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Direito da União Europeia

1ª Frequência:

História da integração europeia:

A ideia de uma europa como espaço territorial dotado de um sistema político, de uma
economia e de uma cultura cristã comum, remonta aos tempos do império de Carlos Magno.

A europa viveu durante séculos em permanentes conflitos de poder entre os seus Estados.
Depois da 1ª GM, criaram-se projetos para congregar os povos europeus numa europa unida.
No entanto os nacionalismos e os conflitos de interesses retardaram esse processo.

Depois da 2ª GM, desejava-se a paz duradoura, e a ideia da união europeia ressurgiu. Sentia-se
necessidade em estabelecer a paz e organizar em novos moldes a geografia e a política da
europa, criando um modelo de cooperação e de interdependência capaz de assegurar a
adoção voluntária de mecanismos que restringiriam as liberdades de ação dos Estados. Isso só
foi possível com um processo de integração económica.

Os fatores que conduziram para esse processo de cooperação entre Estados nacionais e de
integração europeia são:

-Assegurar uma paz duradoura

-Estabelecer laços de unidade e coesão

-Assegurar o crescimento económico

No fim da 2ª GM era necessário um investimento financeiro para a reconstrução das


economias. Os estados unidos criaram o plano Marshall. É assinada a convenção que cria a
organização de cooperação económica europeia. Essa convenção relançou a economia da
europa, eliminou gradualmente as restrições quantitativas ao comercio intraeuropeu e criou
uma união europeia de pagamentos.

Winston Churchill apela à reconciliação da frança com a Alemanha, e defende a criação dos
“estados unidos da europa”. Este discurso foi um dos principais fatores que mobilizaram os
europeístas.

Reúne-se em Haia o congresso europeu e surgem duas correntes quanto à discussão da


questão da unidade da europa.

-Corrente federalista – criação imediata de uma federação como Churchill tinha ideia

-Corrente unionista – europa unida na cooperação entre os estados soberanos através


de contratos intergovernamentais

Votou-se por unanimidade a criação de um comité para a europa unida. Recomendou-se


também uma assembleia deliberativa com vista aos seguintes objetivos.

-Preparar um estabelecimento progressivo de um processo de integração económica e


política dos países europeus
-Examinar os problemas que se colocam à criação de uma união ou de uma federação

-Propor uma carta europeia dos direitos humanos e criação do respetivo tribunal

A reconstrução da europa tem vindo a realizar-se em dois planos distintos. Um de cooperação


intergovernamental nos domínios da economia e políticas comuns. E outro de integração de
tipo federalista, que está presente na transferência da soberania dos estados para uma
entidade comum.

A integração europeia só se iniciou devido a dois acontecimentos marcantes, o discurso de


Churchill e as conclusões finais do congresso de Haia. Outro acontecimento marcante foi a
criação da OECE com o objetivo de gerir o plano Marshall.

Robert Schumann profere uma declaração, convidando a Alemanha e frança a unirem-se na


produção do carvão e do aço, instituindo uma alta autoridade cujas decisões vincularão a
frança, a Alemanha e os restantes países aderentes. O plano Schumann elaborado pelo
federalista jean monnet, é considerado uma verdadeira carta fundadora da europa e marcou o
modelo funcionalista da integração sectorial, da construção europeia no plano económico e
político.

Alemanha, itália, bélgica, holanda e Luxemburgo assinam o tratado CECA, criador da primeira
comunidade europeia.

1- O tratado CECA:

O tratado de paris (18 de abril de 1951) cria a CECA. A CECA é a primeira pedra da construção
da comunidade europeia e resulta da proposta da declaração Schumann.

O tratado implicou uma clara limitação da soberania dos estados em favor de uma entidade
comum em setores da economia vitais para a época.

Acordou-se no estabelecimento de um mercado comum, traçando como objetivos comuns a


expansão económica, o aumento de emprego e a melhoria do nível de vida nos Estados
membros.

Os objetivos fundamentais da CECA são:

-Construir a europa por meios que criem uma solidariedade e estabelecimento de


bases comuns de desenvolvimento económico

-Melhorar o nível de vida e o progresso da causa da paz

-Substituir as rivalidades antigas por uma fusão dos seus interesses essenciais, a
assentar, pela instituição de uma comunidade económica

O tratado CECA instituía os seguintes órgãos:

-A alta autoridade – atua no interesse geral da comunidade

-A assembleia – composta por representantes dos povos reunidos na comunidade

-O conselho – constituído por representantes dos Estados membros. Partilha com a


alta autoridade a tomada de decisões importantes
-O tribunal – garante o respeito do direito na interpretação e na aplicação do tratado e

dos regulamentos de execução

A comunidade dispunha de personalidade jurídica nas relações internacionais. A alta


autoridade estabelecia relações com empresas sem a necessidade de mediação dos estados.

