico da maconha(7)

Quem só esperava ouvir elogios à maconha a partir de órfãos da cultura


hippie se surpreendeu. A maior autoridade sanitária do Brasil, o pesquisador
paulista Elisaldo Carlini, professor do departamento de psicobiologia da
Universidade Federal de São Paulo, enalteceu os efeitos curativos da droga em
plena Câmara dos Deputados.
O Secretário nacional de Vigilância Sanitária revelou que o Ministério da
Saúde analisa a possibilidade de liberar para fins terapêuticos o principio ativo da
maconha - o tetraidrocanabinol, ou THC.
A defesa oficial do alucinógeno aconteceu durante o seminário
“Descriminalização das drogas: sim ou não?”. Carlini mostrou que, em
determinados tratamentos médicos, o THC pode ajudar os pacientes. “O THC se

(7)
"Revista VEJA - 7/junho/1995
15

revelou uma das substâncias mais potentes para prevenir a náusea e o vômito
causados pelo tratamento quimioterápico em pacientes com câncer”, diz Carlini.
Há apenas outro uso médico recomendado para o THC hoje em dia. Essa
substância é capaz de diminuir a pressão do líquido do globo ocular, o que ajuda
no tratamento de glaucoma.
Até o inicio deste século, a maconha era empregada, mês no Brasil, no
tratamento de pessoas com asma, que, atual-mente, já dispõe de medicamentos
bem mais eficazes. Naquela época, quando separar a medicina do curandeirismo
era ainda mais difícil do que agora, a droga chegou a ser vendida com uma
espécie de maravilhosa curativa. Dizia-se, por exemplo, que, por deixar o usuário
“chapada”, era útil no combate à insônia. A rainha Vitória usava maconha para se
livrar de cólicas menstruais. Entre 1842 a 1900, a erva respondia por metade do
receituário médico prescrito nos Estados Unidos, o que serve para demonstrar
como eram poucas as alternativas disponíveis nas farmácias para a maioria das
doenças.
Desde 1991 a Organização Mundial de Saúde, OMS, reconheceu que a
maconha é mesmo um medicamente eficiente em casos bem específicos, embora
saliente que a substância pode levar à dependência. A morfina, largamente usada
para minorar os sofrimentos de pacientes de câncer, por exemplo, faz parte da
mesma lista.
Se o THC vier a ser transformado em remédio no Brasil, os pacientes de
câncer não fumarão a erva. A droga virá embalada em cápsulas gelatinosas e só
será vendida mediante re-tenção de receita. É assim que ocorre nos Estados
Unidos e no Canadá, onde já é comercializada sob os nomes de Marinol e
Nabilone.
O governo americano controla fazendas de cultivo de Cannabis sativa
(planta de maconha) no Estado de Mississipi, de onde se retira o THC para a
produção do Marinol.

Dependentes de droga têm tratamento comunitário(8)

O tratamento em saúde mental e dependência química sofre um grande


preconceito em razão de um conjunto de esteriótipos negativos criados ao seu
redor. Identificar no alcoolismo e na dependência química, deformações de
caráter e não doenças tratáveis, como realmente o são, é algo comum, assim
como confundir o atendimento psiquiátrico com a aura repressiva dos velhos
manicômios.
Para demonstrar que é possível enterrar essas imagens do passado, a
Comunidade Terapêutica Doutor Bezerra de Menezes, localizada no Jardim
Assunção, em São Bernardo do Campo (SP), propõe uma alternativa capaz de
valorizar a capacidade criativa, produtiva e de relacionamento das pessoas com
problemas psiquiátricos e de dependência química. Do questionamento bem
sucedido da metodologia ortodoxa da psiquiatria tradicional, surgiu o que hoje é o
principal diferencial do Bezerra em relação às outras clínicas de recuperação: o
conceito de comunidade terapêutica.
Comunidade terapêutica nada mais é que um método marcado pela
ausência de hierarquia rígida e a intensa participação do paciente no destino de
seu tratamento. O histórico de bons resultados atesta o êxito do conceito:
pacientes vivendo em regime de comunidade, assumindo posição ativa diante do

