Você está na página 1de 53

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................. 3

1 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A SUSTENTABILIDADE ............................ 4

2 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE


NO BRASIL ................................................................................................................. 5

3 PROTEÇÃO JURÍDICA DO MEIO AMBIENTE ........................................... 8

4 POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS ...................................................... 11

5 PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA TEMÁTICA AMBIENTAL ........... 13

5.1 Base normativa .................................................................................. 13

5.2 Necessidade de aprimoramento da atuação institucional .................. 14

5.3 Instrumentos extrajudiciais para a atuação do Ministério Público na


implementação de políticas públicas ..................................................................... 17

5.4 Necessidade do Controle Jurisdicional .............................................. 21

6 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO EM RELAÇÃO AO MEIO AMBIENTE


.................................................................................................................. 30

7 A RESPONSABILIDADE AMBIENTAL DA EMPRESA ............................. 33

8 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – A EXPRESSÃO ENTRA EM


CENA .................................................................................................................. 35

9 GESTÃO AMBIENTAL – O NOVO PARADIGMA ..................................... 40

10 SGA - SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL ......................................... 42

11 ISO 14000 ............................................................................................. 44

12 BS 7750 ................................................................................................. 47

13 EMAS .................................................................................................... 49

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 51

2
INTRODUÇÃO

Prezado aluno,

A Rede Futura de Ensino, esclarece que o material virtual é semelhante ao da


sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno
se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta,
para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse
aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No
espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser
direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

3
1 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A SUSTENTABILIDADE

O Brasil vem buscando, por meio de políticas públicas claras, incentivar a


criação de instrumentos que promovam o envolvimento de empresas e da sociedade
no trabalho de constituição de um sistema sustentável, principalmente do ponto de
vista das mudanças de atitude. Muito disso é resultado das necessidades indicadas
pela iniciativa privada.
Um exemplo de medida eficiente é transformar em regras as boas práticas
empresariais, nas suas diversas searas – seja no modo de produção, seja na
substituição de recursos naturais –, consolidando-as como padrão geral. E os meios
que podem ser utilizados para transformar boas práticas em normas são a
regulamentação pública e a autorregulação setorial, muitas vezes utilizadas
conjuntamente.
Nesse sentido, a indução de políticas públicas utilizaria as organizações já
comprometidas com pelo menos parte das mudanças necessárias como apoio ao
engajamento do mercado em que estão inseridas, provocando ações estruturais que
resultariam em alterações relevantes nos perfis da produção, do consumo e da
distribuição de renda.
Considerando um objetivo mais abrangente, a adoção de políticas públicas
representa ampliar o leque contributivo das ferramentas já criadas pelas próprias
empresas para promover avanços concretos na implantação de uma nova economia,
equilibrando o patamar das práticas de Responsabilidade Social Empresarial.
Além disso, as políticas públicas devem prever que práticas voltadas para o
desenvolvimento sustentável, que já produzem algum resultado, devem ser
identificadas e reconhecidas, de forma que o ciclo de investimentos e de
desenvolvimento de ações positivas permaneça sempre em atividade.
Políticas públicas são ações governamentais no nível federal, estadual e
municipal com objetivo de desenvolver o bem coletivo. No caso ambiental incentivam
um desenvolvimento sustentável com menor impacto ao meio ambiente. As políticas
públicas podem ser desenvolvidas em parcerias do governo com a sociedade, através
de ONGs e mais recentemente com a iniciativa privada. As leis de incentivos são uma
prova disso.
Cabe ao Estado propor ações preventivas diante de situações de risco à
sociedade por meio de políticas públicas. No caso da questão ambiental, os interesses
4
são diversos, e com uma extensa pauta, o governo segue regulando, criando leis e
fiscalizando.
Nem sempre, a política e a urgência da questão ambiental andam no mesmo
compasso. Haja visto a nossa Política Nacional de Resíduos Sólidos que tramitou 19
anos antes de ser aprovada recentemente pelo Congresso. Mas, este é apenas um
dos temas de interesse difuso em pauta.

2 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE NO


BRASIL

No Brasil, a devastação da biodiversidade, como consequência direta da


devastação de seus recursos naturais, em geral, não foge ao que se vê no mundo
como um todo: segundo dados do GEO Brasil 2002, analisando os dados da área total
de florestas naturais remanescentes no Brasil, com os dados da população obtidos na
contagem de 1996 do Censo 2001 do IBGE, visualizamos a baixíssima estimativa da
superfície florestal por pessoa na Região Sudeste que é de 0,30 há por habitante.
A taxa de extinção de vertebrados e plantas vasculares é de 50 a 100 vezes
maior do que a taxa natural de extinção esperada, podendo chegar a 10 mil vezes.
Por estas questões levantadas e com a assinatura da Convenção sobre
Diversidade Biológica em 1992, no Rio de Janeiro, e posterior ratificação pelo
Congresso Nacional, o Brasil viu-se obrigado a adotar medidas que visassem à
conservação e uso sustentável da biodiversidade, e a repartição justa e equitativa dos
benefícios de sua utilização ou dos conhecimentos tradicionais associados.
O órgão brasileiro responsável pela adoção destas medidas é o Ministério do
Meio Ambiente, o qual atua através de sua Diretoria do Programa Nacional de
Conservação da Biodiversidade, desenvolvendo projetos que contam com recursos
do Tesouro Nacional e de entidades internacionais como o Fundo para o Meio
Ambiente Mundial.
Visando à implementação da CDB, o governo brasileiro criou o Programa
Nacional da Diversidade Biológica, ou PRONABIO, por meio do Decreto n 1.354, de
29 de dezembro de 1994, e iniciou negociações com o Fundo para o Meio Ambiente
Mundial - GEF para receber recursos de doação para criação de um projeto que

5
apoiasse este programa. Tal decreto criou também sua Comissão Coordenadora com
a finalidade de coordenar, acompanhar e avaliar as ações do PRONABIO.
Em virtude da assinatura do Decreto nº 4.339, de 22 de agosto de 2002, que
instituiu a chamada Política Nacional da Biodiversidade, o PRONABIO teve de ser
modificado para atender a novos princípios e diretrizes.
A Política Nacional da Biodiversidade, instituída por decreto, estabeleceu
princípios e diretrizes norteadores das ações de conservação, adotando, em geral,
aqueles estabelecidos na Convenção sobre Diversidade Biológica e na Declaração do
Rio, ambas de 1992, na Constituição e na legislação nacional vigente sobre a matéria.
Tem como objetivo geral a promoção, de forma integrada, da conservação da
biodiversidade e da utilização sustentável de seus componentes, com a repartição
justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos, de
componentes do patrimônio genético e dos conhecimentos tradicionais associados a
esses recursos.
A Política Nacional da Biodiversidade é constituída por cinco elementos, e
respectivos objetivos específicos, sendo que tais componentes devem ser
considerados como eixos temáticos que orientarão as etapas de desenvolvimento
desta política. São esses componentes (i) o conhecimento da biodiversidade, (ii) a
conservação da biodiversidade, (iii) utilização sustentável dos componentes da
biodiversidade, (iv) monitoramento, avaliação, prevenção e mitigação de impactos
sobre a biodiversidade e (v) acesso aos recursos genéticos e aos conhecimentos
tradicionais associados e repartição de benefícios.
Com a assinatura de um acordo de doação entre o governo brasileiro e o BIRD,
com vigência até dezembro de 2005, foi possível o repasse de verbas para a execução
do Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica
Brasileira – PROBIO. Tal projeto é coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente em
parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico –
CNPq, o qual como gestor administrativo contrata os subprojetos e libera recursos.
O PROBIO, que tem por objetivo identificar ações prioritárias, através do
estímulo de subprojetos que promovam parcerias entre os setores público e privado,
gerando e divulgando informações e conhecimentos sobre o tema, é o mecanismo de
auxílio técnico e financeiro na implementação do PRONABIO.
A Secretaria de Biodiversidade e Florestas, uma das cinco secretarias do
Ministério do Meio Ambiente, procura atuar de forma temática, ou seja, focando suas

6
ações nos grandes temas que, juntos, compõem o que poderia ser entendido como
conservação da biodiversidade. Desta forma, atualiza listas de espécies silvestres
ameaçadas de extinção e estabelece regras para seu manejo assim como de espécies
exóticas invasoras e polinizadores, elabora diagnósticos e indicadores sensíveis de
mudanças climáticas, fomenta o conhecimento de plantas medicinais e aquelas
conhecidas como do futuro.
Através de sua Diretoria do Programa Nacional de Áreas Protegidas, procura
atuar também de forma temática, e hoje há um grande esforço no sentido da
elaboração de um Plano Nacional de Áreas Protegidas, o qual abarcaria questões
como unidades de conservação, terras indígenas, áreas quilombolas, áreas de
preservação permanente e reservas legais.
Por outro lado, através da sua Diretoria de Conservação da Biodiversidade, a
Secretaria procura atuar nos diversos biomas brasileiros, identificando e avaliando as
áreas e ações prioritárias para conservação e utilização sustentável de seus recursos.
Ainda no âmbito dos biomas, realizou workshops, com a participação do setor
acadêmico, setor empresarial, ONGs ambientalistas e movimentos sociais.
Graças a essas ações conduzidas pela Diretoria de Conservação da
Biodiversidade, foi publicado um mapa das áreas prioritárias para atuação do
Ministério e suas autarquias vinculadas, todas essas ações visando à conservação da
biodiversidade.
Por fim, deve-se salientar que o Decreto nº 4.703, de 21 de maio de 2003,
modificou a estrutura do PRONABIO, ampliando seu escopo, suas atribuições e a
representação de sua Comissão Coordenadora, que passou a ser denominada
Comissão Nacional da Biodiversidade.
Uma das principais mudanças que o novo decreto trouxe foi à inclusão, na
Comissão Nacional da Biodiversidade, de representações dos povos indígenas, da
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Associação Brasileira
das Entidades Estaduais de Meio Ambiente (ABEMA).
Todas as ações do PRONABIO devem ser aprovadas pela Comissão Nacional
de Biodiversidade – CONABIO, segundo o artigo o artigo 6º, do Decreto nº 4.703/2003.
Compete a esta Comissão promover a implementação dos compromissos assumidos
pelo Brasil junto à CDB, bem como identificar e propor áreas e ações prioritárias para
a conservação e uso sustentável dos componentes da biodiversidade.

7
3 PROTEÇÃO JURÍDICA DO MEIO AMBIENTE

O meio ambiente, direta ou indiretamente, vem sendo tutelado no Brasil desde


as Ordenações Afonsinas, com uma intensa produção legislativa nesta área na
década de sessenta1.
No ano de 1981, entrou em vigor a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente2,
importante marco na história da proteção ambiental brasileira, a partir do qual o meio
ambiente passa a ser protegido de maneira integral, vale dizer, como sistema
ecológico integrado (resguardam-se as partes a partir do todo), com autonomia
valorativa (é, em si mesmo, bem jurídico) e com garantias de implementação
(facilitação do acesso à Justiça). Antes disso, a tutela era dispersa (assegurava-se o
todo a partir das partes).
Afastando-se da metodologia de seus antecessores legislativos, a Lei n.
6.938/81 não só estabeleceu os princípios, objetivos e instrumentos da Política
nacional do Meio Ambiente, como ainda incorporou, de vez, no ordenamento jurídico
brasileiro o Estudo de Impacto Ambiental, instituindo, ademais, um regime de
responsabilidade civil objetiva para o dano ambiental, sem falar que lhe coube conferir
ao Ministério Público, pela primeira vez, legitimação para agir nessa matéria.
Com idêntica filiação holística, é aprovada, em 1998, a Lei dos Crimes contra o
Meio Ambiente (Lei 9.605/98), concluindo o círculo da regulação legal (que agora é
administrativa, civil e penal).
Somente na década de 70 é que os sistemas constitucionais começaram a
reconhecer o ambiente como valor a merecer tutela especial. Foi assim com as novas
constituições dos países que saiam de um regime ditatorial, como, numa primeira leva,
Grécia, Portugal e Espanha, e posteriormente, numa segunda onda, Brasil.
Ainda hoje, importantes sistemas jurídicos, aí se incluindo os Estados Unidos,
protegem o meio ambiente sem contar com apoio expresso ou direto na Constituição.
A despeito disso, razões várias (como a equiparação com os demais direitos
fundamentais e o reforço da obrigação jurídica de os poderes públicos respeitarem o
meio ambiente) recomendam a constitucionalização do ambiente, podendo ser essa

1 Entre tais documentos legais, pode-se citar o Código Florestal de 1965, os Códigos de Caça, Pesca
e Mineração, surgidos em 1967, mesmo ano da Lei 5.318 (Política Nacional de Saneamento).
2 Lei n. 6.938/81.

