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David Harvey
Boitempo 7 anos atrás
David Harvey adquiriu fama com a publicação, em 1989, de Condição pós-moderna. Esse
livro tornou-se, rapidamente, uma das referências centrais do debate, então acesso,
acerca do fim da modernidade. Nele, Harvey associa a mudança nas práticas culturais,
subjacentes ao termo pós-modernismo, com alterações político-econômicas que teriam se
iniciado em 1972. Mais especificamente, relaciona as novas experiências frente ao tempo
e ao espaço (o engendramento de uma nova sensibilidade ou do sentimento qualificado
como pós-moderno) com a emergência de modalidades diferentes, mais flexíveis de
acumulação do capital, isto é, ao início de um novo ciclo de “compressão do tempo-espaço
na organização do capitalismo”. Isso não significa, no entanto, que ele endosse a tese do
surgimento de uma sociedade pós-capitalista ou mesmo pós-industrial, ao contrário.
Em sua obra anterior, Os limites do capital (1982), Harvey examinou a teoria marxista das
crises econômicas. Nesse registro, compreende o pós-modernismo como uma ruptura
com o modelo de desenvolvimento do capitalismo prevalecente no pós-guerra. Desde a
recessão de 1973, a forma de acumulação predominante, o fordismo, foi minada pela
crescente competição internacional, por baixas taxas de lucros corporativos e por um
processo inflacionário em aceleração, processo esse que mergulhou a economia
capitalista numa crise de superacumulação.
A resposta da classe capitalista e dos governos dos países centrais a essa situação
desdobrou-se como um novo regime de acumulação “flexível”, no qual o capital ampliava
sua margem de manobra intensificando a flexibilidade dos mercados de trabalho –
privilegiando contratos temporários, a incorporação de força de trabalho imigrante etc. –,
dos processos de fabricação – pela via da transposição de unidades fabris para outros
países ou regiões –, da produção de mercadorias – por processos just in time, por lotes de
encomendas etc. –, nos mercados financeiros – desregulamentados nas transações
atinentes ao câmbio, ao crédito e aos investimentos.
Essa nova forma de acumulação fornece a base para a cultura pós-moderna, para uma
sensibilidade ligada à desmaterialização do dinheiro, ao caráter efêmero das moedas, à
instabilidade da “nova economia”.
A predecessora mais ilustre dessa posição foi Rosa Luxemburgo. Harvey compartilha com
ela a tese de que a acumulação capitalista não prescinde de alguma espécie de ambiente
externo. Discorda, no entanto, que esse “outro” seja sempre uma forma de produção pré-
capitalista. O próprio capitalismo, em sua geografia e história, pode produzir esse
“exterior”, como no caso do desemprego em massa que amplia o exército industrial de
reserva. Tampouco concorda que a sucessão de crises que perpassa o capitalismo seja
explicável pelo “subconsumo”. Para Harvey, as crises advêm da dificuldade em absorver
de forma lucrativa os excedentes de capital e são, portanto, “crises de sobreacumulação”.
Sua resolução acarreta tanto a desvalorização de ativos e a destruição de regiões como
configura uma nova paisagem espaço-temporal para acomodar a perpétua acumulação
de capital e, sua companheira inseparável, a acumulação interminável de poder.
Referências bibliográficas
ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
ARRIGHI, Giovanni. O longo século XX. Dinheiro, poder e as origens de nosso tempo. Rio de
Janeiro: contraponto, 1996.
MARX, Karl. O capital. Crítica da economia política. São Paulo: Boitempo, 2013.
***
e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo. Doutor em filosofia pela USP
(1998) e mestre em filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1992).
Atualmente, integra o Laboratório de Estudos Marxistas da USP (LEMARX-USP) e colabora
para a revista Margem Esquerda: ensaios marxistas, publicação da Boitempo Editorial.
Colabora para o Blog da Boitempo mensalmente, às sextas.
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