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Fichamento:

KLEIN, Herbert. O comércio atlântico de escravos: quatro séculos de comércio


esclavagista. Lisboa. Editora Replicação, Lda. 2002.

Concretização do comércio escravagista:

O movimento de transporte de escravos da África foi a maior migração


transoceânica existente em toda a história humana, além de promover um intenso
transporte de bens entre três continente. Essa “migração” foi o mais vasto
movimento de trabalhadores para as américas até o século XIX.

A concretização do comercio escravagista demorou centenas de anos e foi


somente com o processo de colonização das américas que essa atividade passou a
se intensificar e a gerar lucros, ou seja, se tornar economicamente importante. O
papel do estado para o avanço desse comercio foi fundamental para a intensificação
do mesmo.

O Estado controlava o comércio de escravos através de impostos, subsídios,


ou concessões de monopólios para acelerar a atividade e controlar o fluxo de
trabalhadores forçados para a América. Por precisar de um grande investimento
inicial alguns países subsidiavam o transporte de diversas formas. A Espanha
utilizava a prata e o outro extraídos das américas. No Brasil, com a economia
baseada na plantação e utilização de trabalho forçado indígena, foi gerado um
capital para que pudesse importar escravos africanos. Outros países por não terem
o capital necessário precisaram recorrer a companhias monopolistas.

A presença europeia na costa da África para comercio surge no início do


século XVI mais ligada a comerciantes livres e os produtos mais comercializados
com os europeus eram o marfim e o ouro. A presença europeia com fortalezas só
passa a se intensificar no século XVII. A princípio a comercialização de escravos era
secundária.

-Companhias monopolistas:
Os primeiros a desafiarem o monopólio português do comércio de escravos,
foram os holandeses através da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais no
ano de 1621 com o objetivo de destruir os portugueses e tomar para si as regiões
dominadas por Portugal. Em determinadas décadas do século XVII os holandeses
foram entidade europeia dominante no comércio de escravos.

Apesar da forte presença europeia na costa africana e da construção de


fortificações nenhuma área era zona exclusiva de uma nação europeia, era apenas
influenciada pela mesma.

Apesar de terem fundado companhias monopolistas os países sofriam


dificuldades para as manter e proteger de ataques de outras nações ou até mesmo
de inimigos internos.

Apesar de possuir comerciantes envolvidos no comércio de escravos, a


França só funda sua própria companhia em 1664. Tanto as companhias como os
comerciantes livres faziam parte de uma estratégia do governo francês para
promover nos Índias Ocidentais economias voltadas a plantação, seguindo o modelo
inglês.

A companhia holandesa foi no início a com maior sucesso entre as primeiras


monopolistas, e a que mais forneceu escravos para as américas, com isso, chegou a
concorrer com o “asiento” espanhol e entre os séculos XVII e XVIII chegou a
transportar cerca de 92 000 escravos para as colônias espanholas.

Apesar de ter iniciado o comercio com a África desde o século XVI, a última
companhia ser formada foi a Real Companhia Africana de Inglaterra, fundada em
1672 e possuía majoritariamente capital privado e chegou a transportar mais de 350
000 escravos para suas colônias ocidentais.

-Fim das empresas monopolistas e início das empresas livres:

Por volta do século XVIII o livre comércio de escravos já era algo comum para
a maioria das nações, apesar de ainda existir os monopólios. A última experiência
com empresas monopolistas foi feita por Portugal para conseguir desenvolver as
regiões do extremo norte brasileiro. Com o fim das empresas monopolistas
portuguesas, o comercio de escravos para o brasil sofreu um declínio, entretanto, foi
reestabelecido pelas empresas livres.

Com o fim dos monopólios, as empresas livres passaram a dominar o


mercado e muitas vezes seguiam um modelo de sociedade na qual se vendia
porcentagens entre dois a cinco comerciantes. O capitão da viagem também recebia
uma porcentagem dos lucros, mesmo que não participasse da sociedade pois era a
pessoa mais importante por ser o responsável pela negociação na África.

