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Art.

30 da LINDB
O dever público de incrementar a
segurança jurídica

Article 30 of LINDB
The public duty to increase legal
certainty
Egon Bockmann Moreira1
Paula Pessoa Pereira2

RES UM O
A LINDB constitui um sistema de aplicação do Direito Público, por meio
de condicionantes de validade das decisões, lado a lado com respectivos
parâmetros de aplicabilidade. O artigo 30, aqui comentado, diz respeito
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1
Professor de Direito Econômico da Faculdade de Direito e do Programa de Pós-Graduação em
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Federal do Paraná. Pós-Graduado em mediação pelo Program on Negotiation, da Harvard
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Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 243-274, nov. 2018.
244 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

do aperfeiçoamento do desenho institucional da ordem normativa. Ele


convive com os fenômenos da indeterminação do Direito, do impacto do
constitucionalismo na atividade decisória estatal e foca no dever de criação
de precedentes (lato sensu), como critérios de racionalidade, legitimidade e
institucionalidade da atividade decisória pública.

PALAV RAS- C HAV E


Lei de Introdução – LINDB – Direito Público – Processo decisório público –
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Precedentes – Regulamento – Súmula – Consulta – Artigo 30

AB STRACT
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K EYWORD S
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Art. 30. As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança


“ž›Ç’ŒŠȱ—ŠȱŠ™•’ŒŠ³¨˜ȱŠœȱ—˜›–Šœǰȱ’—Œ•žœ’ŸŽȱ™˜›ȱ–Ž’˜ȱŽȱ›Žž•Š–Ž—˜œǰȱ
súmulas administrativas e respostas a consultas.
Parágrafo único. Os instrumentos previstos no caput deste artigo terão
caráter vinculante em relação ao órgão ou entidade a que se destinam,
até ulterior revisão.

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 243-274, nov. 2018.
EGON BOCKMANN MOREIRA, PAULA PESSOA PEREIRA | Art. 30 da LINDB 245

Introdução

Houve um tempo em que se acreditou que a resolução dos problemas


“ž›Ç’Œ˜œȱœŽȱŒ’›Œž—œŒ›ŽŸ’ŠȱŠȱŠ™•’ŒŠ›ȱŽ¡˜œȱŒ˜—œ’žŒ’˜—Š’œȱŽȱ•Ž’œ•Š’Ÿ˜œȱŠȱ™Š›’›ȱ
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Ž›ŠȱŠ›’‹žÇŠȱŠȱŠ›ŽŠȱŽȱŽ–’’›ȱŽŒ’œäŽœȱŽ¡ŽŒžà›’ŠœȱŽȱŠ˜œȱà›¨˜œȱŽȱŒ˜—›˜•Žȱ
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vida fosse mais fácil, mas essa compreensão simplista do Direito produziu
›Žœž•Š˜œȱ‹ŠœŠ—Žȱ’—œŠ’œŠà›’˜œǰȱœ˜‹›Žž˜ȱŽ–ȱŽ›–˜œȱŽȱœŽž›Š—³Šȱ“ž›Ç’ŒŠȱ
e estabilidade.
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’›Ž’˜ǰȱŠȱ—˜›–Šȱ“ž›Ç’ŒŠȱŽ›Šȱž–ȱdado, não um construído.
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(constitucional ou ordinário), e não de tribunais ou órgãos administrativos e
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realidade. O que é inadmissível, quando menos se pensarmos na missão de
™ŠŒ’ęŒŠ³¨˜ȱ œ˜Œ’Š•ȱ Š›’‹žÇŠȱ Š˜ȱ ’›Ž’˜ǯȱ ˜’ȱ “žœŠ–Ž—Žȱ ŽœœŽȱ ’–™ŠœœŽȱ šžŽǰȱ Šȱ
™Š›’›ȱ˜ȱœ’—’ęŒŠ˜ȱ˜ȱ™›˜ŒŽœœ˜ȱŽȱ’—Ž™›ŽŠ³¨˜ȱŽȱŠ™•’ŒŠ³¨˜ȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱŽȱ˜ȱ
impacto do constitucionalismo, gerou a necessidade de revisão do ideal de
œŽ™Š›Š³¨˜ȱŽȱ™˜Ž›ŽœǰȱŒ˜–ȱ˜ȱ˜‹“Ž’Ÿ˜ȱŽȱœŽȱ›ŽŠ•˜ŒŠ›ȱȮȱŽȱ–˜˜ȱ’—¦–’Œ˜ȱȮȱŠœȱ
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Šœȱ—˜›–Šœȱ“ž›Ç’ŒŠœȱǻ˜žȱœŽ“ŠǰȱŽȱ’›Ž’˜œǼǯȱ

˜“ŽǰȱŸ’ŸŽ–˜œȱœ’žŠ³¨˜ȱ“ž›Ç’ŒŠȱŽȱ’—Ž›Ž™Ž—¹—Œ’ŠǰȱŒ˜˜™Ž›Š³¨˜ȱŽȱŒ˜—Ȭ
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ŽŒ’œà›’˜œȱǻ˜˜œȱŽ•ŽœǼǰȱ—˜ȱŒ˜—Ž¡˜ȱ—˜›–Š’Ÿ˜ȱšžŽȱŒ˜—˜›–ŠȱŠœȱŽ–˜Œ›ŠŒ’Šœȱ
constitucionais contemporâneas, devem trabalhar a partir da premissa da
tutela da continuidade da ordem jurídica, em sentido amplo. Esta racionalidade
afasta a compreensão construída unicamente a partir do Poder Legislativo (e
œžŠȱ™›’–Š£’Šȱ’—Šžž›Š•ǼǰȱŒž“˜ȱ™˜—˜ȱŽȱ™Šrtida é a desconsideração do marco

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 243-274, nov. 2018.
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œŽž›Š—³Šȱ“ž›Ç’ŒŠȱŒ˜—œ›žÇŠȱ™Ž•ŠœȱŽŒ’œäŽœȱ™›Ž·›’ŠœǼǯ3
Atualmente, as decisões tomadas pelos órgãos do Estado necessitam
ŽȱœŽ›ȱŒ˜—œ›žÇŠœȱŒ˜–˜ȱ™›˜ž˜œȱŠȱ›ŠŒ’˜—Š•’ŠŽȱ“ž›Ç’ŒŠȱŒ˜—ꐞ›ŠŠȱ—˜ȱ
™›˜ȱŒŽœœ˜ǰȱŒ˜—Ç—ž˜ȱŽȱ™•ž›’œœž‹“Ž’Ÿ˜ǰȱŽȱ’—Ž™›ŽŠ³¨˜ȱŽȱŠ™•’ŒŠ³¨˜ȱŠœȱ—˜›–Šœȱ
(regras, princípios e postulados). Isso implica a criação de mecanismos que
estabilizem as decisões no tempo e permitam seu aperfeiçoamento contínuo,
Šȱ Ž™Ž—Ž›ȱ Šœȱ Œ’›Œž—œ¦—Œ’Šœȱ ¤’ŒŠœȱ Žȱ “ž›Ç’ŒŠœȱ šžŽȱ ’Ž—’ęŒŠ–ȱ ˜œȱ •’Ç’˜œȱ
públicos. Mais: mecanismos públicos que divulguem as decisões e autovin-
culem as autoridades que as emanaram.
ȱ˜ŠȱŽŸ’¹—Œ’Šǰȱ˜ȱŒŽ—¤›’˜ȱŠžŠ•ȱ·ȱ–ž’˜ȱ–Š’œȱŽœŠęŠ˜›ȱŽȱŽ¡’Ž—ŽǯȱŠÇȱŠȱ
razão de ser da Lei nº 13.655/2018 (doravante Nova Lei de Introdução, LINDB,
NLINDB ou Lei de Segurança Jurídica) que, nos 10 artigos acrescentados ao
Decreto-Lei nº 4.657/1942 (a tradicional Lei de Introdução ao Código Civil),
instalou novas condições de validade às decisões em temas de Direito
ø‹•’Œ˜ȱǻ˜—œ’žŒ’˜—Š•ǰȱ–’—’œ›Š’Ÿ˜ǰȱŒ˜—â–’Œ˜ǰȱ›’‹ž¤›’˜ǰȱ›‹Š—Çœ’Œ˜ǰȱ
Ambiental etc.).
São 7 temas-chave dispostos na Nova Lei de Introdução: (i) preceitos
’—ŽŽ›–’—Š˜œǰȱ ŽŒ’œäŽœȱ Žȱ ŽŽ’˜œȱ ™›¤’Œ˜œȱ ǻŠ›œǯȱ ŘŖȱ Žȱ ŘŗǼDzȱ ǻ’’Ǽȱ ™›˜Ž³¨˜ȱ Ž–ȱ
ŠŸ˜›ȱŽȱŠŽ—Žœȱ™ø‹•’Œ˜œȱ›Žœ™˜—œ¤ŸŽ’œȱǻŠ›œǯȱŘŘȱŽȱŘŞǼDzȱǻ’’’ǼȱŽęŒ¤Œ’Šȱex nunc a
—˜ŸŠœȱ’—Ž›™›ŽŠ³äŽœȱŽȱ›Ž›ŠœȱŽȱ›Š—œ’³¨˜ȱǻŠ›œǯȱŘřȱŽȱŘŚǼDzȱǻ’ŸǼȱŒ˜—œŽ—œžŠ•’œ–˜ȱ
™ø‹•’Œ˜Ȭ™›’ŸŠ˜ȱŽȱŠ“žœŽœȱŽȱŒ˜—žŠȱǻŠ›ǯȱŘŜǼDzȱǻŸǼȱŒ˜–™Ž—œŠ³¨˜ȱŽȱ‹Ž—ŽÇŒ’˜œȱ
˜žȱ™›Ž“žÇ£˜œȱ’—“žœ˜œȱǻŠ›ǯȱŘŝǼDzȱǻŸ’ǼȱŒ˜—œž•Šœȱ™ø‹•’ŒŠœȱŽȱ™Š›’Œ’™Š³¨˜ȱ™˜™ž•Š›ȱ
nas escolhas públicas (art. 29) e (vii) dever de estabilização e uniformidade na
criação do Direito (art. 30).
Como se pode constatar, a LINDB constitui todo um sistema de aplicação
de normas de Direito Público, por meio da positivação de condicionantes
de validade das decisões, lado a lado com os respectivos parâmetros de
aplicabilidade. Ignorar ou desobedecer a LINDB é, sem dúvida alguma, um
“erro grosseiro” (para aqui nos valermos do respectivo art. 28).

3
Basta a leitura de parcela original da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro:
ȃ›ǯȱŘķȱ¨˜ȱœŽȱŽœ’—Š—˜ȱ¥ȱŸ’¹—Œ’ŠȱŽ–™˜›¤›’ŠǰȱŠȱ•Ž’ȱŽ›¤ȱŸ’˜›ȱŠ·ȱšžŽȱ˜ž›ŠȱŠȱ–˜’ęšžŽȱ˜žȱ
›ŽŸ˜žŽǯȱȗŗķȱȱ•Ž’ȱ™˜œŽ›’˜›ȱ›ŽŸ˜ŠȱŠȱŠ—Ž›’˜›ȱšžŠ—˜ȱŽ¡™›ŽœœŠ–Ž—Žȱ˜ȱŽŒ•Š›ŽǰȱšžŠ—˜ȱœŽ“Šȱ
com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
ȗŘķȱ ȱ •Ž’ȱ —˜ŸŠǰȱ šžŽȱ ŽœŠ‹Ž•Ž³Šȱ ’œ™˜œ’³äŽœȱ Ž›Š’œȱ ˜žȱ Žœ™ŽŒ’Š’œȱ Šȱ ™Š›ȱ Šœȱ “¤ȱ Ž¡’œŽ—Žœǰȱ —¨˜ȱ
›ŽŸ˜Šȱ—Ž–ȱ–˜’ęŒŠȱŠȱ•Ž’ȱŠ—Ž›’˜›ǯȱȗřķȱŠ•Ÿ˜ȱ’œ™˜œ’³¨˜ȱŽ–ȱŒ˜—›¤›’˜ǰȱŠȱ•Ž’ȱ›ŽŸ˜ŠŠȱ—¨˜ȱœŽȱ
›ŽœŠž›Šȱ™˜›ȱŽ›ȱŠȱ•Ž’ȱ›ŽŸ˜Š˜›Šȱ™Ž›’˜ȱŠȱŸ’¹—Œ’ŠǯȄȱ¨˜ȱ™˜—˜œȱŽȱ™Š›’Šȱ—˜›–Š’Ÿ˜œȱšžŽȱ
Ž¡’œŽ–ȱŽŸ’˜ȱ¥ȱœž™›Žœœ¨˜ȱ˜ȱ™ŠœœŠ˜ȱǻŒŠŠȱ•Ž’ȱ—˜ŸŠȱ·ȱž–ȱȃ–Š›Œ˜ȱ£Ž›˜ȄǼǰȱŠ˜ȱ–Žœ–˜ȱŽ–™˜ȱ
šžŽȱ™›˜“ŽŠ–ȱ™Š›Šȱ˜ȱžž›˜ȱŠȱ™›ŽŽ—œ¨˜ȱ˜ȱŽŽ›—˜ǯǯǯ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 243-274, nov. 2018.
EGON BOCKMANN MOREIRA, PAULA PESSOA PEREIRA | Art. 30 da LINDB 247

A chave de abóbada desse novo sistema de aplicação das normas de


Direito Público é o art. 30 da LINDB, que consolida a racionalidade dos
Š—ŽŒŽŽ—ŽœȱŽȱ™Ž›–’ŽȱœžŠȱŽęŒ¤Œ’Šȱ™›˜œ™ŽŒ’ŸŠǯ

1. O artigo 30 da LINDB e seus objetivos

O art. 30, que será aqui comentado, diz respeito ao dever de instauração
da segurança jurídica por meio do aperfeiçoamento do desenho institucional
da ordem normativa. Dever público normativamente atribuído, de modo
imediato, primário e vinculante, pela própria LINDB, a todas as autoridades
™ø‹•’ŒŠœȱšžŽȱ™›˜ę›Š–ȱŽŒ’œäŽœȱŽȱ–Š—Ž“Ž–ȱŒŠœ˜œȱŽȱ’›Ž’˜ȱø‹•’Œ˜ǯȱ
O dispositivo legal convive com os fenômenos da indeterminação do
Direito, do impacto do constitucionalismo na atividade decisória estatal e
assim foca no dever de criação de precedentes (lato sensuǼǰȱŠ•ȱŒ˜–˜ȱ˜œȱ“ž’Œ’Š’œǰȱ
quando estes se apresentam como critérios de racionalidade, legitimidade e
institucionalidade da atividade decisória pública.
Ao tratar do dever de instauração e autovinculação administrativa quanto
a regulamentos, súmulas administrativas e respostas a consulta, o art. 30 da LINDB
traz dois desdobramentos.
O primeiro é a institucionalização do efetivo respeitoȱŠȱŠ’œȱŽŒ’œäŽœǰȱœŽ“Šȱ
na dimensão horizontal (o próprio órgão ou entidade) quanto na vertical
ǻ˜˜œȱ ŠšžŽ•Žœȱ šžŽȱ œŽȱ Ž—Œ˜—›Š–ȱ Š‹Š’¡˜ȱ —Šȱ Žœ›žž›Šȱ ‘’Ž›¤›šž’ŒŠǼǰȱ ·Œ—’ŒŠȱ
šžŽȱ Ž–ȱ ™˜›ȱ ˜‹“Ž’Ÿ˜ȱ ŠŠœŠ›ȱ ’—Ž›Ž›¹—Œ’Šœȱ Ž¡Ž›—Šœȱ —˜ȱ ›ŠŠ–Ž—˜ȱ Žȱ ŒŠœ˜œȱ
semelhantes, de modo a tratar todas as pessoas de forma igualitária perante
˜ȱ’›Ž’˜ǰȱŒ˜–ȱŠȱ˜›–Š³¨˜ȱŽȱŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’–Ž—˜ȱŽȱž–Šȱ˜›Ž–ȱ“ž›Ç’ŒŠȱŽœ¤ŸŽ•ȱ
e previsível.
O segundo diz respeito à estabilização institucional das decisões. Isso
porque a aceitabilidade e o efetivo cumprimento das decisões de Direito
ø‹•’Œ˜ȱ™˜›ȱŽ›ŒŽ’›˜œȱŽ™Ž—Ž–ȱ–ž’˜ȱŠȱ›Ž™žŠ³¨˜ȱǻ’—Ž›—ŠȱŽȱŽ¡Ž›—ŠǼǰȱœŽ“Š–ȱ
elas advindas do Poder Judiciário, das Cortes de Contas ou da própria Admi-
—’œ›Š³¨˜ȱø‹•’ŒŠǯȱžȱœŽ“ŠǰȱŠȱŽœŠ‹’•’ŠŽȱŠȱ•Ž’’–’ŠŽȱ’—œ’žŒ’˜—Š•ȱŽȱŽŒ’Ȭ
sória é que garante esta reputação e, por conseguinte, a aceitabilidade das
ŽŒ’œäŽœǯȱȱ™Ž›ŒŽ™³¨˜ȱŽȱŠ•ž–ŠȱŠžŠ³¨˜ȱ’•ŽÇ’–Šǰȱ˜›Šȱ˜œȱŠ›ž–Ž—˜œȱ“ž›ÇȬ
dicos estabilizados, traz grande insegurança e ·ęŒ’ȱŽȱŒ˜—ꊗ³Šȱpor parte dos
atores políticos, sociais e cidadãos.
ŽœœŽȱŒ˜—Ž¡˜ǰȱ˜ȱŽŸŽ›ȱ“ž›Ç’Œ˜ȱŽȱŽœŠ‹’•’£Š³¨˜ȱ’—œ’žŒ’˜—Š•ȱ˜œȱregula-
mentos, súmulas administrativas e respostas a consulta assume importância

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 243-274, nov. 2018.
248 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

central, como critério de correção formal das decisões e de promoção do


desenvolvimento do Direito, de forma coerente, igualitária, consistente e
estável. Ademais, favorece a relação harmônica entre os diversos órgãos que
Œ˜–ȱ™äŽ–ȱŠœȱŽœ›žž›Šœȱ˜œȱ˜Ž›Žœȱø‹•’Œ˜œǯȱŽ›–’ŽȱšžŽȱ‘Š“Šȱ™›ŽŸ’œ’‹’•’ŠŽȱ
e gera incentivos a que os agentes, públicos e privados, adotem determinados
Œ˜–™˜›ȱŠ–Ž—˜œǯȱ œŠ‹’•’ŠŽȱ Šȱ Ž›Š›ȱ ŽœŠ‹’•’ŠŽDzȱ Œ˜—ꊗ³Šȱ Šȱ ™Ž›–’’›ȱ Šȱ
sustentabilidade do desenvolvimento pessoal, social e econômico.
›ŠǰȱŠœȱ–Žœ–Šœȱ›Š£äŽœȱšžŽȱ“žœ’ęŒŠ–ȱŠȱŠ˜³¨˜ȱ˜ȱœ’œŽ–ŠȱŽȱ›Žœ™Ž’˜ȱŠ˜œȱ
™›ŽŒŽŽ—Žœȱ —˜ȱ Žœ™Š³˜ȱ ŽŒ’œà›’˜ȱ “ž›’œ’Œ’˜—Š•ȱ ǻ˜Ž›ȱ ž’Œ’¤›’˜Ǽǰȱ “žœ’ęŒŠ–ȱ
Žȱ Ž¡’Ž–ȱ Šȱ ’–™•Ž–Ž—Š³¨˜ȱ Žȱ ’žŠ•ȱ ŽœŽ—‘˜ȱ ’—œ’žŒ’˜—Š•ȱ —˜ȱ ™›˜ŒŽœœ˜ȱ Žȱ
tomada de decisão pública, por órgãos administrativos e de controle, que
’—˜›–Š–ȱ Šœȱ ›Ž•Š³äŽœȱ “ž›Ç’ŒŠœȱ ’—Ž›—Šœȱ Žȱ ’—Ž›˜›¦—’ŒŠœȱ Šȱ –’—’œ›Š³¨˜ȱ
Pública, bem como desta para com as pessoas privadas.4
Š›¦–Ž›˜œȱŽȱœŽž›Š—³Šȱ“ž›Ç’ŒŠȱŽ–ȱž–Šȱ™Ž›œ™ŽŒ’ŸŠȱŽ›Š•ǰȱŽȱŽȱ™›ŽŸ’Ȭ
œ’‹’•’ŠŽȱŽȱŽœŠ‹’•’ŠŽȱ“ž›Ç’ŒŠǰȱœ˜‹ȱ¦—ž•˜ȱ–Š’œȱŽœ™ŽŒÇꌘǰȱœ¨˜ȱŽ¡’’˜œȱŠȱ
atuação do Estado de Direito, em quaisquer de suas manifestações decisórias.
Por essas razões, a Lei nº 13.655/2018, em resposta ao compromisso do Estado
legislador com seu dever constitucional de realização dos direitos funda-
–Ž—Š’œǰȱ™›˜–˜ŸŽžȱ’—˜ŸŠ³äŽœȱ—Šȱ ǰȱŒ˜–ȱ˜ȱ˜‹“Ž’Ÿ˜ȱŽȱŒ˜—œ›ž’›ȱŽœ›žž›Šȱ
ŽŒ’œà›’Šȱ ˜ȱ œŠ˜ȱ ǻà›¨˜œȱ Š–’—’œ›Š’Ÿ˜œǰȱ Œ˜—›˜•Š˜›Žœȱ Žȱ “ž›’œ’Œ’˜—Š’œǼȱ
coerente e consistente com a tutela da racionalidade, legitimidade e institu-
cionalidade nos processos de tomada de decisão.
œŠȱŽ’ȱŽȱŽž›Š—³Šȱ ž›Ç’ŒŠȱ’žŠ•–Ž—ŽȱŠŒŠ‹ŠȱŒ˜–ȱž–ŠȱŠ•œŠȱ™˜•¹–’ŒŠǰȱ
integrando o Código de Processo Civil ao cotidiano da Administração Pública
‹›Šœ’•Ž’›Šǯȱ –ȱ ˜ž›Šœȱ ™Š•ŠŸ›Šœǰȱ Šȱ ŠžŠ•ȱ ’œŒ’™•’—Šȱ “ž›Ç’ŒŠȱ Šȱ •Ž’œ•Š³¨˜ȱ ™›˜Ȭ
ŒŽœœžŠ•ǰȱ Š˜ȱ ™›ŽœŒ›ŽŸŽ›ȱ ž–ȱ ŽŸŽ›ȱ Žȱ “žœ’ęŒŠ³¨˜ȱ Šœȱ ŽŒ’œäŽœȱ “ž’Œ’Š’œȱ Œ˜–ȱ
observância de critérios de racionalidade, (art. 489, CPC/2015) bem como de
desenvolvimento coerente e estável do Direito (arts. 926 e 927, CPC/2015),
deu a falsa impressão de que o Direito Público e os órgãos e entidades da
Administração Pública estavam alheios a essa postura decisória, pelo simples
fato da alocação da regra em um corpo legislativo processual civil.5 Nada
mais errado.
Com a Nova LINDB, o desenho decisório do Estado de Direito brasileiro
œž™Ž›Šȱ Žœ—ÇŸŽ’œȱ ’—œ’žŒ’˜—Š’œȱ ›ŽŸŽ•Š˜œȱ Ž—›Žȱ Šœȱ ’—œ¦—Œ’Šœȱ “ž›’œ’Œ’˜—Š’œȱ

4
A respeito do tema no caso brasileiro, v. OLIVEIRA, 2018, passim.
5
Em sentido contrário, acolhendo amplamente o CPC/2015 ao processo administrativo, v.
MOREIRA, 2017, passim.

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 243-274, nov. 2018.
EGON BOCKMANN MOREIRA, PAULA PESSOA PEREIRA | Art. 30 da LINDB 249

Žȱ Š–’—’œ›Š’ŸŠœȱ Žȱ Žȱ Œ˜—›˜•Žǰȱ šžŠ—˜ȱ ¥œȱ Ž¡’¹—Œ’Šœȱ Žȱ Œ˜—’Œ’˜—Š—Žœȱ Šȱ


ŠžŠ³¨˜ȱ ˜ȱ œŠ˜ǯȱ œȱ ŽŸŽ›Žœȱ œ¨˜ȱ Žšž’ŸŠ•Ž—ŽœDZȱ ŽœŽȱ ˜‹“Ž’Ÿ˜ȱ Œ˜—œ˜•’ŠȬœŽȱ
por meio do art. 30 da LINDB.