2- Os tratados CEE e CEEA:

Os objetivos do tratado CEE traduzem-se na criação de um mercado comum, de uma união


aduaneira e desenvolvimento de políticas comuns. O tratado prevê também uma política
agrícola comum, uma política comercial comum e a política dos transportes, deixa a porta
aberta a outras futuras políticas.

A CEE e a CEEA nascem com o tratado de roma de 1957.

O espaço económico europeu, hoje união europeia, inicia-se então a 1 de janeiro de 1958 com
a entrada em vigor do tratado de roma.

O tratado CEE estabelece os principais objetivos da comunidade:

-Uma união cada vez mais estreita entre os povos europeus.

-Progresso económico e social, eliminando as barreiras que dividem a europa.

-Melhores condições de vida e trabalho.

-Estabilidade na expansão económica e equilíbrio nas trocas comerciais, e lealdade na


concorrência.

-Reforçar a unidade das economias e assegurar o seu desenvolvimento, pela redução


das desigualdades entre regiões.

-Consolidar a defesa da paz e liberdade.

O tratado dotou a comunidade de órgãos, que formam uma estrutura institucional:

-O conselho – composto por representantes dos estado membros

-A comissão – independente dos estados membros, os seus membros exercem as


funções com total independência , no interesse geral da comunidade.

-O parlamento europeu - poderes meramente consultivos, composto pelos


representantes dos povos europeus .

-O tribunal de justiça – garante o respeito do direito na interpretação do tratado

3 – O ato único europeu:

O tratado de roma previa que a integração europeia seria feita em fases

1ª- liberalização das trocas no quadro da união aduaneira.

2ª- concretização das 4 liberdades, de circulação, dos trabalhadores, direito de


estabelecimento, liberdade de pretação de serviços e livre circulação dos capitais.
3ª- definição e adoção das políticas comuns necessárias ao correto funcionamento do
mercado comum

O anto único europeu é assinado em fevereiro de 1986 e introduz a primeira revisão de fundo
nos tratados (CECA, CEE e CEEA)

As principais alterações o QUE foram:

-No plano institucional, a consagração do conselho europeu ao nível formal dos


tratados.

-Reforço dos poderes do parlamento europeu ao nível de procedimento de decisão


que passa a abranger os acordos de adesão e de associação

-Reconhecimento formal do poder executivo da comissão, que assim não fica


dependente da competência casuística pelo conselho.

-Reposição da regra da maioria nas votações do conselho.

-A nível económico, o QUE consagra como objetivo comunitário, a construção até ao


fim de 1992, do mercado interno definido como espaço sem fronteiras no qual é
assegurada a livre circulação das mercadorias, pessoas, serviços e capitais.

Estas medidas introduziram uma dinâmica de desenvolvimento no processo de integração


europeia, o que permitiu avançar por etapas de integração económica mais evoluídas.

4- O tratado de Maastricht:

Com a queda do muro de Berlim, desagregação da URSS e reunificação da Alemanha, pôs se


em evidência as comunidades avançarem para a fase da união económica e monetária, o que
implicava uma revisão nos tratados.

O tratado de Maastricht constitui um novo marco no processo da união política europeia, com
a criação da união económica e monetária.

O tratado foi assinado em 1992.

O tratado de Maastricht cria a união europeia assente nas três comunidades – CECA, CEE e
CEEA – e completada por dois pilares de cooperação intergovernamental, o primeiro no
domínio da política de defesa e segurança comum (PESC) e o segundo pilar no domínio da
cooperação em matéria de justiça e assuntos internos (CJAI).

O tratado cria a união económica e monetária e define os requisitos para a adoção de uma
moeda comum.

Atribui ao parlamento uma maior participação na tomada de decisões e acrescenta novos


domínios de cooperação intergovernamental.

Prosegue-se para uma elaboração de uma estratégia de defesa comum.

Cria-se a cidadania europeia, afirma-se o mercado interno como espaço comum de liberdade,
segurança e justiça.
Afirma-se que a UE respeita os direitos fundamentais tal como afirma a CEDH e as tradições
constitucionais dos estados membros.

5 – União económica e monetária:

Avançou-se para a fase da união económica e monetária

Esta fase apresenta como principal característica a instituição entre os estados membros de
uma política monetária comum conduzida através do BCE.

A realização da união monetária conheceu 3 fases:

1ª- até finais de 1993 – garantia da livre circulação de capitais.

