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Da Alquimia segundo Paracelso

Paracelso, considerado o pai da medicina espagírica, em sua obra “Liber Paragranum”, elenca
quatro fundamentos da Medicina:

1. A Filosofia;
2. A Astronomia;
3. A Alquimia;
4. A Virtude.

A obra supracitada ainda não está disponível em língua portuguesa. O primeiro tópico, abaixo,
é a tradução de um trecho do terceiro fundamento, “A Alquimia”:

1. A Alquimia
“Ocupemo-nos, agora, da terceira base da medicina, a Alquimia.

O médico deve ter um conhecimento e uma experiência tão profunda e tão grande que, se não
a possui, todo o resto da arte é vã. Porque a natureza é tão sutil e tão minuciosa neste
domínio, que só pode ser posta em benefício à custa de uma grande Arte.

Ela não se dedica a algo que esteja terminado. Cabe ao homem realizar este trabalho, que tem
um nome: Alquimia.
1
O alquimista é o padeiro que coze, o vinhateiro que esmaga, o tecelão no seu ofício. Em toda a
coisa natural que crê para a utilidade do homem, o alquimista permite alcançar o ponto que a
natureza lhe assinou.

Compete, pois, ao médico que quer instruir-se, saber o que é a calcinação e a sublimação, não
somente as operações superficiais, mas as que modificam interiormente as coisas e que, muito
mais importante, permitem a preparação e o amadurecimento que a natureza muitas vezes
não lhes deu.

O médico deve possuir a arte de fazer amadurecer as coisas, porque ele é o Outono, o Inverno,
é o astro que deve agir sobre as coisas para as terminar. O fogo é a terra, o homem é a ordem,
as coisas na obra alquímica são a semente.”

2. Comentários sobre a Alquimia


A Alquimia reúne e reconcilia, a partir de um centro universal intuitivo que está nela, Filosofia
e Astronomia, saber e imaginação, tempo e espaço, o “em cima e o embaixo”, em Circulação
constante.

A Alquimia é a reunião de duas fomes, de duas sedes, de um homem e de uma mulher que vão
libertar o imenso prazer do reencontro.

O homem não é mais colocado à distância do seu lugar na vida, tudo aqui é possível.

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“Na unidade os demônios cantam os louvores a Deus, perdem a sua malícia e a sua cólera” –
Apolônio de Tiana.

Assim em cima (Astronomia); assim embaixo (Filosofia); para os milagres de uma única coisa
(Alquimia), diz-nos a Tábua de Esmeralda. A mesma linguagem para descrever o conhecimento
interior que uniu o concreto e o imaginário.

Aqui, os dois cérebros são casados pelos alquimistas internos. Aqui, o corpo elementar e o
corpo sideral unem-se, uma ação redentora brota, o Astro é inspirado até ao corporal para
brilhar. É por esta união que um corpo espiritual vem; está para além dos elementos e dos
astros, para além da terra e do céu.

Este estado permite que, levantando-se os olhos se vejam as coisas materiais, baixando-os se
vejam as coisas espirituais.

Do mesmo modo diz-se que, as doenças psíquicas são físicas e as físicas são de origem
psíquica.

A divina dualidade não divide mais, mas pela Alquimia engendrasse um só movimento de amor
e de força. O engodo do ganho e as vontades de poder, nada são propriamente.

A Alquimia realiza, aqui, a subida dos Tempos Filosóficos até aos valores dos arquétipos do
Primeiro Ser, do Arqueus, graças à unidade saber/imaginação, Filosofia/Astronomia. 2
3. Intuição consciente
É graças à Intuição consciente, que faz aceitar os aparentes contrários numa evidência interior,
penetrante como um gládio, que a Alquimia nasce na prática médica. Ela adquire-se na
renúncia das sensações e das imagens separadas, casando-as no cadinho da consciência, na
cruz dos Quatro Elementos. É a força espiritualizada do amor, do encontro, da escuta. O
acolhimento do outro sem perder a identidade, mas em um profundo, misterioso e belo
esquecimento de si.

Aí está uma Vontade que renova o Pensar e o Sentir do médico, que vai enfim entrar em
uníssono com o paciente, o remédio e a cura.

