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Contextos Clínicos, 11(2):257-267, maio-agosto 2018

2018 Unisinos – doi: 10.4013/ctc.2018.112.10

Dor cortante: sofrimento emocional


de meninas adolescentes

Sharping pain: Emotional suffering from teenage girls

Guilherme Wykrota Tostes, Natália Del Ponte de Assis,


Tânia Maria José Aiello Vaisberg
Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Av. John Boyd Dunlop, s/n, Jardim Ipaussurama, 13034-685,
Campinas, SP, Brasil. gwtostes@gmail.com, nataliadpassis@gmail.com, aiello.vaisberg@gmail.com

Elisa Corbett
Centro Universitário Salesiano de São Paulo. Av. de Cillo, 3500, Parque Novo Mundo,
13467-600, Americana, SP, Brasil. licorbett@hotmail.com

Resumo. Esta pesquisa objetiva investigar a experiência vivida por meninas


adolescentes que se autolesionam, sintoma de sofrimento emocional que vem
ganhando maior visibilidade social e motivando preocupação entre profis-
sionais de saúde mental. O trabalho articula-se como pesquisa qualitativa
mediante uso do método psicanalítico, pelo estudo de postagens em blogs
assinados por oito meninas adolescentes que se identificam como praticantes
de atos autolesivos. Leituras e releituras do material, em estado de atenção
flutuante, permitiram a produção interpretativa de dois campos de sentido
afetivo-emocional: “Desprovidas de afeto” e “Crime e castigo”. O quadro ge-
ral indica que essas pessoas habitam, imaginariamente, um mundo hostil,
marcado pela experiência de culpa persecutória pela privação de afeto, cui-
dado e consideração, apontando que exigências fundamentais na constitui-
ção da pessoalidade não estão sendo satisfatoriamente contempladas.

Palavras-chave: autolesão, sofrimento, adolescência.

Abstract. This research aims at investigating the experience lived by teen-


age girls who cut themselves, a symptom of emotional distress that has had
social visibility nowadays and caused concern among mental health profes-
sionals. This is a qualitative research that uses the psychoanalytic method
to study some blog posts signed by eight teenage girls who identify them-
selves as practitioners of self-injurious acts. The reading and the re-reading
of the material, in a state of floating attention, allowed the production of
two fields of affective-emotional meaning: “Devoid of affection” and “Crime
and punishment”. The general picture indicates that these people inhabit an
imaginary hostile world, marked by the experience of a persecutory guilty
caused by  the lack of  affection, care, and consideration, pointing out that
fundamental requirements in the constitution of the personality are not be-
ing satisfactorily contemplated.

Keywords: self-harm, suffering, teenager.

Este é um artigo de acesso aberto, licenciado por Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0), sendo
permitidas reprodução, adaptação e distribuição desde que o autor e a fonte originais sejam creditados.
Dor cortante: sofrimento emocional de meninas adolescentes

Compreendemos como autolesivo todo ato síveis, pouco favoráveis ao desenvolvimento


que tem por escopo consciente danificar a es- emocional saudável (Montezi et al., 2011).
trutura corpórea gerando dores decorrentes Quando adotamos uma perspectiva clíni-
de lesões leves ou moderadas e que não têm ca concreta (Bleger, 1989[1963]), entendemos
o intuito manifesto de suicídio. Tais condutas que, ao apresentar condutas preocupantes, o
são, compreensivelmente preocupantes, não adolescente manifesta sofrimento emocional,
apenas em função das lesões físicas decorren- comunicando desconforto e mal-estar. Ou seja,
tes e dos prejuízos causados nas relações so- atribuímos valor sintomático a tais manifesta-
ciais de seus praticantes, mas especialmente ções, mesmo reconhecendo que via de regra
pelo sofrimento emocional que expressam. acabam gerando novos sofrimentos, que se ar-
Como produção social, a adolescência ticulam sob a forma de uma trama complexa,
pode ser vivida de diversas formas, depen- difícil de ser compreendida pelo próprio ado-
dendo dos contextos históricos, sociais, polí- lescente, por sua família e por pessoas e gru-
ticos e culturais em que se insere (Barus-Mi- pos, mais ou menos diretamente envolvidos.
chel, 2005). Entretanto, adolescência parece ser É neste contexto que compreendemos todas
concebida imaginariamente, nos dias de hoje, as variadas condutas sintomáticas, dentre as
como uma fase problemática e arriscada, tanto quais incluímos a autolesão, como manifesta-
entre as camadas médias como entre as cama- ção de sofrimento emocional.
das mais desfavorecidas, mobilizando a aten- Há uma tendência, entre estudos nacionais,
ção de pais, pedagogos, juristas, sanitaristas, de vincular a autolesão, de modo independen-
psicólogos e pesquisadores (Assis et al., 2016a; te da faixa etária, ao diagnóstico psiquiátrico
Camps, 2003). de psicose (Tostes et al., 2016). Contudo, esse
O elevado número de artigos1 sobre ado- quadro não parece corresponder ao que se
lescentes em bases de dados, tais como, por tem apresentado na experiência clínica psico-
exemplo, “Pubmed” e “Scielo regional”, for- lógica, nem ao que podemos encontrar na in-
nece indícios do reconhecimento sobre a im- ternet, na medida em que nos deparamos com
portância de investigar questões ligadas a esse adolescentes que praticam o chamado cutting
grupo etário. São vários os temas pesquisados, em condições que não podem ser considera-
tais como transtornos alimentares (Peebles et das como condutas estruturalmente psicóticas
al., 2017; Lindstedt et al., 2017), o uso de subs- (Bergeret, 2013[1974]).
tâncias psicoativas (Guareschi et al., 2016) a Quando nos detemos nas diversas con-
gravidez na adolescência (Thomazini et al., dutas adolescentes problemáticas, presentes
2016; Quaresma da Silva, 2016) as doenças se- na literatura cientifica, apercebemo-nos fa-
xualmente transmissíveis (Taquette et al., 2017) cilmente que sua apresentação se vincula ao
e a violência (Faria e Martins, 2016; Zequinão gênero, condição absolutamente relevante, ao
et al., 2016). longo de toda a vida individual, na sociedade
Um aspecto curioso, acerca do que pode em que vivemos. Deste modo, sabemos que a
significar o reconhecimento de que a adoles- dramática de vida da menina adolescente car-
cência seria um difícil período de vida, diz res- rega sentidos diversos daqueles vividos por
peito ao fato de constatarmos certa oscilação meninos adolescentes. A literatura científica
entre concepções que veem os adolescentes sobre adolescência feminina abrange estudos
como vítimas sofridas de falta de cuidados, sobre vários temas, tal como exemplificados
que competiriam às gerações mais velhas, e ou- a seguir: (i) sobre gravidez/maternidade na
tras que os consideram como intrinsecamente adolescência (Thomazini et al., 2016; Quares-
problemáticos, vale dizer, como pessoas que ma da Silva, 2016; Pacheco Sánchez, 2015); (ii)
criam problemas para os demais em virtude sobre transtornos alimentares (Peebles, 2017;
do seu próprio modo de se colocar no mun- Lindstedt, et al. 2017; Martins e Petroski, 2015);
do (Assis et al., 2016a). Nessa segunda linha, (iii) sobre formas de violência e abuso (Bran-
os adolescentes se tornam facilmente alvos de caglioni e Fonseca, 2016; Souza et al., 2015) e
um verdadeiro preconceito etário, segundo (iv) sobre o empoderamento da mulher em
imaginários generalistas, discriminatórios e condições sociais nas quais se destacam tanto
desesperançados, que contribuem para a con- dificuldades como possibilidades de mudança
figuração de ambientes sociais hostis ou insen- (Pisani, 2016), entre outros.

