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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO – UFPE

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS – CFCH


DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA – 2020.1 (2021)
TÓPICOS DE FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA IV

DOCENTE: MARCOS ANTÔNIO DA SILVA FILHO


DISCENTE: ANDRÉ CORREIA DE OLIVEIRA

EM QUE MEDIDA PODEMOS FALAR DE FUNDAMENTOS PARA O


CONHECIMENTO SEM SERMOS FUNDACIONISTAS?

Resumo: Este texto com o tom ensaístico pretende responder à questão acima em 3 partes. 1)
Introduzindo a análise tradicional do conhecimento afim de trazer para superfície o que
podemos chamar de ‘problema da justificação epistêmica’ na Teoria do Conhecimento; 2)
exibindo um pequeno ensaio filosófico com o intuito de introduzir ao criticar o Fundacionismo
e, posteriormente; 3) Responder à questão principal do título baseados em 1 e 2. Assim, espera-
se expor meu caráter subjetivo sobre minha compreensão das aulas e dos textos apresentados
no curso, assim como do exercício proposto.
Palavras-chave: Fundacionismo, Teoria do Conhecimento, Justificação, Certeza.

1- INTRODUÇÃO/ ANÁLISE TRADICIONAL DO CONHECIMENTO


Em Filosofia, conhecimento é crença verdadeira justificada. “Saber” e “Crer” são
relacionais e hora se confundem entre si, de modo que parecer trivial ou truísmo eu afirmar que
“sei e acredito” nos conhecimentos aos quais eu domino. É assim desde tempos que perduram
a Grécia Antiga, com provas datadas de mais de 2200 anos atrás:
“[...]Teeteto: - Ah, sim, uma vez eu vi alguém fazer esta distinção. Eu me
esquecera disso, mas agora eu me lembro. Dizia ele que o conhecimento é a opinião
<crença> verdadeira <fato no mundo> associada ao discurso racional
<justificação>, mas que a opinião verdadeira dissociada da explicação racional sai
do âmbito do conhecimento; (Platão, 2007, 201 c-d/ p.153).

Conhecimento neste sentido, quer dizer Conhecimento Proposicional ou aqueles que


são expressados através de proposições. Os demais como Conhecimento por Proximidade ou
Saber Fazer não serão abordados no texto. Também é deixada de lado a sorte como em um
palpite onde não temos certeza de que ‘vamos ganhar’ ou ‘adivinhação’ que é fundamentada
em magia ou ‘forças ocultas’ não contactáveis.
O que de fato acontece é que essa definição de conhecimento como crença verdadeira
justificada são cabíveis e suficiente em vários âmbitos da ciência - como em uma proposição
baseada em um experimento de biomedicina que afirma que: “HIDRÓXIDO DE ALUMÍNIO
AI(OH)3 é eficaz para combater azia em humanos não alérgicos” -. Pois se tem a crença, a
afirmação (o resultado do experimento no mundo) e a justificação (a reação bioquímica causada
por uma quantidade controlada de hidróxido de alumínio e o corpo humano com azia bem como
o resultado nos experimentos). Por outro lado, há momentos onde esta definição não é
suficiente, como por exemplo, em casos de ‘Gettierização’ (GETTIER, 1963).
Os casos de gettierização acontecem principalmente por um problema na “Justificação”
do conhecimento. De fato, mesmo que alguém chegue à conclusão verdadeira (d) a partir da
crença (c), e (c) for falsa, mesmo que este alguém saiba que (d) é verdadeiro, acredite em (d) e
esteja justificado a aceitar (d), o fato de ter inferido (d) a partir de (c) traz um problema para a
compreensão de conhecimento, faz com que esse alguém não acredite no ‘porque’ de (d) ser
verdadeiro, o que não compõe um conhecimento.
A gettierização não objetiva provar que a crença verdadeira justificada não é
conhecimento, mas prova que ela é insuficiente em alguns âmbitos descritos por ele. Este
problema na Justificação do conhecimento que Gettier expõe é bastante conhecido por
filósofos. No Trilema de Agripa, o problema da justificação epistêmica toma proporções
extremas. Esta pauta dentro da perspectiva do trilema, alega uma ‘impossibilidade de
justificação epistêmica’ fadada a 3 prisões: Regressão ao Infinito (com regressão infinita),
Circularidade (com justificativas circulares) e Fundacionismo (com petições de princípio ou
argumentos de autoridade). Estas lacunas que a justificação deixa explorar na teoria do
conhecimento toma papéis centrais nas discussões filosóficas e o fundacionismo se torna
basilar nessas discussões.