(8)
"Folha Espirita" - março/1995
16

tratamento e compartilhando com a família o processo de recuperação


apresentam, com toda certeza, maiores chances de reabilitação.
A dependência química é reconhecidamente um problema social com
graves conseqüências para o individuo, sua família e empresas.
Conceitualmente, nada mais é que uma predisposição mórbida a
desenvolver dependência a substâncias químicas: drogas, álcool e narcóticos.é
entre outras alteradoras do estado de humor. Por isso, deve ser tratada como
doença primária, crônica, progressiva e fatal.
Buscando recuperar o indivíduo física, moral e espiritualmente, o Bezerra
utiliza técnicas atuantes nos mecanismos de defesa e no sistema de auto-ilusão
do dependente químico, levando-o a reconhecer as conseqüências nocivas do
uso descontrolado de químicos. “O paciente tem que ser honesto com ele mesmo,
ser responsável por seu tratamento e, acima de tudo, ter consciência de que
depende dele a sua recuperação”, avalia João Lourenço, médico psiquiatra do
Bezerra.
Quando chega à Comunidade, o dependente passa pela avaliação de um
consultor, que é um paciente químico em recuperação e que, portanto, sabe como
ninguém avaliar se o individuo está pronto para o tratamento. Os 30 primeiros
dias, chamado por João Lourenço de UTI do dependente químico, são
extremamente importantes. Esta etapa de visa à desintoxição e recomposição das
condições orgânicas do indivíduo. Caso tenha algum problema orgânico, o
paciente é enviado a um hospital para uma avaliação e tratamento e depois
retorna ao Bezerra.
Em seguida são trabalhadas as esferas cognitiva, através de palestras
sobre a natureza da doença; afetiva, onde são formados grupos que discutem
sentimentos, realizam confrontos e se auto-ajudam a romper o bloqueio
emocional; e espiritual, quando são reformulados valores ético-morais e aplicado
o programa de 12 passos dos Alcoólatras Anônimos. “O que propomos é a
revisão dos valores, independente da religião. Às vezes acontece de a pessoa ser
espírita e ela percebe que se voltando ao Espiritismo, consegue rever mais esses
itens”, conta Lourenço.
Ao ser internado, muitas vezes o paciente passa por surtos psicóticos
constantes e, nesse caso, é encaminhado ao Departamento de Psiquiatria até
melhorar. “Isso deve ser feito porque cada dia do programa é importantíssimo.
Melhorando, ele retorna ao Departamento de Dependência Química para seguir
esse programa”, explica.
A segunda fase do tratamento é ambulatorial , que complementa a
internação. Essa etapa dura três meses, com duas sessões semanais de quatro
horas, onde o paciente acompanha palestras, participa de grupos de tarefa e de
apoio terapêutico. Após a melhora nos aspectos clínicos e a conscientização
sobre a doença, são feitos os grupos de apoio terapêutico, durante um ano.
Também é possível participar da etapa ambulatorial pacientes que se encontram
em grau de comprometimento que não justifique a internação.
O psiquiatra afirma que entre as drogas mais usadas hoje pelos
dependentes químicos estão a cocaína, maconha, crack, álcool, calmantes,
anfetaminas e moderadores de apetites. A grande maioria dos internos é
masculina. Os jovens são dependentes em menor escala do álcool e muito mais
das drogas.

Obsessão - Quanto a problemas de obsessão, Lourenço explica que,


nesses casos, nem sempre há obsessores assolando a vida do dependente
químico. Segundo ele, na maioria das vezes o indivíduo acaba tendo o que se
chama de obsessão oportunista, por ele estar entrando em uma série de
desregramentos morais éticos, em função da doença. Muitas vezes, conforme
17

disse, a pessoa já tem tendência para a dependência química e o processo


obsessivo vai desencadeando a doença. “O dependente químico sempre gosta de
arrumar um culpado para os seus problemas. Por isso, mesmo que seja um caso
de obsessão, nada dizemos. Se ele conseguir vivenciar os 12 passos dos
Alcoólatras Anônimos estará fazendo a reforma íntima, que é a proposta do
Espiritismo. Se melhorar nesse sentido, o obsessor vai acabar abandonando-o, se
for o caso”, avaliou.

Descriminalização - A descriminalização das drogas tem gerado opiniões


diversas e correntes de opinião pró e contra a idéia. Para João Lourenço, existem
duas coisas em relação à dependência química: o tratamento da doença e a
repressão ao tráfico, que considera itens completamente diferentes. Segundo ele,
quem usa drogas às vezes faz o tráfico para conseguir a droga e é um doente
também. Isso não significa que não possa responder por seus atos. “Tratamos de
doentes que querem se tratar. O problema do tráfico e liberação das drogas me
parece politico-administrativo. Acho que se houver a liberação as pessoas
começarão a usá-la mais, novos casos aparecerão, pois a doença só se
manifesta quando você tem a predisposição”, argumentou.

A Comunidade Terapêutica Bezerra de Menezes mantém convênio com


diversas empresas e, através do Departamento de Apoio e Treinamento, atende
as suas necessidades na detectação de casos de dependência química e
psiquiatria e na aplicação de programas de treinamento e prevenção, palestras
técnicas, cursos de atualização e seminários temáticos. Empresas interessadas
em visitar o Bezerra, conhecer os ser-viços do hospital ou firmar convênios,
devem fazer contato através do telefone (011) 419-6422.

A procura dos vilões(10)

“A família é o culpado número 1. Não é à toa que praticamente todos os


droga-dependentes relatam problemas em casa.
A criança mantém uma relação de dependência natural com os pais. A
partir do momento em que, já na adolescência, essa relação se torna inadequada
por esgotamento de carga afetiva, o jovem pode preferir trocá-la pela droga.
Enquanto a interdependência humana se transforma em autonomia pelo
processo natural da adolescência, a droga-dependência compromete seriamente
o desenvolvimento dessa autonomia.
Em termos de prevenção, a família tem um papel de grande
responsabilidade, pois auxilia o jovem na elaboração de seus valores e conceitos,
processo que prevê choques de opinião e conflitos.
O caráter de intimidade do relacionamento familiar, faz da família palco
ideal para a prática da argumentação, tornando o jovem mais firme em suas
posturas e convicções. Sendo a droga um problema com que se convive
atualmente, surgirá de forma espontânea e natural neste “tribunal familiar”,

(10)
"Prevenção de Drogas" - Dr. Roberto Wusthof - Ed. Bra-
siliense
18

ensejando a melhor prevenção que existe: simplesmente falar sobre o assunto,


sem sensacionalismo, pavor e preconceitos.
Os jovens que não tem a chance de dialogar em casa, percorrem um
caminho árduo e solitário na maturação de seus conceitos. Sem a segurança de
uma posição defendida pelos pais, estão muito mais vulneráveis às influências de
outros jovens ou de ídolos, com quem se identificam na procura por segurança.

