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Teologia

Sistemática:

Eclesiologia

Pr. Kenneth Eagleton

(A apostila segue a exposição feita pelo livro Introdução à Teologia Sistemática


de Millard Erickson, Edições Vida Nova, com algumas modificações).

Escola Teológica Batista Livre


(ETBL)
Campinas, SP

2010
1

A IGREJA (Eclesiologia)

Eclesiologia é o estudo do que as Escrituras ensinam com respeito à


Eclesiologia é a
igreja (ekklesia). Portanto, é a doutrina da igreja.
doutrina bíblica
A sua natureza sobre a Igreja.
A salvação é um assunto que diz respeito aos indivíduos. A igreja diz respeito à comunhão
de um grupo de crentes. No livro de Atos vemos que um indivíduo convertido passa
naturalmente a fazer parte de uma comunidade cristã.

Significado básico de “igreja”


A igreja é um fenômeno do Novo Testamento. O sentido da palavra A palavra
grega ekklesia (igreja) é “uma assembléia dos cidadãos de uma “igreja” tem dois
localidade”1. O uso no Novo Testamento tem dois sentidos: usos no Novo
1. O conjunto de “todos os crentes em Cristo em todas as Testamento: o
épocas e lugares. Este é o sentido que Jesus dá em Mt conjunto de
16:18”2. Paulo também dá esse sentido quando usa a figura
todos os crentes
do corpo de Cristo (Ef 1:22-23; 4:4; 5:23). Esse é um sentido
em Cristo (igreja
genérico, conhecido também como Igreja universal.
universal) e o
2. O segundo sentido “refere-se a um grupo de crentes em conjunto de
dada localidade geográfica. Este é o sentido claro em textos crentes que se
como 1 Co 1:2 e 1 Ts 1:1”3. Esse é o sentido usado com reúnem em um
maior freqüência no Novo Testamento; conhecido também local específico
como igreja local.
(igreja local).
Em nenhum lugar do Novo Testamento a igreja é descrita como uma organização humana. É
óbvio que se seres humanos vão se congregar e trabalhar juntos, precisa haver alguma
organização e estrutura. Mas não devemos confundir esta estrutura com o conceito bíblico
de Igreja.

Esta estrutura e organização humana é o que é mais visível e, portanto, muitas vezes é
conhecida como igreja visível. A igreja visível pode ser falha, pois é humana. Ela também
não tem a mesma composição da igreja bíblica, pois na igreja visível existem pessoas que
não são realmente convertidas. Este é o fator que traz confusão aos olhos do mundo, pois
para a sociedade as duas coisas se confundem.

A unidade da igreja
Uma das características da igreja é a unidade. O ideal bíblico da igreja é praticar e exibir a
unidade: Jo 17:20-23; Ef 4:1-6; At 4:32; Fp 2:2. Existe uma unanimidade em propósito e em
ação, mas não uma uniformidade.

1
ERICKSON, p. 438.
2
ERICKSON, p. 438.
3
ERICKSON, p. 438.

Teologia Sistemática 4 Prof.: Pr. Kenneth Eagleton


2

Até que ponto podemos exibir unidade e a partir de que ponto devemos nos separar
daqueles que se dizem cristãos? Esta é uma pergunta de muito debate e de pontos de vista
extremamente diversos.

Figuras bíblicas da igreja


O Novo Testamento não nos dá uma definição precisa do Figuras bíblicas da igreja
que é a igreja, mas ela nos dá várias figuras que nos incluem: povo de Deus,
ajudam a entender a natureza da igreja. Algumas destas corpo de Cristo, noiva de
figuras são: o povo de Deus, o corpo de Cristo, a noiva de Cristo, sacerdócio e
Cristo, sacerdócio e santuário espiritual, rebanho de Cristo rebanho de Cristo.
e outras.

1. Igreja como povo de Deus. No Antigo Testamento, Israel, uma etnia criada por Deus,
aparece como sendo o seu povo (Dt 32:9-10). Ainda no Antigo Testamento Deus nos
informa que o seu povo futuramente seria mais abrangente do que só Israel (Os
1:10). No Novo Testamento o povo de Deus não é identificado com alguma raça ou
nação, mas com os salvos, ou a igreja: 1 Pe 2:9-10; Rm 9:24-26; Tito 2:14 (neste caso,
povo de Cristo). O povo de Deus é chamado por Ele e é a Sua propriedade. “O
conceito de Israel e a igreja como povo de Deus contém algumas implicações. Deus
se orgulha deles. Ele provê cuidado e proteção a seu povo; ele o mantém çomo a
menina dos olhos’ (Dt 32:10)... ele espera que seja seu povo sem reservas e
fidelidade total”4.

2. Igreja como corpo de Cristo. Talvez a figura mais usada é a da igreja como o corpo de
Cristo. A referência mais completa é a de 1 Co 12:12-31, mas encontramos esta
figura também em Ef 1:19-23; Cl 1:18; 2:19.

Implicações:
o “Cristo é a cabeça desse corpo (Cl 1:18) do qual os crentes, como indivíduos,
são membros ou partes... Os crentes, unidos a ele, estão sendo alimentados
por meio dele, a cabeça a que estão ligados. Sendo a cabeça do corpo, ele
também governa a igreja”5.

o A igreja não tem vida ou existência independente de Cristo. Uma igreja sem
cabeça não é igreja. Seus membros permanecem em Cristo e encontram sua
vida nele. A igreja existe para cumprir a vontade do Senhor no poder do
Espírito Santo.

o A igreja é um organismo vivo, dinâmico, que cresce e se movimenta. O seu


crescimento deve ser como organismo. A ênfase não é o crescimento como
organização.

o Os membros da igreja são um corpo, interdependentes uns dos outros. Existe


uma ligação mútua. Não existe vida cristã isolada, solitária. O Espírito Santo é
a “massa” ou a “cola” que une os membros.

