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JOAN MARTINEZ-ALIER
b 18 DE FEVEREIRO DE 2020 - 00:30
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O movimento global de justiça ambiental e o EJAtlas - CartaCapital
O Atlas de Justiça Ambiental (www.ejatlas.org), co-dirigido por Leah Temper e por mim,
coordenado por Daniela Del Bene, é financiado por uma subvenção da European Research
Council ao projeto “EnvJustice” no ICTA UAB. Atingiu mais de três mil fichas em janeiro
de 2020, permitindo avanços no estudo da Ecologia Política Comparada. Começou seu
caminho público em 2014 com 920 casos. Mais de cem pessoas (remuneradas ou voluntárias)
contribuíram com fichas para o EJAtlas que, antes de serem publicadas, são checadas
cuidadosamente. Essas três mil fichas do catálogo representam uma amostra bastante grande
fornecida por estudantes universitários ou ativistas em um total de conflitos ambientais que
ninguém sabia o que poderia ser, de dezenas ou de milhares, ao redor do mundo.
As fichas do atlas estão em acesso aberto e cada uma tem 5 ou 6 páginas com uma descrição
do conflito, as fontes de informação e diversas variáveis codificadas (os impactos visíveis ou
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Podem-se fazer análises por países ou regiões, como Raquel Neyra em sua tese de doutorado
de 2019 na Universidad de Zaragoza sobre mais de 80 conflitos ambientais no Peru. Ou a
análise detalhada do metabolismo social dos países andinos e sua relação com 300 conflitos
ambientais, por Mario A. Pérez Rincón e outros. Ou o artigo de Lucrecia Wagner e Mariana
Walter com casos do EJAtlas, apresentado em um workshop sobre indústrias extrativas em
Oxford em Dezembro de 2019 com o título “Mining Struggles in Argentina: Analysis of a
Successful Story of Mobilization”, ou o de Emiliano Terán sobre conflitos socioambientais
na Venezuela tanto ao Norte quanto ao Sul de Orinoco.
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Utilizando a função de Filtro, disponível para qualquer leitor, comprovamos (nos 3000 casos
do EJAtlas) que em cerca de 375 a morte de um ou mais defensores ambientais é relatada
(12% dos casos). Em quase 500 casos é relatado um sucesso na justiça ambiental, geralmente
conflitos em que os projetos são cancelados. Se não houvesse alguns sucessos, não
poderíamos falar de um movimiento global de justiça ambiental. Nem todos os países se
comportam igualmente. No México, de 109 conflitos relatados (até Janeiro de 2020), a
pocentagem de sucessos em obter justiça ambiental é similar a média mundial, porém os
casos com com um ou mais ativistas falecidos são 22, ou seja, 20%. No Peru, dos 93 casos
relatados, 19 são clasificados como sucessos da justiça ambiental, e em 27 há um ou mais
ativistas falecidos (muito acima da média mundial). (Análisis y enumeración de los fallecidos
en Perú. Artículo de Raquel Neyra, Violencia y Extractivismo en el Perú contemporáneo,
HALAC 9, 2019)
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Aceito receber promoções e informações
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"As pessoas destroem o meio ambiente porque precisam comer", diz Guedes em Davos
No EJAtlas estamos colecionando não apenas fichas com descrições de conflitos, mas
também expressões culturais em diversas línguas. Pensem na América Latina com slogans
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como “sem milho não há país” (no México), ou “pare de fumigar” (na Argentina), ou
“plantações não são florestas” ou “desertos verdes” contra plantações de eucaliptos no Brasil,
ou o nome de Rios Vivos na Colômbia para uma rede contra hidrelétricas (semelhante ao
MAB no Brasil ou MAPDER no México). Vejam como a expressão “zona de sacrifício” se
espalhou pelo continente, certamente tirado do livro de Steve Lerner nos Estados Unidos
(2010), por sua vez nascido do movimento de justiça ambiental de seu país. Ou o neologismo
zadiste na França, que surgiu faz poucos anos, na zone à defendre contra o projeto do
aeroporto de Nantes. Ou a expressão na China que se traduz ao inglês como “Cancer
Village”, em referência ao “Cancer Alley” na Louisiana.
Aqui não há espaço para entrar em detalhes, porém escutem, por exemplo, a canção
Poramboke de T.M. Krishna, nascida em Ennore Creek, ao norte de Chennai, na Índia. Em
poucos versos se resume esse conflito sobre a destruição de mangues e da pesca em um
estuário pela terrível contaminação de centrais elétricas de carbono. Canta também que essa
terra e essa água eram bens comunitários, eram um Poramboke. Hoje em dia, a palavra em
tâmil é mal utilizada, como terra de ninguém, terra baldia. Não é assim, canta T.M. Krishna:
Poramboke são os Comuns.
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petróleo e gás), os queima como fontes de energia que se dissipa e também produz resíduos
como o dióxido de carbono em quantidades excessivas, aumentando o efeito estufa. A curva
de Keeling mede a concentração de dióxido de carbono na atmosfera e segue seu caminho
inabalável desde 320 ppm (partes por milhão) na década de 1950 à 410 ppm agora, a 450
ppm para 2050 e provavelmente 500 ppm em 2100. Até então, o declínio da população
humana e da economia mundial, os movimentos de Blockadia e as mudanças tecnológicas
podem reverter a tendência.
Leia também:
5 ações que as ONGs fizeram pelo meio ambiente (e o governo não fez)
A economia não somente consome os combustíveis fósseis, mas também esgota os recursos
naturais que à princípio são permanentes: a pesca e a fertilidade do solo, as grandes florestas
e a biodiversidade, o ciclo natural da água (que acaba tornando-se um ciclo hidro-social). A
verdade é que a economia industrial tem um apetite voraz por novos suprimentos de
materiais e energia que vêm das fronteiras de extração. E deposita os resíduos na atmosfera,
nos oceanos, nos rios, nos solos rurais ou urbanos. Mesmo uma economia industrial sem
crescimento precisaria de novos suprimentos de materiais e energia porque a energia se
dissipa e apenas uma pequena parte dos materiais são reciclados. Dados (de Wili Has e
outros) indicam que a taxa de reciclagem de insumos que entram na economia mundial é
inferior a 6%.
A economia “neoliberal” triunfa desde a década de 1970 em grande parte do mundo. Penso
que esse fundamentalismo de mercado é um grande inimigo do meio ambiente. Porém,
suponhamos que a economia mundial não fosse neoliberal e sim uma economia keynesiana
social-democrata ou uma economia no estilo russo anterior a 1990. Ou suponhamos que o
capitalismo de estado chinês triunfe em todo o mundo. Não por isso se reduziriam os
conflitos ambientais causados pelo crescimento e pela mudança no metabolismo social da
economia industrial, conflitos que registramos no EJAtlas e dos quais nasce um movimento
mundial de justiça ambiental.
Obrigado por ter chegado até aqui. Combater a desinformação, as mentiras e os ataques às
instituições custa tempo e dinheiro. Nós, da CartaCapital, temos o compromisso diário de levar
até os leitores um jornalismo crítico, alicerçado em dados e fontes confiáveis. Acreditamos que
este seja o melhor antídoto contra as fake news e o extremismo que ameaçam a liberdade e a
democracia.
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