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JAN-FEV 2018

Uma revista para pastores e líderes de igreja


Exemplar avulso: R$ 14,98

Não clique!
Proteja seu ministério das
armadilhas da pornografia
MKT CPB | Fotolia
Tenha sucesso na
pregação

Dois livros indispensáveis na biblioteca de pastores e


líderes cristãos. Pregação Poderosa traz conselhos
práticos de Ellen White sobre como desenvolver
e apresentar sermões, e O Poder da Pregação
Bíblica revela dicas de renomados pregadores
contemporâneos acerca de como expor a Palavra
de Deus com autoridade.

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EDITORIAL Wellington Barbosa

Epidemia silenciosa
H
á um vírus letal se espalhando na sociedade. Ele transformamos. [...] O espírito gradualmente se adap-
é silencioso, sorrateiro e está ao alcance de um ta aos assuntos com os quais lhe é permitido ocupar-se.
clique: trata-se da pornografia. O assunto é sério Jamais se levantará o homem acima de sua norma de
PROVA PDF

e tem chamado atenção de líderes cristãos. Em 2000, a pureza, de bondade ou de verdade” (O Grande Conflito,
revista Christianity Today realizou uma pesquisa em que p. 555). Quem se demora em cenas que rebaixam o ser
33% dos pastores admitiam ter visitado sites pornográ- humano e depreciam a criação divina tende a transferir
ficos nos últimos 12 meses. Dois anos depois, o periódico esses conceitos para a vida cotidiana. Assim, é comum
apresentou um novo estudo, e o número havia aumen- que consumidores de material pornográfico nutram pen-
tado para 57%. Em 2014, o Grupo Barna investigou acer- samentos negativos quanto ao cônjuge, tenham uma
ca do consumo de pornografia por cristãos professos, visão distorcida da sexualidade, experimentem insta-
e os resultados foram alarmantes: 64% dos homens e bilidade no relacionamento e, por consequência, sejam


15% das mulheres viam pornografia ao menos uma vez mais vulneráveis a se envolverem sexualmente com ou-
por mês. A diferença, em comparação com não cristãos, tra pessoa. Além disso, quando a mulher descobre esse
era muito pequena (65% homens e 30% mulheres). Es- vício secreto do esposo, geralmente se sente indigna, in-
ses resultados indicam uma epidemia que se alastra no desejável e com baixa autoestima. Em outras palavras,
contexto cristão com potencial incalculável de destrui- a pornografia destrói as bases de um casamento feliz e
ção. Como doença, a pornografia demonstra seus efei- uma sexualidade saudável e plena.
tos nocivos em pelo menos quatro áreas da vida. Aspectos espirituais. A pornografia que destrói a saú-
Aspectos psicológicos. O consumo de materiais por- A doença de mental, física e relacional deixa seu rastro de dor tam-
nográficos tem sido apontado por estudiosos como a se alastra, bém na dimensão espiritual. A tensão entre saber o que
causa de vários distúrbios. Sintomas de depressão, an- mas há um é certo e fazer o contrário provoca em suas vítimas culpa,
siedade, estresse, comportamento impulsivo, compul- antídoto eficaz vergonha, isolamento e infelicidade. Esses sentimen-
sivo e antissocial estão entre os principais problemas
Redação contra ela: a tos são opostos à proposta de graça, alegria, comu-
provocados pela pornografia. Para alguns, o tratamen- restauração em nhão e felicidade que o evangelho apresenta. Algumas
to pode levar anos, e ainda assim não conseguir rever- Jesus Cristo.” pessoas desistem da carreira cristã por não suportarem
Designer
ter por completo o estrago causado. a angústia de uma vida destroçada pela pornografia.
Aspectos fisiológicos. Além do impacto psicológi- Entregam-se à enfermidade como se ela fosse incurável.
CQ co, a ciência tem comprovado que a pornografia afeta Contudo, há esperança! A doença se alastra, mas há
negativamente a fisiologia cerebral. Pesquisas indicam um antídoto eficaz contra ela: a restauração em Jesus
que consumidores de conteúdo erótico podem desen-
Marketing
Cristo. Aquele que curou leprosos e deu vista aos ce-
volver sensações como desejo incontrolável, síndrome gos pode curar da impureza da pornografia e de uma
de abstinência e recaída, efeitos semelhantes àqueles visão distorcida de sexualidade. Seus ouvidos conti-
experimentados por viciados em cocaína ou ópio. Tudo nuam atentos para aqueles que suplicam “Jesus, Filho
isso provocado pela influência que a pornografia exerce de Davi, tem compaixão de mim!” (Mc 10:47), e Seus lá-
sobre os circuitos neurais no cérebro. Ela “sequestra” as bios ainda hoje podem pronunciar a sentença: “Vai, a
vias sensitivas e causa disfunção no sistema de recom- tua fé te salvou” (Mc 10:52). Para quem recebe a cura,
pensa cerebral. Desse modo, a angústia que um droga- não há nada mais gratificante do que seguir a Cristo es-
dicto sente em sua luta contra as drogas é a mesma que trada afora.
um viciado em pornografia sente ao tentar se desven-
cilhar desse comportamento destrutivo. Wellington Barbosa,
Aspectos relacionais. Ellen G. White notou algo doutorando em Ministério,
é editor da revista Ministério
William de Moraes

que se aplica com propriedade ao consumo de por-


nografia. Ela disse: “É lei, tanto da natureza intelec-
tual como da espiritual, que, pela contemplação, nos

JAN-FEV • 2018 | 3
Contribua com a • Liturgia e temas relacionados, como mú-
A revista Ministério é um periódico internacional editado e publi- sica, liderança do culto e planejamento.
cado bimestralmente pela Casa Publicadora Brasileira, sob supervisão •A
 ssuntos atuais relevantes para a igreja.
da Associação Ministerial da Divisão Sul-Americana da Igreja Adventis-
ta do Sétimo Dia. A publicação é dirigida a pastores e líderes cristãos. Tamanho
• Seções de uma página: até 4 mil caracteres com
Orientações aos escritores espaço.
Procuramos contribuições que representem a diversidade mi- • Artigos de duas páginas: até 7,5 mil caracteres com espaço.
nisterial da América do Sul. Diante da variedade de nosso público, • Artigos de três páginas: até 11,5 mil caracteres com espaço.
utilize palavras, ilustrações e conceitos que possam ser com- • Artigos solicitados pela revista poderão ter mais páginas, de
preendidos de maneira ampla. acordo com a orientação dos editores.
A Ministério é uma revista peer-review. Isso significa que os
manuscritos, além de serem avaliados pelos editores, poderão ser en- Estilo e apresentação
caminhados a outros especialistas sobre o tema que seu artigo aborda. • Certifique-se de que seu artigo se concentra no assunto. Escreva de
maneira que o texto possa ser facilmente lido e entendido, à medi-
Áreas de interesse da que avança para a conclusão.
•C
 rescimento espiritual do ministro. • Identifique a versão da Bíblia que você usa e inclua essa informação
•N
 ecessidades pessoais do ministro. no texto. De forma geral, recomendamos a versão Almeida Revista
•M
 inistério em equipe (pastor-esposa) e relacionamentos. e Atualizada, 2ª edição.
•N
 ecessidades da família pastoral. • Ao fazer citações bibliográficas, insira notas de fim de texto (não notas
•H
 abilidades e necessidades pastorais, como administração do tem- de rodapé) com referência completa. Use algarismos arábicos (1, 2, 3).
po, pregação, evangelismo, crescimento de igreja, treinamento de • Utilize a fonte Arial, tamanho 12, espaço 1,5, justificado.
voluntários, aconselhamento, resolução de conflitos, educação • Informe no cabeçalho: Área do conhecimento teológico (Teologia,
contínua, administração da igreja, cuidado dos membros e assun- Ética, Exegese, etc.), título do artigo, nome completo, graduação e
tos relacionados. atividade atual.
•E
 studos teológicos que exploram temas sob uma perspectiva bí- • Envie seu texto para: ministerio@cpb.com.br. Não se esqueça de man-
blica, histórica ou sistemática. dar uma foto de perfil em alta resolução para identificação na matéria.
SUMÁRIO

10 Ilusão fatal
 afael Rossi
R
Uma reflexão sobre como a pornografia engana
a percepção masculina sobre a sexualidade

14

14 Sexualidade sem manchas


Abraham Swamidass
Seguir as orientações bíblicas quanto ao sexo 3 Editorial
é a garantia de uma vida relacional feliz
6 Entrelinhas
7 Entrevista

20 Alegria e esperança
Douglas Reis
A expressão apocalíptica “cântico novo”
19 Panorama
31 Pastor com paixão
e suas implicações para a adoração cristã
32 Dia a dia

23
34 Recursos
Templo vivo
 milson dos Reis
E 35 Palavra final
Uma análise da teologia dos dons espirituais
10
presente em 1 Coríntios 12

26 Tranque a porta dos fundos


Alan Parker
Dicas práticas para evitar a apostasia na igreja local

28 Espiritualidade e saúde
Alberto Tasso Barros
Um estudo sobre o vegetarianismo
22
nos escritos de Ellen G. White

Conselho Editorial Carlos Hein; Lucas Alves; Adolfo Suarez, SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO CLIENTE
Marcos Blanco; Walter Steger; Pavel Goya;
Uma publicação da Igreja Adventista do Sétimo Dia Jeffrey Brown Ligue Grátis: 0800 979 06 06
Ano 90 – Número 535 – Jan/Fev 2018 Segunda a quinta, das 8h às 20h
Colaboradores Alberto Peña; Arildo Souza; Cícero Gama; Sexta, das 7h30 às 15h45
Periódico Bimestral – ISSN 2236-7071 Cornelio Chinchay; Edilson Valiante; Efrain Domingo, das 8h30 às 14h
Choque; Evaldino Ramos; Geraldo M. Tostes; Site: www.cpb.com.br
Editor Wellington Barbosa Ivan Samojluk; Jadson Rocha; Jair G. Góis; Luis E-mail: sac@cpb.com.br
Editor Associado Márcio Nastrini Velásquez; Raildes Nascimento; Rubén Montero;
Revisoras Josiéli Nóbrega; Rose Santos Sidnei Mendes; Tito Valenzuela Assinatura: R$ 72,70
Exemplar Avulso: R$ 14,98
Projeto Gráfico Levi Gruber CASA PUBLICADORA BRASILEIRA
Capa William de Moraes e Alexlmx / Fotolia Editora da Igreja Adventista do Sétimo Dia
Rodovia SP 127 – km 106 Todos os direitos reservados. Proibida
Ministério na Internet Caixa Postal 34 – 18270-970 – Tatuí, SP a reprodução total ou parcial, por
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Redação: ministerio@cpb.com.br Redator-Chefe Marcos De Benedicto Tiragem: 6 mil
Chefe de Arte Marcelo de Souza 5499 / 37236

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ENTRELINHAS Márcio Nastrini

Discipulado ontem e hoje

Q
uando um rabino chamava alguém para segui- em treinamento. O apóstolo também manteve contato
lo, o processo de discipulado implicava a imi- com aqueles a quem havia discipulado (1 e 2 Timóteo
tação do mestre. A palavra discipulado vem do e Tito). Sua preocupação era firmar os novos crentes e
latim, discipulatu, que significa “aprender” ou “apren- ensiná-los a trabalhar pela salvação de outros.
dizagem”. Antes de Jesus enviar Seus discípulos, Ele os Fazer discípulos exige que sejamos modelos que
convidou a segui-Lo. “Vinde após Mim, e Eu vos farei reflitam Jesus para nossos seguidores. “Sejam meus
pescadores de homens” (Mt 4:19). Michael Green, no livro imitadores, como eu o sou de Cristo” (1Co 11:1). No dis-
Evangelização na Igreja Primitiva, declara: “Jesus encar- cipulado, transmitir o que se recebeu serve como edifi-
regou um pequeno grupo de onze homens para execu- cação. Por isso ele deve ser realizado em nível pessoal.


tar Sua obra e levar o evangelho a todo o mundo. Eles Barnabé ensinou João Marcos (At 12:25; 15:39), Áquila e
não eram pessoas importantes nem bem instruídas, e Priscila ajudaram Apolo (At 18:24-26) e Paulo preparou
também não tinham pessoas influentes atrás de si. [...] Timóteo (At 16:1-3). O apóstolo testemunhou: “Tu, po-
Mesmo assim, eles conseguiram” (p. 11). rém, tens seguido, de perto, o meu ensino, procedimen-
O livro de Atos confirma que os discípulos cumpriram to, propósito” (2Tm 3:10).
sua missão. Igrejas foram estabelecidas e, em seguida, A exemplo de Paulo, cada ministro e líder cristão
a liderança local foi nutrida e treinada para espalhar o deve se sentir responsável pelo progresso espiritual
evangelho. Os recém-convertidos eram incentivados a Fazer daqueles que estão sob seus cuidados, a fim de que se
desempenhar seus dons. Os milhares que foram batiza- discípulos tornem discípulos e cooperadores do Senhor. Precisa-
dos perseveraram na doutrina apostólica (At 2:42). “Cada exige que mos, portanto, de um discipulado genuíno. Um movi-
ano, por ocasião das festas, muitos [...] vinham a Jeru- sejamos mento poderoso e relacional que seja relevante. Não
salém, [...] os apóstolos pregavam a Cristo com indômi- modelos que podemos nos esquecer de que o evangelho não é um
ta coragem [e] muitos se converteram à fé; e esses, de reflitam Jesus sistema de dogmas, muito menos uma cultura cristã.
volta a seus lares em diferentes partes do mundo, espa- para nossos O evangelho é uma Pessoa.
lhavam as sementes da verdade” (Ellen G. White, Atos seguidores.” Michael Green declara que o maior estímulo para
dos Apóstolos, p. 165). o discipulado na igreja apostólica “foi a consciência da
Os apóstolos e novos conversos aproveitaram toda iminência do fim [...] e das contas que, no fim, teremos
oportunidade para pregar e fazer discípulos. Testemu- que prestar a Deus” (Evangelização na Igreja Primitiva,
nharam nas sinagogas e ao ar livre, nos lares e nas escolas; p. 326). Todos os que receberam o evangelho têm a sa-
também ensinaram por preceito e exemplo. A convicção grada responsabilidade de reparti-lo com o mundo, fa-
de que o Messias tinha vindo, cumprido a profecia e deixa- zendo assim novos discípulos para o Mestre. Essa tarefa
do a mensagem de salvação para que eles a anunciassem não cabe somente aos pastores, mas a todos aqueles
era a força que os impelia a avançar. Eles também com- que receberam as boas-novas.
preenderam que se não dedicassem atenção ao cresci-
mento dos novos na fé, teriam poucos frutos duradouros. Márcio Nastrini, mestre em Teologia,
Paulo, um discipulador por excelência, ensinou pelo é editor associado da revista Ministério
exemplo (1Co 4:16); conviveu com os novos conversos
William de Moraes

compartilhando o que sabia (At 20:34); e finalmente de-


legou responsabilidades a eles enquanto ainda estavam

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ENTREVISTA BERNIE ANDERSON

Vigilância
e liberdade

“Como pastores, precisamos


estar atentos às nossas próprias
vulnerabilidades. E, até certo ponto,
a tentação de se envolver sexualmente

Gentileza do entrevistado
pela internet é particularmente atraente
para líderes espirituais.”