2ª- 1994 a 1998 – criação do instituto monetário europeu, futuro BCE. Os estados
membros começaram se a esforçar para cumprirem critérios de convergência nominal,
tais:

-estabilidade monetária

-disciplina das finanças públicas

-estabilidade cambial

3ª- 1999 – adoção de uma moeda única. O instituto monetário europeu foi substituído
pelo BCE.

6 – Tratado de Amsterdão:

Assinado a 2 de outubro de 1997.

A união europeia que o tratado criou não substitui as comunidades europeias, mas associa-se
às novas políticas e formas de cooperação.

Do tratado resulta uma nova estrutura, a união europeia assente em três pilares:

1º- pilar económico – as comunidades estão focadas na concretização da união


económica e monetária.

2º- pilar político – política externa e de segurança comum.

3º- pilar administrativo – cooperação judiciária e policial entre os estado membros, nos
domínio da justiça e dos assuntos internos.

O tratado prepara a UE para o próximo alargamento aos países do leste europeu. Promove a
consolidação da UE e reforça o papel do cidadão através da proteção dos direitos
fundamentais.

O tratado de Amsterdão constitui uma solução de transição em que se procurou e conseguiu o


compromisso de desenvolver Maastricht e preparar a reforma institucional de Nice.
7 – Tratado de Nice:

Assinado a 26 de fevereiro de 2001.

Racionalizou o sistema institucional da união europeia de modo a permitir o seu


funcionamento eficaz após o grande alargamento de 2004.

O tratado centrou se na resolução das questões institucionais pendentes no tratado de


Amsterdão. O principal objetivo do tratado era a realização da reforma institucional da UE
antes do alargamento previsto aos países de centro e leste europeu. A revisão operada pelo
tratado altera significativamente o equilíbrio de poderes até aí existentes.

8 – Tratado de Lisboa:

Última alteração aos tratados.

Assinado a 13 de dezembro de 2007.

O tratado simplificou os métodos de trabalho e as regras de votação, criou a figura do


presidente do conselho e introduziu novas estruturas destinadas a conferir à UE um papel
preponderante na cena mundial.

Desde a criação da 1ª comunidade europeia até ao momento deste tratado, conhecem-se 3


fases:

1ª- fase das comunidades – vai até ao tratado de Maastricht

2ª- fase de transformação – inicia-se com a criação da UE

3ª- fase da união – inicia-se com o tratado de lisboa

O tratado unifica a UE com a comunidade europeia. Desaparece o conceito comunidade. O


tratado unifica através da união europeia duas organizações com atribuições e modelos
organizacionais diferenciados – a comunidade como instrumento de integração económica e
social, e a união como instância de cooperação e coordenação políticas.

Passa a haver só uma organização, a união europeia.

Adesões e alargamento da união europeia:

1957 – Os países fundadores – Bélgica, Alemanha, frança, Itália, Luxemburgo e Países Baixos
(Holanda)

1973 – Reino Unido, Dinamarca e irlanda

1981 – Grécia

1986 – Portugal e Espanha

1995 – Áustria, Finlândia e Suécia

2004 – Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Hungria, Polónia, República Checa, Letónia, Lituânia,
Malta e Chipre
2007 – Bulgária e Roménia

2013 – Croácia

A natureza jurídica da União Europeia:

A construção europeia é um processo dinâmico assente no princípio da subsidiariedade, o que


implica que as decisões sejam adotadas, sempre que possível ao nível que esteja mais próximo
do cidadão.

O caráter original e único da união europeia resulta do facto de os estados membros terem
congregado parte da sua “soberania” em favor de instituições europeias, para ganhar força e
aproveitar os benefícios que resultam de uma nova escala, de uma maior dimensão.

A união europeia situa-se então entre o sistema federal rígido existente nos EUA e o sistema
flexível de cooperação intergovernamental existente nas nações unidas.

Motivos de natureza política na base da criação faz comunidades europeias – espaço de paz,
liberdade, desenvolvimento e bem estar das populações.

O processo de integração europeia é o resultado de um permanente diálogo e equilíbrio entre


dois modelos de integração. O modelo de integração global defendido pelos federalistas e o
modelo de integração funcional, de tipo setorial e por etapas, de cooperação
intergovernamental. Foi este último modelo funcional que acabou por ser adotado na criação
da CECA e mais tarde reforçado com a criação das comunidades europeias setoriais da CEE e
CEEA.

Com o tratado de lisboa o sistema de integração funcional parece abrandar o passo em favor
do modelo federalista, uma vez que se deixa de falar em comunidades e se passa a falar na
união europeia que havia sido criada no tratado de Maastricht.