1
No Pubmed o termo “adolescence” gerou o retorno de 1.818.911 artigos no dia 9 de março de 2017. No mesmo dia, o
termo “adolescência” permite acesso a 3.776 artigos pelo SciElo regional.

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Guilherme Wykrota Tostes, Natália Del Ponte de Assis, Tânia Maria José Aiello Vaisberg, Elisa Corbett

Em estudo anterior, motivados pelo inte- concretas de vida. Tal como alertou Bleger
resse em articular os sofrimentos de adoles- (2007[1966]), não cabe ao psicólogo aguardar
centes e relações de gênero, estudamos o ima- passivamente, em seu consultório, que as pes-
ginário coletivo sobre o sofrimento da menina soas lhe venham pedir ajuda, mas sim ir ao
adolescente, o que nos levou à percepção de encontro de suas demandas, buscar compre-
uma configuração complexa, na qual se mes- endê-las, evitando sofrimentos ou tratando-os
clariam a falta de afeto parental com a apre- o quanto antes.
sentação de sexualidade promíscua (Assis et Podemos observar que são muitas as situ-
al., 2016b). O corpo da menina adolescente ações nas quais as pessoas se deparam com
apresentou-se sob uma luz ambivalente, na condições de vulnerabilidade, o que acarretará
medida em que objetivado e submetido, como consequências de diversos matizes, muitas das
bem de consumo, mas também valorizado quais resultarão em problemas que chegarão
pelo seu poder de despertar o desejo mascu- a equipamentos psiquiátricos por se relaciona-
lino. Evidentemente, esse tipo de imaginário rem a situações que envolvem riscos graves.
indica a prevalência de ambientes desprepa- A experiência clínica como psicólogos e super-
rados para acolher e lidar com as questões visores de futuros colegas de profissão, em di-
existenciais que as meninas adolescentes en- ferentes dispositivos de atenção à população,
frentam na sociedade contemporânea. tem demonstrado a ocorrência clinicamente
A relação entre gêneros na adolescência é significativa de condutas de agressão contra
assunto complexo, gerador de sofrimento, que si mesmo, evidenciando que o cuidado, nes-
vem preocupando pesquisadores há alguns ses casos, é muito importante, tanto pelo fato
anos. Santos e Silva (2008) analisaram critica- desses sintomas se vincularem a sofrimentos
mente, em pesquisa qualitativa, ideais de fe- emocionais quanto por prejudicarem a saúde
minilidade expressos em revistas, dirigidas ao física de modo transitório ou duradouro.
público adolescente brasileiro, que abordam Diante desse quadro, delimitamos nosso
temas relativos à sexualidade, à saúde sexual problema de pesquisa, o estudo de práticas
e às relações entre gêneros. As autoras encon- de autolesão de meninas adolescentes, com-
traram padrões tradicionais que sugeriam cer- preendendo tal sintoma como expressão de
ta limitação da condição feminina, na medida sofrimento emocional. Optamos por abordá-
em que caberia à mulher manipular o parceiro -las a partir de postagens assinadas por inter-
evitando que esse percebesse qualquer gesto nautas brasileiras em um blog sobre autolesão
erótico dela como fruto de iniciativa própria. porque a internet permite a veiculação de nar-
Destacam, por fim, a contradição das matérias, rativas, elaboradas pela própria iniciativa da
pois as revistas apresentam uma roupagem adolescente, e não em resposta a demanda de
descolada e moderna, encobrindo a propaga- profissionais de saúde. Atualmente, a internet
ção de ideais essencialmente conservadores. oferece material de pesquisa rico, fartamente
É pensando nas dificuldades relacionadas disponível, permitindo a abordagem de va-
ao tornar-se mulher, em uma sociedade em riadas questões humanas (Schulte et al., 2016;
transformação, que justificamos, neste mo- Visintin, 2016).
mento, o interesse pelo sofrimento emocional
da menina adolescente. Partimos da compre- Fundamentos teórico-metodológicos
ensão de que cutting, como conduta, deve ser e a experiência vivida como conduta
compreendido como uma das inúmeras for-
No desenvolvimento de nossos trabalhos,
mas de expressão dramática de sofrimento
fazemos uso do método psicanalítico, conce-
de vida da menina adolescente. Tal sintoma,
bido como forma geral de compreensão dos
significativamente frequente na adolescência
fenômenos humanos a partir do uso da asso-
e, de modo mais especifico, no sexo feminino ciação livre e da atenção flutuante (Herrmann,
(Giusti, 2013), deve ser considerado, quando 1991). Tal opção respalda-se na concordância
abordado pela psicologia concreta, que é fun- com Politzer (2004[1928]), quando reconhece
damentalmente compreensiva, como comuni- que o método freudiano tem como pressupos-
cação emocional importante. Sua considera- to fundamental a compreensão de que toda
ção nos parece plenamente justificada quando conduta humana tem sentidos que se relacio-
pretendemos auxiliar no cuidado psicológico nam estreitamente às condições reais e concre-
de indivíduos e grupos que lidam com ado- tas em que vive aquele que a manifesta, o que
lescentes e fornecer subsídios para debates e o caracteriza como visão rigorosamente ética e
ações tendo em vista melhoria das condições inclusiva (Aiello-Vaisberg, 1999).