8
considerada uma tendência mundial, o que certamente foi percebido ao constituinte
brasileiro de 1988.
A análise do constitucionalismo brasileiro indica que foi somente no texto de
1988 que se estabeleceu, de maneira específica e geral, a proteção ao meio ambiente.
De fato, se, por um lado, normas de viés ambiental não são novidades em nossas
constituições, por outro, nenhum outro texto constitucional havia antes demonstrado
de forma tão clara a importância da defesa do meio ambiente para nossa sociedade.
A Constituição Federal de 1988 foi a primeira a trazer todo um capítulo dedicado
ao meio ambiente, complementado por outros dispositivos esparsos que, de forma
direta ou indireta, cuidam também da matéria.
A norma básica, de caráter fundamental, está posta no caput do art. 225:
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações”.
Esse direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado tem como titulares,
diz a norma, todos, vocábulo que, por não estar, de forma clara, qualificado
homocentricamente, pode referir-se tanto a todos os seres humanos como, numa
perspectiva mais biocêntrica (e moderna), a todos os seres vivos.
Da norma constitucional retira-se que são destinatários dos deveres associados
a esse direito tanto o Poder Público, o Estado, como ainda a coletividade, ou seja,
cada um dos seres humanos, individual e socialmente considerados.
Preocupada em assegurar a efetividade desse direito, ao mesmo tempo em
que impôs a todos sanções e a obrigação de reparar os danos causados 3 , a
Constituição cominou deveres específicos ao Poder Público: a) preservar e restaurar
os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e
ecossistemas; b) preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do
País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material
genético; c) definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão
permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; d) exigir, na forma da lei, para

3 CF, art. 225, § 2º.

9
instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação
do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; e)
controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e
substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
f) promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização
pública para a preservação do meio ambiente; g) proteger a fauna e a flora, vedadas,
na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem
a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.4
No plano constitucional, o dever do Poder Público de proteger o meio ambiente
também é extraído das normas que definem as competências administrativas e
legislativas das entidades políticas.
A Constituição não deixa dúvida ao dispor que podem legislar, em matéria de
proteção do meio ambiente, a União, os Estados e o Distrito Federal. Esses entes
políticos têm competência legislativa concorrente sobre “florestas, caça, pesca, fauna,
conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio
ambiente e controle da poluição”5, bem como sobre “responsabilidade por dano ao
meio ambiente”6.
Os municípios, a seu turno, receberam autorização constitucional para “legislar
sobre assuntos de interesse local”7 e “suplementar a legislação federal e a estadual
no que couber”8. Em outras palavras, detêm o poder de legislar em matéria ambiental,
desde que se trate de matéria de caráter local ou, então, para complementar as
normas jurídicas promulgadas pela União e estados.
No que tange à competência administrativa (competência de implementação),
território do poder de polícia, a Constituição atribuiu, de forma comum, à União,
Estados, Distrito Federal e Municípios o poder-dever de “proteger o meio ambiente e
combater a poluição em qualquer de suas formas” 9 e preservar as florestas, a fauna
e a flora”10.

4 CF, art, 225, § 1º.


5 CF, art. 24, inciso VI.
6 CF, art. 24, inciso VIII.
7 CF, art. 30, inciso I.
8 CF, art. 30, inciso II.
9 CF, art. 23, inciso VI.
10 CF, art. 23, inciso VII.

10
Após a constitucionalização do Direito Ambiental e do reconhecimento do meio
ambiente ecologicamente equilibrado como um direito fundamental 11 , de terceira
dimensão, transindividual, busca-se agora a realização da tarefa mais árdua,
consistente na concretização das normas protetivas do meio ambiente.

4 POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS

No tópico anterior apresentou-se uma rápida visão da constitucionalização da


proteção ambiental e dos deveres instituídos ao Poder Público para a efetivação
dessa proteção.
O adimplemento desse encargo, que é irrenunciável, representa a garantia de
que não se instaurarão, no seio da coletividade, os graves conflitos intergeneracionais
marcados pelo desrespeito ao dever de solidariedade, que a todos se impõe, na
proteção desse bem essencial de uso comum das pessoas em geral.
Compete, pois, ao Poder Público, concretizar os comandos gerais contidos na
ordem jurídica e, para isso, cabe-lhe implementar ações, programas e políticas dos
mais diferentes tipos. No ponto, escreve Eros Grau: “(...) assim, o government by
policies substitui o government by law”.12
Essas políticas, denominadas políticas públicas, são conceituadas por Oswaldo
Canela Junior como “o conjunto de atividades do Estado tendentes a seus fins, de
acordo com metas a serem atingidas”.13
Na visão dos autores franceses Y. Mény e J. C. Thoenig, “uma política pública
se apresenta sob a forma de um programa de ação governamental num setor da
sociedade ou num espaço geográfico”.14
É justamente por meio das políticas públicas que o Estado poderá, de forma
sistemática e abrangente, realizar os objetivos fundamentais previstos no artigo 3º da
Constituição Federal15, aos quais se acresce o princípio da prevalência dos direitos

11 Nesse sentido, o reconhecimento do STF, no julgamento da ADI/MC 3.540, em 01.09.2005, Rel.


Min. Celso de Mello.
12 Graus, Eros Roberto. A Ordem Econômica na Constituição de 1988 (interpretação e crítica). São

Paulo: RT, 1990, p. 17.


13 Canela Junior, Oswaldo. Controle judicial de políticas públicas. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 88-89.
14 Y. Mény e J. C. Thoenig, Politiques publiques, Paris: PUF, 1989.
15 Art. 3º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma

sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a
marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

11
humanos (art. 4º, II, da CF), sobretudo no que diz respeito à concretização dos direitos
fundamentais que dependam de ações para sua promoção, caso do direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado.
Impende asseverar que a implementação das políticas públicas ambientais
deve se dar da forma mais ampla possível, uma vez que a ela estão
constitucionalmente vinculados todos os órgãos do Estado, inclusive o Judiciário. De
fato, considerando que toda atividade política exercida pelos Poderes Executivo e
Legislativo deve se compatibilizar com a Constituição, caberá ao Poder Judiciário
analisar, em qualquer situação e desde que provocado, se os atos de governo
guardam conformidade com os comandos constitucionais de gestão ambiental.
Desse teor o magistério de Clarissa Ferreira Macedo D’Isep:

“(...) É do Poder executivo que se extrairá a ideia de políticas públicas


ambientais como toda iniciativa pública organizada, dotada de planos, metas
e instrumentos próprios para gerir o meio ambiente (...) do Poder Legislativo
advém a instrumentalidade normativa, pois é do poder normativo que se
extrai o caráter impositivo das leis e dos princípios, efeitos da
constitucionalização da matéria ambiental que conduz à jurisdicionalização
das políticas públicas ambientais, o que resulta no dirigismo ambiental legal-
normativo. Ao Poder Judiciário coube o poder-dever de controle, o que pode
ser dar tanto no âmbito preventivo como no repressivo. É o que denominamos
dirigismo ambiental judicial.”16

Tem-se, assim, uma dupla face de concretização do direito ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado: via formulação e implementação (legislativa e
administrativa) de políticas públicas e via judicial.
A seguir, serão examinados a base normativa, os desafios institucionais e os
principais instrumentos (extrajudiciais e judiciais) para a atuação do Ministério Público
na implementação das políticas públicas ambientais.

16D’ISEP, Clarissa Ferreira Macedo. NERY JÚNIOR, Nelson e MEDAUAR, Odete. Políticas Públicas
Ambientais: estudos em homenagem ao Professor Michel Prieur. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2009, p. 163.

12
5 PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA TEMÁTICA AMBIENTAL

5.1 Base normativa

O Ministério Público brasileiro desempenha um papel central na proteção do


meio ambiente, diferentemente de seus similares europeus17, atuando em todas as
formas de implementação: na preventiva e administrativa – ao instaurar inquérito civil
preventivo, expedir recomendações ou firmar termos de ajustamento de conduta -, na
judicial, reparatória ou repressiva – ao propor ação civil pública ou ação penal.
Pelo menos em tese, o Ministério público já exercia, já de muito tempo, a
persecutio criminis em matéria de criminalidade ambiental, seja no Código Penal ou
na Lei das Contravenções Penais.
No início da década de 1980, quando a doutrina nacional reverberava os
avanços científicos internacionais relacionados aos direitos difusos e coletivos, coube
à Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981)
ampliar os horizontes implementadores da instituição, legitimando o Ministério Público
a ajuizar ação de responsabilidade civil por danos causados ao meio ambiente, ou
seja, a defender, num único processo, direito que diz respeito a toda a coletividade18.
Foi o surgimento da ação civil pública.
É verdade que algumas poucas ações civis públicas de caráter ambiental foram
ajuizadas pelo Ministério Público, com base nessa legislação. Como bem observa
Hugo Mazzilli, “foi somente depois, com o advento da Lei 7.347/85, que o Ministério
Público começou efetivamente a trabalhar de forma mais intensa na área ambiental” 19.
Essa mudança na forma de atuação do Ministério Público tem uma explicação
muito simples: a Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347, de 24 de julho de 1985), para
além de lhe conferir legitimidade para o ajuizamento de ações civis públicas em
matéria ambiental, confiou-lhe um poderoso instrumento investigatório de natureza
inquisitiva, a saber, o inquérito civil20.

17 Impende destacar que os Ministérios Públicos da Europa, embora tardiamente, começam a despertar
para a questão ambiental. A título de exemplo, vale citar o esforço que vem sendo feito pelo Ministério
Púnlico português, estimulado, no plano da formação, pelo CEJ – Centro de Estudos Judiciários.
18 Lei 6.938/91. Art. 14, § 1º. (...) “O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para

propor ação de responsabilidade civil e criminal por danos causados ao meio ambiente”.
19 MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2006,

p. 145.
20 Art. 8º, § 1º.

13
A Constituição de 1988, além de dar sede constitucional à legitimatio
ministerial, a ampliou, fazendo-a valer igualmente para outros interesses
transindividuais. Nos termos do art. 129, III, da CF/88, entre as funções do Ministério
Público está “promover o inquérito civil público e a ação civil pública, para a proteção
do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e
coletivos”.
Finalmente, a Lei 8.078/990 (Código de Defesa do Consumidor), no plano
processual, estendeu a outros interesses difusos e coletivos (aí se incluindo a matéria
ambiental) o regramento conferido aos interesses ou direitos dos consumidores; além
disso, alargou o campo de aplicação da class action brasileira ou, na sua
nomenclatura, “ação coletiva para a defesa de interesses individuais homogêneos” 21,
permitindo sua utilização também para a proteção do meio ambiente, e introduziu mais
um instrumento de proteção dos direitos transindividuais: o compromisso de
ajustamento de conduta.
Embora a atuação do Ministério Público na proteção ambiental seja
relativamente recente, é inegável o muito que já se fez, merecendo o modelo brasileiro
o respeito interno e aplausos internacionais. Em interessante estudo, Sylvia Cappelli
informa que o Ministério Público é responsável pelo ajuizamento de mais de 90% das
ações civis públicas na defesa do meio ambiente22.
Mas é preciso avançar, principalmente na formulação e implementação das
políticas públicas ambientais, campo em que a atuação ministerial pode ser decisiva
para a concretização do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

5.2 Necessidade de aprimoramento da atuação institucional

Conforme visto, para o Estado atingir seus objetivos constitucionais, entre os


quais a proteção ambiental, faz-se necessária a realização de metas, ou programas,
que implicam o estabelecimento de funções específicas aos Poderes Públicos: o que
se convencionou denominar “políticas públicas ambientais”.
Quanto ao Ministério Público, somente influenciará positivamente na
formulação e implementação dessas políticas se otimizar sua forma de atuação,

21
Arts. 91 a 100.
22
Ação civil pública ambiental: a experiência brasileira, análise da jurisprudência. Revista de Direito
Ambiental, ano 9, n. 33, São Paulo: RT, jan,-mar.2004, p. 175.

