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“Que indígena consciente iria massacrar os filhos da Europa com o fim único de se
tornar europeu com êles? Numa palavra, estimulávamos essas melancolias e não
achamos mau, uma vez, conceder o prêmio Goncourt a um negro. Isto ocorreu antes de
39 ’’ ( pg. 4)
“"A Europa adquiriu uma velocidade tão louca, tão desordenada. ..que a arrasta para o
abismo, do qual é melhor que nos afastemos."( pg. 5)
“Acabaram-se os Goncourt negros e os Nobel amarelos; não voltará mais o t'empo dos
laureados colonizados. Um ex-indígena "de Hngua francesa" sujeita esta língua a
exigências novas, serve-se dela para dirigir-se apenas aos colonizados: "Indígenas de
todos os países subdesenvolvidos, uni-vos!" Que rebaixamento: para os pais,éramos às
únicos inter1ocutores; os filhos nem nos consideram mais como interlocutores
admissíveis: somos os objetos do discurso”. ( pg. 5 e 6)
“Aqui a Metrópole contentou-se em pagar alguns feudatários; ali, dividindo para reinar,
fabricou em bloco uma burguesia de colonizados; mais além matou dois coelhos de uma
só cajadada: a colônia é ao mesmo tempo de exploração e povoamento “.( pg. 6)
“Fanon revela a seus camaradas a alguns dentre êles, sobretudo, que continuam um
pouco ocidentalizados demais - a solidariedade dos "metropolitanos" e de seus agentes
coloniais”.( pg. 8)
“A violência colonial não tem somente o objetivo de garantir o respeito desses homens
subjugados; procura desumanizá-Ios “.( pg,9)
“Nada deve ser poupado para liquidar as suas tradições, para substituir a língua deles
pela nossa, para destruir a sua cultura sem lhes dar a nossa; é preciso embrutecê-los pela
fadiga. Desnutridos, enfermos, se: ainda resiste, o medo concluirá o trabalho: assestam-
se os fuzis sobre o camponês; vêm civis que se instalam na terra e o obrigam a cultivá-la
para eles. Se resiste, os soldados atiram, é um homem morto; se cede, degrada-se, não é
mais um homem; a vergonha e o temor vão fender-lhe o caráter, desintegrar-lhe a
personalidade “.( pg. 9)
“A princípio o europeu reina; já perdeu mas não se dá conta disso; ainda não sabe que
os indígenas são falsos indígenas; atormentados, conforme alega,para destruir ou
reprimir o mal que há neles”.( pg. 10)
“Essa fúria contida, que não se extravasa, anda à roda e destroça os próprios oprimidos“.
( pg.12)
“ Para se livrarem dela, entrematam-se: as tribos batem-se umas contra as outras por não
poderem atacar de frente o verdadeiro inimigo - e podemos contar com a política colonial para
alimentar essas rivalidades; o irmão, empunhando a faca contra o irmão, acredita destruir, de
uma vez por todas, a imagem detestada de seu aviltamento ,comum “. ( pg. 12)
“Sob o olhar divertido do colono, premunir-se-ão contra eles mesmos com barreiras
sobrenaturais, ora reavivando velhos mitos terríveis, ora atando-se fortemente com ritos
meticulosos; assim, o obsesso livra-se de sua exigência profunda abandonando-se a manias
que o solicitam a todo instante”. ( pg.12)
“O que era outrora o fato religioso em sua simplicidade, uma certa comunicação do fiel com o
sagrado, se transforma numa arma contra o desespêro e a humilhação; os zars, as loas, os
Santos descem nêles, governam-lhes a violência e: a dissipam em transes até ao esgotamento.
Ao mesmo tempo esses altos personagens os protegem; isso quer dizer que os colonizados se
defendem da alienação colonial voltando-se para a alienação religiosa. No fim de contas, o
único resultado é a acumulação de duas alienações, cada qual reforçada pela outra”. ( pg. 12)
“O indigenato é uma neurose introduzida e mantida pelo colono entre os colonizadores com o
consentimento dêles “.( pg.13)
“Na Argélia e:. em Angola os europeus são massacrados onde aparecem. É o momento do
bumerangue, o terceiro tempo da violência: ela se volta contra nós, atinge-nos e, como das
outras vezes, não compreendemos que é a nossa”.( pg,13)
“Um dever único, um único objetivo: combater o colonialismo por todos os meios “.( pg.14)
“E quando os camponeses tocam 'nos fuzis, os velhos mitos ,empalidecem, e caem por terra,
uma a uma, as interdições. A arma do combatente é a sua humanidade. Porque, no primeiro
tempo da revolta, é preciso matar; abater um europeu é matar dois coelhos de uma só
cajadada, é suprimir ao mesmo tempo um opressor ,e um oprimido: restam um homem morto
e um homem livre; o sobrevivente, pelaprimeira vez, sente um solo nacional sob a planta dos
pés. o colonizado se cura da neurose colonial passando o colono pelas armas “.( pg.14)
“Com o último colono morto, reembarcado ou assimilado, a espécie minoritária desaparece,
cedendo o lugar à fraternidade socialista “.( pg.15)
“Énecessário que nós, europeus, nos descolonizemos, isto é, extirpemos, por meio de: uma
operação sangrenta, o colono que há em cada um de nós”.( pg.16)
essa inconsequência; erro ou má fé: nada mais consequente, em nosso meio, que um
humanismo racista, uma vez que o europeu só pode fazer-se homem fabricando escravos e
“É o fim, como vêdes: a Europa faz água por todos os lados. Que aconteceu então?
Simplesmente isto: éramos os sujeitos da história e atualmente somos os objetos. Inverteu-se
a correlação de fôrças, a descolonização está em curso; tudo o que nossos mercenários podem
tentar é retardar-lhe a conclusão “.( pg.18)
”Agora, a violência, por toda a parte bloqueada, volta-se: contra nós através de nossos
soldados, interioriza-se e nos pôs sul Começa a involução: o colonizado se recompõe e nós,
“A união do povo argetino produz a des união do povo francês: em todo o território
daexmetrópole as tribos dançam e preparam-se para o combate. O terror deixou a África para
instalar-se aqui, porque há os furiosos que com tôda a simplicidade querem Obrigar nos a
pagar com nosso sangue a vergonha de termos sido batidos pelo indígena e há também os
outros, todos os outros, igualmente culpados - após Bizerta, após os linchamentos de
setembro, quem foi à rua para dizer: chega? - mas bem mais sossegados: os liberais, os duros
dos duros da Esquerda mole. Neles também a febre sobe”. ( pg. 19)
“Nós nos curaremos? Sim. A violência, como a lança de Aquiles, pode cicatrizar as feridas que
ela mesma fez “.( pg.20)
“Assim terminará o tempo dos feiticeiros e dos fetiches: ou nos bateremos ou apodreceremos
nas prisões. É o momento final da dialética: condenais esta guerra mas ainda não ousais
declarar-vos solidários com os combatentes argelinos; não tenhais mêdo, confiai nos colonos e
mercenários; êles vos obrigarão a lutar”. ( pg.21)
REFERÊNCIAS
FICHAMENTO DO LIVRO
OS CONDENADOS DA TERRA
FRANTZ FANON
Garanhuns – PE
2019.2