Traficantes: bode expiatório predileto - Finalmente as pessoas estão se


convencendo de que a história do pipoqueiro que vende drogas na esquina do
colégio não passa de folclore. Ou, então, que o garotão ficou viciado porque
pessoas mal intencionadas misturaram drogas no refrigerante na festinha de 15
anos de sua namorada. No entanto, por mais que os fatos concretos demonstrem
que o acesso dos jovens às drogas ocorre por meio de seus próprios colegas,
existe ainda hoje uma super valorização do papel do traficante. Até um certo
ponto isso expressa um grande comodismo: transferir as responsabilidades de
problema complexo e multifatorial para um único bode expiatório. É mais fácil
para os pais condenar a organização mafiosa do tráfico, que questionar a
educação dada aos filhos. Além disso, ao se escandalizarem com a situação,
desviam a atenção de seu próprio comportamento. Muitos colégios acreditam ser
mais eficiente enfrentar as drogas com uma equipe de segurança vigiando
ostensivamente os banheiros, pátios, lanchonetes e redondezas, que promover o
debate sobre o assunto. Limitar a disponibilidade da droga não deixa de ser um
esforço válido dentro de um programa preventivo global. Deve ficar claro, no
entanto, que toda ação policial não passa de medida paliativa, já que o objetivo
principal ‚ a diminuição da demanda. Reduzir a procura da droga pelas pessoas é,
sem dúvida, solução mais efetiva, tornando supérfluo o traficante.

O prazer é cego - É ponto pacífico que as drogas dão prazer aos seus
consumidores, principalmente na fase inicial da aventura; mais tarde, quando
acaba essa ‘lua de mel’, o dependente não consegue alcançar a mesma
intensidade de prazer, intensificando e ampliando o uso da droga na esperança
de reencontrar o efeito inicial. (...) A prevenção do uso de drogas deve enfatizar
aos jovens a grande contradição ideológica implícita na drogadependência. A
maior parte dos droga-dependentes está na adolescência, em que ser criança é
babaquice e ser adulto é ‘caretice’; o mundo é visto de maneira crítica, o que é
ponto de partida de propostas novas e construtivas para a evolução dos sistema
vigente. A cabeça dos jovens nessa fase é verdadeira fábrica de idéias, com
preferência por tudo que vem colorido no tom da rebeldia. Superficialmente, a
droga expressa rebeldia por excelência, mas ao mesmo tempo, desvitaliza a
contestação na indiferença. O uso de drogas é um tremendo comodismo.
Fracassando na tentativa de nadar contra a correnteza de um rio cujo sentido
gostariam de alterar, os jovens adotam por lema a alienação. E empunham uma
bandeira falsa e vazia: “nós nos drogamos porque é bom”. É como se a droga
sussurrasse aos seus ouvidos: “eu resolvo todos os seus problemas; eu crio para
você um mundo fora da realidade, sem atritos, onde você será o rei; basta me
consumir; experimente”. O tributo exigido por este mundo de sonho e fantasia é
renúncia à liberdade. Mais cedo ou mais tarde, o drogado descobrirá que o sonho
se transformou num pesadelo.”

AIDS: pacto com a morte(10)


(10)
"Prevenção de Drogas" - Dr. Roberto Wusthof - Ed. Bra-
siliense
19

“São os usuários de drogas endovenosas que estão engrossando em


proporções assustadoras as estatísticas da AIDS, a fatal síndrome da
imunodeficiência adquirida.
Nenhum outro grupo de risco registrou um aumento tão explosivo. Todas
as tentativas de prevenção entre os droga-dependentes tem se revelado um
fracasso total. Por que?
O grupo de risco constituído pelos homossexuais conscientizou-se com
relação aos perigos da transmissão, adotando medidas profiláticas.
Enquanto isso, boa parte dos drogadependentes que se picaram mostra
indiferença, parecendo ignorar o problema, o que provoca uma visível irritação por
parte de autoridades da saúde pública. As campanhas elaboradas apelando para
a razão dos envolvidos equivalem à tentativa de passar um filme para um grupo
de cegos. Trata-se de esforço em vão.
O ponto intrigante é uma grave carência da vontade de viver. Quem não
ama a vida apresenta um comprometimento do impulso da autopreservação.
Talvez seja por isso que os drogados estejam ignorando o risco de se contaminar
com o vírus da AIDS. A doença encaixa-se perfeitamente no projeto de morte que
comanda o droga-dependente.
Prevenir a AIDS entre os drogados, no fundo, é a própria prevenção às
drogas e consiste na tentativa de transformar esse projeto de morte em projeto de
vida.
As pseudos-soluções, como a distribuição de seringas e agulhas
descartáveis, não deixam de ter a sua validade, porém, não atacam o problema
em sua essência”.

Como se transmite a AIDS através das drogas endovenosas:(11)

(1) A cocaína (ou heroína) injetada costuma ser usada em grupo. Os


usuários formam uma roda para a “sessão de pico”.

(2) A droga é diluída em água e colocada na seringa. Uma pessoa usa a


seringa para “puxar” o sangue.

(3) O sangue se mistura à droga. Se a pessoa estiver contaminada, o HIV


(vírus da AIDS) está no sangue que foi para dentro da seringa e no sangue que
ficou na agulha.

(4) A seringa é passada para outras pessoas, que vão injetar o sangue
misturado com a droga em suas veias. O sangue contendo o HIV penetra nas
veias das pessoas, que vai se contaminar.