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Dor cortante: sofrimento emocional de meninas adolescentes

Concordamos ainda com a crítica de Po- forma narrativa, segundo uma visão amplia-
litzer (2004[1928]), dirigida à metapsicologia da que não se restringe à fala e à escrita, para
freudiana, quando afirma que a consideração abranger atos e gestos. Nessa linha, apregoa
dos fenômenos psicológicos de forma abstra- que o drama não seria interior nem exterior ao
ta, concebendo a ideia de um aparelho psí- indivíduo, para constituir-se como acontecer
quico movido por forças e energias, afasta-se significativo (Politzer, 2004[1928]).
do acontecer humano. Priorizamos, portanto, O psicanalista argentino José Bleger
teorizações maximamente próximas do modo (1989[1963]), entusiasmado com as formula-
como a vida ocorre, vale dizer, sempre em ções politizerianas, tomou-as como referencial
campos vinculares que se inserem em contex- para repensar a psicanálise, desvencilhando-a
tos sociais, históricos, culturais e geopolíticos. da especulação metapsicológica. Por essa via,
Nesse sentido, vemos, na psicologia da con- chegou à proposição de uma psicologia psica-
duta blegeriana, proposição que contempla as nalítica da conduta que, mantendo-se fiel aos
exigências politzerianas. primeiros ensinamentos metodológicos freu-
Considerando as teorias de diferentes au- dianos, adotou como pressuposto fundamen-
tores de destaque na psicanálise, Greenberg e tal a ideia de que todo o acontecer humano é
Mitchell (1994) reconhecem dois modelos dis- provido de sentido, mesmo quando aparen-
tintos de compreensão do homem. De um lado, ta ser incompreensível, estranho ou bizarro
o modelo estrutural-pulsional, representado (Aiello-Vaisberg, 1999). Desse modo, firma
sobretudo pela metapsicologia freudiana, que convictamente a impossibilidade de distinção,
concebe a mente como um aparelho percorrido pensada por Jaspers (1987[1913]) entre as con-
por energias impessoais. De outro, o modelo dutas compreensíveis e explicáveis, conver-
estrutural-relacional, ao qual nos alinhamos, gindo com os psicanalistas, vale dizer, aqueles
que teoriza em termos dramáticos e vinculares, que defendem que não existem limites para a
reconhecendo que a própria constituição de si compreensibilidade dos fenômenos humanos
mesmo se dá na e pela coexistência. (Aiello-Vaisberg, 1999).
Já que esta pesquisa visa investigar psica- Bleger (1989[1963]) entende a conduta como
naliticamente a experiência vivida por meni- o produto de campos inter-relacionais – sendo
nas adolescentes que se autolesionam, é con- que mesmo aquilo que parece individual con-
veniente explicarmos a nossa compreensão siste em memória afetiva de interações preté-
acerca do termo “experiência”. O conceito de ritas, que se configuram na interação inter-hu-
experiência emocional, ou experiência vivida, mana. Nessa perspectiva, a ideia de fenômenos
corresponde a noção fundamental, na medida inconscientes como forma de funcionamento
em que se constitui como a dimensão essencial mental, dá lugar à consideração de campos in-
da abordagem psicológica da conduta, um dos ter-relacionais, vinculares. O inconsciente passa
campos disciplinares das ciências humanas2. a ser compreendido não mais a partir de uma
Nessa perspectiva, entendemos a experiência esfera intrapsíquica, mas intersubjetiva. Bleger
vivida à luz do conceito de drama proveniente (1989[1963]) denomina campo psicológico o
da psicologia concreta de Politzer (2004[1928]). modo como uma situação pode ser experimen-
A seu ver, “só se trará à tona a pertinência dos tada pelas pessoas, compreendendo-o como
fatos psicológicos ao eu ficando nesse plano: os parcialmente consciente e parcialmente incons-
fatos psicológicos devem ser homogêneos ao ‘eu’, só ciente. Quando utilizamos o conceito de campo
podem ser as encarnações da mesma forma do de sentido afetivo-emocional, visamos nos man-
‘eu’” (Politzer, 2004[1928], p. 66, grifos do au- ter bastante próximos e alinhados à noção ble-
tor). “Ora, o ato do indivíduo concreto é a vida, geriana de campo psicológico não consciente.
mas a vida singular do indivíduo singular, isto Entendendo a experiência como conduta
é, a vida no sentido dramático do termo”. (Polit- que emerge a partir de campos relacionais, po-
zer, 2004[1928], p. 67, grifos do autor). demos, portando, defini-la como “modos de
Em outros termos, propõe o autor que tais habitar, dramaticamente, mundos ou ambien-
segmentos de vida sejam, precisamente, atos tes psicológicos humanamente produzidos
humanos, sempre e inevitavelmente prenhes – não correspondendo, portanto, a fenôme-
de sentido, que se expressariam sempre sob nos internos e descolados das condições ma-

