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29/09/2020 · Processo Judicial Eletrônico - 1º Grau

Número do processo: 0718499-21.2020.8.07.0001


Classe judicial: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7)
AUTOR: LIDIA MARCIA ANSELMO
RÉU: BANCO DO BRASIL

SENTENÇA

LIDIA MARCIA ANSELMO ação de conhecimento


(para cumprimento de obrigação de fazer) em desfavor do
BANCO DO BRASIL S.A., partes qualificadas devidamente
na petição inicial.

Na peça vestibular, a autora alega que se


candidatou no concurso público da ré, regulado pelo Edital
nº 1 – BB, de 12/01/2012, para o provimento de vaga no
cargo de Escriturário e, restou classificada na posição nº.
666. Diz que foram convocados 597 candidatos. Aduz
também há vagas no quadro de funcionários da empresa,
visto que os desligados somam 696 pessoas, ao passo que
somente foram convocadas 597. Além disso, o banco
publicou edital para a contratação de empresa prestadora
de serviços temporário, para executar a mesma função
para a qual realizou o concurso. Se não bastasse, há outro
processo seletivo para a contratação, dentro da validade
do certame anterior, de empregados para a mesma
função, regido pelo Edital nº. 2/2013, com oferta de novas
900 vagas. Por fim, narra que o réu convocou a candidata
Adriana Pereira de Oliveira, em 02/5/2014, classificada na
posição 1811, preterindo os seus direitos.

Depois da exposição de suas razões jurídicas, a


autora pediu a concessão do benefício da justiça gratuita e
a concessão de liminar para obrigar o réu a lhe contratar

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para o cargo de Escriturário. Em definitivo, requereu a


confirmação dos efeitos da tutela antecipada, com a
condenação do réu.

Atribui-se à causa o valor de R$ 16.896,00.

A petição inicial foi apresentada com


documentos.

Deferido o benefício da justiça gratuita à autora


(id 65774211 - Pág. 2), a análise do pedido liminar restou
postergada. Determinou-se, na ocasião, a citação do réu.

Contestação no id 65774211 – Págs, 23 e


seguintes. Nela, preliminarmente, arguiu, o réu, a inépcia
da petição inicial, ao argumento de que inexiste causa de
pedir e pela impossibilidade jurídica do pedido. Disse, para
isso, que a mera aprovação e classificação em concurso
público não garante a nomeação, mas simples expectativa
de direito. Afirmou que o concurso da autora expirou em
07/05/2014, bem como que o edital não previu o
quantitativo de vagas para a seleção. No mérito, em
resumo, argumentou que: o concurso foi aberto para
cadastro de reserva; não assumiu o compromisso de
contratar; a autora tinha mera expectativa de direito; a
nomeação de candidatos convocados para suprimento de
vagas não pode ocorrer fora do prazo de validade do
concurso; as convocações somente poderiam ocorrer até
07/03/2014; publicou, de fato, o Edital nº. 2/2013, para
obtenção de cadastro de reserva, mas os direitos dos
candidatos aprovados no certame anterior restaram
resguardados até o término do prazo de vigência; esse
concurso não foi homologado enquanto não expirou o
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prazo do anterior; quanto ao pregão eletrônico, as tarefas


deveriam ser realizadas por terceirizados – em regime de
contrato temporário -; as tarefas não eram as mesmas; os
serviços de escriturários não podem ser passados para
terceirizados – são diferentes –; dentre os convocados, 69
candidatos estavam mais bem colocados que a autora;
deve obedecer a ordem classificatória do certame e o
pleito de ultrapassar outros candidatos é ilegal; não houve
preterição da autora.

A autora se manifestou regularmente em réplica


(id 65774215 - Pág. 11).

Declinação da competência em proveito de uma


das Varas do Trabalho de Brasília (id 65774215 - Pág. 19).

Já na Justiça do Trabalho, a conciliação das


partes, na audiência, não foi obtida (id 65774216 - Pág.
27).

O réu apresentou nova contestação (id


65774216 - Págs. 28 e seguintes). Nela, argumentou
sobre a incompetência da Justiça do Trabalho e, no mais,
repisou, praticamente, os fundamentos da contestação
anterior.

Na sentença proferida pelo Juízo da Vara do


Trabalho (id 65774225 – Págs. 16 e seguintes), o pedido
autoral foi julgado improcedente.

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Interposto recurso, a sentença foi cassada pelo


afastamento do óbice de inoportunidade da ação (id
65774227 - Pág. 24).

Proferida nova sentença (id 65774227 – Págs.


34 e seguintes), o pedido da autora foi julgado
improcedente.

Interposto recurso, o TRT-10 considerou que


houve contratação precária de empregados terceirizados e
reputou a autora preterida. Com isso, determinou sua
contratação (id 65775351 - Pág. 34).

Opostos embargos de declaração, o supracitado


Tribunal determinou o sobrestamento do processo até o
julgamento do Tema 992 (Supremo Tribunal Federal).