Alcoolismo na adolescência(12)

“Abuso de álcool pode ser identificado pelas perdas. O adolescente


começa a perder a memória, a capacidade de concentração, os raciocínios
abstratos, fica com mania de perseguição e agressivo.
Se não for tratado, só vai ganhar uma coisa na idade adulta: cirrose, uma
das 350 doenças causadas ou agravadas pelo consumo abusivo de álcool.
(11)
"Folha de São Paulo - 24/abril/1995
(12)
"Folha de São Paulo - 19/março/95
20

É por causa dessas perdas que a escola vai se tornando insuportável. A


grande maioria adolescente, viciada em álcool, já repetiu de ano pelo menos uma
vez e acabaram abandonando a escola. Repete-se de ano porque o adolescente
perde a capacidade de associar.
Não há uma medida padrão para se aferir quando um jovem começa a ter
problemas com bebidas. Cada organismo absorve álcool de uma maneira e os
problemas podem aflorar com um copo de cerveja ou dez de vodka.
O melhor método para se detectar um alcoólatra em potencial, segundo os
psiquiatras, é observar seu comportamento, principalmente a agressividade e a
perda de memória.
O principal problema não é a dependência, quando o corpo exige álcool
todos os dias. É o descontrole. O adolescente já tem uma tendência a ser
impulsivo e com o álcool acha que é onipotente, que nada acontecerá com ele”.

Vejamos o depoimento da adolescente Cynthia Lorena Hansen, 20 anos,


mora em Heliodoro, sul de Minas. Seu pai é fazendeiro e alcoólatra. Ela seguiu o
pai. Só parou o vício, após cortar os dois pulsos:(12)

“Dei meu primeiro gole aos 14 anos. Não foi bem um gole. Foi um porre.
Tomei cinco copos de cuba. Foi muito rápido para mim: me acabei em seis anos.
Eu era super-insegura, me achava péssima, feia. Com álcool estava tudo
resolvido. Virava super-mulher, vinha uma sensação de grandeza, ficava linda,
inteligente.
No inicio, bebia no fim-de-semana. Tomava cerveja, cuba, uísque. Comecei
a faltar nas aulas. Na sexta-feira não ia porque saía para beber. Na segunda-feira
faltava porque tinha ressaca.
Para complicar, fui morar sozinha em Pouso Alegre (MG) com 14 anos. Só
queria fazer festa. O álcool foi o pó de pirlimpimpim.
Tomei bomba na escola, voltei a morar com os pais, mas continuava
bebendo. Enchia a cara a noite inteira e ia à escola sem dormir. Com 16 anos eu
tomava um litro de rum e muita cerveja.
Aos 17 anos, começou a dependência. Quando o bar fechava, eu ficava
desesperada, ia para a zona de prostituição. Lá os bares fechavam às 6h, 7h da
manhã.
Fazia tudo por álcool. Roubava dinheiro em casa, na pensão, vendia
minhas roupas. Roubei dois litros de uísque num hotel.
Aos 18, fui morar com um alcoólatra e comecei a beber de manhã. No fim
do ano passado bebia dois litros de uísque por dia e muita cerveja. Quando não
tinha dinheiro para uísque, tomava cachaça. Morava com um amigo que acordava
à noite para beber.
Tinha muito apagamento, não lembrava de nada. Batia o carro, passava
mal, vomitava, dizia que ia parar, mas depois sentia falta. Nunca tive tremedeira
porque bebia sempre. Tinha só dores de estômago e de garganta.
Bêbado não tem vida afetiva. Eu usava as pessoas para beber. Pensava:
“Aquele gato tem grana. Vou fazer ele pagar um uísque para mim”. Tenho medo
de ter AIDS. Fiz o teste e vou ver o resultado no próximo mês. Eu quase nunca
transava com camisinha.
Em agosto do ano passado cheguei ao fundo do poço. Tinha me separado
de um cara de 35 anos, alcoólatra. Em julho, meu pai tinha me expulsado de
casa.
Morava com uma galera e todo mundo bebia muito. Eu queria morrer e
reencarnar melhor.
(12)
"Folha de São Paulo - 19/março/95
21

Tentei o suicídio tomando Lexotan e cuba. Tomei um Lexotan e bebi umas


15 cubas. Fiquei tão bêbada que peguei a caixa de Lexotan e tomei mais nove
comprimidos. Quebrei um Presto-barba e cortei os dois pulsos. Doía muito, mas
achava que qualquer coisa era melhor do que a vida.
Espirrou sangue no espelho do banheiro, no chão, na minha roupa.
Desmaiei no quarto e meus amigos chamaram um médico.
Voltei para a casa da minha família e foi a primeira vez que eu e meu pai
conversamos. Ele falava antes, mas não adiantava: eu achava que não era
alcoólatra.
Fui internada numa clínica no dia 12 de agosto de 1994. Acho que isso é
hereditário. Meu pai, minha mãe e meus tios eram alcoólatras. Meu avô morreu
bêbado.
Passei muita vontade de beber na clínica. A irmandade segue os 12
passos dos Alcoólatras Anônimos e me salvou. Descobri que sou mais bacana
sem álcool.
Não adianta só tapar a garrafa. Estou aprendendo a viver. Troquei o álcool
por espiritualidade. Você só pára depois de muitas perdas. Perdi tudo, perdi
quase a vida”.