2
A bem da clareza, cabe lembrar que de acordo com Bleger (1989[1963]), todas as ciências humanas compartilham um
mesmo objeto de estudo, que abordam a partir de diferentes perspectivas. A conduta, enquanto experiência vivida,
configura o objeto de estudo da psicologia.

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Guilherme Wykrota Tostes, Natália Del Ponte de Assis, Tânia Maria José Aiello Vaisberg, Elisa Corbett

teriais em que a vida transcorre” (Ambrosio meninas adolescentes, com idade variando en-
et al., 2013, p. 182). Percebemos, assim, que a tre treze e dezoito anos.
psicologia concreta pode ser produtivamente O procedimento de apresentação do material se
aprofundada quando articulada ao pensamen- deu pela compilação de postagens realizadas
to winnicottiano, uma vez que neste último se por meninas adolescentes que se identificam
valoriza, de modo raro no campo psicanalíti- como praticantes de atos autolesivos, preservan-
co, a importância do ambiente inter-humano. do o contexto em que estavam inseridas no blog.
Tal articulação tem sido produtivamente le- O procedimento de interpretação do material
vada a cabo pelo chamado estilo clínico Ser e se deu a partir de leitura e releituras das pos-
Fazer, que aqui adotamos (Ambrosio e Aiello- tagens, em estado de atenção flutuante. Tal
-Vaisberg, 2016; Aiello-Vaisberg, 2004). postura caracteriza-se como abertura fenome-
nológica de acolhimento à expressão subjetiva
Procedimentos investigativos das participantes, a partir do cultivo de des-
prendimento máximo de ideias e teorias pré-
Pesquisas empíricas, no campo da pesquisa -concebidas. Nesse procedimento investigati-
qualitativa, requerem a comunicação do modo vo, fizemos uso de uma série de encontros em
como a perspectiva teórico-metodológica utili- duplas e em grupo, envolvendo integrantes de
zada veio a ser efetivamente operacionalizada nosso Grupo de Pesquisa, tendo em vista fa-
em termos dos procedimentos investigativos vorecer que a multiplicidade de olhares apro-
colocados em marcha. Tal providência é indis- fundasse nossa compreensão sobre as comuni-
pensável uma vez que se tem como intenção cações em foco. Vale lembrar que, partindo de
estimular o debate entre estudiosos que pes- uma perspectiva epistemológica intersubjeti-
quisam os mesmos fenômenos mas aderem a va, buscamos o que está “entre” o pesquisador
diferentes orientações. e o material, jamais na interioridade psíquica
No que se refere aos procedimentos inves- do narrador da postagem, pois entendemos o
tigativos aqui adotados, vale destacar que ini- drama como inerentemente vincular.
ciamos a presente pesquisa por meio do proce- Por fim, dedicamo-nos ao procedimento de
dimento de levantamento e seleção do material a ser interlocuções reflexivas, que diz respeito ao di-
considerado, vale dizer, postagens feitas em álogo com autores das ciências humanas, psi-
blog por pessoas que se identificam como au- canalistas ou não, sobre os principais temas
toras de práticas de autolesão. Para tanto, re- veiculados em cada campo de sentido afetivo
alizamos uma pesquisa3 no website de buscas emocional. Aqui, abandonamos o método psi-
“Google” a partir das palavras-chave “blog” canalítico e a postura de abertura ao fenôme-
e “automutilação”. A escolha pelo termo au- no, pois estamos comprometidos com a produ-
tomutilação se deu a partir da constatação de ção científica de conhecimento, que, sabemos,
que esta palavra vem sendo bastante utiliza- não se faz sem interlocução teorizante (Cor-
da para se referir às autolesões na internet. Em bett, 2014). Afinal, se os estudos qualitativos
seguida, dentre os blogs encontrados, identi- não visam generalizações semelhantes às dos
ficamos aqueles que continham narrativas de paradigmas científicos positivistas (Guba e
atos de autolesão redigidas por pessoas que Lincoln, 1994), não deixam de pretender atin-
afirmam realizar essa prática. Estabelecemos, gir certa transcendência (Souza e Lima, 2011),
como critério aleatório de seleção, trabalhar seja na linha de generalizações analíticas (Yin,
com o primeiro daqueles que obtivéssemos 1984), seja na linha de generalizações natura-
como retorno. Desse modo, chegamos a um lísticas (Stake, 2000), que exigem sempre in-
blog criado por uma pessoa que se apresenta terlocuções teóricas. De todo modo, é impor-
como uma adolescente de quatorze anos. Dele tante ressaltar que o pesquisador qualitativo,
participam, com postagens e comentários, especialmente aquele que faz uso do método
trinta e seis pessoas que afirmam se autolesio- psicanalítico, evita deixar-se obcecar pela bus-
nar, compondo um coletivo humano que se ca de generalizações fundadas na estatística,
caracteriza como majoritariamente feminino mantendo-se atento à tarefa de produzir apre-
e adolescente. A presente investigação se rea- ensões densas e detalhadas dos fenômenos
lizou a partir da consideração das manifesta- que estuda, tendo em mente contribuir para o
ções de oito pessoas que se identificaram como debate científico.