A união continua, no plano estritamente jurídico, a reforçar os pilares da cooperação


intergovernamental.

Tese internacionalista – à luz do direito, tanto as comunidades como a união foram criadas por
tratados internacionais e estes são para todos os efeitos a primeira fonte de direito europeu
vigente na união. Recusam a prevalência do direito da união europeia sobre os direitos
nacionais, especialmente sobre as constituições dos estados membros. Esta tese está em
declínio e tem vindo a perder terreno. A partir do tratado de lisboa surge a inquestionável
aceitação generalizada da subordinação.

Tese federalista – a união europeia seria (ainda não o é) um estado federal não só porque as
suas instituições beneficiam duma distribuição de competências dos Estados, mas também
porque apresenta uma estrutura orgânica idêntica à estrutura dos estados federais. Defendem
que os tratados devem ser equiparados às constituições dos estados federais. Apesar da
aproximação à tese federal, a união europeia não é uma federação.

O processo europeu é o resultado de uma dinâmica entre a integração e a cooperação.


Este dualismo está bem vincado, em dois domínios distintos:

-No plano legislativo – os regulamentos evidenciam as relações de subordinação


enquanto as diretivas carecem de cooperação estadual.

- No plano jurisdicional – ar relações entre o tribunal de justiça e os tribunais nacionais


são de cooperação.

A união europeia só tem as competências que lhe foram atribuídas pelos estados e que
constam especificamente nos tratados.

A união não é uma federação, porque após o tratado de lisboa, foi permitido aos estados que
estes pudessem abandonar a união (direito de secessão) quando estes bem entendessem.

Os objetivos do processo de integração europeia foram sempre de cariz essencialmente


político.

Os objetivos iniciais eram, alcançar a paz duradoura e criação de uma solidariedade de fato
entre os estados europeus.

Era importante alcançar os objetivos, para se prosseguir na criação de um mercado comum.

O TUE criou uma união europeia assente em 3 pilares:

1º- as comunidades europeias

2º- a política externa e de segurança comum

3º- a cooperação policial e judiciaria em matéria penal

O tratado institui também a cidadania europeia, reforçou os poderes do parlamento europeu e


criou a união económica e monetária

Com o tratado de Maastricht a união europeia entra numa nova fase em que os objetivos são
agora de cariz assumidamente político.

O tratado constitui uma resposta a 5 objetivos essenciais

-reforçar a legitimidade democrática das instituições

-melhorar a eficácia das instituições

-instaurar uma união económica e monetária

-desenvolver a vertente social da comunidade

-instituir uma política externa e de segurança comum

Passou a ser da maior importância criar um espaço de liberdade, de segurança e de justiça,


salvaguardar os direitos fundamentais dos cidadãos dos estados membros e a cidadania
europeia. Igualmente passou a constituir objetivo político a adoção de uma política externa e
de segurança comum e a ambição de prosseguir uma política de defesa comum.

Com o tratado de lisboa os objetivos políticos, sociais e culturais são 3, a paz, os valores
universais do respeito pela dignidade humana, da liberdade, da democracia, da igualdade, do
Estado de direito e do respeito pelos direitos do homem, incluindo os direitos das minorias, o
pluralismo, a não discriminação, a tolerância a justiça, a solidariedade e a igualdade entre
homens e mulheres. Por fim, o bem estar dos seus povos.

Até ao tratado de lisboa, o TUE não faz nenhuma referência expressa à personalidade jurídica
da união europeia.

No entanto, o tratado acabava por não expressamente atribuir capacidade jurídica à união.

O tratado de lisboa afirmou expressamente que a união tem personalidade jurídica.

Processo de construção europeia:

1987 – Ato único europeu

1992 – Tratado da união europeia

1997 – Tratado de Amsterdão

2001 – Tratado de nice

2004 – Constituição para a europa (fracassado)

A constituição para a europa não passou de um projeto, posto que não logrou obter a
ratificação de todos os Estados membros, logo não se verificou a condição indispensável para a
sua vigência.

O mercado interno e as liberdades fundamentais:

Afirma-se o desenvolvimento sustentável da europa, assente num crescimento económico


equilibrado e na estabilidade dos preços, numa economia social de mercado altamente
competitiva que tenha como meta o pleno emprego e o progresso social.

A união estabelece um mercado interno e uma união económica e monetária cuja moeda é o
euro.

O mercado interno é um espaço sem fronteiras internas, no qual a livre circulação de


mercadorias, pessoas, serviços e capitais é assegurada de acordo com as disposições dos
tratados.