Escapando do vício(10)

“Julgo oportuno abordar, em pinceladas, a questão do tratamento dos


drogados.
É o momento em que se pode ressaltar a importância do apoio da família,
dos amigos e dos colegas. Afinal, aquelas que consomem drogas são gente como
a gente.
Preconceitos e rejeição só agravam uma situação problemática e delicada.
Se quisermos resgatar os amigos que se perderam no mundo das drogas e do
álcool, precisamos oferecer-lhes nossa presença e nosso apoio, de modo que
eles encontrem alguém com quem possam conversar, que os compreenda e que
lhes mostre que o caminho da felicidade não passa pelas drogas.
O primeiro passo para iniciar um tratamento é que o indivíduo admita que o
problema da dependência existe. A maior parte dos droga-dependentes, por um
distúrbio na capacidade de julgamento, acredita ser capaz de largar as drogas no
momento em que tiver vontade. Na realidade, em muitos casos, isto não passa de
uma ilusão.
Questão extremamente polêmica é se o inicio do trata-mento deve ou não
estar condicionado à vontade pessoal do dependente. O professor Claude
Olievenstein, do Centre Medi-cal Marmottan (Paris), coloca como condições
básicas para o tratamento, em sua Instituição, a voluntariedade, o anonimato e a
gratuidade.
Sem dúvida, quando o dependente procura ajuda terapêutica por decisão
própria, temos um ponto de partida mais positivo, com prognóstico provavelmente
mais promissor. Vários outros autores observam também que o próprio indivíduo,
cujo tratamento fora iniciado contra a sua vontade, mudou de opinião após alguns
dias, manifestando-se favorável ao fato de terceiros terem tomado a decisão por
ele. Isto demonstra que em geral o droga-dependente perde o senso crítico para
avaliar a própria situação.
O tratamento é feito preferencialmente em regime ambulatorial, pois
permite que durante a terapia o dependente conviva com o seu meio e, portanto
(10)
"Prevenção de Drogas" - Dr. Roberto Wusthof - Ed. Bra-
siliense
22

com os seus problemas. A internação é sinônimo de afastamento do contexto


psico-social, forçando o dependente a passar um período crítico de reintegração
após a sua volta, o que explica, em parte, a elevada reincidência no uso de
drogas. A família, quase sempre, deposita toda a esperança na internação, numa
clara fuga do problema e da responsabilidade. Justamente a participação ativa da
família é um dos fatores principais para o sucesso da recuperação.
Recomenda-se que o paciente seja abordado por uma equipe
multidisciplinar: médico psiquiatra, psicólogo, assistente social, terapeuta
ocupacional, nutricionista e enfermeira. As indicações para internação hospitalar
são, principalmente: grave síndrome de abstinência a exigir tratamento clínico,
risco iminente de suicídio e o aparecimento de quadros psicóticos. A
desintoxicação é a parte mais simples desta caminhada longa e árdua que é o
regresso das drogas. Há muitos obstáculos e abismos no caminho e as taxas de
recuperação não são propriamente animadoras.
Por essa razão, boa parte dos terapeutas que lidam com droga-
dependentes vivem em constante questionamento sobre a validade de seu
trabalho e experimenta nítida sensação de impotência. Para que sua equipe não
desanimasse, o psiquiatra paulista Wilson Roberto Gonzaga da Costa, que
admiro, sempre dizia: “um é infinita vezes maior que zero”.

“Dados da Organização Mundial da Saúde alertam que 3 milhões de pessoas


morrem por ano em conseqüência do fumo. Basta ficar perto para estar
ameaçado. Nos Estados Unidos, morrem todo o ano mais de 53 mil não fumantes
afetados pelos efeitos nocivos do cigarro. São chamados ‘fumantes passivos’. O
fumo provoca nessas pessoas doenças cardíacas, câncer no pulmão e outros
tipos de câncer. O fumo mata precocemente 50% dos fumantes. E o mais
impressionante é que mata também quem jamais colocou um cigarro na boca”.(*)

A estratégia contra a droga(4)

A adolescência, quando não bem amparada pelos pais, é acompanhada de


sofrimento, contradições e muita confusão.
O impacto que o jovem sofre quando tenta entrar no ambiente do adulto é
muito grande. Sobrevém empecilhos, atrapalhando a sua entrada na sociedade
adulta e implicando em situações desastrosas, que devem ser percebidos
precocemente e corrigidos com amor.
Frente a uma sociedade difícil, incompreensiva, às vezes hostil, o
adolescente reage, e tenta modificá-la levando em conta as sua próprias
transformações. Surgem daí conflitos cujas raízes estão nas dificuldades que
encontra em ingressar nesse mundo, somadas às dificuldades do adulto em dar
passagem a essa nova geração que lhe faz críticas e tenta mudar os seus
valores.
Existe um impulso de busca e ao mesmo tempo um temor do
desconhecido. Nessas condições, o jovem percebe que não é mais criança e
sente que o solicitam como adulto. Não consegue, de forma clara e tranqüila,
enfrentar a sua insegurança nos momentos que é colocado em evidência.
Transparece, então, a timidez, a agressividade, o desleixo, a gozação ... chega a
ser inoportuno.
(*)
Texto extraído da Campanha anti-fumo da Prefeitura de São
Paulo
(4)
Extraído da "Folha Espírita" - Março/1995
23