3
Busca realizada em 12/12/2015.

Contextos Clínicos, vol. 11, n. 2, Maio-Agosto 2018 261


Dor cortante: sofrimento emocional de meninas adolescentes

Interpretações (Resultados) não se sentirem amadas e consideradas, que


tentam elaborar imaginativamente conside-
A consideração psicanalítica das comuni- rando oscilantemente que sua própria malda-
cações das oito meninas adolescentes, que se de, ou a dos demais, seria a causa dessa situ-
manifestaram no blog selecionado, sobre suas ação. Esse mundo hostil corresponde ao que
práticas de autolesão, permitiu a produção de se constela nas relações afetivas próximas, vale
dois campos de sentido afetivo-emocionais, dizer, como campos intersubjetivos, que, por
ou inconscientes relativos às condutas, que seu turno, não podem ser considerados como
denominamos “Desprovidas de Afeto” e “Cri- isolados do contexto social mais amplo, sob
me e Castigo”. Vale lembrar que tais campos pena de incorrermos nos equívocos designa-
apresentam caráter relacional e correspondem dos por Bleger (1989[1963]) como mito do ho-
a uma concepção do inconsciente como algo mem natural, mito do homem abstrato e mito
que ocorre entre pessoas e não dentro da in- do homem isolado.
terioridade psíquica individual, conforme a
perspectiva da psicologia concreta (Bleger, Interlocuções reflexivas (Discussão)
1989[1963]). Assim, não admira que se organi-
zem ao redor de crenças ou fantasias incons- Na pesquisa qualitativa psicanalítica, a dis-
cientemente compartilhadas. cussão assume um caráter reflexivo e dialógi-
Definimos “Desprovidas de Afeto” como co. Corresponde a uma retomada das interpre-
um campo de sentido afetivo emocional que se tações, vale dizer, dos campos inconscientes
organiza ao redor da crença ou fantasia de que que subjazem às condutas em estudo, à luz
o outro é devedor de carinho, afeto e atenção. do pensamento de autores, psicanalíticos ou
Segue um exemplo de narrativa que emerge não, que mantem visões antropológicas con-
desse campo: vergentes àquelas adotadas quando subscre-
vemos o estilo clínico Ser e Fazer (Aiello-Vais-
Quem viu pela primeira vez foi minha amg que berg, 2004). No presente caso, selecionamos,
andava inconformada de só eu andar de moletom como interlocutores, José Bleger (1989[1963]),
num calor insuportavel, um tempo depois meus Luigi Giussani (2009) e Donald Winnicott
pais descobrira, eles não quiseram procurar ajuda
(2008[1979], 1975[1971]).
e só tacaram na minha cara que se isso realmen-
Quando focalizamos os campos de sentido
te aliviasse a dor eles tbm faziam. Parei durante
umas semanas só pra esperar a pueira abaixar afetivo-emocional aqui produzidos, à luz de con-
com meus pais, mas voltei e voltei com cortes tribuições blegerianas, várias considerações per-
maiores e cada vez mais fundos. Meus motivos? mitem uma ampliação de nossa compreensão.
Incompreensão! Não me entendem, não gosto do As vivências, narradas pelos participan-
meu corpo (já fui bolemica/anorexa) sou despre- tes, que emergem do campo “Desprovidas
zada e não tenho ngm além de Deus que seja meu de afeto”, parecem indicar que as adolescen-
verdadeiro amigo, que me ligue e que se preocupa. tes reivindicam consideração, compreensão e
cuidado por parte dos demais, principalmente
Definimos “Crime e Castigo” como um daqueles afetivamente próximos. Deste modo,
campo de sentido afetivo-emocional que se or- podemos considerar que as participantes ha-
ganiza ao redor da crença ou fantasia de que bitam mundos imaginários, povoados por
as pessoas que se comportam mal devem ser outros significativos, fantasiados como seres
castigadas de vários modos, que incluem vi- plenos, que se negariam imotivadamente a
rem a ser privadas de afeto. Abaixo um exem- conceder afeto e consideração. Complemen-
plo de narrativa sustentada por esse campo: tarmente, sentem-se vazias, carentes e despro-
vidas de recursos pessoais. Nessa atmosfera
me corto quando fico com raiva e quando as pes- grassa uma busca por culpados, de modo que
soas fala que eu faço isso pra chamar atenção e
a relação com o outro fica bastante prejudica-
quando eu fico feliz tbm me corto isso já virou um
vício nunca tentei suicídio mais eu só penso em da, na medida em que este se afigura como
morto e me vingar de algumas pessoas da minha poderoso, mas afetivamente indiferente. Por
família me sinto muito sozinha Eu sinto um pra- outro lado, poder-se-ia asseverar que nos de-
zer enorme de vê me braço sangrando. frontamos com um fechamento à alteridade,
na medida em que os demais ficam todos apa-
O quadro geral indica que as adolescentes rentemente igualados na sua condição de seres
que praticam atos de autolesão habitam um que se recusam a amar a adolescente. Entre-
mundo hostil, marcado pela experiência de tanto, é imprescindível recordar que tal fecha-