2. A solução para problemas na interpretação e aplicação do


Direito

œȱŽ˜›’ŠœȱŠ›ž–Ž—Š’ŸŠœȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱ¹–ȱŒ˜–˜ȱ˜‹“Ž˜ȱŒŽ—›Š•ȱŽȱ™›Ž˜ŒžȬ
pação a resolução dos chamados “casos difíceis”.6ȱ œŽœȱ Ž¡’Ž–ȱ ›ŠŒ’˜ŒÇ—’˜ȱ
“ž›Ç’Œ˜ȱ œ˜ęœ’ŒŠ˜ǰȱ šžŽȱ ŸŠ’ȱ Š•·–ȱ Šȱ •à’ŒŠȱ Žž’ŸŠȱ Žȱ ˜ȱ œ’•˜’œ–˜ȱ ™Š›Šȱ ˜ȱ
ŒŠ–™˜ȱŠȱŽœŒ˜•‘ŠȱŠȱ—˜›–Šȱ“ž›Ç’ŒŠȱǻŽ—›ŽȱŠœȱŸ¤›’ŠœȱšžŽȱ›Žž•Š–ȱŠȱ–Žœ–Šȱ
hipótese fática e servem como parâmetro de aplicação na resolução do caso),
bem como para o espaço da ponderação de regras em face de princípios e entre
ŽœŽœǰȱ—˜œȱŒŠœ˜œȱšžŽȱŽ—Ÿ˜•ŸŽ–ȱŒ˜—Ě’˜ȱŽȱŸŠ•˜›Žœȱ“ž›Ç’Œ˜œȱŒ˜—œ’žŒ’˜—Š’œȱ˜žȱ
de interpretação sistemática.
Ocorre, no entanto, que a prática do Direito é informada, em sua grande
maioria, por casos concretos mais simples, que demandam a aplicação de
›Ž›Šœǰȱ œŽ–ȱ Ž¡’¹—Œ’Šȱ Žȱ “žÇ£˜œȱ Žȱ ™˜—Ž›Š³äŽœȱ Žȱ ŸŠ•˜›Š³äŽœȱ Ž–ȱ ŠŒŽȱ Šȱ
ordem constitucional,7ȱ˜žȱŽȱŒ˜Ž›¹—Œ’ŠȱŽ–ȱŠŒŽȱŠȱ›Š£¨˜ȱœž‹“ŠŒŽ—ŽȱŠȱ›Ž›Šǯ8
As regras infraconstitucionais, bem vistas as coisas, constituem o grande
˜‹“Ž˜ȱŠȱ™›¤’ŒŠȱ˜ȱ’›Ž’˜ǰȱ–˜’Ÿ˜ȱ™˜›ȱšžŽȱœžŠȱŸ’—Œž•Š³¨˜ȱŒ˜–ȱ˜œȱ™›’—ŒÇ™’˜œȱ

6
˜‹›Žȱ Šœȱ ™›’—Œ’™Š’œȱ ŒŠ›ŠŒŽ›Çœ’ŒŠœȱ Šœȱ Ž˜›’Šœȱ Šȱ Š›ž–Ž—Š³¨˜ȱ “ž›Ç’ŒŠǰȱ ŸŽ›ǰȱ ™˜›ȱ ˜˜œǰȱ
ATIENZA, 2005.
7
ŽœœŽȱœŽ—’˜ǰȱ
ž–‹Ž›˜ȱŸ’•ŠȱŠ›ž–Ž—ŠȱšžŽȱȃ—¨˜ȱœŽȱ™˜ŽȱŠę›–Š›ȱŒŠŽ˜›’ŒŠ–Ž—ŽȱšžŽȱ˜œȱ
™›’—ŒÇ™’˜œȱœ¨˜ȱšžŠ—’Š’ŸŠȱŽȱšžŠ•’Š’ŸŠ–Ž—Žȱ–Š’œȱŽ¡™›Žœœ’Ÿ˜œȱšžŽȱŠœȱ›Ž›Šœȱ—˜ȱ˜›Ž—Š–Ž—˜ȱ
“ž›Ç’Œ˜ȱ‹›Šœ’•Ž’›˜ǯȱ˜ŽȬœŽȱŠ™Ž—ŠœȱŠę›–Š›ȱšžŽȱ‘¤ȱž–ȱ˜›Ž—Š–Ž—˜ȱŒ˜–™˜œ˜ȱŽȱ›Ž›ŠœȱŽȱŽȱ
™›’—ŒÇ™’˜œǰȱ Œ˜–ȱ ž—³äŽœȱ ŽęŒŠŒ’Š’œȱ Œ˜–™•Ž–Ž—Š›Žœȱ Žȱ ’Ž›Ž—Žœǯȱ œœ’–ǰȱ Šȱ ŠœœŽ›’ŸŠȱ Ž’Šȱ Žȱ
chofre sem qualquer ressalva de que, no sentido de que o paradigma normativo passou ou
ŽŸŽ›’Šȱ™ŠœœŠ›ȱŽȱȁŠȱ›Ž›ŠȱŠ˜ȱ™›’—ŒÇ™’˜ȂǰȱŽȱ˜ȱ–Ž˜˜•à’Œ˜ȱŒ˜—œŽšžŽ—Žȱ˜ȱŠ—Ž›’˜›ǰȱ–˜ŸŽžȬœŽȱ
ȁŠȱœž‹œž—³¨˜ȱ¥ȱ™˜—Ž›Š³¨˜ǰȱ—¨˜ȱŽ—Œ˜—›ŠȱŒ˜››˜‹˜›Š³¨˜ȱ—˜ȱ˜›Ž—Š–Ž—˜ȱ“ž›Ç’Œ˜ȱ‹›Šœ’•Ž’›˜Ȅȱ
ǻ ǰȱŘŖŖşǯȱ™ǯȱŝǼǯȱǯȱŠ–‹·–ǰȱŠŒ˜›–’Œ”ǰȱŠ˜ȱŠę›–Š›ȱšžŽȱ˜œȱŒŠœ˜œȱ¤ŒŽ’œȱœ¨˜ȱžœžŠ’œȱ—Šȱ
˜›Ž–ȱ—˜›–Š’ŸŠǰȱŽ—šžŠ—˜ȱšžŽȱ˜œȱ’ÇŒŽ’œǰȱŠȱŽ¡ŒŽ³¨˜ȱǻ  ǰȱŘŖŖŞǰȱ™ǯȱřŖǼǯ
8
Aqui é pertinente a crítica trazida por Schauer, de que a regra como atrincheiramento
Ž—Ž›Š•’£Š˜ȱ Šȱ “žœ’ęŒŠ³¨˜ȱ œž‹“ŠŒŽ—Žȱ ŽŸŽȱ œŽ›ȱ Š™•’ŒŠŠȱ Š•ȱ Œ˜–˜ȱ ™˜œŠǯȱ œœ’–ȱ ŽŸŽȱ œŽ›ȱ
porque a aceitação da produção de resultados subótimos é inevitável para um sistema que
Š˜Žȱ–˜Ž•˜ȱŽȱŽŒ’œ¨˜ȱ‹ŠœŽŠ˜ȱŽ–ȱ›Ž›ŠœǰȱšžŽȱ•‘Žȱ›Š£ȱ˜ž›˜œȱ‹Ž—ŽÇŒ’˜œǯȱŽ—œŠ›ȱšžŽȱ˜ȱ“ž’£ȱ
™˜ŽǰȱšžŠ—˜ȱŠȱ›Žœ˜•ž³¨˜ȱ˜œȱŒŠœ˜œǰȱŸŽ›’ęŒŠ›ȱœŽȱŠȱ›Ž›ŠȱœŽȱŠŽšžŠȱŠ˜œȱŠ˜œȱ™Š›’Œž•Š›Žœȱ˜ȱ
ŒŠœ˜ȱ˜žȱ–Žœ–˜ȱšžŽȱŽœŠȱŽŸŽȱœŽ›ȱŠŠœŠŠȱŽ–ȱŽ›’–Ž—˜ȱŠȱŠ™•’ŒŠ³¨˜ȱ’›ŽŠȱŠȱ“žœ’ęŒŠ³¨˜ȱ
œž‹“ŠŒŽ—Žȱ·ǰȱ—ŠȱŸŽ›ŠŽǰȱŠŒŽ’Š›ȱ–˜Ž•˜ȱŽȱ˜–ŠŠȱŽȱŽŒ’œ¨˜ȱ™Š›’Œž•Š›’œŠǰȱŒ˜–˜ȱ˜ȱŠ˜Š˜ȱ
no common lawǰȱ™˜›šžŠ—˜ȱ˜ȱ“ž’£ȱ™˜ŽǰȱŽ–ȱšžŠ•šžŽ›ȱŒŠœ˜ǰȱŽ››˜Š›ȱŠȱ›Ž›ŠȱŽ–ȱœ’ȱǻ
ǰȱ
2004, p. 144-145).

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 243-274, nov. 2018.
250 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

Œ˜—œ’žŒ’˜—Š’œȱŽŸŽȱ˜Œ˜››Ž›ȱŽ–ȱŒŠœ˜œȱŽ¡ŒŽ™Œ’˜—Š’œǰȱ—˜œȱšžŠ’œȱŽŽ’ŸŠ–Ž—ŽȱœŽȱ
ŸŽ›’ęšžŽȱœžŠȱ’—Œ˜–™Š’‹’•’ŠŽȱŒ˜–ȱŠȱŽ’ȱž—Š–Ž—Š•ǯ9
A interpretação e aplicação das regras infraconstitucionais, portanto,
˜›–Š–ȱ˜ȱŒŽ—¤›’˜ȱ™Š›¨˜ȱ˜ȱ›ŠŒ’˜ŒÇ—’˜ȱ“ž›Ç’Œ˜ȱ—˜ȱ—˜œœ˜ȱœ’œŽ–ŠǰȱŒ˜–™˜œ˜ǰȱ
Ž–ȱœžŠȱ›Š—Žȱ–Š’˜›’Šǰȱ™Ž•˜œȱŒŠœ˜œȱ¤ŒŽ’œȱ˜žȱ›˜’—Ž’›˜œǯȱœŠȱŒ•Šœœ’ęŒŠ³¨˜ȱœŽȱ
“žœ’ęŒŠȱŽ–ȱŠŒŽȱŠȱ˜™Ž›Š³¨˜ȱ’—Ž›™›ŽŠ’ŸŠȱšžŽȱŠ’œȱŒŠœ˜œȱŽ¡’Ž–DZȱž–Šȱø—’ŒŠȱ
›Ž›ŠȱŠęž›ŠȬœŽȱŠ™•’Œ¤ŸŽ•ȱŽǰȱŽȱ˜›–ŠȱŽ¡™•ÇŒ’Šǰȱ˜›—ŽŒŽȱŠȱœ˜•ž³¨˜ȱ“ž›Ç’ŒŠȱŠ˜ȱ
problema.10 Nesse cenário, a decisão é o resultado de atividade interpretativa
essencialmente silogística na aplicação do Direito, que se socorre do raciocínio
“ž›Ç’Œ˜ȱ •à’Œ˜ȱ Žž’Ÿ˜ǯ11 Nessa perspectiva, suponha que uma lei diz:
“Se alguém faz A, então se aplica a Œ˜—œŽšž¹—Œ’Š B”. Alguém vem e faz A, logo,
ȱŠ›ŒŠ›¤ȱŒ˜–ȱŠȱŒ˜—œŽšž¹—Œ’Šȱǯ
Entretanto, nem todas as regras são tão fáceis e determinadas em sua
•’—ȱžŠŽ–ǰȱ ˜žǰȱ Ž—›˜ȱ ˜ȱ œ’œŽ–Šȱ “ž›Ç’Œ˜ǰȱ šžŠ—˜ȱ ™˜œŠœȱ Ž–ȱ Œ˜Ž“˜ȱ Œ˜–ȱ
outras regras, situações que acarretam processo de interpretação e aplicação
—¨˜ȱ¨˜ȱœ’–™•ŽœǯȱŽœœŽȱ–˜˜ǰȱ’—ø–Ž›Šœȱœ¨˜ȱŠœȱ’ęŒž•ŠŽœȱšžŽȱ™˜Ž–ȱœž›’›ȱ
na aplicação de regras, as quais, por sua vez, as tornam incertas ou indeter-
minadas. A indeterminabilidade pode ser revelada tanto nas regras de alcance
Žœ™ŽŒÇꌘȱ Žȱ ŽŽ›–’—Š˜ȱ šžŠ—˜ȱ —ŠšžŽ•Šœȱ Žȱ Š•ŒŠ—ŒŽȱ –Š’œȱ Š‹Ž›˜ȱ ǻŠœȱ šžŠ’œȱ
¹–ȱŠȱ’—Ž—³¨˜ȱŽ•’‹Ž›ŠŠȱŽȱœŽ›ȱ’—ŽŽ›–’—ŠŠǼǯ
œȱ›Ž›ŠœȱŒ˜–ȱŽœ™ŽŒ’ęŒ’ŠŽȱ•’–’ŠŠȱœ¨˜ȱŒ˜—œ›žÇŠœȱŒ˜–ȱ˜ȱ˜‹“Ž’Ÿ˜ȱŽȱ
šžŽȱœŽ“Š–ȱ’—Œ˜›™˜›ŠŠœȱ˜ŠœȱŠœȱ’œ’—³äŽœȱŽȱ™›ŽŒ’œäŽœȱ›Ž•ŽŸŠ—ŽœǰȱŽȱ–˜˜ȱ
šžŽȱ˜œȱŠ˜œȱœŽ•ŽŒ’˜—Š˜œȱœ¨˜ȱ™˜—žŠ’œȱŽȱŠœȱŒ˜—œŽšž¹—Œ’ŠœȱŠ–‹·–ǯȱ˜ŠŸ’Šǰȱ
œžŠȱŠ™•’ŒŠ³¨˜ȱ™˜ŽȱœŽȱ›ŽŸŽ•Š›ȱ’—œžęŒ’Ž—Žǰȱ’Š—Žȱ˜ȱšžŽœ’˜—Š–Ž—˜ȱŠȱŒŠŽȬ
gorização do fato à regra. Em outras palavras, a categorização no Direito se,
Žȱž–ȱ•Š˜ȱŠ“žŠȱ—Šȱ›Žœ˜•ž³¨˜ȱŽȱŞŖƖȱ˜œȱŒasos (estatística livre), de outro,
acarreta situações de dúvida e incerteza.12

9
˜–˜ȱŠę›–Šȱ
ž–‹Ž›˜ȱŸ’•Šǰȱȃ˜ȱ“ž’£ȱ—¨˜ȱ™˜ŽȱŽ’¡Š›ȱŽȱŠ™•’ŒŠ›ȱž–Šȱ›Ž›Šȱ’—›ŠŒ˜—œ’žŒ’˜—Š•ȱ
œ’–™•Žœ–Ž—ŽȱŽ’¡Š—˜ȬŠȱŽȱ•Š˜ȱŽȱ™ž•Š—˜ȱ™Š›Šȱ˜ȱ™•Š—˜ȱŒ˜—œ’žŒ’˜—Š•ǰȱ™˜›ȱ—¨˜ȱŒ˜—Œ˜›Š›ȱ
Œ˜–ȱ Šȱ Œ˜—œŽšž¹—Œ’Šȱ Šȱ œŽ›ȱ ŽœŽ—ŒŠŽŠŠȱ ™Ž•Šȱ ˜Œ˜››¹—Œ’Šȱ ˜ȱ Š˜ȱ ™›ŽŸ’œ˜ȱ —Šȱ œžŠȱ ‘’™àŽœŽȄ
(ÁVILA, 2009, p. 23).
10
Ainda que possamos não apreciar, intimamente, o resultado. Porém, o Direito e seu processo
’—Ž›™›ŽŠ’Ÿ˜ȱ —¨˜ȱ Ž¡’œŽ–ȱ ™Š›Šȱ Š›ŠŠ›ȱ ˜žȱ ŽœŠ›ŠŠ›ȱ Šȱ ’—’–’ŠŽȱ ˜ȱ Š™•’ŒŠ˜›ǯȱ ȱ “ž’£ȱ
ǻ˜žȱ Žœ˜›ȱ ™ø‹•’Œ˜Ǽȱ šžŽȱ Žœ™Ž›Šȱ šžŽȱ Šȱ Š™•’ŒŠ³¨˜ȱ Šȱ —˜›–Šȱ œ’›ŸŠȱ ™Š›Šȱ Ž’¡ŠȬ•˜ȱ Ž•’£ȱ ·ȱ ž–ȱ
™·œœ’–˜ȱ “ž’£ȱ ǻ˜žȱ Žœ˜›ȱ ™ø‹•’Œ˜Ǽǯȱœœ’–ǰȱ ™˜›ȱ –Š’œȱ šžŽȱ Šȱ Š™•’ŒŠ³¨˜ȱ Žȱ ž–Šȱ ›Ž›Šȱ —ž–ȱ ŒŠœ˜ȱ
simples possa nos angustiar, fato é que isso não autoriza a eleição de métodos interpretativos
’—Š™›˜™›’Š˜œȱ Žȱ Šȱ ™›˜Œž›Šȱ ™˜›ȱ œ˜•ž³äŽœȱ šžŽȱ —˜œȱ Ž’¡Ž–ȱ Œ˜—˜›¤ŸŽ’œȱ Ȯȱ ›ŠŠ—˜ȱ Šœȱ —˜›–Šœȱ
como se princípios fossem e usando – mal – as técnicas da proporcionalidade, quando não
“criando” novos princípios ad hoc.
11
ȃŠȱ›Ž•ŠŒ’à—ȱŽ—›Žȱ•Šȱ—˜›–Šȱ¢ȱŽ•ȱ‘ŽŒ‘˜ȱŽœȱœ’–’•Š›ȱŠȱ•ŠȱŽȱž—ȱ˜‹“Ž˜ȱ¢ȱœžȱ›ŽĚŽ“˜Ȅȱǻ ǰȱŗşşŗǰȱ
p. 23).
12
˜‹ŽȱŠȱŒŠŽ˜›’£Š³¨˜ȱ—˜ȱ’›Ž’˜ȱŸŽ›ȱ
DzȱǰȱŘŖŗŘǰȱ™ǯȱŗŝȬŘŗDzȱ
ǰȱŘŖŖśǯ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 243-274, nov. 2018.
EGON BOCKMANN MOREIRA, PAULA PESSOA PEREIRA | Art. 30 da LINDB 251

ž›˜ȱ Š˜›ȱ šžŽȱ ŠŒŠ››ŽŠȱ Šȱ ’—ŽŽ›–’—Š‹’•’ŠŽȱ Šȱ ›Ž›Šȱ Žœ™ŽŒÇꌊȱ ·ȱ ˜ȱ


žœ˜ȱŽȱŽ›–˜œȱ˜žȱŽ¡™›ŽœœäŽœȱŠ–‹ÇžŠœȱŽȱ’–™›ŽŒ’œŠœǯȱ•ž—œȱŽ¡˜œȱ•ŽŠ’œȱœ¨˜ȱ
Š–‹Çž˜œȱ ǻ˜’œȱ ˜žȱ –Š’œȱ œ’—’ęŒŠ˜œȱ ’œ’—˜œǼǰȱ ˜ž›˜œȱ œ¨˜ȱ ŸŠ˜œȱ ǻŒ˜—ŒŽ’˜œȱ
šžŽȱ ™˜œœžŽ–ȱ Š™•’ŒŠ³¨˜ȱ ’—Žę—’Šȱ ™Š›Šȱ ˜ȱ ŒŠœ˜ȱ ™Š›’Œž•Š›Ǽǯȱ ȱ ˜ž›˜œȱ Ž¡˜œȱ
•ŽŠ’œȱ œ¨˜ȱ ŸŠ˜œȱ Žȱ Š–‹Çž˜œǰȱ Œ˜–ȱ –ø•’™•˜œȱ œ’—’ęŒŠ˜œǰȱ Š•ž—œȱ ˜œȱ šžŠ’œȱ
¹–ȱŠ™•’ŒŠ³¨˜ȱ’—Žę—’Šǯ
ȱ Š–‹’ž’ŠŽǰȱ —¨˜ȱ ˜‹œŠ—Žȱ œŽ“Šȱ ˜—Žȱ Ž—žÇ—Šȱ Šȱ ’—Ž›™›ŽŠ³¨˜ǰȱ ·ȱ
pouco recorrente na estrutura das regras e é facilmente resolvida na aplicação
ŽœŠœȱ—˜ȱŒŠœ˜ȱŒ˜—Œ›Ž˜ǰȱ˜ȱšžŠ•ǰȱŠ˜ȱŽ•’–’Š›ȱ˜ȱŒ˜—Ž¡˜ȱ¤’Œ˜ǰȱ›ŽŸŽ•Šȱ˜ȱœŽ—’˜ȱ
ŠȱœŽ›ȱŠ˜ȱŠ˜ȱŽ¡˜ȱ•ŽŠ•ȱŽȱŽ›ŠȱŠȱ—˜›–ŠȱŠȱœŽ›ȱŠ™•’ŒŠŠǯȱ
A imprecisão, por recorrer a termos vagos ou indeterminados, trabalha
Œ˜–ȱ Šȱ —˜³¨˜ȱ Žȱ ŒŠœ˜œȱ •’–ǝ›˜Žœǯȱ ¡Ž–™•˜ȱ Ç™’Œ˜ȱ ŸŽ›’ęŒŠȬœŽȱ —Šœȱ Œ•¤žœž•Šœȱ
Ž›Š’œȱŽȱŒ˜—ŒŽ’˜œȱ“ž›Ç’Œ˜œȱ’—ŽŽ›–’—Š˜œDZȱ·Œ—’ŒŠœȱ•Ž’œ•Š’ŸŠœȱ™Š›ŠȱŠȱŒ˜—œȬ
›ž³¨˜ȱŽȱ—˜›–Šœȱ–Š’œȱ̞’ŠœǰȱŠœȱšžŠ’œȱ™›ŽœŒ’—Ž–ȱŠȱ’—œŠ—Œ’Š³¨˜ȱŽœ™ŽŒÇꌊȱ
dos pressupostos (predicado fático) e a correlata indicação pontual e porme-
—˜›’£ŠŠȱŠœȱŒ˜—œŽšž¹—Œ’Šœȱ“ž›Ç’ŒŠœǯ13 O recurso a este tipo de técnica deve-
œŽȱ¥ȱ˜–ŠŠȱŽȱŒ˜—œŒ’¹—Œ’ŠȱŽȱšžŽȱŠȱ›Ž›ŠȱŽœ™ŽŒÇꌊȱŽȱŽŽ›–’—ŠŠȱŠŒŠ››ŽŠȱ
Šȱ›’’Ž£ȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱŽȱ˜ȱ›¤™’˜ȱŽ—ŸŽ•‘ŽŒ’–Ž—˜ȱŠȱ˜›Ž–ȱ“ž›Ç’ŒŠȱ™˜œ’’ŸŠŠǯȱ
ŽœœŽȱ–˜˜ǰȱŒ˜–˜ȱ˜›–ŠȱŽȱ™Ž›–’’›ȱŒŽ›Šȱ̎¡’‹’•’ŠŽȱ—˜ȱœ’œŽ–ŠȱŽȱ—Šȱ
adaptabilidade às circunstâncias concretas, o legislador lança mão das cláu-
œž•ŠœȱŽ›Š’œǰȱŒž“˜ȱ˜‹“Ž’Ÿ˜ȱ·ȱŽ—Ÿ’Š›ȱ˜ȱŽŒ’œ˜›ȱ™Š›ŠȱŒ›’·›’˜œȱŠ™•’ŒŠ’Ÿ˜œȱŽŽ›Ȭ
mináveis em outros espaços do sistema ou através de variáveis tipologias
œ˜Œ’Š’œǰȱ˜œȱžœ˜œȱŽȱŒ˜œž–Žœȱ˜‹“Ž’ŸŠ–Ž—ŽȱŸ’˜›Š—ŽœȱŽ–ȱŽŽ›–’—ŠŠȱŠ–Ȭ
‹’¹—Œ’Šǯ14ȱ¡Ž–™•˜œȱœ¨˜ȱ˜œȱŒ˜—ŒŽ’˜œȱ“ž›Ç’Œ˜œȱ’—ŽŽ›–’—Š˜œǯ15