4
ERICKSON, p. 440.
5
ERICKSON, p. 441.

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o O corpo de Cristo é universal. Não existe acepção de pessoas. Não importa o


sexo, a raça, a cor, o idioma, a cultura e nem a idade. Existe uma verdadeira
união (Cl 3:11; Rm 11:25, 26, 32; Gl 3:28; Ef 2;15).

o Existe uma união, mas não uniformidade. Há diversidade de dons, de talentos


e de funções; mas tudo isso é para trazer edificação ao corpo de Cristo (Ef
4:11-16).

o “Sendo o corpo de Cristo, a igreja é a extensão de seu ministério. Não


devemos levar essa idéia longe demais”6, mas devemos olhar para a Grande
Comissão de Cristo como uma extensão do seu ministério. A igreja é a
continuação da presença e do ministério do Senhor no mundo.

3. Igreja como noiva de Cristo (Ef 5:23-33; 2 Co 11:2; Ap 19:7-9). O casamento é visto
como um reflexo do relacionamento de Cristo com a sua igreja.

Implicações:
o A igreja é submissa a Cristo como a esposa é submissa a seu marido.

o Cristo ama a igreja (sua noiva) com amor sacrificial como um marido deve
amar sua esposa.

o Cristo cuida da sua igreja como um marido de sua esposa.

o Cristo deseja ver a sua noiva pura como o marido a sua esposa. A igreja é
composta por seres humanos imperfeitos. Ela não alcançará perfeita
santificação ou glorificação até o retorno do seu Senhor, o noivo.

o O relacionamento é permanente.

o O relacionamento é íntimo.

o A igreja é a noiva de Cristo. No futuro haverá um casamento (Ap. 19:7-9) – as


bodas do Cordeiro.

4. Igreja como sacerdócio (1 Pe 2:5, 9-10; Ap 1:6; 5:10).


o A igreja é separada e santificada, como os sacerdotes.

o A igreja oferece sacrifícios a Deus.

o A igreja tem um ministério de intercessão, pois tem acesso direto a Deus: 1


Tm 2:1-2.

o Somos também santuário de Deus – relacionado com o sacerdócio: 1 Pe 2:5,


20-22; 1 Co 3:16; 6:19; 2 Co 6:16; Ap 3:12.

6
ERICKSON, p. 442.

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4

5. Igreja como rebanho de Cristo (At 20:28; 1 Pe 5:1-4; Jo 10:16: 21:15-17; Hb 13:20
Jesus é o Bom Pastor – Jo 10:14).

O Espírito Santo e a Igreja


O Espírito Santo tem uma atuação grande e muito importante na igreja:
1. Ele batiza no corpo de Cristo os que se convertem – 1 Co 12:13.

2. Ele une os cristãos no corpo – At 4:32.

3. Ele orienta e dá direção – Rm 8:14.

4. É o Espírito Santo que transmite poder para a igreja (At 1:8). Ele fortifica e capacita
os cristãos a pregarem com intrepidez e a viverem a vida cristã.

5. Ele distribui os dons espirituais para que os membros sejam eficazes no corpo de
Cristo: 1 Co 12:5, 7.

As funções da Igreja
A igreja funciona em três direções: para cima (em direção a Deus), As funções da
para dentro e para fora. Ela precisa caminhar constantemente em igreja a fazem
todas essas direções ao mesmo tempo. A igreja não será saudável se caminhar para
avançar em somente uma direção. Estas direções não são cima (em
contraditórias, mas complementares e interdependentes. Exemplo: direção a Deus),
qual é mais importante? Comer, beber ou dormir? A resposta é que para dentro e
todas são importantes e precisa existir um equilíbrio entre os três, para fora.
assim como a igreja precisa ter equilíbrio em caminhar nas três
direções simultaneamente para ser uma igreja saudável.

O evangelho como centro do ministério


“É importante estudar atentamente o fator que dá forma básica a tudo o que a igreja faz, o
elemento que se coloca no centro de todas as suas funções, a saber, o evangelho, as boas
novas”. Jesus pregou o evangelho (Mc 1:14-15) e “anunciou que foi ungido especificamente
para pregá-lo; mais tarde, ele encarregou os apóstolos de continuarem difundindo o
evangelho. Sem dúvida, portanto, o evangelho está na raiz de tudo o que a igreja faz”7.

Qual é o conteúdo do evangelho? O essencial do evangelho é Jesus Cristo como o Filho de


Deus, sua humanidade genuína, sua morte pelos nossos pecados, seu sepultamento,
ressurreição, aparecimentos subseqüentes e vinda futura para julgamento e como isto tudo
pode nos salvar e mudar a nossa vida. O evangelho é essencial para a salvação do homem:
Rm 1:16-17. Este evangelho foi confiado à Igreja para a sua divulgação.

Funções da igreja ao caminhar para cima, em direção a Deus:


1. Glorificar a Deus. A função mais importante da igreja é glorificar a Deus: Ef 1:5-6, 12;
3:20-21.

7
ERICKSON, p. 451.

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5

2. Adoração a Deus (culto, louvor, agradecimento, oração, contribuição, viver uma vida
agradável a Deus): Jo 4:23; Fp 3:3; Ef 5:19; Cl 3:16. Somos recomendados a não
negligenciar a reunião coletiva para adoração: Hb 10:25.

