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REVISITANDO O CONCEITO DE CÂNONE:

UMA LEITURA A PARTIR DE “POR QUE LER OS CLÁSSICOS”


DE ITALO CALVINO

Asafe Lima Moreno1

Introdução

Esta leitura revisitando o conceito de cânone a partir do livro de Italo Calvino


“Por Que Ler Os Clássicos” é uma análise metalinguística que pressupõe o próprio
conceito de cânone e como isso reverbera no modo como as pessoas leem obras
canônicas e como isso pode definir “grandes leitores” (CALVINO, 2007, p. 9).
O objetivo desse artigo é propor uma reflexão sobre como as obras clássicas
podem influenciar o apreço pela leitura e como essa ‘liberdade de leitura’ pode
questionar os significados de clássico que definem alguns leitores na sociedade
contemporânea.

Desenvolvimento

O autor do livro começa com uma definição “Os clássicos são aqueles livros dos
quais, em geral, se ouve dizer: ‘Estou relendo…’ e nunca ‘Estou lendo’.” (CALVINO,
2007, p. 9). Essa definição pode ser interpretada como uma forma de explicitar que
quando se lê um clássico ele tende a ser questionador, enigmático a ponto de que tal
obra seja lida várias vezes para ter uma análise aprofundada ou inúmeras releituras para
diferentes entendimentos a partir de cada leitura.
Algumas das afirmações são polêmicas, principalmente quando se fala sobre os
jovens que não tem um encontro primeiro com obras clássicas, assim dizendo que
pessoas mais velhas tendem a lerem primeiro os clássicos por parte da vivência social
em que estão inseridos.
O autor do livro comenta sobre a hipocrisia que a sociedade criou em relação à
leitura de um cânone, e como uma pessoa que não leu tal obra fosse menos leitora ou

1
Estudante de Letras — Inglês da UNIR e Bolsista de Iniciação Científica PIBIC (UNIR)
não pudesse ter o título de leitor, sendo que quando uma pessoa lê uma obra (não
clássica) ela é uma leitora, porém parte da ‘elite literária’ não se conforma perante esse
fato quando percebe que uma pessoa não deixa de ser uma intelectual simplesmente por
não ter lido um cânone literário. Essa prerrogativa errônea só explicita a certeza que
existe um prestígio em comentar, dialogar e analisar essas obras clássicas quando é
pertinente, mas deveria ser, na minha opinião, um motivo intelectual e de repertório
sociocultural ler essas obras, e não pelo simples prestígio de saber sobre tal obra leva as
pessoas ao vazio intelectual e emocional da leitura de um cânone.

Dizem-se clássicos aqueles livros que constituem uma riqueza para quem os
tenha lido e amado; mas constituem uma riqueza não menor para quem se
reserva a sorte de lê-los pela primeira vez nas melhores condições para
apreciá-los. (CALVINO, 2007, p 10.)

Essa afirmação testifica que não importa se o leitor (eu passo a chamar as
pessoas de leitores/ leitoras pelo fato de que esse ‘título’ é para todos.) lerá pela
primeira vez com tal conhecimento a obra e se essa leitura será mais valiosa do que a
leitura de outros com menos saber sobre o cânone, mas é sobre a nova perspectiva de
que há uma riqueza quando se ler pela primeira vez uma obra na sua melhor condição,
isso significa que a absorção desse clássico será experimentado de várias formas e
jeitos, porém com singularidades, assim colocando ser possível que existam leitores
novos perante os cânones que irão ‘apaixonar’ por essas obras.
Existe um ponto que o autor coloca que é sobre a diferença de leitores jovens de
leitores com uma idade ‘madura’ que a primeira leitura de um clássico quando jovem é
Epifânio onde existe uma descoberta sobre o mundo devido a sua jovialidade,
contrapondo isso, quando se tem uma primeira leitura de um cânone na idade mais
avançada tal experiência se perpetua complementarmente as vivências do leitor onde se
há um encaixe perante os desafios enfrentados em vida que ou são representados nos
clássicos, ou são esclarecidos com a leitura.
Partindo do ponto onde um leitor assíduo de clássicos desde a juventude deve
reler esses livros no presente, é uma forma de reviver as experiências com aquela
leitura, mas entender novos significados da obra que antes quando jovem não havia
percebido. Existe uma citação no livro onde o autor coloca como um fato (do qual
compartilho do mesmo pensamento) de que a leitura de uma obra feita em um
determinado tempo tem um efeito, significado diferente, quando se lê tempos depois
aquela perspectiva já não é a mesma, pois a história vivida naquele presente anterior era
uma, mas no presente atual é outra.
A sociedade necessita de clássicos para basear as suas obras seguintes, das
gerações seguintes, isso faz com que uma releitura tenha um novo panorama sobre
aquela realidade. No entanto, essas releituras impactam no convívio social as
interpretações de diferentes gerações, como um clássico em forma escrita sendo
adaptado para a indústria cinematográfica de outra forma quando se passou anos da
criação daquela obra. Isso testifica que existe uma importância sobre a leitura de
cânones, porém, podendo usar uma nova perspectiva sobre tal clássico.
Alguns autores de clássicos foram escrevendo outras histórias, mas de forma
enfática só conhecidos pelas obras mais famosas, em contrapartida, algumas obras
foram escritas para serem lidas, e relidas com um final exposto, mas existem (na sua
maioria) obras das quais algo sempre será novo com a nova leitura, “Um clássico é um
livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer” (CALVINO, 2007, p. 11).
Essa afirmação permite com que nós os leitores estejamos engajados com as releituras
desses clássicos, pois como foi dito anteriormente, a diferença de uma leitura feita em
um determinado tempo difere do posterior, que significa que como o próprio autor disse,
um livro clássico sempre terá algo a se dizer.
Outro apontamento do livro mostra que existe a importância da leitura da obra
na sua forma original, assim evitando outras interpretações ou comentários negativos
sobre a obra. É notório que o sistema educacional tem a influência de educar sobre a
leitura do original, pois como o autor disse “[…] Nenhum livro que fala de outro livro
diz mais sobre o livro em questão; mas fazem de tudo para que se acredite no
contrário.” (CALVINO, 2007, p. 12). Isso engloba o fato de que a originalidade de uma
obra clássica não pode ser lida com intermediários, pois isso afastaria o leitor da
primeira intenção que o autor de uma obra clássica quis passar para o seu leitor.
Conclusão

Por fim, o livro segue exemplificando com algumas teorias e afirmações sobre a
leitura de obras canônicas, que faz com que o leitor do livro se questione sobre as
importâncias da leitura assídua de uma obra clássica. Portanto, exponho que o livro ‘Por
Que Ler Os Clássicos’ é uma obra ‘clássica’ para os leitores que se questionam sobre a
importância dessas leituras, sendo que é possível fazer leitura de cânone para o
crescimento intelectual do leitor e para o aprendizado da própria existência, mas não
colocando como um dogma a ser seguido sobre ter que ler um cânone, mas como uma
escolha sem pressa de uma leitura saudável de uma obra clássica.

Referências Bibliográficas

CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. Tradução: Nilson Moulin — São Paulo:
Companhia das Letras, 1993.

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