Posteriormente, foi declarada a incompetência


material da Justiça do Trabalho (id 65775353 - Pág. 37).

Relatado o necessário, fundamento e DECIDO.

Aplica-se ao caso a regra estampada no art.


355, I, do Código de Processo Civil, pois as questões de
fato relevantes ao julgamento estão perfeitamente

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delineadas pela prova documental produzida pelas partes


e as demais são jurídicas, prescindindo-se da produção de
outras.

Antes da análise do mérito, ao tempo em que


registro que a preliminar de incompetência do Juízo já
restou definida e a competência desse Juízo já foi
recebida, passou ao exame da preliminar de inépcia da
petição inicial aventada pelo réu.

O inc. I do art. 330 do Código de Processo Civil


prevê que a petição inicial deve ser indeferida quanto for
inepta.

Sobre a inépcia da petição inicial, o § 1º do


supracitado dispositivo legal elenca as situações que a
configuram, da seguinte forma:

§ 1º Considera-se inepta a petição inicial quando:


I - lhe faltar pedido ou causa de pedir;
II - o pedido for indeterminado, ressalvadas as
hipóteses legais em que se permite o pedido
genérico;
III - da narração dos fatos não decorrer logicamente
a conclusão;
IV - contiver pedidos incompatíveis entre si.

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No caso vertente, a autora busca ser nomeada


para o cargo de Escriturário decorrente do concurso
público em que foi classificada na posição nº. 666. Diz,
para tanto, que foi preterida.

O pedido da autora, portanto, foi deduzido de


forma especificada e guarda estreita relação com os fatos
articulados na petição inicial. Não há dúvida a respeito de
sua pretensão. Não foi formulado pleito genérico.

A causa de pedir é clara, dentre elas a


preterição da autora/candidata.

Com isso, a petição inicial apresentada não


carece dos elementos que a levariam à uma situação de
inépcia.

Afasto, desse modo, a preliminar arguida.

No mais, estão presentes os pressupostos


processuais e inexistente outras questões pendentes de
análise. Passo, então, à análise do mérito.

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Nessa toada, a autora alega ter participado do


concurso público do Banco do Brasil, regulado pelo edital
nº 1 – BB, de 12 de janeiro de 2012, para provimento de
vaga de Escriturário, tendo sido classificada na posição
666. Contudo, não foi convocada/nomeada para o carto,
embora o réu tenha, depois de convocar 597 candidatos,
desligado muitos funcionários e realizado a contratação
provisória de empresa de serviços temporários para a mão
de obra decorrente do acréscimo extraordinário e
execução da mesma função para a qual foi aprovada.

O réu, no entanto, rechaça as alegações da


autora, defendendo que ela detém simples expectativa de
direito e justificando a contratação temporária realizada.

Como se infere dos autos, a autora se inscreveu


para a seleção externa regida pelo edital de n. 01 - BB, de
12.01.2012, para a carreira administrativa no cargo
Escriturário.

De acordo com o edital do certame (id


65774208 - Pág. 41 e seguintes), restou assegurada, em
primeiro lugar, as admissões, conforme necessidade de
provimento, dos candidatos classificados nas seleções
anteriores - 2008/001, 2008/002, 2008/003, 2010/001, e
2010/002, até o termino de suas vigências (13/06/2012,
20/06/2012, 01/07/2012, 10/05/2012 e 01/07/2012,
respectivamente - ou o esgotamento da reserva de
candidatos aprovados, prevalecendo o que ocorrer
primeiro - item 1.5.

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Por sua vez, o item 7.6 do edital mencionou o


número máximo de posições classificadas em relação aos
candidatos (id 65774208 - Pág. 47).

A autora, de fato, restou classificada na posição


666, relativamente à microrregião 19, conforme expõe o
documento de id 65774210 - Pág. 13.

Todavia, imperioso mencionar que o edital não


previu número de vagas para o certame realizado, tanto é
que, em seu item 1.5, estipulou que as admissões
ocorreriam de acordo com a necessidade de provimento
dos cargos, considerando-se os candidatos classificados
nos certames anteriores, como acima foi explanado, e até
o esgotamento da reserva dos aprovados na seleção em
discussão.

O c. STF tem entendimento quanto ao direito


subjetivo de o candidato aprovado em concurso público
dentro do número de vagas previstas no edital ser
nomeado. Utilizou-se, para tanto, o 'leading case' do RE
598099, tendo a tese 161 sido fixada do seguinte modo:

O candidato aprovado em concurso público dentro do


número de vagas previsto no edital possui direito
subjetivo à nomeação.

Confira-se, a respeito, a ementa do RE


supracitado:

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DIREITO ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. 2.