3. Comunhão com Deus: 1 Jo 1:3; Jo 17:24; Ap 21:3.

4. Manter, preservar e proteger a verdade de Deus: At. 20:27; 2 Tm 2:2; 1 Tm 3:15. Esta
função caminha em todas as 3 direções. É necessário promovermos a verdade
dentro da igreja, defendendo-a fora da igreja e declarando-a a Deus em adoração.

Funções internas da igreja:


Atividades centradas nos crentes realizadas dentro da igreja:
1. Comunhão e comunidade entre os crentes: 1 Jo 1:3; At 4:32; Jo 13:3; Sl 133:1; 1 Co
12:26 (compartilhamento da dor e da alegria).

2. Edificação dos crentes: Ef 4:11-16; Jd 20. A distribuição de dons a cada membro da


igreja visa a edificação de todo o corpo (não é para satisfação pessoal). “Embora haja
diversidade de dons, não deve haver divisões dentro do corpo. Alguns desses dons
são mais notáveis que outros, mas nem por isso são mais importantes”8. Na
discussão de Paulo sobre certos dons controvertidos, ele levanta a questão da
edificação (1 Co 14:4-5, 12, 17, 26). A importância de edificar os outros quando uma
pessoa exercita os dons controvertidos parece ser o critério usado por Paulo.

3. Ensino: Mt 28:20. Um dos dons para a igreja é pastores e mestres (professores), Ef


4:11, visando preparar e equipar o povo de Deus para o serviço. A instrução pode ser
através da pregação, do ensino feito em salas de aula, instrução em pequenos
grupos, discipulado individual e muitas outras formas.

4. Promover ordem e conduta apropriada: 1 Tm 3:14-15; 1 Co 14:40; Cl 2:5. É função da


igreja promover um comportamento bíblico de seus membros.

Funções externas da igreja:


Estas razões são talvez a razão maior pela qual Deus ainda permite que permaneçamos
neste mundo após a nossa conversão.
1. Mostrar a glória de Deus ao mundo: 1 Pe 2:2, 9.

2. Evangelismo e missões transculturais. Esta função envolve proclamação da Palavra


com o propósito de levar as pessoas à conversão. A igreja é a ferramenta principal de
Deus para alcançar um mundo perdido: Mt 28:19-20; Jo 20:21; At 1:8: 4:19-20. A
Grande Comissão nos mostra como devemos executar o evangelismo. Em Mt 28:19-
20, temos 4 formas verbais:
o Indo – as palavras “ide” ou “vão” no português são a tradução de um verbo
no grego que é um particípio presente contínuo; portanto, seria melhor
traduzi-lo como indo. Para cumprir a Grande Comissão é preciso “ir”. É
necessário tomarmos a iniciativa de sair do nosso lugar para levar o
evangelho aos outros. Nossa função não é esperar que venham nos procurar.
Temos toda autoridade para fazê-lo (v. 18) como também o poder (At 1:8).
8
ERICKSON, p. 447.

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6

Veja a amplitude da nossa atuação: “todas as nações” (Mt 28:19) e “até os


confins da terra” (At 1:8). “Para a igreja ser fiel ao seu Senhor e lhe alegrar o
coração, deve se esforçar para levar o evangelho a todas as pessoas”9, tanto
as que estão próximas como as que estão longe.

o Fazei discípulos – é a única forma verbal que está no imperativo. É uma


ordem. É a frase mais importante. Nosso objetivo deve ser fazer discípulos.
Não é uma opção, mas sim a própria razão de ser da igreja.

o Batizando-os – o batismo é a forma normal de confessar a Cristo


publicamente.

o Ensinando-os – o ensino é necessário para a instrução, a capacitação, o


fortalecimento e o encorajamento.

3. Obra social. Ministrar às necessidades sociais da sociedade combatendo a fome, a


ignorância, a pobreza e a injustiça. Esta foi uma preocupação de Jesus: Lc 4:18-21;
6:35-36; Mt 25:34-40 – ele curou enfermos, restaurou a função aos que eram cegos
e paralíticos, ressuscitou mortos e defendeu as crianças, as viúvas e os injustiçados.
A ação social foi também uma preocupação dos apóstolos: Gl 2:9-10; Tg 1:27. Veja
também Gl 6:10; 1 Tm 6:11; Rm 15:26.

Igreja com propósitos (Rick Warren):


Rick Warren ensina que a Igreja tem 5 propósitos principais:
1. Adoração
2. Comunhão
3. Discipulado (ensino)
4. Evangelismo e missões
5. Serviço

Formas de governo
Tentativas de desenvolver para a igreja uma estrutura de governo que esteja de acordo com
a autoridade da Bíblia encontram dificuldades em dois pontos. O primeiro é a falta de
material didático. Não há exposição prescritiva sobre como deve ser o governo da igreja.
Quando passamos a examinar as passagens descritivas, encontramos um segundo
problema. Há tantas variações nas descrições das igrejas do Novo Testamento, que não
conseguimos descobrir um padrão normativo. Isto pode indicar que não existe uma forma
de governo errada e uma certa.

