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Quem era Vasco da Gama? De que trono procedia? Onde nascera?

Que
feitos lhe tinham dado mérito, quando o rei D. Manuel o escolheu por seu
primeiro descobridor?

F. Sr. Vasco da Gama, pode-nos falar um pouco sobre a sua origem e a sua
família?

B. Nasci em Sines. O meu pai era Estêvão da Gama, alcaide-mor daquela


povoação. Tive por irmãos Paulo da Gama, meu companheiro na grande
empresa, Ayres da ama, que aprendia para clérigo, um outro e uma irmã, a
Teresa da Gama.

F. O seu Rei, D. Manuel I, elegeu-o para pôr em marcha uma grande tarefa
nacional.

B. Fui eleito para mandar em toda a expedição à Índia, por D. Manuel e


recebi de sua majestade três caravelas.

F. Todas elas tinham nomes de anjos.

B. O primeiro navio chamado S. Gabriel, onde eu naveguei com o piloto


Pedro de Alemquer, já experimentado na viagem de Bartolomeu Dias além
do Cabo da Boa Esperança. No segundo, S. Rafael, embarcou o meu irmão,
Paulo da Gama, e o terceiro, era o S. Miguel.
F. Era de facto uma frota pequena…

B. Era tão pequena para tal empresa de caminho tão dilatado. Ao todo eram
cerca de 170 homens entre mareantes e homens de armas de toda a gente
que iam nessa armada. Aproveitei alguns mareantes que já tinham
concorrido no descobrimento do Cabo da Boa Esperança…

F. Com Bartolomeu Dias…

B. Sim, claro.

F. O que é que levavam nas vossas caravelas?

B. Para além de mantimentos e conservas, não faltavam nas caravelas um


cirurgião ou um clérigo, bem como presentes e regalos para príncipes e
senhores das terras.

F. Também levavam prisioneiros?

B. Sim, era normal que embarcassem, sentenciados a pena capital, para que
fossem deixados nas terras como exploradores. E D. Manuel mandara que
seguissem dez ou doze reclusos.

F. Quando é que partiram?

B. Depois de ter recebido as razões que tinham determinado o meu rei, D.


Manuel, a descobrir pelos seus navegadores a senda marítima da Índia, em
Montemor o Novo, e de ter recebido das suas mãos a bandeira, com a cruz
vermelha da Ordem de Cristo, partimos a 8 de Julho de 1497. Na véspera
estivemos em vigília na ermida de Nossa Senhora de Belém e partimos em
procissão até ao Restelo. Foi um momento feliz mas doloroso, pois eram
momentos de despedida.

F. O nosso Camões canta heroicamente esta passagem num dos cantos do


seu livro épico.

Assi fomos abrindo aqueles mares


Que geração alguma não abrio. Camões, V, 4

A expedição passou por várias etapas?

B. Sim, a 15 de Julho chegámos às Canárias. Uma noite devido às


tormentas e à escuridão os navios perderam-se, cada um, segundo pôde, foi
seguindo até às ilhas de Cabo Verde. Já tínhamos este ponto como
referência para o caso de nos perdermos. A 27 de Julho encontrámo-nos
todos em Santa Maria, onde nos demoramos 8 dias para reparar os danos.

F. A próxima meta era ultrapassar o Cabo das Tormentas?

B. A 3 de Agosto partimos para o Cabo da Boa Esperança. A partir deste


data é que começaram as verdadeiras tormentas. Tudo era novo a partir daí.
Durante três meses andamos em mar alto porque junto à costa africana
havia muitas tormentas. Não conseguimos repousar durante esses longos
meses. Os mares eram absolutamente desconhecidos e os ventos eram
igualmente contrários, muito fortes e frigidíssimos. Alguns dos homens que
já tinham viajado com Bartolomeu Dias diziam, mesmo, que o mar nunca
mais acabava e não havia mais nenhum cabo, onde terminasse o continente
para o sul. Mas eu sabia, estava bem informado, que haveria de encontrar o
cabo Tormentoso. Havia algum desânimo entre os homens que iam nesta
aventura. Mas eu não desisti. Não descansava, nem dormia um só
momento.