2- ENSAIO ACERCA DO FUNDACIONISMO


O CARÁTER NÃO-EPISTÊMICO DAS TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO: ensaio sobre a
solução ‘sharrockiana’ para as desavenças no discurso político brasileiro atual
QAnon1... em meio a uma pandemia mundial que dissemina mais fome, mortes
desigualdades e crises sociais, cresce cada vez mais a quantidade de adeptos de teorias da
conspiração e ‘fake News’. A proporção ficou tão alta que até os líderes de grandes potências
mundiais como Donald Trump 2 e Jair Bolsonaro3 são adeptos – de modo direto ou indireto -
deste ‘conhecimento por trás das cortinas’. Mas será que estão teorias podem ser consideradas
crenças verdadeiras justificadas?

1
ou simplesmente Q, é um movimento criado envolto de uma teoria da conspiração de extrema direita nos Estados
Unidos que alega haver uma Kabbalah secreta formada por adoradores de Satanás, pedófilos e canibais, que
dirigem uma rede global de tráfico sexual infantil e que esteve conspirando contra o ex-presidente Donald Trump,
enquanto este esteve no cargo de presidente, e seus apoiadores. A conspiração teria sido engendrada com base em
um plano secreto do chamado "estado profundo" (deep state). Adeptos deste movimento são responsáveis por
adesão e divulgação desde ‘atos’ antivacina – da covid - até a invasão do capitólio e na crença de que o “vírus”
foi inventado por Chineses para trazer o comunismo para os EUA. ( https://www.youtube.com/watch?v=Oy-
sYhR3kcw&t=298s )
2 - hidroxicloroquina e a azitromicina, juntos, têm chance real de promoverem uma das maiores viradas de jogo

da história da medicina. 21/03/20


3
- quem é de direita toma hidroxicloroquina <contra covid> e quem é de esquerda toma tubaína.
A resposta para esta pergunta é “não”. No entanto, é interessante explicar ‘como’ e ‘por
quê’, dentro do âmbito do “Da Certeza” de Wittgenstein, teorizar as possíveis causas destas
crenças não poderem ser consideradas conhecimento e explicitar a partir da reflexão filosófica,
como estas crenças conspiratórias se assemelham a um fundacionismo em sua forma mais
radical.
O método usado neste pequeno ensaio será uma pesquisa bibliográfica fundada na obra
Sobre a Certeza de Wittgenstein, no artigo relacionado a obra escrito pela Danièle Moyal-
Sharrock e beberá um pouco de Hilary Putnam. Neste sentido, haverá uma comparação entre
algumas teorias da conspiração presentes no Brasil atual com a perspectiva que a sharrockiana
apresenta sobre as ‘certezas fulcrais’ em Wittgenstein no seu artigo 4. Ao transparecer o caráter
não-epistêmico das certezas fulcrais, pretendo transpor esse caráter as teorias da conspiração
e/ou fake news e mostrar como estas crenças se fundam em um solipsismo metodológico.
Comecemos... Na obra wittgernsteiniana “Sobre a Certeza”, o filósofo austríaco
centraliza a certeza dentro de sua obra tornando-a o tema principal. Um dos principais motivos
desta obra é o fato de, muitas vezes na história da filosofia, a “confiança” ser confundida com
conhecimento. Aliás, a ideia de que certeza é conhecimento remota ao tempo dos antigos, com
seu auge em René Descartes e o seu cógito. A ideia principal por trás dessa perspectiva
epistêmica é a de que “conhecimento é aquilo ao qual eu não possa duvidar”. No entanto, o
problema se instala, quando se entende que conhecimento é um tipo de crença faz com que
“crença -verdadeira justificada - é aquilo ao qual eu não possa duvidar”. O caráter subjetivo do
“eu” e da “crença” pode permear uma imposição. Impor minha crença indubitável ao mundo.
Ao tecer as características das crenças fulcrais, a Sherrock apresenta 6 conceitos: não
epistêmicas, indubitáveis, não empíricas, gramaticais, não proposicionais e inefáveis.
Apresentarei cada uma delas e relacionarei com algumas teorias da conspiração.
1* Não epistêmica: Não são cognoscíveis. Isso quer dizer que você não pode,
empiricamente, provar as teorias da conspiração pois elas sempre são rodeadas de mistérios e
segredos. Sejam reuniões secretas, documentos, imagens e vídeos secretos e desconhecidos
pela maioria das pessoas, estas teorias ensejam mais a crença individual do que uma crença
verdadeira factual. Suas proposições em abertos buscam fazer com que o ouvinte preencha por
si mesmo as lacunas deste conhecimento tornando-o cada vez mais subjetivo. “A ‘esquerda’
está matando fetos em marcas de refrigerantes”. Como o conceito de ‘esquerda’ não está claro,
o ouvinte pode preencher com o que quiser.
2* Indubitáveis: Assim como o cógito cartesiano as crenças fulcrais e crenças em
teorias da conspiração não são passíveis de dúvida pois são as certezas mais fundamentais de
cada um. Em enunciados presentes nas teorias conspiratórias, como “O PT quer transformar o
Brasil em Cuba ou Koreia do Norte; enquanto Bolsonaro quer transformar o Brasil em um
Canadá, Inglaterra, EUA”, fica a crença fundamental de que o PT é o Mal e Bolsonaro é o Bem
e esta perspectiva é a base que infecta todo enunciado político contra Bolsonaro, formando uma
‘assimetria de pares’. Estas crenças não são moldáveis ou passíveis de revisão, elas se
fundamentam de uma paixão adoradora por uma formação de família, uma certa religião, um
princípio moral imperativo que são intocáveis para estas pessoas.