O sucesso de integração europeia desenhado no tratado de Roma deve-se ao progresso


alcançado no desenvolvimento das liberdades fundamentais que dão corpo ao mercado
interno e que são as seguintes:

-Liberdade de circulação de mercadorias – para isto é necessário a instituição de um


mercado comum, que implica uma união aduaneira. A união aduaneira pressupõe a
abolição entre os Estados membros dos direitos aduaneiros, logo implica o fim das
pautas e tarifas aduaneiras nacionais. É indispensável também eliminar todas as
restrições quantitativas à importação e exportação.

-… circulação de pessoas – é um direito fundamental e individual que decorre da


cidadania europeia. Esta liberdade só existe verdadeiramente com a instituição da
cidadania europeia e quando as pessoas deixaram de ser vistas unicamente como
trabalhadores. A cidadania europeia acresce à cidadania nacional. Os cidadãos
europeus gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres previstos nos tratados, tais
como: -direito de circular e permanecer, -direito de eleger e ser eleitos, -direito de
proteção das autoridades diplomáticas e consulares, -direito de dirigir petições. A
liberdade de circulação de trabalhadores é uma liberdade essencial ao funcionamento
do mercado comum. Esta liberdade de circulação de trabalhadores não se confunde
com a circulação de pessoas.

-… de estabelecimento – Esta liberdade encontra-se tratada em dois capítulos


distintos, a liberdade de estabelecimento e a liberdade de prestação de serviços
propriamente dita. Quanto à liberdade de prestação de serviços, falamos da
deslocação do prestador ao país do destinatário da prestação, deslocação do
destinatário da prestação ao país do prestador, ou a deslocação do objeto ou suporte
em que se materializa a prestação de serviços. O prestador de serviços pode exercer a
título temporário a sua atividade no estado membro onde a prestação é realizada. A
distinção entre estabelecimento e prestação de serviços deve-se ao facto permanente
ou meramente temporário da atividade.

-… circulação de capitais – são proibidas todas as restrições aos movimentos de


capitais e aos pagamentos entre Estados membros e países terceiros.

Para que exista um mercado comum, é indispensável que esteja assegurado um


regime legal que garanta que a concorrência não seja falseada no mercado interno.

São proibidas ajudas de Estado às empresas, na medida em que tais auxílios


concedidos pelo Estado ou provenientes de recursos estatais possam falsear a
concorrência. Há exceções, o essencial dessas exceções é que não alterem as
condições das trocas comerciais e da concorrência na união num sentido contrário ao
interesse comum.

As fontes de direito da união europeia:

A fontes imediatas de direito da união europeia são:

-O direito originário

-Os princípios gerais de direito

-O direito derivado

-O direito internacional

As fontes mediatas são:

-O costume

-A jurisprudência

Os princípios gerais de direito são instrumentos a que o tribunal de justiça recorre para definir
os parâmetros da legalidade na interpretação e na integração das lacunas do direito originário
e do direito derivado e para averiguar da conformidade das medidas nacionais com o direito
da união.
A delimitação das competências da união rege-se pelo princípio da atribuição e o exercício
dessas competências rege-se pelos princípios da subsidiariedade e da proporcionalidade.

Um dos poderes da UE é a criação de normas jurídicas.

Em sentido estrito, são fontes da união, o direito originário (tratados) e o direito derivado (atos
adotados pelas instituições ou organismos da UE).

Em sentido amplo, são fontes todas as regras ou normas aplicáveis na ordem jurídica europeia,
mesmo que a origem seja exterior à própria união. Inclui-se aqui não apenas o direito europeu
originário e o derivado, mas também o internacional geral ou comum e bem assim as
convenções estabelecidas entre os estados membros para aplicação dos tratados e ainda os
princípios gerais de direito não escritos que sejam reconhecidos pelo tribunal de justiça.

Os tratados europeus:

-São convenções internacionais de tipo clássico, da vontade soberana dos Estados contraentes.

-O direito originário é, portanto, constituído pelos tratados institutivos e os tratados de


adesão. Faz também parte do direito originário os protocolos e anexos constantes nos
tratados. Faz também parte, a carta dos direitos fundamentais da UE, que tem o mesmo valor
jurídico que os tratados.

Os tratados (TUE e TFUE) ocupam, juntamente com as constituições dos estados membros, o
lugar de topo na hierarquia do direito vigente na ordem jurídica europeia e as suas disposições
prevalecem sobre todos os atos e normas de direito derivado e sobre os ordenamentos
jurídicos nacionais dos estados membros.