por Wellington Barbosa

Assumir qualquer vício é algo difícil e que demanda alta dose de coragem. Agora Como você entrou em contato com a
imagine um pastor assumindo sua dependência da pornografia. Lidar com a vergo- pornografia?
nha, a censura e a culpa implica um custo altíssimo para alguém de quem se espera Eu tropecei na pornografia aos 9 anos,
um comportamento à altura do chamado ao ministério. Nos Estados Unidos, um lí- enquanto visitava a casa de familiares. Esse
der cristão decidiu expor sua luta e vitória nessa arena tão complexa, a fim de esti- primeiro encontro foi muito cativante, e
mular outros a superar esse desafio. lembro-me de pensar que queria voltar
Bernie Anderson é pastor em um projeto para jovens adultos chamado “Bridge”, em outro momento àquele armário onde
ligado à Igreja Adventista do Sétimo Dia de Forest Lake, na Flórida. Ele é autor do li- encontrei as imagens. Eu não tinha certe-
vro Breaking the Silence (Autumn House, 2007), onde narra sua luta contra a porno- za realmente do que era, mas era algo po-
grafia. Bernie mostra como Deus operou uma transformação poderosa em sua vida, deroso, e eu me demorei naquilo, embora
quebrando seu vício prolongado e secreto, enquanto servia como pastor de tempo sentisse que provavelmente não deveria
integral. Disposto a chamar atenção para o impacto devastador da pornografia, Ber- estar olhando para aquele material.
nie continua compartilhando abertamente sua história. Ele é um orador conhecido
e viaja regularmente para falar em eventos nos Estados Unidos e em outros países. Quais foram seus pensamentos quan-
Seu relato já foi noticiado em canais como Fox News e World News Tonight, e pu- do considerou o fato de que era um
blicações como a Associated Press, Newsweek e Focus on the Family já o entrevis- pastor viciado em pornografia?
taram. Bernie é formado pela Universidade Adventista do Sudoeste e Universidade Desde meu primeiro contato com a
Andrews. Ele é casado e pai de três filhas. pornografia, aos 9 anos, desenvolveu-se

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em mim um conflito espiritual contínuo que eu buscasse mudanças reais. Na ver- Como ocorreu sua trajetória de recu-
que atravessou meus primeiros dias de dade, eu realmente nunca quis que mi- peração e cura?
adolescência, bem como minha juven- nha esposa ou alguém soubesse de meu Quando confessei a um amigo próximo
tude. Esse sentimento de conflito in- segredo obscuro. Esse era um dos meus meu problema, as coisas realmente come-
terno e inconsistência espiritual sempre principais medos, porque estava preocu- çaram a mudar. Comecei a ler tantos livros
espreitava minha alma. Então, quando pado com o que as pessoas pensariam de quanto conseguia sobre o assunto. Na se-
entrei para o ministério pastoral, tinha mim. Quando aconteceu, foi algo bastan- quência, participei de um seminário inten-
a sensação profunda de que era indig- te vergonhoso e constrangedor. Eu tinha sivo “A batalha de todo homem”, em Dallas.
no e procurava a Deus continuamente, certeza de que era o único pastor a lutar Foi um evento que realmente mudou mi-
suplicando-Lhe perdão por meu pecado contra isso. Para piorar, meu nome era nha vida! Eu me senti motivado, educa-
secreto e fracasso. Também sentia que se muito conhecido desde que eu havia par- do e equipado para iniciar uma jornada de
pudesse trabalhar muito, poderia de certa ticipado da Net 98, com Dwight Nelson. recuperação. Então, tudo se tornou uma
forma compensar meu pecado. Eu implo- questão de “continuar o programa”, e es-
rava constantemente por perdão e para Como sua família e sua igreja o ajuda- sencialmente é isso o que continuo fazen-
que o Senhor tirasse aquilo de mim. Eu me ram a superar o vício? do ainda hoje. Parte do que considero ser
sentia horrível ao me preparar para apre- Minha esposa foi muito direta. Ela me meu programa é participar de um peque-
sentar um sermão de sábado, de modo confrontou e foi continuamente uma fonte no grupo de recuperação e cuidar com o
que vejo na TV, bem como
nos filmes. Eu também limi-
to quanto tempo gasto com a
internet. Contudo, a cura veio

A graça de Deus está disponível para você realmente ao longo do tem-


po, com a compreensão acer-

também! Apenas saiba que não está sozinho ca da maravilhosa graça de


Deus e de minha (e creio que
de todas as pessoas) necessi-
e que ficar sóbrio exigirá algum nível de dade absoluta de intimidade
legítima por meio do relacio-
transparência. Isso será muito difícil, mas é namento com minha esposa
e meus amigos.
parte fundamental da jornada de cura integral.
O que inspirou você a es-
crever um livro contando
sua história?
Percebi algo que já havia
que era muito específico ao implorar a de honestidade para mim. Em outras pala- suspeitado: muitos outros lutavam contra
Deus por purificação e perdão antes da vras, ela era um teste à realidade! Uma vez o mesmo problema que eu. E isso inclui pas-
pregação. ela literalmente gritou por meio de suas lá- tores e membros da igreja. Desse modo, eu
grimas, dizendo: “Você quer perder tudo queria escrever e quebrar o silêncio, por as-
Em que momento você decidiu contar isso?” E eu sabia o que ela queria dizer... sim dizer, a respeito de um tabu. Queria com-
à sua família sobre o problema que en- Muitas coisas estavam em jogo, e eu nem partilhar minha história e ser transparente
frentava? Como isso aconteceu? percebi. Entretanto, ela era um lembrete sobre minha luta pessoal na esperança de
Bem, eu nunca disse à minha esposa. Eu constante do que eu poderia perder. Mi- encorajar outros a buscar ajuda e se libertar.
fui pego. Um dia ela descobriu pornografia nhas igrejas na época foram incrivelmen- Imaginei que se um pastor pudesse se abrir
no computador, depois que me esqueci de te graciosas! Elas foram pacientes mesmo sobre o tema, seguramente isso seria uma
apagar o histórico da internet. Infelizmen- quando a mídia local e nacional destacou forma de os membros abordarem seus pró-
te, após esse fato as coisas só pioraram. minha história. Sou eternamente grato a prios problemas. Acredito que a igreja deve
Ao ser confrontado me desculpei, mas essas igrejas, porque demonstraram per- ser o lugar em que possa haver abertura e
as desculpas não foram suficientes para dão e amor para comigo. transparência para a busca da cura integral.

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Você sabe se seu livro ajudou outros completamente honestos e a quem pres- e-mail, bem como de redes sociais. Gosto
pastores a encontrar auxílio para lu- taremos contas. Se possível, isso deve de dizer que você nunca é completamen-
tar contra a pornografia? ocorrer em grupo. Além disso, lembre-se te anônimo quando está on-line. Tenha
Sim. Tenho recebido muitos contatos do acrônimo inglês “HALT” (em português, certeza de que sempre há alguém ciente
ao longo dos anos, e isso tem sido enco- “pare”), que significa estar atento quando do que você está fazendo e dos lugares em
rajador para mim. Na verdade, parece não você está com fome [hungry], irritado [an- que navega na internet.
haver uma semana sequer que eu não sai- gry], solitário [lonely] ou cansado [tired].
ba de alguém que procura ajuda e supor- É interessante notar que todos esses ele- Finalmente, que conselho você dá a
te para se libertar da pornografia por meio mentos são inerentes à natureza de nos- alguém que está enfrentando esse
do livro. so trabalho ministerial. Também diria que problema?
os jejuns regulares da mídia (especialmente A graça de Deus está disponível para
Diante das muitas ofertas existentes das mídias sociais) são importantes, asso- você também! Apenas saiba que não está
no mundo virtual, quais dicas você dá ciados com a verdadeira prática do descan- sozinho e que ficar sóbrio exigirá algum ní-
para que os pastores não caiam na ar- so no sétimo dia. Nutrir intimidade (física e vel de transparência. Isso será muito difí-
madilha da pornografia? emocional) dentro de seu casamento tam- cil, mas é parte fundamental da jornada de
Como pastores, precisamos estar aten- bém é absolutamente essencial. cura integral. Por ser um problema com-
tos às nossas próprias vulnerabilidades. E, Em um nível prático, você deve instalar plexo, há muitos recursos disponíveis, e
até certo ponto, a tentação de se envol- algum software de controle de conteúdo você terá que usá-los. Entretanto, a coisa
ver sexualmente pela internet é particu- em todos os seus dispositivos. Depois de mais importante a fazer é buscar a Deus
larmente atraente para líderes espirituais. instalá-lo, deve se certificar de que sua es- com oração e humildade, pedindo cora-
Por isso, sempre devemos ter outro pas- posa e/ou amigo confidente tenha todas as gem para obter ajuda e encontrar liberda-
tor ou amigo com o qual podemos ser suas senhas e credenciais para contas de de e restauração.

Diga-nos o que achou desta entrevista: Escreva para ministerio@cpb.com.br ou visite www.facebook.com/revistaministerio

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Sexualidade Plena Entenda como o sexo deve ser a coroação de


um relacionamento responsável, fundamentado
no amor e regido pela fidelidade.

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CAPA

Ilusão

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10 | JAN-FEV • 2018
A quase onipresente pornografia tem Essa imersão pode dar a ideia de alívio,
Como a pornografia
se tornado mais do que uma distorção da e é nesse ponto em que mora o perigo: crer
afasta os homens do intenção de Deus para a sexualidade hu- que a tensão dos relacionamentos cotidia-
propósito divino para mana. De fato, trata-se de um veneno vi- nos pode ser aliviada com a pornografia.
a sexualidade ciante que sufoca aos poucos e sempre Esse raciocínio é pecaminoso! O aparen-
cobra seu preço. Um alto preço! te “relaxamento” é momentâneo e vem
Mas, afinal, o que leva alguém a bus- acompanhado na sequência de medo, do
car esse tipo de material? Por que está al- distanciamento conjugal e das mentiras
cançando os pastores também? O assunto para esconder o vício. O que acontece é
é complexo e envolve não so- apenas uma ruptura pontual da tensão,
mente fatores psicológicos, que instantes depois volta à tona. Por-

fatal
mas também questões neuro- tanto, isso não é um alívio duradouro, mas
fisiológicas, conforme William uma anestesia temporal.
M. Struthers bem argumenta A Bíblia afirma que vida plena é obti-
em seu livro Wired for Intima- da somente como resultado da comunhão
cy: How Pornography Hijacks com Cristo (Jo 15:1-11; 16:16-24; Rm 15:13).
the Male Brain.4 Como pastores, precisamos entender que
Luke Gilkerson,  no arti- nossa alegria deve residir em cumprir a
go “Four Reasons Men Like vontade de Deus, e que há prazer em se-
Porn”, afirma que, para mui- guir Seus planos. Em Mateus 11:28, Jesus
tos homens, a pornografia se tornou uma convida todos os que estão cansados e so-
ferramenta que os ajuda a lidar com seus brecarregados a ir até Ele. Nosso supremo
desafios e lutas.5 A partir da argumenta- Pastor pode aliviar as cargas do trabalho
ção de Gilkerson, gostaria de compartilhar ministerial!
Rafael Rossi algumas considerações também. Portanto, invista em sua vida devocio-
nal e no culto familiar. Se for preciso, pro-

C
om o aumento do uso e das facili- A pornografia é “fácil”, mas os cure ajuda especializada ou alguém de sua
dades da internet, tem se tornado relacionamentos são difíceis. total confiança que lhe seja um confidente,
cada vez mais cômodo e discreto Os relacionamentos para o pastor um amigo para compartilhar suas cargas
o acesso a materiais danosos à vida cris- sempre são difíceis, pois exigem mui- e, assim, aliviar sua tensão, sem que tenha
tã, como a pornografia. Estima-se que, to dele. Como líder, ele sempre tem que que usar a pornografia para isso.
de longe, a indústria de filmes pornográ- se preocupar com o que está aconte-
ficos seja a maior do ramo cinematográ- cendo ao redor. Em meio a essa tensão A pornografia é “relaxante”,
fico. Somente nos Estados Unidos são contínua, a pornografia oferece um senti- mas a vida é estressante.
produzidos anualmente cerca de 11 mil tí- mento de liberdade, no qual ele se vê livre Na vida, as coisas dão errado. As ex-
tulos, quase 20 vezes o número de filmes dos riscos da intimidade e das preocupa- pectativas são frustradas. As pessoas nos
lançados de todos os demais gêneros jun- ções. Nesse momento, o pastor não tem decepcionam. Tragédias acontecem. Fi-
tos.1 Estatísticas apresentadas pelo projeto que pensar em qualquer outra pessoa, se- camos doentes. Há desentendimentos.
Just1ClickAway, liderado por Josh McDowell, não nele mesmo. Choramos. Sentimos medo e inseguran-
indicam que 25% das buscas feitas na web Além disso, os conteúdos eróticos apre- ça quanto ao futuro. Existem temas deli-
são sobre pornografia e, em sua maioria, sentam um mundo de fantasia no qual os cados e que não sabemos como resolver.
quem vai atrás desse conteúdo são os ho- pastores não são obrigados a conhecer De fato, viver estressa!
mens.2 Especificamente no contexto cris- ninguém, não necessitam de romance e Por outro lado, a traiçoeira ilusão da
tão, pesquisas apontaram que 50% dos não se autossacrificam para benefício de pornografia oferece um mundo muito con-
homens e 20% das mulheres ligados à igre- outros. A pornografia ainda proporciona fortável, em que nada dá errado. Trata-se
ja nos Estados Unidos eram viciados em o prazer de uma enorme gama de mulhe- de um ambiente onde se sabe que vai en-
conteúdo erótico. Entre pastores, 54% ti- res virtuais, que atendem a todos os seus contrar exatamente o que é prometido.
nham visto pornografia nos últimos 12 me- caprichos sem a complicação dos relacio- A pornografia, de fato, é uma fuga
ses e 30% nos últimos 30 dias.3 namentos reais. que não resolve o que causa o estresse.

JAN-FEV • 2018 | 11
Consumir esse tipo de material nunca será A pornografia faz o homem se A sexualidade é intrinsecamente ligada ao
uma experiência emocional ou fisiologica- sentir “poderoso”, quando, na casamento. Sua única expressão correta
mente neutra. Quem procura se refugiar verdade, ela o torna fraco. ocorre dentro dessa união, que represen-
nesse vício acaba exposto à manipulação A pornografia oferece aos homens uma ta o grau de intimidade que Cristo espera
do diabo. A Bíblia é contundente ao afirmar falsa sensação de poder, alimentando to- em Sua relação com Seu povo.
que Deus é nosso verdadeiro refúgio e for- das as suas fantasias com garotas que nun- Em última instância, a pornografia
taleza (Sl 46; 59:16, 17; 61:1-3; 62:5-8; 91; 142). ca dizem não. Não existem barreiras entre é uma violação do evangelho. A pure-
Quem procura refúgio na pornografia se um homem e uma mulher. As mulheres bo- za da relação sexual aponta para o amor
assemelha a alguém sedento que tenta sa- nitas são fáceis e não passam de troféus imaculado que o Salvador tem por Sua
ciar a sede bebendo água do mar. O “rela- colecionáveis. Os filmes potencializam a igreja. Qualquer caminho diferente man-
xamento” oferecido, na verdade, é um alto ideia da dominação masculina, permitindo cha a pureza e sublimidade que Deus de-
fator de estresse. Homens que caem nesse que os homens fantasiem com um mundo seja compartilhar com o ser humano.
vício deixam de ser amantes de sua esposa onde as mulheres gostam de ser tratadas Tim Challies, em seu artigo “Why Vie-
e passam a fantasiar com mulheres que eles como objetos. wing Porn Mocks the Gospel?”, conclui suas
nunca terão na realidade. Por consequên- Todos nós passamos por alguma situa- reflexões com uma pergunta profunda e
cia, essa desvinculação emocional fragiliza ção em que nos sentimos menospreza- importante: “Você ama a pornografia o su-
o casamento e promove um ambiente su- dos, sem importância ou desrespeitados. ficiente para perder sua salvação por causa
focante. O alívio torna-se uma carga pesa- Contudo, em momentos assim, jamais se dela?”8 Se algum dia você se sentir tentado
da e com consequências desastrosas. deve recorrer à pornografia como solução a acessar algo que não deveria, lembre-se
para elevar a autoestima ou a valorização dessa questão. Não permita que a porno-
A pornografia é “emocionante”, pessoal. grafia desonre o ministério que você rece-
mas a vida é monótona. Para Deus somos importantes. Cristo beu do Senhor e tire de você o elemento
O tédio é um dos frutos de uma cultu- compartilha Sua glória com cada ser hu- mais importante da vida: sua salvação.
ra de entretenimento que sempre busca mano, porque Ele vive em nós (Jo 17:20-24,
Referências
algo a mais. Há uma fome generalizada por Rm 2:6-10; Cl 1:24-29). Humanizar as pes-
1
 alph Frammolino e P. J. Huffstutter. “The Actress,
R
distração. Exatamente nesse ponto surge soas que estão “se exibindo” sexualmente
the Producer, & Their Porn Revolution”, Los Angeles
a pornografia, oferecendo um mundo de tem sido de grande ajuda aos que estão Times Magazine, 6/1/2002.
excitação sexual para mentes entediadas. lutando contra a pornografia. Cada ator 2
“ Sexo na internet: uma epidemia”,
A vida pode sair da apatia quando se ou atriz faz parte de uma família, tem pais <https://goo.gl/aDZpik>.