14
mediante a identificação dos principais problemas, definição de metas, estratégias e
sistemas de gerenciamento em matéria de implementação ambiental.
Para realizar tal missão, algumas questões precisam ser enfrentadas, todas de
interesse imediato à realização daquilo que Antônio Herman V. Benjamin denominou
“Projeto de Implementação Ambiental do Ministério Público”23:
a) a questão da vontade política: trata-se de algo diferente da vontade
determinada pela lei. Algo exógeno e não endógeno; algo ainda artificial e visto com
curiosidade, na melhor das espécies, e com animosidade ou desconfiança, às vezes;
b) a questão da especialização: se é para seriamente proteger o meio
ambiente, impende, em primeiro lugar, que os Promotores de Justiça e Procuradores
da República com atribuições nessa matéria tenham um mínimo de especialização.
Um Promotor de Justiça ou Procurador da República que acumula atribuições
variadas e muitas vezes díspares, mesmo quando desafiado por graves problemas
ambientais, não terá condições de dispensar-lhes a atenção merecida, seja no que se
refere à preparação do caso, seja no decorrer do processo. A máxima popular alerta
que “um homem de sete ofícios é um homem sem ofício”. Por outro lado, na proteção
do ambiente – lógica essa aplicável também a outros interesses supraindividuais,
como consumidor, improbidade administrativa etc. – a eficiência recomenda que tais
atribuições sejam delimitadas não pelo enfoque da atividade implementadora em si
considerada (civil ou criminal), mas pelo bem ou sujeito protegido (meio ambiente,
consumidor, patrimônio Público etc.);24
c) a questão da independência: a proteção do meio ambiente, pelos interesses
econômicos e políticos que movimenta, exige segurança funcional e esta, por sua vez,
requer a previsão de cargo fixo para o titular do dever-poder de implementação;

23 Manual Prático da Promotoria de Justiça de Meio Ambiente. São Paulo: Imprensa Oficial do estado
de São Paulo: Ministério Público do Estado de São Paulo, 2005, p. 88-93.
24 Alguns Estados da Federação implementaram Promotorias Temáticas, em razão de determinado

ecossistema ou unidade de conservação, alcançando a uma Promotoria atribuição para atuar na área
correspondente ao bem protegido. Outros, ainda, criaram Promotorias Regionais, onde o Promotor
especializado amplia sua atribuição para atender as cidades de determinada região que, por suas
peculiaridades, indicam a necessidade de concentração da atribuição em uma Promotoria, trazendo
maior efetividade em razão da especialização do órgão ministerial. Outra experiência interessante é a
das Promotorias Volantes, que se deslocam para determinada região considerada prioritária, por
determinada época do ano ou com algum ecossistema importante para atender a demanda específica.
Normalmente são realizadas inspeções, audiências e compromissos de ajustamento, num esforço de
atuação periódico e determinado no tempo. Por fim, os núcleos de atuação regionalizada, instituídos a
partir das Bacias Hidrográficas (caso do GAEMA no Estado de São Paulo).

15
d) a questão da formação: os Promotores de Justiça e Procuradores da
república precisam ser submetidos a rigoroso e contínuo treinamento ( = formação ou
educação dirigida), tanto em questões jurídicas ambientais, como também mas
disciplinas que cuidam, sob os mais variados enfoques, do tema;
e) a questão das prioridades: violações há aos milhares, a cada minuto e a cada
quilômetro, e os recursos do Ministério Público são finitos. Logo, prioridades e
programas, por meio de um planejamento estratégico, precisam ser, inadiavelmente,
traçados para que se consiga de cada centavo investido o máximo de eficiência;
f) a questão do aparelhamento: a problemática ambiental é muito complexa,
demandando, de conseguinte, a concessão de recursos materiais e técnicos mínimos
para que o Promotor de Justiça e o Procurador da República possam identificar,
analisar e entender as situações com que se defronta. Elementar a esse
aparelhamento é a constituição de um corpo pericial básico, suficiente para dar os
primeiros elementos de convicção ao Ministério Público, inclusive facilitando a
identificação de outros especialistas disponíveis nos mais variados órgãos e
instituições, uma vez delimitado o problema ambiental em questão; e
g) a questão do acompanhamento e dos indicadores de implementação: o
órgão de execução do Ministério, em face das características peculiares da
problemática ambiental, necessita continuamente de um quadro atualizado e geral de
seu objeto de trabalho e dos resultados concretos de sua atuação.
Penso que todas as questões levantadas pelo eminente Ministro do Superior
Tribunal de Justiça, Antônio Herman Benjamin, constituem um necessário ponto de
partida para uma atuação mais eficaz do Ministério Público na implementação das
políticas públicas.
Diz-se ponto de partida porque o Ministério Público, antes de se tornar um
importante agente nesse cenário, precisa aperfeiçoar e implementar a sua própria
política de atuação, cuja legitimidade será proporcional ao grau de participação dos
membros da instituição, da sociedade organizada e da comunidade científica na
discussão e elaboração desse plano de ação.
Por certo que a implementação de um plano de atuação ministerial na
implementação das políticas públicas dependerá de um aperfeiçoamento da própria
administração institucional, com maior enfoque no planejamento e no controle dos
resultados. Aquilo que se convencionou denominar modelo gerencial de
administração pública, no qual o administrador deve deixar de lado a obsessão pelo

16
seguimento de normativas formais e migrar a atenção na direção da sua verdadeira
missão, é dizer, deve substituir o foco no controle de inputs para o controle
de outputs e impactos de suas ações, e para isso adotar a administração por
objetivos25.
Bem cuidadas essas questões, será perfeitamente possível construir um
diagnóstico preciso dos principais problemas a serem enfrentados na temática
ambiental, a partir do qual serão definidas as prioridades da atuação institucional, bem
como o planejamento estratégico, sem prejuízo de um monitoramento constante dos
resultados concretos dessa atuação26.
Nesse cenário, o Ministério Público terá plenas condições de influenciar
positivamente na formulação e implementação das políticas públicas ambientais, quer
seja administrativamente (preferencialmente), quer seja judicialmente (quando
inevitável), o que representará, na prática, um grande salto de qualidade no
desempenho institucional nessa temática.

5.3 Instrumentos extrajudiciais para a atuação do Ministério Público na


implementação de políticas públicas

O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional


do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos
interesses sociais e individuais indisponíveis (CF, art. 127, caput).
Para o fiel desempenho de sua missão constitucional, não basta ao Ministério
Público agir para corrigir atos comissivos da Administração que porventura
desrespeitem os direitos constitucionais do cidadão; é igualmente necessário agir para
corrigir os atos omissivos, ou seja, para a implantação efetiva de políticas publicadas
visando a efetividade da ordem social prevista na Constituição Federal de 1988.

25 OSBORNE, David; GAEBLER, Ted. Reinventing government: how the entrepreneurial spirit is
transforming the public sector. Reading, MA: Addison-Wesley, 1992. Originalmente, as ideias do
modelo gerencial se desenvolveram com maior intensidade nos Estados Unidos, quando a abordagem
de Osborne e Gaebler foi utilizada no programa de governo do partido democrático nas eleições
presidenciais de 1992, e posteriormente usada como base para o Government performance results
act de 1993 e o programa nacional de desempenho da administração pública (national performance
review) durante a administração Clinton-Gore.
26 Uma experiência positiva nesse sentido foi a criação do “Núcleo de Políticas Públicas” no Ministério

Público do Estado de São Paulo, que tem por objetivo definir um plano de ação focado justamente na
atuação ministerial na implementação de políticas públicas.

17
Nesse sentir, o Ministério Público conta com importantes instrumentos
extrajudiciais e judiciais, que podem e devem ser empregados para o controle da
omissão administrativa na implementação de políticas públicas ambientais.
A experiência mostra que a solução extrajudicial dos problemas ambientais,
notadamente em matéria de implementação de políticas públicas, tem se revelado
mais eficaz que a via judicial.
De fato, além dos já conhecidos problemas do Poder Judiciário - morosidade
no julgamento das demandas, falta de sensibilidade no enfrentamento da temática
ambiental, incipicente especialização e inconvenientes na produção da prova pericial
- outros fatores explicam a vantagem de se buscar uma solução extrajudicial para a
omissão estatal, relegando a judicialização das questões ambientais a segundo plano
(na hipótese de insucesso extrajudicial).
Os instrumentos administrativos conferidos ao Ministério Público permitem que
a instituição promova uma ampla negociação com a Administração e com os entes
privados responsáveis pela implementação de políticas públicas. Esse espaço de
negociação é importante por vários motivos:
(i) possibilita que se considerem todas as condicionantes que envolvem a
questão posta (ex: técnicas, temporais, orçamentárias), o que aumenta a eficácia da
implementação das decisões adotadas;
(ii) permite que sejam acordadas mudanças em procedimentos da
administração que não são necessariamente ilegais, mas se mostram ineficazes para
a proteção ambiental;
(iii) a solução só é adotada, no mais das vezes, após várias reuniões com
órgãos públicos, comunidade científica e sociedade organizada, propiciando a adoção
de decisões consensuais e, por conseguinte, com maior legitimidade.
Exclusividade ministerial, o procedimento investigativo denominado Inquérito
Civil permite ao Promotor de Justiça ou Procurador da República que o preside a
formação de sua convicção sobre os fatos trazidos a seu conhecimento, apontados
como violadores de interesses e direitos transindividuais.
Quando se pensa no objeto do inquérito civil, logo vem à mente a ideia de que
ele visa a instruir a inicial da futura ação civil pública. Na verdade, essa é uma visão
reducionista. Os fins do inquérito civil não se restringem ao aparelhamento de uma
possível ação coletiva. Ele visa, na verdade, a fornecer ao Ministério Público subsídios
para que possa formar seu convencimento sobre os fatos, e, sendo necessário,

18
identificar e empregar os melhores meios, sejam eles judiciais ou extrajudiciais, para
a defesa dos interesses metaindividuais em questão.
Muitas vezes, será mais vantajosa ao interesse metaindividual, em vez de
partir-se para o confronto judicial, a via da composição amigável, por meio do
compromisso de ajustamento de conduta. Seja como for, na maioria das vezes,
ainda que o caso se resolva mediante esse compromisso, o melhor instrumento para
prepará-lo será o inquérito civil, pois, por meio dele é que a instituição conseguirá
identificar todas as medidas necessárias à reparação do dano ou ao afastamento do
perigo, a serem incluídas como cláusulas do compromisso.
Quando se pensa em políticas públicas ambientais, o compromisso de
ajustamento de conduta, sem dúvida, é um importante instrumento de atuação
extrajudicial do Ministério Público. Revestindo-se de natureza de título executivo, na
forma do parágrafo 6º do artigo 5º da Lei da Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85),
introduzido pelo Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90), constitui
ferramenta eficiente para a tutela dos interesses e direitos metaindividuais.
No âmbito das políticas públicas, o Ministério Público poderá firmar
compromissos de ajustamento com os entes responsáveis pelas ações materiais que
garantam à coletividade a fruição dos direitos assegurados na Constituição de 1988.
Om isso, fomenta a Instituição ministerial a definição de políticas locais para o trato
da questão ambiental, obrigando o Poder Público, mediante compromisso de
ajustamento de sua conduta, à adoção das providências necessárias e adequadas ao
atingimento das finalidades do Estado Social de Direito.
No curso do inquérito civil, seu presidente pode reunir elementos de convicção
para concluir ser conveniente, antes de outras medidas adicionais, o encaminhamento
de uma recomendação ao investigado, exortando-o a, por exemplo, cessar a ameaça
ou a atitude ofensiva ao interesse atacado.
O envio de recomendações a órgãos públicos e entidades prestadoras de
serviços públicos é deferido aos Ministérios Públicos Estaduais na LONMP, e o
emitente da recomendação deve requisitar ao seu destinatário a sua divulgação
imediata e adequada, bem como lhe responder por escrito.27 Para o MPU, a previsão
é mais ampla, aventando o art. 6.º, XX, da LOMPU a possibilidade de expedi-las
visando não apenas à melhoria dos serviços públicos e de relevância pública, como

27
LONMP, art. 27, parágrafo único, IV.

19
também ao respeito aos interesses, direitos e bens cuja defesa lhe cabe promover, e
a fixação de prazo razoável para a adoção das providências cabíveis.
Pode o Ministério Público, pois, estimular a implementação de políticas públicas
ambientais também através do importante instrumento da recomendação, de notável
caráter moral e político, além de eficácia comprovada no plano fático 28. No ponto,
escreve Luiza Cristina Fonseca Frischeisen29:

“(...) será mais eficiente, na exata proporção que o Administrador entenda o


Ministério Público como um agente que também tem como atribuição
constitucional a construção de mecanismos eficazes para o efetivo exercício
dos direitos da ordem social constitucional. Nesse sentido, o Ministério
Público estará mais uma vez atuando como um canal de mediação de
demandas coletivas existentes na sociedade, criando mais um canal de
comunicação entre a comunidade e a Administração”.

Deve-se frisar, contudo, que a recomendação é um meio acessório de tutela


dos interesses difusos e coletivos, não podendo ser utilizada como medida substitutiva
ao compromisso de ajustamento de conduta ou à ação civil pública.30
A previsão tópica das situações em que se mostra cabível – e exigível – não
afasta a possibilidade de realização de audiências públicas em hipóteses diversas
das contempladas na legislação ambiental31. Como bem observa Ximena Cardozo
Ferreira, as audiências públicas “podem ser convocadas pelo Ministério Público
sempre que o problema enfrentado as torne convenientes para a conciliação dos
interesses em conflito”32.
Na prática, as audiências públicas são verdadeiros instrumentos do exercício
da democracia, induzindo à cidadania participativa que conduzirá o alcance das
finalidades do interesse público, mediante a adoção de medidas com alto grau de
legitimidade.
Assim, através dos instrumentos administrativos do Inquérito Civil, das
Recomendações, do Compromisso de Ajustamento de Conduta, das Audiências

28 Como ocorreu no Estado de São Paulo com a formulação da política pública de pesca no reservatório
da Usina Hidrelétrica Sérgio Motta, no rio Paraná, recomendando o Ministério Público ao Ibama que
procedesse à alteração da Portaria nº 21/93, e tem ocorrido com a expedição de recomendações aos
municípios do mesmo Estado para criação dos Conselhos e Fundos Municipais de Assistência Social.
29 FRISCHEISEN, Luiza Cristina Fonseca. Políticas públicas: a responsabilidade do administrador e o

Ministério Público. São Paulo: Max Limonad, 2000, p. 140.