Pode haver variações. No entanto, certos princípios precisam ser levados em consideração.
Um destes princípios é o valor da ordem no culto e na igreja. É desejável que certas pessoas
sejam responsáveis por ministérios específicos. Outro princípio é o sacerdócio de todos os
crentes; cada um é capaz de se relacionar diretamente com Deus. Finalmente, a idéia de

9
ERICKSON, p. 446.

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7

que cada pessoa é importante para todo o corpo está implícita em todo o Novo Testamento
e explícita em passagens como Rm 12 e 1 Co 12.

Evidencias de organização nas igrejas do Novo Testamento:


1. Existiam oficiais (ou cargos) nas igrejas: Fp 1:1b; At 20:17, 28 (Paulo chamou os
presbíteros da igreja de Éfeso); 1 Tm 3 (qualificações para os cargos de liderança na
igreja).

2. Haviam eleições na igreja: At 6:4-6 (escolha dos diáconos em Jerusalém).

3. Há evidência de cultos regulares de adoração: At 20:27; Hb 10:25.

4. Lista de membros e outras listas existiam na igreja: AT 2:47; 1 Tm 5:9 (as viúvas que
poderiam ser incluídas em uma lista da igreja de viúvas que seriam ajudadas pela
igreja); 1 Co 5:1-13 (a disciplina pressupõem uma diferença entre quem era e quem
não era membro da igreja.

5. Existiam práticas comuns: 1 Co 7:17; 11:16; 14:33.

“A questão do governo da igreja consiste, em última análise, em definir onde reside a


autoridade dentro da igreja e quem deve exercê-la. Na realidade, os defensores das várias
formas de governo da igreja concordam que Deus é a autoridade final. Os pontos em que
diferem estão em suas concepções de como ou por meio de quem ele expressa ou exerce
essa autoridade”10. Existem 3 modelos principais de governo da igreja:

1. Hierárquia – nesta forma de governo


da igreja, “a autoridade reside no
bispo”11. Num primeiro nível de
autoridade existe o pastor, ministro
ou sacerdote de uma igreja local.
Pode também haver neste nível
diáconos e presbíteros. Além desse
nível, porém, há um segundo nível de
ordenação que é a do bispo. O bispo
exerce o poder de Deus, como seu
representante e pastor, governando
um grupo de igrejas e de pastores de
igrejas locais. Entre seus poderes está
a de ordenar ministros ou sacerdotes.
Há variações de uma denominação a
outra quanto ao número de níveis de
bispos. A igreja Metodista só possui
um nível de bispos. “Um pouco mais desenvolvida é a estrutura governamental da
Igreja Anglicana ou Episcopal, enquanto a Igreja Católica Romana possui o sistema

10
ERICKSON, p. 453.
11
ERICKSON, p. 454.

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8

mais completo de hierarquia, com a autoridade investida especialmente no sumo


pontífice, o bispo de Roma, o papa”12. A autoridade flui de cima para baixo.

2. Colegiado – “o sistema presbiteriano (ou


colegial) de governo da igreja também
coloca a autoridade em determinado
ofício”13, mas este ofício é exercido em
pluralidade. O oficial principal na
estrutura presbiteriana é o presbítero. Os
presbíteros podem ser leigos eleitos pelas
suas igrejas ou presbíteros formados em
seminários. A autoridade é exercida por
um colegiado de presbíteros (ou
concílios). “É entre os presbíteros que a
autoridade divina de fato atua dentro da
igreja”14. Este sistema é adotado pelas igrejas Presbiteriana e Reformada, entre
outras. No âmbito da igreja local, o conselho (Presbiteriana) ou o consistório
(Reformada) é o grupo responsável pelas decisões. Todas as igrejas de uma área são
governadas pelo presbitério (Presbiteriana) ou classe (Reformada). O grupo seguinte
é o sínodo, formado por igual número de presbíteros leigos e clérigos escolhidos
pelos presbitérios ou classes. No nível mais alto, a Igreja Presbiteriana também
possui uma assembléia geral, chamada Supremo Concílio. “O sistema colegiado
difere do hierárquico no fato de existir só um nível de clero, o presbítero docente
(pastor) ou presbítero regente”15.

3. Congregacional – “A terceira forma de governo da igreja destaca o papel do cristão


como indivíduo e tem a igreja local como centro de autoridade. Dois conceitos são
básicos ao sistema congregacional: autonomia e democracia. Por autonomia
entendemos que a congregação é independente e governa a si mesma. Não há
poderes externos que possam ditar diretrizes para a igreja local. Por democracia
entendemos que cada membro da congregação local tem voz em seus assuntos. São
os indivíduos da congregação que possuem e exercem a autoridade”16. Uma
diretoria é eleita para cuidar das questões corriqueiras, mas decisões de peso, como
escolha ou demissão do pastor, adoção de orçamentos, aceitação de membros,
compra ou venda de propriedades e outras questões principais são sempre decididas
em assembléia. Esta forma de governo é praticada pelas igrejas batistas,
congregacionais e boa parte dos grupos luteranos. “Seguindo um princípio de
autonomia, cada igreja local chama seu próprio pastor... Ela adquire e gera
propriedades independentemente de quaisquer autoridades externas”17. As igrejas
locais, sem renunciar à sua autonomia, decidem se reagrupar em associações de
igrejas para um trabalho cooperativo. Estas associações podem ter vários níveis:

12
ERICKSON, p. 454.
13
ERICKSON, p. 454.
14
ERICKSON, p. 455.
15
ERICKSON, p. 455.
16
ERICKSON, p. 456.
17
ERICKSON, p. 456.