Por força do primado do direito da união europeia, o direito originário dos tratados prima
sobre qualquer regra sem exceção, pelo que todas as outras fontes de direito estão abaixo
deste direito originário.

O direito derivado é constituído pelos atos unilaterais dos órgãos da UE adotados de acordo
com as regras constantes dos tratados. O direito derivado constitui um autêntico direito
produzido de forma autónoma, pelas diversas instituições, no exercício das competências
normativas atribuídas pelos tratados.

Atos jurídicos da união:

-Regulamentos – generalidade, obrigatoriedade, aplicabilidade direta.

-Caráter geral – os regulamentos são equiparáveis às leis nacionais.


Estabelecem regras, impõem obrigações ou conferem direitos a todos os que
se incluam na categoria de destinatários. A generalidade tanto pode reportar-
se aos destinatários como ao objeto da estatuição normativa.

-Obrigatoriedade – o regulamento distingue-se pelo fato de ser obrigatório em


todos os seus elementos enquanto a diretiva só obriga no elemento
respeitante ao resultado.

-Aplicabilidade direta – depois de aprovado em conformidade com os tratados,


o regulamento entra em vigor em todo o espaço da união, logo é diretamente
aplicável no território dos estados membros, sem necessidade de qualquer ato
de receção na ordem jurídica por parte dos estados membros.

-Diretivas – atos jurídicos através dos quais a autoridade competente, fixa aos
destinatários um resultado que deve ser obrigatoriamente alcançado no interesse
comum. Os meios e as formas para alcançar esse resultado, fica ao critério do
destinatário escolher. O órgão competente para emanar diretivas, por regra geral é o
Conselho. Em princípio a diretiva não possui caráter geral, pelo facto de que os seus
destinatários são perfeitamente identificados.

-Decisões – é obrigatória em todos os seus elementos. Quando designa destinatários,


só é obrigatória para estes. Tem por objetivo promover, em concreto, a aplicação
prática das regras constantes dos tratados aos casos individuais, pelo que importa
destacar os seguintes elementos:

-Limitação dos destinatários da decisão – a decisão obriga apenas os


destinatários que ela própria designar, individualizando-os. Os destinatários
podem ser Estados, pessoas coletivas de direito publico ou privado, ou
também pessoas singulares. Tem por finalidade aplicar regras de direito
europeu a casos particulares. A decisão deve ser equiparada a um ato
administrativo. A decisão também pode ser usada para prescrever a um Estado
ou grupo de estados membros um objetivo cuja realização exige a adoção de
medidas nacionais ou de alcance geral.

-Obrigatoriedade da decisão – tal como o regulamento, é obrigatória em todos


os seus elementos. A decisão impõe o resultado a atingir, mas obriga quanto às
modalidades de execução.

-Aplicabilidade direta da decisão – as decisões dirigidas a particulares originam,


direta e imediatamente, direitos e obrigações para os respetivos destinatários
e, eventualmente, para terceiros, situações jurídicas cuja titularidade os
tribunais nacionais, na sua qualidade de tribunais comuns de direito europeu,
podem ser solicitados a reconhecer e declarar. As decisões dirigidas aos
Estados não podem, em princípio, ter um efeito direto e imediato na esfera
jurídica dos particulares, mas tão só um efeito meramente mediato, o qual fica
assegurado pela observância do disposto no artigo 291º nº 1.

-Recomendações e pareceres – não são vinculativos. Não têm uma natureza


obrigatória e, portanto, exercem uma influência indireta, na maior parte dos casos
limitada à formulação de uma linha de orientação para as legislações dos estados
membros. Desempenham um papel importante, por vezes decisivo na interpretação
dos atos jurídicos adotados. As recomendações são atos do Conselho dirigidos aos
estados membros, ou atos da comissão, quer dirigidos ao Conselho, quer aos estados
membros. Os tratados consagram instâncias de consulta e emissão de pareceres para
assegurar aos principais órgãos da UE o cabal desempenho das respetivas
competências.
Os princípios gerais de direito e a jurisprudência do TJUE:

O tribunal de justiça afirma um conjunto de princípios que se impõe às instâncias nacionais e


às instituições da UE quando estas são chamadas a aplicar direito europeu.

Esses princípios podem se agrupar em 4 princípios gerais:

-Princípio da segurança jurídica

-Princípio do direito à defesa

-Princípio da proporcionalidade

-Princípio da igualdade

Estes princípios gerais de direito têm como denominador comum a proteção dos direitos
fundamentais.

Princípios fundamentais da união europeia:

O processo de integração europeia foi orientado para a prossecução de fins políticos

-Paz duradoura.

