Você está na página 1de 4

Uma análise de O Fantasma da Ópera a partir dos estudos de Jeanne

Marie Gagnebin

David Tyler Amaral Costa1

Introdução

Esse trabalho tem como objetivo analisar a obra O Fantasma da Ópera como
um todo em sua primeira parte e em seguida se aprofundar em alguns aspectos que
mais chamam atenção no livro de Gaston Leroux como a falta de cenas de interlúdio, a
construção da tensão no decorrer dos capítulos e o ser místico e humano que era o
Fantasma Erik. Tudo isso à luz dos ensaios sobre Walter Benjamin, Limiar, Aura e
Rememoração, de Jeanne Marie Gagnebin.

1
Aluno de Letras inglês da UNIR
O Fantasma da Ópera

A obra de Gaston Leroux escrita em 1909 apresenta uma história de amor, tensão e
mistério. O romance gira em torno da cantora Christine, do Conde Raoul e do próprio fantasma
da ópera, Erik. O livro é narrado principalmente por Raoul que tenta resolver o mistério do
fantasma para libertar sua amada Christine. Dessa forma, acompanhamos a história como se o
conde quisesse fazer com que o leitor acredite nele, tentando trazer sentido aos mistérios e aos
acontecimentos impossíveis que lhe ocorreram, como um relato de amor e loucura.

A construção do fantasma

Como dito anteriormente, a obra é narrada por Raoul, quase que como um relato
direto para o leitor, que tenta convencer a todos de suas experiências vividas. Gaston
desenvolve esse romance contando apenas o necessário e o mais importante para que a
história seja crível. Esse modelo acarreta na falta de cenas de interlúdio, o limiar entre
as cenas mais importantes.
É raro ver momentos de descanso ou conversas vagas, ou então descrições
detalhadas do cenário ou então de figurantes. Gagnebin fala sobre a falta desse limiar,
da fase de transição que foi se perdendo no decorrer do tempo, mas que não deve ser
considerado como exatamente como um defeito, e essa obra é um excelente exemplo
disso. A falta desse limiar, dessas cenas de transição, é um ponto muito importante para
a construção da tensão na obra.
Raoul relata apenas os pontos chaves da investigação, isso faz com que o leitor
fique cada vez mais imerso na vida daquele personagem. A agonia, o ódio, o desespero,
tudo fica mais aflorado uma vez que os sentimentos emergem constantemente em meio
às situações narradas. Leroux consegue com maestria prender o leitor e deixa-lo imerso
no mistério do fantasma.
Um ponto muito importante é que durante o desenrolar dos acontecimentos, o
leitor se encontra tão perdido quanto o conde perante os fatos. A dúvida e a curiosidade
sobre as intenções e a identidade do fantasma que perpetuam durante todo romance
mantêm o clima de medo e tensão sem aderir ao terror em si. O fantasma é
completamente envolto em mistério e magia em suas aparições, o que deixa uma brecha
para questionar os personagens presentes e até a si mesmo sobre o que é ou não real.
Nesse ponto se percebe que não há de fato a falta do limiar, mas sim que o
romance está se desenvolvendo ali mesmo, em uma eterna transição, pois a dúvida se
mantém ali de um acontecimento para o outro. Constantemente Raoul tenta provar para
si e ao leitor que Erik, o fantasma é apenas humano, mas o próprio se questiona varias
vezes durante o livro pois os acontecimentos o fazem duvidar a todo momento de sua
própria sanidade.
O mistério do fantasma nunca foi completamente resolvido e deixa muitas
brechas para que o leitor interprete como preferir. No fim, a espera nesse limiar, ao
atravessar a porta, como ilustra Gagnebin, Gaston apresenta um novo rumo à história,
um fim inesperado, como uma terceira opção, mantendo o mistério mesmo após a morte
de Erik. Leroux simplesmente conduz ao leitor a uma nova visão que sempre esteve ali,
mas que o anseio e a curiosidade nos conduziram para longe disso. O fantasma é um
mistério, e continuará sendo um mistério.
Conclusão

Concluo então que construção de um limiar pode ou não ser benéfica para uma
obra, mas para O Fantasma da Ópera parece ter sido uma excelente decisão. Da mesma
forma que não é fácil encontrar de fato os momentos de transição na obra, era assim que
Raoul se sentia perante sua investigação, como se não estivesse chegando a lugar algum
e Gaston Leroux trabalhou perfeitamente com essa ideia. Todo o processo de tensão e
medo é muito bem construído assim como a condução a um final óbvio, no entanto
inesperado, trazendo satisfação ao leitor mesmo que não tenha entregado o que era
esperado. Dessa forma, o romance de Leroux é um ótimo exemplo do uso do limiar na
construção da tensão e do medo, prendendo a atenção do leitor e o deixando sempre
imerso nessa história de puro mistério.
Referências Bibliográficas

LEROUX, Gaston. O Fantasma da Ópera. 1° ed. Jandira, SP. Principis, 2020.

QUEIROZ, L. M. Limiar, Aura e Rememoração: ensaios sobre Walter Benjamin, de


Jeanne Marie Gagnebin. Remate de Males, Campinas, SP, v. 36, n. 2, p. 647–651,
2016. DOI: 10.20396/remate.v36i2.8647923. Disponível em:
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/remate/article/view/8647923.
Acesso em: 12 dez. 2022.

Você também pode gostar