O ato terapêutico do médico alquimista desperta as possibilidades microscópicas do homem


perdido sobre a terra. Elas colocam-no numa liberdade individual íntima, no seu Fogo Secreto,
em um princípio de organização chamado por Paracelso, o Arqueus, o Arquétipo.

4. Inspiração, Imaginação e Intuição


Pela Filosofia a Inspiração nasce e vem estabilizar relativamente o astral e o rodopio das
emoções. Pela Astronomia a Imaginação nasce e novas forças vitais põem-se a percorrer o
corpo. Pela Alquimia a Intuição nasce e é uma unidade da cabeça e do coração, dos dois
lóbulos hipofásicos, dos dois cérebros, que se manifesta em um ver previsional, que considera
o conjunto.

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Um novo equilíbrio se estabelece, ritmado pelo Arqueus, o Fogo em nós.

5. Solve e Coagula pelos Quatro Elementos


Quanto mais o ser se apoia e se torna pesado na jangada da Filosofia, mais se afunda na Água.
Quanto mais se afunda, mais ganha forças da Água para subir para a irmã da Água, que é o Ar
dos astros.

O ser procura subir. Caso contrário, não respira mais e os seus pulmões queimam de Fogo que
a Terra contém no fundo do mar. O Fogo, com efeito, esconde-se atrás da Terra, tal como o Ar
se esconde atrás da Água.

No fundo da Água há a Terra que tudo contém, sobre a qual tudo pesa. Nas águas profundas
estão o Ar e o Fogo dos astros que chamam. O Fogo dos astros liga-se de maneira sutil ao Fogo
que possui a Terra. Estes dois Fogos, estes dois sais em um só, é o Fogo Secreto, o Sal
Filosófico que envolve, cinge nos braços os Quatro Elementos, como um diadema.

Todos os arcanos, na verdade, nascem no fogo por um mesmo processo. O fogo é a terra, mas
uma terra que engloba também o sol. Terra e firmamento são uma só coisa neste segundo
nascimento.

Assim, no coração do ser renascido no casamento alquímico dos seus dois cérebros, assenta o
Fogo Secreto dissolvente. Lá, Filosofia (Terra e Água) e Astronomia (Ar e Fogo) não param de 3
subir e descer como em uma escadaria, a Escadaria dos Sábios, os cordões do sistema nervoso
simpático, parassimpático e o sistema nervoso central.

Filosofia e Astronomia são o Solve e o Coagula da Alquimia interior. Pelo Fogo Secreto realiza-
se a separação do puro e do impuro no homem. O espírito volátil torna o fixo volátil, e o fixo
torna estável o volátil. Leão e Água estão aqui na Obra.

6. Medicina pelo Fogo


A Alquimia ou a arte da Espagiria ensina a separação do puro e do impuro pelo Fogo. É bom
que o Fogo seja operativo no interior dos santuários do homem onde brotam as Águas mãe
originais chamadas Yliaster, por Paracelso, o único lugar onde é bom acendê-lo, e não
repetindo a tradição alquímica e os seus rituais, o que é uma grande negligência. A este
propósito, Paracelso diz:

“Uma medicina que não passa pelo Fogo é tão pouco útil quanto má, como o ouro que não se
submeteu ao fogo. O médico nasce do Fogo. É por isso que estuda a Alquimia, que se chama
Espagiria, e que ensina a separar o falso do verdadeiro.

A natureza nada entrega que esteja terminado. É ao homem que compete realizar este
trabalho que possui um nome: Alquimia. Em toda a coisa natural que cresce para a utilidade do
homem, a Alquimia permite atingir o ponto que a natureza lhe assinou.

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Nesta arte, compreendam esta distinção: o que herda qualquer coisa da natureza, e
negligencia prepara-la, é tão incompetente quanto rude como aquele que, pegando em uma
pele de carneiro, a utiliza sem a levar ao peleiro e ao costureiro, como pele e como fato. Aqui a
incompetência é mesmo maior. Pois, trata-se, no caso da Alquimia, da saúde, do corpo e da
vida, sendo também necessário redobrar de zelo neste domínio”.