Sob essas condições de fragilidade, pode o jovem ser abordado por algo
que lhe deixa mais extrovertido, mais falante e que lhe promete a euforia - a
droga.
Os jornais e revistas comentam freqüentes histórias de jovens que
tropeçaram nas drogas e se deram mal. A promessa de bem-estar ‚ fugaz e
enganosa. Em pouco tempo, o viciado conhece o inferno interior, cuja porta de
saída vai se tornando cada vez mais distante.
Os governantes e a sociedade refletem: o que fazer para combater uso de
tóxicos que incapacita o jovem para a vida escolar, para a vida familiar e em
sociedade?
Muitos sugerem a legalização como solução para o drama dos usuários.
Mas legalizar o consumo de drogas corresponde a deixar à mostra medicamentos
para uma criança de 2 ou 3 anos de idade. Por um descuido dos familiares, ingere
o vidro todo de remédio e acaba num pronto socorro apresentando um quadro de
intoxicação grave. Por isso, a não proibição ao consumo de droga, propiciaria a
incapacitação física e mental de uma presa fácil - o adolescente.
A prevenção ainda é o melhor caminho. A juventude de hoje está melhor
do que em anos anteriores. É o que revelou a pesquisa publicada pelo Cebrid -
Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas - informando que
estudantes do primeiro e segundo graus entrevistados no final de 1993, quanto à
experimentação de drogas, apresentavam, em torno de 5 pontos percentuais a
menos em relação aos entrevistados de l989. A pesquisa também revelou que a
introdução de drogas começa, atualmente, na faixa dos 10 a 12 anos. Isto sugere
que a prevenção deve começar numa idade mais precoce, incluindo aulas de
esclarecimentos aos pais.
Portanto, temos que dizer não a legalização das drogas, porque nos basta
o exemplo do consumo da bebida alcoólica e do cigarro. O Cebrid confirma, por
pesquisa, que a droga mais consumida pelos jovens na atualidade é o álcool.
Entendendo o filho nas suas necessidades íntimas e introduzindo diálogos
freqüentes e princípios religiosos, encontrar-se-á na prevenção contra as drogas o
fortalecimento do jovem, mostrando ser este o meio mais digno de se educar.

A droga nos rituais religiosos

“Os efeitos psicotrópicos das drogas, rompendo as fronteiras do limitado


mundo concreto, têm fascinado os homens há séculos. O acesso a esferas
transcendentais sempre esteve garantido pelos poderes da farmacologia; as
‘viagens químicas’ encontraram amplo respaldo nos valores religiosos e culturais
das antigas civilizações. Muitos tentam justificar a atual onda de drogas como
uma continuação de seu uso no passado. Que as drogas não são nenhuma
novidade é certo, porém, seu consumo, hoje, tem conotação completamente
diferente.
Em primeiro lugar, perdeu-se o uso ritual de drogas, cujas regras limitavam
o consumo às pessoas preparadas para as experiências supra-sensoriais
(sacerdotes, por ex.)”(10)
“Cogumelos alucinógenos foram usados pelos sacerdotes do povo asteca e
ainda são usados pelos índios mexicanos em cerimônias religiosas; são
chamados de teonanacati, que significa ‘carne de deus’.Os efeitos alucinógenos
são interpretados como mensagens dos deuses. O ritual religioso como que

(10)
"Prevenção de Drogas" - Dr. Roberto Wusthof - Ed. Bra-
siliense
24

‘contém’ os efeitos da droga sobre a mente; assim contidos, os efeitos vão ter a
função social que lhes é atribuída. O individuo toma a droga não para ele, mas
para cumprir o papel para o qual foi designado pelo seu grupo. Este tem função
determinadora de onde, quanto, quando e porque a droga vai ser usada. O
significado do uso das drogas dentro dos ‘ritos de passagem’, como é a iniciação
para a vida adulta, está colocada de uma forma muito clara e bonita num diálogo
que se deu entre um etnólogo, Georg J. Sietz, e um jovem índio da tribo dos
Karauetari, aparentado culturalmente dos yanomani, que vivem na região
amazônica, em área fronteiriça entre Brasil e a Venezuela:

- Você também aspira epena?


(obs: epena é um alucinógeno)

- Não! Não posso aspirar ainda. Sou muito jovem.

- Quando você terá idade para isso?

- Não sei. Mas acho que logo.

- Quem decide a esse respeito?

- Meu pai. Ele me ensina tudo relacionado com o pó epena, e eu também


já sei o que acontecerá quando aspirar o pó.

- E o que acontece?

- Pode-se ver os hukala, os homens grandes que moram em grandes


cabanas, lá em cima (e ele aponta em direção ao céu) O pó me torna tão alto que
posso alcançá-los e falar com eles.

- E o que você quer conversar com eles?

- Posso pedir-lhes para que me ajudem nas caçadas, para que eu encontre
animais grandes. E quando aspiro epena, sinto-me forte, muito mais forte dos que
aqueles que não têm o pó “(9)

“O pediatra Luiz Alberto Chaves de Oliveira dá alguns sinais de alerta aos pais,
para saber se seu filho está usando drogas. Desconfie se o adolescente mudar de
atitude de repente. O isolamento (longos períodos trancados no quarto), queda do
rendimento escolar, mudança de sono e no apetite podem ser sintomas. O uso de
crack e cocaína leva a um emagrecimento. Já a maconha aumenta a fome,
principalmente por doces. A principal indicação, de que seu filho pode ser um
viciado em drogas, é a brusca variação no humor, afetada por crises de irritação,
intolerância e agressividade. Mesmo com esses indícios, não se precipite em tirar
conclusões apressadas: consulte antes um especialista.”(*)

(9)
"O que é Toxicomania" - Dra Jandira Masur - Ed. Brasi-
liense.
(*)
"Folha de São Paulo" - 18/junho/95
25

Desencarne por overdose(13)

CASO (1):

“Ao nos aproximarmos de uma casa, ouvimos terrível barulho, as luzes


acendiam e apagavam, parecia o primeiro umbral. Na porta, uma guarda de
espíritos mal encarados. Os Lanceiros se acercaram deles para que nós
entrássemos. Jovens, de boas famílias, eram os freqüentadores daquele local.
Deitados no chão, muitos deles usavam o corpo das garotas para aspirar o pó,
uma verdadeira orgia. Todos nós prestávamos auxílio, dispersando os fluidos
pesados daquele grupo, quando percebemos uma garota de seus 18 anos
debatendo-se em convulsões; os médicos dela se acercavam mas, ao tentarem
socorrê-la, ela foi presa pela organização das trevas que, como loucos, se
apossaram do corpo da jovem. Na nossa frente, espíritos trevosos apossavam-se
dos seus fluidos vitais e arrebentavam as ligações dos seus corpos. Seu espírito,
dementado, jogava para lá e para cá o corpo que se debatia entre a vida e a
morte.
Quis correr para junto de Suzane, mas fui contido por Rayto que alertou:

- Lembre-se de que estamos aqui para ver como ocorrem os desencarnes


forçados. Já estivemos no Vale, onde uma organização vive como se encarnada
fosse.