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local, regional, estadual e nacional. Estas associações não têm poder de imposição
sobre a igreja local. A autoridade flui de baixo para cima. A ordenação de pastores é
iniciada a pedido da igreja local e auxiliada pela associação da qual faz parte a igreja.

Cargos ou funções na igreja encontrados no Novo Testamento:


1. Apóstolos – no sentido original se aplica aos doze discípulos de Jesus e Paulo. Eram
testemunhas oculares da ressurreição de Jesus Cristo e foram indicados diretamente
por Jesus. Exerceram uma função importante na definição da doutrina cristã em uma
época em que ainda não existia um cânon sagrado, a Bíblia: At 2:42; Ef 2:20. Este
tipo de apóstolo já não existe mais. Outros no Novo Testamento foram também
chamados de apóstolos: At 14:4; Rm 16:7; Gl 1:19; 1 Ts 1:1; 2:6. A palavra “apóstolo”
significa enviado e pode ser considerado como equivalente a um missionário, pois
também tem o significado de um enviado (derivado do latim).

2. Profetas – o sentido original de profeta era alguém que recebia revelação


diretamente de Deus. Depois de completar o cânon esta função não é mais
necessária, pois a revelação de doutrina diretamente de Deus está completa no
conteúdo da Bíblia. Profetas eram também pessoas que proclamavam a mensagem
de Deus. Neste sentido podemos falar de profetas que proclamam a mensagem da
Palavra (escrita) de Deus, conclamando os homens à obediência. Os profetas
também denunciavam o pecado e a injustiça na sociedade. Mas nos dias de hoje,
este termo só traz confusão com pessoas que divulgam novas doutrinas extra-
bíblicas ou que são videntes.

3. Evangelistas – At 21:8; 2 Tm 4:5 – são os que são especialmente chamados para


anunciar as boas novas.

4. Pastores – existem 3 palavras diferentes no grego que são usadas para designar um
mesmo cargo: episkopooi (equivalente a “bispo” ou “supervisor”: 1 Tm 3:1),
presbuteroi (equivalente a “presbítero” ou “ancião”: 1 Tm 5:17, Tt 1:5) e poimanate
(significa “alimentar” ou “pastorear” = “pastor”: 1 Pedro 5:2). Paulo exorta os bispos
de Éfeso a pastorear o rebanho: At 20:28. Em Tt 1:5 e 5:6 os termos presbítero e
bispo parecem ser usados de forma intercambiável. As qualificações para pastor se
encontram em 1 Tm 3:1-7 e Tt 1:5-9.

5. Diáconos – a palavra grega diakonoi significa “serviço”. É um cargo de serviço à


igreja: At 6:1-8; 1 Tm 5:8-11. As qualificações para diácono se encontram em 1 Tm
3:8-13.

Ordenanças da igreja Ordenança é um


Definição de ordenança: ordenança é um rito simbólico instituído
rito simbólico
pessoalmente pelo Senhor Jesus Cristo que demonstra as verdades
instituído
centrais do evangelho.
pessoalmente pelo
Senhor Jesus Cristo
Algumas denominações usam a palavra sacramento em vez de
que demonstra as
ordenança porque crêem que é mais do que um ato simbólico, é
verdades centrais
um meio de graça. Isto significa que o próprio rito do sacramento
do evangelho.

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transmite a graça (benção) de Deus ao crente. Esta graça estimula e sustenta a fé fraca,
transmitindo força e capacidade ao crente.

As igrejas batistas entendem que Jesus instituiu ordenanças (ritos simbólicos), enquanto
que igrejas reformadas, presbiterianas e luteranas (entre outras) entendem que Jesus
instituiu sacramentos (meios de transmissão de graça). Todos concordam que uma
ordenança (ou sacramento) tem que ter sido instituída pelo próprio Senhor Jesus Cristo para
ser perpetuamente observada pela Igreja.

O número de ordenanças: o entendimento do número de ordenanças tem variado através


da história da igreja. A maioria das igrejas protestantes hoje pratica duas ordenanças (ou
sacramentos: batismo e ceia do Senhor). A Igreja Batista Livre, junto com algumas outras
denominações, pratica três ordenanças (batismo, ceia do Senhor e lavar dos pés dos
santos). A Igreja Católica Romana pratica sete sacramentos.

Batismo
Praticamente “todas as igrejas cristãs praticam o rito do batismo. Em grande parte, elas o
fazem porque Jesus em sua comissão final”18 o ordenou – Mt. 28:19. “Existe uma
concordância quase universal de que o batismo relaciona-se de alguma forma com o início
da vida cristã; é a iniciação da pessoa tanto na igreja universal, invisível, como na igreja
local, visível. Mesmo assim há divergências consideráveis a respeito do batismo”19.

Diferentes posições quanto ao significado do batismo:


1. O batismo como meio de graça salvadora – Esta é a posição luterana (típica entre os
protestantes) e a católica. Como sacramento, “é o meio pelo qual Deus distribui a graça
salvadora; ele resulta na remissão dos pecados... É obra do Espírito Santo na iniciação
das pessoas na igreja [1 Co 12:13]... O batismo une objetivamente o crente a Cristo de
uma vez por todas”20. Adultos que passam a crer em Cristo podem ser batizados assim
como crianças ou recém-nascidos. “O batismo de crianças seria necessário para remover
a mancha do pecado original. Como a criança não é capaz de exercer a fé necessária
para a regeneração, é essencial que recebam a obra purificadora pelo batismo”21. Neste
caso “o que conta é a fé dos pais (ou mesmo da igreja). [...] O método de batismo não é
importante”22.