13
Segundo Judith Martins Costa, do ponto de vista da técnica legislativa, “a cláusula geral
constitui uma disposição normativa que utiliza, no seu enunciado, uma linguagem de tessi-
ž›Šȱ’—Ž—Œ’˜—Š•–Ž—ŽȱȁŠ‹Ž›ŠȂǰȱȁ̞’ŠȂȱ˜žȱȁŸŠŠȂǰȱŒŠ›ŠŒŽ›’£Š—˜ȬœŽȱ™Ž•ŠȱŠ–™•ŠȱŽ¡Ž—œ¨˜ȱ˜ȱ
œŽžȱ ŒŠ–™˜ȱœŽ–¦—’Œ˜Ȅȱǻǰȱ ŗşşŞǰȱ ™ǯȱ ŗřŚǼǯȱŽ—˜ȱ Šȱ ŽœŽȱ ™›˜‹•Ž–Šȱ “ž›Ç’Œ˜ǰȱ ˜ȱ •Ž’œ•Š˜›ȱ
›Žž•Š–Ž—˜žȱšžŽȱ—˜ȱ™›˜ŒŽœœ˜ȱŽŒ’œà›’˜ȱ—ŠœȱŽœŽ›ŠœȱŠ–’—’œ›Š’ŸŠǰȱŒ˜—›˜•Š˜›ŠȱŽȱ“ž’Œ’Š•ǰȱ
—¨˜ȱœŽȱŽŒ’’›¤ȱŒ˜–ȱ‹ŠœŽȱŽ–ȱŸŠ•˜›Žœȱ“ž›Ç’Œ˜œȱŠ‹œ›Š˜œȱœŽ–ȱšžŽȱœŽ“Š–ȱŒ˜—œ’Ž›ŠŠœȱŠœȱŒ˜—Ȭ
œŽšž¹—Œ’Šœȱ™›¤’ŒŠœȱŠȱŽŒ’œ¨˜ǰȱ—˜œȱŽ›–˜œȱ˜œȱŠ›œǯȱŘŖȱŽȱŘŗȱŠȱ ǯȱŽ›’ęŒŠȬœŽǰȱ™˜›Š—˜ǰȱ
Šȱ ˜–ŠŠȱ Žȱ ™˜œ’³¨˜ȱ šžŠ—˜ȱ Š˜ȱ ™›˜‹•Ž–Šȱ Šȱ ’—ŽŽ›–’—Š³¨˜ȱ ˜ȱ ’›Ž’˜ǰȱ ‘Š“Šȱ Ÿ’œŠȱ Šȱ
™˜œœ’‹’•’ŠŽȱŽȱŒ˜—Œ˜››¹—Œ’ŠȱŽȱ›Žœ™˜œŠœȱ“ž›Ç’ŒŠœȱ’žŠ•–Ž—ŽȱŸ¤•’Šœȱ™Š›Šȱ˜ȱŒŠœ˜ȱŒ˜—Œ›Ž˜ǰȱ
bem como a relevância do critério interpretativo e de argumentação do consequencialismo, o
que igualmente envolve o milenar problema da discricionariedade administrativa: a LINDB
ŠŒ˜•‘ŽȱŠȱŽ¡’œ¹—Œ’ŠȱŽȱ˜™³äŽœȱ’žŠ•–Ž—ŽȱŸ¤•’ŠœȱŽȱŠȱ›ŽœŽ›ŸŠȱŽȱŽœŒ˜•‘ŠȱȮȱ™›’ŸŠ’ŸŠȱȮȱŠšžŽ•ŽȱŠȱ
šžŽ–ȱŠȱ•Ž’ȱŒ˜–ŽŽžȱŠȱŒ˜–™Ž¹—Œ’ŠȱŽŒ’œà›’ŠǯȱŽšžŽ›ǰȱ—ŽœœŽȱŒ˜—Ž¡˜ǰȱšžŽȱŠœȱŠ•Ž›—Š’ŸŠœȱœŽ“Š–ȱ
Ž¡™˜œŠœȱŽȱ–˜’ŸŠŠȱŠȱŽœŒ˜•‘Šȱ’œŒ›’Œ’˜—¤›’ŠǯȱŠœŠ˜ȱ˜ȱȃŽ››˜ȱ›˜œœŽ’›˜Ȅȱǻ ǰȱŠ›ǯȱŘŞǼǰȱŠȱ
decisão discricionária está absolutamente blindada.
14
COSTA, 1998, p. 135.
15
A própria legislação em discussão neste artigo foi elaborada com o recurso à técnica dos
Œ˜—ŒŽ’˜œȱ ’—ŽŽ›–’—Š˜œǰȱ Œ˜—Ž¡˜ȱ —˜›–Š’Ÿ˜ȱ šžŽȱ Ž¡’’›¤ȱ –ž’˜ȱ ˜œȱ ŽŒ’œ˜›Žœȱ ™ø‹•’Œ˜œȱ Šȱ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 243-274, nov. 2018.
252 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

Žž’—˜ȱ Šȱ –Žœ–Šȱ •’—‘Šȱ Žȱ ›ŠŒ’˜ŒÇ—’˜ȱ Žȱ Žœ›žž›Šǰȱ ˜ž›˜ȱ ’™˜ȱ Žȱ ̎¡’Ȭ
bilidade na aplicação do Direito são as cláusulas processuais abertas.16 Estas
são regras desnudas de regulação substantiva: embora determinem que o
“ž•Š˜›ȱŽ—‘ŠȱšžŽȱ›Žœ˜•ŸŽ›ȱ˜ȱ™›˜‹•Ž–Šȱ“ž›Ç’Œ˜ǰȱ—¨˜ȱŽœ™ŽŒ’ęŒŠ–ȱŒ˜–˜ȱŽȱŒ˜–ȱ
quais limites proceder. O conteúdo regulativo da norma é aberto à valoração
do decisor, à vista das circunstâncias do caso e da realidade dos direitos
envolvidos.17
Nessa toada, cumpre assinalar: mesmo quando decisores trabalham com
™›ŽœŒ›’³äŽœȱ—˜›–Š’ŸŠœȱŽœ›Ž’ŠœȱŽȱŽœ™ŽŒÇꌊœǰȱ˜ȱ›ŠžȱšžŽȱŽŽ›–’—Šȱ˜ȱ›ŠŠȬ
–Ž—˜ȱŽœœŠœȱ™›ŽœŒ›’³äŽœȱŒ˜–˜ȱ’–™Ž›Š’ŸŠœǰȱ–Š’œȱšžŽȱŒ˜–˜ȱ›Ž›ŠœȱŽȱŽ¡™ŽȬ
›’¹—Œ’Šȱ›Š—œ™Š›Ž—Žȱǻ–˜Š•’ŠŽȱŽȱ›Ž›Šǰȱ—ŠȱšžŠ•ȱ˜ȱŽŒ’œ˜›ȱ™˜ŽȱŠŠœŠ›ǰȱŽ–ȱ
šžŠ•šžŽ›ȱŒŠœ˜ǰȱŠȱŽ—Ž›Š•’£Š³¨˜ȱ’œ™˜œŠȱ—˜ȱŽ¡˜ȱŽ–ȱŽ›’–Ž—˜ȱŠȱ“žœ’ęŒŠ³¨˜ȱ
œž‹“ŠŒŽ—ŽȱŽȱ™›’–Ž’›Šȱ˜žȱœŽž—Šȱ˜›Ž–ȱšžŽȱŠȱ’—˜›–ŠǼǰȱŽœ¤ȱ’›ŽŠ–Ž—Žȱ
›Ž•ŠŒ’˜—Š˜ȱŒ˜–ȱ˜ȱ›ŠžȱŽȱ’œŒ›’Œ’˜—Š›’ŽŠŽȱ˜™Š˜ȱ™Ž•˜ȱœ’œŽ–Šȱ“ž›Ç’Œ˜ǰȱ
como método para restringir e controlar a atuação dos decisores.18
A ordem normativa brasileira optou por um modelo de tomada de de-
Œ’œ¨˜ȱ‹ŠœŽŠ˜ȱŽ–ȱ›Ž›ŠœȱŽȱ–Š•ŽŠ‹’•’ŠŽȱ•’–’ŠŠǰȱ™˜›šžŠ—˜ȱ“žÇ£ŽœȱŽȱŽŒ’Ȭ
sores públicos apenas podem afastar a aplicabilidade da regra, em favor da
“žœ’ȱęȱŒŠ³¨˜ȱœž‹“ŠŒŽ—Žǰȱ—˜ȱŒŠœ˜ȱŽȱŽ¡’œ’›ȱŽ•Ž–Ž—˜œȱšžŽȱ•‘ŽȱŽ•ŽžŽ–ȱŽœ™Š³˜ȱ
de atuação interpretativa maior (termos ambíguos, imprecisos, cláusulas
abertas e problemas de categorização) e nas hipóteses de incompatibilidade
da regra com parâmetros normativos constitucionais, princípios e direitos
fundamentais.

tarefa de interpretação e aplicação das normas, de modo coerente, igualitário e previsível


(art. 23 da LINDB).
16
De acordo com Luiz Guilherme Marinoni, as normas processuais abertas “devem ser con-
Œ›Ž’£ŠŠœȱŠȱ™Š›’›ȱŠœȱ—ŽŒŽœœ’ŠŽœȱ›ŽŸŽ•ŠŠœȱ—˜ȱŒŠœ˜ȱŒ˜—Œ›Ž˜ǰȱ™˜’œȱœŽȱŽœ’—Š–ȱŠȱŠ›ȱŠ˜ȱ“ž’£ȱ
™˜Ž›ȱ™Š›ŠȱŠ›ȱŽŽ’Ÿ’ŠŽȱŠ˜ȱ’›Ž’˜ȱ–ŠŽ›’Š•Ȅǯȱœœ’–ǰȱȃ˜ȱ“ž’£ȱŽ–ȱ˜ȱŽŸŽ›ȱŽȱŽ—Œ˜—›Š›ȱž–Šȱ
·Œ—’ŒŠȱ™›˜ŒŽœœžŠ•ȱ˜žȱž–ȱ–˜˜ȱ™›˜ŒŽœœžŠ•ȱšžŽȱœŽ“ŠȱŒŠ™Š£ȱŽȱŠŽ—Ž›ȱŠ˜ȱ’›Ž’˜ȱž—Š–Ž—Š•ȱ
¥ȱžŽ•Šȱ“ž›’œ’Œ’˜—Š•ȱŽŽ’ŸŠȄǯȱ—›ŽŠ—˜ǰȱȃŒ˜–˜ȱŽœœŽȱȁ–˜˜Ȃȱ·ȱŠȱŽ¡™›Žœœ¨˜ȱŠȱŒ˜—Œ›Ž’£Š³¨˜ȱ
Žȱ ž–Šȱ —˜›–Šȱ Š‹Ž›Šȱ ǽdzǾǰȱ ˜ȱ “ž’£ȱ ŽŸŽȱ Š›ž–Ž—Š›ȱ šžŽȱ ˜ȱ ȁ–˜˜Ȃȱ Ž—Œ˜—›Š˜ǰȱ Š•·–ȱ Žȱ Š›ȱ
ŽŽ’Ÿ’ŠŽȱŠ˜ȱ’›Ž’˜ȱž—Š–Ž—Š•ȱ¥ȱžŽ•Šȱ“ž›’œ’Œ’˜—Š•ǰȱ·ȱ˜ȱšžŽȱŽ›Šȱ–Ž—˜œȱ›Žœ›’³¨˜ȱ™˜œœÇŸŽ•ȱ
ao demandado” (MARINONI, 2010, p. 132). As chamadas cláusulas processuais abertas, no
Código de Processo Civil de 2015, estão prescritas no art. 536.
17
Žȱ ŠŒ˜›˜ȱ Œ˜–ȱ Œ‘ŠžŽ›ǰȱ šžŠ—˜ȱ ˜œȱ Œ˜–™˜—Ž—Žœȱ Žȱ ž–ȱ œ’œŽ–Šȱ “ž›Ç’Œ˜ȱ œŽȱ Ž—Œ˜—›Š–ȱ
Žœ™›˜Ÿ’˜œȱŽ–ȱ–Ž’Šȱ’–™˜›Š—ŽȱŽȱ›Ž›ŠœȱšžŽȱ’–™äŽ–ȱ›Š—ŽȱŽ¡’¹—Œ’Šȱ›Žž•Š’ŸŠȱœž‹œȬ
Š—’ŸŠȱ œ˜‹›Žȱ ˜œȱ ŽŒ’œ˜›Žœȱ Ž—›˜ȱ ˜ȱ œ’œŽ–Šǰȱ ’£Ž–˜œȱ Ž¡Ž›ŒŽ–ȱ ’œŒ›’Œ’˜—Š›’ŽŠŽǰȱ ˜žȱ œŽ“Šǰȱ
estão limitados no que fazem, mas essencialmente livres no que respeita ao que podem fazer
ǻ
ǰȱŘŖŖŚǰȱ™ǯȱŘřśǼǯ
18

ǰȱŘŖŖŚǰȱ™ǯȱŘřśǯ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 243-274, nov. 2018.
EGON BOCKMANN MOREIRA, PAULA PESSOA PEREIRA | Art. 30 da LINDB 253

–ȱ ŠŒŽȱ ŽœœŽȱ Œ˜—Ž¡˜ȱ —˜›–Š’Ÿ˜ǰȱ ꌊȱ ŽŸ’Ž—Žȱ Šȱ Œ˜–™•Ž¡’ŠŽȱ šžŽȱ


Ž—Ÿ˜•ŸŽȱ˜ȱ™›˜ŒŽœœ˜ȱŽȱ’—Ž›™›ŽŠ³¨˜ȱŽȱŠ™•’ŒŠ³¨˜ȱ˜ȱ’›Ž’˜ǯȱȱŠę›–Š³¨˜ǰȱŽ›’Ȭ
vada da sabedoria convencional e histórica, de que a função decisória dos
™˜Ž›Žœȱ™ø‹•’Œ˜œȱŠ™Ž—ŠœȱŠ™•’ŒŠȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱŽ’œ•Š’Ÿ˜ǰȱ™›ŽŽ¡’œŽ—ŽȱŠȱšžŠ•šžŽ›ȱ
atividade reconstrutiva, na medida em que a norma é completa o bastante
™Š›Šȱ Šȱ ›Žœ˜•ž³¨˜ȱ ˜œȱ ™›˜‹•Ž–Šœȱ “ž›Ç’Œ˜œǰȱ —¨˜ȱ –Š’œȱ œŽȱ “žœ’ęŒŠǯȱ ȱ –’Ȭ
nistração Pública deste século XXI não se encontra atada pelo conceito de
ȃŽŒ’œ¨˜ȱ Ž¡ŽŒžà›’ŠȄǰ19 num automatismo irresponsável, elaborado para o
cenário político-econômico do século XIX.
Em contrapartida, a compreensão do caráter argumentativo e indeter-
minado do Direito, bem como a dimensão procedimental do Estado de Di-
›Ž’˜ȱ ›ŽŠ•’£ŠŠȱ —˜ȱ Ž¡Ž›ŒÇŒ’˜ȱ ˜ȱ ŠŒŽœœ˜ȱ Š˜œȱ ›’‹ž—Š’œǰȱ à›¨˜œȱ Š–’—’œ›Š’Ÿ˜œȱ
Žȱ Žȱ Œ˜—›˜•Žǰȱ Š˜ȱ ˜–Ž—Š›ȱ ˜ȱ ’›Ž’˜ȱ Žȱ Œ˜—ŽœŠ›ȱ Šœȱ —˜›–Šœȱ “ž›Ç’ŒŠœȱ Žȱ œžŠȱ
™Ž›’ȱ—¹—Œ’ŠȱŒ˜–ȱ˜œȱŸŠ•˜›Žœȱ“ž›Ç’Œ˜œȱŠœœž–’˜œȱ™Ž•Šȱ˜›Ž–ȱŒ˜—œ’žŒ’˜—Š•ȱǻ˜žȱ
mesmo internacional),20 desvelaram a presença dos casos difíceis na prática
ŽŒ’œà›’Šǰȱ —˜œȱ šžŠ’œȱ ˜ȱ ŽœŠ‹Ž•ŽŒ’–Ž—˜ȱ Šȱ ™›Ž–’œœŠȱ ¤’ŒŠȱ ˜žȱ Œ˜—œŽšž¹—Œ’Šȱ
“ž›Ç’ŒŠȱ›Žœž•ŠȱšžŽœ¨˜ȱ™›˜‹•Ž–¤’ŒŠȱǻ˜žǰȱŠ˜ȱ–Ž—˜œǰȱŒ˜—Žœ¤ŸŽ•Ǽǯ
˜–˜ȱ Œ˜—œŽšž¹—Œ’Šǰȱ ŠŒŽ—ž˜žȬœŽȱ ˜ȱ Žœ™Š³˜ȱ Šȱ ’—ŒŽ›Ž£Šǰȱ Šȱ ’–™›ŽŸ’Ȭ
sibilidade e das angústias, quanto ao comportamento a ser adotado pelos
decisores públicos, na resolução dos casos. Ademais, apresentou-se como
problema para os cidadãos de países de civil law, porquanto retirou a ilusão de
šžŽȱŠȱ“ž›’œ’³¨˜ȱ·ȱŠ’Ÿ’ŠŽȱ–Ž›Š–Ž—ŽȱŽŒ•Š›Šà›’ŠȱšžŽȱ—ŠŠȱŽ–ȱŠȱŒ˜—›’‹ž’›ȱ
para a o desenvolvimento do Direito, para a sua reconstrução racional.21
ȱ ™›˜‹•Ž–Šȱ Šȱ ’—ŽŽ›–’—Š³¨˜ȱ ˜ȱ ’›Ž’˜ȱ ·ȱ ž–Šȱ Šœȱ Ž—¹—Œ’Šœȱ –Š’œȱ
’–™˜›Š—Žœȱ Šȱ Ž˜›’Šȱ “ž›Ç’ŒŠȱ Œ˜—Ž–™˜›¦—ŽŠǰȱ Šœȱ šžŠ’œǰȱ Œ˜—œŒ’Ž—Žœȱ Žȱ šžŽȱ
a pretensão de construir teorias abstratas e gerais que reduzam essa indeter-
minação é uma quimera, dŽœ•˜ŒŠ›Š–ȱœŽžȱ˜‹“Ž˜ȱŽȱ™›Ž˜Œž™Š³¨˜ȱ™Š›Šȱ˜ȱ™›˜ŒŽœœ˜ȱ

19
Trata-se do conceito que o clássico Maurice Hauriou lavrou, há mais de 100 anos, para o ato
Š–’—’œ›Š’Ÿ˜DZȱȃŒȂŽœȱ˜žŽȱ·Œ’œ’˜—ȱŽ—ȱŸžŽȱŽȱ™›˜ž’›Žȱž—ȱŽěŽȱŽȱ›˜’ȱ™›’œŽȱ™Š›ȱž—ŽȱŠž˜›’·ȱ
Š–’—’œ›Š’ŸŽȱŠ—œȱž—Žȱ˜›–ŽȱŽ¡·Œž˜’›Žȱ˜žǰȱ™•žœȱ‹›’¸ŸŽ–Ž—ǰȱŒȂŽœȱ˜žŽȱ·Œ’œ’˜—ȱŽ¡·Œž˜’›ŽȄȱ
ǻ
 ǰȱŗşŖřǰȱ™ǯȱŘśŞǼǯȱȱšžŽȱ›Ž›ŠŠȱŠȱ–’—’œ›Š³¨˜ȱŽȱꗊ’œȱ˜ȱœ·Œž•˜ȱ ǰȱŒ˜–Ž³˜ȱ˜ȱ
DZȱŠšžŽ•ŠȱŽȱšžŽ–ȱœŽȱŽœŒ˜—ęŠŸŠȱ™˜›ȱœŽ›ȱ›Ž™›ŽœŽ—Š—Žȱ˜ȱAncien Régime, e, por isso, a quem
œàȱŽ›ŠȱŠ›’‹žÇ˜ȱ˜ȱŽŸŽ›ȱŠž˜–¤’Œ˜ȱŽȱŽ¡ŽŒžŠ›ȱŠȱ•Ž›Šȱ›’ŠȱŠȱ•Ž’ǰȱœŽž—˜ȱŠȱ–¤¡’–Šȱin claris
cessat interpretatio.
20
ǯȱǰȱŠ›ŽȱŽŒ’œ’œȱŠ—ȱ‘Žȱž•Žȱ˜ȱŠ DZȱŠȱ•Š¢Ž›ŽȱŠ™™›˜ŠŒ‘ǯ
21
Sobre a questão do papel do Poder Judiciário como poder do Estado responsável pelo
processo de reconstrução do Direito, em atividade de compartilhamento de autoridade com
˜ȱ ˜Ž›ȱ Ž’œ•Š’Ÿ˜ǰȱ Ž›ȱ  ǰȱ ŘŖŖŗǰȱ ™ǯȱ śşŜȬŜŖŚDzȱ ŘŖŖŜǰȱ ™ǯȱ ŗŖřȬŗŗŚDzȱ ŘŖŖřǰȱ ™ǯȱ ŞŖřȬŞŗŘDzȱ

ǰȱŘŖŗŚǰȱ™ǯȱŘřŜȬŘśŜDzȱ  ǰȱŗşşşǰȱ™ǯȱŗşřȬŘŗśDzȱ 
ǰȱŘŖŖŘǰȱ™ǯȱŚŗȬŜŞǯ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 243-274, nov. 2018.
254 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

Žȱ ˜–ŠŠȱ Žȱ ŽŒ’œ¨˜ǰȱ –Š’œȱ Žœ™ŽŒ’ęŒŠ–Ž—Žȱ ˜ȱ “ž’Œ’Š•ǰ22ȱ Œ˜–ȱ ˜ȱ ˜‹“Ž’Ÿ˜ȱ Žȱ
pensar e construir critérios racionais de argumentação que reduzam o espaço
ŽȱŠ›‹’›Š›’ŽŠŽȱŽȱ’››ŠŒ’˜—Š•’ŠŽȱ—˜ȱ›ŠŒ’˜ŒÇ—’˜ȱ“ž›Ç’Œ˜ǯ