4 “A Certeza Fulcral de Wittgenstein” tradução de Janyne Sattler


3* Não empíricas: O caráter não empírico das teorias da conspiração estão nas fakes
news. Com o poder de desinformar e enganar o leitor/consumidor, estas notícias usam discursos
falsos para semear confusão. A ideia é de que haja “provas” para as justificações destas teorias
conspiratórias, mesmo que estas provas sejam falsas.
4* Gramaticais: O caráter gramatical remete a “regra”. Teorias da conspiração
envolvem regras fundamentais para a vida do crente nestas teorias. Família, Deus, seres
extraterrenos ou escolas e forças ocultas de mistérios, estas crenças são tão basilares para quem
as assumem que elas se transportam para seu jeito de ver o mundo, sua perspectiva de realidade
e acaba se fantasiando de regras. Ou seja, ao refutar uma teoria da conspiração como
“Bolsonaro é a única linha de frente contra os ataques Socialistas da China”, você não está só
refutando uma proposição, mas uma regra vital para a vida do indivíduo, onde a base – familiar,
teológica, política e etc – de que “há uma conspiração lutando contra o cidadão de bem
brasileiro” é uma certeza imutável, inefável, não falseável e basilar para a vida do teórico da
conspiração. Estas regras não são como proposições, mas sim, a maneira pela qual eles avaliam
as verdades das proposições.
5* Não proposicionais: Para Wittgenstein, uma das características fundamentais de
uma proposição é a bipolaridade ou, em outras palavras, a capacidade de uma proposição de
poder ser ela mesma falsa ou verdadeira. Essa bipolaridade é essencial para que uma proposição
seja epistêmica, portanto, toda proposição que não é bipolar tende a ser “não proposicional”.
A ideia é que, a teoria do conhecimento em filosofia se der mediante ao conhecimento
proposicional, ou seja, aquele conhecimento que se apresenta nas proposições, sendo assim,
proposições que não podem ser falseadas não podem ser conhecidas, apenas acreditadas. Tal
caráter nas teorias da conspiração pode ser encontrado nos 4 elementos anteriores.
6* Inefáveis: Pelo fato de, as regras não terem “valor lógico”, ‘wittgenteinianamente’
falando, elas são inefáveis. A inefabilidade da dobradiça se dar como uma indizibilidade lógica,
que impede logicamente a articulação de sentido e uso. Truísmos podem ser dizíveis -
dependendo do contexto -, no entanto, em contextos que estas sentenças não informam, não
expressam e nem descrevem, elas são desprovidas de sentido... não dizem nada. Para o teórico
da conspiração o inefável é o que dar base a sua vida. Seja Deus, a família, a empresa ou um
ideal militante de justiça o apego cego as conspirações se dar devido ao amor cego as bases
mais fundamentais da vida de cada teórico da conspiração. Sua família, seu Deus, seus ideais
são a base primordial e inefável que sustenta o edifício de suas crenças.
Crenças em teorias da conspiração como o QAnon perecem de justificação plausível e
de provas epistêmicas. Mas elas não apresentam o ‘caráter truísta’ como nas afirmações de
Moore ou Descartes. Portanto, o que faz ela assumir um caráter fulcral de crença?
Em um fundacionismo radical onde se confunde certeza com conhecimento e se
colocam nossas certezas mais fundamentais como base edificante de todo o conhecimento
possível, se comete o erro de esquecer que nossas crenças fulcrais fundamentam tanto nossas
crenças verdadeiras quanto as falsas. Portanto, apenas crer em uma determinada proposição, e
ter justificativas que ‘você’ ache plausíveis, não é suficiente para que aquilo seja conhecimento
de fato, mesmo que este conhecimento seja verdadeiro pois cairíamos em um processo de
gettierização, ou sorte/palpite.
Por outro lado, negar um conhecimento porque suas crenças fundamentais discordam
dela é igualmente não epistêmico. Um dos problemas de se usar certezas como conhecimento
é o fato de que algo que vá contra suas certezas são contra também o conhecimento. Em outras
palavras, aquilo que nega ou refuta minhas certezas fulcrais não podem ser conhecimento.
Entretanto, o filósofo Moore dificulta esta parte do problema quando apela para o
“senso-comum” ou uma certeza que é conhecimento para toda uma cultura e que, ao mesmo
tempo - assim como a ciência - é compartilhada por uma comunidade, como por exemplo: “Isto