-Criação de uma solidariedade de fato entre os Estados europeus (sentar à mesa os


velhos inimigos. Interdependência dos Estados.

No início optou-se por um modelo de integração funcional, o que resultou na prioridade dada
aos objetivos económicos, nomeadamente através da criação de um mercado comum,
evoluindo para uma união económica e monetária, ficando para segundo plano os fins de
ordem social, cultural e política.

O tratado de lisboa no seu nº 3 nº3 TUE define os principais objetivos a alcançar.

Princípio da identidade nacional – A UE respeita a identidade nacional dos estados


membros refletidas nas estruturas políticas e constitucionais fundamentais de cada um
deles, incluindo a autonomia local e regional.

Princípios da liberdade e da democracia – O valor da liberdade abrange a liberdade


política em todas as suas dimensões, a liberdade de expressão e de reunião e de
organização, a liberdade de consciência e de pensamento, de religião e de culto, de
criação cultural.

Princípio do Estado de direito – O exercício das funções de Estado na realização do


interesse geral implica o respeito dos direitos dos indivíduos. A ideia de Estado de
direito determina a vinculação da administração pública ao princípio da legalidade, no
sentido em que esta só pode atuar com base na lei prévia que lhe serve de
fundamento e de limite. Primado do direito da UE significa desde logo que todo o
direito da união (tratados, regulamentos, diretivas, decisões e acordos internacionais
concluídos pela união) prevalecem sobre o direito estadual interno.

Princípio da economia social de mercado – Expressa a vontade de realização da europa


social, como ambição de construção de um modelo económico e social novo.
Princípio da dignidade humana – A união deve respeitar a dignidade humana, como
valor da união europeia, assumindo uma tradicional constituição comum aos estados
membros.

Princípio da solidariedade – Existe o interesse da união, que se sobrepõe aos interesses


de cada Estado. Os sacrifícios que cada estado membro tenha de suportar acabam
claramente compensados pelas vantagens resultantes da realização do interesse geral,
autónomo, cuja prossecução constitui o objetivo prioritário da união europeia.

Princípio da subsidiariedade – Disciplina o exercício das atribuições não exclusivas da


união europeia segundo o qual a união só deve intervir quando se mostre necessária à
sua ação. É um princípio de descentralização, na medida em que atribui aos Estados a
preferência no exercício das competências não exclusivas da união.

Princípio do gradualismo e do adquirido – O processo de integração europeia deve


fazer-se de forma gradual. O adquirido deve ser a todo o momento consolidado, ou
seja, o que se alcançou em cada fase deve ser considerado juridicamente definitivos e
politicamente irreversíveis.

Princípio da proporcionalidade – A ação da união deve ter como fundamento a


necessidade e deve sempre ser confinada ao estritamente necessário para a realização
dos fins a alcançar.

Os direitos fundamentais na união europeia:

A proteção dos direitos fundamentais constitui um dos princípios básicos do direito da união
europeia.

Em 2009, o tratado de lisboa consagra a carta dos direitos fundamentais como parte
integrante do ordenamento jurídico da união europeia.

A preocupação com o respeito e a proteção dos direitos fundamentais está presente, desde o
início, no processo de integração europeia, mesmo que nos tratados instituidores das 3
comunidades não constasse nenhuma referência expressa a essa matéria.

O tribunal de justiça sublinha que os direitos fundamentais que constam da convenção


europeia dos direitos do homem constitui uma fonte autónoma de direito europeu. Mais tarde
com o tratado de Maastricht é o artigo 6º do TUE que a união respeitará os direitos
fundamentais tal como garante a CEDH. A CEDH vigorava no ordenamento jurídico europeu
como conjunto de princípios gerais de direito europeu. O tratado de Maastricht manteve a
recusa de adesão à CEDH.

Com o tratado de Amsterdão, inovou-se na matéria dos direitos fundamentais, assumindo que
ao tribunal de justiça passa a caber a competência de fiscalizar e controlar o respeito pelos
direitos fundamentais por parte das comunidades e da união.

A legalidade dos atos dos órgãos passa agora a depender também do respeito pelos direitos
fundamentais.

O respeito pelos direitos fundamentais passou também a ser igualmente uma condição de
adesão para que qualquer Estado candidato possa se tornar membro da união europeia.
O tratado de lisboa passa a considerar o respeito pelos direitos fundamentais como um valor
da união europeia.

A ordem jurídica da união europeia passou a dispor de um elenco agora ampliado de direitos
fundamentais, consagrados expressamente nos tratados como valores da união e que a par de
outros princípios gerais de direito passam a ter de ser respeitados como fonte de direito,
colocados que estão, por essa via, no grau mais elevado do direito originário da união
europeia.