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Guilherme Wykrota Tostes, Natália Del Ponte de Assis, Tânia Maria José Aiello Vaisberg, Elisa Corbett

mento não deriva, evidentemente, de opção saudável, resulta não apenas na percepção do
consciente, mas da ausência de suporte para chamado objeto total, que gratifica e frustra,
um desenvolvimento emocional. mas também no aparecimento da crença de
Evidencia-se assim que, na vigência do ser, ela própria, capaz de reparar “ataques”
campo “Desprovidas de Afeto”, ocorreria fantasiados contra um outro, inicialmente fan-
uma predominância da estrutura de conduta tasiado como inteiramente mau, que se revela
paranoide (Bleger, 1989[1963]). A seguinte ex- posteriormente como objeto total. Fantasias re-
pressão pode traduzir a lógica dessa estrutura: paratórias, como sabemos, constituem um im-
“O outro, por ser poderoso e pleno, é o culpa- portante elemento na possibilidade de se lidar
do por eu permanecer vazia, sem receber afeto de modo amadurecido com a própria agressi-
e atenção”. Esse campo se articula com o cam- vidade (Bleger, 1989[1963]).
po “Crime e Castigo” que, por seu turno, orga- Assim, conjuga-se, no âmbito do campo
niza-se ao redor da crença de que as pessoas “Crime e Castigo”, uma configuração fantasio-
que se comportam mal devem ser castigadas – sa muito particular, que combina um vislum-
sendo a privação do afeto um terrível castigo, bre do outro como objeto total com a crença
de modo que cada um surge como culpado da na impossibilidade de reparação e de mise-
miséria afetiva do seu próprio viver. A lógica ricórdia. Nesse caso, ao dar-se conta de que
desse segundo campo se configura segundo fantasiou ataques contra um outro, não total
uma oscilação entre a estrutura de conduta e uniformemente maldoso, deixa de acusá-lo
paranoide e a estrutura de conduta depressiva e passa a acusar-se bem como a acreditar que
(Bleger, 1989[1963]). deve ser castigada. Encontramo-nos, portanto,
Assim, o campo de sentido afetivo-emo- diante da chamada culpa paranoide (Bohos-
cional “Desprovidas de Afeto” organiza-se se- lavsky, 2015[1971]), que se constela predomi-
gundo a lógica do chamado conflito divalente: nantemente sob forma de retaliação e castigo,
“divisão em duas condutas dissociadas, com mas não como preocupação autêntica com o
dois objetos distintos” (Bleger, 1989[1963], p. outro (Klein, 1982).
131). Tais conflitos ocorrem quando não existe Na ausência de capacidades de preocu-
possibilidade de integração de aspectos gra- pação com o outro e de reparação de atos
tificantes e frustrantes da experiência na per- agressivos, o espaço da fantasia inconsciente
cepção do objeto total que, na condição de ou- é preenchido pela culpa persecutória e por
tro afetivamente significativo, tanto gratifica necessidade de expiação, que percebemos no
como eventualmente frustra. Aliás, é oportuno campo “Crime e Castigo”. A seguinte expres-
lembrar que não existe outro absolutamente são pode sintetizar a dinâmica aí presente:
gratificador, na realidade vivida, precisamente “Sinto que o outro não me ama e por isso eu o
pelo fato de ninguém corresponder a mero fei- agrido. Entretanto, logo sinto remorso e culpa,
xe de projeções das necessidades e desejos de uma vez que preciso dele e vejo que muitas ve-
ninguém, já que todos compartilham a mesma zes me trata bem. Sinto-me então uma pessoa
condição existencial. Um outro inteiramente má, que merece ser punida. Aliás, percebo que
devotado e esquecido de si mesmo só pode ser o outro não poderia realmente me amar, pois
vivenciado, de modo ilusório, por um bebê pe- sou má!”. Vemos que a menina adolescente
queno atendido por uma mãe suficientemente inicia a vivência num patamar no qual quase
boa (Aiello-Vaisberg, 2012). se apercebe do outro como objeto total, mas
No âmbito da vigência do campo “Desprovi- rapidamente retorna a um posicionamento di-
das de Afeto”, a questão podia ser colocada em valente, como comprova o fato de não dar um
termos da seguinte verbalização “O outro não passo adiante, no sentido da reparação, para
me ama porque é mau, embora seja poderoso e retroceder para a punição que, lembremos,
cheio de amor, que não me quer entregar”. provém do objeto mau e não do objeto total.
Por outro lado, no âmbito do “Crime e Cas- Por outro lado, interessantes ponderações
tigo”, um maior grau de complexidade seria podem ser aventadas se revisitarmos nossas
atingindo porque “O outro não me ama por- interpretações sobre o inconsciente – concebi-
que eu sou má e ele me castiga me negando do como campo – a partir do estabelecimen-
seu amor. Sinto-me culpada e por isso eu tam- to de diálogo com o segundo interlocutor es-
bém me castigo”. Aqui, a pessoa fica, por as- colhido: Luigi Giussani (2009). Assim, nesse
sim dizer, prisioneira da passagem entre a po- momento, deixamos momentaneamente uma
sição paranoide, na qual percebe o outro como visão centrada nas oscilações afetivas, mais
maléfico, e a posição depressiva, que, quando ou menos sutis, das relações afetivas, para