descobre a emoção de conhecer a Deus e e irmãos; alguns são pais e lutam contra 3
Renato Cardoso e Cristiane Cardoso, Casamento
Blindado (Thomas Nelson Brasil, 2012), p. 27.
obedecê-Lo (Mt 13:44, 2Co 8:1, 2; Fp 1:3, 4, a vergonha que lançam sobre seus filhos.
4
 illiam M. Struthers, Wired for Intimacy: How
W
Cl 1:9-14, 1Pe 1:3-9; 3Jo 3, 4). Fazer a von- São pessoas e não objetos. Pornography Hijacks the Male Brain (Downers
tade do Senhor e vencer as tentações Relatos de atores e atrizes do mundo Grove, IL: IVP Books, 2009), capítulo 4, “Your brain
on porn”.
também proporciona entusiasmo, con- pornográfico apresentam com regularida-
5
L uke Gilkerson, “Four Reasons Men Like Porn”,
fiança e quebra de monotonia. Ellen G. de o fato de que, para conseguir desem-
<https://goo.gl/d8vDFf>.
White escreveu: “A verdadeira santificação penhar seu papel, tinham que estar sob o 6
 llen G. White, Santificação (Tatuí, SP: Casa
E
é obra diária, continuando por tanto tem- efeito de álcool ou drogas. Os que desco- Publicadora Brasileira, 2014), p. 10.
po quanto dure a vida. Aqueles que estão briram a satisfação da salvação em Jesus 7
 helley Lubben , “Porn as a Driver of Demand for
S
batalhando contra tentações diárias, ven- e se libertaram dessa prisão relatam suas Prostitution & Sex Trafficking”, <https://goo.gl/Bo7Kvv>.

cendo as próprias tendências pecamino- experiências passadas com tristeza e 8


 im Challies, “Why Viewing Porn Mocks the
T
Gospel?”, <https://goo.gl/ayRLTF>.
sas e buscando santidade do coração e da vergonha.7
vida, não fazem nenhuma orgulhosa pro- Não há nada em toda a criação que va-
clamação de santidade. Eles são famintos e lha mais do que os seres humanos. Não há
Rafael Rossi, mestre em
sedentos de justiça. O pecado parece-lhes mensagem mais central no evangelho do Teologia Pastoral, é líder de
excessivamente pecaminoso.”6 E, definiti- que a morte e ressurreição de Jesus. A rela- Comunicação para a Igreja
Divulgação DSA

Adventista na América do Sul


vamente, nessa luta contra o pecado não ção entre marido e mulher é um símbolo do
há monotonia. relacionamento entre Cristo e Sua igreja.

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12 | JAN-FEV • 2018
CONCURSO
DE ARTIGOS
A revista está promovendo o
2º Concurso de Artigos para estudantes de Teologia.
PRÊMIOS
1º lugar: Coleção Minicentro
Todos os alunos matriculados em programas Ellen G. White
de graduação ou pós-graduação TEMA E 2º lugar: Coleção Comentário
podem participar.
REQUISITOS Bíblico Adventista
PARA INSCRIÇÃO: 3º lugar: Bíblia de Estudo
Andrews

1. Um dos maiores desafios do cristianismo A comissão avaliadora será


contemporâneo está relacionado ao discipulado. formada pela equipe editorial da
Desse modo, o tema dos artigos deverá relacionar-se Ministério, por representantes
com esse assunto. Os textos podem explorar aspectos do Seminário Adventista Latino-
Americano de Teologia e da
bíblicos, históricos, teológicos e aplicados que aprofundem a
Associação Ministerial da Igreja
compreensão acerca do discipulado cristão.
Adventista do Sétimo Dia.

2. Os textos deverão ser enviados em MS Word para o e-mail ministerio@cpb.com.br. Publicação


Por favor, inclua as seguintes informações no cabeçalho do artigo: nome, endereço, 1. Não haverá devolução dos
e-mail, telefone, afiliação religiosa, nome da instituição educacional em que está artigos enviados.
cursando Teologia e o título do manuscrito. 2. Os ganhadores do concurso
darão à revista Ministério os
3. Ao fazer citações bibliográficas, identifique as fontes. Insira notas de fim de texto direitos de publicação do artigo.
Embora os editores pretendam
(não notas de rodapé) com referência completa. Use números arábicos nas notas.
publicar esses textos, a
Utilize a fonte Arial, tamanho 12, espaço 1,5, justificado. Os textos deverão conter
publicação não é garantida.
no mínimo 8 mil e no máximo 15 mil caracteres com espaço.
Data limite de inscrição:
4. Será aceito somente um artigo por autor. Os textos deverão ser enviados até
30 de maio de 2018

Apoio: Seminário Adventista


Latino-americano de Teologia
Associação Ministerial
CAPA

Sexualidade

14 | JAN-FEV • 2018
Princípios bíblicos e orientações práticas Em Mateus 5:27 e 28, Jesus ensinou que
para se proteger dos males da pornografia se demorar em pensamentos impuros é pe-

sem manchas
cado. “Ouvistes que foi dito: Não adultera-
rás. Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar
para uma mulher com intenção impura, no
coração, já adulterou com ela.” Cristo deixa
claro que “nossos pensamentos são mais
importantes do que nossas ações”.6 Além
disso, afirma que o adultério é mais do que
ter um caso extraconjugal. É algo que come-
ça no coração – e Deus vê nosso coração e
conhece nossas intenções (1Co 2:11, Hb 4:13).
Abraham Swamidass
Suas palavras também ensinam que
os limites mentais e emocionais são tão

A
ntes da entrada do pecado no Uma teologia bíblica da intimidade se- importantes quanto os limites físicos. As
mundo, o Senhor criou a sexuali- xual deve reconhecer que esta é reservada implicações disso são claras quando se
dade como um presente singular exclusivamente para os seguintes propó- relacionam com pornografia, conteúdos
e extraordinário para o primeiro sitos: (1) estabelecer a união de “uma só eróticos escritos ou filmados e outros ma-
casal, a fim de que fosse desfru- carne” (Gn 2:24, 25; Mt 19:4-6); (2) prover teriais que promovam o desejo sexual por
tado pelo homem e pela mulher intimidade sexual dentro do vínculo ma- alguém que não seja o cônjuge. Assim,
para celebrar sua unidade (Gn 2:25). O sexo trimonial (o verbo “conhecer” indica um quando qualquer pessoa é física ou emo-
é sagrado porque nele, na unidade total dos profundo senso de intimidade sexual, cf. cionalmente inserida na intimidade sexual,
cônjuges, a imagem completa de Deus está Gn 4:1); e proporcionar o prazer mútuo de mesmo que em pensamento, comprome-
representada.1 Ellen G. White enfatizou a im- marido e mulher (Pv 5:18, 19). te a pureza do ato conjugal.
portância disso quando escreveu: “Anjos de O apóstolo Paulo escreveu: “Entre vo-
Deus serão hóspedes do lar, e suas santas vi- O problema da luxúria cês não deve haver nem sequer menção
gílias santificarão a câmara matrimonial.”2 Deus nos criou como seres sexuais e de imoralidade sexual como também de
Obviamente, o sexo era um presente nos deu algo chamado desejo sexual. Essa nenhuma espécie de impureza e de cobi-
valioso e intencional, dado para ser des- é uma das necessidades físicas básicas do ça; pois essas coisas não são próprias para
frutado e celebrado com gratidão, alegria ser humano.3 A ordem divina foi “sede fe- os santos” (Ef 5:3, NVI) Mas, por que o pa-
e prazer. No entanto, por causa do peca- cundos e multiplicai-vos” (Gn 9:7). Assim drão divino é tão alto? Por que Deus não
do (Rm 3:23), ele foi mal utilizado e distor- como o Senhor nos deu apetite por ali- permite nem um pouco de luxúria, sendo
cido (Rm 1:24, 25). mento, Ele nos dotou com apetite sexual Ele mesmo que criou os seres humanos
Embora o texto bíblico não diga espe- para que homens e mulheres não só des- com desejos sexuais?
cificamente nada sobre a pornografia, ela frutem da intimidade no contexto do ca- Uma das razões pelas quais o Senhor
é uma prática pecaminosa. A Bíblia nos diz samento, mas também procriem. Nossa nos exorta a purificar a vida é porque Ele
que devemos ser sexualmente puros. O condição de seres sexuais com desejo se- sabe que a luxúria nunca fica no nível da
sexo não deve ser estimulado ou desper- xual é parte do propósito divino para a “sugestão”. Ela anseia por mais. O resulta-
tado até o momento certo (Ct 8:4), e o sexo raça humana. do é que a lascívia nunca pode ser extin-
pré-marital e extraconjugal é condenado Contudo, desejo sexual não é o mesmo ta. Assim que seu objetivo é alcançado, ela
(1Co 6:13-18; 1Ts 4:3). que luxúria. John Piper define luxúria com quer algo maior.
Ademais, a pornografia distorce o dom esta simples equação: “Luxúria é desejo se- Em Efésios 4:19, Paulo descreve o intermi-
divino da sexualidade, que deve ser vivencia- xual menos honra e santidade.” 4 Quando nável ciclo da luxúria. Ele fala sobre aqueles
do apenas dentro dos limites do casamento somos lascivos, tomamos essa coisa boa – que se afastaram de Deus perdendo “toda
(1Co 7:2, 3). E as Escrituras também conde- o desejo sexual – e removemos dele a hon- a vergonha e se entregaram totalmente aos
nam especificamente as práticas resultan- ra para com os outros e a reverência para vícios; eles não têm nenhum controle e fa-
tes da pornografia, como exposição sexual com Deus. A luxúria é um desejo idólatra zem todo tipo de coisas indecentes” (NTLH).
William de Moraes

(Gn 9:21-23), adultério (Lv 18:20), incesto que rejeita as orientações divinas e busca Esta é a recompensa da luxúria, fazer “se en-
(Dt 18:6-18) e prostituição (Dt 23:17, 18). satisfação à parte do Senhor.5 tregarem totalmente aos vícios”.

JAN-FEV • 2018 | 15
Esse é o problema da pornografia. Ela juntos. As mulheres geralmente querem o relacionamento é aberto e amoroso –
sempre deixa uma insatisfação em busca se conectar com seus parceiros mediante quando sentem que seu esposo entende
de algo mais, porque é um pseudorelacio- intimidade verbal, antes que possam des- e valoriza seus sentimentos.
namento, algo vazio. Deus criou nossas ne- frutar do ato conjugal. A pesquisadora norte-americana Louann
cessidades para ser supridas por meio de Gary Chapman ressalta que, quando se Brizendine destaca que, durante o orgas-
relacionamentos reais. É preciso investir trata da natureza do desejo sexual, a von- mo masculino, a oxitocina é liberada para o
energia nas relações criadas por Deus, uma tade da mulher está muito mais ligada às cérebro. Nas mulheres, a mesma substân-
coisa que não ocorre nas relações construí- emoções do que a do homem. Se uma mu- cia é liberada durante uma conversa signi-
das sobre o engano e a luxúria. lher se sente amada por seu marido, ela de- ficativa. Isso quer dizer que pode ser tão
Quando se trata de luxúria e porno- seja intimidade sexual com ele.9 emocionante e agradável para a esposa se
grafia, Deus diz: “não ... nem mesmo uma A intimidade verbal melhora o romance conectar com seu marido emocionalmen-
sugestão”, porque não podemos ceder às do marido com sua esposa. Uma pesqui- te quanto sexualmente.13
exigências da lascívia e esperar satisfazê-la. sa pediu às mulheres que preenchessem
Ela sempre cresce. Com isso, a luxúria nos o espaço em branco: “Se ele fosse mais Intimidade espiritual
rouba a capacidade de desfrutar de intimi- romântico, eu me inclinaria mais a...” E Nick Stinnett realizou um estudo pela
dade e prazer sexual saudáveis. as respostas foram: “ter vontade de es- Universidade de Nebraska que foi gran-
Assim, não devemos permitir que a por- tar com ele”, “manter-me mais atraente”, demente divulgado. Depois de observar
nografia encontre espaço em nossa vida. “descobrir o que ele quer; ajudá-lo a su- cuidadosamente centenas de famílias que
Mark Twain escreveu: “É mais fácil ficar fora prir suas necessidades”, “ficar com ele ao se consideravam saudáveis, sua pesquisa
do que sair.” 7 Sair de um site pornográfico invés de procurar um novo parceiro”, “ser concluiu que as famílias verdadeiramen-
é muito mais difícil do que ficar fora dele. bem-humorada perto dele”, e “me relacio- te saudáveis possuem seis característi-
Os cristãos, portanto, devem se man- nar sexualmente com ele”.10 cas comuns. Uma delas é “uma fé pessoal
ter puros ao fugir da imoralidade (1Co 6:18), Por meio da intimidade verbal, os ca- em Deus compartilhada”.14 Outra pesqui-
pensar em coisas puras (Fp 4:8), amar o sais podem aprender novas maneiras de sa, realizada pelo sociólogo Andrew Gree-
Senhor Jesus Cristo e não agradar os de- pensar e falar sobre sua sexualidade, e ley, indica que “sexo frequente, somado
sejos da natureza pecaminosa em relação esse é um modo de evitar a tentação da à oração frequente, faz casamentos mais
à luxúria (Rm 13:14). pornografia. satisfatórios”.15
A intimidade espiritual pode ser o
Estratégias de prevenção Intimidade emocional mais alto nível relacional. Marido e mu-
Esta seção apresenta abordagens para Compartilhar sentimentos profundos lher podem se conhecer melhor con-
evitar as tentações da pornografia e as prin- uns com os outros gera intimidade emo- forme ambos se voltem para Deus e O
cipais estratégias de prevenção. Também cional e é vital para a satisfação sexual. conheçam de maneira pessoal e íntima.
inclui ideias práticas para manter um am- Bryan Craig ressalta que um dos fatores Carey e Pam Rosewell Moore ressaltam
biente familiar sem pornografia, no qual os mais críticos no processo de comunicação que “o objetivo mais importante ao
casais podem experimentar uma intimidade é a capacidade de identificar e entender os orarmos juntos é que isso mantém nos-
baseada nos princípios da Palavra de Deus. sentimentos que estão sendo expressos. sa relação como casal íntima e próxima,
Ele escreveu: “Os sentimentos são a porta e mantém nosso coração aberto dian-
Desenvolva uma intimidade de entrada para o coração e a alma de uma te do Senhor como um casal. Há muita
saudável pessoa”.11 A conexão com os sentimentos prestação de contas não dita em nos-
Sexo é mais do que um ato físico. De do cônjuge constitui a parte mais podero- sa caminhada com o Senhor e uns com
fato, é o reflexo de um bom relaciona- sa do processo de intimidade porque traz os outros”.16
mento. Pesquisas indicam que isso envol- consigo uma sensação de proximidade e Desenvolver e manter a sexualidade
ve pelo menos quatro aspectos distintos vulnerabilidade.12 saudável é uma maneira eficaz de evitar
que funcionam em conjunto: verbal, emo- Isso envolve conversas que estão li- a tentação da pornografia. No sexo orien-
cional, espiritual e físico.8 gadas à emoção com a pergunta: “Como tado para a intimidade, ninguém é explo-
isso faz você se sentir?” Esses diálogos rado ou ferido. O ato conjugal é livre de
Intimidade verbal são muito mais significativos para as mu- vergonha porque é consistente com os
Isso envolve conhecer nosso cônjuge lheres. Frequentemente, elas são mais valores, crenças e objetivos de vida de
por meio da conversa e de passar tempo inclinadas ao ato conjugal quando todo cada cônjuge.