3. A indeterminação do Direito e a tutela da segurança jurídica

žŠ—˜ȱœŽȱ›ŠŠȱŽȱœŽž›Š—³Šȱ“ž›Ç’ŒŠǰȱŽœ¤ȬœŽȱŠȱ™Ž—œŠ›ȱ—ŠȱŽœŠ‹’•’ŠŽȱ˜ȱ
’›Ž’˜ǯȱ–ȱ˜ž›Šœȱ™Š•ŠŸ›ŠœǰȱŽ–ȱŠ•˜ȱŽ–ȱšžŽȱœŽȱŒ˜—ęŽȱŽŸ’˜ȱ¥ȱœžŠȱŒ˜—’³¨˜ȱŽȱ
previsível, seguro, inviolável. Mas, para que se possa falar em previsibilidade
˜ȱ ’›Ž’˜ǰȱ Š—Žœȱ Žȱ ž˜ǰȱ ·ȱ ™›ŽŒ’œ˜ȱ šžŽȱ ˜œȱ Œ’Š¨˜œȱ ŽœŽ“Š–ȱ Ž–ȱ Œ˜—’³äŽœȱ
de saber qual é o Direito vigenteǯȱ œœ˜ȱœ’—’ęŒŠȱšžŽȱ—¨˜ȱŽŸŽ–ȱœŽ›ȱŒ˜—Ž—Š˜œȱ
¥ȱ’—˜›¦—Œ’Šȱ“ž›Ç’ŒŠǰȱ™Ž•Šȱ’–™˜œœ’‹’•’ŠŽȱŽȱŒ˜—‘ŽŒŽ›ȱŒ˜–ȱŠ—ŽŒŽ¹—Œ’Šȱ˜ȱ
œ’—’ęŒŠ˜ȱŠœȱ—˜›–Šœȱ“ž›Ç’ŒŠœȱ¥œȱšžŠ’œȱœŽ›¨˜ȱœž‹–Ž’˜œǯ
Há, aqui, relação direta com a efetividade da ordem normativa estatal,
šžŽȱ Ž–ȱ Œ˜–˜ȱ ꗊ•’ŠŽȱ Œ˜—›’‹ž’›ȱ ™Š›Šȱ ˜ȱ ˜›Š•ŽŒ’–Ž—˜ȱ Šœȱ Ž¡™ŽŒŠ’ŸŠœȱ
’—’Ÿ’žŠ’œȱŽȱ›Žž³¨˜ȱŠœȱ’—ŒŽ›Ž£Šœǯȱ–ȱœŽ—’˜ȱ˜‹“Ž’Ÿ˜ǰȱŠȱžŽ•ŠȱŠȱŒŽ›Ž£Šȱ
“ž›Ç’ŒŠȱŒ˜—ꐞ›Šȱ‹Ž–ȱœ˜Œ’Š•ȱ’žœ˜ǰȱž–ȱbem comum, na medida em que sua
realização tutela a harmonia de determinada comunidade.
Ocorre que a falta da inteligibilidade do Direito decorre do fato de que
œžŠœȱ ˜—Žœǰȱ ™›˜ŸŽ—’Ž—Žœȱ Žȱ ™•ž›Š•’ŠŽȱ Žȱ à›¨˜œȱ ŽœŠŠ’œǰȱ œ¨˜ȱ Œ˜–™•Ž¡Šœȱ
Žȱ —ž–Ž›˜œŠœǰȱ ˜ȱ šžŽȱ ’ęŒž•Šȱ šžŽȱ ˜ȱ Œ’Š¨˜ȱ Œ˜—‘Ž³Šȱ ˜ȱ ’›Ž’˜ǯ23ȱȱ Šžœ¹—Œ’Šȱ
de estabilidade, que pode ser atribuída principalmente à variação frívola das
decisões decorrente de sua não vinculação, associada à falta de previsibilidade,
Š–‹·–ȱ ›Ž•ŠŒ’˜—ŠŠȱ Šȱ ŽœŠȱ œ’žŠ³¨˜ǰȱ ’ęŒž•Šȱ Šȱ Œ˜—ꊗ³Šȱ ˜ȱ Œ’Š¨˜ȱ —Šœȱ
’—œ’ž’³äŽœȱ “ž›Ç’ŒŠœȱ Žǰȱ ™˜›ȱ Œ˜—œŽž’—Žǰȱ —˜ȱ œŠ˜ȱ Žȱ ’›Ž’˜ǯȱ –™ŽŽǰȱ ™˜›ȱ
˜ž›˜ȱ•Š˜ǰȱšžŽȱœŽȱŽ—‘Š–ȱ’—ŒŽ—’Ÿ˜œȱŽȱŽ¡™ŽŒŠ’ŸŠœȱžž›Šœǯ
Nesse aspecto, nem o alto grau de determinação das regras elimina o
™›˜‹•Ž–Šȱ Šȱ ’—œŽž›Š—³Šǰȱ ‘Š“Šȱ Ÿ’œŠȱ ˜ȱ ™›˜‹•Ž–Šȱ Šȱ Š–‹’ž’ŠŽȱ Žȱ ’–™›ŽȬ
cisão das normas e, mais amplamente, a indeterminação do Direito. Em
˜ž›Šœȱ™Š•ŠŸ›ŠœǰȱŠȱŽŽ›–’—Š³¨˜ȱŠȱ•’—žŠŽ–ȱ—¨˜ȱœ’—’ęŒŠȱŠȱ’—Ž•’’‹’•’ŠŽǰȱ

22
CALSAMIGLIA, 1998, p. 212-215.
23
Mesmo porque a LINDB, desde a sua redação original, positiva o princípio do neminem
excusat, em seu art. 3º: “Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.”
ȱšžŽȱ’—œŠ•Šȱ˜ȱŽœŠę˜ȱŒ˜—Ž–™˜›¦—Ž˜ȱ¥ȱŠ™•’ŒŠ‹’•’ŠŽȱŽœœŠȱ–¤¡’–Šǰȱœ˜‹›Žž˜ȱŽ–ȱŽ–™˜œȱ
de profusão normativa multinível e multifontes (quando menos: internacionais, conveniais,
nacionais, federais, estaduais, regionais, municipais, legislativas, administrativas, contratuais,
›Žž•Š–Ž—Š›ŽœǰȱŒ˜—›˜•Š˜›ŠœȱŽȱ“ž’Œ’Š’œǼǯȱ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 243-274, nov. 2018.
EGON BOCKMANN MOREIRA, PAULA PESSOA PEREIRA | Art. 30 da LINDB 255

Œ˜—ꊋ’•’ŠŽȱ Žȱ ŒŠ•Œž•Š‹’•’ŠŽȱ ˜ȱ ’›Ž’˜ǯȱ ˜ŽȬœŽȱ Ž›ȱ Šȱ •’—žŠŽ–ȱ Œ˜–˜ȱ


aliada, mas apenas através dela não se acaba com a insegurança, vez que o
Direito como linguagem não é algo acabado: precisa da atividade constitutiva
do intérprete e aplicador.
A contribuição dada pela “certeza” do Direito – redução da insegurança
’Š—Žȱ˜œȱ›’œŒ˜œȱ“ž›Ç’Œ˜œȱȮȱ·ȱŠȱ™˜œœ’‹’•’ŠŽȱŽȱšžŽȱ˜˜œȱ˜œȱŒ’Š¨˜œȱœŽȱŽ’Ȭ
šžŽ–ȱŒ˜–ȱŒ˜—ꊗ³ŠȱŠ˜œȱ™›à™›’˜œȱŠŠ£Ž›ŽœȱŽȱ›Ž’Ÿ’—’šžŽ–ǰȱŒ˜–ȱ‹˜ŠȱŽ¡™ŽŒȬ
tativa de sucesso, os próprios direitos. Conforme destacou Almiro do Couto
Žȱ ’•ŸŠǰȱ ˜ȱ ™›’—ŒÇ™’˜ȱ Šȱ œŽž›Š—³Šȱ “ž›Ç’ŒŠȱ œŽȱ Žœ˜‹›Šȱ Ž–ȱ žŠœȱ ’–Ž—œäŽœǰȱ
ž–Šȱ˜‹“Ž’ŸŠȱŽȱ˜ž›Šȱœž‹“Ž’ŸŠǯ24 A primeira visa à estabilização dos elementos
objetivosȱŠȱ˜›Ž–ȱ“ž›Ç’ŒŠǰȱ›Ž•ŠŒ’˜—Š—˜ȬœŽȱŠœȱ•’–’Š³äŽœȱ¥ȱ›Ž›˜Š’Ÿ’ŠŽȱ˜ȱ
Š˜ȱ ŽœŠŠ•ǰȱ ŠœœŽž›Š—˜ȬœŽȱ Šȱ ™›˜Ž³¨˜ȱ Š˜ȱ ’›Ž’˜ȱ Ššž’›’˜ǰȱ Š˜ȱ Š˜ȱ “ž›Ç’Œ˜ȱ
™Ž›Ž’˜ȱŽȱ¥ȱŒ˜’œŠȱ“ž•ŠŠǰȱ˜ȱŠ›ǯȱśķǰȱ’—Œǯȱ ǰȱŠȱ˜—œ’ž’³¨˜ǯȱ˜›ȱœžŠȱŸŽ£ǰȱŠȱ
dimensão subjetivaȱœŽȱ›ŽŽ›Žȱ¥ȱ™›˜Ž³¨˜ȱŠȱŒ˜—ꊗ³ŠȱŽ™˜œ’ŠŠȱ™Ž•˜ȱ™Š›’Œž•Š›ȱ
šžŠ—˜ȱŠ˜œȱŽŽ’˜œȱ“ž›Ç’Œ˜œȱŠȱŠžŠ³¨˜ȱ˜ȱœŠ˜ǯȱ œœ˜ȱ·ȱ–ž’˜ȱ’–™˜›Š—Žǰȱ
porque o ponto central do Estado de Direito é o de que, por ser prospectivo,
nos permite prever o que acontecerá diante da tomada de determinadas ações
ŽǰȱŠœœ’–ǰȱ™˜Ž–˜œȱ™•Š—Ž“Š›ȱ—˜œœŠœȱŸ’ŠœȱŽ–ȱœ˜Œ’ŽŠŽǯ
ŠŒ˜›–’Œ”ȱ Œ‘ŽŠȱ Šȱ Šę›–Š›ȱ šžŽǰȱ Ž—›Žȱ ˜œȱ ŸŠ•˜›Žœȱ Š›Š—’˜œȱ ™Ž•˜ȱ
œŠ˜ȱŽȱ’›Ž’˜ǰȱ—Ž—‘ž–ȱœŽ›’Šȱ–Š’œȱ’–™˜›Š—Žȱ˜ȱšžŽȱŠȱŒŽ›Ž£Šȱ“ž›Ç’ŒŠǰȱ
ȃŽ¡ŒŽ˜ȱŠ•ŸŽ£ȱ™Ž•˜œȱ™›’—ŒÇ™’˜œȱšžŽȱŠȱŠŒ˜–™Š—‘Š–ǰȱŠȱœŠ‹Ž›ǰȱŠȱœŽž›Š—³ŠȱŽȱ
Ž¡™ŽŒŠ’ŸŠœȱ “ž›Ç’ŒŠœȱ Žȱ Šȱ Š›Š—’Šȱ ˜œȱ Œ’Š¨˜œȱ Œ˜—›Šȱ ’—Ž›Ž›¹—Œ’Šœȱ Š›‹’Ȭ
trárias por parte do governo”.25ȱ–Šȱœ˜Œ’ŽŠŽȱšžŽȱŠ•ŒŠ—³ŠȱŠ’œȱ’ŽŠ’œȱ™Ž›–’Žȱ
aos seus habitantes o gozo de vida autônoma em circunstâncias de mútua
Œ˜—ꊗ³Šǯ
ŽœœŠȱ™Ž›œ™ŽŒ’ŸŠǰȱŠȱžŽ•Šȱ˜ȱŸŠ•˜›ȱŠȱ™›ŽŸ’œ’‹’•’ŠŽȱ“ž›Ç’ŒŠȱŽ—Œ˜—›Šȱ
“žœ’ęŒŠ³¨˜ȱŠ·ȱ–Žœ–˜ȱ™Š›ŠȱŠ•·–ȱ˜ȱ’›Ž’˜ǰȱ—Šȱ–˜›Š•ǯȱŠ•ȱ“žœ’ęŒŠ³¨˜ȱ›Žœ’Žȱ
—Šȱ —ŽŒŽœœ’ŠŽȱ ‘ž–Š—Šȱ Šȱ Œ˜—ꊗ³Šȱ —Šœȱ ›Ž•Š³äŽœȱ ’—Ž›™Žœœ˜Š’œȱ Žȱ Žȱ ŽŽ›Ȭ
minação nas disputas à luz de normas de condutas preestabelecidas.26ȱꗊ•ǰȱ
Šȱ Ÿ’Šȱ Ž–ȱ œ˜Œ’ŽŠŽȱ Ž¡’Žȱ ˜ȱ ›Žœ™Ž’˜ȱ Šȱ ŽŽ›–’—Š˜ȱ Œ˜—“ž—˜ȱ Žȱ ›Ž›Šœȱ Žȱ
Œ˜—Ÿ’Ÿ¹—Œ’ŠǰȱŠȱę–ȱŽȱšžŽȱ˜˜ȱœŽ›ȱ‘ž–Š—˜ȱœŽ“Šȱ›Žœ™Ž’Š˜ȱŽȱ–˜˜ȱŽšž’ȱŸŠȬ
•Ž—ŽȱŠȱ˜˜œȱ˜œȱŽ–Š’œǰȱŽȱ–˜˜ȱ™›ŽŸ’œÇŸŽ•ȱŽȱŒ˜—ę¤ŸŽ•ȱǻ˜ȱŠ›ǯȱřŖȱŠȱ ȱ
Œ˜—›’‹ž’ȱŽ–ȱ™Š›ŒŽ•ŠȱŽœœŠȱŒ˜—Ÿ’Ÿ¹—Œ’ŠǰȱŠ˜ȱŒŽ›ŒŠ›ȱŽȱ™Š›¦–Ž›˜œȱŽȱŒ˜—ꊋ’Ȭ
lidade as decisões aplicativas do Direito Público).

24
SILVA, 2004.
25
MACCORMICK, 2008, p. 23.
26
ÁVILA, 2012, passim.

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 243-274, nov. 2018.
256 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

Essa dimensão superlativa fez com que a necessidade de se tutelar a


œŽž›Š—³Šȱ“ž›Ç’ŒŠȱ—Šœȱ›Ž•Š³äŽœȱ’—Ž›œž‹“Ž’ŸŠœȱŒ˜’’Š—ŠœȱœŽȱ˜›—ŠœœŽȱ’œŒž›œ˜ȱ
Œ˜–ž–ȱ —Šȱ •’Ž›Šž›Šȱ “ž›Ç’ŒŠǯȱ Šœȱ ˜ȱ šžŽȱ œ’—’ęŒŠȱ œŽž›Š—³Šȱ “ž›Ç’ŒŠǵȱ žŠ•ȱ
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˜œȱ˜Ž›ŽœȱŽ’œ•Š’Ÿ˜ǰȱ¡ŽŒž’Ÿ˜ȱŽȱ ž’Œ’¤›’˜ȱŠȱŠ˜³¨˜ȱŽȱŒ˜–™˜›Š–Ž—˜ȱ
šžŽȱ Œ˜—›’‹žŠ–ȱ ™Š›Šȱ Šȱ Ž¡’œ¹—Œ’Šǰȱ Ž–ȱ ‹Ž—ŽęŒ’˜ȱ ˜œȱ Œ’Š¨˜œȱ Žȱ ŽœŽȱ œžŠȱ
™Ž›œ™ŽŒ’ŸŠǰȱŽȱž–ȱœŠ˜ȱŽȱŒ˜—ꊋ’•’ŠŽȱŽȱŒŠ•Œž•Š‹’•’ŠŽȱ˜ȱ’›Ž’˜ǯȱœœŠȱ
Žę—’³¨˜ȱ ›ŽœœŠ•Šȱ ˜’œȱ Š˜›Žœȱ ’–™˜›Š—Žœǯȱ –ȱ ™›’–Ž’›˜ȱ •žŠ›ǰȱ ˜ȱ ™›’—ŒÇ™’˜ȱ
não tem valor estritamente funcional, mas também instrumental (garantia
dos direitos fundamentais da liberdade, igualdade e dignidade). A segurança
“ž›Ç’ŒŠȱŽ¡’œŽȱ™Š›Šȱ›ŽŠ•’£Š›ȱ˜œȱ’›Ž’˜œȱž—Š–Ž—Š’œȱŠȱ•’‹Ž›ŠŽǰȱ’žŠ•ŠŽȱ
e dignidade e, por outro lado, estes direitos só são realizáveis se houver
œŽž›Š—³Šȱ “ž›Ç’ŒŠǯȱ –ȱ ˜ž›Šœȱ ™Š•ŠŸ›Šœǰȱ ˜ȱ ™›’—ŒÇ™’˜ȱ Šȱ œŽž›Š—³Šȱ “ž›Ç’ŒŠȱ ·ȱ
instrumento para a realização dos demais princípios citados.
–ȱœŽž—˜ȱ•žŠ›ǰȱŒ˜–˜ȱŠȱœŽž›Š—³Šȱ“ž›Ç’ŒŠȱ·ȱ™›’—ŒÇ™’˜ȱšžŽȱž—Š–Ž—Šȱ
Šȱ ŸŠ•’ŠŽȱ Žȱ ’—œ›ž–Ž—Š•’£Šȱ Šȱ ŽęŒ¤Œ’Šȱ Šœȱ Ž–Š’œȱ —˜›–Šœȱ —˜ȱ œ’œŽ–Šǰȱ
Œ˜—œ’ž’ȬœŽȱŒ˜–˜ȱŸŽ›ŠŽ’›ŠȱŒ˜—’³¨˜ȱŽœ›žž›Š•ȱ˜ȱ’›Ž’˜ǯȱ˜–˜ȱŠ•ȱ“Š–Š’œȱ
™˜ŽȱœŽ›ȱŽ¡Œ•žÇ˜ȱ—Šœȱ™˜—Ž›Š³äŽœȱŽȱ›Š£äŽœȱšžŽȱ’—˜›–Š–ȱ˜œȱ™›˜ŒŽœœ˜œȱŽȱ
tomada de decisão em qualquer Estado democrático de Direito.
ŽœœŽȱ –˜˜ǰȱ ™Š›Šȱ Ÿ’•Šǰȱ Šȱ œŽž›Š—³Šȱ “ž›Ç’ŒŠȱ Ž–ȱ ŽęŒ¤Œ’Šȱ ›Žœ’œŽ—Žȱ
(permanente) no sistema, porquanto defende que constituir um princípio
—¨˜ȱœ’—’ȱꌊȱŠ™Ž—ŠœȱŽȱ¨˜ȱœ˜–Ž—ŽȱœŽ›ȱŠ™•’Œ¤ŸŽ•ǰȱ–Šœȱœ’–ȱœŽ›ȱž—Š–Ž—Š•ȱŽǰȱ
™˜›Š—˜ǰȱ—¨˜ȱ™˜ŽȱœŽ›ȱŽ¡Œ•žÇ˜ǯ27
ȱŽœŠ‹’•’ŠŽȱŠ•–Ž“ŠŠȱŒ˜–ȱŠȱŠ›Š—’ŠȱŠȱ™›ŽŸ’œ’‹’•’ŠŽȱ“ž›Ç’ŒŠǰȱŽŽ’Ȭ
vamente, é condição estruturante para a realização dos demais direitos, na
–Ž’ŠȱŽ–ȱšžŽȱ˜ȱŽ¡Ž›ŒÇŒ’˜ȱŠŽšžŠ˜ȱŽȱšžŠ•šžŽ›ȱž–ȱŽ•ŽœȱŽ¡’ŽȱŠ–‹’Ž—Žȱ
confortável e seguro.
Fica evidente, portanto, que nossa ordem normativa constitucional não
˜•Ž›Šȱ Šȱ ’—ŽŽ›–’—Š³¨˜ȱ ŠŒžŠ•ȱ Šœȱ ŽŒ’œäŽœǰȱ œŽ“Šȱ —˜ȱ ¦–‹’˜ȱ ™›’ŸŠ˜ȱ ˜žȱ —˜ȱ
público. Isso consubstanciaria um Estado em que a incerteza domina a prática
do Direito, na medida em que não se sabe como tribunais (administrativos,
judiciais e controladores) irão decidir. Pior: não se sabe se os tribunais irão
›Žœ™Ž’Š›ȱŠœȱ™›à™›’ŠœȱŽŒ’œäŽœǯȱȱ’›Ž’˜ǰȱŒ˜›™˜ȱŽȱ—˜›–Šœȱ“ž›Ç’ŒŠœȱšžŽȱŽ–ȱ
como valores estruturantes a previsibilidade, imparcialidade e igualdade, não
tolera decisionismos irresponsáveis por parte do Estado.

27
ÁVILA, passim.

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4. O papel do decisor público na interpretação e aplicação do


Direito

O papel do Direito está na condução do comportamento social. A obe-


’¹—Œ’Šȱ¥œȱ—˜›–Šœȱ“ž›Ç’ŒŠœȱ·ȱ˜ȱ›Žœž•Š˜ȱ˜ȱ™›˜ŒŽœœ˜ȱŽȱœ˜Œ’Š•’£Š³¨˜ǯȱ˜—ž˜ǰȱ
nem sempre se pode estar seguro acerca de qual norma seguir. E isto ocorre
™˜›šžŽȱŠœȱ—˜›–Šœȱœ¨˜ȱŽ¡™›ŽœœŠœȱŠ˜œȱ‘Š‹’Š—Žœȱ™˜›ȱ–Ž’˜ȱŠȱ•’—žŠŽ–ǰȱŠ˜ȱ
šžŽȱŽ’¡Šȱ–Š›Ž–ȱ™Š›ŠȱŒ˜—ŽœŠ³¨˜ǰȱšžŠ—˜ȱ—¨˜ǰȱ™Š›Šȱ’œŒ›’Œ’˜—Š›’ŽŠŽȱ—Šȱ
Š™›ŽŽ—œ¨˜ȱ˜ȱœŽžȱœ’—’ęŒŠ˜ǯȱ
ȱ œž“Ž’˜ȱ Œ˜–ž–ǰȱ —Šœȱ œ’žŠ³äŽœȱ Ž–ȱ šžŽȱ —¨˜ȱ Œ˜—œŽžŽȱ ’Ž—’ęŒŠ›ȱ šžŠ•ȱ
Œ˜–Š—˜ȱ šžŽ›ȱ œ’—’ęŒŠ›ȱ ŽŽ›–’—ŠŠȱ —˜›–Šȱ ˜žȱ šžŠ•ȱ ŽœŠœȱ ’—Œ’Žȱ —Šȱ ›ŽȬ
ž•Š³¨˜ȱ˜ȱŠ˜ǰȱꌊȱŽ–ȱŽœŠ˜ȱŽȱ’—ŽŒ’œ¨˜ǰȱ—¨˜ȱœŠ‹Ž—˜ȱšžŽȱŠ³¨˜ȱŠ˜Š›ȱ—Šȱ
realização de suas atividades e negócios cotidianos e, portanto, fruir do seu
pleno direito de liberdade. As liberdades – pessoais, sociais e econômicas –
dependem da legibilidade do Direito.
ȱ ŽœŠ˜ȱ Žȱ ’—ŽŽ›–’—Š³¨˜ȱ ˜ȱ ’›Ž’˜ǰȱ “žœŠ–Ž—Žȱ ™˜›ȱ Ž’¡Š›ȱ Ž–ȱ œžœȬ
pensão a regulação do comportamento social e da própria estrutura estatal,
—Šȱ–Ž’ŠȱŽ–ȱšžŽȱ˜›—ŠȱŽœŒ˜—‘ŽŒ’˜ȱŽȱ’—Š—ÇŸŽ•ȱ˜ȱœ’—’ęŒŠ˜ȱŠȱ—˜›–Šȱ
a ser observada nas relações travadas entre os particulares, entre estes e o
Poder Público, e entre os funcionários que atuam neste, acaba por provocar
um estado de desordem. Isso porque esvazia a função precípua das regras
“ž›Ç’ŒŠœǰȱšžŽȱ·ȱŠœœŽž›Š›ȱŠȱ™›ŽŸ’œ’‹’•’ŠŽǰȱŠȱ’žŠ•ŠŽȱŽȱ’–™Š›Œ’Š•’ŠŽȱ—˜ȱ
›Š˜ȱ ŽœœŠœȱ ›Ž•Š³äŽœȱ œ˜Œ’Š’œǯȱ ž˜ȱ ˜ȱ šžŽȱ ™˜Žȱ œŽ›ȱ Šę›–Š˜ȱ ™˜Žȱ œŽ›ȱ šžŽœȬ
tionado – inclusive pela própria autoridade que emanou a norma. Essa
Œ˜—ȱŽœŠ‹’•’ŠŽȱ Šœȱ Šę›–Š³äŽœȱ —˜œȱ ™›˜ŒŽœœ˜œȱ ™ø‹•’Œ˜œȱ ™äŽȱ Ž–ȱ ¡ŽšžŽȱ Šœȱ
características das regras que sustentam o ideal do Estado de Direito, como o
™›’—ŒÇ™’˜ȱŠȱ–˜›Š•’ŠŽȱ™˜•Ç’ŒŠȱŽȱ“ž›Ç’ŒŠǯ
Todavia, o caráter argumentativo do Direito é igualmente um valor a ser
defendido e tutelado, porquanto traduz a pluralidade do Direito e dos desa-
cordos profundos que marcam a sociedade, atua como técnica de correção dos
Š˜œȱ •Ž’œ•Š’Ÿ˜œȱ šžŽȱ œŽȱ ŽœŸ’Š–ȱ Šœȱ ꗊ•’ŠŽœȱ žŽ•ŠŠœȱ ™˜›ȱ —˜œœŠȱ ˜›Ž–ȱ
normativa constitucional e demonstra o respeito às pessoas privadas, ao
Œ˜—œ’Ž›¤Ȭ•ŠœȱŒŽ—›˜œȱŠ’Ÿ˜œȱŽȱ’—Ž•’¹—Œ’ŠǯȱȱŒŠ›¤Ž›ȱŠ›ž–Ž—Š’Ÿ˜ȱŠȱ—˜›–Šȱ
e sua possível derrotabilidade incrementa a abertura do seu universal estático
para o acolhimento dos particulares, representados nas dores e dinamicidade
˜œȱŒŠœ˜œȱŒ˜—Œ›Ž˜œȱŽȱ—ŠœȱŒ˜–™•Ž¡’ŠŽœȱ˜œȱŠ˜œȱœ˜Œ’Š’œǰȱ™Ž›–’’—˜ǰȱŽ—¨˜ǰȱ
ž–Šȱ™˜›ŠȱŽȱŽ—›ŠŠȱ™Š›ŠȱŠȱ̎¡’‹’•’ŠŽȱ—˜ȱŽœŽnvolvimento do Direito.

