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Nas últimas décadas do século XIX surgiu uma nova corrente estética que ganhou
rapidamente o agrado do grande público europeu como alternativa válida para os
exageros da ópera italiana. Essa nova tendência se chamou Nacionalismo Musical,
isto é, música escrita com teor de nacionalismo, seja direto ou indireto.
O sucesso (desse tipo de composição) foi considerável pelo aspecto exótico que tal
atitude estética representava. Essa tendência continuou pelo século XX com bastante
sucesso até a Segunda Guerra Mundial.
Por volta de 1870, começam a surgir as primeiras composições impressas dessa nova
tendência, porém, é importante lembrar que anteriormente, mesmo a música colonial,
alguns tipos de música já podiam ser consideradas “nacionais”, como os Lundus e as
Modinhas, compostas por José Maurício, Elias Alvares Lobo, Francisco Manuel da
Silva etc.
Compositores
Brasilio Itiberê
“Querido Senhor, Mil agradecimentos por sua magnífica remessa. Como uma pobre
[retribuição] eu vos ofereço minha Messe pour Orgue (ou Harmonium) sans Chant; e
como outra, uma bagatelle recentemente publicada e já esquecida. Afetuosamente,
F. Liszt. Quarta-feira.”
Brasílio Itiberê deixou cerca de 60 obras, a maioria das quais pouco
conhecidas e, muitas, ainda desaparecidas. 30 estão guardadas na Biblioteca Casa da
Memória da Fundação Cultural de Curitiba (algumas poucas podem também ser
encontradas na Biblioteca Nacional no Rio de janeiro). No catálogo que preparou,
Mercedes Reis Pequeno (NEVES, 1996, p. 101109) descreve 21 peças para piano
solo com número de Opus (o que sugere a existência de pelo menos outras 20
desaparecidas de um total de 41); 11 peças para piano solo sem número
de Opus (onde faltam mais 2 mencionadas em jornais); 3 arranjos para violino e
piano; 5 obras vocais (3 religiosas, uma de Natal e outra profana) para
instrumentações diversas com piano e cordas. Embora entre as obras do compositor
predominem os títulos convencionais do repertório erudito de salão do século XIX,
algumas merecem um estudo cuidadoso para se verificar até onde se estende seu viés
nacionalista além de A Sertaneja: Danse americaine, Ballade des tropiques, A
Serrana, Súplica do escravo. Outras obras: Noites Orientais para piano solo em três
partes: Noturno, Dahabieh e Jardim dos Trópicos composta durante uma excursão
que fez ao Egito. Noites em Veneza (Barcarola, Noturno e Romance); Caprichos à
Mazurca; Tarantella; Rapsódias Brasileiras; Poema de Amor; Estudo de Concerto.
Brasílio Itiberê faleceu em 11 de agosto de 1913 em Berlim, pouco antes de
sua transferência como diplomata para os Estados Unidos (MARCONDES, 1998, p.
225). Entretanto, havia deixado claro para a família seu desejo de retornar ao país
natal. Duas semanas depois, seu corpo embalsamado chegou a Paranaguá e seguiu no
dia seguinte para Curitiba, onde foi sepultado. Mais tarde, como o governo do Paraná
não ergueu um prometido monumento ao compositor, sua família decidiu levar suas
cinzas para o túmulo da esposa no Cemitério São João Batista no Rio de Janeiro
(NEVES, 1996, p. 50).
Alexandre Levy
Muito ativo no meio musical paulista, fundou o Clube Haydn e depois o Clube
Mendelssohn. Participou dos 35 concertos que esta sociedade organizou, atuou como
pianista e regente. Dentre as obras que compôs, destaca-se as Variações Sobre um
Tema Brasileiro, primeira composição orquestral baseada em tema folclórico
nacional (Vem cá, Bitu) embora esta obra siga as tendências do romantismo,
oscilando entre Schumann e Mendelssohn.