16 | JAN-FEV • 2018
Sair de um site
pornográfico exige que o marido relate qualquer expo-
é muito mais sição acidental à pornografia enquanto es-
tiver on-line. Se ele foi exposto e informa à
difícil do que esposa, essa experiência pode ser proces-
ficar fora dele. sada, e estratégias para evitar novas ex-
posições podem ser estabelecidas.24 Um
bom limite é estabelecido quando elimi-
na segredos e cria uma atmosfera de con-
Estabeleça limites Afaste-se da tentação. O mesmo se aplica fiança em relação ao uso do computador.
Há vários limites que estabelecemos a programas de televisão, filmes ou mate-
ao longo da vida. Eles incluem aspectos rial impresso. Ore e rejeite a pornografia e Prestação de contas
emocionais, sociais, relacionais, espirituais a tentação em nome de Jesus. Diga isso em Há duas razões pelas quais a prestação
e físicos, incluindo os sexuais. Pia Mellody voz alta. Ligue para um amigo ou fale com de contas é fundamental:
sugere que os limites atendem a três fun- sua esposa abertamente. Crie uma situa-
ções principais: (1) impedem que outros se ção para que você não esteja sozinho.”19 A Bíblia ressalta a importância
intrometam em nosso espaço pessoal ou A questão crucial deve ser a seguinte: cui- da prestação de contas
abusem de nós; (2) evitam que invadamos dar de mim mesmo é importante o suficiente Salomão escreveu: “É melhor ter com-
o espaço pessoal de outros e abusemos de- para que eu faça por mim o que for neces- panhia do que estar sozinho, porque maior
les; e (3) formam uma moldura ou estrutu- sário para que o cuidado aconteça? Robert é a recompensa do trabalho de duas pes-
ra que provê a identidade pessoal que nos Bly expressou bem esse conceito ao dizer: “A soas. Se um cair, o amigo pode ajudá-lo a
define como indivíduos.17 Limite é o que nos formação de um homem implica fazer com levantar-se. Mas pobre do homem que cai
distingue dos outros. Há várias razões pelas que seu corpo faça o que não quer fazer.”20 e não tem quem o ajude a levantar-se! E se
quais devemos estabelecer limites. dois dormirem juntos, vão manter-se aque-
Transparência cidos. Como, porém, manter-se aquecido
Segurança No casamento, os limites estabeleci- sozinho? Um homem sozinho pode ser
Rory Reid e Dan Gray explicam que o limi- dos proporcionam o ambiente ideal para o vencido, mas dois conseguem defender-se.
te é como uma cerca em torno de uma casa, desenvolvimento de uma intimidade sau- Um cordão de três dobras não se rompe
algo que nos protege do exterior, enquanto dável. Os limites para um cônjuge são ge- com facilidade” (Ec 4:9-12, NVI).
nos dá uma área na qual podemos nos sen- ralmente mais transparentes do que para Essa é a verdadeira essência do que sig-
tir seguros. Cada ser humano é seu próprio qualquer outra pessoa. Reid e Gray indi- nifica prestação de contas. É estar à dispo-
porteiro e determina quem poderá entrar no cam que a transparência representa o quão sição um do outro para fortalecimento e
recinto solene e sagrado de sua vida.18 bem podemos ver além das paredes que os apoio mútuo quando uma das partes está
Para evitar a tentação da pornografia, outros estabeleceram para se proteger, e fraca. É orar e se lembrar mutuamente da
um limite apropriado pode incluir a insta- o quanto eles podem ver além de nossas verdadeira fonte de poder contra a tenta-
lação de filtros que bloqueiam sites por- paredes. Pessoas transparentes permitem ção e a pornografia.
nográficos. Aqueles que superaram com que os outros vejam seu verdadeiro eu.21
sucesso a lascívia se esforçam para criar Essa transparência permite que os côn- Pesquisas médicas confirmam isso
ambientes que os mantenham seguros. juges se conheçam mais intimamente. Por Richard Swenson ressalta que a confis-
A segurança é encontrada no estabeleci- outro lado, também cria a vulnerabilida- são é terapêutica.25 Os pesquisadores cha-
mento e manutenção de limites saudáveis. de para ser ferido, se o cônjuge abusar da mam isso de “efeito transparência”. Revelar
confiança que se desenvolve no casamen- um problema eleva o bem-estar de manei-
Abstinência to. Isso ocorre quando alguém cruza a linha ra significativa. Relacionado a isso, Tiago
Talvez o aspecto mais benéfico do es- que define nossos limites.22 Quando um declarou: “confessai, pois, os vossos peca-
tabelecimento de limites seja a própria cônjuge se entrega à pornografia buscan- dos uns aos outros e orai uns pelos outros,
abstinência, dizer “não” a algo, incluindo do satisfação sexual fora do matrimônio, para serdes curados. Muito pode, por sua
a pornografia. Dennis Frederick oferece o limite é violado, a confiança é quebrada eficácia, a súplica do justo” (Tg 5:16). A cura
três passos para evitá-la: “Quando você e o respeito é diminuído.23 pode ser encontrada na confissão dos pe-
Alexlmx / Fotolia

está ao computador e se sente tentado a Um exemplo de limite em relação ao cados uns aos outros. Assim, esse procedi-
ver pornografia, levante-se e vá embora. uso do computador pode ser a regra que mento é apoiado bíblica e cientificamente.

JAN-FEV • 2018 | 17
5
Ibid.
Quando alguém mantém seu estilo de
• Instale filtros que bloqueiam sites 6
Ralph H. Earle Jr. e Mark R. Laaser, The Pornography
vida em segredo, isso o torna escravo da
pornográficos. Trap: Setting Pastors and Laypersons Free from
circunstância. A única maneira de expe- Sexual Addiction (Kansas City, MO: Beacon Hill,
rimentar o poder de Deus é por meio da • Dê todas as senhas a seu cônjuge. 2002), p. 47.

confissão, do compartilhamento e da reve- • Ensine seu cônjuge a verificar seu Henry Rogers, The Silent War: Ministering to Those
7

Trapped in the Deception of Pornography (Green


lação de suas feridas. Quando uma pessoa histórico de navegação na internet.
Forest, AR: New Leaf Press, 2003), p. 211.
não precisa mais esconder seus pecados, • Vá para a cama no mesmo horário 8
Gary Smalley, Making Love Last Forever (Dallas, TX:
eles perdem muito de seu poder.26 Há liber- que seu cônjuge. Word, 1996), p. 236.
dade quando alguém compartilha suas lu- 9
Gary Chapman, Making Love: The Chapman Guide to
• Se for assinar TV a cabo, opte por Making Sex an Act of Love (Carol Stream, IL: Tyndale
tas com um amigo confidente. pacotes completamente isentos de House, 2008), p. 10-12.
Um amigo confidente é alguém que pornografia. Caso haja algum canal 10
L ucy Sanna e Kathy Miller, How to Romance the
pode amar e se importar e, ao mesmo questionável, peça à sua esposa Woman You Love: The Way She Wants You To!
que o bloqueie usando uma senha (Nova York, NY: Gramercy Books, 1998), p. 189.
tempo, ser absolutamente honesto e fir-
desconhecida para você.
me quando necessário. Em seu livro The 11
Bryan Craig, Searching for Intimacy in Marriage
(Silver Spring, MD: General Conference Ministerial
Secret in the Pew, David Blythe indica que • Evite lojas que ofereçam filmes com
Association of Seventh-day Adventists, 2004), p. 74.
classificação erótica.
um confidente deve atender aos seguin- 12
Ibid.
tes critérios: • Quando tentado, seja esperto: dirija o 13
L ouann Brizendine, The Female Brain (Nova York:
coração para sua casa. Quando você vir Morgan Road Books, 2007), p. 15.
• Ter um relacionamento sólido uma imagem ou uma pessoa que o leve
com Cristo. 14
Nick Stinnett e John DeFrain, Secrets of Strong
a pensar de maneira impura, coloque Families (Nova York, NY: Berkley, 1986), citado em
• Estar disposto a ajudar e ser acessível seu cônjuge nesse quadro e controle Smalley, p. 243.
quando necessário. os sentimentos e pensamentos com 15
“Talking to God,” Newsweek , 6/1/1992, p. 42.
seu cônjuge em mente.
• Dedicar tempo para interceder
16
 arey Moore e Pamela Rosewell Moore, If Two Shall
C

por você. • Mude imediatamente de canal Agree: Praying Together As a Couple (Grand Rapids,
sempre que estiver assistindo à TV MI: Chosen Books, 1992), p. 200.
• Encontrar-se com você regularmente. e algo questionável aparecer. 17
 ia Mellody, Facing Codependence (Nova York:
P
HarperCollins, 1989).
• Ser discreto e manter em segredo as • Junte-se a um grupo masculino de 18
Rory C. Reid e Dan Gray. Confronting Your Spouse’s
coisas que você compartilha com ele. apoio e incentivo à oração. Pornography Problem (Sandy, UT: Silverleaf Press,
2006), p. 18.
• Ser alguém em quem você confia • Memorize diversos versículos da
e a quem respeite. Bíblia sobre pureza e santidade.
19
Dennis Frederick, Conquering Pornography:
Overcoming The Addiction (Enumclaw, WA:
• Ter coragem para confrontá-lo Pleasant Word, 2007), p. 227.
Desenvolver um relacionamento ínti-
quando preciso.27 20
 obert Bly, Iron John: A Book About Men (Nova
R
mo saudável, definir limites e usar medidas York, NY: Vintage Books, 1992).
É extremamente difícil falar sobre por- práticas para manter o lar isento de por- 21
Reid e Gray, p. 39.
nografia, mas isso deve ser feito. Desse nografia pode ajudar os casais a se preve- 22
Ibid.
modo, é importante encontrar um con- nirem da tentação da lascívia. Ao evitar a 23
Ibid.
fidente, alguém com quem se possa ser pornografia, nos afastamos do caminho 24
Ibid.
transparente, uma pessoa que mantenha que poderia facilmente resultar em infi- 25
 ichard Swenson, The Overload Syndrome (Carol
R
suas lutas em segredo e estimule a toma- delidade e desastre familiar. Stream, IL: NavPress, 1999).

da de boas decisões. 26
Becky Beane, “The Problem of Pornography,”
Referências Jubilee Magazine, verão de 1998, p. 23.
Stephen Sapp, Sexuality, the Bible and Science 27
 avid A. Blythe, The Secret in the Pew (Enumclaw,
D
Casamento à prova de traição
1

(Filadélfia, PA: Fortress, 1977), p. 7. WA: Pleasant Word, 2004), p. 78


Vários livros e artigos fornecem dicas 2
 llen G. White, O Lar Adventista (Tatuí, SP: Casa
E
práticas para manter o matrimônio livre Publicadora Brasileira, 2013), p. 94. Abraham Swamidass,
das tentações da pornografia. Para se ter 3
 teve Gallagher, At the Altar of Sexual Idolatry (Dry
S doutor em Ministério, é líder
um casamento à prova de traição, as se- Ridge, KY: Pure Life Ministries, 2000), p. 168, 169. do Ministério da Família
Gentileza do autor

para o estado de Wisconsin,


guintes diretrizes devem ser seguidas e re- 4
John Piper, Future Grace (Sisters, OR: Multnomah, Estados Unidos
1995), p. 336.
lembradas semanalmente:

Diga-nos o que achou deste artigo: Escreva para ministerio@cpb.com.br ou visite www.facebook.com/revistaministerio

18 | JAN-FEV • 2018
PANORAMA

Entre alegrias e lutas


E 90
la é fundamental na vida do pastor. Entretanto, às vezes é ignorada

%
pela congregação, pressionada a exercer atividades com as quais não acham que o ministério
tem afinidade ou até mesmo ser o modelo absoluto de esposa, mãe, tem um efeito positivo
dona de casa, profissional e líder de igreja. A esposa do pastor, ou “a mu- em sua família
lher sem nome”, como Nancy Dusilek intitulou seu livro, é o porto em que
o ministro encontra apoio nos momentos mais desafiadores de seu traba-
lho. Justamente por esse motivo, ela vive intensamente as alegrias e an-
gústias do ministério pastoral.
Diante desse quadro, o instituto de pesquisas LifeWay realizou um es-
tudo para saber qual é a percepção das esposas de pastor em relação à
realidade ministerial. O levantamento contou com a participação de 720
mulheres, durante os meses de junho e agosto de 2017. Ao informar os
resultados da investigação, Bob Smietana resumiu: “Ser casada com um
pastor significa ter uma vida repleta de alegria, propósito e muita dor de
cabeça.” Embora a afirmação possa parecer irônica, a pesquisa indicou que
essas mulheres valorosas veem de modo positivo o ministério e a igreja.
Confira alguns números:

85 % 72 % 69 %
afirmam, “A dizem que o
igreja a qual esposo tem
servimos cuida enfrentado
bem de nós” resistências na
igreja estão
preocupadas
sobre ter
uma renda
suficiente para a
aposentadoria

68 % 59 % 49 %
revelam que se sentem
têm poucas como se
pessoas em estivessem em
Graphiqa-Stock; Macrovector; Irinastrel123; Guingm5 / Fotolia

quem podem um aquário


confiar acreditam
que os
compromissos
com a igreja
limitam o
tempo
familiar

Fonte: LifeWay Research, Survey of American Pastor´s Spouses, <https://goo.gl/iw7VS8 >.


JAN-FEV • 2018 | 19
EXEGESE

Alegria e esperança

Douglas Reis
cantadas por um grupo e repetidas por ou- apresentar quais seriam suas implicações
tro).2 Na cena introdutória dos sete selos em relação à adoração.

