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“ Não faz muito tempo a terra tinha dois bilhões de habitantes, isto é, quinhentos

milhões de homens e um bilhão equinhentos milhões de: indígenas.A elite européia


tentou engendrar um indigenato de elite; selecionavaadolescentes, gravava-lhes na testa,
com ferro em brasa, os princípios da cultura ocidental, metia-lhes na bôca mordaças
sonoras, expressões bombásticas e pastosas que grudavam nos dentes; depois de breve
estada na metrópole, recambiava-os, adulterados”.( pg. 3 )

“Que indígena consciente iria massacrar os filhos da Europa com o fim único de se
tornar europeu com êles? Numa palavra, estimulávamos essas melancolias e não
achamos mau, uma vez, conceder o prêmio Goncourt a um negro. Isto ocorreu antes de
39 ’’ ( pg. 4)

“"A Europa adquiriu uma velocidade tão louca, tão desordenada. ..que a arrasta para o
abismo, do qual é melhor que nos afastemos."( pg. 5)

“Acabaram-se os Goncourt negros e os Nobel amarelos; não voltará mais o t'empo dos
laureados colonizados. Um ex-indígena "de Hngua francesa" sujeita esta língua a
exigências novas, serve-se dela para dirigir-se apenas aos colonizados: "Indígenas de
todos os países subdesenvolvidos, uni-vos!" Que rebaixamento: para os pais,éramos às
únicos inter1ocutores; os filhos nem nos consideram mais como interlocutores
admissíveis: somos os objetos do discurso”. ( pg. 5 e 6)

“Evidentemente Fanon menciona de passagem nossos crimes famosos, Sétif, Hanoi,


Madagascar, mas não perde o seu tempo a condená-los; utiliza-os”. (pg. 6)

“Aqui a Metrópole contentou-se em pagar alguns feudatários; ali, dividindo para reinar,
fabricou em bloco uma burguesia de colonizados; mais além matou dois coelhos de uma
só cajadada: a colônia é ao mesmo tempo de exploração e povoamento “.( pg. 6)

“Triunfando, a Revolução nacional será socialista; detido seu ímpeto, a burguesia


colonizada toma o poder, e o novo Estado, a despeito de uma soberania formal, continua
nas mãos dos imperialistas”. (pg.6)

“ O leitor é severamente acautelado contra as alienações mais perigosas: o líder, o culto


da personalidade-, a cultura ocidental e, também, o retôrnodo longínquo passado da
cultura africana; a verdadeira cultura é a Revolução; isso quer dizerque ela se forja a
quente”.( pg. 7)
“O colono só tem um recurso: a fôrça, quando esta ainda lhe sobra; o indígena só tem
uma alternativa: a servidão ou a soberania “.( pg.7)

“Fanon revela a seus camaradas a alguns dentre êles, sobretudo, que continuam um
pouco ocidentalizados demais - a solidariedade dos "metropolitanos" e de seus agentes
coloniais”.( pg. 8)

“O colonizadonão é o semelhante do homem”.( pg.9)

“A violência colonial não tem somente o objetivo de garantir o respeito desses homens
subjugados; procura desumanizá-Ios “.( pg,9)

“Nada deve ser poupado para liquidar as suas tradições, para substituir a língua deles
pela nossa, para destruir a sua cultura sem lhes dar a nossa; é preciso embrutecê-los pela
fadiga. Desnutridos, enfermos, se: ainda resiste, o medo concluirá o trabalho: assestam-
se os fuzis sobre o camponês; vêm civis que se instalam na terra e o obrigam a cultivá-la
para eles. Se resiste, os soldados atiram, é um homem morto; se cede, degrada-se, não é
mais um homem; a vergonha e o temor vão fender-lhe o caráter, desintegrar-lhe a
personalidade “.( pg. 9)

“Quando domesticamos um membro de nossa espécie, diminuímos o seu rendimento e,


por pouco que lhe demos, um homem reduzido à condição de animal doméstico acaba
por custar mais do que produz. Por 'esse motivo os colonos veem se obrigados a parar a
domesticação no meio do caminho: o resultado, nem homem nem animal, é o indígena.
Derrotado, subalimentado, doente, amedrontado, mas só até certo ponto ,tem ele, seja
amarelo, negro ou branco, sempre os mesmos traços de caráter: é um preguiçoso, sonso
e ladrão, que vive de nada e só reconhece a força” .( pg.10)

“A princípio o europeu reina; já perdeu mas não se dá conta disso; ainda não sabe que
os indígenas são falsos indígenas; atormentados, conforme alega,para destruir ou
reprimir o mal que há neles”.( pg. 10)

“Negligencia a memória humana, as recordações indeléveis; e depois, sobretudo, há isto


que talvez ele jamais tenha sabido: nós não nos tornamos o que somos senão pela
negação íntima e radical do que fizeram de nós. Três gerações? Desde a segunda, mal
abriram os olhos, os filhos viram os pais ser espancados. Em termos de psiquiatria, ei-
los"traumatizados". Para a vida interna”.( pg.11)
“Neste novo momento a agressão colonial se interioriza em Terror entre os colonizados.
Não me refiro somente ao temor que experimentam diante de nossos inesgotáveis meios
de repressão como também ao que lhes inspira seu próprio furor”.( pg. 11)

“Essa fúria contida, que não se extravasa, anda à roda e destroça os próprios oprimidos“.
( pg.12)