30
Res. CNMP 23/2007, art. 15, parágrafo único.
31 Como nos casos de EIA/RIMA, na CTNBio e no procedimento do orçamento participativo, a título

ilustrativo.
32 FERREIRA, XIMENA CARDOZO. A atuação do Ministério Público na implementação de Políticas

Públicas da área ambiental. Extraído do site www.mp.rs.gov.br, data de acesso: 19/09/2012

20
Públicas, que surgem como alternativas à jurisdição, pode o Ministério Público atingir
com maior eficiência seus objetivos constitucionais, inclusive no que diz respeito ao
controle das políticas públicas ambientais.

5.4 Necessidade do Controle Jurisdicional

Fundamento constitucional

Conforme visto, a implementação de determinados fundamentais, muitas


vezes, depende de que o Estado cumpra obrigações de fazer impostas a ele pela
Constituição ou pelas leis, normalmente afetas à área de alguma política pública (de
educação, de saúde, de saneamento básico, ambiental etc.).
A resistência do Poder Público em concretizar esses interesses leva, com
frequência, ao ajuizamento de ações civis públicas, em que sobressai o conflito entre
dois pilares do Estado Democrático de Direito: o princípio da independência dos
Poderes e a garantia do acesso à Justiça.
Em tais ações, o autor, de seu lado, invoca a necessidade de obrigar a
Administração a adimplir seus deveres constitucionais e legais, a fim de que o
administrado não seja lesado nos correspondentes direitos à saúde, à educação, à
segurança, ao meio ambiente equilibrado etc.
Quando o direito é expressamente previsto na Constituição ou na lei, não há
que se falar em norma simplesmente programática, em simples diretriz para política
pública. Onde há direito subjetivo do cidadão não há discricionariedade do Estado, de
modo que a atuação do Judiciário para determinar sua implementação não é
ingerência indevida no Executivo, mas sim uma garantia constitucional (CF, art. 5.º,
XXXV).
Nesse sentido, o escólio de Oswaldo Canela Junior33:

“(...) Política estatal – ou políticas públicas - entende-se o conjunto de


atividades do Estado tendentes a seus fins, de acordo com metas a serem
atingidas. Trata-se de um conjunto de normas (Poder Legislativo), atos
(Poder Executivo) e decisões (Poder Judiciário) que visam à realização dos
fins primordiais do Estado. (...) Como toda atividade política (políticas
públicas) exercida pelo Legislativo e pelo Executivo deve compatibilizar-se
com a Constituição, cabe ao Poder Judiciário analisar, em qualquer situação
e desde que provocado, o que se convencionou chamar de ‘atos de governo’

33CANELA JUNIOR, Oswaldo. Controle judicial de políticas públicas. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 88-
89.

21
ou ‘questões políticas’, sob o prisma do atendimento do Estado (art. 3º da
CF/1988).”

Esse controle não fere o princípio da separação dos Poderes, entendido como
vedação de interferência recíproca no exercício das funções do Estado. Mas os
Poderes, além de independentes, devem harmonizar-se para que os objetivos
fundamentais do Estado sejam alcançados. Por isso, ainda segundo Oswaldo Canela
Junior, “cabe ao Poder Judiciário investigar o fundamento de todos os atos estatais a
partir dos objetivos fundamentais inseridos na Constituição (art. 3º da CF brasileira)”.
Noutro giro, anote-se que a conveniência e a oportunidade do ato administrativo
encontram limites nos princípios da moralidade, da razoabilidade e da eficiência,
aferíveis pelo Judiciário. Ante a omissão da atuação do Executivo na formulação e
execução de políticas públicas, o Judiciário pode, excepcionalmente, determinar sua
realização, mormente se for imposta pela própria Constituição.
Como já dissemos em outra oportunidade, “nas ações civis públicas em que se
postula a condenação da Administração em obrigações de não fazer, esse embate é
menos tenso”34, pois não se lida com os óbices da falta de previsão orçamentária e
dos limites de gastos previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal. Esses entraves,
porém, estão presentes quando se busca condenar a Administração a uma obrigação
de fazer.
O fato é que, mesmo quando se busca impingir ao Poder Público o
cumprimento de uma obrigação de fazer, os tribunais de superposição (STF e STJ),
em diversas ações civis públicas, já reconheceram a possibilidade jurídica de pedidos
visando a compelir a Administração: a) a suprir a carência de professores em unidades
de ensino público (CF, arts. 205, 208, IV, e 211, § 2.º);35 b) a assegurar vagas em
creches e pré-escolas da rede pública para crianças até determinada idade (CF, art.
208, IV, e ECA, arts. 54, IV, e 208, III);36 c) a prestar assistência médica (consultas e
cirurgias) satisfatória e prioritária às crianças e aos adolescentes, com imposição de
cronograma para conferir celeridade aos atendimentos (CF, art. 227, caput, ECA, arts.

34 ANDRADE, Adriano. MASSON, Cleber. ANDRADE, Landolfo. Interesses difusos e coletivos


esquematizado. Método, 2011, p. 92.
35
STF, RE 594.018 Agr, 2.ª Turma, rel. Min. Eros Grau, DJe 07.08.2009.
36
STF: AI 664.053 AgR, 1.ª Turma, rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 03.03.2009, DJe 27.03.2009; RE
463.210 AgR/SP, 2.ª Turma, rel. Min. Carlos Velloso, j. 06.12.2005, DJ 03.02.2005; STJ: REsp
511.645/SP, 2.ª Turma, rel. Min. Herman Benjamin, j. 18.08.2009, DJe 27.08.2009; REsp 510.598/SP,
2.ª Turma, rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 17.04.2007, DJe 13.02.2008.

22
7.º e 11);37 d) a restabelecer a regularidade do serviço de coleta de lixo, por se tratar
de serviço público relevante, regido pelo princípio da continuidade, e por ser
imprescindível à garantia dos direitos à saúde e ao meio ambiente hígido; 38 e) a
realizar obras de recuperação do solo, imprescindíveis ao meio ambiente; 39 f)
Municipal a regularizar, às expensas do implantador, loteamentos clandestinos e
irregulares, para respeito dos padrões urbanísticos e o bem-estar da população (art.
40 da Lei 6.766/1979).40
Nesse passo, incumbe ao Poder Judiciário brasileiro, como consequência da
assunção de novas atribuições que lhe foram conferidas pela Constituição Federal de
1988, proceder ao controle das políticas públicas, com o exame de sua
implementação, adequação ou correção, na conformidade dos mandamentos
constitucionais.
Assim, constatada a omissão da Administração Pública em dar efetividade a
normas constitucionais ou infraconstitucionais instituidoras de direitos sociais
fundamentais – dentre os quais o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado
–, sujeitar-se-á o ente estatal aos sistemas de controle previstos na ordem jurídica
brasileira, notadamente o controle social exercido por intermédio do Ministério Público,
e também do Poder Judiciário, nos casos em que o conflito for judicializado.

A adequação da ação civil pública

A ação civil pública é, ao lado da ação popular e do mandado de segurança


coletivo, um dos mais úteis instrumentos de defesa de interesses metaindividuais.
O advento da Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347/1985) foi fruto de estudos e
debates envolvendo professores e profissionais do direito que, a partir de meados da
década de 1970, sob influência da doutrina italiana e das class actions dos países de
sistema jurídico common law, notaram a necessidade de desenvolver ferramentas
processuais mais adequadas para a solução dos conflitos de interesses
transindividuais.

37
STJ: REsp 577.836/SC, 1.ª Turma, rel. Min. Luiz Fux, j. 21.10.2004, DJ 28.02.2005.
38
STJ: REsp 575.998/MG, 1.ª Turma, rel. Min. Luiz Fux, j. 07.10.2004, DJ 16.11.2004.
39
STJ: REsp 429.570/GO, 2.ª Turma, rel. Eliana Calmon, j. 11.11.2003, DJ 22.03.2004.
40
STJ, REsp 448.216/SP, 1.ª Turma, rel. Min. Luiz Fux, j. 14.10.2003, DJ 17.11.2003.

23
Não é demais observar, porém, que, antes mesmo do advento dessa lei, o
Ministério Público já estava legitimado a ajuizar ações civis voltadas à reparação de
danos ao meio ambiente, com base no art. 14, § 1.º, da Lei da Política Nacional do
Meio Ambiente – LPNMA (Lei 6.938/1981).
Concebida no ordenamento jurídico nacional por meio dos diplomas legais
supracitados, foi alçada ao status de garantia constitucional fundamental pela Carta
da República de 1988, prevista no inciso III do artigo 129.
Reveste-se a ação civil pública de grande relevância no controle da omissão
administrativa na implementação de políticas públicas, porquanto a partir dela pode-
se compelir o ente estatal a atuar de forma a dar concretude aos direitos sociais
previstos na Constituição, em especial no que concerne à Ordem Socioambiental.
Sobre a adequação da ação civil pública para a implementação de políticas
públicas, confira-se o magistério de Hugo Nigro Mazzilli41:

“(...) A ação civil pública ainda se presta para que o Ministério Público possa
questionar políticas públicas, quando do zelo para que os Poderes Públicos
e os serviços de relevância pública observem os direitos assegurados na
Constituição. Com certeza não poderá o Ministério Público pedir ao Poder
Judiciário administre no lugar do administrador; contudo, poderá cobrar em
juízo a aplicação de princípios da Administração que possam estar sendo
descurados, e, com isso, restaurar a legalidade”.

Em suma, dada a natureza difusa do meio ambiente, revela-se adequado o


manejo da ação civil pública pelo Ministério Público, com vistas a afastar a omissão
estatal na implementação de políticas públicas indispensáveis à proteção desse direito
fundamental.

Alcance do Controle Jurisdicional: mínimo existencial e reserva do possível

A maior dificuldade do Judiciário, diante da existência de inúmeros direitos


fundamentais consagrados na Constituição, está em saber se cabe, em relação a
todos eles, o seu controle sob a ótica da constitucionalidade. Vale dizer, a grande
questão hoje consiste em definir o alcance desse controle jurisdicional das políticas
públicas.
Respeitados os entendimentos contrários, pensamos que todos os direitos
fundamentais, inclusive o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, têm

41 MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

24
aplicabilidade imediata e, por consectário lógico, podem ser tutelados judicialmente,
em caso de ausência ou inadequação das políticas públicas que comprometam sua
efetiva implementação. Nessa linha de pensamento, sustenta Dirley de Cunha
Junior42:

“(...) Todas as normas definidoras de direitos fundamentais, sem exceção,


têm aplicabilidade imediata, independentemente de concretização legislativa,
o que permite que o titular do direito desfrute da posição jurídica por ele
consagrada. Na hipótese de eventual omissão estatal, impeditiva de gozo
desses direitos, pode e deve o Judiciário, como Poder apto a proporcionar a
realização concreta dos comandos constitucionais quando provocado por
qualquer meio processual adequado, suprir aquela omissão, completando o
preceito consignador de direitos diante do caso concreto”.

Admitimos, outrossim, que o princípio da dignidade da pessoa humana é um


importante parâmetro para a definição do alcance do controle jurisdicional das
políticas públicas. Referido princípio tem um conteúdo básico, sem o qual se poderá
dizer que o indivíduo se encontra em situação de indignidade.
A esse conteúdo dá-se o nome de mínimo existencial, cuja inobservância
autoriza o controle da omissão dos Poderes Legislativo e Executivo pelo Poder
Judiciário, sem que se possa invocar, em defesa, a cláusula da reserva do possível.
O mínimo existencial é considerado um direito às condições mínimas de
existência humana digna, cuja implementação exige prestações positivas por parte do
Estado: “(...) A dignidade humana e as condições materiais de existência não podem
retroceder aquém de um mínimo, do qual nem os prisioneiros, os doentes mentais e
os indigentes podem ser privados43”.
Costuma-se incluir no mínimo existencial, entre outros, o direito à educação
fundamental, o direito à saúde básica, o saneamento básico, a assistência social, a
tutela do meio ambiente e o acesso à justiça, entre outros.44

42 CUNHA JUNIOR, Dirley. Controle judicial das omissões do poder público. 2 ed. São Paulo: Saraiva,
2008. P. 664.
43 TORRES, Ricardo Lobo. O mínimo existencial e os direitos fundamentais. Revista de direito da

Procuradoria Geral, Rio de janeiro, n. 42, p. 69/70, jul.-set5. 1990, p. 69/70).


44 OLSEN, Ana Carolina Lopes. Direitos fundamentais sociais: efetividade frente à reserva do possível.

Curitiba: Juruá, 2008, p. 318. Ainda: ROCHA JUNIOR, Paulo Sérgio Duarte da. Controle jurisdicional
de políticas públicas. 2009. Dissertação (mestrado) – USP, São Paulo. Orientador Rodolfo de Camargo
Mancuso, p. 21-24.