O
s hinos que aparecem em Apoca- (Ap 4, 5),3 no que seria o segundo canto a Devido à delimitação de espaço, aqui
lipse 4:8 a 11; 5:9 a 14; 7:10 a 12; 11:15 constar no livro, encontramos a primei- não se tratará exaustivamente da estru-
a 18; 12:10 a 12; 15:3 e 4 e 19:1 a 8 ra ocorrência da expressão “cântico novo” tura do livro. Por isso, este artigo exami-
estão inseridos em um contexto de “con- (Ap 5:9). Posteriormente, ela também foi nará as cenas do Apocalipse propostas por
cílio divino”. Esse contexto remete a ima- utilizada por João na descrição dos 144 mil Ranko Stefanovic4 e a divisão entre a par-
gens utilizadas pelos profetas que situam (Ap 14:3). O propósito deste artigo é ana- te histórica (Ap 1:10–12:17) e a escatológica
Yahweh entre seres celestiais.1 A maioria lisar o significado da expressão “cântico (Ap 15:1–22:9),5 ou “a presença sustentado-
dos hinos tem caráter antifonal (i.e., partes novo” em seu contexto apocalíptico e ra de Cristo e Seu glorioso advento”.6

20 | JAN-FEV • 2018
suscitaram acalorado debate entre in- espíritos de Deus” (Ap 4:5; 5:6). Os “qua-
térpretes adventistas.8 tro seres viventes” (Ap 4:6-8; 5:6, 8, 14) são
O uso apocalíptico da Entretanto, parece que o peso da evi- anjos, talvez serafins (Is 6:2, 3);15 no livro de
expressão “cântico novo” dência favorece a ideia de inauguração: Ezequiel (capítulos 1 e 10), pode-se ver a in-
e suas implicações para a (1) a conexão da cruz com a entronização teração constante entre Deus, Seu trono e
adoração contemporânea (Ap 3:21), conceito também presente no li- os quatro seres.16 O Cordeiro/Leão (Ap 5:5,
vro de Hebreus (8:1–10:22); (2) a presença 6, 8, 12, 13) é uma representação do Senhor
do cordeiro, o sacrifício usual da inaugu- Jesus, o rei messiânico da linhagem de Davi
ração (Êx 40:29; Lv 1:10); (3) a ausência de e o Servo sofredor que Se entregou pela
termos ligados a julgamento e o fato do sa- humanidade (cf. Is 53). Por fim, é mencio-
crifício resultar em intercessão (Ap 5:8); (4) a nada a presença de “muitos anjos, milhares
ligação do dia da expiação com a seção final de milhares e milhões de milhões” (Ap 5:11).
do livro;9 (5) o paralelo entre Apocalipse 4 e Enquanto Apocalipse 4 destaca Deus, o
5 e 19:1 a 10,10 no qual se nota que o início do Pai, o capítulo 5 se volta para Jesus, estan-
ministério celestial de Jesus precede os se- do ambos conectados.17 Começando com o
los históricos (Ap 6:16, 17; 8:1), enquanto os livro selado com sete selos (Ap 5:1), o capí-
“selos escatológicos” (Ap 19:11–21:1-8) são tulo trata da transferência do julgamento
precedidos pela última cena do santuário divino para Cristo, que assume a respon-
celestial no Apocalipse (19:1-10), com hinos sabilidade como Senhor da História hu-
que celebram o julgamento da meretriz/ mana.18 No fim do capítulo 4 (v. 11) existe
Babilônia (Ap 17–18);11 (6) a linguagem usa- um hino ao Criador; no capítulo 5, o foco
da por João deliberada e intencionalmente da adoração é o Cordeiro (v. 9, 10, 12, 13).
remetendo ao tipo de entronização do rei Ambos os hinos permitem aos adora-
messiânico predito no Antigo Testamento dores participar tanto do passado (cria-
(cf. 2Rs 11:12-19; 2Cr 23:11-20; 1Rs 1:32-40); ção) quanto do futuro (vitória gloriosa do
(7) o cumprimento da promessa da per- Redentor).19 O hino entoado no capítulo
petuidade do reinado messiânico (Jr 23:5; 5 é denominado “cântico novo” (gr. oden
33:14-22; Ez 37:24-28; Am 9:11, 12; cf. Dn 7:13, kainen). A expressão nos remete especial-
14) como fator central para a igreja apos- mente ao livro de Salmos (33:3, 40:3, 98:1;
tólica, que viu seu cumprimento em Cristo 144:9, 149:1), mas também a Isaías (42:10).
(Fp 2:6-11);12 e (8) o contraste entre Da- No texto hebraico, o termo (shiyr chadash)
niel 7:9 a 14, claramente uma cena de juí- é o mesmo em todas as passagens. Toda-
zo, com Apocalipse 4 e 5.13 Por todas essas via, na Septuaginta, oden kainen apare-
razões, parece que o contexto de Apoca- ce somente em Salmo 144:9. Geralmente,
Highwaystarz / Fotolia

lipse 4 e 5 se reporta à entronização de “cântico novo” se relaciona à (1) exaltação


Jesus e à inauguração do Seu serviço no da providência de Deus manifestada em
santuário celestial. Seu poder criador e na proteção ao povo
A cena conta com diversos personagens da aliança (Sl 33); (2) à libertação em mo-
reais: “Aquele que está assentado no tro- mentos de crise (Sl 40; 144); (3) à vitória e
“Cântico novo” em no” (Ap 4:3, 9; 5:7, 13), adorado pelos de- aos juízos divinos (Sl 98, 149; Is 42). Esses
Apocalipse 5:9 mais, é identificado como o Deus criador três aspectos estão presentes no cântico
Em Apocalipse 4 e 5 os diversos ele- (Ap 4:10, 11). Os “vinte e quatro anciãos” dos anciãos (Ap 5:9-11).
mentos relacionados ao santuário suge- (Ap 4:4, 10; 5:6, 8, 14), que aparecem em ou-
rem um processo no qual todo o santuário tras partes do Apocalipse (Ap 7:11, 13; 11:16; “Cântico novo” em
está envolvido. No Antigo Testamen- 14:3; 19:4), são provavelmente santos glo- Apocalipse 14:3
to isso ocorria somente no dia da ex- rificados, em possível alusão àqueles que Os eventos iniciados em Apocalipse 12 e
piação (Lv 16), e ocorreu também na ressuscitaram por ocasião da morte de desdobrados no capítulo seguinte são in-
inauguração do santuário (Êx 40; 1Rs 6–8).7 Jesus (Mt 27:51-53).14 O Espírito Santo é terrompidos por uma nova sequência de
Essas duas possibilidades de alusão já representado pela expressão “os sete eventos iniciados no capítulo 14.20 O povo

JAN-FEV • 2018 | 21
selado aparece no monte Sião, como cum- formalismo ou entretenimento religioso (Berrien Springs, MI: Andrews University Press,
2009), p. 30.
primento de Joel 2:32, o que implica a vitó- alheio à teologia bíblica.
4
Stefanovic, p. 30.
ria final de Deus, libertando Seus filhos no 2. A adoração é manifestada em uma
5
 . Mervin Maxwell, Uma Nova Era Segundo as
C
tempo do fim.21 experiência comunitária a partir do que
Profecias do Apocalipse, 3a ed. (Tatuí, SP: Casa
Nesta cena, a expressão “cântico novo” Deus realiza por Seu povo. Embora possua Publicadora Brasileira, 2014), p. 62, 63.
surge novamente: “Eles [144 mil] canta- aspectos pessoais, a adoração apresenta 6
 ans LaRondelle, How to Understand the End-
H
vam um cântico novo diante do trono, dos viés coletivo. Trata-se da reunião daqueles Time Prophecies of the Bible (Sarasota, FL: First
Impressions, 1997), p. 99.
quatro seres viventes e dos anciãos” (14:3), que experimentam coletivamente as mi- 7
Jon Paulien, “The Role of the Hebrew Cultus,
seguida pela observação: “Ninguém po- sericórdias divinas. A ideia de que se pode Sanctuary, and Temple in the Plot and Structure
dia aprender o cântico, a não ser os cento adorar a Deus à parte da comunidade da of the Book of Revelation”, Andrews University
Seminary Studies, v. 33, nº 2, p. 251.
e quarenta e quatro mil que haviam sido fé não é bíblica e tampouco contribui para
8
 umários das duas posições se encontram em:
S
comprados [gr. agorazō] da Terra” (v. 4). o desenvolvimento espiritual do adorador.
Norman R. Gulley, “Revelation 4 and 5: Judgment
Digno de nota é o uso do verbo comprar 3. A adoração é traduzida na experiên- or Inauguration?”, Journal of Adventist Theological
(usado também em Ap 5:9), que denota cia de exaltar Jesus acima de qualquer ou- Society, v. 8, nº 1-2; Milton L. Torres, “Apocalipse 4 e
5 na Teologia Adventista”, Revista Teológica do Salt-
uma característica distinta dos 144 mil. O tro componente humano. Para além de Iaene, v. 1, nº 2.
termo ocorre outras duas vezes no Apo- reconhecer os atos de Deus, é necessário 9
Paulien, p. 251, 252.
calipse, referindo-se às atividades da besta enaltecer Sua pessoa. Em ambos os tex- 10
LaRondelle, p. 101.
(Ap 13:17; 18:11). Contudo, tanto no capítulo tos, Pai e Filho são adorados por Seus mé- 11
 aria Emilia Schaller de Ponce, “Reciprocidad
M
5 quanto no 14, a ação redentora do Cor- ritos, ações e atributos. Não há espaço para Teológica de Apocalipsis 4–5 y 19:1-10 y su Beneficio
en la Interpretación de Apocalipsis 4-5” (trabalho
deiro é o tema do cântico novo, o que acaba ruídos na adoração, porque as atenções se de conclusão de curso, Universidade Adventista del
potencializado pelo fato de uma multidão voltam para Aquele que as merece acima Plata, 2004), p. 118, 161.
de salvos cantar dessa experiência diante de qualquer outro ser no Universo. Eviden- 12
 anko Stefanovic, “The Background and Meaning
R
da corte celestial. Sem dúvida, um cântico temente, para que isso ocorra, a adoração of the Sealed Book of Revelation 5” (tese doutoral,
Universidade Andrews, 1995), p. 208-218.
que “é a expressão da experiência vitorio- não pode ser antropocêntrica. Ela necessita 13
Maxwell, p. 172, 173.
sa vivida com Cristo, em meio às tribula- ser compatível com a santidade, dignidade 14
Stefanovic, p. 185, 186.
ções que lhes causou a guerra do dragão.”22 e pureza Daquele que é o Cordeiro de Deus. 15
Maxwell, p. 154.
4. A adoração é declarada na experiên-
16
 ilvia Scholtus, “Los Seres Viventes de Apocalipsis:
S
Conclusão cia de testemunhar para todo o Universo Posibles Relaciones de Tiempo entre las Escenas
Ao considerar as duas ocorrências da a singularidade da redenção. Os atos de Segundo y Quarta”, DavarLogos, v. XII, nº 1-2, p. 163.

expressão “cântico novo” em Apocalipse Deus no conflito cósmico revelam Seu ca- 17
Grabiner, p. 109.

(5:9; 14:3), fica claro que ela se aplica aos ráter e, ao reconhecer Sua bondade em nos 18
LaRondelle, p. 123.
seres redimidos que serão reunidos por redimir, testemunhamos para o Universo 19
 . Eugene Boring, Revelation: Interpretation: A
M
Bible Commentary for Teaching and Preaching
ocasião da vinda de Cristo. O que pode- Seu amor incomparável.
(Louisville, KY: Westminster John Knox Press, 2011),
mos aprender ao receber informação ins- Sem dúvida, mesmo na realidade da p. 112.
pirada sobre a adoração perfeita daqueles vida cristã em santificação, já nos inseri- 20
John N. Andrews, Three Messages of Revelation 14
que foram resgatados da servidão do pe- mos no contexto de adorar a Deus com (Nashville, TN: Southern Publishing Association,
1970; fac-símile da edição original, Battle Creek, MI,
cado? Sugiro quatro pontos importantes: um “cântico novo”. À medida que avan- 1892), p. 10, 11.
1. A adoração é centrada em uma expe- çamos em nosso relacionamento com 21
Stefanovic, p. 448.
riência espiritual a partir de algo que Deus Cristo, o Espírito Santo nos preparará para 22
Mario Veloso, Apocalipsis y El Fin Del Mundo:
realiza na vida do adorador. Ninguém pode a adoração na eternidade. Fe Para Enfrentar La Crisis Final (Buenos Aires:
Asociación Casa Editora Sudamericana, 1999), p. 172.
participar da adoração a não ser que com-
Referências
preenda e reconheça as ações divinas em
1
 teven Charles Grabiner, “Revelation’s Hymns:
S
seu favor. Adorar é a resposta do homem,
Commentary on the Cosmic Conflict” (tese doutoral, Douglas Reis, mestrando
não sua iniciativa. Qualquer motivação Universidade da África do Sul, 2013), p. 65, 318, 319. em Teologia Sistemática, é
para a adoração que não esteja fundamen- pastor em Curitiba, PR
Gentileza do autor

2
Brian K. Blount, Revelation (Louisville, KY:
tada na ação redentora de Deus será insu- Westminster John Knox, 2009), p. 95.

ficiente e poderá gerar uma atmosfera de 3


 anko Stefanovic, Revelation of Jesus Christ:
R
Commentary on the Book of Revelation, 2a ed.

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22 | JAN-FEV • 2018
TEOLOGIA

Templo vivo
com um dom ou talento em potencial como
adquirir tal habilidade. Os dons naturais não
têm qualquer ligação com nossa condição es-
piritual, com nossa relação com Deus. Dessa
maneira, um cristão pode ser um bom me-
cânico de automóveis, mas um pagão ou
ateu também pode. Assim como o Senhor
O corpo de Cristo é constituído de diferentes “faz nascer o Seu sol sobre maus e bons e vir
chuvas sobre justos e injustos” (Mt 5:45), Ele
membros, e todos são necessários
concede dons naturais a todos, segundo a
Sua vontade.
Um dom espiritual, por sua vez, também
é uma capacidade dada por Deus, para que
Emilson dos Reis
se possa realizar bem uma tarefa, mas que

A
Igreja Adventista do Sétimo Dia menos pregada, ensinada e conhecida, a tenha um significado espiritual e que, ne-
possui um conjunto de 28 crenças dos dons espirituais. O propósito é explorar cessariamente, auxilie a igreja a cumprir
fundamentais. Algumas delas são algumas ideias contidas no capítulo mais sua missão. Os dons espirituais são conce-
partilhadas por muitas outras denomina- importante do Novo Testamento sobre o didos somente àqueles que, tendo ouvido
ções cristãs, como é o caso das doutrinas tema, 1 Coríntios 12, a fim de extrair con- o evangelho, creram em Cristo e O recebe-
sobre as Escrituras e a Trindade. Outras nos ceitos aplicáveis para o cotidiano da igreja. ram como Salvador e Senhor de sua vida.
distinguem, como a crença sobre a santida- É importante que se diga que um dom
de do sábado ou o dom de profecia. Uma O significado espiritual não é um dom natural aperfei-
das mais conhecidas e apreciadas é a que O que é um dom espiritual? Para defini- çoado ou consagrado a Deus, mas algo es-
trata a respeito do Filho de Deus, pois é uni- lo é preciso compará-lo e contrastá-lo com pecial, sobrenatural. Alguém pode ter um
Rawpixel.com / Fotolia

camente em Cristo que se concentra nossa um dom natural. Dom ou talento natural é dom espiritual na mesma área de seu dom
esperança de salvação. Este artigo, porém, a capacidade dada por Deus para se fazer natural, mas isso depende da vontade do
trata daquela que é a crença fundamental bem alguma coisa. Podemos tanto nascer Espírito Santo (1Co 12:4-11). Por exemplo,

