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Sistemática:
Eclesiologia
2010
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A IGREJA (Eclesiologia)
Esta estrutura e organização humana é o que é mais visível e, portanto, muitas vezes é
conhecida como igreja visível. A igreja visível pode ser falha, pois é humana. Ela também
não tem a mesma composição da igreja bíblica, pois na igreja visível existem pessoas que
não são realmente convertidas. Este é o fator que traz confusão aos olhos do mundo, pois
para a sociedade as duas coisas se confundem.
A unidade da igreja
Uma das características da igreja é a unidade. O ideal bíblico da igreja é praticar e exibir a
unidade: Jo 17:20-23; Ef 4:1-6; At 4:32; Fp 2:2. Existe uma unanimidade em propósito e em
ação, mas não uma uniformidade.
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ERICKSON, p. 438.
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ERICKSON, p. 438.
Até que ponto podemos exibir unidade e a partir de que ponto devemos nos separar
daqueles que se dizem cristãos? Esta é uma pergunta de muito debate e de pontos de vista
extremamente diversos.
1. Igreja como povo de Deus. No Antigo Testamento, Israel, uma etnia criada por Deus,
aparece como sendo o seu povo (Dt 32:9-10). Ainda no Antigo Testamento Deus nos
informa que o seu povo futuramente seria mais abrangente do que só Israel (Os
1:10). No Novo Testamento o povo de Deus não é identificado com alguma raça ou
nação, mas com os salvos, ou a igreja: 1 Pe 2:9-10; Rm 9:24-26; Tito 2:14 (neste caso,
povo de Cristo). O povo de Deus é chamado por Ele e é a Sua propriedade. “O
conceito de Israel e a igreja como povo de Deus contém algumas implicações. Deus
se orgulha deles. Ele provê cuidado e proteção a seu povo; ele o mantém çomo a
menina dos olhos’ (Dt 32:10)... ele espera que seja seu povo sem reservas e
fidelidade total”4.
2. Igreja como corpo de Cristo. Talvez a figura mais usada é a da igreja como o corpo de
Cristo. A referência mais completa é a de 1 Co 12:12-31, mas encontramos esta
figura também em Ef 1:19-23; Cl 1:18; 2:19.
Implicações:
o “Cristo é a cabeça desse corpo (Cl 1:18) do qual os crentes, como indivíduos,
são membros ou partes... Os crentes, unidos a ele, estão sendo alimentados
por meio dele, a cabeça a que estão ligados. Sendo a cabeça do corpo, ele
também governa a igreja”5.
o A igreja não tem vida ou existência independente de Cristo. Uma igreja sem
cabeça não é igreja. Seus membros permanecem em Cristo e encontram sua
vida nele. A igreja existe para cumprir a vontade do Senhor no poder do
Espírito Santo.
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ERICKSON, p. 440.
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ERICKSON, p. 441.
3. Igreja como noiva de Cristo (Ef 5:23-33; 2 Co 11:2; Ap 19:7-9). O casamento é visto
como um reflexo do relacionamento de Cristo com a sua igreja.
Implicações:
o A igreja é submissa a Cristo como a esposa é submissa a seu marido.
o Cristo ama a igreja (sua noiva) com amor sacrificial como um marido deve
amar sua esposa.
o Cristo deseja ver a sua noiva pura como o marido a sua esposa. A igreja é
composta por seres humanos imperfeitos. Ela não alcançará perfeita
santificação ou glorificação até o retorno do seu Senhor, o noivo.
o O relacionamento é permanente.
o O relacionamento é íntimo.
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ERICKSON, p. 442.
5. Igreja como rebanho de Cristo (At 20:28; 1 Pe 5:1-4; Jo 10:16: 21:15-17; Hb 13:20
Jesus é o Bom Pastor – Jo 10:14).
4. É o Espírito Santo que transmite poder para a igreja (At 1:8). Ele fortifica e capacita
os cristãos a pregarem com intrepidez e a viverem a vida cristã.
5. Ele distribui os dons espirituais para que os membros sejam eficazes no corpo de
Cristo: 1 Co 12:5, 7.
As funções da Igreja
A igreja funciona em três direções: para cima (em direção a Deus), As funções da
para dentro e para fora. Ela precisa caminhar constantemente em igreja a fazem
todas essas direções ao mesmo tempo. A igreja não será saudável se caminhar para
avançar em somente uma direção. Estas direções não são cima (em
contraditórias, mas complementares e interdependentes. Exemplo: direção a Deus),
qual é mais importante? Comer, beber ou dormir? A resposta é que para dentro e
todas são importantes e precisa existir um equilíbrio entre os três, para fora.
assim como a igreja precisa ter equilíbrio em caminhar nas três
direções simultaneamente para ser uma igreja saudável.
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ERICKSON, p. 451.
2. Adoração a Deus (culto, louvor, agradecimento, oração, contribuição, viver uma vida
agradável a Deus): Jo 4:23; Fp 3:3; Ef 5:19; Cl 3:16. Somos recomendados a não
negligenciar a reunião coletiva para adoração: Hb 10:25.