25
Assim, cumpre ao Poder Público assegurar, como tarefa prioritária, que a
defesa do meio ambiente também seja exercida num nível de proteção que garanta,
juntamente com os demais direitos sociais, um mínimo de existência ecológica. 45
A inclusão da proteção ambiental naquilo que se convencionou denominar
mínimo existencial está em consonância com a ideia de um constitucionalismo
fraternal.
Com efeito, analisada a evolução histórica do constitucionalismo, vislumbra-se
uma relação lógica entre constitucionalismo clássico- liberdade, constitucionalismo
social – igualdade e, finalmente, constitucionalismo contemporâneo - fraternidade.
Essa compreensão não significa que o constitucionalismo contemporâneo visa
suplantar a concretização dos valores liberdade e igualdade, mas expressa a
necessidade de, sem eliminar as conquistas do Estado Liberal e Social,
consubstanciar um Estado Fraternal. Sobre o tema, confira-se o brilhante
ensinamento de Carlos Ayres Britto:46

“(...) Efetivamente, se considerarmos a evolução histórica do


Constitucionalismo, podemos facilmente ajuizar que ele foi liberal,
inicialmente, e depois social. Chegando, nos dias presentes, à etapa fraternal
da sua existência. Desde que entendamos por Constitucionalismo Fraternal
esta fase em que as Constituições incorporam às franquias liberais e sociais
de cada povo soberano a dimensão da Fraternidade; isto é, a dimensão das
ações estatais afirmativas, que são atividades assecuratórias da abertura de
oportunidades para os segmentos sociais historicamente desfavorecidos,
como, por exemplo, os negros, os deficientes físicos e as mulheres (para
além, portanto, da mera proibição de preconceitos). De par com isso, o
constitucionalismo fraternal alcança a dimensão da luta pela afirmação
do valor do desenvolvimento, do meio ambiente ecologicamente
equilibrado, da democracia e até certos aspectos do urbanismo como
direitos fundamentais. Tudo na perspectiva de se fazer da interação
humana uma verdadeira comunidade; isto é, uma comunhão de vida, pela
consciência de que, estando todos em um mesmo barco, não têm como
escapar da mesma sorte ou destino histórico (grifou-se)”.

No constitucionalismo fraternal, o ser humano ocupa o centro do sistema


jurídico e as atividades dos poderes estatais devem ter em vista a garantia de sua
dignidade. É nesse contexto que se inserem as compreensões em torno do direito ao
mínimo existencial, bem como a necessidade de realização da justiça social e
distributiva, em que se lida com a distribuição de bens comuns para a coletividade.

45 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. O direito ao ambiente como direito subjetivo. Estudos sobre
direitos fundamentais. Coimbra: Coimbra Editora, 2004, p. 182.
46 BRITTO, Carlos Ayres. Teoria da Constituição. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 216.

10 TORRES, Ricardo Lobo. O direito ao mínimo existencial. Rio de Janeiro: Renovar, 2009, p. 8.

26
Pensando-se o ser humano como centro do Ordenamento Jurídico, a garantia
do mínimo existencial impõe a preservação do indivíduo, através de standards sociais
mínimos. Luís Roberto Barroso aponta que, no âmbito da dignidade da pessoa
humana, inclui-se a proteção do mínimo existencial, “locução que identifica o conjunto
de bens e utilidades básicas para a subsistência física e indispensável ao desfrute dos
direitos em geral” Abaixo do patamar mínimo, ainda que haja sobrevivência, não há
dignidade47.
Além disso, na conjuntura do constitucionalismo fraterno que marca o Estado
Social Democrático de Direito, deve-se relativizar a compreensão individualista dos
direitos fundamentais, relacionada à justiça comutativa, para incutir a dimensão da
solidariedade. Dito de outra forma, a visão utilitarista dos direitos fundamentais deve
ser afastada para alcançar a dimensão fraternal dos mesmos. Pensar em sentido
diverso pode dificultar a realização da justiça social, que indica, entre outros aspectos,
a necessidade de elaboração e de execução de políticas públicas voltadas à inclusão
social e à concretização de direitos fundamentais.
No ponto, cumpre destacar que o Supremo Tribunal Federal, em duas decisões
recentes, adotou expressamente a teoria do constitucionalismo fraternal. Uma delas
foi na discussão sobre a demarcação da terra indígena Raposa do Sol (Petição 3.388,
Relator Ministro Ayres Britto, DJ 19/03/2009); a outra, na discussão sobre a
constitucionalidade do uso de células-tronco embrionárias em pesquisas científicas
para fins terapêuticos (ADI 3510/DF, Relator Ministro Ayres Britto, DJ 29/05/2008).
Nessa ordem de ideias, é correto afirmar que o Ministério Público está
autorizado a ajuizar ações civis públicas sempre que constatar a inexistência ou
inadequação das políticas públicas ambientais. Nessas hipóteses, se o Poder
Judiciário entender que a omissão estatal compromete o conteúdo básico desse
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, não poderá ser invocada por
parte do Estado a cláusula da reserva do possível, sob pena de afronta ao Estado
Fraternal de Direito.
A jurisprudência do STF caminha precisamente no sentido da inadmissibilidade
da invocação da cláusula da reserva do possível nos processos em que esteja em
jogo o mínimo existencial (RE 482.611/SC, rel. Min. Celso de Mello).

47BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo. São Paulo: Saraiva,
2009, p. 253.

27
Na mesma direção evolui a jurisprudência do STJ, consoante se extrai do
acórdão do REsp 1.185.474/SC, relatado pelo eminente min. Humberto Martins.
Extrai-se da ementa desse julgado a seguinte afirmativa:

“(...) Aqueles direitos que estão intimamente ligados à dignidade humana não
podem ser limitados em razão da escassez quando esta é fruto das escolhas
do administrador. Não é por outra razão que a reserva do possível não é
oponível à realização do mínimo existencial”.

Nesse sentir, é correto afirmar que somente em relação aos direitos


fundamentais que não integram o chamado “mínimo existencial” é que o Poder Público
poderá alegar insuficiência de recursos e falta de previsão orçamentária para
implementação de políticas públicas.
Contudo, como bem observado por Ada Pelegrini Grinover 48 , “não será
suficiente a alegação de falta de recursos pelo Poder Público”. Esta deverá ser
provada, pela própria Administração, vigorando nesse campo quer a regra da inversão
do ônus da prova (art. 6º, VIII, do CDC), aplicável por analogia, quer a regra da
distribuição dinâmica do ônus da prova, que flexibiliza o art. 333 do CPC, para atribuir
a carga da prova à parte que estiver mais próxima dos fatos e tiver mais facilidade de
prová-los.
Mas não é só: uma vez provadas a insuficiência de recursos e a falta de
previsão orçamentária, o Poder Judiciário determinará ao Estado que faça constar da
próxima proposta orçamentária a verba necessária à implementação da política
pública.
Vale dizer: o acolhimento da alegação de falta de recursos não conduziria à
rejeição do pedido de tutela jurisdicional, e sim apenas o seu diferimento, disso
resultando a condenação da Administração a duas obrigações de fazer: (i) a de fazer
a inclusão no orçamento da verba necessária para o adimplemento da obrigação e (ii)
a obrigação de aplicar a verba para a implementação da política pública.
Concluindo, a invocação da “reserva do possível” – restrita aos direitos
fundamentais que não integram o núcleo básico da dignidade da pessoa humana -
pode levar o Judiciário à condenação da Administração a uma obrigação de fazer em
duas etapas: primeiro, a inclusão no orçamento da verba necessária à implementação

48GRINOVER, Ada Pellegrini. Controle jurisdicional de políticas públicas. Rio de Janeiro: Forense,
2011, p. 125-150.

28
da política pública; e, em seguida à inclusão, a obrigação de aplicar a verba para o
adimplemento da obrigação.

Os critérios da razoabilidade e proporcionalidade


Malgrado a importância da judicialização da política para resguardar direitos
fundamentais, o fenômeno precisa ser materializado com parâmetros de
racionalidade, para que não haja hipertrofia do Judiciário e desequilíbrio entre os
poderes.
Observa-se que, não obstante a difusão de procedimentos judiciais em campos
de deliberação política, ainda não existe um comportamento amplo do Judiciário no
sentido de concretizar, com razoabilidade, direitos fundamentais sociais, em
detrimento de determinadas políticas governamentais.
Em outros termos, não se tenciona um ativismo judicial indiscriminado, mas
uma atuação baseada, concomitantemente, na racionalidade das decisões judiciais –
com uma análise prévia e ponderada dos impactos de suas deliberações para a
sociedade – na afirmação de direitos fundamentais, na ampliação da cidadania e na
concretização do princípio da fraternidade.
O critério da razoabilidade deverá guiar as decisões do Judiciário nessa
temática. Em cada caso concreto, o juiz deverá analisar se a escolha do administrador
público respeitou os comandos constitucionais e legais, é dizer, se a medida adotada
pelo Poder Público é adequada à satisfação dos interesses maiores da coletividade.
Desse modo, a intervenção judicial nas políticas públicas só poderá ocorrer
quando restar demonstrada a irrazoabilidade do ato ou omissão do Poder Público,
devendo o juiz pautar sua análise em atenção ao princípio da proporcionalidade,
inclusive sob o viés da proibição da proteção deficiente.
Tem razão Alessandro Baratta quando esclarece que, no Estado Democrático
de Direito, está-se diante de uma política integral de proteção dos direitos.
Tal definição permite que se afirme que o dever de proteção estatal não
somente vale no sentido clássico (proteção negativa) como limite do sistema punitivo,
mas, também, no sentido de uma proteção positiva por parte do Estado.49
É ilusório pensar que a função do Direito (e, portanto, do Estado), nesta quadra
da história, esteja restrita à proteção contra abusos estatais. No mesmo sentido, o

49BARATA, Alessandro. La política Criminal y el Derecho Penal de la Constitución: Nuevas


Reflexiones.

29
dizer de João Baptista Machado, para quem o princípio do Estado de Direito, neste
momento histórico, não exige apenas a garantia da defesa de direitos e liberdades
contra o Estado: exige, também, a defesa dos mesmos contra quaisquer poderes
sociais de fato. Desse modo, ainda com o pensador português, é possível afirmar que
a ideia de Estado de Direito demite-se da sua função quando se abstém de recorrer
aos meios preventivos e repressivos que se mostrem indispensáveis à tutela da
segurança, dos direitos e liberdades dos cidadãos.50
Tem-se, assim, uma espécie de dupla face de proteção dos direitos
fundamentais: a proteção positiva e a proteção contra omissões estatais. Ou seja, a
inconstitucionalidade pode ser decorrente de excesso do Estado, como também por
deficiência na proteção.

6 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO EM RELAÇÃO AO MEIO AMBIENTE

Os avanços ocorridos na área ambiental quanto aos instrumentos técnicos,


políticos e legais, principais atributos para a construção da estrutura de uma política
de meio ambiente, são inegáveis e inquestionáveis. Nos últimos anos, saltos
quantitativos foram dados, em especial no que se refere à consolidação de práticas e
formulação de diretrizes que tratam a questão ambiental de forma sistêmica e
integrada.
Neste sentido, o desenvolvimento da tecnologia deverá ser orientado para
metas de equilíbrio com a natureza e de incremento da capacidade de inovação dos
países em desenvolvimento, e o programa será atendido como fruto de maior riqueza,
maior benefício social equitativo e equilíbrio ecológico. Meyer (2000) enfoca que, para
esta ótica, o conceito de desenvolvimento sustentável apresenta pontos básicos que
devem considerar, de maneira harmônica, o crescimento econômico, maior percepção
com os resultados sociais decorrentes e equilíbrio ecológico na utilização dos recursos
naturais.
Assume-se que as reservas naturais são finitas, e que as soluções ocorrem
através de tecnologias mais adequadas ao meio ambiente. Deve-se atender às
necessidades básicas usando o princípio da reciclagem. Parte-se do pressuposto de

50BAPTISTA MACHADO, João. Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador. Coimbra, Coimbra


Editora, 1998.

30
que haverá uma maior descentralização, que a pequena escala será prioritária, que
haverá uma maior participação dos segmentos sociais envolvidos, e que haverá
recalescência de estruturas democráticas. A forma de viabilizar com equilíbrio todas
essas características é o grande desafio a enfrentar nestes tempos.
Neste sentido, Donaire (1999) diz que o retorno do investimento, antes,
entendido simplesmente como lucro e enriquecimento de seus acionistas, ora em
diante, passa, fundamentalmente, pela contribuição e criação de um mundo
sustentável.
Estes processos de produção de conhecimento têm oportunizado o
desabrochar de práticas positivas e proativas, que sinalizam o desabrochar de
métodos e de experiências que comprovam, mesmo que em um nível ainda pouco
disseminado, a possibilidade de fazer acontecer e tornar real o novo, necessário e
irreversível, caminho de mudanças.
Isto é corroborado por Souza (1993), ao dizer que as estratégias de marketing
ecológico, adotadas pela maioria das empresas, visam a melhoria de imagem tanto
da empresa quanto de seus produtos, através da criação de novos produtos verdes e
de ações voltadas pela proteção ambiental.
Desse modo, o gerenciamento ambiental passa a ser um fator estratégico que
a alta administração das organizações deve analisar.