F. Quando é que dobraram o Cabo das Tormentas?

B. Como o tempo serenou, a 18 de Novembro dobrámos o cabo das


Tormentas, afinal, não tinha nada de tormentoso, por isso, demos-lhes o
nome de Cabo da Boa Esperança. Foi um momento de festa. Festejámos a
passagem, tangendo alegremente as nossas trombetas e celebrando com
folias a primeira fortuna da viagem. A partir deste destino, era tudo
novidade…

F. Pois o Bartolomeu Dias apenas tinha chegado até este ponto, mas não
passou este cabo porque era difícil. A viagem continuou.

B. Prosseguimos a viagem, sem antes termos visitado essas terras inóspitas


e trocado presentes com os naturais.

F. Como faziam para comunicarem com essas pessoas?

B. Na embarcação levávamos pessoas que sabiam as línguas da Guiné,


portanto, poderiam comunicar com os nativos. Andámos nisto alguns
meses, embarcando e atracando em terra firme para abastecermos, até que a
2 de Março chegámos a uma angra entre uma ilhas e a terra firme e vimos
homens bem vestidos que mais pareciam árabes. Falámos com eles e
disseram-nos que essa terra se chamava Moçambique. Aqui falei com os
outros capitães para arranjarmos um piloto árabe que nos conduzisse até à
Índia, pois eles diziam que Preste João não era já dali tão distante.
F. Não tinham a certeza do caminho para a Índia a partir desse ponto?

B. Não, era tudo desconhecido


Aí, em Moçambique, passou-se uma cena muito caricata. Houve um xeque
mouro muito importante que fez questão de subir ao navio e vinha
ricamente vestido. A sua comitiva e o próprio julgava que a nossa nau
pertencia aos turcos. Então, para que ele não visse o estado miserável em
que se encontrava a nossa nau e a tripulação, escondi os que estavam
doentes e ordenei que os homens com melhor disposição e vigor se
apresentassem com as mais lustrosas vestiduras, para que estes povos
tivessem melhor opinião sobre nós.
Disse-lhe que era de uma terra onde tinha os seus estados o maior rei
cristão de quantos se contavam em todo o mundo e que os navios, que ali
estavam ancorados, eram apenas parte mínima de uma poderosa armada. É
claro que as intenções deste xeque eram más, e por sua causa estivemos em
pequenas batalhas, ainda à volta de Moçambique, até ao final desse mês de
Março. É que o piloto mouro que contratámos tentou sabotar a nossa
viagem.

F. Como é que conseguiram navegar, tendo um pressuposto inimigo para


sabotar a viagem?

B. Nem um só minuto o deixámos sem vigia. Prosseguimos sempre


vigiando esse piloto, que nos levou até Mombaça., já em Abril, pensando
que aí haveria muitos cristãos, mas não eram. Foi outra tentativa desses
mouros para nos atacar de vez. Pois os pilotos encomendados vinham com
ordens para que as naus se enfiassem nos baixios.
F. Perderam homens?

B. Com estes contratempos, a minha tripulação ficou reduzida a metade.


Saímos de Mombaça e encontrámos alguns mouros embora não fossem
pilotos nos informaram que mais à frente era Melinde, cujo rei, diziam eles,
era humano e de bom trato e aí os portugueses poderiam tomara seu serviço
o piloto para a Índia. A minha vontade era seguir dali direito a Calecut, sem
tocar em porto algum da costa de África. Mas, ainda havia grande parte
indeterminada da rota.

F. A vossa passagem por Melinde foi como em Moçambique e Mombaça?

B. A nossa paragem por Melinde foi diferente. O rei de Melinde recebeu-


nos magestosamente e quis saber toda a história do povo lusitano. Foram
vários dias de festa.
Em Maio, há muito tempo sem ver terra, um dos nossos pilotos avistou
Calecut.

F. Atingiram o vosso grande objectivo?

B. Sem dúvida. Estávamos em finais de Maio de 1498.

F. Regressou logo a Portugal?

B. Estivemos algum tempo com o rei de Calecut, Samorim, de forma a


ajustar pactos de paz e de comércio, mas estas negociações correram mal.
Era tempo de regressar, ficava apenas a alegria da descoberta da senda
marítima da Índia.
Regressámos em Julho do ano seguinte, 1499.

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