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258 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

Ambos, Estado de Direito e o caráter argumentativo do Direito, como


Šę›–Šȱ Ž’•ȱ ŠŒ˜›–’Œ”ǰȱ œ¨˜ȱ •žŠ›ŽœȬŒ˜–ž—œȱ ™Š›Šȱ ˜ȱ œžœŽ—˜ȱ Žȱ ž–Šȱ
comunidade política plural e organizada, mas como ser possível acreditar
Ž–ȱ Š–‹˜œǵ28ȱ Ž›’Šȱ Šȱ ™›˜™˜œŠȱ Žȱ ›ŽŒ˜—Œ’•’Š³¨˜ȱ Ž—›Žȱ ŠšžŽ•Žœȱ ž–ȱ ˜‹“Ž’Ÿ˜ȱ
’–™›Š’Œ¤ŸŽ•ǵ
Ž•‘˜›ȱŽ¡™•’ŒŠ—˜ǰȱ˜ȱœŠ˜ȱŽȱ’›Ž’˜ȱŽ–ȱ™˜›ȱ˜‹“Ž’Ÿ˜ȱŠȱŽœŠ‹’•’ŠŽȱ
œ˜Œ’Š•ǰȱŠȱœŽž›Š—³Šȱ“ž›Ç’ŒŠǰȱŠȱ’žŠ•ŠŽȱŽ—›Žȱ˜œȱœŽžœȱŒ’Š¨˜œȱŽȱŠȱ•’‹Ž›ŠŽǯȱ
ȱ›ŽŠ•’£Š³¨˜ȱŽœœŽœȱŸŠ•˜›Žœȱ·ȱ˜‹“Ž’Ÿ˜ȱ˜ȱœŽžȱ™›’–Ž’›˜ȱ–˜–Ž—˜ȱŽȱŠžŠ³¨˜ǰȱ
šžŠ•ȱœŽ“Šǰȱ˜ȱŠȱ™›˜ž³¨˜ȱ˜œȱŽ¡˜œȱ•ŽŠ’œǰȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱ•Ž’œ•Š˜ǯȱŽœŽȱŽœ’Ȭ
derato, a ordem normativa dispõe de procedimentos a serem observados
para a deliberação e promulgação das leis, estabelecidos na Constituição, os
quais tratam pormenorizadamente das questões relativas à distribuição de
Œ˜–™Ž¹—Œ’Šœǰȱ’™˜œȱŽȱ–Š·›’Šœȱ™Ž›’—Ž—ŽœȱŠȱŒŠŠȱŽœ™·Œ’Žȱ—˜›–Š’ŸŠǰȱ™›’—Ȭ
cípios a serem respeitados no decorrer do processo legislativo.
˜ŠŸ’ŠǰȱšžŠ—˜ȱ˜œȱ˜‹“Ž’Ÿ˜œȱ˜ȱœŠ˜ȱŽȱ’›Ž’˜ȱ›ŽœŠ–ȱ›žœ›Š˜œȱ—ŽœœŽȱ
primeiro momento,29ȱŒ˜–™ŽŽȱŠ˜œȱ“žÇ£ŽœȱŽȱŽŒ’œ˜›Žœȱ™ø‹•’Œ˜œǰȱ—˜ȱ–˜–Ž—˜ȱŠȱ
atividade aplicativa, tutelar o adequado e efetivo cumprimento dos mesmos.
No espaço das decisões, a deliberação argumentativa do Direito desenvolve-
œŽȱŒ˜–ȱ˜ȱę–ȱŽȱœŽȱŒ‘ŽŠ›ȱŠȱž–ȱŠŒ˜›˜ȱ˜žȱŽę—’³¨˜ȱŽȱšžŠ•ȱ’—Ž™›ŽŠ³¨˜ȱŽŸŽȱ
œŽ›ȱŠ›’‹žÇŠȱ¥œȱ—˜›–Šœȱ“ž›Ç’ŒŠœȱŽ–ȱ’œŒžœœ¨˜ǰȱŽȱ–˜˜ȱŠȱŠ›Š—’›ǰȱ—˜ȱ–Žœ–˜ȱ
ato, a solução mais adequada do caso concreto e para a formação do sistema
“ž›Ç’Œ˜ǯ30
Š›’—˜ȱ ŽœœŠȱ ™›Ž–’œœŠǰȱ Šȱ •’Ž›Šž›Šȱ “ž›Ç’ŒŠȱ Ÿ˜•ŠŠȱ ™Š›Šȱ ˜ȱ ™›˜‹•Ž–Šȱ
˜ȱ™Š™Ž•ȱ˜œȱ“žÇ£Žœȱ—ŠȱŠ›ŽŠȱŽȱ›ŽŒ˜—œ›ž³¨˜ȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱŽŽ—ŽžȱŠȱŽœŽȱŽȱ
šžŽȱ Šȱ Š’Ÿ’ŠŽȱ “ž›’œ’Œ’˜—Š•ȱ Ž–ȱ žŠœȱ ž—³äŽœȱ ™›’—Œ’™Š’œȱ Šȱ ŽœŽ—Ÿ˜•ŸŽ›ȱ Žȱ

28
MACCORMICK, 2008, p. 23.
29
Com relação ao ponto, interessante o argumento levantado por Melvin Eisenberg: “Our
œ˜Œ’Ž¢ȱ‘ŠœȱŠ—ȱŽ—˜›–˜žœȱŽ–Š—ȱ˜›ȱ•ŽŠ•ȱ›ž•Žœȱ‘Šȱ™›’ŸŠŽȱŠŒ˜›œȱŒŠ—ȱ•’ŸŽǰȱ™•Š—ǰȱŠ—ȱœŽĴ•Žȱ
‹¢ǯȱ ‘Žȱ •Ž’œ•Šž›Žȱ ŒŠ——˜ȱ ŠŽšžŠŽ•¢ȱ œŠ’œ¢ȱ ‘’œȱ Ž–Š—ǯȱ ‘Žȱ ŒŠ™ŠŒ’¢ȱ ˜ȱ Šȱ •Ž’œ•Šž›Žȱ ˜ȱ
Ž—Ž›ŠŽȱ•ŽŠ•ȱ›ž•Žœȱ’œȱ•’–’ŽǰȱŠ—ȱ–žŒ‘ȱ˜ȱ‘ŠȱŒŠ™ŠŒ’¢ȱ–žœȱ‹ŽȱŠ••˜ŒŠŽȱ˜ȱ‘Žȱ™›˜žŒ’˜—ȱ
˜ȱ›ž•ŽœȱŒ˜—ŒŽ›—’—ȱ˜ŸŽ›—–Ž—Š•ȱ–ŠĴŽ›œǰȱœžŒ‘ȱŠœȱœ™Ž—’—ǰȱŠ¡ŽœǰȱŠ—ȱŠ–’—’œ›Š’˜—Dzȱ›ž•Žœȱ
‘ŠȱŠ›Žȱ›ŽŠ›ŽȱŠœȱ‹Ž¢˜—ȱ‘ŽȱŒ˜ž›œȱŒ˜–™ŽŽ—ŒŽǰȱœžŒ‘ȱŠœȱ‘ŽȱŽę—’’˜—ȱ˜ȱŒ›’–ŽœDzȱŠ—ȱ›ž•Žœȱ
‘ŠȱŠ›Žȱ‹ŽœȱŠ–’—’œŽ›Žȱ‹¢ȱŠȱ‹ž›ŽŠžŒ›Š’Œȱ–ŠŒ‘’—Ž›¢ǰȱœžŒ‘ȱŠœȱ‘Žȱ™›’—Œ’™•Žœȱ˜›ȱœŽĴ’—ȱ‘Žȱ
›ŠŽœȱŒ‘Š›Žȱ‹¢ȱ›Žž•ŠŽȱ’—žœ›’Žœǯȱž›‘Ž–˜›Žǰȱ˜ž›ȱ•Ž’œ•Šž›ŽȱŠ›Žȱ—˜›–Š••¢ȱ—˜ȱœŠěŽȱ’—ȱ
Šȱ–Š——Ž›ȱ‘Šȱ ˜ž•ȱŽ—Š‹•Žȱ‘Ž–ȱ˜ȱ™Ž›˜›–ȱŒ˜–™›Ž‘Ž—œ’ŸŽ•¢ȱ‘Žȱž—Œ’˜—ȱ˜ȱŽœŠ‹•’œ‘’—ȱ
•Š ȱ˜ȱ˜ŸŽ›—ȱŠŒ’˜—ȱ’—ȱ‘Žȱ™›’ŸŠŽȱœŽŒ˜›ǯȱ’—Š••¢ǰȱ’—ȱ–Š—¢ȱŠ›ŽŠœȱ‘Žȱ̎¡’‹•Žȱ˜›–ȱ˜ȱŠȱ“ž’Œ’Š•ȱ
rule is preferable to the cannonical form a legislative rule” (EISENBERG, 1988, p. 5).
30
ȱ’Ž’ŠȱŠšž’ȱ˜œȱ’œŒž›œ˜œȱž—Š–Ž—Š’œȱŠȱŠ’Ÿ’ŠŽȱŽŒ’œà›’ŠDZȱž–ȱŸ˜•Š˜ȱ™Š›Šȱ˜ȱŒ˜—Ž¡˜ȱ
particular do caso concreto, o outro voltado para o desenvolvimento do Direito, por meio
ŠȱŠ’Ÿ’ŠŽȱŽȱ’—Ž›™›ŽŠ³¨˜ȱŽȱŒ›’Š³¨˜ȱŽȱ™›ŽŒŽŽ—ŽœǯȱŽ›ǰȱ—ŽœœŠȱ•’—‘Šǰȱ  ǰȱŘŖŗŚDzȱ
   ǰȱŘŖŗŚDzȱŘŖŗŝǯ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 243-274, nov. 2018.
EGON BOCKMANN MOREIRA, PAULA PESSOA PEREIRA | Art. 30 da LINDB 259

Œž–™›’›ǰȱšžŠ’œȱœŽ“Š–DZȱŠȱ™›’–Ž’›Šȱ›ŽŽ›ŽȬœŽȱŠ˜ȱŽŸŽ›ȱŽȱ›Žœ˜•ž³¨˜ȱŠœȱ’œ™žŠœȱ
“ž›Ç’ŒŠœǰȱ ™˜›šžŠ—˜ȱ œ˜Œ’ŽŠŽœȱ Œ˜–™•Ž¡Šœȱ Œ˜–˜ȱ Šȱ —˜œœŠȱ ™›ŽŒ’œŠ–ȱ Žȱ ž–Šȱ
’—œ’ž’³¨˜ȱšžŽȱœŽ“ŠȱŒŠ™Š£ȱŽȱ›Žœ˜•ŸŽ›ȱŒ˜—Œ•žœ’ŸŠ–Ž—Žȱ˜œȱ•’Ç’˜œȱŽŒ˜››Ž—Žœȱ
da reinvindicação dos direitos e de sua aplicação (esta instituição corresponde
Š˜œȱ›’‹ž—Š’œǼDzȱŠȱœŽž—Šȱž—³¨˜ȱŒ˜—ŒŽ›—ŽȱŒ˜–ȱ˜ȱ˜‹“Ž’Ÿ˜ȱŽȱŽ—›’šžŽŒ’–Ž—˜ȱ
˜ȱŽœ˜šžŽȱŠœȱ—˜›–Šœȱ“ž›Ç’ŒŠœǯ31
œȱ “žÇ£Žœȱ Š™›ŽœŽ—Š–ȬœŽȱ —Šȱ ˜›Ž–ȱ —˜›–Š’ŸŠȱ ’—œ’žŒ’˜—Š•ȱ Œ˜–˜ȱ œ˜•žȬ
cionadores imparciais de disputas entre pessoas privadas e entre estas e o
™˜Ž›ȱ™ø‹•’Œ˜ǯȱ˜›ȱ’œœ˜ǰȱ˜ȱšžŽȱ˜œȱœž“Ž’˜œȱŽȱ˜ȱœŠ˜ȱŽœ™Ž›Š–ȱ–’—’–Š–Ž—Žȱ
˜œȱ“žÇ£Žœȱ·ȱšžŽȱŽœŽœȱ›Žœ˜•ŸŠ–ȱ˜œȱ™›˜‹•Ž–Šœȱ“ž›Ç’Œ˜œȱŽȱŠŒ˜›˜ȱŒ˜–ȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱ
Žȱ—¨˜ȱŒ˜–ȱœžŠœȱŒ˜—Ÿ’Œ³äŽœȱ™Žœœ˜Š’œǰȱœŽ“Š–ȱŽȱ˜›Ž–ȱ–˜›Š•ǰȱ›Ž•’’˜œŠǰȱ™˜•Ç’ŒŠȱ
ou social. Como argumenta MacCormick “as razões que divulgam ao público
™Š›ŠȱœžŠœȱŽŒ’œäŽœȱŽŸŽ–ȱœŽ›ȱ›Š£äŽœȱšžŽȱǻŽœŽȱšžŽȱœŽ“Š–ȱ•ŽŸŠŠœȱŠȱœ·›’˜Ǽȱ
ǽdzǾȱŽ–˜—œ›Ž–ȱšžŽȱœžŠœȱŽŒ’œäŽœȱŠ›Š—Ž–ȱŠȱȁ“žœ’³ŠȱŽȱŠŒ˜›˜ȱŒ˜–ȱŠȱ•Ž’ȂǰȱŽȱ
šžŽȱœŽ“Š–ȱ™Ž•˜ȱ–Ž—˜œȱ—ŽœœŽȱœŽ—’˜ȱ›Š£äŽœȱ“žœ’ęŒŠà›’ŠœȄǯ32
ȱ Ž¡’¹—Œ’Šȱ šžŽȱ ›ŽŒŠ’ȱ œ˜‹›Žȱ ˜œȱ “žÇ£Žœǰȱ Ž—¨˜ǰȱ Žœ¤ȱ —Šȱ —ŽŒŽœœ’ŠŽȱ Žȱ
“žœ’ęŒŠ³¨˜ȱ ›ŠŒ’˜—Š•ȱ šžŽȱ Ž¡™˜—‘Šȱ œžŠȱ ™›ŽŽ—œ¨˜ȱ Žȱ ›Žœ˜•ž³¨˜ȱ Šȱ ’œ™žŠȱ
™›’ŸŠŠȱ ™˜›ȱ –Ž’˜ȱ Žȱ ›Š£¨˜ȱ ž—’ŸŽ›œŠ•’£¤ŸŽ•ǰȱ šžŽȱ œŽ“Šȱ ŒŠ™Š£ȱ Žȱ œŽ›ȱ ›Ž™•’ŒŠŠȱ
nos demais casos semelhantes.33
ȱ ™›˜™àœ’˜ǰȱ ŠŒŽ›ŒŠȱ ˜ȱ ™Š™Ž•ȱ —˜›–Š’Ÿ˜ȱ Šȱ “žœ’ęŒŠ³¨˜ȱ Šœȱ ŽŒ’œäŽœȱ
“ž’Œ’Š’œȱ—Šȱ“ž›’œ’³¨˜ȱŒ˜—Ž–™˜›¦—ŽŠǰȱŒž–™›ŽȱŠœœ’—Š•Š›ȱŠȱ˜‹œŽ›ŸŠ³¨˜ȱŽ’Šȱ™˜›ȱ
ž•’œȱŠ›—’˜ǰȱŠ˜ȱŠę›–Š›ȱŠȱ’–™˜›¦—Œ’ŠȱŠȱ“žœ’ęŒŠ³¨˜ȱŽ–ȱžŠœȱ’–Ž—œäŽœǯȱȱ
primeira, nas situações dos casos difíceis, em que há mais de uma interpretação
Ÿ¤•’Šȱ™Š›ŠȱŠȱ›Žœ˜•ž³¨˜ȱ˜ȱŒŠœ˜ǰȱšžŽȱŽ¡’Žȱ˜ȱ“ž’£ȱ˜›ŽȱŠ›ž–Ž—Š³¨˜ȱ™Š›Šȱ
“žœ’ęŒŠ›ȱŠȱŽœŒ˜•‘Šǰȱ›Ž™Ž›ŒžŽȱ—˜ȱ™•Š—˜ȱŠȱ›ŽŒ˜››’‹’•’ŠŽȱŠœȱŽŒ’œäŽœǯȱ œœ˜ȱ
™˜›šžŽȱ ˜ȱ •’’Š—Žȱ Žœ™Ž›Šȱ ˜ȱ “ž’£ȱ šžŽȱ ŽœŽȱ Œ˜—œ’Ž›Žȱ Žȱ ™˜—Ž›Žȱ ˜˜œȱ ˜œȱ
argumentos sustentados e provas produzidas, de modo que, em situação de
’—œŠ’œŠ³¨˜ȱŒ˜–ȱ˜ȱ›Žœž•Š˜ǰȱŽ–ȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱœž‹“Ž’Ÿ˜ȱŽȱŸŽ›ȱœŽžœȱŠ›ž–Ž—˜œȱ
›ŽŠŸŠ•’Š˜œȱŽȱ’—ĚžŽ—Œ’Š›ȱŠȱ˜–Ša de decisão em outra direção.

31
ǯȱŒ•Šœœ’ęŒŠ³¨˜ȱ™›˜™˜œŠȱ™˜›ȱ  ȱŗşşŞǰȱpassim.
32
MACCORMICK, 2006, p. 21.
33
ȱ Ž¡™›Žœœ¨˜ȱ ›Ž™•’ŒŠ‹’•’ŠŽȱ ·ȱ žœŠŠȱ ™˜›ȱ ’œŽ—‹Ž›ȱ ™Š›Šȱ Ž—˜Š›ȱ ž–ȱ ˜œȱ ™›’—ŒÇ™’˜œȱ ž—ŠȬ
–Ž—Š’œȱšžŽȱŽŸŽȱ˜ŸŽ›—Š›ȱŠȱ˜›–ŠȱŒ˜–˜ȱŠȱ•Ž’ȱ·ȱŽœŠ‹Ž•ŽŒ’ŠȱŽȱ–˜’ęŒŠŠȱ™Ž•˜œȱ›’‹ž—Š’œǯȱ
Nesse sentido, argumenta que o princípio da replicabilidade tem como principal aspecto
fornecer aos tribunais o emprego de uma metodologia consistente de resolução dos casos
particulares, que afaste a arbitrariedade do Direito (EISENBERG, 1998, p. 11-12). Sobre a teoria
Šȱ›Š£¨˜ȱ™ø‹•’ŒŠȱŒ˜—“žŠŠȱŒ˜–ȱ˜ȱ™›Š–Š’œ–˜ȱȮȱŽȱœžŠȱŠ™•’ŒŠ‹’•’ŠŽȱ—˜ȱœ’œŽ–Šȱ‹›Šœ’•Ž’›˜ǰȱ
Ÿǯȱ,ǰȱŘŖŗŞǯ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 243-274, nov. 2018.
260 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

˜›ȱ˜ž›˜ȱ•Š˜ǰȱ’žŠ•–Ž—Žǰȱ˜ȱ›’‹ž—Š•ȱ™˜œœž’ȱ’—Ž›ŽœœŽȱ—Šȱ“žœ’ęŒŠ³¨˜ȱ˜ȱ
ponto de vista recursal, porquanto favorece o cumprimento do seu papel de
autoridade na supervisão das decisões, em franco diálogo entre os decisores.
Isso é mais válido ainda quando os tribunais desempenham papel de Corte
de precedentes.34
ȱ œŽž—Šȱ ’–Ž—œ¨˜ȱ ›Ž™Ž›ŒžŽȱ —Šȱ Œ›’Š³¨˜ȱ Žȱ ˜–Ž—˜ȱ Šȱ Œ˜—ꊗ³Šȱ ˜œȱ
Œ’Š¨˜œȱ—ŠœȱŽŒ’œäŽœȱ“ž’Œ’Š’œǰȱž–ŠȱŸŽ£ȱšžŽȱŽŒ’œäŽœȱŠŽšžŠŠ–Ž—Žȱ“žœ’Ȭ
ꌊŠœǰȱšžŽȱŠ›ž–Ž—Ž–ȱ‹˜Šœȱ›Š£äŽœǰȱ™›˜™˜›Œ’˜—Š–ȱ–Š’˜›ȱŒ›Ž’‹’•’ŠŽȱ—Šȱ
ŠžŠ³¨˜ȱ˜œȱ“žÇ£ŽœǰȱšžŽǰȱŠ˜ȱœŽȱŒ˜–™›˜–ŽŽ›Ž–ȱŒ˜–ȱž–ȱ–˜Ž•˜ȱŽȱ“žœ’ęŒŠ³¨˜ȱ
imparcial, previsível e igualitário, demonstram a responsabilidade assumida
perante o Estado de Direito.
œȱŸÇŒ’˜œȱ˜ȱ’›Ž’˜ǰȱŒ˜–˜ȱ’—ŒŽ›Ž£Šǰȱ˜‹œŒž›’ŠŽǰȱŒ˜—žœ¨˜ȱŽȱ’ęŒž•ŠŽȱ
—ŠȱŸŽ›’ęŒŠ³¨˜ǰȱ—¨˜ȱ™˜Ž–ȱœŽ›ȱ›Ž™Ž’˜œȱ—˜ȱœŽž—˜ȱ–˜–Ž—˜ȱǻ˜ȱŠȱ›ŽŒ˜—œȬ
trução racional do Direito, por meio da sua interpretação e aplicação), que
Ž–ȱ™˜›ȱž—³¨˜ȱŽŸ˜•ŸŽ›ȱŠ˜œȱŒ’Š¨˜œȱŽȱŠ˜ȱœŠ˜ȱŠȱŽę—’³¨˜ȱ˜œȱ’›Ž’˜œǰȱœ˜‹ȱ
™Ž—ŠȱŽȱŠ•¹—Œ’Šȱ˜ȱ’ŽŠ•ȱ˜ȱœŠ˜ȱŽȱ’›Ž’˜ǯȱœœŠȱ–’œœ¨˜ȱŽȱ‘Š›–˜—’£Š›ȱŽȱ
estabilizar é bastante mais aguda e sensível no momento decisório atribuído
a agentes do Estado – pouco importa em qual estrutura dos Poderes públicos
estão alocados.
žȱ œŽ“Šǰȱ ž˜ȱ ˜ȱ šžŠ—˜ȱ Šę›–Š˜ȱ ™Š›Šȱ ˜œȱ “žÇ£Žœȱ —Šȱ Š’Ÿ’ŠŽȱ Žȱ ’—Ž›Ȭ
pretação e aplicação do Direito é replicável para todas as autoridades públicas
responsáveis pelas decisões nos processos públicos. Não há diferença digna
Žȱ —˜Šȱ šžŽȱ ŠŠœŽȱ Š’œȱ ™›Ž–’œœŠœȱ Šȱ Š’Ÿ’ŠŽȱ ˜ȱ Žœ˜›ȱ ™ø‹•’Œ˜ǯȱ žŠ—˜ȱ
œŽȱŠ‹˜›ŠȱŠœȱ›Žœ™˜—œŠ‹’•’ŠŽœǰȱ•’–’ŽœȱŽȱ™˜Ž›Žœȱ˜œȱ“žÇ£Žœȱ—ŠȱŠ’Ÿ’ŠŽȱŽȱ
interpretação e aplicação do Direito na resolução de casos, na verdade, se deve
Š‹˜›Š›ȱŠȱꐞ›Šȱ˜ȱŽŒ’œ˜›ȱ™ø‹•’Œ˜ȱǻ˜žȱŠž˜›’ŠŽȱ™ø‹•’ŒŠȱŽŒ’œà›’ŠǼǯȱŠ’œȱ
do que isso: tais deveres se acentuam, eis que a Administração Pública aplica
˜ȱ ’›Ž’˜ȱ Šȱ ˜˜œȱ ˜œȱ ŒŠœ˜œȱ Œ˜—Œ›Ž˜œȱ šžŽȱ •‘Žȱ œ¨˜ȱ ™˜œ˜œȱ Šȱ Ž¡Š–Žȱ ǻ’—Žȱ™Ž—Ȭ
Ž—Ž–Ž—ŽȱŽȱ’—’Œ’Š’ŸŠȱŽȱŽ›ŒŽ’›˜œȱŽȱ–Žœ–˜ȱ—ŠȱŠžœ¹—Œ’ŠȱŠȱ•’’’˜œ’ŠŽǼǯȱ
ȱŒ˜–™Ž¹—Œ’ŠȱŽŒ’œà›’ŠȱŒ˜–Ž’ŠȱŠȱà›¨˜œȱŽȱŽ—’ŠŽœȱ™ø‹•’Œ˜œȱ·ȱȃ’››Ž—ž—Ȭ
ciável”, para aqui nos valermos do art. 11 da Lei nº 9.784/1999.
˜˜ǰȱ Šȱ ˜–ŠŠȱ Žȱ ™˜œ’³¨˜ȱ ™˜›ȱ ŽœŽȱ ›ŽŠ•˜ŒŠ–Ž—˜ȱ Šȱ ꐞ›Šȱ ˜ȱ ŽŒ’œ˜›ȱ
™ø‹•’Œ˜ǰȱŒŠŽ˜›’Šȱ—ŠȱšžŠ•ȱœŽȱ’—Œ•žŽ–ȱ˜œȱ“žÇ£ŽœǰȱŠž˜›’ŠŽœȱŠ–’—’œ›Š’ŸŠœȱ
e controladores, como copartícipes do processo de construção do Direito, é
imprescindível para o adequado controle dos atos decisórios, por meio da