Do novo figurino dos direitos fundamentais, tal como resulta estabelecido pelo tratado de
lisboa, em especial do artigo 6º do TUE, ressaltam como aspetos mais marcantes os seguintes:

-Importância da CDFUE

-Alcance do direito internacional sobre os direitos do homem

-Valor da CEDH

-Importância atribuída às tradições constitucionais comuns aos estados membros em


matéria de direitos fundamentais

O tratado de lisboa atribuiu ao tribunal de justiça a competência para conhecer da legalidade


dos atos praticados ao abrigo do artigo 7º TUE.

A CDFUE foi proclamada pela comissão, pelo conselho e pelo parlamento a 7 de dezembro de
2000. Com o tratado de lisboa passou a ter o mesmo valor jurídico dos tratados.

Sob orientação do tribunal de justiça, os juízes dos estados membros só têm competência para
assegurar que a carta seja respeitada pelos estados membros quando aplicam o direito da
união.

A carta integra, no direito da união europeia todas as fontes de direito referentes aos direitos
fundamentais, fontes que passam a ser parte do “adquirido” da união em matéria de direitos
fundamentais.

A carta enumera direitos num catálogo centrado nos seguintes valores básicos e estruturantes:

-Dignidade humana

-Liberdades fundamentais

-Igualdade

-Solidariedade

-Direitos dos cidadãos

-Justiça

A carta tem por único objetivo proteger os direitos fundamentais individuais.


A convenção europeia dos direitos do homem foi adotada no quadro do conselho da europa
em 1950.

A união europeia não é parte, por enquanto, na CEDH. Todos os estados membros, no entanto
são partes nela.

As competências da união europeia e dos estados membros:

As competências dos Estados são tendencialmente universais, acompanhando a expressão da


própria soberania estadual.

As competências da união europeia respeitam os domínios em que a união pode atuar e estão
limitadas pelo princípio da especialidade, que determina que a capacidade de ação da união
europeia está limitada pelos seus fins, sendo que os seus órgãos e instituições só podem
praticar os atos necessários para prosseguir os fins da união.

O princípio da especialidade na atribuição de competências significa que a união europeia só


tem as competências que os Estados previamente lhe atribuíram nos tratados pelo que,
permanecem na esfera jurídica dos estados membros todas as competências que não tenham
sido atribuídas à união.

Os órgãos e as instituições da união não podem invadir as competências dos outros órgãos
para cumprimento das disposições dos tratados.

Competências exclusivas da união – artigo 3º nº1 e nº2 do TFUE, este último, no plano da ação
externa.

As competências exclusivas da união respeitam a matérias cuja capacidade de exercício foi


transferida para a titularidade da união.

Competências partilhadas da união – artigo 2º nº2 do TFUE

Os estados membros exercem a sua competência na medida em que a união não tenha
exercido a sua. Os estados membros voltam a exercer a sua competência na medida em que a
união tenha decidido deixar de exercer a sua.

São partilhadas todas as competências que o tratado não tenha incluído nas competências
exclusivas da união do artigo 3º ou nas competências complementares dos artigos 5º e 6º.

Quanto às competências complementares previstas nos artigos 5º e 6º do TFUE, as


competências complementares da união, respeitam a matérias relativamente às quais os
estados membros mantêm as suas competências (que não transferiram), embora as ações dos
Estados nesses domínios possam ser complementadas pela ação da união, com vista a
assegurar a realização dos objetivos da união europeia constantes nos tratados.
Princípio da atribuição (ou da especialidade) – a união só pode intervir quando lhe forem
atribuídas competências para tal, o que deixa claro logo à partida a regra de que as
competências são nacionais e só a título funcional a união europeia tem as competências que
os Estados lhe atribuem.

Princípio da subsidiariedade – a união só deve intervir quando um determinado objetivo seja


melhor alcançado por via da ação da união europeia do que por intervenção dos estados
membros.

Princípio da proporcionalidade – os meios utilizados pela união europeia deverão ser


proporcionais, ou seja, suficientes, no sentido da proibição do excesso, em que os meios
utilizados devem ser os adequados aos fins em vista.

Princípio da flexibilidade – um ou mais estados membros podem não participar em


determinadas etapas ou missões da união, seja por opção soberana, seja por não reunirem os
requisitos que estão definidos para a participação.

Cooperação reforçada – permite que alguns estados membros avancem no


aprofundamento da integração em matérias específicas. É a consagração do que se
designou de “Europa a duas velocidades”.

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