2. O batismo como sinal e selo da aliança – “A posição adotada pelos teólogos reformados
e presbiterianos tradicionais está diretamente ligada ao conceito de aliança. Eles vêem o
batismo como um sinal e selo da concretização divina da aliança estabelecida com a raça
humana. Assim como a circuncisão no Antigo Testamento, o batismo nos dá a certeza
das promessas de Deus”23 (uma circuncisão espiritual). “A aliança, a promessa divina da
graça, é a base, a fonte, de justificação e salvação; o batismo é o ato de fé pelo qual
somos introduzidos nessa aliança e, portanto, à vivência de seus benefícios. O ato do

18
ERICKSON, p. 459.
19
ERICKSON, p. 460.
20
ERICKSON, p. 460.
21
ERICKSON, p. 461.
22
ERICKSON, p. 461.
23
ERICKSON, p. 461.

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batismo é tanto o meio de iniciação na aliança como um sinal de salvação”24. A salvação


dos recém-nascidos batizados é condicionada pela persistência futura nos votos feitos
(confissão de fé feita mais tarde pela pessoa em idade de responsabilidade). “Os filhos
de pais crentes devem ser batizados”, pois “Deus fez uma aliança espiritual com Abraão
e sua descendência (Gn 17:7) e essa aliança continua até hoje”25. “A situação dos
crentes, tanto no Novo Testamento como hoje, deve ser compreendida sob a ótica da
aliança feita com Abraão”26 (Cl 2:11-12). “É uma iniciação objetiva na aliança com sua
promessa de salvação”27, portanto a reação subjetiva da pessoa não é um fato
importante. Para esta posição, o método de batismo não é muito importante.

3. O batismo como evidência externa da salvação – Esta posição O batismo é um


“vê o batismo como uma [evidência], um símbolo ou símbolo externo da
indicação externa da mudança interna que ocorreu no mudança interna que
crente. O ato do batismo foi ordenado por Cristo (Mt 28:19, ocorreu no crente.
20)”, portanto, “é mais adequado entendê-lo como uma
ordenança, não como um sacramento. Ele não produz nenhuma mudança espiritual na
pessoa que o recebe. [...] O ato do batismo não transmite diretamente nenhum
benefício ou bênção espiritual. [...] Não somos regenerados por meio do batismo, pois o
batismo pressupõe fé e salvação”28. É um batismo de crentes. Trata-se, portanto, de um
testemunho de que a pessoa já foi regenerada. Sendo assim, recém-nascidos não podem
ser batizados, somente a pessoa que preenche “as condições para a salvação (i.e.,
arrependimento e fé ativa)”29. “Na Grande Comissão, a ordem de batizar segue-se à
ordem de fazer discípulos. [...] No dia de Pentecostes Pedro exigiu arrependimento e
depois batismo (At 2:37-41). A fé seguida do batismo é o padrão em At 8:12, 36-37; 18:8
e 19:1-7”30. Entre os que entendem o batismo como um símbolo e testemunho do que
já ocorreu na vida do indivíduo, a imersão é o método predominante, pois é o que
melhor representa a ressurreição do crente da morte espiritual (Rm 6:3-4). Esta é a
posição Batista Livre quanto ao batismo.

Conclusões quanto ao significado do batismo:


1. O batismo não é um meio de regeneração (salvação) e nem de lavagem do pecado.
o Mc 16:16 não significa que o batismo é necessário para a salvação, pois é só ver a
segunda parte do versículo onde a condenação está ligada à falta de crença, não
à falta de batismo.

o Jo 3:5 – a água neste versículo não se refere ao batismo. Pode se referir ao


nascimento físico ou então simplesmente a idéia de purificação.

o 1 Pe 3:21 – o que salva é o compromisso diante de Deus, não o batismo. É


importante notar que geralmente o batismo no Novo Testamento era realizado

24
ERICKSON, p. 461-462.
25
ERICKSON, p. 462.
26
ERICKSON, p. 462.
27
ERICKSON, p. 462.
28
ERICKSON, p. 463.
29
ERICKSON, p. 463.
30
ERICKSON, p. 463.

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imediatamente após a conversão e, portanto, a conversão e o batismo viraram


quase que sinônimos.

o At 2:38 – a resposta de Pedro, a frase “e cada um de vós seja batizado em nome


de Jesus Cristo” tem que ser vista como um parêntese, ficando o arrependimento
relacionado com a remissão dos pecados. No final do sermão as pessoas
arrependeram-se e creram antes de serem batizadas (v. 41). No próximo sermão
de Pedro, em 3:17-26, a ênfase está no arrependimento, na conversão e na
aceitação de Cristo, sem menção de batismo.

o Tito 3:5 – o “lavar regenerador do Espírito Santo” não é o batismo; simplesmente


a purificação dos pecados.

2. O batismo não é uma substituição da circuncisão do Antigo Testamento e nem é um selo


da aliança de Deus. A circuncisão do judeu era um símbolo externo, enquanto que a
verdadeira circuncisão espiritual é interna, portanto, não pode ser o batismo nas águas
(Rm 2:29).

3. O batismo não transmite nenhuma graça invisível ao cristão.

4. O batismo é um símbolo externo, um testemunho da regeneração interna que já


ocorreu no momento da conversão.

5. O batismo é uma imagem da morte para a vida antiga de pecado e a ressurreição para
uma nova vida em Cristo (o novo nascimento).