4. Manter, preservar e proteger a verdade de Deus: At. 20:27; 2 Tm 2:2; 1 Tm 3:15. Esta
função caminha em todas as 3 direções. É necessário promovermos a verdade
dentro da igreja, defendendo-a fora da igreja e declarando-a a Deus em adoração.
Formas de governo
Tentativas de desenvolver para a igreja uma estrutura de governo que esteja de acordo com
a autoridade da Bíblia encontram dificuldades em dois pontos. O primeiro é a falta de
material didático. Não há exposição prescritiva sobre como deve ser o governo da igreja.
Quando passamos a examinar as passagens descritivas, encontramos um segundo
problema. Há tantas variações nas descrições das igrejas do Novo Testamento, que não
conseguimos descobrir um padrão normativo. Isto pode indicar que não existe uma forma
de governo errada e uma certa.
Pode haver variações. No entanto, certos princípios precisam ser levados em consideração.
Um destes princípios é o valor da ordem no culto e na igreja. É desejável que certas pessoas
sejam responsáveis por ministérios específicos. Outro princípio é o sacerdócio de todos os
crentes; cada um é capaz de se relacionar diretamente com Deus. Finalmente, a idéia de
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ERICKSON, p. 446.
que cada pessoa é importante para todo o corpo está implícita em todo o Novo Testamento
e explícita em passagens como Rm 12 e 1 Co 12.
4. Lista de membros e outras listas existiam na igreja: AT 2:47; 1 Tm 5:9 (as viúvas que
poderiam ser incluídas em uma lista da igreja de viúvas que seriam ajudadas pela
igreja); 1 Co 5:1-13 (a disciplina pressupõem uma diferença entre quem era e quem
não era membro da igreja.
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ERICKSON, p. 453.
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ERICKSON, p. 454.
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ERICKSON, p. 456.
local, regional, estadual e nacional. Estas associações não têm poder de imposição
sobre a igreja local. A autoridade flui de baixo para cima. A ordenação de pastores é
iniciada a pedido da igreja local e auxiliada pela associação da qual faz parte a igreja.
4. Pastores – existem 3 palavras diferentes no grego que são usadas para designar um
mesmo cargo: episkopooi (equivalente a “bispo” ou “supervisor”: 1 Tm 3:1),
presbuteroi (equivalente a “presbítero” ou “ancião”: 1 Tm 5:17, Tt 1:5) e poimanate
(significa “alimentar” ou “pastorear” = “pastor”: 1 Pedro 5:2). Paulo exorta os bispos
de Éfeso a pastorear o rebanho: At 20:28. Em Tt 1:5 e 5:6 os termos presbítero e
bispo parecem ser usados de forma intercambiável. As qualificações para pastor se
encontram em 1 Tm 3:1-7 e Tt 1:5-9.
transmite a graça (benção) de Deus ao crente. Esta graça estimula e sustenta a fé fraca,
transmitindo força e capacidade ao crente.
As igrejas batistas entendem que Jesus instituiu ordenanças (ritos simbólicos), enquanto
que igrejas reformadas, presbiterianas e luteranas (entre outras) entendem que Jesus
instituiu sacramentos (meios de transmissão de graça). Todos concordam que uma
ordenança (ou sacramento) tem que ter sido instituída pelo próprio Senhor Jesus Cristo para
ser perpetuamente observada pela Igreja.
Batismo
Praticamente “todas as igrejas cristãs praticam o rito do batismo. Em grande parte, elas o
fazem porque Jesus em sua comissão final”18 o ordenou – Mt. 28:19. “Existe uma
concordância quase universal de que o batismo relaciona-se de alguma forma com o início
da vida cristã; é a iniciação da pessoa tanto na igreja universal, invisível, como na igreja
local, visível. Mesmo assim há divergências consideráveis a respeito do batismo”19.
2. O batismo como sinal e selo da aliança – “A posição adotada pelos teólogos reformados
e presbiterianos tradicionais está diretamente ligada ao conceito de aliança. Eles vêem o
batismo como um sinal e selo da concretização divina da aliança estabelecida com a raça
humana. Assim como a circuncisão no Antigo Testamento, o batismo nos dá a certeza
das promessas de Deus”23 (uma circuncisão espiritual). “A aliança, a promessa divina da
graça, é a base, a fonte, de justificação e salvação; o batismo é o ato de fé pelo qual
somos introduzidos nessa aliança e, portanto, à vivência de seus benefícios. O ato do
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ERICKSON, p. 459.
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ERICKSON, p. 461-462.
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5. O batismo é uma imagem da morte para a vida antiga de pecado e a ressurreição para
uma nova vida em Cristo (o novo nascimento).
7. O modo bíblico de batismo é por imersão. A própria palavra batismo vem do grego
baptizo, que significa mergulhar ou imergir na água. Jesus (Mt 3:16) e o eunuco (At
8:39) entraram dentro da água para serem batizados. João batizava em Enom “porque
havia ali muitas águas” (Jo 3:23). Este é o método que melhor representa o que Paulo
estava falando em Rm 6:3-5.