são letras”. Assim, todo aquele que duvida destas certezas, parecem não terem entendido a
questão. E quem concorda parece tê-la entendido. Isso nos remete ao caráter de regra destas
crenças, pois ao aceitá-la, parece que você entendeu e entrou no jogo, ao negá-la você parece
não fazer sentido, estando fora do jogo.
Aqui encontramos a ideia de “Epistêmico vs Normativo”, o caráter de regra não pode
ser verdadeiro ou falso pois elas definem a maneira pela qual avaliamos as verdades das
proposições.
O caráter de regra que transporta teorias da conspiração para o viés de crença fulcral
pode ser explicado usando a linguagem do Hiraly Putnam em seu artigo “The meaning of
‘meaning’”, o chamado de Solipsismo Metodológico ou “Estados Psicológicos no sentido
estrito”. A certeza é um Estado Psicológico no sentido estrito que não necessita da existência
de qualquer indivíduo a não ser o sujeito a quem aquele estado é atribuído. Em outras palavras
a certeza só depende daquele a quem está ‘certo de algo’ e nada mais. A existência nos mostra
isso em diversos âmbitos como as discussões sobre o melhor time de futebol ou a comida mais
gostosa de uma lanchonete. Estes juízos de gostos estão muito mais voltados aos sujeitos do
que ao conhecimento.
Por outro lado, isso parece comprometer o projeto ‘tractariano’ de Wittgernstein com
uma abordagem psicológica de representação, mesmo aceitando que há um elemento
psicológico nas figurações, que é o pensamento. Entretanto, é este erro, de tratar do
conhecimento no âmbito da certeza, ou seja, de um estado psicológico no sentido restrito que
não é apenas o pensamento, mas envolve inclusive, imperativos subjetivos do teórico da
conspiração.
Sendo assim, a crença de que “vacinas matam” ou “vacinas transformam homens
heterossexuais em homossexuais” não criam grupos e comunidades de crentes simplesmente
porque um solipsista acredita nele, mas porque ao ouvir outra pessoa afirmando minhas crenças
fundamentais, eu estou afirmando a mim mesmo e entendendo-o. Ao negar, sinto-me dentro
de meu solipsismo metodológico, um estado psicológico de confusão, como se o outro não
tivesse de fato entendido o que eu falei. Não há uma justificação de ‘por que isto é verdadeiro?’,
mas sim, apenas uma certificação de que ‘você entendeu porque é verdadeiro?’.
Um exemplo semelhante acontece com o conto do filósofo de codinome Voltaire
chamado “Cândido, ou o Otimismo”. Onde o personagem Cândido adere várias crenças fulcrais
como se fossem proposições epistêmico-empíricas e se torna crente uma proposição de que
“tudo acontece da melhor maneira possível no melhor dos mundos possíveis” do filósofo
Pangloss – ou do otimismo leibzniano. Os problemas que Cândido passa ao ficar cego para
grande desgraça e sofrimento que acontece em sua vida por acreditar nesta crença fulcral são
tristemente trágicos. Ofuscado pela sua certeza fulcral, ao qual Cândido confunde com
conhecimento indubitável, Cândido passa por vários sofrimentos e acaba defendendo vários
infortúnios e contradições. Assim como um ‘antivacina’ ou ‘terraplanista’ se encontra cego
para as questões que refutam suas certezas, pois, para tais teóricos da conspiração, o problema
é que o cético ao seu argumento não entendeu o que foi dito, pois se entendessem,
concordariam, pois é questão de certeza e não de conhecimento.
Por fim, exibe-se o problema geral, com a conclusão de Wittgenstein de que certezas
não podem ser consideradas conhecimentos por excelência, entende-se que crenças que não
são falseáveis ou passíveis de revisão não podem ser consideradas conhecimentos. Que certezas
não são estrito senso verdades no mundo – por poderem ser maleáveis ou fundamentadas em
mentiras - e que argumentos epistemológicos não servem como contra argumento para um
teórico da conspiração porque ele não trata de suas proposições no âmbito do conhecimento,
mas apenas das certezas. Sendo assim, as proposições de um “antivacina” não podem ser
falseáveis nem passíveis de revisão devido ao seu âmbito fulcral. O âmbito fulcral, por sua vez,
clama por uma ideia fundante, um ideal basilar que vai servir de alicerce para todo tipo de
conhecimento possível, estas ideias formam certezas e geralmente se confundem com o caráter
fundacionista do trilema de Agripa, onde as certezas fulcrais são necessárias, não contingentes
e são a base para todo conhecimento possível.