Figura 1 - Motivação para proteção ambiental na empresa

Fonte: Callenbach et al (1993, p. 26)

31
Neste contexto, as organizações deverão, incorporar a variável ambiental no
aspecto de seus cenários e na tomada de decisão, mantendo com isso uma postura
responsável de respeito à questão ambiental.
Empresas experientes identificam resultados econômicos e resultados
estratégicos do engajamento da organização na causa ambiental. Estes resultados
não se viabilizam de imediato, há necessidade de que sejam corretamente planejados
e organizados todos os passos para a interiorização da variável ambiental na
organização para que ela possa atingir o conceito de excelência ambiental, trazendo
com isso vantagem competitiva.
Os dez passos necessários para a excelência ambiental segundo Elkington &
Burke, apud Donaire (1999) são os seguintes:
"1 - Desenvolva e publique uma política ambiental.
2 - Estabeleça metas e continue a avaliar os ganhos.
3 - Defina claramente as responsabilidades ambientais de cada uma das áreas
e do pessoal administrativo (linha de assessoria).
4 - Divulgue interna e externamente a política, os objetivos e metas e as
responsabilidades.
5 - Obtenha recursos adequados.
6 - Eduque e treine seu pessoal e informe os consumidores e a comunidade.
7 - Acompanhe a situação ambiental da empresa e faça auditorias e relatórios.
8 - Acompanhe a evolução da discussão sobre a questão ambiental.
9 - Contribua para os programas ambientais da comunidade e invista em
pesquisa e desenvolvimento aplicados à área ambiental.
10 - Ajude a conciliar os diferentes interesses existentes entre todos os
envolvidos: empresa, consumidores, comunidade, acionistas etc."
A primeira dúvida que surge quando considerarmos a questão ambiental do
ponto de vista empresarial é sobre o aspecto econômico. Qualquer providência que
venha a ser tomada em relação à variável ambiental, a ideia é de que aumenta as
despesas e o consequente acréscimo dos custos do processo produtivo.
Donaire (1999) refere que "algumas empresas, porém, têm demonstrado que é
possível ganhar dinheiro e proteger o meio ambiente mesmo não sendo uma
organização que atua no chamado 'mercado verde', desde que as empresas possuam
certa dose de criatividade e condições internas que possam transformar as restrições
e ameaças ambientais em oportunidades de negócios”.

32
7 A RESPONSABILIDADE AMBIENTAL DA EMPRESA

Ecologia e empresa eram considerados dois conceitos e realidades inconexas.


A ecologia é à parte da biologia que estuda a relação entre os organismos vivos e seu
ambiente. Dessa forma a ecologia é entendida como uma ciência específica dos
naturalistas, distanciada da visão da Ciência Econômica e Empresarial. Para a
empresa o meio ambiente que estuda ecologia constitui simplesmente o suporte físico
que fornece a empresa os recursos necessários para desenvolver sua atividade
produtiva e o receptor de resíduos que se geram.
Alguns setores já assumiram tais compromissos com o novo modelo de
desenvolvimento, ao incorporarem nos modelos de gestão a dimensão ambiental. A
gestão de qualidade empresarial passa pela obrigatoriedade de que sejam
implantados sistemas organizacionais e de produção que valorizem os bens naturais,
as fontes de matérias-primas, as potencialidades do quadro humano criativo, as
comunidades locais e devem iniciar o novo ciclo, onde a cultura do descartável e do
desperdício sejam coisas do passado. Atividades de reciclagem, incentivo à
diminuição do consumo, controle de resíduo, capacitação permanentes dos quadros
profissionais, em diferentes níveis e escalas de conhecimento, fomento ao trabalho
em equipe e às ações criativas são desafios-chave neste novo cenário.
A nova consciência ambiental, surgida no bojo das transformações culturais
que ocorreram nas décadas de 60 e 70, ganhou dimensão e situou o meio ambiente
como um dos princípios fundamentais do homem moderno. Nos anos 80s, os gastos
com proteção ambiental começaram a ser vistos pelas empresas líderes não
primordialmente como custos, mas como investimentos no futuro e, paradoxalmente,
como vantagem competitiva.

Figura 2 - O Sistema Econômico e o Meio Ambiente

33
SISTEMA ECONÔMICO

Outputs

Produção Empresa Famílias Consumo

Inputs

“Extração” “Resíduos”

SISTEMA AMBIENTAL
Sol
Ar, Água, Vida Selvagem, Energia, Matéria-Prima

Fonte: Tietenberg (1994)

A inclusão da proteção do ambiente entre os objetivos da organização moderna


amplia substancialmente todo o conceito de administração. Administradores,
executivos e empresários introduziram em suas empresas programas de reciclagem,
medidas para poupar energia e outras inovações ecológicas. Essas práticas
difundiram-se rapidamente, e em breve vários pioneiros dos negócios desenvolveram
sistemas abrangentes de administração de cunho ecológico.
Para se entender a relação entre a empresa e o meio ambiente tem que se
aceitar, como estabelece a teoria de sistemas, que a empresa é um sistema aberto.
Sem dúvida nenhuma, as interpretações tradicionais da teoria da empresa como
sistema tem incorrido em uma certa visão parcial dos efeitos da empresa geral e em
seu entorno.
A empresa é um sistema aberto porque está formado por um conjunto de
elementos relacionados entre si, porque gera bens e serviços, empregos, dividendos,
porém também consome recursos naturais escassos e gera contaminação e resíduos.
Por isto é necessário que a economia da empresa defina uma visão mais ampla da
empresa como um sistema aberto.
Neste sentido Callenbach (1993), diz que é possível que os investidores e
acionistas usem cada vez mais a sustentabilidade ecológica, no lugar da estrita
34
rentabilidade, como critério para avaliar o posicionamento estratégico de longo prazo
das empresas.

8 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – A EXPRESSÃO ENTRA EM CENA

Em 1983, a ONU cria a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e


Desenvolvimento como um organismo independente. Em 1987, a comissão sobre a
presidência de Gro Harlem Brundtland, primeira-ministra da Noruega, materializa um
dos mais importantes documentos do nosso tempo – o relatório Nosso Futuro Comum,
responsável pelas primeiras conceituações oficiais, formais e sistematizadas sobre o
desenvolvimento sustentável - ideia-mestra do relatório.
O segundo capítulo – “Em busca do desenvolvimento sustentável” – o relatório
define o desenvolvimento sustentável com sendo “aquele que atende às necessidades
do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a
suas próprias necessidades”.
Ele contém dois conceitos-chave: o de “necessidades, sobretudo as
necessidades essenciais dos pobres no mundo, que devem receber a máxima
prioridade”; e “a noção das limitações que o estágio da tecnologia e da organização
social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes
e futuras”.
Em 1992 no Rio de Janeiro, na Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, reconheceu-se à importância de assumir a ideia de
sustentabilidade em qualquer programa ou atividade de desenvolvimento.
Nesse aspecto as empresas têm um papel extremamente relevante. Através
de uma prática empresarial sustentável, provocando mudança de valores e de
orientação em seus sistemas operacionais, estarão engajadas à ideia de
desenvolvimento sustentável e preservação do meio ambiente.
Neste novo paradigma, Almeida (2002) diz que a ideia é de integração e
interação, propondo uma nova maneira de olhar e transformar o mundo, baseada no
diálogo entre saberes e conhecimentos diversos. No mundo sustentável, uma
atividade – a econômica, por exemplo – não pode ser pensada ou praticada em
separado, porque tudo está inter-relacionado, em permanente diálogo.
Abaixo tem-se as diferenças entre o velho e o novo paradigmas:

35
Quadro 1 – Paradigma cartesiano versus paradigma da sustentabilidade
Cartesiano Sustentável
Reducionista, mecanicista, tecnocêntrico Orgânico, holístico, participativo
Fatos e valores não relacionados Fatos e valores fortemente relacionados
Preceitos éticos desconectados das Ética integrada ao cotidiano
práticas cotidianas
Separação entre o objetivo e o subjetivo Interação entre o objetivo e o subjetivo
Seres humanos e ecossistemas Seres humanos inseparáveis dos
separados, em uma relação de ecossistemas, em uma relação de
dominação sinergia
Conhecimento compartimentado e Conhecimento indivisível, empírico e
empírico intuitivo
Relação linear de causa e efeito Relação não’linear de causa e efeito
Natureza entendida como descontínua, o Natureza entendida como um conjunto
todo formado pela soma das partes de sistemas inter-relacionados, o todo
maior que a soma das partes
Bem-estar avaliado por relação de poder Bem-estar avaliado pela qualidade das
(dinheiro, influência, recursos) inter-relações entre os sistemas
ambientais e sociais
Ênfase na quantidade (renda per capita) Ênfase na qualidade (qualidade de vida)
Análise Síntese
Centralização de poder Descentralização de poder
Especialização Transdisciplinaridade
Ênfase na competição Ênfase na cooperação
Pouco ou nenhum limite tecnológico Limite tecnológico definido pela
sustentabilidade
Fonte: Almeida (2002).

Os empresários neste novo papel, tornam-se cada vez mais aptos a


compreender e participar das mudanças estruturais na relação de forças nas áreas
ambiental, econômica e social. Também, em sua grande parte, já decidiram que não
querem ter mais passivo ambiental.

36
Além disso, desenvolvimento sustentável introduz uma dimensão ética e
política que considere o desenvolvimento como um processo de mudança social, com
consequente democratização do acesso aos recursos naturais e distribuição
equitativa dos custos e benefícios do desenvolvimento.
Camargo, apud Novaes (2002), diz que nos últimos dois séculos têm vivido sob
a tríade da liberdade, da igualdade e da fraternidade. À medida que caminhamos para
o século XXI, precisamos tomar como inspiração os quatros valores da liberdade, da
igualdade, da fraternidade e da sustentabilidade.
O desenvolvimento sustentável, além de equidade social e equilíbrio ecológico,
segundo Donaire (1999), apresenta, como terceira vertente principal, a questão do
desenvolvimento econômico. Induz um espírito de responsabilidade comum como
processo de mudança no qual a exploração de recursos materiais, os investimentos
financeiros e as rotas do desenvolvimento tecnológico deverão adquirir sentidos
harmoniosos. Neste sentido, o desenvolvimento da tecnologia deverá ser orientado
para metas de equilíbrio com a natureza e de incremento da capacidade de inovação
dos países em desenvolvimento, e o progresso será entendido como fruto de maior
riqueza, maior benefício social equitativo e equilíbrio ecológico.
Sachs apud Campos (2001) apresenta cinco dimensões do que se pode
chamar desenvolvimento sustentável:

Figura 4 - As cinco dimensões da sustentabilidade.

Fonte: Sachs apud Campos (2001)

37
- A sustentabilidade social – que se entende como a criação de um processo
de desenvolvimento sustentado por uma civilização com maior equidade na
distribuição de renda e de bens, de modo a reduzir o abismo entre os padrões de vida
dos ricos e dos pobres.
- A sustentabilidade econômica – que deve ser alcançada através do
gerenciamento e alocação mais eficientes dos recursos e de um fluxo constante de
investimentos públicos e privados.
- A sustentabilidade ecológica – que pode ser alcançada através do aumento
da capacidade de utilização dos recursos, limitação do consumo de combustíveis
fósseis e de outros recursos e produtos que são facilmente esgotáveis, redução da
geração de resíduos e de poluição, através da conservação de energia, de recursos
e da reciclagem.
- A sustentabilidade espacial – que deve ser dirigida para a obtenção de uma
configuração rural-urbana mais equilibrada e uma melhor distribuição territorial dos
assentamentos humanos e das atividades econômicas.
- A sustentabilidade cultural – incluindo a procura por raízes endógenas de
processos de modernização e de sistemas agrícolas integrados, que facilitem a
geração de soluções específicas para o local, o ecossistema, a cultura e a área.
A busca de sustentabilidade é um processo, sendo a própria construção do
conceito uma tarefa ainda em andamento e muito longe do fim. Alguns resultados
práticos já podem ser reconhecidos e celebrados como argumenta Almeida (2002),
que entre julho de 1996 e julho de 2001, o Índice Dow Jones de Sustentabilidade
ultrapassou com folga o Índice Dow Jones Geral: 18,4% para o primeiro, contra 14,8%
para o segundo. O Índice Dow Jones de Sustentabilidade reflete a lucratividade das
ações das 312 empresas com melhor desempenho sócio ambiental, dentre as cerca
de três mil que compõem o Índice Dow Jones Geral, principal índice bolsista do
mundo.
Hoje, a principal ferramenta de escolha de ações de empresas com
responsabilidade social e ambiental é o Índice Dow Jones de Sustentabilidade (DJSI,
em inglês Dow Jones Sustainability Group Index). O DJSI foi lançado em setembro de
1999 pela Dow Jones e a Sustainable Asset Management (SAM), gestora de recursos
da Suíça especializada em empresas comprometidas com a responsabilidade social
e ambiental. O índice é formado por 312 ações de empresas de 26 países e quatro
brasileiras integram a lista: Itaú, Unibancos, Embraer e Cemig.