34
AARNIO, 1991, p. 29.

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 243-274, nov. 2018.
EGON BOCKMANN MOREIRA, PAULA PESSOA PEREIRA | Art. 30 da LINDB 261

“žœ’ęŒŠ³¨˜ȱŠœȱŽŒ’œäŽœȱŽȱœžŠœȱŸ’—Œž•Š³äŽœȱŠ˜œȱ™›ŽŒŽŽ—ŽœǰȱŽ—šžŠ—˜ȱŒ›’·›’˜œȱ
ŽȱŒ˜››Ž³¨˜ȱ˜›–Š•ȱŽȱŽȱžŽ•ŠȱŠȱ’–™Š›Œ’Š•’ŠŽǰȱ’žŠ•ŠŽǰȱœŽž›Š—³Šȱ“ž›ÇȬ
dica e liberdade. Em outras palavras, a consideração da categoria do decisor
™ø‹•’Œ˜ǰȱ Žšž’™Š›Š—˜Ȭ˜ȱ ¥ȱ ꐞ›Šȱ ˜ȱ “ž’£ǰȱ —Šȱ Š’Ÿ’ŠŽȱ Žȱ ›Žœ˜•ž³¨˜ȱ ˜œȱ
ŒŠœ˜œǰȱ›Ž’–Ž—œ’˜—Šȱ˜ȱŒŠ›¤Ž›ȱ™›˜ŒŽ’–Ž—Š•ȱ˜ȱœŠ˜ȱŽȱ’›Ž’˜ǰȱšžŽȱŽ¡’Žȱ
desenhos institucionais decisórios voltados para a tutela dos seus valores.
˜›ȱ ’œœ˜ǰȱ Šȱ “žœ’ęŒŠ³¨˜ȱ Šȱ ŸŠ•’ŠŽȱ Šœȱ Š•Ž›Š³äŽœȱ ™›˜–˜Ÿ’Šœȱ —Šȱ Ž’ȱ
Žȱ —›˜ž³¨˜ȱ Š˜ȱ ’›Ž’˜ȱ ›Šœ’•Ž’›˜ǰȱ —Šȱ –Ž’Šȱ Ž–ȱ šžŽȱ Ž’¡˜žȱ Žȱ œŽ›ȱ lei de
introdução ao Direito privadoȱ™Š›ŠȱœŽ›ȱŠž¹—’ŒŠȱlei de introdução ao Direito brasi-
leiro, em sua integralidade material e procedimental. Mais: a redação que lhe
˜’ȱŠŠȱ™Ž•ŠȱŽ’ȱ—ķȱŗřǯŜśśȦŘŖŗŞȱ¤ȱ—˜ŸŠȱŽȱŽœ™ŽŒÇꌊȱŒ˜—ꐞ›Š³¨˜ȱœž‹œŠ—Œ’Š•Ȭ
™›˜ŒŽœœžŠ•ȱ Š˜ȱ ™›’—ŒÇ™’˜ȱ Šȱ “ž›’’Œ’ŠŽǰȱ Ž–ȱ ’—Œ’¹—Œ’Šȱ ’››Žœ›’Šȱ Šȱ ˜Šœȱ Šœȱ
Šž˜›’ŠŽœȱ™ø‹•’ŒŠœǯȱȱ’›Ž’˜ȱø‹•’Œ˜ȱ‹›Šœ’•Ž’›˜ȱŽ–ȱ™˜›ȱ‹ŠœŽȱ˜‹“Ž’ŸŠȱŠȱŽ’ȱ
de Segurança Jurídica.
ȱ šžŽȱ œ’—’ęŒŠȱ ’£Ž›ȱ šžŽȱ Šȱ •à’ŒŠȱ ŠŒ’–Šȱ ŽœŒ›’Šȱ Š£ȱ Œ˜–ȱ šžŽȱ ˜ȱ Š›ǯȱ řŖȱ
assuma a condição de norma objetivamente geral, que subordina a estabilização
Žȱ ˜Šœȱ Šœȱ ŽŒ’œäŽœȱ “ž›Ç’ŒŠœȱ ˜ȱ œ’œŽ–Šǯȱ Žȱ ’žŠ•ȱ –˜˜ǰȱ é subjetivamente
geral porque se aplica à generalidade das pessoas político-administrativas, em
˜˜œȱ˜œȱ™˜Ž›Žœȱ˜ȱœŠ˜ǯȱ¨˜ȱ‘¤ȱŽ¡ŒŽ³¨˜ǰȱ™˜žŒ˜ȱ’–™˜›Šȱ˜ȱŠŽ—ŽȦà›¨˜ȱ
que a aplique.

5. Exigências de racionalidade e legitimidade na atividade


decisória: o papel dos precedentes

ȱ ŽŒ’œ¨˜ȱ ™Ž•Šȱ ’—Ž›™›ŽŠ³¨˜ȱ –Š’œȱ ŠŽšžŠŠȱ ·ȱ Š’Ÿ’ŠŽȱ Œ˜–™•Ž¡Šȱ Žȱ


Ž¡’Žȱ–ž’˜ȱ˜ȱ›ŠŒ’˜ŒÇ—’˜ȱ“ž›Ç’Œ˜ȱŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’˜ȱ™Ž•˜œȱŽŒ’œ˜›Žœǰȱ™˜›šžŠ—˜ǰȱ
de forma geral, os argumentos defendidos pelas partes representam interpre-
Š³äŽœȱ“ž›Ç’ŒŠœȱ›Š£˜¤ŸŽ’œǰȱŽ¡™˜œŠœȱŽȱ˜›–Šȱ™Ž›œžŠœ’ŸŠȱŽȱŒ˜Ž›Ž—ŽǰȱŒ˜—Ž¡˜ȱ
šžŽȱŠ£ȱŒ˜–ȱšžŽȱŠȱŽŒ’œ¨˜ȱœŽȱ¹ȱŽ—›Žȱ’—Ž›™›ŽŠ³äŽœȱ’žŠ•–Ž—ŽȱŸ¤•’Šœȱ™Š›Šȱ
ž–ȱ–Žœ–˜ȱ™›˜‹•Ž–Šȱ“ž›Ç’Œ˜ǯ35
˜ȱŽœ™Š³˜ȱŠȱŠ’Ÿ’ŠŽȱŽŒ’œà›’ŠȱŒ˜—Ž–™˜›¦—ŽŠǰȱ˜œȱ›’‹ž—Š’œȱǻ“ž’Œ’¤Ȭ
›’˜œȱŽȱŠ–’—’œ›Š’Ÿ˜œǼȱ¹–ȱŠ–™•˜ȱŽœ™Š³˜ȱŽȱŒ˜—˜›–Š³¨˜ȱ—˜›–Š’ŸŠȱ—ŠȱœžŠȱ

35
˜‹›ŽȱŠȱ’—ŽŽ›–’—Š³¨˜ȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱŽȱœžŠȱ’—Ž›™›ŽŠ³¨˜ȱ—Šȱ“ž›’œ’³¨˜ȱŒ˜–˜ȱž–ȱ˜œȱ™›˜‹•Ž–Šœȱ
ŽœœŽ—Œ’Š’œȱ™Š›ŠȱŠȱꕘœ˜ęŠȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱŒ˜—Ž–™˜›¦—ŽŠǰȱ›ŽŠ—’–ŠŠȱŠȱ™Š›’›ȱŠȱŽ˜›’ŠȱŒ˜—œ’žŒ’˜—Š•ȱ
Žȱ œžŠȱ ŒŽ—›Š•’ŠŽȱ —˜ȱ ž—Œ’˜—Š–Ž—˜ȱ ˜ȱ œŠ˜ȱ Žȱ Šȱ ˜›Ž–ȱ “ž›Ç’ŒŠȱ Œ˜–˜ȱ ž—Š–Ž—˜ȱ Žȱ
validade, v. PEREIRA, 2014, p. 21-79.

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262 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

Š’Ÿ’ŠŽȱ ’—Ž›™›ŽŠ’ŸŠȱ Žȱ Žȱ Š™•’ŒŠ³¨˜ȱ ˜ȱ ’›Ž’˜ǰȱ ‘Š“Šȱ Ÿ’œŠȱ Šȱ Œ˜—Œ˜››¹—Œ’Šȱ


Žȱ›Žœ™˜œŠœȱ“ž›Ç’ŒŠœȱ’žŠ•–Ž—Žȱ•ŽÇ’–Šœȱ™Š›Šȱž–ȱø—’Œ˜ȱ™›˜‹•Ž–Šǯȱ˜ŠȬ
Ÿ’Šǰȱ ŽœŽȱ Žœ™Š³˜ȱ Žȱ Œ˜—˜›–Š³¨˜ȱ —¨˜ȱ ’–™•’ŒŠȱ Šę›–Š›ȱ šžŽȱ œžŠȱ Š’Ÿ’ŠŽȱ
œŽ“Šȱ ŽœœŽ—Œ’Š•–Ž—Žȱ ’œŒ›’Œ’˜—¤›’Šǰȱ Œ‘ŽŠ—˜ȱ ¥œȱ ›Š’Šœȱ Šȱ Š›‹’›Š›’ŽŠŽDzȱ Š˜ȱ
contrário, é bem limitada. Isso porque os limites impostos ao processo de apli-
ŒŠ³¨˜ȱœ¨˜ȱŸŽ›’ęŒŠ˜œȱŠ—˜ȱ—˜ȱ™˜—˜ȱŽȱ™Š›’ŠȱŠȱŠ’Ÿ’ŠŽȱŽŒ’œà›’Šȱǻ˜Šȱ
ž—³¨˜ȱ Žȱ ›Žœ˜•ž³¨˜ȱ Žȱ ’œ™žŠœȱ ™Š›Žȱ ˜ȱ Ž¡˜ȱ •Ž’œ•Š’Ÿ˜ȱ Ž–ȱ Ž›Š•Ǽȱ Œ˜–˜ȱ
—˜ȱ œŽžȱ ŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’–Ž—˜ǰȱ Ž–ȱ ŽŒ˜››¹—Œ’Šȱ Šȱ ˜‹œŽ›Ÿ¦—Œ’Šȱ ˜‹›’Šà›’Šȱ ˜œȱ
precedentes (lato sensu) por ela criados, como técnica interpretativa necessária
™Š›Šȱ ŠœœŽž›Š›ȱ Œ˜Ž›¹—Œ’Šǰȱ ’žŠ•ŠŽȱ Žȱ ’–™Š›Œ’Š•’ŠŽȱ Š˜ȱ ŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’–Ž—˜ȱ
“ž›Ç’Œ˜ȱ˜ȱ’›Ž’˜ǯ36
ȱ “ž•Š–Ž—˜ǰȱ —ŽœŽȱ Œ˜—Ž¡˜ȱ ’—œ’žŒ’˜—Š•ǰȱ ŽŸŽȱ Ž¡™˜›ȱ œžŠœȱ ›Š£äŽœǰȱ Žȱ
–˜˜ȱ Šȱ Ž’¡Š›ȱ œžęŒ’Ž—Ž–Ž—Žȱ Ž¡™•ÇŒ’˜œȱ Žȱ Œ•Š›˜œȱ ˜œȱ Š˜œȱ Š‹˜›Š˜œǰȱ Šœȱ
šžŽœäŽœȱ“ž›Ç’ŒŠœȱŽ‹Š’ŠœǰȱŠȱ˜›–ŠȱŽȱŠȱrazão pela qual foram resolvidas de
ŽŽ›ȱ–’—Š˜ȱ–˜˜ǯȱȱ™›¤’ŒŠȱŽȱœŽž’›ȱ™›ŽŒŽŽ—ŽœȱǻŒž“Šȱrationale orienta a
interpretação do art. 30 da NLINDB) apresenta-se como princípio central no
™›˜ŒŽœœ˜ȱŽȱ˜–ŠŠȱŽȱŽŒ’œ¨˜ǰȱšžŽȱŽ–ȱ™˜›ȱ˜‹“Ž’Ÿ˜ȱŠȱžŽ•Šȱ˜œȱŸŠ•˜›ŽœȱŠȱ
›ŠŒ’˜—Š•’ŠŽǰȱŠȱ’–™Š›Œ’Š•’ŠŽǰȱŠȱ’žŠ•ŠŽȱ˜›–Š•ǰȱŠȱœŽž›Š—³Šȱ“ž›Ç’ŒŠȱ
e da liberdade, no momento da reconstrução do Direito pelos decisores.
œŽȱ ·ȱ ž–ȱ Š˜ȱ ’–™˜›Š—Žȱ ™˜›šžŽȱ ˜ȱ ’œŒž›œ˜ȱ “ž›Ç’Œ˜ǰȱ —˜ŠŠ–Ž—Žȱ ˜ȱ
prático, deve ser capaz de satisfazer as condições de aceitabilidade racional
Žȱ ˜‹“Ž’Ÿ’ŠŽǰȱ Ž–‹˜›Šȱ —Ž–ȱ œŽ–™›Žȱ œŠ’œŠ³Šȱ Šȱ ŠŒŽ’Š‹’•’ŠŽȱ œž‹“Ž’ŸŠȱ Šȱ
parte vencida. O precedente, portanto, tem por efeito emprestar autoridade às
decisões passadas do tribunal, revestindo-as de racionalidade, aceitabilidade e
legitimidade.37ȱȱŠž˜›’ŠŽȱ˜œȱ›’‹ž—Š’œȱǻ“ž’Œ’Š’œȱŽȱŠ–’—’œ›Š’Ÿ˜œǼǰȱŒ˜—ęȬ
gurada nas decisões que entrega como resposta ao seu dever de prestar tutela
dos direitos, não pode induzir a sociedade de uma forma geral e o sistema
“ž›Ç’Œ˜ǰȱ Žȱ ˜›–Šȱ –Š’œȱ Žœ™ŽŒÇꌊǰȱ Šȱ ž–Šȱ œ’žŠ³¨˜ȱ Žȱ Ž—Š—˜ȱ ˜žȱ ŽšžÇŸ˜Œ˜ǰȱ
™˜›ȱ Œ˜—Šȱ Šȱ Š•œŠȱ Š™Š›¹—Œ’Šȱ Žȱ ›ŠŒ’˜—Š•’ŠŽȱ Žȱ Œ˜Ž›¹—Œ’Šȱ —Šȱ “žœ’ęŒŠ³¨˜ȱ Žȱ
ŽœŠ‹’•’ŠŽȱŠȱ—˜›–Šȱ“ž›Ç’ŒŠǯ
Š›Šȱ ˜œȱ ›’‹ž—Š’œȱ Ž¡Ž›ŒŽ›Ž–ȱ Šȱ ž—³¨˜ȱ ™›ŽŒÇ™žŠȱ Žȱ ŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’–Ž—˜ȱ ˜ȱ
’›Ž’˜ȱ ·ȱ ’—’œ™Ž—œ¤ŸŽ•ȱ šžŽȱ œŽžȱ ›Š‹Š•‘˜ȱ œŽ“Šȱ ŽœŽ–™Ž—‘Š˜ȱ Œ˜–ȱ Ÿ’œŠœȱ ¥ȱ
žŽ•ŠȱŠȱŠž˜›’ŠŽȱŽȱœžŠœȱŽŒ’œäŽœǯȱŽ—˜ȱŠȱŽœœŠœȱ“žœ’ęŒŠ³äŽœǰȱ˜ȱà’˜ȱ

36
Œ˜–™Š—‘Š–˜œȱŠȱŽę—’³¨˜ȱŽȱŠŠŽ•ȱ•’ŸŽ’›ŠǰȱšžŽȱŠœœ’–ȱŒ˜—ŒŽ’žŠȱprecedente administrativo:
“a norma retirada de decisão administrativa anterior, válida e de acordo com o interesse
público, que, apos decidir determinado caso concreto, deve ser observada em casos futuros e
semelhantes pela Administração Pública” (OLIVEIRA, 2018, p. 95).
37
ǯǰȱ
ǰȱŘŖŗřDzȱ ǰȱŘŖŗŝǯ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 243-274, nov. 2018.
EGON BOCKMANN MOREIRA, PAULA PESSOA PEREIRA | Art. 30 da LINDB 263

de Processo Civil prescreveu, nos arts. 926 e 927, §§§2º, 3º e 4º, o dever
’–™˜œ˜ȱŠ˜œȱ›’‹ž—Š’œȱŽȱ˜‹œŽ›Ÿ¦—Œ’ŠȱŠȱŒ˜Ž›¹—Œ’Šǰȱ’—Ž›’ŠŽȱŽȱŽœŠ‹’•’ŠŽȱ
—˜ȱ ŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’–Ž—˜ȱ Šȱ “ž›’œ™›ž¹—Œ’Šǰȱ Šœœ’–ȱ Œ˜–˜ȱ ·Œ—’ŒŠœȱ Žœ™ŽŒ’ęŒŠœȱ Žȱ
›Š‹Š•‘˜ȱŒ˜–ȱ˜œȱ™›ŽŒŽŽ—Žœȱ“ž’Œ’Š’œǰȱŒ˜–˜ȱŠȱ’œ’—³¨˜ȱŽȱŠȱœž™Ž›Š³¨˜ǯ38
Nesse sentido, a alteração de precedentes pelos tribunais observará
Šȱ —ŽȱŒŽœœ’ŠŽȱ Žȱ ž—Š–Ž—Š³¨˜ȱ ŠŽšžŠŠȱ Žȱ Žœ™ŽŒÇꌊǰȱ Œ˜—œ’Ž›Š—˜ȱ ˜œȱ
™›’—ȱŒÇ™’˜œȱ Žȱ œŽž›Š—³Šȱ “ž›Ç’ŒŠǰȱ Šȱ ™›˜Ž³¨˜ȱ Šȱ Œ˜—ꊗ³Šȱ Žȱ Šȱ ’œ˜—˜–’Šǰȱ
œŽ—˜ȱšžŽǰȱŽ—Ž—Ž—˜ȱ™Ž›’—Ž—Žǰȱ™˜Ž›¤ȱŒ˜—Ÿ˜ŒŠ›ȱŠž’¹—Œ’Šȱ™ø‹•’ŒŠȱ™Š›Šȱ
Šȱ›Ž’œȱŒžœœ¨˜ȱŠȱŽœŽȱ“ž›Ç’ŒŠȱꛖŠŠȱŠ—Ž›’˜›–Ž—ŽǯȱŽ–Š’œǰȱŒ˜–™Ž’›¤ȱŠ˜ȱ
à›¨˜ȱŽŒ’œà›’˜ȱ›ŽŠ•’£Š›ȱ˜ȱŽŽ’Ÿ˜ȱŒ˜Ž“˜ȱŽ—›Žȱ˜œȱŒŠœ˜œȱ™Š›Šȱ˜ȱŠŠœŠ–Ž—˜ȱ˜ȱ
™›ŽŒŽȱŽ—ŽȱŠ™˜—Š˜ȱŒ˜–˜ȱŠ™•’Œ¤ŸŽ•ȱŠ˜ȱŒŠœ˜ȱŽ–ȱŠ—¤•’œŽȱ™Ž•˜ȱ“ž’£ȱœžŒŽœœ’Ÿ˜ǰȱ
conforme previsto no art. 489, V e VI.
œœŠȱ•Ž’ž›Šȱ˜ȱœ’œŽ–Šȱ“ž›Ç’Œ˜ȱŽȱŠȱ˜›Ž–ȱ—˜›–Š’ŸŠȱŒ˜—œ’žŒ’˜—Š•ǰȱŠȱœŽžȱ
ž›—˜ǰȱ’–™äŽȱ›Žœ™˜—œŠ‹’•’ŠŽœȱŽȱ◞œȱŠ˜œȱ›’‹ž—Š’œǯȱŠ’œȱŽœ™ŽŒ’ęŒŠ–Ž—Žǰȱ˜ȱ
respeito às decisões passadas como limites de partida e chegada no processo
Žȱ ›Žœ˜•ž³¨˜ȱ Šœȱ Œ˜—›˜Ÿ·›œ’Šœȱ Œ˜—œ’žŒ’˜—Š’œǯȱ žȱ œŽ“Šǰȱ Œ˜–˜ȱ –·˜˜ȱ Žȱ
fomento do patrimônio imaterial das decisões do tribunal.
Tais dispositivos legais são de alta relevância no processo administrativo:
em havendo tribunais administrativos (órgãos colegiados formadores de
decisões), aplica-se a regra cogente de uniformização (qualidade de algo que
—¨˜ȱ ŸŠ›’Šȱ —Ž–ȱ —Šȱ ˜›–Šȱ —Ž–ȱ —˜ȱ Œ˜—Žø˜Ǽǰȱ ŽœŠ‹’•’£Š³¨˜ȱ ǻꛖŽ£Šǰȱ œ˜•’Ž£ǰȱ
constância e previsibilidade), integridade (manutenção de sua plenitude,
œŽ–ȱŠ›ŽœœäŽœǼȱŽȱŒ˜Ž›¹—Œ’ŠȱǻŒ˜Žœ¨˜ǰȱŒ˜–™›ŽŽ—œ’‹’•’ŠŽȱŽȱ›Žœ™Ž’˜ȱ¥œȱŒ˜—œŽȬ
šž¹—Œ’ŠœǼȱŠœȱŽŒ’œäŽœȱŒ˜•Ž’ŠŠœǯȱ
Essa regra é impositiva, a incidir tanto do lado de dentro do próprio tribu-
nal administrativo (e das autoridades a ele subordinadas) como também de
˜›Šȱ™Š›ŠȱŽ—›˜ǰȱŠȱŠ£Ž›ȱŒ˜–ȱšžŽȱ˜ȱŽŸŽ›ȱŽȱŒ˜Ž›¹—Œ’Šȱ’—Ž›—ŠȱŒ˜Š‹’ŽȱŒ˜–ȱ˜ȱŽȱ
›Žœ™Ž’˜ȱ¥œȱŽŒ’œäŽœȱŠœȱ˜›Žœȱœž™Ž›’˜›Žœȱǻ“ž›’œ’Œ’˜—Š’œȱŽȱŠ–’—’œ›Š’ŸŠœǼǯȱ
–ȱŽ›–˜œȱ™›¤’Œ˜œǰȱŽœ¤ȬœŽȱŠȱŠ•Š›ȱŽȱ›’‹ž—Š’œȱŽȱ˜—ŠœDzȱ˜—œŽ•‘˜ȱ–’Ȭ
—’œ›Š’Ÿ˜ȱŽȱŽŽœŠȱŒ˜—â–’ŒŠDzȱ¹—Œ’ŠœȱŽž•Š˜›Šœȱ —Ž™Ž—Ž—ŽœDzȱ˜—Ȭ
œŽ•‘˜œȱ Žȱ ˜—›’‹ž’—ŽœDzȱ ˜–’œœäŽœȱ Žȱ ’Œ’Š³äŽœDzȱ ˜–’œœäŽœȱ Ž–ȱ ™›˜ŒŽœœ˜œȱ
administrativos disciplinares etc. Basta haver a estruturação estatutária de
à›¨˜œȱŒ˜•Ž’Š˜œǰȱŠȱ™›˜Ž›’›ȱŽŒ’œäŽœȱŠ—¤•˜Šœȱ¥œȱ˜œȱ™›ŽŒŽŽ—Žœȱ“ž’Œ’Š’œȱǻ˜ȱ
tema será aprofundado no tópico seguinte).

38
ǯȱǰȱŘŖŗŚDzȱ ǰȱŘŖŗŜDzȱ ǰȱŘŖŗŝǯȱ˜‹›ŽȱŠȱŠ™•’ŒŠ‹’•’ŠŽȱŽȱŠ’œȱ’œ™˜œ’’Ÿ˜œȱ
ao processo administrativo, v. MOREIRA, 2016.