-Aspectos da viagem:

A mortalidade era extremamente alta nessas viagens, chegando até 11%.


Estima-se que a falta de conhecimento sobre patologias foi o principal fator para que
esse número seja tão elevado.

A tripulação do navio era composta por pessoas especializadas, entre elas


um médico, carpinteiro e tanoeiro. Um navio negreiro levava em média cerca de 30 a
40 marinheiros e serviam para, também, vigiar e comprar escravos ainda na terra.
Apesar de possuir uma grande tripulação a maior parte do custo da viagem era a
carga. Esse preço elevado surge com a procura africana de bens importados
sofisticados a troco dos escravos, tendo com a principal moeda de troca produtos
têxteis.

A viagem entre Europa e África levava até quatro meses pois acabavam
parando em diversos portos europeus para pegar mais carga ou para
reabastecimento. Além disso, os navios europeus acabavam por ficar atracados nos
fortes na costa africana durante um grande período de tempo. Estes fortes, porém,
não eram de uso militar e sim zonas de comércio entre eles e os africanos.

-Com funcionava a compra de escravos:

Em grande parte, os comerciantes locais que controlavam os escravos até o


momento de eles serem vendidos ao capitão. Era algo extremamente raro um
comerciante europeu revender escravos para os capitães dos navios negreiros.
Outra forma comum era de capitães comprarem uns dos outros.

Na maioria dos casos o comerciante de escravos descia até a costa. Os


escravos nesse período de transporte até a costa ou rios também serviam para levar
produtos que também seriam vendidos no local o que gerava um lucro ainda maior
pois o transporte desses produtos acabava sendo feito de graça.

Essa utilização alternativa da mão de obra escrava acabava servindo de uma


forma a controlar o preço do escravo, pois, se o comerciante achasse que o preço
oferecido fosse muito baixo ele mantinha e utilizava o escravo em plantações ou de
outras formas até que o preço voltasse a subir e ele finalmente conseguisse vender.

Em média eram necessários vários meses para encher os navios e por isso
mantinha-se os escravos já adquiridos o máximo de tempo possível em terra para
prevenir o aparecimento de surtos de doenças a bordo, no entanto, a mortalidade
ainda era elevada.

O tempo de negociação na costa sofreu um grande aumento ao longo do


século XVIII pois no início do século os comerciantes levavam em média 300 dias
para encher seus navios. Deve-se ao aumento do tempo necessário pelo fato de no
período anterior se confiar aos fortes e agente locais a tarefa de fazer as compras
antes da chegada dos navios, o que contribuía para reduzir a em média 3 meses o
tempo de permanência na costa.

-Funcionamento da organização nos navios e a venda:

Enquanto buscavam por escravos os europeus também buscavam por


recursos e abastecimento de água. No geral os comerciantes carregavam alimentos
e condimentos típicos da África, além de alimentos secos e biscoitos.

Apesar da situação de serem escravos, eram relativamente bem alimentados


e possuíam uma dieta próxima da tripulação. Os escravos eram separados em
grupos em compartimentos diferentes, dentre eles; os homens, os meninos e as
mulheres, além de outro compartimento para os doentes. Os escravos durante o dia
eram levados para o convés para pegar sol, onde eram lavados e obrigados a
praticarem exercícios diários.

Os compartimentos onde eram levados a noite eram constantemente lavados


pois já se entendia na época que muitas das doenças tinham a ver com a higiene.
Mesmo com todos esses fatores a mortalidade ainda assim era extremamente alta.

Ao chegar no destino, o navio negreiro passava por diversos procedimentos.


Os escravos eram vendidos direto do barco ou levados a um mercado próprio onde
eram vendidos um a um normalmente. O tempo de venda era estimado em 3
semanas. Apesar de todo o esforço para se comercializar escravos ainda existe um
grande debate sobre os lucros gerados.

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