38
Os índices de sustentabilidade fornecem marcas de nível objetivas para os
produtos financeiros que são ligados aos critérios econômicos, ambientais e sociais.
Oferecem uma linha de base do desempenho como uma marca de nível e universo
do investimento para o número crescente de fundos mútuos, de certificados e de
outros veículos de investimento que são baseados no conceito de sustentabilidade.
As empresas que integram a lista do DJSI tem vários benefícios como:
 Reconhecimento público da preocupação com a área ambiental e social.
 Reconhecimento dos stakeholders importantes tais como legisladores,
clientes e empregados (por exemplo conduzir a uma lealdade melhor do
cliente e do empregado).
 Benefício financeiro crescente pelos investimentos baseados no índice.
Os resultados altamente visíveis, internos e externos à companhia, como todos
os componentes são anunciados publicamente pelo Boletim do Índice e a companhias
são intituladas a usar “membro da etiqueta oficial de DJSI”.
Verifica-se, portanto, que as empresas estão cuidando dos aspectos sociais e
ambientais e muitas delas têm ganhado econômico e maior durabilidade a longo
prazo, ou seja, o risco do investidor é menor.
O Jornal Valor Econômico de 07 de março de 2003, trouxe a seguinte manchete
: “Sustentabilidade entra na pauta das multinacionais, que diz: Presidentes e diretores
de multinacionais e de grandes grupos brasileiros participaram segunda-feira dia 10
de março de 2003, no Rio, da reunião executiva do Conselho Empresarial Mundial
para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD, na sigla em inglês). A entidade, que
representa 169 grupos com faturamento anual de US$ 6 trilhões, discutiu os caminhos
do desenvolvimento sustentável, abordando temas como pobreza, recursos naturais,
inovação tecnológica e biotecnologia.
O vice-presidente da República, José Alencar, participou de um seminário
durante o encontro. Fernando Almeida, diretor-executivo do Conselho Empresarial
Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS, equivalente nacional do
WBCSD), disse que na reunião o Brasil poderá se tornar o primeiro caso do projeto-
piloto Sobrevivência Sustentável. Criado pelo WBCSD, o projeto tem o objetivo de
desenvolver atividades em áreas de baixa renda, oferecendo condições para que
essas regiões se desenvolvam conforme o conceito de sustentabilidade.
Almeida previu que os líderes empresariais reunidos no Rio poderão apoiar a
iniciativa de transformar o Brasil no primeiro "case" do Sobrevivência Sustentável. A
39
ideia é começar com dois projetos-piloto, um na caatinga e outro na região Noroeste
do estado do Rio. Segundo ele, os temas discutidos pelo WBCSD, como clima e
energia, acesso a água, biodiversidade, inovação e tecnologia, valem também para
os 42 conselhos nacionais (por país), que reúnem cerca de mil empresas. Há ainda
projetos setoriais discutidos pelo conselho, como florestas, mineração, cimento e
setores elétrico e financeiro.

9 GESTÃO AMBIENTAL – O NOVO PARADIGMA

Gestão ambiental é um aspecto funcional da gestão de uma empresa, que


desenvolve e implanta as políticas e estratégias ambientais.
Diversas organizações empresariais estão cada vez mais preocupadas em
atingir e demonstrar um desempenho mais satisfatório em relação ao meio ambiente.
Neste sentido, a gestão ambiental tem se configurado como uma das mais
importantes atividades relacionadas com qualquer empreendimento. Além dessa
ferramenta, a problemática ambiental envolve também o gerenciamento dos assuntos
pertinentes ao meio ambiente, por meio de sistemas de gestão ambiental, da busca
pelo desenvolvimento sustentável, da análise do ciclo de vida dos produtos e da
questão dos passivos ambientais.
Para Meyer (2000), a gestão ambiental é apresentada da seguinte forma:
*objeto de manter o meio ambiente saudável (à medida do possível), para
atender as necessidades humanas atuais, sem comprometer o atendimento das
necessidades das gerações futuras.
*meio de atuar sobre as modificações causadas no meio ambiente pelo uso
e/ou descarte dos bens e detritos gerados pelas atividades humanas, a partir de um
plano de ação viáveis técnica e economicamente, com prioridades perfeitamente
definidas.
*instrumentos de monitoramentos, controles, taxações, imposições, subsídios,
divulgação, obras e ações mitigadoras, além de treinamento e conscientização.
*base de atuação de diagnósticos (cenários) ambientais da área de atuação, a
partir de estudos e pesquisas dirigidos em busca de soluções para os problemas que
forem detectados.

40
Assim, para que uma empresa passe a realmente trabalhar com gestão
ambiental deve, inevitavelmente, passar por uma mudança em sua cultura
empresarial; por uma revisão de seus paradigmas. Neste sentido, a gestão ambiental
tem se configurado com uma das mais importantes atividades relacionadas com
qualquer empreendimento.

Quadro 2 – Visão geral da gestão ambiental


GESTÃO AMBIENTAL
Gestão de Gestão de Gestão de Gestão do Plano
Processos Resultados Sustentabilidade Ambiental
Exploração de Emissões gasosas Qualidade do ar Princípios e
recursos compromissos
Transformação de Efluentes líquidos Qualidade da água Política ambiental
recursos
Acondicionamento Resíduos sólidos Qualidade do solo Conformidade legal
de recursos
Transporte de Particulados Abundância e Objetivos e metas
recursos diversidade da flora
Aplicação e uso de Odores Abundância e Programa
recursos diversidade da ambiental
fauna
Quadros de riscos Ruídos e vibrações Qualidade de vida Projetos ambientais
ambientais do ser humano
Situações de Iluminação Imagem Ações corretivas e
emergência institucional preventivas
Fonte: Macedo, R.K. 1994.

De acordo com Macedo (1994), se uma unidade produtiva, ao ser planejada,


atender a todos os quesitos apresentados na tabela acima, através de ferramentas e
procedimentos adequados, certamente ela atenderá a todas as requisições existentes
relativas à qualidade ambiental.
O mesmo autor subdivide a gestão ambiental em quatro níveis:

41
Gestão de Processos – envolvendo a avaliação da qualidade ambiental de
todas as atividades, máquinas e equipamentos relacionados a todos os tipos de
manejo de insumos, matérias primas, recursos humanos, recursos logísticos,
tecnologias e serviços de terceiros.
Gestão de Resultados – envolvendo a avaliação da qualidade ambiental dos
processos de produção, através de seus efeitos ou resultados ambientais, ou seja,
emissões gasosas, efluentes líquidos, resíduos sólidos, particulados, odores, ruídos,
vibrações e iluminação.
Gestão de Sustentabilidade (Ambiental) – envolvendo a avaliação da
capacidade de resposta do ambiente aos resultados dos processos produtivos que
nele são realizados e que o afetam, através da monitoração sistemática da qualidade
do ar, da água, do solo, da flora, da fauna e do ser humano.
Gestão do Plano Ambiental – envolvendo a avaliação sistemática e
permanente de todos os elementos constituintes do plano de gestão ambiental
elaborado e implementado, aferindo-o e adequando-o em função do desempenho
ambiental alcançado pela organização.
Os instrumentos de gestão ambiental objetivam melhorar a qualidade ambiental
e o processo decisório. São aplicados a todas as fases dos empreendimentos e poder
ser: preventivos, corretivos, de remediação e proativos, dependendo da fase em que
são implementados.

10 SGA - SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL

Para a institucionalização da função Gestão Ambiental na organização, é


preciso ressaltar algumas condições ou princípios em que ela deverá se basear. São
as etapas de um SGA, apresentadas sob a forma de princípios:
Política do Ambiente é a posição adotada por uma organização relativamente
ao ambiente. A elaboração e definição desta política é o primeiro passo a dar na
implementação de um SGA, traduzindo-se numa espécie de comprometimento da
organização para com as questões do ambiente, numa tentativa de melhoria contínua
dos aspectos ambientais.
Planejamento - O sucesso de um bom SGA, tal como acontece com muitas
das medidas que queremos que sejam tomadas com sucesso, requer um bom

42
planejamento. Deve-se começar por identificar aspectos ambientais e avaliar o
impacto de cada um no meio ambiente. Por aspectos ambientais entende-se, por
exemplo, o ruído, os resíduos industriais e as águas residuais. A organização deve
estabelecer e manter procedimentos para identificar os aspectos ambientais que
controla e sobre os quais exerce alguma influência, devendo igualmente garantir que
os impactos por eles provocados estão considerados no estabelecimento da sua
política ambiental.
Através dos requisitos legais, relativamente a cada um dos aspectos
ambientais, estabelecem-se objetivos e metas que se definem num Programa
Ambiental, que clarifica a estratégia que a organização irá seguir na implementação
do SGA. Neste Programa de Gestão Ambiental, os objetivos ambientais a estabelecer
e manter devem ser considerados relevantes para a organização. Deve ser designado
um responsável por atingir os objetivos a cada nível da organização, sem esquecer
os meios e espaçamento temporal para que os mesmos possam ser atingidos.
Implementação - As regras, responsabilidades e autoridades devem estar
definidas, documentadas e comunicadas a todos, por forma a garantir a sua aplicação.
A gestão deve providenciar os meios humanos, tecnológicos e financeiros para
a implementação e controle do sistema.
O responsável pela gestão ambiental deverá garantir que o Sistema de Gestão
Ambiental é estabelecido, documentado, implementado e mantido de acordo com o
descrito na norma e que à gestão de topo é transmitida a eficiência e eficácia do
mesmo.
A organização deverá providenciar formação aos seus colaboradores,
conscientizando-os da importância da Política do Ambiente e do SGA em geral, da
relevância do impacto ambiental das suas atividades, da responsabilidade em
implementar o SGA e das consequências em termos ambientais de trabalhar em
conformidade com procedimentos específicos.
A organização deve estabelecer e manter procedimentos para a comunicação
interna entre os vários níveis hierárquicos e para receber e responder às partes
externas.
Compete ainda à organização estabelecer e manter informação que descreva
os elementos base do SGA e da sua interação, controlando todos os documentos
exigidos pela norma.

43
As operações de rotina que estejam associadas a impactos ambientais
consideráveis deverão ser alvo de um controle eficaz.
Por último, devem ser estabelecidos e mantidos procedimentos que visem
responder a situações de emergência, minimizando o impacto ambiental associado.
Verificação e ações corretivas - A organização deve definir, estabelecer e
manter procedimentos de controle e medida das características chave dos seus
processos que possam ter impacto sobre o ambiente. Do mesmo modo, a
responsabilidade pela análise de não conformidades e pela implementação de ações
corretivas e preventivas deve estar devidamente documentada, bem como todas as
alterações daí resultantes. Todos os registros ambientais, incluindo os respeitantes às
formações e auditorias, devem estar identificáveis e acessíveis.
Procedimentos e planos que visem garantir auditorias periódicas ao SGA, de
modo a determinar a sua conformidade com as exigências normativas, devem ser
estabelecidos e mantidos.
Revisão pela direção - Cabe à direção, com uma frequência definida por ela
própria, rever o SGA e avaliar a adequabilidade e eficácia do mesmo, num processo
que deverá ser devidamente documentado. A revisão pela direção deve ter em conta
a possível necessidade de alterar a Política do Ambiente, objetivos e procedimentos,
como resposta a alterações organizativas, melhorias contínuas e modificações
externas.
Após todo este processo que deverá ser acolhido de braços abertos por toda a
estrutura organizacional e em especial pela gestão, a organização deverá estar em
condições de proceder à respectiva certificação do seu SGA por uma autoridade
independente e externa.

11 ISO 14000

A ISO é uma organização internacional fundada em 1946 para desenvolver


padrões de manufatura, do comércio e da comunicação, tais como linhas padrão do
parafuso, tamanhos do recipiente de transporte, formatos de vídeo, etc. Estes padrões
são para facilitar o comércio internacional aumentando a confiabilidade e a eficácia
dos bens e serviços. Todos os padrões desenvolvidos por ISO são voluntários;

44
entretanto, os países frequentemente adotam padrões de ISO e fazem-nos
imperativos.
Após a aceitação rápida da ISO 9000, e o aumento de padrões ambientais em
torno do mundo, a ISO (Internacional Organizativo for Starda-dization) constitui o
Grupo Estratégico Consultivo sobre o meio ambiente (SAGE) em 1991, para
considerar se tais padrões atendiam o seguinte:
 Promover uma aproximação comum à gerência ambiental similar à
gerência da qualidade;
 Realçar a habilidade das organizações de alcançar e medir melhorias no
desempenho ambiental; e
 Facilite o comércio e remova as barreiras de comércio.
Em 1992, as recomendações do SAGE criaram um comitê novo, o TC 207, para
padrões ambientais internacionais da gerência. O comitê, e seus sub-comitês incluem
representantes da indústria, das organizações de padrões, do governo e das
organizações ambientais de muitos países.
Os padrões aplicam-se a todos os tipos e tamanhos de organizações e são
projetados a abranger circunstâncias geográficas, culturais e sociais diversas.
A ISO 14000 séries dos padrões consistem em dois tipos de padrões
a) Padrões da organização que podem ser usados para executar e avaliar
o sistema de gerência ambiental (EMS) dentro de uma organização, incluindo a ISO
14010 séries de padrões de auditorias ambientais e a ISO 14030 série dos padrões
para a avaliação de desempenho ambiental.
 Sistemas de gerência ambientais - Os padrões do EMS incluem uma
especificação e uma guia. O original da especificação é consultado como a ISO 14001
(sistemas de gerência ambientais – especificações como orientação para o uso). A
ISO 14001 é o padrão que uma organização registra seu EMS usando third-party
independente de avaliar o sistema e confirmar que o EMS da organização se conforma
às especificações do ISO 14001. A ISO 14001 é o único padrão na série inteira a que
uma organização pode ser registrada. O original do guia é consultado como ISO 14004
(sistema de gerência ambiental – guias gerais em princípios, sistemas e técnicas). A
intenção da ISO 14004 é ajudar a organização a desenvolver e executar um EMS que
se encontre com as especificações da ISO 14001. São pretendidos para o uso como
uma ferramenta de gerência e não uma certificação ou um registro voluntário, interno.