Direito líquido e certo à nomeação do candidato
aprovado entre as vagas previstas no edital de
concurso público. 3. Oposição ao poder discricionário
da Administração Pública. 4. Alegação de violação
dos arts. 5º, inciso LXIX e 37, caput e inciso IV, da
Constituição Federal. 5. Repercussão Geral
reconhecida. (RE 598099 RG, Relator(a): MENEZES
DIREITO, Relator(a) p/ Acórdão: GILMAR MENDES,
Tribunal Pleno, julgado em 23/04/2009, DJe-040
DIVULG 04-03-2010 PUBLIC 05-03-2010
REPUBLICAÇÃO: DJe-045 DIVULG 11-03-2010
PUBLIC 12-03-2010 EMENT VOL-02393-05 PP-
01004)

Não obstante, a situação acima descrita não se


aplica no caso vertente, pois, apesar de classificada, o
edital não estipulou quantas vagas o réu iria dispor aos
candidatos. Não se trata, portanto, de opor um direito
subjetivo à simples discrição da parte demandada.

Por outro lado, ainda acerca do direito à


nomeação de candidatos aprovados 'fora' do número de
vagas previstas no edital de concurso público, no caso do
surgimento de novas vagas durante o prazo de validade
do certame, o c. STF, respeitante ao Tema 784, fixou
entendimento no seguinte sentido:

O surgimento de novas vagas ou a abertura de novo


concurso para o mesmo cargo, durante o prazo de
validade do certame anterior, não gera
automaticamente o direito à nomeação dos
candidatos aprovados fora das vagas previstas no

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edital, ressalvadas as hipóteses de preterição


arbitrária e imotivada por parte da administração,
caracterizada por comportamento tácito ou expresso
do Poder Público capaz de revelar a inequívoca
necessidade de nomeação do aprovado durante o
período de validade do certame, a ser demonstrada
de forma cabal pelo candidato. Assim, o direito
subjetivo à nomeação do candidato aprovado em
concurso público exsurge nas seguintes hipóteses: I
– Quando a aprovação ocorrer dentro do número de
vagas dentro do edital; II – Quando houver
preterição na nomeação por não observância da
ordem de classificação; III – Quando surgirem novas
vagas, ou for aberto novo concurso durante a
validade do certame anterior, e ocorrer a preterição
de candidatos de forma arbitrária e imotivada por
parte da administração nos termos acima. ('leading
case': RE 837311).

Na situação sob análise, não se pode afirmar


que a autora tenha sido aprovada dentro do número de
vagas, eis que, como se deflui, foram selecionados
candidatos para cadastro de reserva. Ademais, não há
qualquer elemento que demonstre sua preterição pela não
observação da ordem de classificação. Afinal, não observo
qualquer irregularidade quanto à contratação temporária
de EMPRESA para o fornecimento de mão de obra
especializada, já que, na hipótese em exame, não se
evidencia que tal se deu para a realização das funções do
Escriturário. Ademais, o prazo de validade do concurso já
terminou.

Como explicado pelo réu, em que pese a


abertura do concurso do edital de 2013, restaram
asseguradas as vagas do concurso anterior, tal como
ocorreu em relação ao de 2012, na forma o item 1.5 de
seu correspondente edital.
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Se não bastasse, no julgamento dos embargos


declaratórios no mandado de segurança 31.732/SP, a 1ª
Turma do c. STF enfatizou que candidato aprovado para a
formação de cadastro de reserva não tem direito à
nomeação, detendo simples expectativa a tanto.

Além disso, quanto à alegada preterição da


autora pela candidata Adriana Pereira de Oliveira, ao que
se deflui, a suposta contratação ocorreu por determinação
da Justiça do Trabalho (id 65774210 – Págs. 29 a 49),
cujos efeitos não refletem no caso examinado.

Sendo assim, a autora não tem direito à


nomeação postulada e, como consequência, não se pode
falar que o réu tenha lhe causado danos.

Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE o


pedido contido na petição inicial e revogo a decisão liminar
de id 65976943.

Por conseguinte, resolvo o mérito da lide, na


forma do art. 487, I, do Código de Processo Civil.

Custas e honorários, fixados em 10% sobre o


valor atualizado da causa, conforme dispõe o art. 85, § 2º,
do Código de Processo Civil, pela parte autora.

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Concedo à autora, no entanto, o benefício da


justiça gratuita, pois tenho por demonstrada sua
hipossuficiência econômica. Com isso, resta suspensa a
exigibilidade dos ônus sucumbenciais.

Depois do trânsito em julgado, arquive-se com


as prévias cautelas.

Sentença registrada eletronicamente e proferida


no âmbito do Núcleo Permanente de Gestão de Metas do
Primeiro Grau – NUPMETAS-1.

Publique-se. Intimem-se.

BRASÍLIA, DF, 17 de setembro de 2020 14:46:09.

CARLOS FERNANDO FECCHIO DOS SANTOS


Juiz de Direito Substituto
 
Assinado eletronicamente por: CARLOS FERNANDO FECCHIO DOS SANTOS
17/09/2020 14:48:58
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ID do documento:

200917144858501000000
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