Contextos Clínicos, vol. 11, n. 2, Maio-Agosto 2018 263


Dor cortante: sofrimento emocional de meninas adolescentes

adentrar num segundo modo de contemplar a gubres, terríveis mentiras que podem dar lugar a
questão da prática da autolesão. uma só coisa: à violência (Giussani, 2001, p. 40).
Para o filósofo italiano, a experiência verda-
deiramente humana dar-se-ia, primordialmen- Em registro antropológico, Giussani (2001;
te, como resposta a exigências fundamentais, 2009) aporta aspectos importantes para uma
de caráter axiológico4, que caracterizariam o compreensão mais ampla do fenômeno da au-
modo humano de existência. Esse conjunto tolesão, fornecendo elementos para que pos-
de exigências originárias foi designado, no samos interpretá-lo como uma tentativa dis-
texto de Giussani (2009), como experiência torcida de atender à exigência de justiça. Se tal
elementar, termo cunhado para designar um visão estiver correta, teríamos que admitir que a
movimento originário, subjacente a todo po- autopreservação seria menos valiosa do que a busca
sicionamento existencial. Segundo esse autor, pela justiça, mesmo quando expressa em termos
as exigências fundamentais, apreensíveis de mais imaturos sob forma de demanda de afeto
modo imediato, direto e intuitivo, e não por de um outro suposto como pleno e onipotente.
vias reflexivas e representacionais, assumem Entretanto, cumpre destacar que, no pre-
um caráter soberano diante da pessoa, de sente contexto, o clamor pela justiça vincula-se
modo que toda e qualquer conduta se relacio- a um sentido de “direito ao amor” que, à luz
na, de um modo ou de outro, com a experi- da teoria do amadurecimento emocional de
ência elementar que funda o valor do bem, da Winnicott (2008[1979]), nosso terceiro interlo-
felicidade, da beleza, da justiça e mesmo do cutor, corresponderia ao direito de viver uma
ser. Ora, nessa perspectiva, podemos aven- experiência de onipotência, que seria a base de
tar, beneficiando-nos das contribuições de toda possibilidade de amadurecimento poste-
Mahfoud (2012), que propôs um modo de tra- rior. A experiência de onipotência, vale dizer,
zer as contribuições da teoria da experiência aquela de poder criar o mundo conforme as
elementar para o campo da psicoterapia, que o próprias carências e necessidades, a partir do
reconhecimento das exigências fundamentais, próprio gesto espontâneo e criativo, depende,
implícitas nas condutas das adolescentes que na realidade compartilhada, do recebimento
se autolesionam, poderia contribuir também de cuidados parentais devotados.
para uma maior compreensão acerca do que aí Encontramos em Winnicott (2008[1979],
se encontra em jogo. 1975[1971]) sustentação para compreender os
Assim, por mais que as manifestações das processos de amadurecimento emocional a
partir de uma teoria do amadurecimento afe-
participantes possam ser caracterizadas como
tivo segundo a qual o bebê partiria de uma
solicitação de afeto, carinho e atenção, veri-
condição de dependência absoluta, alcançaria
ficamos a interferência de um aspecto que se
uma dependência relativa para posteriormente
manifesta como mais preponderante do que
posicionar-se “rumo à independência”, porque
a necessidade de cuidado, revelando-se como
a independência propriamente dita não condiz
autopunição, que é o oposto do que deman-
com o modo humano de existir. Todo o proces-
dam explicitamente em suas comunicações.
so seria presidido tanto por uma tendência ina-
De fato, identificamos, nas manifestações estu-
ta à integração quanto pela necessidade de ser,
dadas, indícios de um fenômeno que pode ser
que, a seu ver, caracterizam a natureza humana.
compreendido como conduta que atenderia a
Ao conceber sua teoria de desenvolvimento
uma exigência de justiça (Giussani, 2009), va-
psicoemocional, Winnicott (2000[1945]) operou
lendo lembrar que muitas vezes nos depara-
uma drástica mudança de perspectiva no es-
mos com afirmações da justiça mediante ado-
quema básico da psicopatologia psicanalítica,
ção de condutas em si mesmas injustas:
na medida em que muito valorizou o ambiente.
Afinal, se muito depende do potencial humano,
Mas, para compreender a fome de justiça, é ne-
cessário compreender uma outra coisa. E para este não se realiza caso o ambiente não atenda às
compreender a sede de amor, é necessário com- necessidades do bebê e da criança. Assim, com-
preender uma outra coisa. Se não se compreen- preende o psicanalista que o ambiente suficien-
de a misteriosidade do desígnio total, a fome de temente bom seria aquele em que o indivíduo
justiça e a sede de amor se transformam em lú- se sentiria considerado em sua pessoalidade,

4
Vale aqui lembrar que Bleger (1989[1963]) considerou que todas as ciências humanas, que compartilham o mesmo objeto
de estudo, a atividade humana, ou conduta, dependem de discussões sobre valores e ideologias, comportando, portanto,
uma dimensão axiológica.