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 243-274, nov. 2018.
264 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

ŽœŽȱ Œ˜—Ž¡˜ȱ —˜›–Š’Ÿ˜ǰȱ ꌊȱ Œ•Š›˜ȱ šžŽȱ Šȱ Š’Ÿ’ŠŽȱ ŽŒ’œà›’Šȱ Šœœž–Žȱ


o papel de favorecer a legitimidade do sistema democrático como um todo,
Š˜ȱŽŸ˜•ŸŽ›ȱ¥ȱœ˜Œ’ŽŠŽȱ—˜›–Šœȱ“ž›Ç’ŒŠœȱŸ’—Œž•Š—ŽœȱŽȱŽœ¤ŸŽ’œǯȱŽȱ˜ȱœŠ˜ȱ
Žȱ’›Ž’˜ȱŽ–ȱŒ˜–˜ȱž—Š–Ž—˜ȱŠȱŒ˜—’—ž’ŠŽȱŠȱ˜›Ž–ȱ“ž›Ç’ŒŠǰȱŠȱŽœŠȬ
bilidade e o tratamento igualitário a todos os cidadãos, as instituições encar-
regadas de fazer cumprir sua força normativa deve proteger tais valores no
desempenho de sua função.
Essa nova concepção da ordem normativa redimensiona a relação entre
os Poderes do Estado, de modo a alocá-los como instituições concorrentes
no processo de reconstrução e desenvolvimento do Direito, compartilhando
Šž˜›’ŠŽǰȱ™˜›ȱ–Ž’˜ȱŠȱŒ›’Š³¨˜ȱŽȱ—˜›–Šœȱ“ž›Ç’ŒŠœȱŒ˜—’Šœȱ—˜œȱ™›ŽŒŽŽ—Žœǯ39
Tal processo tende a consolidar a autoridade e aceitabilidade das decisões.
œœŠȱŠŒŽ’Š‹’•’ŠŽȱŽŒ˜››Žȱ–Š’œȱŠȱ›Ž™žŠ³¨˜ȱŽ¡Ž›—ŠȱŠȱ™›à™›’Šȱ’—œ’Ȭ
tuição e do patrimônio imaterial construído pelos tribunais ao longo do
tempo, que do conteúdo material de suas decisões.40ȱœœŠȱ›Ž™žŠ³¨˜ȱŽ¡Ž›—Šȱ·ȱ
essencialmente alcançada por meio da construção do patrimônio imaterial, a
qual tem no respeito aos precedentes, aqui analisados tanto na sua dimensão
vertical, dentro da estrutura hierárquica do Poder, quanto na dimensão
horizontal, que vincula o tribunal ao seu próprio passado, salvo hipóteses de
superação, seu principal instrumento de realização.
œ˜ȱ™˜œ˜ǰȱ™˜Ž–˜œȱŠ™›˜ž—Š›ȱ˜ȱŽœž˜ȱŽœ™ŽŒÇꌘȱ˜ȱŠ›ǯȱřŖȱŠȱŽ’ȱŽȱ
Segurança Jurídica.

6. O art. 30 da LINDB: dever de respeito ao regulamentos,


súmulas e consultas no processo decisório público

O art. 30 da LINDB prescreve literalmente que: “As autoridades públicas


ŽŸŽ–ȱ ŠžŠ›ȱ ™Š›Šȱ Šž–Ž—Š›ȱ Šȱ œŽž›Š—³Šȱ “ž›Ç’ŒŠȱ —Šȱ Š™•’ŒŠ³¨˜ȱ Šœȱ —˜›–Šœǰȱ
inclusive por meio de regulamentos, súmulas administrativas e respostas a
consultas.” Note-se bem: não se trata de alternativa decisório-procedimental,
mas norma com forte caráter mandamental. Todas as autoridades públicas,
œŽ–ȱŽ¡ŒŽ³¨˜ǰȱdevem atuar com o escopo de aumentar a segurança jurídica. Em

39
Sobre o papel contemporâneo das Cortes Supremas, no Direito comparado, ver, SILVESTRI,
•’œŠ‹ŽĴŠǰȱŘŖŖŗǰȱ™ǯȱŗŖśȬŗŗŜDzȱ  ǰȱ ŠŽŠ—˜ǰȱŘŖŖŗǰȱ™ǯȱřśȬśŖDzȱtǰȱŘŖŗŗǰȱ™ǯȱřřśȬřśŞDzȱ
ǰȱŘŖŗŗǰȱ™ǯȱŗŗȬřŜǯ
40
ǯȱ DzȱǰȱŘŖŖşǯ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 243-274, nov. 2018.
EGON BOCKMANN MOREIRA, PAULA PESSOA PEREIRA | Art. 30 da LINDB 265

œŽž’ŠǰȱŽœ™ŽŒ’ęŒŠǰȱnumerus apertusǰȱ›¹œȱ–˜˜œȱŽȱ’—Œ›Ž–Ž—Š›ȱŠȱœŽž›Š—³Šȱ
“ž›Ç’ŒŠȱ—ŠȱŠ™•’ŒŠ³¨˜ȱŠœȱ—˜›–Šœǯ
O dispositivo legal positiva norma prescritiva de observância pelos
decisores dos órgãos administrativos e controladores, assim como todas as
autoridades públicas, dos precedentes formados nas decisões tomadas pelos
›’‹ž—Š’œȱ ˜žȱ à›¨˜œȱ Œ˜–ȱ Œ˜–™Ž¹—Œ’Šȱ ™Š›Šȱ Žę—’›ȱ œ˜‹›Žȱ Šȱ ’—Ž›™›ŽŠ³¨˜ȱ Žȱ
aplicação das regras envolvidas nos casos concretos. Tal dever em tudo se
ŠœœŽ–Ž•‘ŠȱŒ˜–ȱŠšžŽ•Žȱ’–™˜œ˜ȱŠ˜œȱà›¨˜œȱ“ž›’œ’Œ’˜—Š’œǰȱ—˜œȱŽ›–˜œȱ˜œȱŠ›œǯȱ
926 e 927 do CPC.
Isto é, a unidade do Direito decorre também da inalterabilidade das
decisões dos órgãos colegiados — constatação que assume papel de suma
importância no processo administrativo. Logo, a todos os órgãos e entidades
administrativas equivalentes a tribunais — rectius: colegiados decisórios —,
œŽ–ȱŽ¡ŒŽ³¨˜ǰȱŽœŽȱ˜œȱ›’‹ž—Š’œȱŽȱ˜—ŠœȱŠ·ȱ˜ȱ˜—œŽ•‘˜ȱŠŒ’˜—Š•ȱŽȱ žœ’³Šȱ
(CNJ), passando pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade),
‹Ž–ȱŒ˜–˜ȱŒ˜—œŽ•‘˜œȱŽȱŒ˜—›’‹ž’—ŽœǰȱŒ˜››ŽŽ˜›’ŠœȱŽȱŠ¹—Œ’Šœȱ›Žž•Š˜›Šœǰȱ
˜’ȱŠ›’‹žÇ˜ȱ˜ȱŽŸŽ›ȱ™›˜ŒŽœœžŠ•ȱŽȱ™›Žœ’’Š›ȱŠȱœŽž›Š—³Šȱ“ž›Ç’ŒŠȱŠŸ’—ŠȱŠȱ
estabilidade de decisões anteriores, que precisam se tornar uniformes com o
decorrer do tempo (a mesma forma e o mesmo conteúdo decisório).
Essa determinação legal possui dois desdobramentos: por um lado, os
órgãos e entidades que decidam casos de Direito Público precisam desenvolver
os melhores esforços para criar e consolidar os próprios precedentes. Tanto a
Administração Pública quanto o Poder Judiciário receberam essa missão de
emanar decisões que assumam essa condição. Por outro lado, as decisões que
tratem de temas de Direito Público e assumam a condição de precedentes
necessitam de ser aplicadas em casos futuros.
ȱ šžŽȱ Šȱ —˜›–Šȱ ˜ȱ Š›ǯȱ řŖȱ ŽŽ›–’—Šȱ ·ȱ šžŽȱ ˜œȱ “ž•Š–Ž—˜œȱ Š–’—’œ›ŠȬ
’Ÿ˜œȱ œ˜‹›Žȱ ŒŠœ˜œȱ œŽ–Ž•‘Š—Žœȱ œŽ“Š–ȱ ’œ˜—â–’Œ˜œȱ ¥šžŽ•Žœȱ Š—Žœȱ ™›˜Ž›’˜œǰȱ
œ˜‹ȱ™Ž—ŠȱŽȱ–ŠŒž•Š›ȱŠȱ™›à™›’ŠȱŸŠ•’ŠŽȱŠȱŽŒ’œ¨˜ǯȱ¡’¹—Œ’ŠȱšžŽȱŽ–ȱŒ˜–˜ȱ
™›Žœœž™˜œ˜ȱ •à’Œ˜Ȭ“ž›Ç’Œ˜ȱ šžŽȱ Šœȱ ŽŒ’œäŽœȱ œŽ“Š–ȱ ™›˜Ž›’Šœȱ Žȱ –˜•Žȱ Šȱ
assumir essa condição. O que, de igual modo, prestigia o princípio da igualdade
ǻ–ŠŽ›’Š•ȱŽȱ™›˜ŒŽœœžŠ•ǼȱŽȱŽ¡’ŽȱꛖŽȱŠ™•’ŒŠ³¨˜ȱ˜ȱ™›’—ŒÇ™’˜ȱŠȱ™ž‹•’Œ’ŠŽȱŽȱ
Šȱ–˜’ŸŠ³¨˜ȱŠœȱŽŒ’œäŽœȱǻ˜—œ’ž’³¨˜ǰȱŠ›ǯȱşŝǰȱȗřķDzȱŽ’ȱ—ķȱşǯŝŞŚȦŗşşşǰȱŠ›ǯȱśŖǰȱ
ŽȱȦŘŖŗśǰȱŠ›ǯȱŚŞşǼǯȱŠœȱŠŽ—³¨˜DZȱ—¨˜ȱŠ™Ž—Šœȱ˜œȱ“ž•Š–Ž—˜œȱŽ–ȱŽœœŽȱŽŽ’˜ǰȱ
mas também os regulamentos, as súmulas e o resultado das consultas.
žȱœŽ“ŠǰȱŠȱ›Š£¨˜ȱœž‹“ŠŒŽ—Žȱ˜ȱŠ›ǯȱřŖȱŠȱ ȱŽ–ȱ™˜›ȱ˜‹“Ž˜ȱŠȱžŽ•Šȱ
˜ȱŸŠ•˜›ȱŠȱœŽž›Š—³Šȱ“ž›Ç’ŒŠȱ—ŠȱŠ’Ÿ’ŠŽȱŽŒ’œà›’ŠȱŽȱ˜ŠœȱŠœȱŠž˜›’ŠŽœȱ
™ø‹•’ŒŠœǯȱ ŠÇȱ ˜ȱ ŽŸŽ›ȱ Žœ™ŽŒÇꌘȱ ™Š›Šȱ šžŽȱ ŠžŽ–ȱ Žȱ –˜˜ȱ Šȱ ’—Œ›Ž–Ž—Š›ȱ Šȱ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 243-274, nov. 2018.
266 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

™›˜Ž³¨˜ȱ Šȱ œŽž›Š—³Šȱ “ž›Ç’ŒŠȱ Žȱ Šȱ Œ˜—ꊗ³Šȱ “žœ’ęŒŠŠȱ Žȱ •ŽÇ’–Šȱ ˜œȱ


cidadãos nas decisões e processos públicos.
Š›Šȱ ˜ȱ ŠŽšžŠ˜ȱ Œž–™›’–Ž—˜ȱ ŽœœŽȱ ŽŸŽ›ǰȱ ˜ȱ Ž¡˜ȱ •ŽŠ•ȱ Šę›–Šȱ šžŽȱ
as técnicas decisórias das súmulas, dos regulamentos e das consultas são
formalmente vinculantes em relação ao órgão ou entidade a que se destinam,
conforme o parágrafo único do art. 30. Tais técnicas, portanto, devem ser
adotadas e implementadas, sempre que possível, pelas autoridades públicas
que decidam casos de Direito Público.
žŠ—˜ȱ Š˜ȱ ™˜—˜ǰȱ ¥ȱ œŽ–Ž•‘Š—³Šȱ ˜ȱ Š›ǯȱ şŘŝȱ ˜ȱ ǰȱ ˜ȱ Š›ǯȱ řŖǰȱ —˜ȱ œŽžȱ
parágrafo único, institui as decisões e técnicas decisórias que entende possuir
ŠȱŠž˜›’ŠŽȱŸ’—Œž•Š—Žȱ˜ȱ™›ŽŒŽŽ—ŽǰȱšžŠ’œȱœŽ“Š–DZȱœø–ž•Šœǰȱ›Žž•Š–Ž—˜œȱŽȱ
consultas, dentro de cada estrutura hierárquica administrativa e controladora.
ŠŠȱ˜‹œŠ—ŽȱŠȱŽœ™ŽŒ’ęŒŠ³¨˜ȱŠŠȱ™Ž•˜ȱ•Ž’œ•Š˜›ǰȱŒ˜–ȱ›Ž•Š³¨˜ȱŠ˜ȱŒŠ›¤Ž›ȱ
formalmente vinculante do precedente no espaço do processo público admi-
—’œ›Š’Ÿ˜ȱ Žȱ Œ˜—›˜•Š˜›ǰȱ ·ȱ ŒŽ›˜ȱ šžŽȱ Šȱ ’—Ž›™›ŽŠ³¨˜ȱ šžŽȱ ŠœœŽž›Šȱ –¤¡’–Šȱ
ŽŽ’Ÿ’ŠŽȱŠ˜ȱ™›˜™àœ’˜ȱ˜ȱŠ›’˜ȱŽ–ȱ’œŒžœœ¨˜ǰȱ˜žȱœŽ“ŠǰȱšžŽȱŠ›ȱŒ˜—Œ›ŽžŽȱ
ŠŽšžŠŠȱ Žȱ –¤¡’–Šȱ ¥ȱ ›Š£¨˜ȱ œž‹“ŠŒŽ—Žȱ Žȱ žŽ•Šȱ Šȱ œŽž›Š—³Šȱ “ž›Ç’ŒŠȱ —˜œȱ
processos decisórios, é aquela no sentido de se conferir autoridade de prece-
dente à razão de decidir de todas as decisões tomadas pelos órgãos decisórios
que fecham a estrutura hierárquica, aos tribunais de vértice.
Desse modo, sob pena de frustação do alcance adequado e efetivo do art.
řŖǰȱ Šœœ’–ȱ Œ˜–˜ȱ œ˜‹ȱ ™Ž—Šȱ Žȱ ‹Š’¡Šȱ •Ž’’–’ŠŽȱ Žȱ Šž˜›’ŠŽȱ ˜œȱ ™›˜ŒŽœȱœ˜œȱ
públicos, no espaço procedimental e argumentativo do Estado de Direito, é
ŽȱœŽȱŒ˜—Ž›’›ȱŠ˜ȱ™Š›¤›Š˜ȱø—’Œ˜ȱŒŠ›¤Ž›ȱŽ¡Ž–™•’ęŒŠ’Ÿ˜ȱ˜ȱšžŽȱœŽȱŽ—Ž—Žȱ
™˜›ȱ™›ŽŒŽŽ—ŽǯȱŽ—˜ȱ’žŠ•–Ž—ŽȱŸ’—Œž•Š—Žœȱ˜ŠœȱŠœȱ“žœ’ęŒŠ’ŸŠœȱž—’ŸŽ›Ȭ
salizáveis dos tribunais, independente do fato formal da veiculação na rou-
pagem de súmula, consulta ou regulamento.
œ˜ȱ·ǰȱ˜œȱà›¨˜œȱŒ˜•Ž’Š˜œȱŠȱ–’—’œ›Š³¨˜ȱø‹•’ŒŠȱ¹–ȱ˜ȱŽŸŽ›ȱ™›˜Ȭ
cessual de proferir decisões com caráter de precedente e assim torná-las
™ø‹•’ŒŠœǯȱŽȱ’žŠ•ȱ–˜˜ǰȱŽŸŽ–ȱŒ˜—‘ŽŒŽ›ȱŽȱ˜‹ŽŽŒŽ›ȱŠ˜œȱ“ž•Š˜œȱ™›Ž·›’˜œȱ
ǻœŽ“Š–ȱ˜›’ž—˜œȱŠȱ™›à™›’Šȱ–’—’œ›Š³¨˜ǰȱœŽ“Š–ȱ˜ȱ˜Ž›ȱ ž’Œ’¤›’˜ǰȱœŽ“Š–ȱ
do Tribunal de Contas e/ou outras autoridades colegiadas). E os agentes
administrativos singulares estão investidos no dever de aplicarǰȱŽ¡ȱ˜ĜŒ’˜ e de
–˜˜ȱž—Š–Ž—Š˜ǰȱŠ’œȱŽŒ’œäŽœȱ“¤ȱž—’˜›–’£ŠŠœǯ
O mesmo se diga para a hipótese de a parte interessada levar ao conhe-
Œ’–Ž—˜ȱŠȱ–’—’œ›Š³¨˜ȱŠȱŽ¡’œ¹—Œ’ŠȱŽȱ“ž•Š˜ȱ˜žȱ™›ŽŒŽŽ—ŽDZȱŠȱŒ’¹—Œ’Šȱ˜ȱ
“ž•Š˜ȱ ™›Ž·›’˜ȱ ’—œŠ•Šȱ ˜ȱ ŽŸŽ›ȱ Žȱ ˜ȱ ŒŠœ˜ȱ Ž–ȱ Ž¡Š–Žȱ œŽ›ȱ Š—Š•’œŠ˜ȱ Œ˜–™ŠȬ
rativamente e, se for o caso, decidido, à luz daquele precedente (administrativo

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EGON BOCKMANN MOREIRA, PAULA PESSOA PEREIRA | Art. 30 da LINDB 267

˜žȱ“ž›’œ’Œ’˜—Š•Ǽǯȱ¨˜ȱ‘¤ȱ’œŒ›’Œ’˜—Š›’ŽŠŽǰȱ—Ž–ȱ–ŠŽ›’Š•ǰȱ—Ž–ȱ™›˜ŒŽœœžŠ•DZȱ
ŠȱŒ˜–™Ž¹—Œ’ŠȱŠšž’ȱŽŸŽȱœŽ›ȱŽ¡Ž›Œ’ŠŠȱŽȱ–˜˜ȱŸ’—Œž•Š˜ȱǻŒ˜–™Š’‹’•’£ŠŠȱ
Œ˜–ȱ ˜ȱ ŽŸŽ›ȱ Žȱ Ž¡Š–Žȱ ž—Š–Ž—Š˜ȱ ˜ȱ ™›ŽŒŽŽ—Žǰȱ ›Žœ™ŽŒ’ŸŠȱ ›Š£¨˜ȱ Žȱ
ŽŒ’’›ȱŽȱ’Ž—’ęŒŠ³¨˜ȱŒ˜–ȱ˜ȱŒŠœ˜ȱŒ˜—Œ›Ž˜Ǽǯ
Especial atenção merece ser dada à regra do art. 50, inc. VII, da Lei
—ķȱ şǯŝŞŚȦŗşşşȱ ǻšžŽȱ Ž¡’Žȱ –˜’ŸŠ³¨˜ȱ Šȱ Š˜œȱ Š–’—’œ›Š’Ÿ˜œȱ šžŽȱ ȃŽ’¡Ž–ȱ Žȱ
Š™•’ŒŠ›ȱ “ž›’œ™›ž¹—Œ’Šȱ ꛖŠŠȱ œ˜‹›Žȱ Šȱ šžŽœ¨˜ȱ ˜žȱ ’œŒ›Ž™Ž–ȱ Žȱ ™Š›ŽŒŽ›Žœǰȱ
•Šž˜œǰȱ™›˜™˜œŠœȱŽȱ›Ž•Šà›’˜œȱ˜ęŒ’Š’œȄǼǯȱ˜ŽȬœŽȱšžŽȱ˜ȱ’œ™˜œ’’Ÿ˜ȱ“¤ȱ™›ŽœŒ›ŽŸ’Šȱ
˜ȱŽŸŽ›ȱŽȱ›Žœ™Ž’˜ȱ¥ȱ“ž›’œ™›ž¹—Œ’ŠȱȯȱŽ’œȱšžŽȱŽ¡’’Šȱ–˜’ŸŠ³¨˜ȱŽ¡™›ŽœœŠȱ™Š›Šȱ
a não aplicação dela.
ȱ—˜›–ŠǰȱŽ–ȱœžŠȱŒ˜–™•ŽžŽǰȱŽ¡™›ŽœœŠȱŠȱ›Ž›ŠȱŽȱŠ™•’ŒŠ›ȱ˜ȱ™›ŽŒŽŽ—Žȱ
ǻ›Ž™˜›Š—˜ȬœŽȱ Šȱ Ž•ŽǼǰȱ –Šœǰȱ œŽȱ ˜›ȱ ˜ȱ ŒŠœ˜ȱ Žȱ Ž¡ŒŽ™Œ’˜—Š•–Ž—Žȱ —¨˜ȱ ˜ȱ Š£Ž›ȱ
’—Œ’’›ǰȱŽȱŽ¡™•’ŒŠ›ȱ˜ȱ™˜›šž¹ȱŽœœŠȱ›Ž“Ž’³¨˜ǯȱŽ–ȱŸ’œŠœȱŠœȱŒ˜’œŠœǰȱŠȱ›Ž›Šȱ˜ȱ
art. 50, inc. VII, da Lei nº 9.784/1999 estampa o conceito de distinção aplicativa
(“distinguishing”), de modo análogo ao previsto no art. 489, §1º, incs. V e VI,
do CPC/2015.
Da mesma forma que não basta para a validade da fundamentação a
›Š—œŒ›’³¨˜ȱ Žȱ ž–ȱ Š™Š—‘Š˜ȱ Žȱ “ž•Š˜œȱ Š—Ž›’˜›Žœǰȱ œŽ–ȱ Ž–˜—œ›Š›ȱ œžŠȱ
relação lógica com a decisão que se pretende motivar, faz-se ainda mais
necessária a respectiva diferenciação para a hipótese de não aplicação da
“ž›’œȱ™›ž¹—Œ’Šǯȱ Žȱ ™›ŽŒ’œŠȱ ŠŠœ¤Ȭ•Šǰȱ ˜ȱ Š˜ȱ Š–’—’œ›Š’Ÿ˜ȱ ™›ŽŒ’œŠȱ ’—’ŒŠ›ȱ Šœȱ
’ŸŽ›ȱœ’ŠŽœȱŽ—›ŽȱŠœȱŽœŽœȱ“ž›Ç’ŒŠœȱŽœŠ–™ŠŠœȱ—Šȱ“ž›’œ™›ž¹—Œ’ŠȱŽȱŠšžŽ•Šœȱ
incidentes no caso concreto (a ratio decidendi).
Isto é, tanto num caso (aplicação) como em outro (não aplicação do prece-
Ž—ŽǼǰȱŒž–™›ŽȱŽ–˜—œ›Š›ȱŠȱœŽ–Ž•‘Š—³Šȱǻ˜žȱ—¨˜Ǽȱ˜ȱŒŠœ˜ȱŽ¡Š–’—Š˜ȱŒ˜–ȱ
˜œȱ ™›ŽŒŽŽ—Žœȱ “ž›’œ™›žŽ—Œ’Š’œȱ ǻŠ–’—’œ›Š’Ÿ˜œȱ Žȱ “ž’Œ’Š’œǼǯȱ ŠÇȱ Šȱ œž–Šȱ
importância da motivação dos atos administrativos, com mais razão daqueles
šžŽȱœŽȱ›Ž™˜›Š–ȱŠȱ“ž•Š˜œȱ™›Ž·›’˜œǯ
Na linha interpretativa do art. 50, inc. VII, da Lei nº 9.874/99, é a parte
ꗊ•ȱ˜ȱ™Š›¤›Š˜ȱø—’Œ˜ȱ˜ȱŠ›ǯȱřŖȱŠȱ ǰȱŠ˜ȱŠę›–Š›ȱ˜ȱŒŠ›¤Ž›ȱŸ’—Œž•Š’Ÿ˜ȱ
do precedente até sua ulterior revisão. Respeito obrigatório, portanto, que
apenas pode ser afastado quando o precedente for superado, de modo
fundamentado, por decisão pelo tribunal administrativo competente. Antes
ŠȱŽ¡™›ŽœœŠȱŽȱ–˜’ŸŠŠȱœž™Ž›Š³¨˜ȱ˜žȱ›ŽŸ˜Š³¨˜ȱ˜ȱ™›ŽŒŽŽ—Žǰȱ˜œȱŽŒ’œ˜›Žœȱ
™ø‹•’Œ˜œȱ¹–ȱ˜ȱŽŸŽ›ȱŽȱŠ™•’Œ¤Ȭ•˜ȱ—Šȱ›Žœ˜•ž³¨˜ȱ˜œȱ™›˜‹•Ž–Šœȱ“ž›Ç’Œ˜œǰȱ—¨˜ȱ
podendo alegar a revogação individual para o caso concreto como motivo
œžęŒ’Ž—Žȱ™Š›Šȱ—¨˜ȱŠ™•’ŒŠ›ȱ˜ȱ™recedente. A revogação apenas poderá ocorrer