Suas composições são altamente originais e às vezes construídas em formas
populares brasileiras (o caso do Tango Brasileiro) ou usam temas folclóricos
brasileiros como matéria prima, o que o torna um precursor do nacionalismo musical
brasileiro.
Em 1887 foi a Paris, onde estudou com Emile Durand e participou de um concerto
em homenagem a D. Pedro II. Outra importante obra é o Tango Brasileiro, para piano
solo, além da Suíte Brasileira para orquestra composta em 1890.
Nos seus últimos anos de vida compôs uma Sinfonia em Mi, o poema sinfônico
Comala, além de uma interessante série de piano intitulada Schumannianas.
Ernesto Nazareth
Compositor, professor e pianista, considerado um dos maiores expoentes da música
brasileira, Ernesto Nazareth é autor de uma obra que, situada num lugar de difícil
definição entre a música erudita e a popular, tem importância fundamental para a
cultura brasileira dos séculos XIX e XX.
Com cerca de três anos, o menino Ernesto começou a demonstrar interesse pelas
peças de compositores como Chopin, Beethoven e Arthur Napoleão, que sua mãe
executava ao piano, e passou a ter com ela as primeiras noções do instrumento,
aprendendo também a solfejar.
Quando tinha dez anos, ao cair de uma árvore, sofreu uma forte concussão na cabeça
e teve hemorragia nos ouvidos, principalmente no direito. As sequelas desse acidente
perduraram por toda a sua vida, levando-o, na velhice, à quase completa surdez. Aos
14 anos, fez sua primeira composição: a polca-lundu Você bem sabe, dedicada ao pai.
Com 16 anos, participou do que seria sua primeira apresentação pública, num recital
no salão do Clube Mozart.
Aos 20, já era conhecido no Rio de Janeiro como compositor, intérprete e professor
de piano. Em 1886, casou-se com Theodora Amália Leal de Meirelles, 11 anos mais
velha. Ambos ficariam juntos até a morte dela, em 1929. O casal teve quatro filhos.
Em janeiro de 1932, em companhia das filhas, partiu de navio para o Rio Grande do
Sul, levando sua última partitura editada: o tango brasileiro Gaúcho, em homenagem
ao povo rio-grandense. Fez recitais em Porto Alegre, em Rosário do Sul e em Santana
do Livramento (onde fez, no dia 26 de fevereiro, sua derradeira apresentação,
debruçado ao piano, pois seu problema auditivo quase não o deixava mais escutar o
que tocava). No dia 29, chegaram a Montevidéu, capital do Uruguai. Durante um
passeio pela cidade, sofreu uma séria crise nervosa. Teve ligeira melhora ao voltar
para o Rio, mas, em julho, com a surdez em estado avançado, foi diagnosticado como
portador de sífilis e internado no Pavilhão Guinle do Hospício Pedro II, na Praia
Vermelha, de onde saiu em janeiro de 1933.
Dois meses depois, a dias de completar 70 anos, deu entrada na Colônia Juliano
Moreira, em Jacarepaguá. Numa das visitas que Eulina fez ao pai, ouviu dele:
“Descobri um caminho para Laranjeiras. Basta que eu siga por ali, que eu chego lá
em casa!…”. No ano seguinte, fugiu da colônia.
Ernesto Nazareth morreu entre os dias 1 e 4 de fevereiro de 1934. Seu corpo foi
encontrado no dia 4, domingo de Carnaval, nas águas de uma represa pertencente à
floresta situada nos fundos do manicômio.
Francisco Braga
Antônio Francisco Braga nasceu no Rio de Janeiro em 1868. Órfão de pai, a partir de
1876 foi aluno interno do Asilo dos Meninos Desvalidos, onde iniciou seus estudos
musicais na clarineta e integrou a banda de música do educandário. Em 1883, Braga
ingressou no Imperial Conservatório de Música. Ao terminar o curso foi nomeado,
em 1887, professor do Asilo onde estudara.