45
 Auditoria Ambiental - Estes originais fornecem uma estrutura ambiental
consistente de auditoria e permitem também o registro third-party sob ISO 14001. Os
guias para auditoria ambiental incluem originais:
 esboçando os princípios gerais (ISO 14010),
 estabelecendo os procedimentos da auditoria (ISO 14011),
e descrevendo os critérios da qualificação do auditor (ISO 14012).
Os artigos novos do trabalho forma propostos para as avaliações ambientais do
local (ISO 14015), revisões e a gerência iniciais do programa de auditoria.
 Avaliação de Desempenho Ambiental - A ISO 14031 fornecerá a
organização uma orientação de como desenvolver e executar um sistema ambiental
da avaliação de desempenho (EPE). Este padrão define EPE como "uma ferramenta
de gerência que ajude a uma organização focalizar sua melhora no desempenho
ambiental". O padrão fornecerá também a orientação no desenvolvimento e na
seleção de indicadores do desempenho.

Figura 5 - Espiral do Sistema de Gestão Ambiental (ISO 14001)

Fonte: Adaptado de Maimon (1996) e Cajazeira (1997).

46
b) Padrões de produtos que podem ser usados para avaliar os impactos
ambientais dos produtos e dos processos. Fazem parte deste grupo a ISO 14020 série
de padrões de rotulagem ambiental, a ISO 14040, série de padrões da análise do ciclo
de vida e a ISO 14060 série de padrões do produto.
 Rotulagem Ambiental - Os padrões são desenvolvidos para três tipos de
programas:
 Os programas do tipo I são consultados como os programas do
"practitioner" que são produto ou categoria do produto baseada, similares ao
programa bem escolhido ambiental ou ao programa azul do angel de Germany.
 Os programas do tipo II são baseados nos termos e nas definições
comuns que podem ser usados para reivindicações self-declaradas.
 Os programas do tipo III são baseados do "em um conceito do cartão
relatório", bem como etiquetas existentes do nutrition.
Esta série inclui também um padrão que esboça um jogo de princípios comuns
para todos os tipos de programas de rotulagem.
 Análise do Ciclo de Vida (LCA) - Diversos padrões de LCA estão sendo
desenvolvidos atualmente que cobrem cada estágio do ciclo de vida de um
produto, incluindo a avaliação do inventário, a avaliação do impacto, e a
avaliação da melhoria. As aplicações específicas de LCA incluem comparar
produtos alternativos e processos, o ajuste de linhas de base do desempenho,
e benchmarking o progresso. Os conceitos de LCA podiam ser usados como
uma base eco-rotulagem.
 Aspectos ambientais em padrões do produto - A ISO 14060 (guia para a
inclusão de aspectos ambientais em padrões do produto) é o sexto padrão.
Este original é uma guia para escritores dos padrões nas áreas fora da gerência
ambiental, e o TC 207 está emitindo o padrão de esboço ao secretariado central
do ISO para uma experimentação de 12 a 18 meses.

12 BS 7750

Padrão britânico BS 7750 - a especificação para sistemas de gerência


ambientais, baseada nos princípios do padrão britânico BS 5750 e o ISO da qualidade
9000 séries, foi esboçada em 1991 pela instituição britânica dos padrões (BSI). O

47
comitê, o ambiente e o comitê da política dos padrões da poluição dos padrões
britânicos instituem constituídos por 40 membros de indústria, comércio, governo e
partidos legislativos do corpo e os interessados.
É usado para descrever o sistema de gerência ambiental da companhia, avalia
seu desempenho e defini a política, as práticas, os objetivos; e fornece um catalisador
para a melhoria contínua.
O padrão foi publicado primeiramente em junho 1992, e subsequentemente
revisto e revisado a uma edição nova de janeiro 1994.
BS 7750 é projetado agora ser compatível com o esquema da (EMAS) e
também com padrão internacional ISO 14001. Ele requer uma política ambiental de
acordo com a legislação ambiental que possa a organização efetuar e força um
compromisso à melhoria contínua.
Deve relacionar-se aos locais dentro da organização abrangida pelo sistema
de gerência, deve fornecer uma vista geral das atividades da companhia no local e
em uma descrição daquelas atividades.
A revisão e a definição preparatórias dos efeitos ambientais da organização
não são parte de uma avaliação BS 7750, porém a auditoria destes dados fornecerá
um exame externo com uma riqueza da informação nos métodos adotados pela
companhia.
A companhia declarará seus objetivos ambientais preliminares, aqueles que
podem ter a maioria de impacto ambiental. A fim ganhar a maioria de benefício estes
transformar-se-ão as áreas preliminares de consideração dentro do processo da
melhoria, e o programa ambiental da companhia.
O sistema de gerência ambiental fornece um detalhe mais adicional no
programa ambiental. O EMS estabelece procedimentos, instruções de trabalho e
controles assegurar-se de que a execução da política e da realização dos alvos possa
se transformar uma realidade.
Em junho 1993, a organização de padrões internacional (ISO) reviu as
recomendações do Grupo Estratégico Consultivo sobre o meio ambiente (SAGE) e
decidiu-se dar forma a um comitê técnico internacional novo ISO/TC 207

48
13 EMAS

O EMAS – Sistema Comunitário de Eco-Gestão e Auditoria ou Eco-


Management and Audit Scheme foi estabelecido pelo Regulamento (CEE) nº 1836/93
de 29 de Junho, que definia as responsabilidades dos Estados-membro na criação
das estruturas de base do EMAS, as condições de funcionamento e operacionalidade
dessas estruturas, bem como os requisitos de adesão a este sistema.
É um instrumento voluntário dirigido às empresas que pretendam avaliar e
melhorar os seus comportamentos ambientais e informar o público e outras partes
interessadas a respeito do seu desempenho e intenções ao nível do ambiente, não se
limitando ao cumprimento da legislação ambiental nacional e comunitária existente.
Em 2001 foi publicado o novo regulamento EMAS (EMAS II), instituído pelo
Regulamento (CE) n.º 761/2001 do Parlamento Europeu e do Conselho de 19 de
Março de 2001, que revoga o primeiro.
As vantagens em aderir ao EMAS são:
 Ajuda ao cumprimento legal;
 Permite melhorar o desempenho ambiental;
 Demonstrar às partes interessadas um empenho na melhoria ambiental;
 Integrar princípios de desenvolvimento sustentável na ação da autoridade, de
acordo com a agenda local 21;
 Permite realizar economias no que respeita à redução de resíduos, poupança
de energia e utilização de recursos;
 Permite melhorar o controle da gestão;
Após o registro no EMAS as organizações podem utilizar o logotipo nas
seguintes modalidades:
O relatório ambiental de EMAS é chamado de Indicação Ambiental. É uma
maneira para que a empresa faça a informação em seu desempenho ambiental
publicamente disponível. Pode ser usado para informar os sucessos, problemas e
objetivos no campo da gerência ambiental. Também é usado para:
 Motivar os empregados a se motivarem ativamente em medidas da
proteção ambiental;
 Documento de atividade e desempenho ambiental;
 Reforça o compromisso à execução da gerência ambiental;

49
 Monitore o sucesso, e
 Ajude no planejamento.

50
REFERÊNCIAS

ALMEIDA, F. O bom negócio da sustentabilidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,


2002.

ANDRADE, Adriano. MASSON, Cleber. ANDRADE, Landolfo. Interesses difusos e


coletivos esquematizado. Método, 2011.

BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo. São


Paulo: Saraiva, 2009.

BENJAMIN, Antônio Herman V. Manual Prático da Promotoria de Justiça de Meio


Ambiente. São Paulo: Imprensa Oficial do estado de São Paulo: Ministério Público do
Estado de São Paulo, 2005.

BRITTO, Carlos Ayres. Teoria da Constituição. Rio de Janeiro: Forense, 2006.

CAGNIN, C. H. Fatores relevantes na implementação de um sistema de gestão


ambiental com base na Norma ISO 14001. 2.000. Dissertação (Mestrado em
Engenharia da Produção) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

CALLENBACH, E., et al. Gerenciamento Ecológico – Eco-Manangement – Guia


do Instituto Elmwood de Auditoria Ecológica e Negócios Sustentáveis. São
Paulo: Ed. Cultrix, 1993.

CAMPOS, L. M. S. SGADA – Sistema de gestão e avaliação de desempenho


ambiental: uma proposta de implementação. 2001. Tese (Doutorado em
Engenharia da Produção) – Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis.

CANELA JUNIOR, Oswaldo. Controle judicial de políticas públicas. São Paulo:


Saraiva, 2011.

CANOTILHO, José Joaquim Gomes. O direito ao ambiente como direito subjetivo.


Estudos sobre direitos fundamentais. Coimbra: Coimbra Editora, 2004.

CAPPELLI, Silvia. Ação civil pública ambiental: a experiência brasileira, análise da


jurisprudência. Revista de Direito Ambiental, ano 9, n. 33, São Paulo: RT, jan,-
mar.2004.

51
COMISSÃO Mundial sobre Ambiente e Desenvolvimento Nosso Futuro Comum. Rio
de Janeiro: FGV, p.44-50, 1988.

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 001, de 23 de


janeiro de 1986, publicado no D. O U. de 17.2.86.
<www.mma.gov.br/por/conama/res/res/86/res0186.html> Acesso em 03 jun. 2002.

CUNHA JUNIOR, Dirley. Controle judicial das omissões do poder público. 2 ed. São
Paulo: Saraiva, 2008.

D’ISEP, Clarissa Ferreira Macedo. NERY JÚNIOR, Nelson e MEDAUAR, Odete.


Políticas Públicas Ambientais: estudos em homenagem ao Professor Michel Prieur.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009.

DONAIRE, D. Gestão ambiental na empresa. 2.ed. São Paulo: Atlas, 1999.

FERREIRA, XIMENA CARDOZO. A atuação do Ministério Público na implementação


de Políticas Públicas da área ambiental. Extraído do site www.mp.rs.gov.br, data de
acesso: 19/09/2012

GRAUS, Eros Roberto. A Ordem Econômica na Constituição de 1988 (interpretação


e crítica). São Paulo: RT, 1990.

GRINOVER, Ada Pelegrini Grinover. Controle Jurisdicional de Políticas Públicas. Rio


de Janeiro: Forense, 2011.

MACEDO, R. K. de, Gestão Ambiental - Os Instrumentos Básicos para a Gestão


vAmbiental de Territórios e de Unidades Produtivas. ABES: AIDIS. Rio de Janeiro.
vRJ. 1994.

MAIMON, D. Passaporte Verde Gestão ambiental e competitividade. Rio de


Janeiro: Qualitymark, 1996.

MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 19 ed. São Paulo:
Saraiva, 2006.

MEYER, M. M. Gestão ambiental no setor mineral: um estudo de caso. 2000.


Dissertação (Mestrado em Engenharia da Produção) – Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis.

52
NOVAES, W. A década do impasse. Da Rio-92 à Rio+10. São Paulo: Estação
Liberdade, 2002.

OLSEN, Ana Carolina Lopes. Direitos fundamentais sociais: efetividade frente à


reserva do possível. Curitiba: Juruá, 2008, p. 318. Ainda: ROCHA JUNIOR, Paulo
Sérgio Duarte da. Controle jurisdicional de políticas públicas. 2009. Dissertação
(mestrado) – USP, São Paulo. Orientador Rodolfo de Camargo Mancuso.

OSBORNE, David; GAEBLER, Ted. Reinventing government: how the entrepreneurial


spirit is transforming the public sector. Reading, MA: Addison-Wesley, 1992.

SOUZA, M. T. S. Rumo à prática empresarial sustentável. Revista de Administração


de Empresas. São Paulo, SP: v.4, n.33, p. 40-52, jul/ago/1993.

TIETENBERG, T. Economia de recursos ambiental e natural.

TORRES, Ricardo Lobo. O direito ao mínimo existencial. Rio de Janeiro: Renovar,


2009.

TORRES, Ricardo Lobo. O mínimo existencial e os direitos fundamentais. Revista de


direito da Procuradoria Geral, Rio de janeiro, n. 42, p. 69/70, jul.-set5. 1990, p. 69/70).

53

Você também pode gostar