A Ceia do Senhor
Jesus Cristo estabeleceu este rito como uma forma da Igreja continuamente comemorar a
sua morte. Praticamente todos os ramos do cristianismo a praticam. Mas, por outro lado, há
muitas interpretações deste rito que criam separação entre vários grupos cristãos.
3. A concepção reformada (calvinista) – “Cristo está Ceia como união com Cristo:
presente na ceia do Senhor, mas não em forma física o pão e o vinho contêm
ou corpórea. ...sua presença no sacramento é espiritualmente o corpo e o
espiritual ou dinâmica. [...] O resplendor do Espírito sangue de Cristo.
nos transmite a comunhão da carne e do sangue de
Cristo. [...] ...os verdadeiros comungantes são espiritualmente nutridos quando o
Espírito Santo lhes dá uma relação mais estreita com a pessoa de Cristo”34. Portanto, o
crente se aproxima mais de Cristo através da ceia e recebe de novo, e de modo
contínuo, a vitalidade de Cristo. Além disto, a ceia do Senhor “sela o amor de Cristo para
os crentes, dando-lhes a certeza de que todas as promessas da aliança e as riquezas do
evangelho são deles por doação divina. Em troca de um direito pessoal e de uma
verdadeira posse de toda essa riqueza, os crentes expressam fé em Cristo como Salvador
e prestam obediência a ele como Senhor e Rei”35. O pão e o vinho contêm
espiritualmente o corpo e o sangue de Cristo.
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ERICKSON, p. 468.
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ERICKSON, p. 469.
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ERICKSON, p. 470.
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5. “A ceia do Senhor foi confiada à Igreja e, pelo que se presume, deve ser ministrada por
ela. Entende-se, portanto, que seja justo que as pessoas escolhidas e empossadas pela
igreja para supervisionar e dirigir seus cultos de louvor também supervisionem a ceia do
Senhor”38.
6. O único pré-requisito para que uma pessoa participe da ceia do Senhor é ter um
relacionamento pessoal com Deus e capaz de examinar a si mesmo (1 Co 11:28). Os que
estão sob disciplina e, portanto, afastados do corpo (1 Co 5:1-5) devem também ser
proibidos de participar da ceia do Senhor.
7. Não temos informações bíblicas sobre a freqüência em que se deve comemorar a ceia
do Senhor. Portanto, a freqüência pode variar de uma igreja à outra. Ela “deve ser
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ERICKSON, p. 471.
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ERICKSON, p. 473.
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ERICKSON, p. 473.
observada numa freqüência suficiente para evitar intervalos longos entre os períodos de
reflexão sobre as verdades transmitidas por ela, mas não com tanta freqüência que a
torne trivial ou comum”39.
Base bíblica:
1. “O lavar dos pés é mencionado duas vezes no Novo Testamento”40: João 13:1-20 (a
referência principal) e 1 Tm 5:10.
2. O evangelho de João foi escrito muitos anos após os outros 3 evangelhos. É o único a
não mencionar a instituição da ceia do Senhor e o único a mencionar a instituição do
lavar dos pés.
3. O que Jesus fez no cenáculo foi mais do que um costume da época: a) Jesus era o
mestre, não o servo; b) o lavar dos pés aconteceu depois da refeição, não ao chegarem,
como seria de costume; c) as objeções de Pedro eram culturais, a resposta de Jesus
mostrou que suas intenções eram espirituais e d) Jesus diz a Pedro que se ele não se
submeter, não terá parte (comunhão) com ele. O ato de Jesus foi deliberadamente
contracultural.
4. No verso 8 Jesus diz que se Pedro não se submeter ele não teria parte (comunhão) com
ele. “A palavra sugere algo necessário para o relacionamento ou para a comunhão”41. “O
lavar dos pés nos lembra do nosso relacionamento com o Salvador e diz respeito
diretamente ao bem estar espiritual do crente”42.
5. No verso 14 lemos “vós deveis lavar os pés uns dos outros”. Este verbo dever se
encontra no presente contínuo, dando a idéia de que é uma ação contínua. Quando
visto em contexto com o v. 15, fica claro que Jesus tinha a intenção que os discípulos
deveriam continuar a prática, sendo, pois, uma ordenança.
6. A ordem de Jesus foi precedida por uma demonstração literal de como deveria ser
praticada. Portanto, os discípulos teriam entendido a ordenança como sendo literal.
7. Em 1 Tm 5:10 vemos uma lista de requisitos para que uma viúva fosse colocada em uma
lista da igreja para receber ajuda. Todos são tarefas de serviço. Mas o lavar dos pés é
dos santos, não atos de caridade ou humildade para a população em geral.
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ERICKSON, p. 474.
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DAVIDSON, William F. e PICIRILLI, Robert E., Os Batistas Livres e o Lavar dos Pés dos Santos. Trad.
Rejane Eagleton. Ed. Martha Jalkauskas. Barbacena: Missão Batista Livre do Brasil, 2008, p. 7.
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DAVIDSON, p. 8.
42
DAVIDSON, p. 9.
o Uma lição na necessidade de comunhão contínua com Deus (v. 8, 10, 17).
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DAVIDSON, p. 25.