- Mas vamos deixar esta menina ser vampirizada?

- Sim, respondeu-me.

- Não compreendo...

- Compreende sim, estamos aqui estudando um meio de destruir esta


organização.

Calei-me apavorado. Ninguém pode imaginar o que seja um desencarne


por overdose. A língua estava para fora e daquela boca adolescente vários
vampiros se aproveitavam das emanações dos tóxicos. A agonia da jovem durou
cerca de quatro horas. Alguns espíritos trevosos que não aspiravam o corpo
faziam o serviço de desencarne de maneira bastante precária.
Enquanto os encarnados lentamente tentavam tirá-la dali, a equipe trevosa
apoderou-se dos corpos físicos, duplo etérico e perispiritual. E a jovem, que
deixara de viver na matéria, encontrava-se em estado desesperador na
espiritualidade, porque mesmo “pirada”, tinha relances da realidade que estava
vivendo. Aquela equipe tentava usar as energias dos chacras; primeiro a ser
visitado pelas mãos ávidas dos trevosos foi o coronário. No cérebro, eles
buscavam a substância cinzenta e ali encontraram grandes concentrações de
corpos, os neurônios. Notamos que eles usaram a substância branca, esta eles
(13)
"Driblando a dor" - de Luiz Sérgio através de Irene Pacheco
Machado
26

separaram. Na cinzenta está a sede das atividades intelectuais e sensoriais da


pessoa. Utilizando-se de aparelhos, eles trabalhavam nos corpos da menina. Nós
apenas observávamos. Confesso que já me encontrava nervoso.
Enquanto isso, o corpo físico da garota esperava que seus colegas lhe
dessem um fim. Na parte espiritual, uma equipe trevosa lhe sugava as energias
chegando até a medula espinhal. Vimos a sede dos reflexos mais simples, e
órgão de passagem das impressões, que estão indo da periferia aos centros
nervosos, e das ordens motoras que partem dos centros cerebrais e que estão
indo aos músculos. E ali, na primeira e na segunda vértebras lombares, eles
buscavam um líquido que guardavam com cuidado.
Os corpos da jovem eram analisados pela equipe trevosa e a garota, em
pânico gritava muito.
Quando percebemos, eles já estavam trabalhando no chacra básico. Esse
chacra apresentava a cor rosa-alaranjadoa e ali eles buscavam algo, que não
encontraram, isso se denotava por suas fisionomias fechadas. Quando iam
buscar outras energias, Sara, com o seu aparelho, interferiu no deles, o que fez
com que desconfiassem. Olharam ao redor, mas mesmo assim levaram o espírito
de Suzane, enquanto os jovens se livraram do corpo físico, jogando-o num lugar
sombrio. Nós seguimos a equipe protegida pela Espiritualidade superior, que nos
tornou invisíveis aos olhos deles.
E assim voltamos ao Vale, onde testemunhamos o que espera um viciado
em tóxicos. Entramos, não pelo portão principal, mas sim por outro local somente
do conhecimento da equipe da Espiritualidade superior. Estávamos agora em um
quarto, que mais parecia uma sala cirúrgica, com vários aparelhos; a garota foi
colocada na mesa. Na hora em que isto ocorreu, buscamos o corpo físico e
estava sendo devorado por outros espíritos, que nele bebiam o tóxico, o coquetel
de drogas. Mesmo no Vale, ela sentia a profanação do seu corpo e gritava
desesperadamente.
De repente, vimos entrar o chefe; devia ser um técnico, pois era
conhecedor do assunto. Foi direto na corrente sanguínea e retirou tudo o que
desejava.

- O que faremos com ela? perguntaram.

- Deixe-a aí, talvez eu precise dela.

Risadas soaram. Só o nosso grupo desejava chorar. Não é fácil presenciar


o que presenciamos.

- Como é possível isto acontecer, Enoque? Por que não fazemos alguma
coisa?

- Simplesmente porque, para salvar muitos, temos que conhecer melhor


este lugar.

- Mas, coitada, nas mãos desses loucos ela vai sofrer demais. Nada
podemos fazer, então?

- Nada, por agora. Olhe a ficha dessa garota: Suzane aos 12 anos: a
primeira experiência sexual; aos 14 anos: o primeiro aborto; aos 15 anos: o
segundo aborto; conhecedora de maconha desde os 10 anos, consumidora de
coca, pico e comprimidos desde os 13 anos. Iniciadora de várias colegas. Agrediu
a mãe com 17 anos, quebrando-lhe o braço. O pai sofreu enfarte, porque Suzane
27

foi presa por furto. Tentou viciar o irmão de 9 anos. Tentou estrangular a avó,
porque não lhe deu dinheiro ...

- Chega! falei. Mas mesmo assim gostaria de ajudá-la.

- Vamos sim, Sérgio, mas não agora.