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reconhecido em sua particularidade e não inva- dos a serem punidos, elas próprias, seus pais
dido, o que contribuiria para a experiência de e outros afetivamente significativos. Por seu
continuidade de ser. Segundo esse autor, a au- turno, sua queixa paradoxalmente é justa, mas
sência de um ambiente com essas características também injusta – e sabemos bem com que ên-
poderia retardar ou mesmo impedir o amadu- fase os paradoxos vivenciais são destacados no
recimento emocional do indivíduo. Além dis- pensamento winnicottiano (Aiello-Vaisberg,
so, relaciona o ambiente suficientemente bom 2012). A falta vivida é evidentemente real – e aí
à mãe suficientemente boa, declarando o reco- é justa – mas o atendimento das necessidades
nhecimento de que a família se inscreve na orga- da primeira infância nunca dependeu apenas
nização social. Em suas palavras, “normalidade da vontade individual das pessoas.
significa tanto a saúde de um indivíduo como
da sociedade, e a maturidade completa do indi- Considerações Finais
víduo não é possível no ambiente social imaturo
ou doente” (Winnicott, 2008[1979], p. 80). Compreender que as condutas humanas
Entretanto, por variadas razões, não encon- emergem sempre em campos de sentido afe-
tramos, no pensamento winnicottiano, uma te- tivo-emocional, de caráter essencialmente vin-
orização realmente satisfatória sobre os efeitos cular, que se inserem em contextos sociais, eco-
das condições sociais sobre a família e o indi- nômicos, culturais, históricos e geopolíticos,
víduo. Com base na perspectiva teórica “Ser e contrapõe-se à visão do ser humano desconec-
Fazer” (Aiello-Vaisberg, 2004; Ambrosio, 2013), tado do viver, reduzido a um cogito reflexivo
que recomenda uma leitura da obra winnicot- e desencarnado. Ora, essa segunda perspectiva
tiana a partir da psicologia concreta de Bleger converge com a ideia de que aquilo que é es-
(1989[1963]), podemos verificar o quanto o am- sencial para a vida humana se encontra muito
biente emocional primário é influenciado pelas além de uma esfera consciente, ultrapassando
condições concretas da vida, vale dizer, pelos a capacidade representacional. Sendo originá-
contextos sociais, econômicos, culturais, histó- rias, em sentido antropológico, as exigências
ricos e geopolíticos nos quais se insere a famí- fundamentais do ser, da bondade, da justiça,
lia. Desse modo, a busca de uma compreensão do amor e da felicidade, não seriam fruto da
mais ampla sobre quais condições de vida favo- consciência nem da inteligência, mas verdades
receriam bons cuidados parentais, segundo de- sentidas, intuídas ou reconhecidas em regis-
lineamentos que permitam um atendimento sa- tros pré-representacionais. Assim, o adjetivo
tisfatório das necessidades infantis, requer que elementar aponta para o fato que tais fenôme-
nos lembremos, ainda que rapidamente, que os nos independem da sofisticação da consciência
contextos da vida social, vigentes no país em pensante. Levamos tal ideia em conta quando
que vivemos, impõem pesadas cargas tanto aos nos voltamos ao estudo de meninas adoles-
mais pobres, que são os mais numerosos, como centes que apresentam condutas de autolesão,
às camadas médias da população que fazem es- buscando compreender o substrato afetivo-
forços redobrados para equiparar seu estilo de -emocional subjacente à tal manifestação sin-
vida com aqueles vigentes nos chamados paí- tomática, aparentemente estranha e irracional.
ses do primeiro mundo. A sobrecarga vivida no Nossas interpretações evidenciam que a
cotidiano certamente não contribui construtiva- menina adolescente, que pratica a autolesão,
mente para o bom exercício da parentalidade, habita mundos vivenciais repletos de angús-
principalmente quando se esgarçam laços com tia, perseguição, carência e intenso sofrimento
a família extensa e com a comunidade, aumen- emocional. Tais campos são imaturos emocio-
tando os encargos da família nuclear. Aqui cabe nalmente e pensamos que isso pode ser reflexo
lembrar, ainda que de passagem, que o passa- de um ambiente não suficientemente bom, não
do como ex-colônia europeia ainda gera efeitos apenas no que diz respeito ao núcleo familiar,
relevantes, fazendo-se sentir fortemente, como tão enfatizado na visão winnicottiana, mas
demonstram os autores que se tem debruça- também ao ambiente social, marcado por de-
do sobre a pós-colonialidade latino-americana sigualdades e injustiça que caracterizam, ainda
(Maldonado-Torres, 2007). hoje, países com passado colonial. Se a menina
Buscando atender, ainda que de modo dis- adolescente sofre e reivindica por justiça, tal
torcida, uma exigência de justiça, vale dizer, do percepção diz respeito ao direito legítimo a re-
direito fundamental a cuidados suficientemen- ceber cuidado e amparo amoroso por parte dos
te bons, as adolescentes estudadas debatem-se pais e pessoas próximas. Por outro lado, há um
entre a percepção da falta e a busca de culpa- paradoxo, pois, as condutas imaturas impossi-

Contextos Clínicos, vol. 11, n. 2, Maio-Agosto 2018 265


Dor cortante: sofrimento emocional de meninas adolescentes

bilitam a percepção de que o outro – “que deve AMBROSIO, F.F.; AIELLO-FERNANDES, R.;
cuidar de mim”- também vive carências e difi- AIELLO-VAISBERG, T.M.J. 2013. Pesquisando
culdades. Afinal, sabemos que as famílias tam- sofrimentos sociais com o método psicanalítico:
considerações conceituais. In: Jornada Apoiar:
bém estão inseridas em contextos marcados por
Adolescência: Identidade e Sofrimento na Clíni-
impedimentos que dificultam marcadamente a ca Social, XI, 2013, São Paulo, Anais... São Paulo,
continuidade de ser. Sendo assim, pensar que IP/USP, p. 174-183.
“o outro tem amor e não me oferece porque não ASSIS, N.D.P.; AIELLO-FERNANDES, R.; VAIS-
quer, ou porque sou má” indica uma visão de BERG, T.M.J.A. 2016a. ‘Problemáticos ou Invisí-
mundo infantil, simplista e limitada, caracterís- veis’: o imaginário coletivo de idosos sobre adoles-
tica de um desenvolvimento emocional precá- centes. Memorandum, Belo Horizonte, 31:259-275.
ASSIS, N.D.P.; MELO, C.V.; OLIVEIRA, G.C.; CAR-
rio – e não de nenhum tipo de opção livre.
LOS, H.G.; NARDIM, I.; NOGUEIRA, L.P.;
Finalmente, cabe acrescentar que, ainda CORSETTI, P.H.A.; AIELLO-VAISBERG, T.M.J.
que o material estudado não tenha trazido ma- 2016b. O imaginário coletivo sobre o sofrimento
nifestamente alusões a uma relação clara entre da menina adolescente no filme Bruna Surfisti-
a condição feminina das participantes e seu nha. In: Jornada Apoiar, XIV, 2016, São Paulo.
sofrimento emocional, não podemos deixar de Anais... São Paulo, IP/USP, p. 343-360.
lembrar que o tornar-se mulher apresenta-se BARUS-MICHEL, J. 2005. Entre sofrimento e violên-
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