3- EM QUE MEDIDA PODEMOS FALAR DE FUNDAMENTOS PARA O


CONHECIMENTO SEM SERMOS FUNDACIONISTAS?

Vale salientar novamente, com mais veemência, que aquele que também usa certezas
fulcrais para refutar proposições sem antes dar-se ao trabalho de verificá-la – falo isso no
campo da epistemologia, visto que, no cotidiano da nossa vida, usar crenças fulcrais como
basilares são comumente usados e isso facilita muito nossa vida (é importante não precisar
verificar se tem braços regularmente quando se é totalmente saudável neste quesito) - caem na
mesma armadilha de usar certezas indubitáveis, inefáveis e etc como se fosse conhecimento
empírico. Então como falar de Fundamentos para o conhecimento se sermos fundacionistas?
Uma perspectiva que possa ser falseada, revisada e – caso mostre-se insuficiente –
corrigida. Pensar por exemplo, que minha crença fulcral de que a terra é redonda refuta ‘a
priori’ todo e qualquer argumento terraplanista é confundir certezas com conhecimentos, tanto
um quanto o outro. A ideia é entender que, há na minha crença sobre a terra ser redonda, espaço
para revisão e falseabilidade que são apresentados por argumentos de um terraplanista, como
por exemplo, de que “a terra não pode ser redonda como uma bola pois há muita água,
montanhas e etc que impedem que a terra seja totalmente redonda” ou que “a terra é redonda
hoje, entretanto, com o derretimento das calotas e outras mudanças extremas podem mudar a
forma do nosso planeta”. O que acontece é que a recíproca não é verdadeira. Para um teórico
da conspiração sua crença não pode ser refutada, revisada e qualquer tentativa de falsear tais
proposições dão a impressão de “sem sentido”, “de que não entendeu”.
Neste caso, devemos pensar que a crença biomédica de que “HIDRÓXIDO DE
ALUMÍNIO - AI(OH)3 - é eficaz para combater azia em humanos não alérgicos” pode mudar
se caso houver uma mudança ou nova descoberta que se prove, no mínimo, diferente dela. A
biomedicina está aberta para novas descobertas, correções e falseabilidade. Na física com a
revolução einsteiniana, se refaz de suas certezas mais fulcrais da física moderna para chegar a
física atômica e subatômica. Entretanto, estas áreas do conhecimento não estão livres de
certezas fulcrais. Essas hinges são necessárias para que o conhecimento possa existir, a
diferença é que, diferente dos fundacionistas, estas certezas funcionam como uma rede de
neurônios humanos que dividem, sintetizam e formam novos conhecimento tendo a
maleabilidade de hora serem ‘hinges’, hora serem ‘conclusão de outras hinges’, hora serem
apenas o meio, a ponte entre as ‘hinges’ e novos conhecimentos. O que se deve ter em mente
é uma rede que pode se movimentar sem perder a conexão, esta rede pode mudar de formas e
o que está em cima pode estar abaixo, no entanto, continuarão ligadas e flexíveis.

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