6. Os receptores do batismo devem ser somente os que já exerceram uma fé salvadora.


Este é o único exemplo que temos no Novo Testamento. A ordem dos fatos é: ouvir a
Palavra, crer (fé) e em seguida ser batizado. Sendo assim, não há justificativa para o
batismo de recém-nascidos ou crianças pequenas.

7. O modo bíblico de batismo é por imersão. A própria palavra batismo vem do grego
baptizo, que significa mergulhar ou imergir na água. Jesus (Mt 3:16) e o eunuco (At
8:39) entraram dentro da água para serem batizados. João batizava em Enom “porque
havia ali muitas águas” (Jo 3:23). Este é o método que melhor representa o que Paulo
estava falando em Rm 6:3-5.

A Ceia do Senhor
Jesus Cristo estabeleceu este rito como uma forma da Igreja continuamente comemorar a
sua morte. Praticamente todos os ramos do cristianismo a praticam. Mas, por outro lado, há
muitas interpretações deste rito que criam separação entre vários grupos cristãos.

Diferentes concepções quanto ao significado da Ceia do Senhor:


1. Concepção católica romana tradicional – A Igreja
Ceia como transubstanciação:
Católica Romana adota a posição da
o pão e o vinho são o corpo e o
transubstanciação – doutrina que ensina “que
sangue físico de Cristo.
quando o sacerdote oficiante consagra os
elementos, ocorre uma verdadeira mudança metafísica. As substâncias do pão e do

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vinho... transformam-se respectivamente na carne e no sangue de Cristo. O que muda é


a substância ou a essência”, não a aparência e o gosto. “Cristo inteiro está plenamente
presente em cada” um dos elementos. “Todos os que participam da... santa eucaristia...
ingerem literalmente o corpo físico e o sangue de Cristo”31. O pão e o vinho são o corpo
e o sangue físico de Cristo. Para que os elementos da ceia se transformem, é necessário
que um sacerdote devidamente ordenado os consagre senão, os elementos
permanecem mero pão e vinho. Isto exige um sistema sacerdotal.

Um “segundo princípio importante da concepção católica é de que a ceia do senhor


abrange um ato sacrificial. Na missa, um sacrifício real é novamente oferecido por Cristo
em favor dos adoradores. É um sacrifício no mesmo sentido em que foi a crucificação”32.

2. A concepção luterana – “Lutero manteve a concepção


Ceia como consubstanciação:
católica romana de que o corpo e o sangue de Cristo
o pão e o vinho contêm o
estão fisicamente presentes nos elementos”, mas
corpo e o sangue físico de
negou a transubstanciação. As moléculas dos
Cristo.
elementos não se transformam, “mas o corpo e o
sangue de Cristo estão presentes ‘em, com e sob’ o pão e o vinho”33 – isto é, além do
pão e do vinho estão presentes o corpo e o sangue de Cristo. O pão e o vinho contêm o
corpo e o sangue físico de Cristo. Esta posição é tambem conheciada como
consubstanciação. Lutero rejeitou as posições católicas do sacerdotalismo e da missa
como sendo um novo sacrifício. Lutéro ensinou que ao comer o corpo de Cristo e tomar
o seu sangue há benefícios espirituais que são apropriados pelo crente.

3. A concepção reformada (calvinista) – “Cristo está Ceia como união com Cristo:
presente na ceia do Senhor, mas não em forma física o pão e o vinho contêm
ou corpórea. ...sua presença no sacramento é espiritualmente o corpo e o
espiritual ou dinâmica. [...] O resplendor do Espírito sangue de Cristo.
nos transmite a comunhão da carne e do sangue de
Cristo. [...] ...os verdadeiros comungantes são espiritualmente nutridos quando o
Espírito Santo lhes dá uma relação mais estreita com a pessoa de Cristo”34. Portanto, o
crente se aproxima mais de Cristo através da ceia e recebe de novo, e de modo
contínuo, a vitalidade de Cristo. Além disto, a ceia do Senhor “sela o amor de Cristo para
os crentes, dando-lhes a certeza de que todas as promessas da aliança e as riquezas do
evangelho são deles por doação divina. Em troca de um direito pessoal e de uma
verdadeira posse de toda essa riqueza, os crentes expressam fé em Cristo como Salvador
e prestam obediência a ele como Senhor e Rei”35. O pão e o vinho contêm
espiritualmente o corpo e o sangue de Cristo.

31
ERICKSON, p. 468.
32
ERICKSON, p. 468.
33
ERICKSON, p. 469.
34
ERICKSON, p. 470.
35
ERICKSON, p. 470.

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4. A concepção zwingliana (batista) – A ceia do Senhor é


Ceia como memorial:
apenas um memorial da morte de Cristo e sua eficácia em
o pão e o cálice
favor do crente. “O valor... está simplesmente em receber
representam o corpo e
pela fé os benefícios da morte de Cristo. Assim, o efeito da
o sangue de Cristo.
ceia do Senhor não é diferente em natureza, digamos, do
efeito de um sermão”36. O pão e o cálice representam o
corpo e o sangue de Cristo. Esta é a posição da Igreja Batista Livre.

Conclusões quanto à ceia do Senhor:


1. Os elementos da ceia não são e nem contêm literalmente o corpo e o sangue de Cristo.
Quando Jesus instituiu esta ordenança na véspera da sua morte dizendo “isto é o meu
corpo”e “isto é o meu sangue”, ele não poderia estar falando literalmente, pois ainda
não tinha morrido. Podemos entender estas afirmações de Jesus como linguagem
figurada equivalente às suas afirmações “eu sou” (eu sou o caminho, eu sou a porta,
etc.).