- O que quis dizer o chefe, que pode precisar da menina?

- Para satisfazer os seus instintos sexuais.

- O que? Isso não, então não podemos deixá-la aqui!

- Sossegue. Por enquanto estamos só acompanhando o caso, logo


estaremos prestando ajuda.”

CASO (2):

“ (...) Nisso, Marquinho caiu em convulsão. (...)E foi nesse momento que
entrou a equipe trevosa. Ouvi um deles dizer:

- Estênio, o cara está mais que doidão, está completa-mente louco!

O chefe daquele grupo colocou as mãos sobre a fronte do moribundo,


revigorando os lobos frontais e acelerando o chacra coronário, buscando o
comando das forças do duplo etérico, que interliga o perispírito com o corpo físico.
Em seguida, regulou cada centro de força Eu me desesperei, porque o nosso
grupo não entrava em ação. Notei que Sara filmava a cena e tentei concentrar-me
para melhor compreender aquela situação. A operação foi feita no perispírito, mas
mesmo assim os chacras do duplo e do físico também foram tocados pelos
irmãos da equipe trevosa. Em desencarnes normais, é nesse instante que o
Espírito se eleva até a massa fluídica e é desprendida da matéria. Com esse
irmão o fato se deu ao contrário: presenciamos uma nuvem escura e lodosa
envolver o espírito, que desencarnava completamente atordoado. Notamos que a
equipe não lhe dava passes, talvez por não conhecer profundamente a ação
magnética. Esse grupo me pareceu desejar ativar o sistema nervoso, enquanto
uma equipe socorrista do Departamento de Desencarne normalmente isola todo o
sistema nervoso, oferecendo magnetismo espiritual, que dispersa o magnetismo
dos centros de força, separando as partes elétricas. Nesse caso, deu-se o
inverso: os trevosos ativaram os chacras e atuaram à altura de cada um deles,
como se desejando reviver os movimentos físicos, por parte do moribundo,
ansiosos por tê-lo desperto.

- Carlos, esclarece-me uma coisa: sabemos que nas mortes violentas e nos
suicídios, os técnicos da espiritualidade socorrem depois da morte física, e aqui o
físico ainda vive, mas essa equipe já está desligando os centros de força. Por
que?
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- Preste bastante atenção, Luiz Sérgio, e saberá porque eles procuram


esses corpos.

Vi, então, os espíritos trevosos buscarem no abdômen um líquido leitoso


que saía do umbigo do corpo físico e corria para o perispírito, mas ao invés do
perispírito, um dos espíritos da equipe se colava na frente e era ele quem
absorvia a substância. O perispírito do moribundo juntou-se ao físico em vez de
deixá-lo. Sentimos que aquele jovem iría presenciar até mesmo a decomposição
do seu corpo físico. Enquanto isso, os trevosos tiravam todas as energias dos
corpos e o jovem gritava, asfixiado.”

“Recordei-me de uma aula sobre a destruição do corpo etéreo. A grandeza


divina concede ao Espírito uma veste semi-material, feita do fluido universal, e
esta veste, se bem tratada, permite que voltemos bem vestidos para o mundo
espiritual, mas se a destruímos, voltaremos com ela em farrapos. Quantos
Espíritos destroem o seu laço fluídico, que nada mais é do que uma expansão do
seu perispírito, através do suicídio consciente ou inconsciente! O perispírito
também se renova, se aprimora, atendendo à evolução, mas igualmente é
destruído, quando não temos uma vida digna. Ele vai ficando remendado, isto é,
enfraquecido, e até se deforma.”(13)

Tratamento do drogado(13)

“O tratamento do drogado não é um tratamento médico no sentido estrito


do termo, tão pouco a dependência de drogas uma doença.
Temos de buscar as causas, os motivos que levaram o jovem a consumir
tóxico.
O tratamento deve ser feito por bons profissionais e os pais de um
dependente devem ir, a seu turno, ao fundo do poço para salvar seu filho.
Desejar que o tempo resolva ‚ descaso e talvez o tempo seja curto para a
salvação.
Um grama de tóxico no organismo é morte certa das células nervosas.
A família deve viver alerta, pois seu filho pode estar sendo usuário do
tóxico e nesse estágio é bom você lhe estender as mãos.
Por isso, devemos tratar um toxicômano, ou simples usuário, com a ajuda
da Psicanálise.
Muitas vezes a família deseja que o psicólogo opere milagres, mas não
contribui para a cura do viciado. Uma família sã é mais fácil de cooperar com o
profissional, mas muitas vezes o psicólogo tem de curar antes a família para
depois chegar ao individuo drogado.
Muitos pais demoram a aceitar a dependência, o vício, e para salvar o filho
iniciam com as agressões. Em protesto, o filho agride e é cada vez mais agredido.
A família, quando se deparar com filhos problemáticos, deverá não só
buscar apoio profissional, mas também se auto-analisar, porque na maioria das
vezes o erro vem da educação do individuo. O psicanalista tem de buscar a causa

(13)
"Driblando a dor" - Luiz Sérgio - através de Irene Pacheco
Machado
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"Driblando a dor" - de Luiz Sérgio através de Irene Pacheco
Machado
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nas raízes profundas da alma. Se um dependente de droga desejar agredir a


sociedade, esta agressão não é gratuita.
Quem descobrir que seu filho é viciado, tudo deve fazer para mudar o
ambiente familiar. O pai tem de voltar a ser o herói da época infantil, a mãe o
ninho de amor que o aconchega nas horas de tormenta. Se não for assim, o filho
viverá distante da sociedade e a família sentirá ainda mais a sua ausência.

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