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 243-274, nov. 2018.
268 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

pelo tribunal administrativo ou autoridade pública que criou o precedente,


em respeito ao princípio da simetria da forma.
˜›ȱ ę–ǰȱ Œž–™›Žȱ Šœœ’—Š•Š›ǰȱ ™Š›Šȱ Šȱ –¤¡’–Šȱ Ž—œ’ęŒŠ³¨˜ȱ ˜ȱ ŽŸŽ›ȱ Žȱ
observância aos precedentes, a necessidade do procedimento de veiculação
e publicação das decisões ocorra de maneira prévia, acessível e transparente.
ꗊ•ȱŽȱŒ˜—ŠœǰȱœŽȱ—¨˜ȱ˜›Ž–ȱ™›·Ÿ’ŠȱŽȱ™ž‹•’ŒŠ–Ž—Žȱ’Ÿž•ŠŠœǰȱŽȱ–˜˜ȱ
fundamentado, acessível e compreensível (em cumprimento ao princípio
constitucional da publicidade e nos termos da Lei de Acesso à Informação,
Lei nº 12.527/2011), as decisões dos órgãos, entidades e tribunais administrati-
vos não serão conhecidas e não poderão ser aplicadas de modo isonômico aos
processos subsequentes. Em outras palavras, os princípios da publicidade, da
fundamentação e da isonomia são pressupostos da efetividade do dever de
›Žœ™Ž’˜ȱ¥ȱ“ž›’œ™›ž¹—Œ’Šǯ
Note-se também que o art. 30 traz os termos “regulamentos”, “súmulas
administrativas” e “respostas a consultas” – o que autoriza o desdobramento
˜œȱŽ–ŠœǯȱŽ“Š–˜œȱ›Š™’Š–Ž—ŽȱŒŠŠȱž–ȱŽ•Žœǯ
A questão dos regulamentos administrativos é fértil no Direito Adminis-
trativo brasileiro. Já se passou o tempo em que se os limitava ao binômico
“autônomo vs.ȱŽ¡ŽŒžà›’˜œȄǯȱ
˜“ŽǰȱœŠ‹ŽȬœŽȱšžŽȱŠ•ȱŒŠŽ˜›’£Š³¨˜ȱŽŸŽȱ›Ž•ŽŸ˜ȱ
para o tempo em que foi cunhada (meados do século XX), mas não mais se
sustenta no cenário constitucional brasileiro deste século XXI.
Por regulamentos entenda-se a aplicação, em termos gerais e abstratos,
˜ȱ™›’—ŒÇ™’˜ȱŠȱ“ž›’’Œ’ŠŽǰȱŒ˜–ȱŒ˜—Žø˜ȱŽ¡™Š—’˜ȱŽ–ȱ˜—Žœȱ’—›Š•ŽŠ’œǯȱ
Os regulamentos podem ter conteúdo declaratório, constitutivo e prospec-
tivo. Isso orientado pela premissa de que Administração Pública contemporâ-
—ŽŠȱ Ž–ȱ Œ˜–˜ȱ Œ›’·›’˜ȱ –¤¡’–˜ȱ Šȱ ȃŠžŠ³¨˜ȱ Œ˜—˜›–Žȱ Šȱ •Ž’ȱ Žȱ ˜ȱ ’›Ž’˜Ȅȱ ǻŽ’ȱ
nº 9.784/1999, art. 2º, parágrafo único, inc. I),41 numa perspectiva cooperativa e
Œ˜•Š‹˜›Š’ŸŠǰȱŠȱę–ȱŽȱ’–™•Ž–Ž—Š›ȱœ˜•ž³äŽœȱšžŽȱŒŠžœŽ–ȱ˜ȱ–Ž—˜›ȱ›Š—œ˜›—˜ȱ
possível e permitam a efetivação de direitos.

41
˜—˜›–Žȱ “¤ȱ Œ˜—œ’—Š˜DZȱ ȃŠȱ •˜Œž³¨˜ȱ ȁŒ˜—˜›–Žȱ Šȱ •Ž’ȱ Žȱ ˜ȱ ’›Ž’˜Ȃȱ ·ȱ Žȱ Ž¡›Ž–Šȱ ’–™˜›¦—Œ’Šǯȱ
Determina que o agente cumpra a norma legal, com observância de todo o ordenamento
“ž›Ç’Œ˜ǯȱ˜ȱ’œ’—ž’›ȱ˜œȱ˜’œȱŽ›–˜œǰȱ˜ȱŠ›’˜ȱ’œŒ’™•’—ŠȱšžŽȱ™Š›Šȱ˜ȱ™›˜ŒŽœœ˜ȱŠ–’—’œ›Š’Ÿ˜ȱ
a lei não é a única fonte, nem tampouco pode ser interpretada de forma restritiva. Não basta
uma leitura simplista, literal, de um singelo artigo de lei, para a aplicação do Direito pelo
ŠŽ—Žȱ™ø‹•’Œ˜ǯȱȱŽ’ȱşǯŝŞŚȦŗşşşȱŽ¡’Žȱ–Š’œȱ˜ȱšžŽȱ’œœ˜ȱȮȱ˜›—Š—˜ȱŽœœŠȱŒ˜–™›ŽŽ—œ¨˜ȱ•’–’ŠŠȱ
Œ˜—›¤›’Šȱ Š˜ȱ ™›’—ŒÇ™’˜ȱ Šȱ •ŽŠ•’ŠŽȄȱ ǻ ǰȱ ŘŖŗŝǰȱ ™ǯȱ ŗŗřȬŗŗŚǼǯȱ –ȱ Žœ™ŽŒÇꌘȱ œ˜‹›Žȱ ˜ȱ
ŠžŠ•ȱœ’—’ęŒŠ˜ȱ˜ȱ›Žž•Š–Ž—˜ȱŠ–’—’œ›Š’Ÿ˜ǰȱŠ–™•’Š›ȱŽ–DZȱ ǰȱŘŖŗŞDzȱ ǰȱŘŖŗŝDzȱ
ȱǰȱŘŖŖşDzȱ ǰȱŘŖŗřǯ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 243-274, nov. 2018.
EGON BOCKMANN MOREIRA, PAULA PESSOA PEREIRA | Art. 30 da LINDB 269

Para uma compreensão mais apurada, basta que nos conscientizemos do


œ’—’ęŒŠ˜ȱ ŽœŽȱ Š›ǯȱ řŖDZȱ Ž•Žȱ ™›ŽŒŽ’žŠȱ —˜›–Šœȱ “ž›Ç’ŒŠœȱ ŠŸ’—Šœȱ Žȱ ˜—Žœȱ
não legislativas que devem ser obrigatoriamente cumpridas pelos órgãos e
entidades administrativas, como condição de validade das decisões futuras
šžŽȱŽ¡Š–’—Ž–ȱŒŠœ˜œȱŽȱ—˜›–ŠœȱœŽ–Ž•‘Š—Žœǯȱꗊ•ǰȱŽŽ›–’—Šȱ˜ȱ›Žœ™Ž’˜ȱŠ˜œȱ
precedentes, inclusive por meio da aplicabilidade imediata a regulamentos,
súmulas e consultas.
As súmulas representam a condensação, o breve resumo de orientações
e/ou decisões prévias. Demandam séries e dados que consolidem determinada
˜›’Ž—Š³¨˜ȱ™›Žœ’’ŠŠȱ™Ž•˜ȱà›¨˜ȱšžŽȱ™˜œœžŽ–ȱŒ˜–™Ž¹—Œ’Šȱ™Š›ŠȱŠœȱŽ’Š›ǯȱ
Trata-se, aliás, de prática consolidada em vários tribunais administrativos
brasileiros.42 Por meio delas, pretende-se estabilizar de modo sumário o
entendimento a propósito de determinada matéria.
˜ȱ ŒŠœ˜ȱ Žȱ ŽŒ’œäŽœȱ Ȯȱ “ž’Œ’Š’œȱ Žȱ Š–’—’œ›Š’ŸŠœȱ Ȯȱ Šȱ Ž—Ÿ˜•ŸŽ›ȱ –Š·›’Šȱ
previamente sumulada, torna-se cogente a respectiva aplicação.
˜›ȱ ę–ǰȱ Šœȱ consultasȱ Ž—Ÿ˜•ŸŽ–ȱ ›Žœž•Š˜ȱ Žœ™ŽŒÇꌘȱ Šȱ žŽ•Šȱ Š˜ȱ ’›Ž’˜ȱ
de petição (Constituição, art. 5º, inc. XXXIV). Como se sabe, onde está escrito
“direito de petição” não se pode ler “direito ao protocolo”, mas sim o direito
ž—Š–Ž—Š•ȱŠȱŽ›ȱŠœȱœžŠœȱŽ–Š—ŠœȱŽ¡Š–’—ŠŠœǰȱ’—œ›žÇŠœȱŽȱ›Žœ™˜—’Šœȱ™Ž•Šȱ
Administração Pública, em prazo adequado e com respeito ao contraditório
e devido processo legal. A petição é apenas a peça inaugural, que dá início à
›Ž•Š³¨˜ȱ“ž›Ç’Œ˜Ȭ™›˜ŒŽœœžŠ•ȱŠȱŒž•–’—Š›ȱ—ŠȱŽŒ’œ¨˜ȱŠ–’—’œ›Š’ŸŠǯȱœȱà›¨˜œȱŽȱ
entidades administrativas devem respeito à Constituição e à Lei nº 9.784/1999.
˜˜ǰȱ—Šȱ“žœŠȱ–Ž’ŠȱŽ–ȱšžŽȱ˜ȱŠ›ǯȱřŖȱŠȱ ȱ™›ŽŒŽ’žŠȱ˜ȱŽŸŽ›ȱŽȱ
respeito futuro ao conteúdo normativo estampado nas consultas, ele também
ŽŽ›–’—Šȱ˜ȱœ’–·›’Œ˜ȱŽŸŽ›ȱŽȱ›Žœ™˜œŠȱ¥œȱŒ˜—œž•Šœȱ˜›–ž•ŠŠœȱŽ–ȱŽ¡Ž›ŒÇŒ’˜ȱ
ao direito de petição. Sobre ser contrária à Constituição, seria um contras-
senso sustentar a compreensão de que o protocolo de um pedido de consulta
’—œŠ•Š›’Šȱ ˜™³¨˜ȱ ’œŒ›’Œ’˜—¤›’Šȱ šžŠ—˜ȱ ¥ȱ œžŠȱ ›Žœ™˜œŠǯȱ ŠŠȱ ’œœ˜ǯȱ –Šȱ ŸŽ£ȱ
Ž¡Ž›Œ’Š˜ȱ ˜ȱ ’›Ž’˜ȱ Žȱ ™Ž’³¨˜ȱ šžŽȱ Ž–Š—Žȱ ›Žœ™˜œŠȱ ¥ȱ øŸ’Šȱ Šȱ ™Žœœ˜Šȱ
privada, instala-se o corresponŽ—ŽȱŽŸŽ›ȱŽȱŠȱ–’—’œ›Š³¨˜ȱø‹•’ŒŠȱŽ¡ŠȬ
minar o pedido e, de modo fundamentado, responde-lo em prazo razoável.

42
˜›ȱŽ¡Ž–™•˜ǰȱ˜ȱ›’‹ž—Š•ȱŽȱ˜—ŠœȱŠȱ—’¨˜ȱȬȱȱœ’œŽ–Š’£˜žȱœžŠœȱœø–ž•Šœȱǻ’œ™˜—ÇŸŽ•ȱ
Ž–DZȱ ǀ‘Ĵ™œDZȦȦ™˜›Š•ǯŒžǯ˜Ÿǯ‹›Ȧ–Š’—ǯ“œ™ǵ•ž– Ž– ƽŞŞŗŞŘŘśŝśřŘŖŖŗśŝŜŝşśŜŝŝŖŝŚǭ
•ž–ŠŽ ƽŞŞŗŞŘŗśŝśřŖŝŖŗśŝŜŝşŖŝśŘřŝǭ™›ŽŸ’Ž  Ž– ƽŞŞŗŞŘŘśŝśřŘŖŖŗ
śŝŜŝşśŜŗŝŖŝŖǁǯȱŒŽœœ˜ȱ Ž–DZȱ ŗśȱ œŽǯȱ ŘŖŗŞǼȱ Ȯȱ Žȱ ˜ȱ –Žœ–˜ȱ ˜’ȱ Ž’˜ȱ ™Ž•˜ȱ ˜—œŽ•‘˜ȱ ŠŒ’˜—Š•ȱ
Žȱ žœ’³Šȱ Ȯȱ  ȱ ǻ’œ™˜—ÇŸŽ•ȱ Ž–DZȱ ǀ‘Ĵ™DZȦȦ   ǯŒ—“ǯ“žœǯ‹›ȦŽœŠ˜ȬŽȬ™•Š—Ž“Š–Ž—˜ȦŽœŠ˜ȬŽȬ
™•Š—Ž“Š–Ž—˜Ȭ˜Ȭ“ž’Œ’Š›’˜Ȧ›Žœ˜•žŒŠ˜Ȭ—ȬŝŖȦŜŘŜȬŽœŠ˜Ȭ™•Š—Ž“Š–Ž—˜ȬŽȬ™Žœšž’œŠȦŒ˜—›˜•ŽȬ
’—Ž›—˜Ȧœž–ž•ŠœǁǯȱŒŽœœ˜ȱŽ–DZȱŗśȱœŽǯȱŘŖŗŞǼǯ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 243-274, nov. 2018.
270 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

–ȱ ŽŒ˜››¹—Œ’Šǰȱ Šȱ ›Žœ™˜œŠȱ ¥œȱ Œ˜—œž•Šœȱ ™ŠœœŠ–ȱ Šȱ Œ˜—ꐞ›Š›ȱ Žœ™ŽŒÇꌊȱ


Ž—œ’ęŒŠ³¨˜ȱ —˜›–Š’ŸŠǰȱ —Šȱ Œ˜—’³¨˜ȱ Žȱ ™›ŽŒŽŽ—Žȱ Ÿ’—Œž•Š—Žȱ Šœȱ žž›Šœȱ
decisões da Administração Pública (em termos horizontais e verticais).

Considerações finais

˜—˜›–Žȱ Œ˜—œ’—Š˜ȱ —Šȱ Š‹Ž›ž›Šȱ ŽœŽȱ Ž¡˜ǰȱ ˜ȱ Š›ǯȱ řŖȱ Šȱ  ȱ
Œ˜—ꐞ›ŠȱŠȱŒ‘ŠŸŽȱŽȱŠ‹à‹˜Šȱ˜ȱœ’œŽ–ŠDZȱŠȱ™Ž³ŠȱšžŽȱŠœœŽž›ŠȱŠȱœžŠȱŒ˜Žȱ›¹—Œ’Šȱ
Žȱ œžœŽ—Š‹’•’ŠŽǯȱ 1ȱ ˜ȱ Š›ǯȱ řŖȱ Šȱ —˜›–Šȱ šžŽȱ Œ˜—Ž›Žȱ œŽž›Š—³Šȱ Š˜ȱ œ’œŽ–Šȱ
instalado pela Lei nº 13.655/2018, ao determinar que a aplicação dos dispo-
œ’’Ÿ˜œȱŠ—Ž›’˜›ŽœȱœŽ“Šȱ›Žœ™Ž’ŠŠȱ‘˜›’£˜—Š•ȱŽȱŸŽ›’ŒŠ•–Ž—Žǯȱ
Por meio do art. 30, torna-se patente o dever de incrementar a segurança
“ž›Ç’ŒŠȱ™˜›ȱ–Ž’˜ȱŽȱŠ˜œȱ›Žž•Š–Ž—Š›ŽœȱŽȱ—¨˜ȱ›Žž•Š–Ž—Š›Žœǰȱ˜›–Š•’£Š—˜ȱ
a segurança e a estabilidade indispensáveis para o Estado de Direito. Demais
disso, é celebrada a Administração autovinculante – em verdadeira proibição
ao venire contra factum proprium – e se confere legitimidade reforçada às suas
decisões.
Estamos diante de uma Nova LINDB, para um Novo Direito Público: não
só um Direito Público atual (gestão, políticas públicas, consequencialismo,
segurança), mas também prospectivo (das fontes legislativas estáticas aos
–˜Ž•˜œȱ ’—¦–’Œ˜œȱ Žœ›žž›Š—ŽœǼDzȱ acolhedor (cooperação, compreensão,
›Žœ™Ž’˜ǼDzȱ seguroȱ ǻŽœŠ‹’•’ŠŽǰȱ ™›ŽŸ’œ’‹’•’ŠŽǰȱ Šžœ¹—Œ’Šȱ Žȱ œ˜‹›ŽœœŠ•˜œǼȱ Žȱ
ŽęŒ’Ž—Ž (resolver problemas e estabilizar soluções).
—ę–ǰȱ ˜’ȱ ’—Šžž›Š˜ȱ ˜ȱ ’›Ž’˜ȱ ø‹•’Œ˜ȱ œžœŽ—¤ŸŽ•ȱ ™Š›Šȱ Šœȱ ™›à¡’–Šœȱ
gerações. Cabe a nós prestigiá-lo e garantir sua efetividade.

Curitiba-Brasília, setembro de 2018.

Referências

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Œ˜—œ˜•’ŠŠDZȱ ™›˜Ž³¨˜ȱ Šȱ Œ˜—ꊗ³Šȱ Žȱ Šȱ ·Œ—’ŒŠȱ ˜ȱ “ž•Š–Ž—˜ȬŠ•Ž›Šǯȱ —DZȱ
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ǰȱŠ–žŽ•ǯȱ‘ŽȱŠ“˜›’Š›’Š—ȱ‘›ŽŠȱ˜ȱŽ–˜Œ›ŠŒ¢DZȱ˜—œ’ž’˜—Š•ȱ
˜ž›œȱŠ—ȱ‘ŽȱŽ–˜Œ›Š’ŒȱŠŒǯȱ —DZȱǰȱ ˜—Dzȱ ǰȱŽ™‘Š—’ŽȱǻǯǼǯȱ
Majority Decisions:ȱ›’—Œ’™•ŽœȱŠ—ȱ›ŠŒ’ŒŽǯȱŽ ȱ˜›”DZȱŠ–‹›’Žȱ—’ŸŽ›œ’¢ȱ
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272 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

 ǰȱ—›¤œDzȱǰȱ›‘ž›Dzȱ  
ǰȱ ’ž•’˜ǯȱComparative Consti-
tutional ReasoningǯȱŠ–‹›’ŽDZȱŠ–‹›’Žȱ—’ŸŽ›œ’¢ȱ›ŽœœǰȱŘŖŗŝǯ
ǰȱ ˜—œŠ—’—˜œǯȱ˜›’ȱœž™›Ž–ŽȱŠȱŒ˜—›˜—˜DZȱœŠ˜ȱŽ••ŽȱŒ˜œŽȱŽȱ•’—ŽŽȱ
evolutive. ’Ÿ’œŠȱ›’–Žœ›Š•Žȱ’ȱ’›’Ĵ˜ȱŽȱ›˜ŒŽž›Žȱ’Ÿ’•Žǯȱ’•Š—˜DZȱ ’žě›¸ǰȱŠ——˜ȱ
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ǰȱ Š—¢ȱ ǯȱ ŽĴ•Žȱ ŸŽ›œžœȱ ’‘DZȱ Šȱ ‘Ž˜›¢ȱ ˜ȱ ›ŽŒŽŽ—ǯȱ Š–‹›’ŽDZȱ
Š–‹›’Žȱ—’ŸŽ›œ’¢ȱ›ŽœœǰȱŘŖŗŝǯ
MACCORMICK, Neil. Argumentação jurídica e teoria do Direito. Tradução de
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û‹—Ž›ȱ Ž—Žœȱ Žȱ Š›Œ˜œȱ Šž•˜ȱ Ž›Çœœ’–˜ǯȱ
Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
  ǰȱ Ž’•Dzȱ ǰȱ ˜‹Ž›ǯȱ —›˜žŒ’˜—ǯȱ —ȏȏȏȏȏȏȏȏȏȏǯȱ
Interpreting PrecedentsDZȱŠȱ˜–™Š›Š’ŸŽȱž¢ǯȱŠ›–˜ž‘DZȱœ‘ŠŽǰȱŗşşŝǯ
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 ǰȱ˜—ȱ˜Œ”–Š——Dzȱ ǰȱ
Ž•˜’œŠȱ˜—›Š˜ǯȱȱ˜Ž›ȱ˜›Ȭ
–Š’Ÿ˜ȱ Šœȱ ¹—Œ’Šœȱ Žž•Š˜›Šœȱ —Šȱ ž›’œ™›ž¹—Œ’Šȱ ˜ȱ ȱ Ȯȱ žŠ³¨˜ȱ
˜—œ’žŒ’˜—Š•ȱ ˜ȱ ›’—ŒÇ™’˜ȱ Šȱ ŽŠ•’ŠŽǵǰȱ Revista de Direito Público da
EconomiaǯȱŽ•˜ȱ
˜›’£˜—Žǰȱ—ǯȱŚřǰȱ™ǯȱřśȬśŝǰȱ“ž•ǯȦœŽǯȱŘŖŗřǯ
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œŽĴŽ–‹›ŽȬ˜Ĵ˜‹›ŽȱŘŖŖřǯ
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Costituzionale (e altri Corti).ȱ
˜ ȱ˜—œ’ž’˜—Š•ȱ˜ž›œȱ–Š”ŽȱŽŒ’œ’˜—œǯȱĴ’ȱ
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ǰȱ›ŽŽ›’Œ”ǯȱLas reglas en juego.ȱ—ȱŽ¡Š–Ž—ȱꕘœàꌘȱŽȱ•Šȱ˜–ŠȱŽȱ
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274 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O


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Law and Legal Theory Research Paperȱ—ǯȱŘŖŗŘȬŖşǯȱ™ǯȱŗŝȬŘŗǯȱ’œ™˜—ÇŸŽ•ȱŽ–DZȱǀ‘Ĵ™DZȦȦ
œœ›—ǯŒ˜–ȦŠ‹œ›ŠŒƽŘŖŖŖŝŞŞǁǯȱŒŽœœ˜ȱŽ–DZȱŗśȱœŽǯȱŘŖŗŞǯ
 ǰȱ •–’›˜ȱ ˜ȱ ˜ž˜ȱ Žǯȱ ȱ ›’—ŒÇ™’˜ȱ Šȱ œŽž›Š—³Šȱ “ž›Ç’ŒŠȱ ǻ™›˜Ž³¨˜ȱ ¥ȱ
Œ˜—ꊗ³ŠǼȱ—˜ȱ’›Ž’˜ȱ™ø‹•’Œ˜ȱ‹›Šœ’•Ž’›˜ȱŽȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱŠȱ–’—’œ›Š³¨˜ȱ™ø‹•’ŒŠȱ
de anular seus próprios atos administrativos, Revista de Direito Administrativo
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SILVESTRI, Gaetano. Le Corti Supremi negli ordinamenti costituzionali
contemporanei. In: Le Corti Supreme:ȱŠĴ’ȱŽ•ȱŒ˜—ŸŽ—˜ȱœŸ˜•˜œ’ȱŠȱŽ›ž’Šȱ’•ȱśȬŜȱ
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p. 35-50.
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p. 335-358.
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NYU School of Law, Public Law Research Paper, n. 11-75. Disponível em: <‘Ĵ™DZȦȦ
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ZANETTI, Hermes. O valor vinculante dos precedentes: teoria dos precedentes
normativos formalmente vinculantes. 3. ed. Salvador: JusPodivm, 2017.

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), p. 243-274, nov. 2018.

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