“ Para se livrarem dela, entrematam-se: as tribos batem-se umas contra as outras por não
poderem atacar de frente o verdadeiro inimigo - e podemos contar com a política colonial para
alimentar essas rivalidades; o irmão, empunhando a faca contra o irmão, acredita destruir, de
uma vez por todas, a imagem detestada de seu aviltamento ,comum “. ( pg. 12)

“Sob o olhar divertido do colono, premunir-se-ão contra eles mesmos com barreiras
sobrenaturais, ora reavivando velhos mitos terríveis, ora atando-se fortemente com ritos
meticulosos; assim, o obsesso livra-se de sua exigência profunda abandonando-se a manias
que o solicitam a todo instante”. ( pg.12)

“O que era outrora o fato religioso em sua simplicidade, uma certa comunicação do fiel com o
sagrado, se transforma numa arma contra o desespêro e a humilhação; os zars, as loas, os
Santos descem nêles, governam-lhes a violência e: a dissipam em transes até ao esgotamento.
Ao mesmo tempo esses altos personagens os protegem; isso quer dizer que os colonizados se
defendem da alienação colonial voltando-se para a alienação religiosa. No fim de contas, o
único resultado é a acumulação de duas alienações, cada qual reforçada pela outra”. ( pg. 12)

“O indigenato é uma neurose introduzida e mantida pelo colono entre os colonizadores com o
consentimento dêles “.( pg.13)

“Na Argélia e:. em Angola os europeus são massacrados onde aparecem. É o momento do
bumerangue, o terceiro tempo da violência: ela se volta contra nós, atinge-nos e, como das
outras vezes, não compreendemos que é a nossa”.( pg,13)

“Um dever único, um único objetivo: combater o colonialismo por todos os meios “.( pg.14)

“E quando os camponeses tocam 'nos fuzis, os velhos mitos ,empalidecem, e caem por terra,
uma a uma, as interdições. A arma do combatente é a sua humanidade. Porque, no primeiro
tempo da revolta, é preciso matar; abater um europeu é matar dois coelhos de uma só
cajadada, é suprimir ao mesmo tempo um opressor ,e um oprimido: restam um homem morto
e um homem livre; o sobrevivente, pelaprimeira vez, sente um solo nacional sob a planta dos
pés. o colonizado se cura da neurose colonial passando o colono pelas armas “.( pg.14)
“Com o último colono morto, reembarcado ou assimilado, a espécie minoritária desaparece,
cedendo o lugar à fraternidade socialista “.( pg.15)

“Énecessário que nós, europeus, nos descolonizemos, isto é, extirpemos, por meio de: uma
operação sangrenta, o colono que há em cada um de nós”.( pg.16)

“A Europa, empanturrada de riquezas, concedeu de jure a humanidade a todos os seus


habitantes; entre nós, um homem significa um cúmplice, visto que todos nós lucramos com a
exploração colonial “ . ( pg.17)

“ Bons espíritos, liberais e ternos - neocolonialistas em suma – mostravam-se chocados com

essa inconsequência; erro ou má fé: nada mais consequente, em nosso meio, que um
humanismo racista, uma vez que o europeu só pode fazer-se homem fabricando escravos e

monstros “. ( pg. 17)

“É o fim, como vêdes: a Europa faz água por todos os lados. Que aconteceu então?
Simplesmente isto: éramos os sujeitos da história e atualmente somos os objetos. Inverteu-se
a correlação de fôrças, a descolonização está em curso; tudo o que nossos mercenários podem
tentar é retardar-lhe a conclusão “.( pg.18)

”Agora, a violência, por toda a parte bloqueada, volta-se: contra nós através de nossos
soldados, interioriza-se e nos pôs sul Começa a involução: o colonizado se recompõe e nós,

fanáticos e liberais, colonos e "metropolitanos", nós nos decompomos”. ( pg.19)

“A união do povo argetino produz a des união do povo francês: em todo o território

daexmetrópole as tribos dançam e preparam-se para o combate. O terror deixou a África para
instalar-se aqui, porque há os furiosos que com tôda a simplicidade querem Obrigar nos a
pagar com nosso sangue a vergonha de termos sido batidos pelo indígena e há também os
outros, todos os outros, igualmente culpados - após Bizerta, após os linchamentos de
setembro, quem foi à rua para dizer: chega? - mas bem mais sossegados: os liberais, os duros
dos duros da Esquerda mole. Neles também a febre sobe”. ( pg. 19)

“Nós nos curaremos? Sim. A violência, como a lança de Aquiles, pode cicatrizar as feridas que
ela mesma fez “.( pg.20)

“Assim terminará o tempo dos feiticeiros e dos fetiches: ou nos bateremos ou apodreceremos
nas prisões. É o momento final da dialética: condenais esta guerra mas ainda não ousais
declarar-vos solidários com os combatentes argelinos; não tenhais mêdo, confiai nos colonos e
mercenários; êles vos obrigarão a lutar”. ( pg.21)

REFERÊNCIAS

FANON, Frantz; SARTRE, Jean-paul. Os Condenados da Terra. Lisboa: Ulisseia,


1965.
UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
LICENCIATURA EM LETRAS

SIVALDA DA SILVA GUIMARÃES

FICHAMENTO DO LIVRO
OS CONDENADOS DA TERRA
FRANTZ FANON

Garanhuns – PE
2019.2

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