7. Preparação do remédio espagírico


Continua Paracelso:

“Uma vez conhecidas a Filosofia e a Astronomia, os diferentes tipos e o conjunto das doenças e
dos remédios, a última e mais nobre das etapas, a resolução necessária, consiste em saber
como aplicar estes conhecimentos.

Ora, para que a vossa medicina seja eficaz, a natureza indica-vos a via pela qual deveis
conduzir os vossos esforços. É necessário fazer amadurecer, como o sol faz amadurecer as
peras e as uvas, para que tenham uma ação favorável.

A medicina deve levar os seus frutos como o verão. Ora, saibam que o verão age
necessariamente pelos astros aos quais está sujeito.

Saibam também que a preparação do remédio deverá também estar sujeita aos astros que
realizam a obra médica. Sobre eles devem reger-se a compreensão, a dosagem e a natureza do 4
medicamento.

É necessário, pois, preparar o medicamento para que ele aja por intermédio do céu, e deve
nascer do céu, como uma profecia ou como outra manifestação celeste.

Por conseguinte, dado que o céu, e não o médico, regula a doença por intermédio dos astros, é
necessário dar ao remédio um estado aéreo que o torne suscetível de ser guiado pelos astros.
Nenhuma pedra pode ser levantada pelos astros. Seria necessário que fosse volátil.

Também a Quintessência que muitos alquimistas procuraram não é senão outra que o arcano,
e o arcano é o que permanece, uma vez que se separou o arcano dos quatro outros corpos
(Fogo, Terra, Ar e Água). Este arcano, por outro lado, é um caos que pode ser o brinquedo dos
astros, como a pluma é o brinquedo do vento.

A preparação do medicamento consiste, pois, em separar os quatro corpos dos arcanos, a


saber qual astro preside a este arcano, conhecer seguidamente o astro da doença em questão
e opor à doença o astro do medicamento.

Aqui está como se regula a doença. O estômago que é o alquimista (interno) realiza o
medicamento que prescreveram. Ora, o estômago torna possível a intervenção dos astros, caso
contrário, o remédio, sem ser digerido, fica no estômago para ser eliminado seguidamente pela
via normal.

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A ciência suprema do médico consiste em conhecer a concordância dos dois astros, porque é a
base de todas as doenças. Ora, a alquimia é o estômago exterior que prepara a presença do
astro.

A doença deve ceder. E isto é o essencial. Toda esta ciência tem por fonte a natureza que é a
preceptora e o garante. Na saúde e na doença, a natureza e o homem querem estar juntos,
unidos, reunidos um com o outro. Eis a via da cura e da saúde. É a alquimia, ciência necessária
que permite a realização de tudo isto.

É necessário aqui, que a base da medicina se apoie em último lugar nos arcanos, e que os
arcanos constituam a base sobre a qual se apoia o médico. Dado que o arcano tem, portanto,
uma importância decisiva, a alquimia é a base pela qual se preparam e se realizam os
arcanos.”

Paracelso.

8. Alquimia e Virtude
A Alquimia é um conceito central em Paracelso.

É o movimento de todas as coisas que leva a um estado melhor, transmutado. A Alquimia


impele as coisas para mais perfeição, para o reino superior (o Ser Humano).
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Os mistérios da natureza revelam-se, o ser das profundezas aparece. O remédio espagírico é o
receptáculo da Virtude. Por exemplo, quando da destilação, um caos renovador semeia a
substância que é ar antes de voltar a ser água.

Curar, não sendo um ofício, mas uma vocação, o Ato terapêutico renova-se no médico
alquimista que, na sua Intuição, junta saber inspirado e imaginação ligada à consciência, o
Astro do remédio ligado ao Astro da doença. O edifício do céu e da terra é contemplado no
cérebro e no coração porque o que quer encontrar a pedra dos sábios deve tê-la já formado
nele mesmo.

Além disso, não é bom divulgar os segredos alquímicos, pois, são raros os que utilizam estes
mistérios sem brincar com fogo e exercer um poder finalmente destrutivo.

O fogo visível toma a sua fonte em um fogo invisível, os dois estão sempre ligados, um não vai
sem o outro.

Saber, querer, ousar, calar-se

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