JAN-FEV • 2018 | 23
o fato de um cristão ser um líder bem- Podemos dizer que ministério é o serviço conforme o dom que recebeu. “Porque,
sucedido numa empresa não significa, que realizamos com os dons espirituais que assim como o corpo é um e tem muitos
necessariamente, que será um líder efi- recebemos. O dom pode ser o mesmo, mas o membros, e todos os membros, sendo mui-
ciente em sua igreja. exercício do ministério, diferente. Enquanto tos, constituem um só corpo, assim tam-
Em 1 Coríntios 12, o apóstolo Paulo des- o ministério de Tiago e João teve seu foco no bém com respeito a Cristo. Pois, em um só
creveu duas listas de dons espirituais: uma povo judeu, o de Paulo e Barnabé foi princi- Espírito, todos nós fomos batizados em um
nos versículos 8 a 10 e outra no versículo 28. palmente entre os gentios (Gl 2:7-9). corpo, quer judeus, quer gregos, quer es-
Nesta última, lemos: “A uns estabeleceu Assim como há diversidade de dons, há cravos, quer livres. E a todos foi dado beber
Deus na igreja, primeiramente, apóstolos; diversidade de ministérios também. Alguns de um só Espírito. Porque também o corpo
em segundo lugar, profetas; em terceiro lu- têm seu ministério entre os incrédulos e fo- não é um só membro, mas muitos” (v. 12-14).
gar, mestres; depois, operadores de mila- ram capacitados para evangelizá-los. Outros Um corpo é constituído de diversos
gres; depois, dons de curar, socorros, gover- exercem seu ministério aperfeiçoando e con- membros, órgãos e sistemas. São dife-
nos, variedades de línguas”. Há outras listas servando na fé os que já se converteram. rentes uns dos outros em tamanho, for-
de dons no Novo Testamento (Rm 12:6-8; Alguns têm seu ministério em outras terras, mato e funções. Aquilo que um faz, o
Ef 4:11, 12) e, ao longo do tempo, outros dons e nós os chamamos de missionários. Há tam- outro não pode fazer. Conforme escreveu
podem ter sido dados para capacitar a igreja bém os que ministram às crianças, e aqueles Ellen G. White: “Em todas as disposições
a cumprir sua missão no mundo. que trabalham com universitários. Enfim, há do Senhor, não existe nada mais belo do
uma ampla variedade de ministérios. que Seu plano de dar aos Seus filhos uma
Os dons É importante destacar, porém, que en- diversidade de dons.”1
É um fato que a Trindade está envol- quanto os dons espirituais são da compe- Alguns membros do corpo, por sua pró-
vida na questão dos dons (1Co 12:4-6). tência do Espírito de Deus, os ministérios pria localização, função e aparência são
O Espírito Santo tem a grande obra de são da alçada do Senhor Jesus, conforme mais notados do que outros. Pelo mesmo
distribuí-los àqueles que pertencem ao afirma o versículo 5. É o Filho de Deus que motivo, outros quase não são vistos. Isso
povo de Deus. O mesmo Espírito que nos determina nossa esfera de ação. também ocorre na igreja. Enquanto alguns
conduziu a Cristo é Aquele que nos outor- estão em evidência, outros passam desper-
ga dons espirituais (v. 2, 3). Tal distribuição O poder cebidos. No entanto, todos são necessários.
é feita de modo individual: “Mas um só e o Além da diversidade de dons e de mi- Assim, ninguém deve se julgar inferior.
mesmo Espírito realiza todas estas coisas, nistérios, também há diversidade nas Nas palavras do apóstolo: “Se o ouvido dis-
distribuindo-as, como Lhe apraz, a cada realizações. “Há diferentes formas de atua- ser: Porque não sou olho, não sou do corpo;
um, individualmente” (v. 11). ção, mas é o mesmo Deus que efetua tudo nem por isso deixa de o ser. Se todo o corpo
Todos os crentes são dotados com algum em todos” (1Co 12:6, NVI). Uma realização fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo
dom (Ef 4:7). Por outro lado, ninguém pode se refere ao grau de poder com o qual um fosse ouvido, onde, o olfato? Mas Deus dis-
afirmar que tem todos os dons e que não dom se manifesta numa ocasião específi- pôs os membros, colocando cada um de-
precisa da cooperação de nenhum de seus ca. Assim, dois cristãos podem ter o mesmo les no corpo, como Lhe aprouve” (v.16-18).
irmãos. Na prática, o que ocorre é que alguns dom e até o mesmo ministério, mas terem Paulo também adverte quem se julga
descobriram seus dons e os estão usando; métodos de trabalho ou resultados distin- superior por causa de seu dom. “Não po-
outros já os descobriram, mas ainda não os tos. Então, tanto o método empregado dem os olhos dizer à mão: Não precisamos
estão empregando; e outros ainda não es- quanto o grau de poder para executá-lo de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não
tão usando seus dons porque até o momen- são concedidos por Deus, segundo Sua preciso de vós. Pelo contrário, os mem-
to não sabem quais são. O importante é que vontade. Assim, entendemos que o Espírito bros do corpo que parecem ser mais fra-
cada cristão ore e se empenhe para descobrir Santo concede os dons espirituais, Cristo cos são necessários” (v. 21, 22).
e usar os dons que o Espírito de Deus lhe deu. designa os serviços e, Deus Pai, o méto- Em suma, Deus quer que Sua igreja pos-
do ou o poder necessário para o trabalho. sua os mais variados dons, de modo a cres-
Os ministérios cer e cumprir sua missão. “O Senhor tem
O versículo 5 declara que “há diversida- A diversidade um lugar para cada um em Seu grande pla-
de nos serviços, mas o Senhor é o mesmo”. Para destacar a relação entre os di- no. [...] Os talentos do humilde suburbano
Outra tradução diz: “há diferentes tipos versos dons, ministérios e realizações na são necessários para o trabalho de casa
de ministérios, mas o Senhor é o mesmo” igreja, Paulo se utiliza da figura do corpo em casa e podem fazer mais nesta obra
(NVI). humano, no qual cada crente é um membro, do que brilhantes dons. E aquele que usa

24 | JAN-FEV • 2018
retamente seu único talento será tão ver- Por último, a unidade ocorre nas dife- segundo a justa cooperação de cada parte,
dadeiramente recompensado como o que rentes situações da vida. Tanto nos mo- efetua o seu próprio aumento para a edifi-
usa cinco talentos.”2 mentos tristes quanto nos alegres, os cação de si mesmo em amor”.
membros se unem para auxiliar ou celebrar. Assim, os dons espirituais resultam no
A unidade “De maneira que, se um membro sofre, to- aperfeiçoamento dos santos (v. 11, 12). Os
Uma característica evidente do corpo dos sofrem com ele; e, se um deles é hon- dons dados aos apóstolos, profetas, evan-
de Cristo é a unidade. Cada um de nós é rado, com ele todos se regozijam” (v. 26). gelistas, pastores e mestres servem como
parte do todo. Há unidade na diversida- instrumentos de Deus para aperfeiçoar
de. Todos operam para o bem comum. Os dons no corpo de Cristo nossos irmãos de fé, para que eles tam-
Simplesmente cada um faz aquilo que sabe De acordo com Paulo, os dons espiri- bém saibam usar seus dons.
fazer, e o faz para o bem de todo o corpo, tuais são concedidos “a cada um visando Os dons espirituais possibilitam que os
sem distanciamentos ou rivalidades. a um fim proveitoso” (v. 7). Que proveito é membros da igreja desempenhem bem o
Assim, a unidade se manifesta na co- esse? A resposta se encontra nesse e em seu serviço (v. 12). Cada cristão tem um
operação entre os membros que tra- outros capítulos da Bíblia que tratam do ministério a desempenhar na igreja e foi
balham lado a lado na execução das assunto. Vejamos: capacitado para isso mediante os dons es-
tarefas. Ellen G. White salienta que “dife- Os dons espirituais favorecem a mútua pirituais que recebeu.
rentes dons, combinados, são necessários cooperação. “Para que não haja divisão no Os dons espirituais possibilitam a igreja
para o bom êxito da obra.”3 corpo; pelo contrário, cooperem os mem- alcançar o alvo da “unidade na fé”, do “ple-
A unidade também deve se evidenciar bros, com igual cuidado, em favor uns dos no conhecimento do Filho de Deus” e da
na cooperação entre os membros quando outros” (v. 25, 26). Os crentes abençoam uns “estatura da plenitude de Cristo” (v. 12, 13).
trabalham um após o outro. “Homem al- aos outros segundo os dons que receberam. Os dons espirituais nos capacitam a fi-
gum pense ser seu dever começar e levar Os dons espirituais promovem a gló- car firmes, inamovíveis em nossa fé e pro-
avante uma obra inteiramente por si. Uma ria de Deus. Seja qual for o dom espiritual movem a edificação e o crescimento da
vez que Deus permita dar outros dons a ou- que tenhamos recebido, devemos usá-lo, igreja (v. 12, 14-16). Ninguém consegue
tros obreiros para trabalhar na conversão de acima de tudo, para glorificar a Deus nos enganar nem somos abalados por fal-
pessoas, coopere de boa vontade com eles.”4 (1Pe 4:11) e levar as pessoas que são alcan- sos ensinos. Permanecemos na verdade,
Além disso, unidade implica estar jun- çadas por Ele a dar-Lhe glórias também. mas em amor (Ef 4:14, 15).
tos. Deus não está guiando indivíduos iso- Em complemento às ideias apresen- Portanto, o ensino bíblico sobre os dons
lados, mas um povo para o Seu reino. Se tadas em 1 Coríntios 12, Paulo afirma em espirituais é fundamental e merece nos-
nos negamos a congregar com nossos ir- Efésios 4:11 a 16 que Deus “concedeu uns sa atenção. Compreendê-lo e pô-lo em
mãos estamos desobedecendo a ordem di- para apóstolos, outros para profetas, ou- prática é indispensável para que a igreja
vina e perdendo Suas bênçãos (cf. Hb 10:25). tros para evangelistas e outros para pas- seja unida, cresça em todos os aspectos e
A ilustração do corpo humano nos lem- tores e mestres, com vistas ao aperfeiçoa- cumpra sua missão.
bra de que, em pouco tempo, qualquer mento dos santos, para o desempenho do
membro que se separa do corpo acaba seu serviço, para a edificação do corpo de Referências

morrendo. Cristo, até que todos cheguemos à unidade


1
Ellen G. White, Evangelismo, 3ª ed. (Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira, 1997), p. 98.
Unidade também pressupõe ausência da fé e do pleno conhecimento do Filho de 2
 llen G. White, Ministério do Amor, (Tatuí, SP: Casa
E
de divisões. O propósito de Deus é “que Deus, à perfeita varonilidade, à medida Publicadora Brasileira, 2003), p. 102.
não haja divisão no corpo” (v. 25). Os mem- da estatura da plenitude de Cristo, para que 3
Evangelismo, p. 102.
bros não operam isoladamente nem se não mais sejamos como meninos, agitados 4
Ibid., p. 336, 337.
agridem uns aos outros. Nenhum mem- de um lado para outro e levados ao redor
bro fere ou machuca outro membro. por todo vento de doutrina, pela artimanha
Na sequência, unidade requer ajuda dos homens, pela astúcia com que induzem Emilson dos Reis, doutor em
mútua. “Cooperem os membros, com igual ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor, Teologia, é professor no Unasp,
Engenheiro Coelho
cuidado, em favor uns dos outros” (v. 25). cresçamos em tudo naquele que é a cabeça,
Gentileza do autor

Os membros devem se ajudar mutuamen- Cristo, de quem todo o corpo, bem ajusta-
te, cuidando uns dos outros. do e consolidado pelo auxílio de toda junta,

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JAN-FEV • 2018 | 25
IGREJA

Tranque a porta
dos fundos
Cinco chaves para reduzir
a apostasia na igreja local

Alan Parker

I
nfelizmente, pesquisas atuais indicam que
49 em cada 100 novos conversos aban-
donam a igreja.1 Muitas vezes nos con-
centramos tanto em evangelizar que nos
esquecemos de que nutrir e discipular os
Myskina6 / Fotolia

novos membros é igualmente importante.


De certa forma, estamos deixando a por-
ta de trás entreaberta para que eles saiam.
Em nossa igreja temos nos preocupado interessado da igreja ou aluno da classe bíbli- seus pontos teológicos preferidos, mas se
com o processo de conservação dos novos ca é acompanhado por um amigo espiritual, concentrar em estimular um cristianismo
membros. Ao longo dos últimos cinco anos um membro da igreja. Sua responsabilidade prático. O amigo espiritual deve entender
tenho trabalhado com várias congrega- é cuidar do interessado durante três meses. a importância de apresentar o interessa-
ções cujo índice de apostasia é próximo de O programa é simples: ele deverá entrar em do a outros membros da igreja.
zero. Com o tempo, descobrimos cinco cha- contato com essa pessoa pelo menos uma Costumo contar minha experiência
ves para trancar a porta dos fundos. Elas vez por semana, sentar-se com ela na igreja, quando realizo esse treinamento. Demorou
podem ser vistas como comuns, mas são convidá-la para uma refeição, compartilhar cerca de dois anos para eu me “encaixar” na
fundamentais, se queremos discipular e ga- literatura com ela, chamá-la para uma ati- igreja. Uma família que sempre me convi-
rantir a permanência dos recém-batizados. vidade social ou esportiva, apresentá-la a dava para estar em sua casa aos sábados
outros membros e ajudá-la a vencer aquilo foi o que me ajudou no processo de adap-
Amigos espirituais que ela precisa mudar. tação. O casal me tratava como se eu fosse
Fico perplexo pela maneira como, mui- Não há nada excepcional nesse proje- um de seus filhos. Sendo um neófito, eles
tas vezes, os novos conversos são negligen- to. Seu sucesso está no fato de se atribuir não se incomodavam com meus erros e, em
ciados. A maioria dos membros é amigável responsabilidade. Uma vez por semana, os vez de me censurar, demonstravam amor.
quando uma pessoa está entrando na amigos espirituais devem enviar um e-mail
igreja. Contudo, depois que ela é batizada, para o coordenador do programa infor- Pequenos grupos
os membros retornam aos seus velhos mando sobre o acompanhamento reali- Essa segunda estratégia foi uma sur-
círculos de amizade. Acabam inadvertida- zado. É incrível como um sistema simples presa para mim. Descobri que os peque-
mente se esquecendo dos novos membros, pode nos ajudar a ser mais responsáveis nos grupos são uma maneira poderosa de
no momento em que estes estão fazendo com aqueles que Deus confiou aos nos- firmar os novos conversos na fé. Digo sur-
grandes mudanças em sua vida. sos cuidados. presa porque nos Estados Unidos os mem-
O pastor Gary Gibbs, atualmente presi- O programa deve ser lançado após um bros não são acostumados com pequenos
dente da Associação da Pensilvânia, com- breve treinamento. Nele se enfatiza que o grupos. No entanto, os recém-conversos
partilhou comigo um programa que ele tem amigo espiritual deve ser discreto, não usar amam a ideia! Após uma série evangelísti-
usado chamado Amigos Espirituais. Cada de fofocas ou críticas, não compartilhar ca e o estabelecimento de uma nova igreja,

