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Questão 01.

É importante destacar que o nome é um direito de qualquer pessoa, sendo


intransmissível e irrenunciável, conforme Código Civil. No entanto, a Lei de Registros
Públicos traz possibilidades de alteração de nome e quem quiser restaurar, suprimir ou
retificar assentamento no Registro Civil, deverá dirigir petição fundamentada e
instruída com provas documentais ou testemunhais, ao Juízo de Registros Públicos
competente com o auxílio de um advogado. Entendimentos jurisprudenciais caminham
no sentido de que o princípio da imutabilidade do nome é relativo

RECURSO ESPECIAL Nº 1.304.718 - SP (2011/0304875-5) RELATOR:


MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO [...]
RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. REGISTRO CIVIL.
NOME. ALTERAÇÃO. SUPRESSÃO DO PATRONÍMICO PATERNO.
ABANDONO PELO PAI NA INFÂNCIA. JUSTO MOTIVO.
RETIFICAÇÃO DO ASSENTO DE NASCIMENTO. INTERPRETAÇÃO
DOS ARTIGOS 56 E 57 DA LEI N.º 6.015/73. PRECEDENTES.
1. O princípio da imutabilidade do nome não é absoluto no sistema jurídico
brasileiro. 2. O nome civil, conforme as regras dos artigos  56 e 57 da Lei de
Registros Públicos, pode ser alterado no primeiro ano após atingida a
maioridade, desde que não prejudique os apelidos de família, ou,
ultrapassado esse prazo, por justo motivo, mediante apreciação judicial e
após ouvido o Ministério Público. 3. Caso concreto no qual se identifica
justo motivo no pleito do recorrente de supressão do patronímico paterno
do seu nome, pois, abandonado pelo pai desde tenra idade, foi criado
exclusivamente pela mãe e pela avó materna. 4. Precedentes específicos do
STJ, inclusive da Corte Especial. 5. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
[...]

A possibilidade de alteração de nome que causem transtornos por motivos


íntimos e psicológicos, vem se firmando no entendimento jurisprudencial, como em
casos de abandono afetivo, conforme jurisprudência citada acima.

O ministro relator desse mesmo recursou aduziu que:

O direito da pessoa de portar um nome que não lhe remeta às angústias


decorrentes do abandono paterno e, especialmente, corresponda à sua
realidade familiar, parece-me sobrepor ao interesse público de
imutabilidade do nome, já excepcionado pela própria Lei de Registros
Públicos.

No caso em questão, tendo em vista o constrangimento, o que traz uma forte


motivação para a supressão do nome paterno, ela vai ser possível através de um
pedido realizado judicialmente, com a assistência de um advogado, sendo ouvido o
Ministério Público e eventuais terceiros, bem como provas concretas deverão ser
produzidas, de maneira a comprovar o justo motivo para a exclusão. Ao seu turno,
cabe ressaltar que a mudança do sobrenome unicamente não interfere no estado de
filiação. Logo, ocorrida a retirada do sobrenome, este não constará em documentos do
apelante. Todavia, as obrigações e direitos legais permanecem, haja vista a
conservação do estado de filiação. Vejamos a seguir.

Ao tempo do código civil de 1916 as presunções de paternidade eram


intransponíveis, sendo a figura paterna confundida com a do marido. Todavia,
atualmente tais presunções possuem maior relatividade e seu caráter rígido vem
desfalecendo. Neste ínterim, a ideia de paternidade tem entrado em discussão tanto
pela doutrina quanto pela jurisprudência, com o fulcro de obter maior proximidade a
realidade paternal, bem como preservar a dignidade humana.

Neste compasso, não é raro, ao contrário, já goza de certa normalidade, ações


de investigação de paternidade. Esta ação, ao seu turno, busca averiguar a veracidade
fática em relação a certidão do termo de nascimento registrada no Registro Civil. Em
outros termos, o apelante busca saber sobre a realidade biológica da prole, isto é, se os
filhos são biologicamente seus.

Destarte, são inumeráveis os casos onde há descrença por parte do marido


quantoa fidelidade de sua esposa e sobre o vínculo genético com os filhos. Em vista
disso, é instaurada uma ação de investigação de paternidade, fazendo uso de inúmeros
meios de prova, mas calcada principalmente sobre o exame de DNA, a qual, como tem
entendido o STJ, o direito a verdade biológica é um direito fundamental (STJ, REsp
833.712/RS, Proc.6.3.3.52006/0070609-4, 3.ª Turma, Rel. Min. Fátima Nancy Andrighi,
j. 17.05.2007, DJU 04.06.2007, p. 347).

Com efeito, em tempos remotos a negativa por parte do exame de DNA,


alinhado com as demais provas, seria suficiente para anulação da paternidade.
Entretanto, no recorte histórico atual a relevância da socioafetividade tem levantado um
ferrenho paradigma sobre se ser genitor é ser pai. Dando os devidos créditos, JOÃO

BATISTA VILLELA foi o percussor da ideia de desbiologização do Direito de Família.

Dito isto, urge destacar que embora a anulaçao da paternalidade devido erro
como dispõe o art.1604 esteja mais solidificada, a anulação da paternidade requerida
pelo filho sob o argumento de o laço familiar lhe causar dano a honra carece de solidez
jurídica. Não se limitando a isso, defende o querelante que além do constrangimento e
prejuízos causados, não reconhece seu genitor como pai, pois alega não nutrir com o
mesmo uma relação afetiva comumente existente entre pais e filhos. Com efeito, não há
previsão legal, nem ao menos procedentes jurisprudências. Cabendo assim a
necessidade de uma inovação fundada sobre a relevância da socioafetividade para a
relação paternal. Vejamos.

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