2. A ceia do Senhor é simplesmente uma comemoração da morte de Cristo – 1 Co 11:24. É


um momento de relacionamento e comunhão com Cristo. A presença de Cristo na ceia é
equivalente à sua presença em qualquer culto.

3. A participação na ceia do Senhor não nos confere automaticamente nenhum benefício


espiritual. Em 1 Co 11:27-32 Paulo dá a entender que a participação de alguns coríntios
na ceia do Senhor ao invés de serem espiritualmente edificados, haviam-se tornado
fracos e doentes, estando alguns até mortos (v. 30). Assim, o efeito da ceia do Senhor
deve depender da fé demonstrada pela pessoa e de sua reação ao que se apresenta no
rito.

4. A ceia do Senhor é “um lembrete da morte de Cristo e de seu caráter sacrificial” em


nosso favor, um símbolo de “nossa ligação vital com” o Senhor e um testemunho de sua
segunda vinda. Ela é “uma ocasião de renovação do compromisso da pessoa com o
Senhor”37.

5. “A ceia do Senhor foi confiada à Igreja e, pelo que se presume, deve ser ministrada por
ela. Entende-se, portanto, que seja justo que as pessoas escolhidas e empossadas pela
igreja para supervisionar e dirigir seus cultos de louvor também supervisionem a ceia do
Senhor”38.

6. O único pré-requisito para que uma pessoa participe da ceia do Senhor é ter um
relacionamento pessoal com Deus e capaz de examinar a si mesmo (1 Co 11:28). Os que
estão sob disciplina e, portanto, afastados do corpo (1 Co 5:1-5) devem também ser
proibidos de participar da ceia do Senhor.

7. Não temos informações bíblicas sobre a freqüência em que se deve comemorar a ceia
do Senhor. Portanto, a freqüência pode variar de uma igreja à outra. Ela “deve ser

36
ERICKSON, p. 471.
37
ERICKSON, p. 473.
38
ERICKSON, p. 473.

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observada numa freqüência suficiente para evitar intervalos longos entre os períodos de
reflexão sobre as verdades transmitidas por ela, mas não com tanta freqüência que a
torne trivial ou comum”39.

Lavar dos Pés dos Santos


A maior parte das igrejas evangélicas pratica as 2 ordenanças acima. Os Batistas Livres e
mais algumas outras denominações evangélicas praticam também o Lavar dos Pés dos
Santos como uma ordenança.

Base bíblica:
1. “O lavar dos pés é mencionado duas vezes no Novo Testamento”40: João 13:1-20 (a
referência principal) e 1 Tm 5:10.

2. O evangelho de João foi escrito muitos anos após os outros 3 evangelhos. É o único a
não mencionar a instituição da ceia do Senhor e o único a mencionar a instituição do
lavar dos pés.

3. O que Jesus fez no cenáculo foi mais do que um costume da época: a) Jesus era o
mestre, não o servo; b) o lavar dos pés aconteceu depois da refeição, não ao chegarem,
como seria de costume; c) as objeções de Pedro eram culturais, a resposta de Jesus
mostrou que suas intenções eram espirituais e d) Jesus diz a Pedro que se ele não se
submeter, não terá parte (comunhão) com ele. O ato de Jesus foi deliberadamente
contracultural.

4. No verso 8 Jesus diz que se Pedro não se submeter ele não teria parte (comunhão) com
ele. “A palavra sugere algo necessário para o relacionamento ou para a comunhão”41. “O
lavar dos pés nos lembra do nosso relacionamento com o Salvador e diz respeito
diretamente ao bem estar espiritual do crente”42.

5. No verso 14 lemos “vós deveis lavar os pés uns dos outros”. Este verbo dever se
encontra no presente contínuo, dando a idéia de que é uma ação contínua. Quando
visto em contexto com o v. 15, fica claro que Jesus tinha a intenção que os discípulos
deveriam continuar a prática, sendo, pois, uma ordenança.

6. A ordem de Jesus foi precedida por uma demonstração literal de como deveria ser
praticada. Portanto, os discípulos teriam entendido a ordenança como sendo literal.

7. Em 1 Tm 5:10 vemos uma lista de requisitos para que uma viúva fosse colocada em uma
lista da igreja para receber ajuda. Todos são tarefas de serviço. Mas o lavar dos pés é
dos santos, não atos de caridade ou humildade para a população em geral.

39
ERICKSON, p. 474.
40
DAVIDSON, William F. e PICIRILLI, Robert E., Os Batistas Livres e o Lavar dos Pés dos Santos. Trad.
Rejane Eagleton. Ed. Martha Jalkauskas. Barbacena: Missão Batista Livre do Brasil, 2008, p. 7.
41
DAVIDSON, p. 8.
42
DAVIDSON, p. 9.

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8. O significado do lavar dos pés dos santos:


o Uma lição de humildade. Uma analogia pode ser vista entre o tirar a vestimenta
de cima, se cingir de uma toalha e abaixar-se para lavar os pés com o que Cristo
fez na sua encarnação: se despiu (se esvaziou) da sua glória, assumiu a forma de
servo e de homem e se humilhou (Fp 2:7-8).

o Uma lição na “necessidade diária de purificação do nosso pecado como parte do


processo de santificação”43 (v. 10). Quem já se banhou = regeneração; lavar os
pés = santificação.

o Uma lição na necessidade de comunhão contínua com Deus (v. 8, 10, 17).

43
DAVIDSON, p. 25.

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