26 | JAN-FEV • 2018
inicio alguns pequenos grupos com aque- seu orçamento para as conferências encon- mas aquela congregação assumiu o risco e
les que foram batizados, seus familiares tros sociais com lanche, almoços e outros me delegou responsabilidades que eu po-
e amigos. eventos para interagir com os novos con- deria exercer sob a supervisão de líderes
Ao nos reunirmos nos lares dos novos versos. Isso ajuda a preencher o “vácuo” mais experientes.
conversos, podemos estudar de maneira que eles experimentam quando termina
mais descontraída os temas abordados e o o evangelismo. Um modo simples de fazer Seminários de evangelismo
estilo de vida do cristão. Separamos tam- isso é planejar um evento social para o últi- Pesquisas recentes revelam que, em
bém um momento para confraternização, mo dia da série ou para a semana seguinte média, leva de seis a 18 meses para que
enquanto participamos de um lanche. É ao encerramento. O ideal é que este seja um os recém-batizados de uma série evan-
maravilhoso ver como os participantes se excelente momento para eles. Tenho cer- gelística se integrem à sua nova congre-
unem e crescem na fé. Isso realmente aju- teza de que será muito mais fácil integrá- gação.2 Durante esse período, enquanto
da os novos membros a se sentirem me- los à igreja! tentam se firmar na fé, eles são muito vul-
nos estranhos e mais integrados na igreja. neráveis. Talvez porque não conseguiram
É verdade que nem todos os pequenos Envolvimento na missão absorver tudo o que ouviram durante as
grupos obtêm sucesso. Alguns são inicia- Embora as interações sociais sejam im- conferências. Uma das melhores manei-
dos e, após algum tempo, encerrados. É ne- portantes, elas não são suficientes. Os no- ras de fortalecê-los na igreja é convidá-los
cessário entender que eles também têm vos membros precisam se comprometer a participar de um seminário de evange-
um ciclo de vida. Por exemplo, nos Esta- com a missão da igreja. Assim como Jesus lismo. Tenho observado que os neófitos
dos Unidos, na época do verão e por oca- envolveu Seus discípulos em atividades são os mais atentos e comprometidos em
sião das festas de fim de ano, a frequência missionárias, mesmo antes de eles estarem meus seminários.
dos participantes tende a diminuir, e pode totalmente convertidos, precisamos envol- Logo após meu batismo, participei de
ser necessário fazer uma pausa. É preci- ver os interessados antes de se tornarem um desses seminários. Fiquei tão motiva-
so ser flexível e se adaptar às necessida- membros. De fato, eles são os mais moti- do que, aos 16 anos de idade, realizei minha
des do grupo. vados para atividades missionárias, porque primeira série evangelística. A experiência
A classe pós-batismal também pode ser estão vivendo o primeiro amor. me ajudou a fortalecer a fé e ser um pastor.
considerada um pequeno grupo. Os ami- Envolver interessados da igreja em
gos espirituais dos recém-batizados de- mutirões de divulgação de séries evange- Conclusão
vem acompanhá-los nessa classe. Os 15 lísticas também é uma excelente oportu- Essas cinco chaves não são infalíveis. As
primeiros minutos devem ser de diálogo nidade para integrá-los. Eles podem ajudar pessoas deixam a igreja por diversas ra-
sobre como estão indo em sua nova vida a distribuir literatura, convites e fazer pes- zões. Nem todos os membros se respon-
com Cristo. O tempo principal é usado para quisas de interesse. Alguns até começam sabilizam pelos novos na fé, mesmo que
o tema bíblico a ser estudado. a dar estudos bíblicos antes de serem ba- sejam treinados para isso. No entanto, na
Amigos espirituais e pequenos grupos tizados. Quando realizei um grande trei- maioria dos casos, se ajudarmos a se en-
são métodos fantásticos para conservar namento para obreiros bíblicos leigos, um volverem e se integrarem, eles permane-
novos conversos, mas ainda existe um pe- número significativo de participantes era cerão. Dessa forma, fecharemos a porta
rigo. Os recém-batizados podem estar li- de interessados que ainda não haviam sido dos fundos e a manteremos trancada.
gados a seu amigo espiritual, mas isso não batizados. Descobri que as pessoas dese-
Referências
significa que estejam conectados à igreja jam “pertencer” antes de “crer”. Uma das
1
 ndrew McChesney, “Every Adventist Urged to Help
A
como um todo. É por isso que precisamos razões pelas quais estou no ministério hoje
Stem Membership Losses”, <https://goo.gl/pWqm8n>.
de outra chave. é porque quando eu era novo na fé, a igre- 2
 esquisas realizadas com mais de 30 igrejas nos
P
ja me envolveu. Mesmo antes de ser bati- Estados Unidos, entre 2009 e 2016.
Atividades sociais zado, eu estava engajado em atividades
Para ajudar na integração dos novos missionárias e ensinava desbravadores a Alan Parker, doutor em Teologia,
membros, também é preciso criar oportu- consertar motores de motocicletas. Após o é professor e diretor da Faculdade
Adventista de Teologia em
nidades para desenvolver amizades através batismo, fui nomeado diácono com apenas
Gentileza do autor

Collegedale, Estados Unidos


de atividades sociais. As igrejas que rece- 15 anos, e ancião jovem aos 17. Ainda havia
bem a série evangelística podem incluir em muitas coisas que eu precisava aprender,

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JAN-FEV • 2018 | 27
HISTÓRIA

Espiritualidade e saúde
Alberto Tasso Barros

O
tema da mensagem de saúde é um prejudiciais e deveriam ser completamen-
dos assuntos mais controvertidos te abandonados.2
na Igreja Adventista. Mesmo em No entanto, sua mais importante vi-
uma análise superficial, prontamente se são sobre saúde ocorreu em 6 de junho de
percebe dois grupos: extremistas que vi- 1863, em Otsego, Michigan. Seu conteú-
vem como se a reforma de saúde fosse o do foi relatado em 16 páginas que des-
aspecto mais importante da experiência crevem a essência da mensagem
cristã, e um grupo maior que considera adventista de saúde. Entre os
esse importante ponto da mensagem ad- muitos princípios apresen-
ventista apenas um anexo sem importân- tados, os mais impor-
cia para a vida do cristão. tantes foram: (1) os que
Nesse conflito, o vegetarianismo está não controlam o ape-
entre os temas mais discutidos. Encontrar tite tornam-se intem-
a melhor maneira de abordar o assunto perantes; (2) bolos,
não é tarefa simples, especialmente pelas tortas e pudins mui-
diferenças culturais, sociais e econômicas to substanciosos são
que existem no mundo. Ellen G. White foi a prejudiciais; (3) a carne
principal voz no adventismo sobre a men- de porco não deve ser
sagem de saúde, e seus livros estabelece- consumida em nenhu-
ram a base para o estilo de vida adventista. ma circunstância; (4)
Portanto, compreender e interpretar cor- fumo, chá e café devem
retamente o que ela escreveu é o caminho ser abandonados; (5) comer
mais coerente e seguro. entre as refeições prejudica o
estômago; (6) cuidar da higiene do
Adventismo e corpo e da casa; (7) o consumo de
reforma de saúde carne é prejudicial ao organismo; e (8)
O movimento da mensagem de saú- fazer bom uso dos oito remédios da
de adventista teve como base a grande natureza.3
corrente americana de reformas sanitá- Apesar das orientações de Ellen
rias entre os anos 1800 e 1850. Essas re- G. White não serem uma comple-
formas criaram as condições necessárias ta novidade no contexto das refor-
para a compreensão adventista da saúde, mas do século 19, a relação da saúde
conferindo-lhe alto grau de relevância já com a espiritualidade constitui o gran-
nos primeiros anos da denominação.1 Em de diferencial de seus ensinos. A men-
1848, quatro anos após sua primeira vi- sagem de saúde estava inserida em um
Freshidea / Fotolia

são, Ellen G. White recebeu as primeiras sistema de doutrinas chamado de a ver-


informações sobre a mensagem de saú- dade presente pelos pioneiros adven-
de. Ela viu que tabaco, chá e café eram tistas.4 Em 1900, a autora escreveu:

28 | JAN-FEV • 2018
O vegetarianismo nos “A verdade presente repousa na obra da re- a abstinência de outros tipos de carne,
forma de saúde tanto quanto nos outros as- dando preferência ao vegetarianismo. É
escritos e na experiência
pectos do evangelho.”5 Para ela, o cuidado importante esclarecer que o sentido da pa-
de Ellen G. White da saúde “não é um apêndice desneces- lavra “carne” usada por Ellen G. White qua-
sário à verdade, é uma parte da verdade”.6 se sempre se refere à carne vermelha, uma
Esse conceito integrado foi fundamen- vez que os peixes são tratados como um
tal para formar o estilo de vida adventis- tema à parte.10
ta. Por isso é importante estabelecer uma No ano seguinte, com a publicação do
conexão entre a mensagem de saúde e a quarto volume de Spiritual Gifts, a au-
espiritualidade. Uma das citações de maior tora passou a insistir na adoção de uma
destaque que evidencia essa ligação foi dieta sem carne. Ela declarou que: (1) o ali-
publicada em 1867: “Foi-me mostra- mento ideal de Deus para Suas criaturas
do que a reforma de saúde faz parte está no Éden; (2) o Senhor permitiu que
da mensagem do terceiro anjo, e está se comesse carne após o dilúvio para di-
tão intimamente ligada a ela como minuir a vida do homem; (3) na peregri-
o braço e a mão estão ao corpo.”7 nação do deserto, Ele não proibiu a carne,
mas proveu um alimento melhor; (4) a car-
O vegetarianismo ne condimentada produz um estado febril
nos escritos de e contamina o sangue; (5) quem consome
Ellen G. White muita carne não apreciará uma alimen-
O contexto apre- tação saudável de imediato; (6) crianças
sentado quanto à que comem carne favorecem as tendên-
reforma de saúde cias animais; e (7) a carne de muitos ani-
serve como base mais está enferma devido às condições
para compreen- precárias em que eles são mantidos an-
der a posição de tes de serem abatidos.11
Ellen G. White Anos mais tarde, Ellen G. White conti-
sobre o uso da nuou a escrever sobre os malefícios do re-
carne. Ela nunca gime cárneo, e apontou que ele: (1) afeta
tratou desse as- a atividade intelectual (1890);12 (2) preju-
sunto de forma dica a capacidade mental para entender a
isolada, ainda que Deus e a verdade (1897);13 (3) debilita as fa-
seus pontos de vis- culdades físicas, mentais e morais (1901);14
ta a respeito de uma (4) desperta o desejo de consumir bebidas
dieta vegetariana se- alcoólicas (1901);15 e (5) aumenta a possi-
jam vastos. Em seus blidade de contrair enfermidades (1905).16
escritos, o controle do Em um dos seus mais importantes livros
apetite, inclusive a questão sobre saúde, ela também alertou sobre
de comer carne, está relacio- outro aspecto que raras vezes é mencio-
nado ao princípio central de nado. O regime cárneo “envolve cruelda-
“manter nosso corpo na me- de para com os animais [...] criaturas de
lhor condição de saúde”.8 Deus” 17 e, também por isso, seu consu-
O tema da carne foi apresentado mo é objetável.
pela primeira vez à autora na visão de Ao longo de seu ministério, as adver-
1863. Os principais conceitos relacionados tências de Ellen G. White sobre a carne se
ao alimento cárneo também foram rece- tornaram mais enfáticas. Ela reconheceu
bidos nessa ocasião. A carne de porco foi que a qualidade da carne estava cada vez
condenada como imprópria para o con- pior. Em 1905, escreveu que “a carne nun-
sumo.9 Além disso, a visão orientou para ca foi o melhor alimento; seu uso agora

JAN-FEV • 2018 | 29
é duplamente objetável, visto as doen- família White havia sido vegetariana, mas 5
 llen G. White, Testemunhos para a Igreja, v. 6 (Tatuí,
E
SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012), p. 327.
ças nos animais estar crescendo com tan- não totalmente abstêmia de carne.26 Ape-
6
 llen G. White, Testemunhos para a Igreja, v. 1 (Tatuí,
E
ta rapidez”.18 sar de seu vegetarianismo, o consumo es-
SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012), p. 546.
No entanto, por mais que Ellen G. White porádico de carne podia acontecer devido 7
Ibid., p. 486.
advogasse fortemente em favor da dieta a uma viagem longa ou quando a cozinhei- 8
 llen G. White, Testemunhos para a Igreja, v. 2 (Tatuí,
E
vegetariana, ela não insistia nisso para to- ra não sabia preparar comida vegetariana.27 SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012), p. 65.
das as pessoas em todos os lugares.19 É im- Foi somente em 1894 que Ellen G. White 9
 on Graybill, “The development of adventist
R
portante admitir que havia exceções que decidiu que não comeria mais carne, nem thinking on clean and unclean meats”,
< https://goo.gl/FecV4K>.
ela mesma experimentou em sua vida pes- mesmo ocasionalmente. Ela relatou: “Des-
10
 ndrés Afonso Tovar Galarcio, “Análisis de citas
A
soal. No fim de 1868, a autora escreveu de a reunião campal de Brighton (janeiro de controversiales sobre el consumo de la carne en
ao esposo de uma senhora muito doente 1894) bani absolutamente a carne da mi- escritos de Ellen G. White: un estudio histórico-
contextual” (dissertação de mestrado, Universidade
que teria sido melhor comer uma pequena nha mesa.”28 A autora sempre demonstrou
Peruana União, 2016), p. 56.
porção de carne que sentir um profundo bom senso quanto ao consumo de alimen- 11
Ellen G. White, Spiritual Gifts, v. 4,
desejo por ela.20 Ela também recomendou to cárneo e foi tolerante a seu uso oca- <egwwritings.org>, p. 120-150.
cautela quanto ao deixar a carne: “Nin- sional até quando entendeu que comê-lo 12
Ellen G. White, Conselhos Sobre o Regime Alimentar
guém deve ser solicitado a fazer abrupta- seria demasiado prejudicial. Foi a partir (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007), p. 388.

mente a mudança.”21 Para Ellen G. White, o desse período que suas advertências mais 13
Ibid., p. 383.

vegetarianismo jamais seria uma prova de sérias contra a carne foram escritas. 14
Ibid., p. 268.

comunhão entre os membros da igreja.22 15


Ibid.

Já no fim da vida, em 1909, a escritora Conclusão 16


 llen G. White, A Ciência do Bom Viver (Tatuí, SP:
E
Casa Publicadora Brasileira, 2004), p. 313.
registrou o que pode ser entendido como Em resumo, pode-se afirmar que os es-
17
Ibid., p. 315.
o resumo de sua ideia em relação ao con- critos de Ellen G. White nos ensinam que
18
Ibid., p. 313.
sumo de carne: “Não estabelecemos regra a carne deve ser evitada nos lugares em
19
 enis Fortin, Jerry Moon, Michael W. Campbell
D
alguma para ser seguida no regime alimen- que há abundância de frutas, cereais e
e George R. Knight, eds. The Ellen G. White
tar, mas dizemos que nos países em que verduras. No entanto, é preciso cautela, Encyclopedia (Hagerstown, MD: Review and Herald,
há muita fruta, cereais e nozes, os alimen- pois não se pode descartar o alimento cár- 2013), p. 1247.

tos cárneos não constituem alimentação neo abruptamente, sem prover adequa- 20
 llen G. White, Testemunhos para a Igreja, v. 2 (Tatuí,
E
SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), p. 384.
própria para o povo de Deus.”23 Assim, por da substituição nutricional. A carne não é
21
Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver, p. 317.
mais que não exista uma regra fixa quanto um alimento saudável e pode trazer prejuí-
22
Ellen G. White, Conselhos Para a Igreja,
a uma dieta particular, está claro que onde zos em nossa relação espiritual com Deus. <egwwritings.org>, p. 240.
e quando for possível, o povo de Deus deve Ellen G. White foi fiel a esses princípios 23
 llen G. White, Testemunhos para a Igreja, v. 9 (Tatuí,
E
preferir comer “frutas, cereais e verduras, e sempre advogou bom senso e cuida- SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), p. 159.
preparados de forma simples”.24 do com extremismos. Em 1904, ela afir- 24
 llen G. White, Conselhos Sobre o Regime
E
mou: “Tenho melhor saúde, não obstante Alimentar, p. 355.

A experiência pessoal achar-me com setenta e seis anos de ida-


25
Ibid., p. 482.

de Ellen G. White de, do que tinha em meus tempos juvenis.


26
Herbert Douglass, Mensageira do Senhor, p. 316.

Alguns criticam Ellen G. White por não Dou graças a Deus pelos princípios da re-
27
 enis Fortin, Jerry Moon, Michael W. Campbell
D
e George R. Knight, eds. The Ellen G. White
ter vivido a mensagem de saúde como ela forma de saúde.”29 Encyclopedia, p. 1247.
mesma propôs em seus escritos quanto ao 28
 llen G. White, Conselhos Sobre o Regime
E
Referências
comer carne. No entanto, um estudo cuida- Alimentar, p. 488.
1
 eorge W. Reid, A Sound of Trumpets (Washington,
G
doso de sua biografia aponta que a autora 29
Ibid., p. 482.
D.C: Review and Herald, 1982), p. 22.
foi fiel e coerente às instruções que rece-
2
James White, “Western tour: Kansas camp
beu. Ela afirmou que, depois da visão de Alberto Tasso Barros,
meetting”, Review and Herald, 8/11/1870, p. 165.
1863, eliminou de imediato a carne de seu mestrando em Teologia,
3
Herbert Douglass, Mensageira do Senhor (Tatuí, SP: é pastor em Olímpia, SP
menu diário, mas isso não significaria que
Gentileza do autor

Casa Publicadora Brasileira, 2003), p. 283, 284.


ela não comeria mais carne.25 Em 1933, Wil- 4
 lberto R. Timm, O Santuário e as Três Mensagens
A
liam White escreveu a George Starr que a Angélicas, 6ª ed. (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress,
2016), p. 123-131.

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30 | JAN-FEV • 2018
PASTOR COM PAIXÃO Reno de Aguiar Guerra

O milagre maior

P
ouco antes de me formar em Teolo-
gia fui chamado para ser o pastor da
“Igreja que Navega”, um projeto iné-
dito e desafiador que consiste numa em-
barcação/auditório com capacidade para
150 pessoas, que visa à pregação do evan-
gelho em comunidades ribeirinhas e tribos
indígenas da Amazônia. Eu e minha esposa,
Natália, aceitamos a tarefa e, após a for-
matura, iniciamos nossas atividades minis-
Gentileza do autor

teriais. Em agosto de 2017, seguimos para


uma comunidade que fica cerca de 40 ho-
ras descendo o rio Amazonas. O povoado
era católico, e um pastor já havia sido ex- Poucos dias depois fui operado e, graças Enquanto dirigia a série de conferên-
pulso violentamente de lá. Fiquei pensan- a Deus, a cirurgia foi bem-sucedida. Quan- cias, minha oração era para que o Senhor
do em qual seria a melhor estratégia para do me senti melhor, pedi ao médico para me ensinasse a amar aquelas pessoas. Mui-
alcançar aquelas pessoas. Lembrei-me, en- voltar ao trabalho. Ele me autorizou a viajar, ta gente pensa que a maior necessidade
tão, de que a melhor estratégia seria amar mas me disse que, dependendo do resul- dos moradores do interior do Amazonas
a todos, inclusive quem viesse a nos ferir. tado, eu deveria regressar imediatamente. é de saúde, educação ou saneamento bá-
Começamos o evangelismo com o au- O evangelismo estava progredindo, sico. Embora isso seja necessário, tenho
ditório cheio. Tínhamos 150 cadeiras dis- e as expectativas eram boas. Minha percebido que a maior necessidade deles
poníveis e ainda precisamos providenciar preocupação era ter que interromper a é de amor. Apesar das lutas, procuramos
mais. Visitamos as pessoas todos os dias. série para voltar ao hospital, caso fosse amar cada novo amigo e temos visto o
Oramos com elas, ouvimos seus dramas e necessário. Então pedimos a uma amiga, poder do evangelho na vida deles. Deus
compartilhamos o evangelho. O tempo foi médica, que buscasse o exame. Quando me livrou de um câncer para que eu pu-
passando, e fui aprendendo a amar nossos minha esposa ligou para saber o resulta- desse testemunhar vidas transformadas
novos amigos. Queria que todos aceitas- do, percebi em seu semblante as más no- por Seu amor!
sem a Jesus como Salvador. A série ia mui- tícias. E agora? Deveria retornar? Ela me Durante o evangelismo, havia cerca
to bem; entretanto, no meio dos trabalhos, aconselhou a entrar em contato com o mé- de 120 participantes por reunião. Como
descobri que estava com câncer. dico, para saber o que fazer. resultado, 96 pessoas foram batizadas,
Eu havia ido ao médico numa sexta- Liguei para o especialista, que confir- e uma linda igreja foi construída. Agra-
feira para fazer exames, com o propósito mou o diagnóstico. Entretanto, ele me deu deço a Deus o milagre da cura; mas o
de retornar no domingo seguinte. Contudo, uma boa notícia. Os exames demonstra- maior milagre foi despertar em mim
quando o especialista viu alguns tumores, ram que não havia evidências de metás- o desejo de amar as pessoas. A vida no
pediu-me para cancelar a viagem. Per- tase em nenhum lugar do organismo. Os interior do Amazonas não é fácil, mas
guntei se poderia ser câncer. Então ele tumores estavam restritos; assim, a cirur- hoje, além das dificuldades exteriores,
me disse que aqueles tumores raramente gia havia sido suficiente. Eu deveria apenas há algo mais que pesa sobre mim diaria-
eram benignos, e que teria que retirá-los fazer exames periodicamente. Louvado mente: a preocupação com todos aque-
imediatamente. O médico ainda me infor- seja Deus pelo grande livramento! Segun- les que precisam de esperança, amor e
mou que faria a cirurgia antes mesmo de do os médicos, os pacientes descobrem salvação.
esperar o resultado da biópsia. Assim, come- esses tumores quando eles já estão espa-
çamos os procedimentos para agilizar a ope- lhados pelo corpo. Se esse fosse meu caso, Reno de Aguiar Guerra é pastor da
“Igreja que Navega”
ração, a fim de não atrapalhar o evangelismo. o evangelismo teria sido prejudicado.

JAN-FEV • 2018 | 31
DIA A DIA Joni Roger de Oliveira

Hora de acampar

T
odos os anos, milhares de adventis- Água – Confira a capacidade de supri- tarde. Lembre-se de que esta também é
tas participam de retiros espirituais mento de água que o local oferece. Nun- uma oportunidade de descanso. Por isso,
organizados pela igreja. Eventos ca vi o responsável pelo espaço dizer que não sobrecarregue a programação.
como esse envolvem uma série de detalhes existem problemas com a falta de água. Antes do início dos encontros, teste os
que, se ignorados, poderão comprometer No entanto, isso tem atrapalhado mui- equipamentos de som, multimídia e ilumi-
o impacto espiritual da programação. Para tos acampamentos. Portanto, teste a va- nação, a fim de evitar problemas de última
ajudá-lo, gostaria de apresentar algumas zão e a capacidade de armazenamento. É hora. Esteja preparado para imprevistos
dicas importantes que farão a diferença na comprovado que o consumo médio diá- com os membros da equipe organizado-
organização de seu acampamento. rio por acampante é de 60 a 80 litros de ra, e até mesmo com o orador do retiro.
água. Preocupe-se especialmente com o Mescle momentos de reflexão, nos quais as
Equipe – Não trabalhe sozinho! Envol- tempo de reposição nos reservatórios. Te- pessoas estejam sentadas, com momen-
va a liderança jovem da sua igreja/distrito. nha, se possível, uma bomba d´água para tos de interação, quando o público deve
Delegue responsabilidades e acompanhe qualquer emergência e o contato de um se movimentar.
sua execução. Marque datas e reúna a caminhão pipa da região. Indique um res- Preferencialmente, não deixe a mensa-
equipe para apresentar o andamento dos ponsável para administrar o consumo de gem espiritual como última parte. Embo-
itens planejados. água durante o acampamento. ra existam pessoas que defendem a ideia
de que o sermão deve vir por último, para
Local – Vá com antecedência ao local do Orçamento – Imprevistos acontecem, que os acampantes descansem pensando
acampamento, faça uma vistoria cuidado- mas podem ser minimizados se o orça- no que ouviram, a realidade é que muitos,
sa e tente imaginar a ocorrência das piores mento for bem-feito. Portanto, reserve especialmente crianças e idosos, não con-
situações. Avalie os riscos que penhas- entre 10 e 15% dos recursos financeiros seguem absorver mais nada, pois já estão
cos, piscinas, rios, tanques, lagos e pastos para emergências. dormindo.
com animais incidem sobre os acampan-
tes, especialmente as crianças. Identifique Alimentação – Se possível, conte com Seguro – Crie um evento no siste-
as áreas perigosas e, se preciso, isole-as. o auxílio de um profissional de Nutrição ma de gerenciamento do Ministério Jo-
Seja precavido e pense, por exemplo, na para montar o cardápio, seguindo uma vem – acampamento de verão –, e faça
possibilidade de chuva torrencial, venda- dieta vegetariana ou ovolactovegetaria- o seguro de todos os acampantes. Isso
val, falta de energia, interferências exter- na. Tenha cuidado com o armazenamento é fundamental para preservar os partici-
nas, atendimento médico emergencial, etc. dos alimentos e nunca os deixe em conta- pantes, quem organiza o retiro e a igreja.
Caso chova, há abrigo para os participan- to com o solo. Itens perecíveis devem per- Acesse: https://goo.gl/kMQ3Xp
tes? Se acabar a energia, há gerador? Se manecer refrigerados. Garanta também
não, o local oferece alternativas para quais que a cozinha tenha as melhores condi- Um acampamento bem organizado
atividades recreativas? Qual é o hospital ções possíveis de higiene e limpeza. Uma promoverá recreação, inspiração e moti-
mais próximo? das piores coisas que podem acontecer em vação para estreitar relacionamentos e se
um acampamento é um surto de intoxica- aprofundar na caminhada com Jesus.
Acampamento – Verifique se o local é ção alimentar.
plano o suficiente, se é preciso roçá-lo, se
há pedaços de ferro ou cacos de vidro es- Programação – Geralmente o público Joni Roger de Oliveira,
palhados e se existem árvores com galhos de um retiro de verão é heterogêneo. Há mestre em Missiologia, é
líder do Ministério Jovem
muito finos, podres ou com frutos que po- pessoas de todas as idades; portanto, es-
Gentileza do autor

da Igreja Adventista para


dem cair e ferir alguém. Delimite uma área teja atento quanto aos horários de acordar a região Centro-Oeste do
para homens, mulheres e casais casados. e de dormir: nem muito cedo nem muito Brasil

32 | JAN-FEV • 2018
MKT CPB | Fotolia
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RECURSOS

A Armadilha da Pornografia
Ralph H. Earle Jr. e Mark R. Laaser, CPAD, 2008, 178 p.
Muitos de nós estamos dolorosamente cientes de que hoje uma epidemia enche nossas igre-
jas. A pornografia é um vírus que tem afetado a liderança cristã. Uma pesquisa recente do Lea-
dership Journal constatou que quase uma terça parte dos pastores luta contra a pornografia na
internet. Nenhuma denominação está isenta.
A maior parte dessas histórias continua oculta, provocando profundo temor e enorme culpa.
Muitas igrejas lutam com a repercussão do caso de algum pastor cuja imprudência sexual foi des-
coberta. O que os pastores podem fazer para minimizar sua vulnerabilidade nessa área? Quais
são os fatores de risco e como podemos identificá-los? Essas são algumas das questões aborda-
das em A Armadilha da Pornografia.

A Batalha de Todo Homem


Stephen Arterburn e Fred Stoeker, Mundo Cristão, 2003, 247 p.
Da televisão à internet, da mídia impressa ao audiovisual, os homens têm sido constantemente
bombardeados com imagens sensuais. É impossível evitar tais ataques. No entanto, Deus ofere-
ce liberdade da escravidão do pecado por meio da cruz de Cristo. Ele nos criou com a capacidade
de controlar os olhos e a mente.
A Batalha de Todo Homem é um chamado à coragem, à determinação e à autodisciplina, que-
brando assim o preconceito de que os homens não podem controlar sua maneira de pensar e seu
olhar pecaminoso. Contém relatos de dezenas de homens que escaparam da armadilha da imora-
lidade sexual. Os autores apresentam um plano detalhado para que todo homem cristão se tor-
ne um vencedor íntegro.

DavarLogos
DavarLogos é o orgão oficial de divulgação científica da Faculdade de Teologia e da Escola de
Pós-Graduação da Universidade Adventista del Plata. Trata-se de um periódico bíblico-teológico
semestral de referência internacional que provê um fórum acadêmico, no contexto da fé cristã,
para a publicação de pesquisas nas áreas de investigação bíblica e teológica, juntamente com dis-
ciplinas auxiliares, incluindo exegese vetero e neotestamentárias, arqueologia da Palestina e do
antigo Oriente Médio, teologia sistemática, histórica e aplicada.
Site: http://publicaciones.uap.edu.ar/index.php/davarlogos

34 | JAN-FEV • 2018
PALAVRA FINAL Marcos Blanco

Dualismos e dualidades

N
o mês de setembro do ano passado morreu O que fazer então? Após o pacto de Munique, em
Hugh Hefner, fundador e editor-chefe da revista 1938, Winston Churchill viu o perigo de escolher a paz
Playboy. Ele se tornou um ícone carismático por quando a honra e o bom senso exigiam a batalha. “Eles
ser defensor da revolução sexual e da liberdade pessoal. tiveram a opção de escolher entre a guerra e a deson-
Hefner transformou a pornografia em uma indústria. Gail ra”, disse. “Eles escolheram a desonra, e terão a guer-
Dines relata que a pornografia foi levada dos bastidores ra!” A história confirmaria sua advertência: recusar-se a
para Wall Street, grande parte, graças a Hefner, e ago- lutar em uma batalha pode proporcionar uma paz tem-
ra é uma indústria que fatura bilhões de dólares por ano. porária, mas, a longo prazo, sairá muito caro. Retardar


Sim, a indústria pornográfica se tornou uma das uma batalha pode provocar uma guerra devastadora
maiores do planeta. Mas, qual é sua mercadoria? Cor- posteriormente.
pos nus, principalmente, de mulheres. A indústria por- Nesse caso, desonra significa estar em paz com
nográfica se encarregou de despersonalizar corpos e o pecado da pornografia. Significa dizer a si mesmo
transformá-los em bens baratos. Não importa a identi- que depois de tantos anos, ele se tornou uma parte
dade de quem carrega o corpo nem seus pensamentos tão importante de sua vida que tentar romper com
ou sentimentos. Tudo o que importa são as curvas que isso seria muito traumático e desconfortável. Mas,
respondem aos padrões sexuais da época. De fato, em A pornografia para Jesus, essa luta é muito importante, até o ponto
muitas ocasiões, nem importa o rosto da pessoa, mas as não é apenas de expressá-la com esta hipérbole: “Seu olho é uma
partes do corpo que podem despertar paixões. responsável lâmpada que dá luz ao seu corpo. Quando seu olho é
Essa, quem sabe, pode ser a expressão máxima do por um bom, todo seu corpo está cheio de luz; mas quando
dualismo grego, bem como a pior de suas versões, uma dualismo seu olho é ruim, todo seu corpo está cheio de escuri-
vez que a alma (o interior, de acordo com o dualismo) não perverso, mas dão. E se a luz que você pensa ter na realidade é escu-
importa. É uma nova forma de escravidão, que mantém por dualidades ridão, quão densa é essa escuridão!” (Mt 6:22, 23, NLT,
cativo quem coloca seu corpo à venda e quem o compra. na vida de tradução livre). Por essa razão, “se o seu olho, mesmo
Por outro lado, a pornografia não é apenas respon- quem se vê seu bom olho, faz você cair em paixões sexuais, tire-o
sável por um dualismo perverso, mas por dualidades aprisionado e jogue fora. É preferível que você perca uma parte do
na vida de quem se vê aprisionado a ela. A disponibili- a ela.” seu corpo e não que todo seu corpo seja jogado no in-
dade de suas mercadorias permite que o usuário leve ferno” (Mt 5:30, NLT, tradução livre).
uma vida dupla: monogâmica no público e adúltera no É hora de voltar para uma visão integral do ser huma-
privado. Porque para Satanás é suficiente que sejamos no, na qual não há dualismos ou dualidades, por meio da
adúlteros virtuais. Cristo disse: “Aquele que olha com qual podemos ser ministros íntegros em todos os sen-
paixão sexual para uma mulher já cometeu adultério tidos da palavra.
com ela em seu coração” (Mt 5:28, NTV, tradução livre).
Essa vida dupla possui um poder destrutivo triplo: Marcos Blanco, doutorando em Teologia,
cria uma dependência que enfraquece a pessoa; aba- é editor da revista Ministério, edição em
espanhol
la a união de “uma só carne” que fragiliza o casamento;
Gentileza do autor

e finalmente resulta em uma distorção do pensamento


que debilita a capacidade de se relacionar.

JAN-FEV • 2018 | 35
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Patriarcas e Atos dos O Grande


Profetas Reis Todas as Nações Apóstolos Conflito

EM CRISTO É POSSÍVEL ENCONTRAR A VITÓRIA E A


VERDADEIRA LIBERDADE.

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